Capítulo IV
por Fator X - LegadoCapitulo IV
– “Cães maus morrem dolorosamente”
Quase ao amanhecer Xena resolveu montar acampamento.
– Temos que parar um pouco senão chegaremos muito cansadas e não poderei por em prática meu plano.
Xena desmontou em um lugar próximo a um lago e estendeu as mantas para dormirem um pouco. Pediu para Gabrielle deitar a seu lado e a abraçou forte.
– Gabrielle aconteça o que acontecer, quero que saiba que não a considero uma escrava. Calina tem um documento que dá a sua liberdade. Quero que me desculpe por não fazer isso antes. Temia por você me deixar assim que eu a libertasse. Sinto por você algo que nunca senti antes por qualquer pessoa e meu egoísmo não permitiu que fizesse isso antes. Mas depois do que Afrodite e Athenas falaram, temo mais ainda por algo acontecer comigo e você ficar a mercê de qualquer outro. Quero que seja feliz e se isso significar estar longe de mim, aceitarei, embora me venha a fazer muito triste, no entanto compreenderei.
– Xena, porque acha que a deixaria? Não vê que eu a quero com todas as minhas forças? Não percebe que o que tenho por você é algo realmente verdadeiro e sincero?
– Tenho um lado que desconhece, ainda não viu. Você é pura e sem ódio, sem ira. Não tem maldade. Quando entro em batalha, algo em mim aflora e fico diferente, me transformo…
– Sei de quem está falando. Está falando da Xena dos pergaminhos que sempre li. Essa Xena faz o que tem que ser feito. Não a julgarei. Sei que tem que se transformar para vencer e para mim a sua causa é justa. A maldade está no mundo assim como o amor também está. Não tenho esse ímpeto por assim dizer, mas não sou ingênua a ponto de pensar que determinadas vezes não é assim que deve ser. Estou com você, não por ser sua escrava, estou com você porque quero! Como escrava, poderia me recusar a fazer amor com você e simplesmente me castigaria ou talvez quisesse me matar. Mesmo assim teria a opção de negar. Não neguei, pois sentia algo por você forte e queria descobrir o que era. Hoje posso lhe dizer que não sei exatamente o que é, mas o que sinto por você é mais forte que qualquer coisa que já tenha sentido antes e caminharia com você de livre e espontânea vontade até as portas de Hades.
Xena segurou Gabrielle em seus braços e a estreitou. Era um sentimento de plenitude que apresentava quando estava com a pequena e não deixaria nada nem ninguém lhe tirar isso agora.
– Xena, é tão bonito dormir a beira de um lago! Há muitos anos que não saía de dentro de uma fortaleza e agora com você é o que eu mais tenho feito. Como é bom olhar todas essas árvores de perto e sentir o vento no rosto… Olhar as estrelas!
– Gosta pequena? Então quando isso tudo acabar lhe ensinarei a se defender ao ar livre. Não ficaremos trancafiadas no Castelo.
– Que ótimo!
– Agora durma, pois ainda temos um bom terreno pela frente e não poderemos dormir muito.
Após cinco marcas Xena acordou e observou Gabrielle agarrada a si.
“Não vou deixar que ninguém te faça mal algum, pequena.” – Pensou Xena.
– Gabrielle… Vamos está na hora… – Xena sacudiu levemente a curadora para acordá-la.
Juntaram as coisas, comeram um pouco de queijo que haviam levado e seguiram viagem.
Chegaram a Tropea já bem tarde da noite. Xena observou o acampamento persa. Só havia duas fogueiras e uma grande tenda. Havia também uma grande catapulta.
– Ainda bem que Ares foi proibido de me observar. Tem poucos persas sitiando o Castelo e se Aahbran me ver em combate ele se prontificará a atacar.
– Você está louca Xena? Enfrentá-los sozinha?
– Eu dou conta Gabrielle, não são muitos. Além do mais não chegaria de peito aberto. Me esgueirarei e primeiro tomarei a tenda.
– Não seria mais fácil entrarmos pelo flanco sul onde tem uma passagem pelo fosso que dá entrada ao estábulo?
– Que entrada? Como você sabe?
– Ora Xena, passei bons anos nessa fortaleza, a conheço de cabo a rabo. E depois, trabalhava nos estábulos. Passava por lá quando queria um pouco de ar.
Xena fez uma cara de incompreensão.
– Xena, sou escrava, mas não sou idiota. Acha que me arriscaria fugir sem ao menos saber me defender ou saber para onde ir e com um exército atrás para me caçar? Via o que faziam com escravos que tentavam fugir. Ou melhor, quando caçavam os escravos fugitivos, muitas vezes já os traziam açoitados ou arrastados pelos cavalos. Chegavam já mortos e serviam de exemplo para o resto.
– Então vamos Gabrielle, vamos ver se conseguiremos aproveitar essa passagem para pegar esse contingente persa desprevenido.
Pegaram as sacolas de mantimentos e medicamentos de Gabrielle nos cavalos e se arrastaram até a passagem onde Gabrielle havia falado. Havia dois guardas próximos, mas estavam só de patrulha, provavelmente não sabiam da passagem. Xena fez um sinal para Gabrielle ficar escondida nos arbustos. Esgueirou-se e segurou o primeiro por trás quebrando seu pescoço; ele não emitiu um só som. Aproximou-se do segundo e esse se virou, Xena não queria dar oportunidade que ele avisasse os companheiros, sacou a espada e enfiou de uma só vez em seu peito. Virou-se para pedir para Gabrielle vir, mas esta estava de cabeça baixa. Voltou rapidamente até os arbustos puxando Gabrielle pelo braço fazendo sinal para que ela ficasse em silêncio. Caminharam até a passagem que estava completamente encoberta por mato, arbustos e eras. Gabrielle se adiantou para encontrar a porta. Localizou-a e forçou sua passagem, estava um pouco enferrujada e Xena teve que auxiliá-la. Entraram nos estábulos sem qualquer problema.
– Gabrielle, não posso pensar que toda vez que matar alguém você irá me condenar ou repelir. Sou uma guerreira e se não conseguir mais fazer isso por me preocupar com o que você sente, vou ter que desistir de Corinto agora mesmo! Vou ter que deixar que esses crápulas façam do reino um grande comércio de escravos e armas a céu aberto!
– Desculpe Xena. Você tem razão. Não se preocupe mais comigo, entendo porque faz, não reagirei mais assim, pelo menos me controlarei.
Gabrielle abraçou Xena e a beijou como se quisesse dizer que estava tudo bem.
– Vamos procurar Aahbran.
Estavam saindo dos estábulos quando os próprios soldados as cercaram.
– Conquistadora! Como entrou aqui? – Um dos seus soldados a reconheceu e mandou os outros soldados baixarem as espadas.
– Ah! Meu amigo, precisava e o fiz. Quero falar agora com Aahbran onde ele está?
– Está no passadiço da muralha.
– Essa é a nossa curadora. Leve-a para alguma sala em que possa trabalhar.
– Sei onde é a sala de medicamentos aqui em Tropea, Xena. Posso me virar.
– Não a quero sozinha, não vou me arriscar. Com Ares ninguém sabe o que pode acontecer. – Xena se virou para o soldado que a havia reconhecido e falou.
– O exército persa tem um interesse particular na curadora. Quero que ela seja protegida enquanto estiver aqui. Ela irá trabalhar com os soldados feridos também.
– Sim Senhora Conquistadora! – O soldado se perfilou e acompanhou Gabrielle.
Xena se virou para Gabrielle.
– Assim que as coisas tiverem acertadas com Aahbran irei ver você. – Virou-se e encaminhou para a muralha.
Quando Xena chegou ao passadiço Aahbran se assustou ao vê-la.
– Como entrou aqui, Xena?!
– Não temos tempo agora para explicações Aahbran. Os persas estão se encaminhando para Epidaurus, para a fortaleza. Tivemos que deixar Corinto por um golpe arquitetado por Sileno, os persas e Ares. Eles estavam o tempo todo orientados por Ares, mas agora tenho algumas vantagens que eles ainda não sabem. Temos que acabar com esse contingente que está aqui e levar o exército para Epidaurus. Se os vencermos em Epidauros, Corinto será praticamente nossa novamente. Sileno não sabe que eu sei do ataque a Epidaurus. Leva o exército persa pela estrada principal e alguns batedores pelas montanhas. Os homens de Epidaurus montaram uma defesa na fortaleza até chegarmos. Quando chegarmos teremos um batalhão em cada flanco à espera com algumas poucas catapultas, mas com boas balestras e boas espadas. Por que não atacou os persas? – Xena perguntou, mas praticamente já sabendo a resposta.
– Disse que me queria defendendo o castelo a qualquer custo. Mandei um batedor para te avisar, mas já sabia que não conseguiria chegar, os persas são muito sagazes. Só não entendi quando se retiraram. Não fiz nenhum movimento por não saber se eles ainda estariam à espreita. Queria me certificar a respeito do que estaria acontecendo.
– Há quanto tempo eles se retiraram?
– Um dia.
– Praticamente quando saí de Epidaurus. Então Afrodite e Athenas me deram a notícia em primeira mão. Quantos eram?
– Mais ou menos uns duzentos e cinquenta homens.
– E quantos homens nós temos em condições de lutar?
– Uns cento e cinquenta homens.
– Ótimo. Tenho dois batalhões de cinquenta homens cada, À espreita. Mais uns setenta homens que de uma forma ou de outra, podem lutar na fortaleza e chegaremos com esses cento e cinquenta homens por trás. Eles estão levando carroças com armamentos e catapultas?
– Sim, devem caminhar bem lento.
– Muito bem, quero que prepare os homens para partir logo. Desceremos por onde eu entrei com uns trinta homens para dar cabo desses que se encontram acampados aqui, depois partiremos. Não levaremos nada exceto alforjes pessoais com comida e armas pessoais. Quero os homens leves em marcha forçada. E Aahbran, quero que deixe seis homens bons e de sua confiança se revezando na proteção a Gabrielle.
– Quem é Gabrielle?
Xena não sabia como explicar, pois Aahbran a levara como escrava para Corinto junto com Xena, nem tinha tempo.
– Mais tarde eu explico com mais detalhes, mas eu a nomeei nossa curadora oficial e parece que faz parte dos planos de Sileno raptá-la. Não quero que ninguém saiba que ela está aqui. Vamos que estamos perdendo tempo, reúna trinta homens para descer comigo.
– Irei com você também.
– Não. Quero que fique e coordene a nossa marcha. Quero tudo pronto o mais rápido que puder.
Xena ia descendo com Aahbran dando ordens para os seus soldados. Xena avistou Gabrielle sendo segura pelo braço por um soldado e se debatia. Uma sombra anuviou seus olhos, sentia todo o corpo tremer, desceu quase pulando do passadiço em direção aos dois. Aahbran não entendeu a atitude de Xena e chamava seu nome. Quando Xena chegou perto dos dois, pegou o soldado pelo pescoço e começou a socá-lo com tanta força que o soldado desacordou, mas Xena não parava de bater. Gabrielle segurou seu braço chamando-a. Xena se virou para ela desfigurada e quase bateu em sua face, mas quando viu seus olhos assustados, parou a mão e soltou a respiração presa em seus pulmões.
– Ele não sabe, Xena. Ele ainda não sabe quem sou… – A voz de Gabrielle foi se perdendo ao mesmo tempo em que Xena recuperava sua sanidade.
– Se ele não sabe então que pergunte. Aahbran, suma com esse imbecil de minha frente antes que o transpasse com minha espada. Por que ele a segurava daquela maneira? – Xena se virou perguntando para Gabrielle.
– Ele era empregado de Tropea quando era escrava aqui, Xena. Acha que ainda sou escrava…
– AAHBRAN, QUERO QUE DIGA A TODOS QUE QUEM TOMAR LIBERDADES COM MINHA CURADORA ACABARÁ EMBAIXO DE MEU PUNHAL!!!!
– É ela quem é sua curadora?
– É! E POR ACASO TEM ALGUMA COISA CONTRA?
Aahbran não entendia porque Xena estava tão transtornada. Falou com calma, num tom tranquilo, pois conhecia bem Xena quando estava tomada de ira.
– Claro que não Xena, apenas não sabíamos e talvez seja melhor avisar a todos, mas pode deixar que eu faço correr o fato.
– Pois então o faça agora mesmo. Se eu vir alguém a segurando assim novamente eu não responderei por mim, ouviu bem? – Xena falava baixo, mas entre os dentes, quase um rosnado.
Segurou Gabrielle pelo braço puxando-a para um canto. Não media a força com que segurava e a pressão de sua pegada no braço de Gabrielle a fez verter uma lágrima. Foi quando Xena percebeu o que estava fazendo e a soltou.
– Por acaso não tem língua para falar com um bastardo destes? – Xena ainda tinha ira em sua voz.
– Sim, eu tenho língua, mas para todos os efeitos para eles ainda sou escrava e eles não acreditam em mim. – A voz de Gabrielle estava embargada.
Xena se chocou com a verdade pura e com o efeito do que fizera em sua pequena. Abaixou a cabeça e uma lágrima rolou de seus olhos.
– Perdoe-me Gabrielle. Provavelmente é culpa minha. Não tinha a intenção de te machucar e também errei ao não expor sua situação atual a todos. A partir de hoje, falarei a todos que é uma mulher livre e prometo que nunca mais farei qualquer coisa que venha a te machucar. Tentarei tudo de mim para te respeitarem e eu te respeitarei como minha companheira.
– Companheira? Está me dizendo que assumirá o nosso relacionamento para todos?
– Sim Gabrielle. Não consigo mais pensar em minha vida sem você. Isso se você me aceitar… é claro.
– Oh! Xena, é claro que aceito. Eu quero muito viver com você!
Gabrielle se pendurou no pescoço de Xena a beijando. Xena a segurava com carinho pela cintura e retribuía o beijo com ânsia e desejo. Os olhos dos soldados pousaram nelas admirados e Aahbran entendeu a reação de sua líder.
Aproximou-se devagar para não despertar novamente a ira de Xena. Chamou-a com serenidade.
– Xena, acho melhor nos apressarmos. Acho que todos já estão conscientes de que devem o devido respeito a sua curadora. E já deixei os seis homens que me pediu para protegê-la. – Disse com um leve sorriso no rosto.
– Os trinta homens que pedi já estão a postos?
– Estão te esperando.
– O que irá fazer Xena?
– Não se preocupe, Gabrielle. Só tenho que tirar esse grupamento de persas aqui da frente antes de caminhar para Epidaurus.
– Tome cuidado Xena. Dizem que eles são selvagens!
Xena riu com a preocupação de Gabrielle.
– Será que são tão selvagens quanto eu?
Aahbran soltou uma gargalhada e Gabrielle não se conteve e riu junto, se lembrando do ocorrido a pouco com o pobre soldado que Xena havia deixado inconsciente. Xena lhe deu outro beijo e se virou para encontrar os soldados. Quando Xena se encaminhou para os estábulos, Gabrielle acompanhou Aahbran até o passadiço.
– Gabrielle, não creio que Xena gostará de te ver aqui em cima.
– Não ficarei encolhida em um canto sem saber o que está acontecendo. Por favor Aahbran, não poderá acontecer nada comigo aqui em cima.
– Então você ficará na proteção de um baluarte.
– Tudo bem!
Gabrielle olhava tudo muito atenta. Os persas tinham alguns sentinelas observando as muralhas, mas a maioria estava em volta das fogueiras. Mantinham uma pequena catapulta direcionada para o portão do castelo. Não conseguiu ver quando Xena e seus homens atacaram os sentinelas ao mesmo tempo e também atacaram o homem que operava a catapulta. Todos tombaram silenciosos. Foi muito rápido, quando Gabrielle olhou novamente, estavam todos no chão e então começou o tumulto. Muitos persas se levantavam e berravam, pegavam suas espadas, mas era como uma horda de vultos se entrelaçando. O coração de Gabrielle disparou, não conseguia divisar Xena na massa de homens que havia se formado nas sombras.
Foi quando viu que o combate estava começando a se aproximar das muralhas e começou a perceber quem era persa e quem era do exército de Xena. Seus olhos procuraram Xena por todos os lugares. Escutou um grito, rítmico afinado de mulher. Olhou em sua direção. Viu uma mulher duelando com vários homens e matando um por um com sua espada. Seus movimentos eram rápidos, precisos. De repente, quatro homens a cercaram, ela estava no meio de uma roda e girava sua espada em movimentos compassados. Foi atacada por um deles pelas costas, se esquivou do ataque segurando o golpe com sua espada ainda de costas. Empurrou a espada do atacante e quando retornou o movimento já atacava os homens a sua frente traçando uma linha horizontal cortando os abdomens dos três homens ao mesmo tempo. Girou para enfrentar o persa que havia a atacado primeiro e fincou em um só movimento a espada em seu peito. Empurrou-o com o pé para livrar a espada e tinha mais dois homens correndo para ela. Os persas estavam praticamente aniquilados mas pareciam que queriam acabar com ela, deixavam de lutar com os soldados para socorrer seus companheiros na empreitada de matar Xena. Gabrielle viu quando um persa já ferido no chão pegava uma balestra para atirar em Xena. Gabrielle se apavorou e então gritou.
– CUIDADO XENA, A FLECHA!
Em um pequeno segundo Xena se virou e segurou a flecha com a mão voltando em seguida para a batalha praticamente ganha. Quando o último persa foi morto os soldados se reuniram em volta de Xena a aclamando.
Xena fez sinal para abrirem o portão e entrou com o batalhão.
– O que você estava fazendo lá em cima?
– Olhando!
– Olhando o que Gabrielle?
– Olhando a hora que precisaria de mim para que uma flecha não te transpassasse! – Gabrielle puxou Xena para um canto pelo braço e foi falando em um tom mais baixo. – Por acaso acha que gosto de ficar parada enquanto você recebe uma flechada pelas costas. Precisará mais do que olhos raivosos para que fique parada vendo-a morrer!
Xena bufou e se virou para Aahbran que ria da situação de sua amiga e chefe de campanha.
– Tire esse sorriso dos lábios por que você será o responsável se algo acontecer com ela mesmo que não esteja aqui para vigiá-la. Está tudo pronto para partirmos?
Aahbran fechou o semblante na mesma hora.
– Sim, Senhora Conquistadora!
– Então vamos e torça para que ela não faça nenhuma bobagem. – Falou Xena caminhando em direção ao portão.
Gabrielle se aproximou de Aahbran.
– Não se preocupe. Ficarei aqui cuidando dos soldados que ficaram feridos. Ela não falou sério, só não admite que tenho razão. Por favor, prometa que vai cuidar dela!
– Gabrielle, se alguém precisa de cuidados esse alguém não é Xena. Ela é a melhor guerreira que eu jamais vi, e duvido que verei ainda em vida.
– Para mim não importa se é boa guerreira ou não, mas toda vez que entrar em uma batalha, sempre haverá perigo.
– Está bem Gabrielle, eu prometo, mas terá que me prometer não se meter em encrencas se não quem estará encrencado sou eu.
Gabrielle lhe sorriu.
– Eu prometo, mas peça para ela me mandar notícias assim que tudo terminar.
– Está bem.
– Já decidiram quem vai me defender em batalha? Por acaso posso me despedir de minha esposa? – Xena se aproximou segurando as rédeas de Argo III e do cavalo que trouxera Gabrielle.
Aahbran se afastou.
– Fique com esse cavalo ele se chama Aglaio. Quero que não se exponha muito Gabrielle. Sabe que estamos em guerra e apesar de Athenas e Afrodite terem dito que Ares não pode mais se intrometer, sei que ele não se dará por vencido. Conheço-o há muito tempo para confiar que ele não apronte uma das suas…
– Digo o mesmo a você. Se você me considera sua esposa, espero que respeite minha opinião. Não gosto de pensar que estou aqui enquanto você está se expondo a um perigo em que eu nem posso estar por perto!
– Por enquanto, Gabrielle, terá que ser assim. Prometo, depois que tudo passar, que lhe ensinarei o que for necessário para se defender e você poder nos acompanhar em campanha.
– Tudo bem, mas a senhorita não vai me deixar viúva antes mesmo de dizer ao reino quem sou, entendeu bem? – disse Gabrielle com um gracejo forçado e uma preocupação sincera na voz.
Xena sorriu. Era muito bom ser amada. Sentir que alguém a queria verdadeiramente. Que se preocupava com ela, mas não poderia deixar que isso interferisse no que tinha a fazer.
– Gabrielle, pedi para Dionira, esposa de Aahbran, arrumar um quarto para você. Amanhã você terá mais forças para ajudar os homens que estão feridos, mas não se preocupe, hoje eles já estão sendo cuidados. Descanse, pois conseguirá ajudá-los melhor amanhã. Assim que tiver resolvido as coisas em Epidaurus, mandarei te buscar. – Xena estreitou Gabrielle em um abraço e a beijou. Xena não deu tempo de Gabrielle falar mais nada. Não poderia, pois se o fizesse era capaz de carregar a menina junto. Virou-se, montou em Argo e deu o comando para o exército partir.
Gabrielle via tudo como se estivesse bêbada, distante. Não podia crer que em tão pouco tempo, se apaixonara, fora libertada pelo seu amor e agora a via indo embora para uma batalha e nem podia acompanhá-la.
Uma mulher se aproximou de Gabrielle e a tocou no ombro.
– Meu nome é Dionira. Seu quarto já está pronto e não diga que tem que fazer algo, porque Xena já me disse para fazê-la ir dormir.
– Ok! Como uma criança…
– Não fale assim. Pela primeira vez vejo Xena se preocupar com alguém que não sejam seus companheiros de espada. Vi a felicidade nos olhos dela. Ela só quer o seu bem.
– Por acaso você é amiga de Calina?
– Sim, sou.
– Vejo então porque vocês têm essas duas coisas em comum…
– Que coisas?
– O amor por seus maridos e por Xena. Vocês os desculpariam até no tártaro.
Dionira e Gabrielle riram juntas.
– Ela tem muitos defeitos, Gabrielle. E tem muitas virtudes também. Eu a conheço há muitos anos, tantos quantos meu próprio marido a conhece. Se ela se apaixonou por você, é realmente uma pessoa especial. Então zelarei por você, não por ela me pedir, mas porque sei que valerá a pena.
– Por acaso você é irmã gêmea de Calina?
Dionira riu com gosto.
– Vamos Gabrielle, vou lhe mostrar seu quarto.
– Só diga onde é. Eu conheço esse castelo decor.
– Então é verdade que era escrava aqui em Tropea?
– Sim, quando Xena conquistou Tropea, pedi para seguir com ela.
– Ahh! Então esse foi o começo. Vamos andando e me conte tudo…
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Seis marcas mais tarde Aahbran adiantava seu galope para chegar até Xena.
– Xena, os homens não podem continuar muito mais nesse ritmo. Estarão muito cansados quando chegarmos e terão que enfrentar uma guerra! Temos que acampar ou perderemos muitos em combate. Os persas caminham devagar por conta das carroças. Acabaremos chegando muito próximos a eles antes de chegarmos a Epidaurus!
Xena diminuiu o ritmo do galope.
– Tem razão, mas não quero que nosso pessoal das muralhas tenha que segurá-los muito tempo até chegarmos. Descansaremos até no máximo três marcas após o amanhecer. Peça para que desmontem e se acomodem.
Depois de descansarem continuaram a viagem em ritmo forçado. Ao anoitecer já montavam acampamento a algumas marcas de caminhada de Epidaurus. Xena recrutou dois batedores experientes para que seguissem com ela para localizar o exército persa.
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Quando Gabrielle viu qual era o quarto, virou-se para Dionira protestando. Era o quarto do antigo dono de Tropea.
– Dionira, não precisava. Não necessito de muita coisa. Posso ficar em um quarto menor, perto da sala de medicamentos ou a enfermaria.
– Ordens de Xena, Gabrielle. Ela quer que todos vejam sua posição para que não haja mais nenhum incidente.
– Devo dizer que não foi agradável o que passei hoje. Mas o pobre rapaz não sabia… Como ele está?
– Xena foi muito reativa, realmente. Ele perdeu alguns dentes e fraturou a mandíbula, além de estar meio desorientado. Mas não foi de todo ruim. Alguns desses homens que se encontravam aqui, ainda não haviam se acostumado em ter mulheres livres para as tarefas cotidianas do castelo. Tivemos muitas reclamações por parte das moças a respeito desses homens tomarem liberdades com elas. Ainda estão se acostumando e creio que esse pequeno incidente vai chamar-lhes a atenção.
– Muito bem, então vou descansar para começar a tratar os soldados amanhã. Obrigada, Dionira. Boa noite!
Na manhã seguinte, Gabrielle foi a sala de medicamentos para ver melhor o que tinha para trabalhar. Depois foi a enfermaria, todos estavam bem cuidados, mas alguns precisariam de um tratamento mais apropriado. Pôs-se a trabalhar para recuperar os homens que tinha ferimentos infeccionados. Encontrou alguns soldados que eram do castelo antes de Xena conquistá-lo. A notícia de que Gabrielle não era mais escrava e hoje ocupava um lugar de destaque já havia corrido, pelo que percebera. Notou que a tratavam com deferência e quase não a encaravam a não ser quando ela se dirigia diretamente a eles. Isso a incomodava um pouco, pois não queria um tratamento especial. Apenas queria que a respeitassem.
Depois de terminado seus afazeres, se dirigiu a sala de armas.
– Bom dia! Gostaria de saber quem é o mestre de armas?
– Ele não está. Sou sua filha Hypcéa e quando ele se ausenta, sou eu quem responde pela sala de armas.
Gabrielle olhou a menina a sua frente, devia ser mais jovem do que ela, mas aparentava a segurança de uma mulher já vivida. Não sabia se pelas roupas, pois se vestia como uma guerreira ou se pela altura e corpulência.
– Meu nome é Gabrielle…
– Sei quem a Senhora é. Todos no castelo já sabem, se tornou uma mulher popular por aqui!
Gabrielle enrubesceu.
– Me tornei popular de uma forma boa ou ruim?
– Para alguns de uma forma boa, para outros nem tanto. Quem já convivia com Xena e seu modo de governar, encarou muito bem e até com satisfação, pois nunca tiveram escravos e se Xena adotasse essa postura de trazer escravos de suas conquistas, temiam pelo retorno da velha guerreira. Alguns que se juntaram a Xena aqui em Tropea acham humilhação ter que se submeter a alguém que outrora era menos do que eles.
– E posso saber em que categoria você e seu pai se encaixam?
Hypcéa riu da pergunta.
– Se eu me encaixasse na categoria dos que não estão gostando, acha que diria alguma coisa?
– Então só posso presumir que está na categoria dos que gostou. – Gabrielle riu dessa vez.
– Meu pai é o chefe de armas de Xena desde que conquistou Corinto. Já era o chefe de armas antes. Quando Xena chegou a Corinto, desafiou meu pai para uma luta, talvez para testar as habilidades de meu pai. Lutaram quase uma tarde inteira, mas meu pai conta que Xena teve quatro oportunidades de matá-lo e não o fez, mas não deixou que os homens percebessem. Um dado momento ela parou a luta e perguntou a meu pai se queria se juntar a ela. Disse que reconhecia em meu pai um grande mestre e gostaria de tê-lo consigo. Meu pai antes de Xena, não era ninguém, apesar de suas habilidades. Ninguém nunca reconheceu seus atributos, não passava de um guardador de armas. Viu naquele momento que ela o reconhecia como mestre e que talvez pudesse desempenhar o seu verdadeiro papel. Ajoelhou-se perante Xena e aceitou segui-la. De lá para cá ele é quem tem ensinado todos os soldados novos e é quem treina com Xena todas as tardes para que ela se mantenha em forma. Nossa vida também melhorou, pois pagavam muito mal a meu pai e hoje tem um salário digno, uma posição em seu reino também. Quando pediu a Xena para me treinar no seu ofício para que pudesse herdá-lo, mesmo sabendo que eu era mulher ela nunca discriminou e aprovou na hora. Bem posso dizer que sou da parte dos que gostou.
– Bem então agora posso lhe dizer o que vim fazer. Quero começar a treinar enquanto o exército está em Epidaurus. Digo, quero aprender a me defender.
– Não sei se estou certa de poder fazer isso, minha Senhora.
– Não precisa me chamar assim, nem quero. Pode me chamar de Gabrielle. Mas deixe-me expor meu ponto de vista. Vocês não receberam ordens para me proteger? Se eu estiver recebendo treinamento para me defender, além de estar próximo a vocês para poderem me proteger eu ainda poderei auxiliá-los a me proteger! Não vê como é vantajoso?
– Muito perspicaz. – Falou um senhor que chegava a sala de armas.
– Me chamo Icrá, pai dessa jovem com quem conversa.
Gabrielle estendeu-lhe a mão.
– Sou Gabrielle.
– Sim a Conquistadora nos deixou ordens para protegê-la, o que significa que é nossa função e não a sua. – Disse o senhor com um largo sorriso.
– Senhor Icrá, poderia me dar um bom motivo para que eu não possa aprender a me defender?
– Sim, a Senhora Conquistadora poderia não querer.
– Mas ela mesma me disse que me ensinaria, mas teve que partir com o exército. E depois tenho uns bons pares de marcas que ficarei no ócio, o que não faz muito parte da minha personalidade. Considerando que estou muito ansiosa por não saber o que está acontecendo em Epidaurus, poderia facilmente arrumar coisas para fazer no castelo e me enfiar em encrencas, já que, uma parte das pessoas que vivem aqui não está muito satisfeita com minha posição atual.
Icrá olhou para sua filha que sorria diante da astúcia da jovem. Coçou a cabeça sorrindo também.
– Muito bem minha Senhora, vejo que tem muita habilidade com as palavras. Não me admira que a Senhora Conquistadora tenha se encantado com você.
Os três riram da situação em que Gabrielle os colocou.
– Ok! Vamos ver que habilidades a senhora tem.
– Por favor, me chamem de Gabrielle, só de Gabrielle. E acredito que terá muito trabalho comigo, porque não conheço nada das artes da guerra e só quero algo que possa me defender. Não pretendo entrar em nenhuma batalha ou matar pessoas. Pai e filha se entreolharam, caminharam até os estandes de armas e observaram para achar algo que poderia servir para os propósitos de Gabrielle.
Icrá pegou um bastão e Hypcéa um par de sai.
– Certo. Para nós a treinarmos, terá que ser aplicada. Eu ficarei com você três marcas pela manhã, assim que o sol despontar. Depois não poderei mais treiná-la porque tenho muito trabalho com os jovens que se alistam e Hypcéa ficará com você outras três marcas à tarde perto do por do sol. Mas terá que treinar sozinha todos os dias, pelo menos mais duas marcas o que foi aprendido comigo e com ela, pois todo dia ensinaremos movimentos novos. Fazendo assim, talvez em quatro luas consiga fazer frente a algum opositor.
– Ótimo! Quando começaremos?
– Poderá começar hoje mesmo ao entardecer se quiser. Procure Hypcéa que ela começará a lhe ensinar a utilizar os sais e amanhã pela manhã me procure que começaremos com o bastão.
– Obrigada mestre Icrá! Obrigada Hypcéa! Procurarei ser a aluna mais aplicada que vocês têm. – Gabrielle se retirou da sala de armas radiante.
Gabrielle foi procurar Dionira. Já passava da metade do dia e ainda não havia comido nada. Seu estômago estava roncando e precisava se alimentar senão seria capaz de desmaiar. Foi até a cozinha, quando entrou percebeu vários olhos desconfiados e atentos. Alguns ela conhecia do castelo mesmo da época que vivia lá. Sentiu certo desconforto. Correu os olhos rápidos e viu Dionira falando com uma das cozinheiras. Aproximou-se com cautela.
– Menina! Onde estava? A procurei de manhã e você já havia se levantado.
– Fui ver o que tinha na sala de medicamentos e depois fui à enfermaria. Dionira tem algo para comer? Não tomei o desjejum e estou com um pouco de fome.
– Deve estar morta de fome! Ontem vocês chegaram e não se alimentaram e depois foi dormir… Diga o que gosta e te levarei no quarto.
– Não precisa Dionira, posso comer aqui mesmo.
– Não senhora, tem um banho preparado para você e depois quero jogar um pouco de conversa fora. Em Corinto eu sempre ia à cidade quando me entediava, mas aqui depois que os persas sitiaram fiquei trancada a mais dias do que posso lembrar…
– Está bem, mas não precisa fazer isso todos os dias, senão nem me levanto para meus afazeres.
– Então vá que já subo.
Gabrielle foi para o quarto. Não tinha reparado o quanto era grande quando chegou. Foi ao quarto de banho e tirou a roupa e se enfiou na banheira. A água estava morna e agradável. Começou a pensar nas coisas maravilhosas que lhe aconteceram e também na avalanche de loucuras que se sucederam depois que saiu de Tropea e agora voltava em outra circunstância, porém não menos perigosa do que vivia antes. Riu consigo mesma da própria situação. Sua vida corria perigo todos os dias quando era escrava e agora sua vida corria perigo porque era uma mulher livre… Que ironia! Ouviu um barulho no quarto. Saiu da banheira e se vestiu com pressa. Foi ao quarto em silêncio, mas viu que era Dionira colocando seu almoço na mesa.
– O que foi Dionira? Não queria vir só jogar conversa fora.
– Gabrielle queria pedir para não sair sozinha pelo castelo. Ontem não pensei que a coisa fosse tão séria.
– Já sei Dionira. Já andei escutando o que está acontecendo. Metade está ao lado de Xena por considerá-la e saber como ela governa. A outra metade quer me pegar por achar um absurdo uma ex-escrava estar na posição que tenho hoje.
– Não se preocupe, temos muito mais homens zelando por você do que pessoas que a querem mal. E depois vão ter que se acostumar, pelo menos se quiserem permanecer sob as ordens de Xena.
– Aí é que está Dionira! Não quero que me aceitem por Xena, quero que me aceitem pelo que sou. Não sou melhor nem pior do que ninguém. Nem sempre fui escrava! E depois tenho muito mais coisas a contribuir do que tinha quando era escrava.
– Eu sei Gabrielle as coisas se acertarão, tenha paciência. Mas por enquanto teremos que ter cuidado, só isso.
– O que é ter paciência? Andar escoltada por aí? Sabe que não farei isso. Trará mais revolta. Tenho que agir normalmente, se não, não se acostumarão!
– Está bem, mas eu trarei todos os dias o seu desjejum, almoço e jantar. À porta, ficarão sempre os homens de confiança de Aahbran e quando estiver no quarto ou na sala de medicamentos sozinha, tranque a porta. Isso, eu não quero que discuta comigo.
– Está bem. Não discutirei isso com você. – Gabrielle se sentou para comer.
– Me diga uma coisa Dionira, como suporta a ansiedade de não saber o que está acontecendo com Aahbran quando ele parte em campanha?
– Ah! Gabrielle, isso eu aprendi a controlar, mas a ansiedade e o temor nunca nos deixa…
– Que tártaro! Eu tenho que achar um modo de acompanhar Xena, não posso viver assim.
– Gabrielle você é jovem. Quando me casei com Aahbran eu já sabia que durante algum tempo eu viveria nessa expectativa, mas achava que um dia ele sossegaria, se aposentaria. De certa forma isso aconteceu por um tempo. Mas eles nunca sossegam, parece que só estão vivos quando estão em alguma encrenca. Faz parte da alma deles… Agora coma e descanse. Fará alguma coisa a tarde?
– Visitarei a enfermaria novamente, mas um pouco mais tarde.
– Se precisar de alguma coisa, estarei em meu quarto, é quase aqui do lado. Pergunte a um dos guardas ele saberá te indicar.
– Está bem e não se preocupe, não arranjarei nenhuma confusão.
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Xena se aproximou pela floresta. Estava muito escuro, pois a lua era minguante, mas conseguiu divisar o acampamento persa. Havia duas tendas grandes montadas no centro. Conseguiu ver Sileno e outro nobre que vivia questionando os seus atos perante o conselho.
“Deveria ter acabado com ele há muito tempo! Me tornei uma tola.”
Sileno falava com um persa alto e corpulento que pelos trajes parecia ter um grau de importância, provavelmente um comandante. No canto havia uma carroça com várias flechas e alguns soldados persas, mergulhando as pontas das flechas em um tonel cheio de liquido.
“Veneno! Com isso eu não contava. Droga! Espero não me arrepender de ter levado Gabrielle para Tropea”.
Havia também três grandes catapultas e duas pequenas. De resto eram só os homens e suas espadas. Xena retornou ao seu acampamento. Quando chegou, foi direto falar com Aahbran.
– Temos alguns problemas!
– O que foi?
– As flechas deles estão envenenadas!
Os dois outros batedores chegaram.
– Nós vimos também, mas cada soldado carrega consigo um odre com o antídoto.
– Menos mal, quando entrarmos em batalha teremos que avisar aos nossos que peguem esses odres de cada homem que matarem para poder auxiliar os nossos feridos pelas flechas.
– Eles têm três grandes catapultas e duas pequenas. Estamos logo atrás deles, poderíamos aáaca-los antes que tenham tempo de atacar as muralhas com as catapultas.
– Atacaremos assim que se acercarem da fortaleza. – Falou Xena. – Quando os homens das muralhas nos vir, eles darão o sinal para que os batalhões dos flancos ataquem também.
– Quando acha que conseguirão chegar a Epidaurus? – Perguntou Aahbram.
– Talvez amanhã à tarde. Estão muito lentos, carregam catapultas muito grandes. Provavelmente acamparão antes de Epidaurus para atacar só de manhã.
– Xena, posso galopar pelo leste, possivelmente chegarei a Epidaurus antes deles.
– Eles têm batedores a frente também.
– Por isso mesmo, conseguindo passar, nossos homens estarão muito mais preparados, talvez consigamos interceptar até seus batedores.
– Então pegue um alforje com mantimentos e vá, meu amigo. E leve outro com você.
Seu batedor se retirou.
Na manhã seguinte, Xena levantou acampamento, mas não queria se antecipar aos persas. Mandou as tropas marcharem mais lentas e foi à frente para averiguar em que passo os persas caminhavam. Chegou exatamente na hora em que as carroças saíam e ficou observando suas manobras. Todos os persas já iam paramentados com suas armaduras e armas. Xena percebeu que assim que chegassem atacariam, talvez quisessem a surpresa da noite os acobertando.
“Boa manobra, mas muito arriscada. Estão seguros que vencerão.”
Retornou para as suas tropas.
– Aahbran, eles atacarão assim que chegarem, não esperarão o amanhecer. Querem antecipar e acabar logo com o combate, não querem se demorar e arriscar perder muitos homens. Isso me faz pensar que entendem que Corinto já está tomado e não precisam de reforços.
– Então temos uma vantagem e uma desvantagem.
– Sim. A vantagem de estarmos um passo à frente, e a desvantagem de nossas tropas perto da muralha não conseguir nos divisar quando chegarmos, então teremos um trabalho maior de segurá-los enquanto os flancos laterais não chegam.
– Isso é muito ruim Xena. Certamente perderemos muitos homens com suas flechas envenenadas.
– Talvez nem tanto. Quando chegarmos, quero o comandante persa. Quero um pelotão nosso abrindo uma brecha no pelotão posterior em direção ao comando para que eu possa chegar ao seu comandante e atacá-lo.
– Isso é muito arriscado Xena!
– É a chance que temos de uma vitória rápida e sem muitas perdas.
– Xena, sei que tem muitas habilidades. Nunca duvidei de sua perícia como guerreira, mas você é a força desse exército e desse reino. Se acontecer algo com você, os homens se desesperarão, se dispersarão. Seria mais prudente contarmos com as forças dos flancos primeiro.
– Aahbran, sabe que tenho razão. Não sabemos quantos nobres se juntaram em Corinto. Quantos exércitos dos castelos dos reinos se juntaram em Corinto? Se perdermos muitos homens, Corinto ficará distante para reavermos!
Aahbran assentiu sem muito ânimo.
Quando chegaram próximo a Epydaurus, o exército persa já se preparava para o ataque.
Estavam enfileirados com os arqueiros e com as catapultas armadas para atacar a muralha.
Xena mandou que os pelotões se posicionassem em silêncio na formação de arco atrás dos batalhões persas, mas escondidos atrás das árvores. Esperou a primeira catapulta ser lançada em direção as muralhas para que não percebessem sua presença. Quando houve o disparo, Xena ordenou o ataque do batalhão de frente. Homens a pé apenas com escudos e espadas, após ordenou seu batalhão a cavalo seguir logo atrás pelo meio e os comandava na frente para direcioná-los onde ela veria o líder dos persas. Divisou-o assim que ele se virou para ver o ataque pelas margens de trás de sua armada. Investiu com os soldados a cavalo para abrir frente e quando o comandante persa percebeu a armadilha, já estava sendo atacado pelas laterais também. Tentou se proteger para não ser pego, mas nesse momento Xena deixava seu cavalo em um salto e pousou diante dele girando sua espada em movimentos rítmicos, simétricos soltando um grito. Não permitiu que se recuperasse, partiu para o ataque. O comandante sacou a espada para se proteger da primeira estocada. Seus olhos faiscaram por se ver acuado e rechaçou a investida de Xena com raiva desfechando dois golpes diagonais. Xena defendeu os dois golpes e soltava uma gargalhada que fez o comandante arder em ira tentando acertá-la a qualquer custo. Investiu em uma estocada na direção de seu abdômen que foi repelida. Xena girou sobre o próprio corpo desferindo um golpe logo a seguir em suas pernas. O homem além de corpulento era habilidoso. Pulou deixando a espada de Xena passar e baixou sua espada diretamente nas costas de Xena. Xena segurou o golpe, ajoelhada e de costa, o empurrou por cima da cabeça, levantou e deu um chute para trás atingindo-o no estômago. Voltou-se novamente e com a espada, desfechou outro golpe em diagonal lhe cortando o pescoço. Viu o homem cair de joelhos a sua frente esguichando sangue com os olhos abertos e vidrados. O sangue pulsava violentamente em seu corpo, girou a espada fazendo um oito a sua frente gritando para seu exército. Quando se voltou em direção da batalha os poucos persas que haviam sobrado pelo massacre de seu exército se rendiam. Procurou Aahbran, viu seu capitão ser carregado para dentro do pátio de Epidaurus, com ele caminhavam presos Sileno e Altineu, o outro nobre que estava com os persas. Xena correu para dentro dos muros da fortaleza. Havia pedido para Aahbran prender Sileno e Altineu sem matá-los.
“Deuses! Não devia ter pedido isso, era muito perigoso fazê-lo em meio a uma batalha!”
Quando chegou ao pátio interno viu que havia um corte em seu braço que sangrava muito. Abaixou para falar com Aahbran.
– Calma vamos estancar isso! – Falou para animá-lo, mas Xena sabia que o corte era profundo. Se não estancassem o sangue, na certa Aahbran perderia o braço na melhor das hipóteses.
– Fiz como pediu, minha “rainha”, Altineu e Sileno estão presos! – falou orgulhoso com um fio de voz e um esgar de dor.