Haviam se passado quatro semanas e meia desde que a general Mioll saiu de Corinto. Nesse meio tempo, as coisas estavam monótonas no palácio para todos, exceto para Xena. Ela estava sendo consumida pela ansiedade e nervosismo. Ficar sentada de pernas cruzadas a irritava, mas não podia fazer nada até receber informações de Esparta sobre a guerra e enfim criar um plano sólido. A imperatriz havia recebido a poucos dias uma carta dizendo que a general estaria chegando, o que trouxe um pouco de alívio a sua tensão.

Era começo da tarde, Xena estava sozinha em sua sala privada do quarto andar. Olhava pela grande janela e observava as montanhas bem ao fundo. Fitava com a expressão séria o distante topo rochoso cheio de neve e concluiu que não demoraria muito até o inverno chegar em seu ápice. 

-Majestade?- A voz de um jovem garoto veio de suas costas e não precisou de mais nenhuma palavra para que ela retirasse as pressas.

Passou pelo menino, que se curvou no primeiro instante e desceu os degraus de dois em dois. Fez seu caminho rapidamente, deixando claro a qualquer um que passasse, que algo estava acontecendo.

A imperatriz abriu a porta da sala do trono com força, às fazendo bater nas paredes, produzindo eco. Seus olhos varreram o recinto e encontrou Mioll e Meridan. Xena se aproximou com os passos largos e cumprimentou sua general colocando as mãos no braço dela.

-Majestade.- Mioll falou com um ar cansado. Ela estava com aparência de um viajante. Roupas sujas, botas cheias de lama, cabelo bagunçado e cansada.

-Seja bem vinda, general.- Xena falou apreensiva. 

-Eu vim o mais rápido que consegui.

-Eu sei. Eu sei que está cansada também, mas eu não aguento mais esperar. 

-As notícias não são ruins, majestade, mas também não são boas.

-Vamos para o gabinete.

Xena saiu da sala acompanhada de Mioll e Meridan. No meio do caminho Solan apareceu correndo, ansioso para saber das boas novas e o acompanhou.

-Vai, me conta tudo.- Xena falou assim que entraram no gabinete e apoiou ambas as mãos na mesa enquanto Mioll se jogou numa cadeira confortável à sua frente. A imperatriz bateu de leve no peito de Solan e apontou para o jarro d’água. O menino pegou dois cálices e serviu a general e o mercenário.

-Lisandro está furioso. Por ele, atacaria Atenas agora.- Mioll se referiu ao Estratego Espartano. -Ele quase foi assassinado a três luas atrás por um dos homens de Péricles (Estratego Ateniense), sua sorte era que na noite do ataque ele estava com insônia e conseguiu pegar o assassino. O problema é que o maldito morreu de tanto que apanhou e não conseguimos informações.

-E o que Lisandro fez sobre isso?- Xena falou.

-Mandou espiões até Atenas e descobriu que eles estão com o dobro de força bélica e econômica. Eles estão se preparando para nos aniquilar a cinco verões. Toda costa norte da Grécia é aliada dos atenienses e boa parte das ilhas do mar do Egeu são bases.

Xena tampou o rosto, aquilo era horrível. Seu estômago doeu como se levasse um soco. Agradeceu por não ter almoçado aquela tarde ou teria vomitado ali mesmo.

-Lisandro adorou seu plano de atacar os portos, majestade. Ele listou os três principais e descreveu minuciosamente a quantidade de navios, suprimentos, carregamento e o nível de segurança do lugar. Ele acredita que nossa única chance é atacar no inverno, por isso está a caminho de Corinto.- Mioll completou.

-Por favor, me diga que ele está vindo com discrição.- Com os dedos entreabertos no rosto Xena olhou Mioll.

-Ele preparou dois batalhões, cada um com 10 mil homens. Eles virão em duas ondas. Uma por terra e outra por mar. Ele vai dividir a primeira onda em 5 mil soldados, cada grupo de mil virá por rotas diferentes. Ele vai ser acompanhado por Arquídamo e Brasidas (Estrategos de Acaia e Olímpia).

-O que mais?- Xena perguntou aflita.

-Ele pediu para entregar esses pergaminhos em suas mãos. Eu não me atrevi a abri-los, majestade.- E Mioll finalizou entregando grossos pergaminhos. 

-Obrigada, general. Se for só isso que tiver para me dizer, pode se retirar e descansar.

-Só isso, majestade.- Mioll se levantou, curvou-se e retirou-se, deixando Meridan com Xena e Solan.

-Por favor, Solan. Nos deixe a sós agora.- Xena falou e um tanto relutante, o jovem saiu. -Me diga que você tem uma boa notícia pelo menos.- A imperatriz pediu por fim.

-Tenho, majestade. Eu segui conforme as ordens no seu bilhete e encontrei o tal curandeiro. Ele se lembra perfeitamente da criança que nasceu de uma escrava.

-E o que ele fez com a criança.

-Eles estavam atracados na ilha de Lesbos, quando entregou a menina no orfanato de Antissa.

-Ele não a vendeu?- Xena ficou tão surpresa, quanto aliviada.

-Ele disse que o capitão pediu para vendê-la no mercado de escravos que havia lá na época, mas a recém-nascida agarrou sua camisa com uma mãozinha e se recusava a soltar. Ele disse ter ficado comovido e deixou a menina no orfanato. Depois pegou 30 dinares de suas economias e deu ao capitão. 

-Ele tem certeza absoluta dessa história, Meridan?

-Sim, majestade. Ele descreveu a escrava e disse que chovia muito naquela noite. também falou que a escrava apanhou muito quando contou que estava grávida.

-Ele não mencionou nenhuma outra escrava na mesma situação?.

-Quando eu pressionei o homem, ele disse que além dessa escrava somente uma outra engravidou e ficou viva para contar a história. Além do mais, a outra criança era um menino.

Xena foi atrás de sua mesa e tirou um saco gordo e cheio de dinares. Ela atirou no colo do mercenário e o homem sorriu.

-Fique por perto, eu vou te dar outra tarefa assim que eu pensar em um plano. 

-Como deseja, majestade.- O homem se curvou e saiu do gabinete satisfeito. 

Xena sentou-se em sua mesa, cruzando as mãos em frente ao rosto e permaneceu pensativa por alguns instantes. Havia muito o que pensar. Por fim, olhou os pergaminhos, suspirou, os desenrolou e sua espinha arrepiou. Havia o nome de três portos como título nos pergaminhos. Porto de Atenas, Mileto na costa da Pérsia e Anfípolis ao norte. 

 

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Gabrielle estava com a duquesa de Loyola na cidade. Elas foram até lá para participar de uma feira que estava acontecendo. A feira se estendia por quilômetros na principal rua da capital e havia de tudo. Desde que Gabrielle começou a receber dinares por ser parte do conselho da imperatriz, ela não havia gastado nenhum se quer.

As duas mulheres chegaram em uma carruagem e foram escoltadas por três guardas. O cocheiro abriu a porta  e Rita e Gabrielle desceram animadamente, conversando ao irem em direção a multidão. Estavam distraídas até que Gabi sentiu um cheiro maravilhoso, que a fez olhar para o lado e se deparar com uma tenta de pão de noz. Guiada pelo saboroso aroma, ela caminhou até lá e olhou maravilhada para os pães quentinhos, que levantavam vapor de sua casca.

-Aqui, alteza. Para você. – Uma voz ao fundo soou, mas Gabi nem ouviu. -Alteza? 

-Hein?- Gabi olhou para o dono da tenda e depois para trás.

-Não gostou dos pães, alteza?- O homem falou sem graça.

-Ah…. eu os adorei. Tem um cheiro tão bom.- Gabi respondeu quando notou que o homem estava falando com ela e Rita levou as mãos aos lábios para rir baixo.

-Fique com este e me diga se gostar.- O homem, sorrindo largamente, entregou a ela uma cesta com pão embrulhado. 

-Oh que gentileza… mas eu não devia. Por favor, me diga o preço.

-Sem preço. Considere uma amostra gratis.- Falou ele.

-Bem, se insiste. Muito obrigada.- Gabi pegou a cesta alegremente e voltou em direção a Rita. -O que foi isso?- Ela perguntou a nova amiga e antes da duquesa responder uma senhora esbarrou em Gabi.

-Olha por….- A mulher ia ser grosseira, até que olhou espantada para Gabi e se curvou. -Me perdoe alteza, eu não a reconheci. 

-Está tudo bem….- Gabi tocou o ombro da senhora e se assustou com a formalidade. -Que história é essa de alteza?- Gabi sussurrou para Rita.

A moça apontou para as pessoas e Gabi viu que muitos olhares estavam sob ela. Voltaram a andar pela rua e ao passar por aquela gente, eles se curvavam e outras ofereciam seus produtos de graça.

-Você é a futura rainha da Grécia, Gabrielle. O que estava esperando?

-Como essa gente sabe?- A jovem falou espantada.

-Oras, fofoca, é claro.- Rita deu risada e laçou o braço de Gabi que continuava a observar as pessoas até dizer: 

-Xena disse que as pessoas não estavam esperando uma rainha. 

-Os nobres não, mas ninguém além deles se importa se vai ser uma rainha ou um rei.

-Por que não? 

-Porque a imperatriz tem a lealdade do seu povo…- Rita falou de forma sucinta.

-Ela acha o contrário.

-Gabrielle, olhe a sua volta. Você realmente acha que as pessoas estariam fazendo uma feira em meio a um boato de guerra se não fosse a imperatriz no comando?- Gabi ficou em silêncio e aceitou a lógica. -As pessoas sabem que a imperatriz é temperamental, agressiva, violenta, sangue frio, mas elas também sabem que a conquistadora é brilhante e não perde uma batalha, se a imperatriz acha que você vai ser uma boa rainha, então para eles está tudo bem, contanto que não morram pela espada dela.

-Você confia dessa forma na imperatriz, Rita?- Gabi perguntou.

-Claro que sim… Até hoje ela não perdeu uma batalha, pelo contrário, todos a fizeram uma imperatriz por ser imbatível. Nosso Estado é autoritário e militar, Gabrielle. Não existe ninguém mais perfeito para usar a coroa do que ela.- Rita falava enquanto olhava para as especiarias nas tendas. 

-Os atenienses devem estar com medo de enfrentá-la.- Gabi falou em um sussurro.

-O que?- Rita falou.

-Nada…- Gabrielle sorriu. -Fico feliz em saber que as pessoas apoiam a imperatriz.

Gabi andava e observava o povo. Algumas vinham até ela, se curvavam e beijava sua mão. Ela sorria e conversava com alguns deles. Mais pessoas que o normal começaram a aparecer e Rita e a guarda real começaram a ficar receosos. Um dos guardas empurrou um cidadão que se aproximou para pedir uma moeda e Gabi se horrorizou. 

-O que você tá fazendo?- Gabi falou para o guarda e ele a encarou. A jovem tirou um dinar da pequena bolsa que carregava e deu ao homem.

-Gabrielle, melhor nós sairmos daqui.- Rita falou, a puxava para trás.

Por um momento o aglomerado que estava se formando assustou Gabi e ela aceitou ir embora. Os guardas escoltaram as duas para a carruagem e enfim partiram.

-Não fique triste, Gabi. Da próxima vez voltamos com mais guardas.- Rita falou ao perceber o desapontamento de Gabi.

-Antes eu não podia sair do palácio porque era escrava, agora não posso sair porque sou consorte de Xena.- Gabi fez bico e Rita deu risada.

-Da próxima vez disfarçamos você. Assim poderá aproveitar a feira.

As duas riram e voltaram para o palácio. A carruagem subia o mais rápido que conseguia, mas cada vez mais perdiam velocidade, já que o lugar ficava em um dos pontos mais altos de Corinto. Fora construído num antigo templo de Atena e por isso, sempre que seu portão se abria, era possível ver uma estátua da Deusa no pátio. Logo atrás da estátua havia a porta que levava para dentro e Gabi e a duquesa desceram seguiram por aquele caminho.

Atrás da porta que levava para dentro tinha um espaço bem receptivo com uma escada larga, que levava para um corredor relativamente grande que possuía mais um lance de escada. Depois dessa maratona de subidas, havia uma espécie de sala com quadros e armaduras expostas e logo à frente uma porta larga que direcionava as pessoas para várias direções. Gabrielle ainda estava se acostumando com o tamanho do lugar e tinha de prestar muita atenção para não pegar o caminho errado e se perder. Se fosse para a direita, encontraria a cozinha, se fosse para a esquerda encontraria as docas dos soldados e se seguisse reto daria na sala do trono. 

-Gabrielle, eu tenho um compromisso, então vou me retirar. Tenha uma boa tarde, querida.- Rita se despediu de Gabi e foi em direção a cozinha.

Gabi acompanhou a duquesa com o olhar até que a mulher desapareceu no grande corredor, então ela seguiu em frente. A sala do trono era o maior lugar daquele palácio. O teto era incomparável em tamanho e em dias normais a sala ficava completamente vazia, tendo apenas sentinelas parados vigiando o lugar. Em cima de umas escadas, reinava em solitude o grande trono de mármore da imperatriz, com seu formato quadrado e variava entre pedras brancas e pretas. Aquele acento já era majestoso, mas quando Xena se sentava nele, parecia algo além disso. 

A sala do trono possuía oito portas de madeiras enormes, duas em cada parede. Duas delas que ficavam cada uma de um lado do trono levava para a sala de audiência pública e se a pessoa andasse mais a frente encontraria os primeiros lances de escadas para os andares superiores. 

Gabi andava lentamente por ali e seus passos produziam um eco tímido. Estava contemplando o lugar e pensando no que aconteceu mais cedo. Um dia seria dona daquele lugar e acompanharia a imperatriz até o trono. Sua mente a levou para longe e quando voltou em si, estava parada no meio do salão. Ela sorriu e seguiu seu caminho até uma das portas que levava a sala de audiência e enfim as escadas. Assim que ia deixar o recinto, uma pessoa veio de encontro e ambas trombaram.

-Au.- Gabi exclamou.

-Pelos deuses, me perdoe.- Era uma mulher. -Eu estava perdida e quando finalmente vi a saída comecei a correr.

Gabi esfregava o braço e falou:

-Por que você estava perd…- Sua fala cortou quando viu se tratar de uma mulher aparentemente de 40 verões e extremamente linda. Sua pele era morena, olhos castanhos e um cabelo preto extremamente liso. Ela estava coberta de joias e sua roupa era diferente.

-Eu estava perdida porque faz tanto tempo que não venho aqui. – Ela sorriu com dentes perfeitos e Gabrielle corou diante da beleza surpreendente dela. -Eu já estava ficando desesperada dentro desse labirinto de pedra.

-Você já esteve aqui?- Gabi perguntou surpresa.

-Ah sim, a muitos verões atrás…-A mulher olhou para Gabrielle e então continuou. -Eu não me lembro de você. É nova aqui? 

-Sim! Ah, que falta de educação a minha, eu não me apresentei. Eu sou Gabrielle.- E educadamente, estendeu a mão.

-Gabrielle?- Agora quem ficará surpresa era a mais nova visita, que em sequência, tampou um sorriso com a mão. -A marquesa de Corinto?- Ela continuou.

-Sim.- Desconfiada, Gabrielle respondeu. -E você?- A mulher deu uma risadinha e estendeu a mão para a garota.

-Meu nome é Luna.

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-É uma honra estar na sua presença, imperatriz. Não é todos os dias que se vê a mulher mais poderosa da Grécia. – Disse o Árabe, genro do duque de Pilos com um sotaque muito arrastado. 

O homem estava com um turbante amarelo na cabeça, no meio dele havia um diamante enorme pendurado. Sua túnica branca e um véu azul escuro chamavam a atenção, mas não tanto quando os dedos forrados de anéis.

Xena se mantinha de braços cruzados e fitava com atenção o figurão a sua frente. Quem a conhecia, sabia que ela estava tentando descobrir que tipo de homem aquele Vizir era. Ele aparentava ter a mesma idade que a sua. Tinha barba negra muito bem feita e que combinava com seus olhos escuros. Ele também tinha um sorriso sedutor  com uma mistura de maldade. Era impressionante na mesma medida que incomodava.

-O prazer é meu, governador.- Xena falou sem descruzar os braços.

-Eu estou realmente impressionado com esse palácio. É muito maior do que eu imaginava e além do m…..- Continuava ele com seu sotaque pesado.

-De qual cidade da Arábia você é, governador?- Xena cortou  o homem e ele sorriu para ela.

-Riad.- Ele falou com um sorriso largo e se sentou na poltrona sem que fosse convidado.

-É a capital, não é mesmo?-  Xena com sua postura autoritária perguntou. 

-Sim, a mais bela de todas… Ficaria impressio…

– É verdade que sempre faz calor lá?- Xena cortou o homem novamente e pareceu finalmente incomodá-lo.

-Sim. calor imenso durante o dia e frio insuportável durante a noite.- Agora o vizir cruzou as pernas e se fez confortável na poltrona.

-Arrume dez mil aves para mim e nós fecharemos muitos negócios durante essa guerra, governador.-  Xena falou.

O sorriso maroto sumiu do rosto do vizir e ele olhou confuso para a Imperatriz.

-Dez mil aves? E o que pretende fazer com elas?- O homem falou descruzando as pernas e levando a mão no queixo.

-Você me fornece seus “produtos” e eu pago por eles, isso é tudo o que precisa saber. Eu quero dez mil aves, não importa sexo ou espécie. Elas precisam ter uma única coisa em comum. VOAR. Me traga elas e eu irei dar 1 moeda de ouro por cada uma. 

O sorriso do vizir se alargou e ele esfregou as mãos enquanto se levantava.

-Vai ser um prazer fazer negócios com vossa majestade.

 

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O sol estava quase se pondo e Xena ainda estava em seu gabinete. Ficou horas conversando com o Vizir e o estudando. Pela primeira vez em uma lua, estava se sentindo no controle dessa guerra.

Eu vou fazer um estardalhaço que o próprio Ares vai se surpreender. Pensava ela enquanto esperava a última reunião do dia acontecer.

Uma batida na porta despertou a imperatriz.

-Entre.- Ela falou.

-Majestade. Com sua licença.- Najara entrou no gabinete e se aproximou.

-Sente-se, Najara.- Xena falou enquanto se levantava e escorava na mesa. Era visível sua impaciência, o que tornava sua postura ainda mais intimidadora.

Najara fez como pedido e enrijecida, custou a disfarçar seu desconforto diante de Xena.

-No que posso ser útil, majestade?

-Najara, eu sei que você está apaixonada por Gabrielle. – Xena mandou na lata e a sentinela arregalou os olhos. -É por isso que eu gostaria que você fosse a guarda costas pessoal dela enquanto estivermos em campanha.- A última frase da imperatriz fez a mulher arregalar mais ainda os olhos.

-Como quiser, majestade.- Disse a mulher sem conseguir encarar Xena.

-Você deve estar achando que eu estou louca ou algo do tipo, mas eu vou ser muito mais do que clara com você. Eu não gosto de você, o que já te coloca em uma posição perigosa e eu te considero um risco perto de Gabrielle. Mas ainda sim, eu vou olhar além dos seus sentimentos por ela e tentar usá-los ao meu favor.- Xena se aproximou da mulher e continuou.- Se alguma coisa acontecer a um fio de cabelo sequer de Gabrielle, eu vou te matar da pior forma possível.- Xena se endireitou e continuou.

“-Eu espero de você uma conduta profissional, pois se eu te ver de gracinha, ou falando coisas desnecessárias com a futura rainha da Grécia, eu não vou responder por mim. Você não tem que sentir medo porque a imperatriz está te ameaçando, tem que sentir medo porque sabe que eu, Xena, sou perturbada o suficiente para cumprir com essas promessas.”

Najara não respondeu e sequer ergueu a cabeça.

-Que fique claro que não estou te obrigando a fazer isso, Najara. Pelo contrário, estou te oferecendo. Eu te dou o dobro de dinares que está ganhando hoje e te dou a chance de sair desse palácio depois de todos esses verões de serviço.

-Eu… não sei, majestade.

-Eu reconheço que você é uma boa soldada e que tem muita experiência. Gabrielle ficará a salvo com você, por mais que parte de mim ache que é loucura. O que me diz?

A sentinela ficou uns segundos em silêncio e quando Xena começou a acreditar que não aceitaria, ela disse:

-Eu aceito, majestade. 

-Ótimo. Entregue a general Mioll o nome de outros soldados que julgue ser adequado para esse trabalho. Você está no comando da guarda pessoal dela. Tenha uma boa noite.

-Igualmente, imperatriz. – Respondeu Najara por fim e se levantou. 

Xena não estava acreditando no que tinha feito. Estava colocando Gabrielle perto do lobo, mas antes de tudo, a imperatriz estava preocupada com a vida de sua consorte. Não tinha dúvida que até o fim dessa guerra, alguém tentaria machucar Gabi e se Najara estivesse realmente apaixonada, seria a última pessoa a pôr a vida dela em risco. Era por esse motivo que Xena confiava que a sentinela daria conta do trabalho. Em todos os efeitos, Xena não pretendia deixar Gabrielle sozinha com a sentinela. Iria ser uma vez ou outra que teria que deixar Gabi no acampamento e ir para a batalha, nesses casos, não daria tempo de que nada de ruim acontecesse, certo?

No fim das contas, teria que confiar piamente em Gabrielle e nos sentimentos dela.

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Xena foi para seu aposento e tirou suas botas. Depois de um dia longo ela se espreguiçou e estava pronta para descansar. Foi quando ela sentiu falta de Gabi.

-Onde será que ela está?– Pensou e logo ouviu um barulho vindo do closet e foi até lá.

Gabi estava enrolada em um roupão de seda, havia terminado de tomar banho e estava desembaraçando seu cabelo. A imperatriz sorriu e caminhou até ela, envolvendo seus braços na cintura dela e dando um beijo delicado no pescoço. 

-Oi, querida.

Gabrielle pegou as mãos de Xena e tirou dela. Em seguida, se desvencilhou dos braços longos da imperatriz e a ignorou completamente.

-O que foi isso?-  Xena perguntou confusa.

-Isso é por você não ter me contado que a tal da Luna estaria AQUI.- Gabi olhou irritada para Xena.

-Eu nem sabia que ela e o tal marido estariam chegando hoje em Corinto. Foi tão inesperado que eu nem consegui recebê-los de forma solene.

-Você podia ter me chamado pelo menos para saudá-los com você. Mas ao invés disso, eu trombei com a sua ex de forma patética no corredor.- Gabi estava irritada de um jeito que Xena nunca viu. 

-Me perdoe, mas você não estava aqui.- Xena respondeu cuidadosamente e Gabi a olhou séria. 

-Ah.- Gabi suspirou e baixou a guarda. -Xena, ela é tão linda… tão… tão bonita que eu tenho vontade de bater nela.- Gabi empurrou a imperatriz e Xena deu risada enquanto seguia a garota para fora do closet.

-É mesmo?

-É mesmo? É isso que vai me dizer?- Gabi falou pegando um cálice de água em cima da mesa.

-Não notei porque não à vi…

-Como não?

-Eu fiquei o dia todo no gabinete e conheci somente o vizir. Eu não vi essa mulher e não faz diferença para mim.- Xena se aproximou de Gabi e a puxou para mais perto. -Você é a mulher mais linda do mundo para mim.

-Você é uma mentirosa.- Disse Gabi fazendo manha.

-Não estou mentindo- A imperatriz beijou ela.

-Ela riu de mim como se esperasse mais da sua consorte.- Gabi disse chateada.

-Ela está com inveja porque podia ter sido ela.- Xena falou ainda com Gabrielle em seus braços e recebeu um olhar ainda aborrecido da loira.

-Ainda sim eu fiquei irritada, Xena- Gabi desviou o olhar. -Tá explicado porque você comia terra por ela.- Gabi estava com ciúmes e irritada por imaginar aquela mulher com sua amada, mas havia sido o ápice da conversa para Xena e ela soltou uma gargalhada, encarando Gabrielle carinhosamente.

-Se for te fazer melhor eu enfio um punhado de terra na boca.

-Eu quero, mas só se fizer na frente dela.- Gabrielle possuía um toque de verdade.

-Eu vou fazer ela se arrepender de ter rido de você, Gabi.

-Quem vai se arrepender é você. Vou escolher a lama mais gosmenta que tiver.- As duas se encararam e em seguida riram. Gabrielle parecia se sentir melhor e se rendeu ao abraço de Xena.

Nota