Terceira parte

-Afaste-se do meu pescoço Xênia! Não tem nem idéia de como o deixou. – Gabriela se escondia atrás de seus braços enquanto Xênia se aproximava perigosamente.

-Prometo que não volto a fazer, juro. – a morena levou a mão ao peito, enquanto levantava a outra e mostrava a palma da mão a Gabriela solenemente, e tentava dissimular seu evidente sorriso.

-Não sei Xênia. Por acaso tem idéia de como é terrível andar com um lenço em pleno verão? – viu Xênia fazendo uma cômica expressão enquanto meditava se na realidade havia usado ou não o lenço.

-Creio que não, mas uma vez bati tão, mas tão forte minha perna que ficou um hematoma deste tamanho e não o cobri. – a morena reproduzia o tamanho do hematoma em sua perna, enquanto olhava seriamente.

-Xênia, que coisa tem que ver um hematoma produzido por um golpe com um chupão no meu pescoço? – Gabriela agitava suas mãos no ar.

-O que tem haver é que tem o mesmo princípio. Uma acumulação de sangue, ou algo assim.

-Você está muito criativa em suas respostas, creio que não está sendo muito conveniente para mim que se junte tanto comigo.

-Ah, não? Está talvez dizendo que tenhamos que nos afastarmos um pouco para que você não me influencie tanto?

-Não foi isso que eu disse, não inverta as palavras. Ou por acaso essa é sua forma de me pedir que me afaste um pouco? – Gabriela sentiu como seus lábios faziam beicinhos sem nem se quer pensar.

-Não me faça beicinhos minha menina, se apenas consigo estar um instante sem você e você sai com isso de que estou lhe pedindo para que nos afastemos…

-De verdade, sentiu saudades? – a voz de Gabriela se suavizou enquanto esperava a resposta de Xênia.

-Tanto que dói aqui. – viu a morena levar uma mão ao peito.

-A mim também me dói quando não estou com você, é como se me faltasse ar e me custasse a respirar.

-Vem aqui. – pegou Gabriela por uma mão e a sentou sobre suas pernas enquanto suas costas descansavam no encosto do sofá. – Posso ver? – aproximou seus dedos do lenço que estava ajustado ao pescoço de Gabriela.

-Não! Dá-me vergonha.

-Como lhe dá vergonha? Se foi eu mesma quem fiz, lembra? – um pequeno sorriso nasceu nos lábios de Xênia.

-De qualquer forma me dá vergonha, assim não vou deixar você ver. Ouviu?

-Por favor?

-Não, e não faça essa cara.

-Por favor, me deixa? – deu um pequeno beijinho na bochecha enquanto acariciava sua mão e lhe falava suavemente.

-Não, Xênia.

-Deixe-me ver? Sim? Vai me deixar ver, não é? Viu os olhos suplicantes e foi impossível lhe negar.

-Ok. – Tirou o lenço e deixou a vista a mancha violeta.

-Ui que grande! Eu fiz isso?

-Quem mais? – Gabriela a olhou com fastidio.

-Sinto muito… – disse Xênia a olhando um tanto envergonhada. – Dói?

-Não. Doeu mais quando você fez, agora não.

-E se eu der um beijinho, acha que desaparecerá mais rápido? – a morena aproximou os lábios da pele, e a jovem se afastou imediatamente.

-Com cuidado eh, não vai se entusiasmar. – advertiu levantando um dedo.

-Só vou beijar devagar, assim veja…Dói? – Gabriela negou com a cabeça. – Acha que diminuirá se eu esfregar meu nariz nela?

-Não, mas faça assim mesmo. – a voz de Gabriela soava grava enquanto abraçava o pescoço de Xênia.

-Eu adoro seu cheiro. Que perfume usa?

-Não é perfume, é uma essência.

-De sândalo?

-Como sabe? Reconheceu o cheiro?

-Há uma canção que quando a escuto me faz pensar instantaneamente em você, por isso soube.

-Qual é?

-Esta…- Xênia se aproximou do ouvido de Gabriela enquanto a abraçava forte e apertava a mão desta na sua, e começou a cantar suavemente.

She can’t tell me that all of the love songs have been written

(Ela não pode me dizer que todas as canções de amor hão sido escritas)

‘cause she’s never been in love with you before.

(porque nunca estive apaixonada de você antes)

Your skin lovely like sandalwood.

(Sua pele cheira deliciosa como o sândalo)

Your hair falls soft like animals.

(Seu cabelo cai suave como animais)

I’m tryin’ to keep cool, but everyone likes you.

(Estou tentando manter-me tranqüila, mas todos gostam de você).

I want to Kiss the back of your neck,

(Quero beijar sua nuca)

the top of your spine where your hair hits

(a parte superior de sua espinha onde bate seu cabelo)

and gnaw on your fingertips and fall asleep

(e morder a ponta de seus dedos e repousar)

I’ll talk you to sleep.

(Lhe falarei para repousar)

But I’ll be the one, and I will have chosen.

(Mas serei a escolhida, e terei escolhido).

I’m trying to keep cool, but everyone here likes you

(Estou tentando manter-me tranqüila, mas todos aqui gostam de você).

I’m not the only one.

(Não sou a única)

Your skin smells lovely like sandalwood.

(Sua pele cheira deliciosa como o sândalo)

Your hair falls soft like animals

(Seu cabelo cai suave como animais)

and nothing else matters to me.

(E nada mais me importa)

She can’t tell me that all of the love songs have been written

(Ela não pode me dizer que todas as canções de amor hão sido escritas)

‘cause she’s never been in love with you before.

(Porque nunca estive apaixonada de você antes)

In love with you before.

(Apaixonada de você antes).

Your hand

(Sua mão)

so hot

(tão quente)

burns a hole in may hand

(queima um furo em minha mão)

I wanted to show you.

(queria mostrar-lhe)

*************************************************************************

-Xênia…

-M?

-Não sei o significado do que você cantou, mas me fez sentir coisas…

-Que coisas?

-Coisas nada mais, como o desejo de fazer isto…

Xênia sentiu os lábios de Gabriela nos seus beijando-a primeiro suavemente como a jovem costumava, tocar seus lábios com os seus, tocá-los com seus dedos, separar-se um pouco e olhá-la de perto com seus olhos verdes cheios de ternura. E para Xênia não lhe restava mais que sorrir como uma idiota diante de semelhante rosto que desejava muito imaculado, que parecia ter uma áurea, que brilhava com uma luz interior que seus olhos não percebiam, mas sim seu coração.

-Gosto dessas coisas…

-Quer que eu continue com estas coisas então? – Gabriela a estava olhando com seus olhinhos risonhos e algo de picardia neles, falava suavemente, devagar, sussurrando.

-Quero…

Então Xênia sentiu como a jovem se apegava mais a seu corpo e deixava o seu descansar sobre ela enquanto continuava beijando-a cada vez mais com paixão. Sentiu sua língua tocando seus lábios, então sua boca se abriu mais para lhe dar passo em seu interior, e esta em seguida aceitou o convite. A estava beijando com toda sua alma como nunca antes. Xênia quase não podia respirar, nem se quer recordava já onde estava sentada, ou se por acaso estava em pé, ou deitada, ou se quer se estava no mesmo lugar.

Gabriela passou uma das pernas por cima de Xênia e ficou de cavalinho sobre ela enquanto continuava com seus beijos. Seus lábios começaram a percorrer sua mandíbula e fizeram caminho até seu pescoço. Xênia mantinha os olhos fechados enquanto se entregava a sensação do corpo de Gabriela sobre o seu, era incrível o efeito que provocava em seus sentidos, a abraçava tão firmemente como as forças que tinha nesse momento o permitiam. Sentia os lábios quentes de Gabriela em sua garganta presenteando-lhe milhares de emoções que jamais havia podido descrever com palavras. Não sabia como suas mãos abriam espaço por entre o tecido da blusa de Gabriela até ficar em contato direto com a pele de suas costas. Sentiu um pequeno arrepio da jovem de olhos verdes, que se separou um segundo só para voltar a unir seus lábios em seu pescoço. Então de sua garganta começaram a sair suaves gemidos que lhe era impossível de controlar, do mesmo modo que ouvia outros próximos de seu ouvido, escapar da garganta de Gabriela.

-Xênia…Te amo…Te quero tanto…- ouvia entre ofegos, então de repente sentiu que praticamente se rasgava a gola de sua blusa enquanto Gabriela tocava sua clavícula.

-Calma…- era apenas o que Xênia falava.

Percebeu as mãos de Gabriela colar-se habilmente por sua roupa até suas costas para logo notar como seu sutiã se afrouxava. Gabriela se assustou, a sentiu soltar-se de seus braços enquanto deixava de sentir o peso de seu corpo. Abriu os olhos e a viu afastar-se rapidamente de seu lado, enquanto tentava recuperar o ar e via como a jovem respirava com dificuldade enquanto a olhava com olhos exagerados.

-Eu…Xênia me desculpe…Não sei o que me deu. – gaguejava, enquanto tocava a testa.

-Não foi nada, calma, vem. – Xênia tentava acalmá-la, enquanto sentia que seu coração palpitava a mil por hora.

-Não, é melhor que eu fique aqui. – levantou as mãos escondendo-se entre elas, nesse momento seu celular começou a tocar, provocando um tremendo salto no corpo de Gabriela.

-É seu celular. – viu a jovem procurar nervosamente seu celular dentro de sua mochila, suas mãos tremiam tanto que apenas era capaz de abrir o fecho. Por fim chegou até ele, ainda tocava, olhou o número e se assustou ainda mais, deu uma rápida olhada para Xênia enquanto duvidava se respondia ou não.

-Alô?______________Sim sim mamãe___________Não, estou com uma amiga. – olhou novamente para Xênia, só para escapar de imediato de seus olhos. Não sei_____________Bem________________Sim, não sei vai me esquecer____________Não é nada, é que vim correndo até aqui_____________Ok, tchau__________eu também.

-Você está bem?

-Não sei como estou, um pouco confundida.

-Por quê? Eu lhe confundo? – Xênia procurava seu olhar, mas os olhos verdes escapavam.

-Não é você Xênia, sou eu, ou seja, é tudo, nem se quer me dei conta do que estava fazendo.

-Sente-se aqui, prometo não lhe tocar. – Gabriela a olhou quase com dor.

-Cada vez que estamos próximas sinto coisas que jamais senti antes em minha vida, mas tenho medo, não sei como…

-Mas você estava indo tão bem. – percebeu um pequeno e tímido sorriso no rosto de Gabriela.

-Não sei por que me assusto tanto. – bateu em sua testa com o dorso da mão. – Estamos aí e nem se quer penso no que faço, é meu corpo que responde somente, mas quando se intromete minha cabeça algo acontece, Xênia eu…Morro de vontade de fazer amor com você. – Xênia sorriu ao ouvir essa confissão.

-Eu também…- a pegou pela mão.

-Mas sei que ainda não é o momento, não quero voltar a fazer isto, não é justo para você, sou uma estúpida, sinto muito Xênia.

-Não sinta, eu entendo, não quero que sinta que eu estou lhe pressionando, eu também tenho medo.

-Não está me pressionando, foi eu quem começou tudo isto.

-Mas foi eu quem cantou ao seu ouvido, assim a culpa é em parte de ambas.

-Obrigada por sua compreensão, prometo tentar não voltar a me lançar assim em cima de você e lhe deixar na metade. – o rubor em seu rosto foi maiúsculo. Xênia sorriu.

Nesse momento o celular voltou a tocar, Gabriela deu um salto novamente.

-Alô?__________Quê??________________Como que não se lembrou?__________Cata sabe quanto é importante para mim_________Em duas semanas?____________Se não as consegui acho que nunca mais vou falar com você em toda minha vida. Ouviu?

-Que foi? – Xênia perguntou uma vez que Gabriela havia desligado o telefone.

-Vamos Xênia, tem que me acompanhar agora mesmo.

-Onde? – Gabriela já a estava puxando pelo braço dirigindo-se até a porta.

-Comprar entradas para o concerto dos Red Hot. Eles vêm em duas semanas, e esta fedelha de merda não havia me dito que estão a venda há um mês.

-Como em duas semanas? Não é possível que avisem e ponham a venda às entradas em tão pouco tempo.

-Estão fechando a excursão do By the Way e estão completando vinte anos de carreira e vêm outra vez para cá, o que aconteceu foi que haviam suspendido o concerto, e suponho que finalmente resolveram vir, mas já havia devolvido a entrada, e eu sem saber de nada metida aí. Que tipo de fã sou? – dizia amargamente.

-Uma fã que está loucamente apaixonada de uma alta morena e de olhos azuis cujo nome começa com X?

-Tem toda razão. – Gabriela olho para Xênia com ternura lhe deu um pequeno beijo e voltou a se desesperar. – Mas! Vamos vamos que vou ficar sem entradas!

-Não esperaria eu tomar um banho…?

-Não!

Xênia apenas conseguiu ajeitar um pouco a roupa e o cabelo, pegou algum dinheiro e suas chaves antes que Gabriela terminasse levando-a a empurrões pela porta.

-Disse que a jovem lhe deu o número de seu telefone e lhe agradeceu por ajudá-la a aceitar sua sexualidade?

-Não, que eu sozinha tenha lhe ajudado, mas nós duas, você e eu, que lhe parece? – Xênia falava para Gabriela enquanto se concentrava na direção.

-Incrível. – disse a jovem de olhos verdes movendo a cabeça surpreendida. – Bem, mas a mim também aconteceram coisas parecidas, deu um monte de autógrafos as pessoas, aii Xênia é tão divertido, me perguntavam de você, embora eu só lhes sorria.

-Deu autógrafos? – disse Xênia levantando uma sombracelha.

-Sim. Por quê? Por acaso você não deu?

-Claro que não, essas coisas não vão comigo, você sabe, além disso, não sei porque alguém ia querer um pedaço de papel com um monte de rabiscos, é patético.

-Bem, é, mas é divertido, fiquei conversando com várias pessoas, e todos queriam me abraçar e pegar em minhas mãos e…

-Como é que é? Abraçaram-lhe? Quem merda lhe abraçou e pegou em suas mãos? – Xênia a olhou irritada.

-Xênia não aconteceu nada, eram em forma de amizade. – de repente olhou a morena com cara de pergunta. –Bateu em alguém?

-Quê? Por que está perguntando isso? – Xênia se concentrou no caminho enquanto sentia os olhos de Gabriela estudando suas feições atentamente.

-Porque lhe conhecendo e sabendo como tantos se aproximaram de mim, não me custa nada pensar que alguém chegou a levar algum golpe ou pelo menos um empurrão, se tentou se aproximar de você.

-Onde você disse que era? Em que lugar?

-Xênia você está mudando de assunto, não posso acreditar. Em quem você bateu? Não me diga que foi alguém velho, por favor!

-Não! Não foi ninguém velho, foi um estúpido que estava me irritando, e nem se quer lhe bati, só lhe ameacei.

-Bem, pelo menos isso. – disse aliviada. – É nesse. – lhe indicou com o dedo.

-Então vamos.

-Xênia estou tão entusiasmada, morro de vontade de vê-los novamente ao vivo. Eles já deram três concertos aqui, ou seja, em Santiago.

-E com quem você vai? Pode se saber?

-Como com quem eu vou? É brincadeira, não é? Com você obviamente.

-Comigo?

-A menos que prefira que eu convide algum amigo para ir comigo, não sei, talvez pudesse chamar o José, talvez ele queira me acompanhar. – levou um dedo ao queixo. – Ou até o Pablo.- Gabriela viu a fúria formando-se no rosto de Xênia.

Peguei-lhe.

-Quando vamos a esse famoso concerto?

-Não estou certa, esta desprezível não me deu nenhum detalhe.

-Aqui vamos, sabe que as pessoas vão ficar nos olhando, verdade? – Xênia observou com preocupação Gabriela. – Só quero que esteja consciente disso, você se mantenha calma, porque se lhe verem nervosa, aí sim é terão mais o que falar.

-Entendo, podemos com isto, vamos. – Gabriela pegou a mão de Xênia, mas logo a soltou a recordar que não podiam dar-se o luxo de fazer algo tão simples como isso. – baixou a cabeça sentindo tristeza, raiva, uma mistura de emoções.

-Sinto muito…Sabe que não podemos fazer coisas tão simples como andar de mãos dadas em público sinto ser a causante disso. – Xênia baixou o olhar com a tristeza estampada em seu rosto.

-Não Xênia! Não me diga isso, por favor, nós duas estamos nisso, você não está me metendo em nada, deixa de pensar assim, eu te amo, sempre vou te amar, você estava em meu caminho, você é meu destino Xênia, não deixemos que as pessoas se interponham entre nós.

-Vamos. Xênia sorriu a Gabriela e juntas saíram do carro. Ia ser a primeira vez que se mostrariam realmente em público juntas.

-Está bem? – Xênia observou cada movimento de Gabriela enquanto que esta saia do carro.

-Sim Xênia, estou bem, cuide-se, te amo… – podia ler a angustia em seus olhos verdes, eram definitivamente as janelas de sua alma, e não sabiam mentir, eram muito transparentes.

-Te amo, descanse. – Xênia ouviu sua própria voz emitindo um mistura de emoções. Ligou o carro e viu Gabriela se perder pela porta de sua casa.

Tinha raiva, tristeza, impotência, uma série de sentimentos que atormentavam sua cabeça, e que continuaram fazendo-se durante toda a viagem. Deu um golpe no volante enquanto esperava o sinal mudar para verde. Finalmente chegou a seu destino. Caminhou até seu apartamento sem prestar atenção a seu redor.

Deu a volta na chave e abriu a porta de seu apartamento, mas antes de entrar nele, sentiu uma presença detrás de si, se virou rapidamente e antes que se dera conta Carla estava abrindo caminho até o interior do lugar.

-Olá, darling não vai me deixar aqui do lado de fora, já esperei muito tempo para que você me dê com a porta no nariz. – viu a ruiva parar na metade da sala enquanto esta inspecionava ao redor com sua habitual soltura de corpo.

-Que merda crê que está fazendo? Saia imediatamente.! – Xênia sentiu a fúria subindo por seu rosto até suas têmporas.

-Venho lhe visitar Xênia. Que mais ia ser? – se girou até a morena. – Não fique aí parada e venha me fazer companhia, essa porta aberta me está dando frio. – a ruiva se abraçou a si mesma enquanto esfregava os braços. – E preciso de calor, me daria? – inclinou a cabeça enquanto olhava Xênia provocativamente.

-Que merda tenho que fazer para que você deixe de incomodar? Já disse dê o fora daqui! – Xênia se aproximou da jovem e a agarrou pelo braço enquanto a arrastava até a porta.

-Não tão rápido amor, se estou aqui é por um motivo. Não quer saber qual é? Acho que vai lhe interessar.

-Não me interessam seus putos motivos. Fora! – as pálpebras de Xênia estavam se fechando perigosamente enquanto que seu tom de voz baixava ao mesmo tempo.

-Xênia do meu coração, você não é curiosa? – dizia a ruiva enquanto abria os olhos dando-lhe ênfase as palavras. – Não lhe corroei por dentro o desejo de saber algo que é desconhecido para você?

-Se tem que ver com você não me importa essa merda, agora vá embora. – a agarrou pelo braço e a empurrou pela porta e depois a fechou com um golpe.

-Xênia! Se eu fosse você abriria essa porta, tenho algo aqui que vai lhe interessar, tem que ver com sua adorada loirinha. – baixou a voz enquanto dizia a última frase. – Xênia abriu novamente a porta.

-Se você se atrever só em pensar em fazer algum mal a Gabriela, lhe juro…- Xênia se aproximou do rosto de Carla até que seus narizes estivessem se tocando, seus olhos azuis cravados, nos castanhos, enquanto agarrava a jovem pela mandíbula…- eu lhe mato, estou sendo clara?

-Quase clara talvez se inclinasse um pouco sua cabecinha e se aproximasse mais, terminaria de entender. – a ruiva tentou tocar os lábios de Xênia com os seus, mas a firma mão de Xênia a impediu de se aproximar.

-Nem se atreva em tentar. – Xênia a deixou sentada no chão com um empurrão.

-Sabe Xênia? Você e eu somos mais compatíveis do que pensa…- se aproximou engatinhando até os pés de Xênia enquanto alçava seus olhos até os olhos azuis. – Você gosta de dominar eu gosto que me dominem.

-Maldita louca asquerosa.

-Insulte-me o quanto quiser e mais, já sabe o que isso vai me provocar. – Carla sorria com uma fingida cara de inocência.

-Que merda quer em troca de não ver mais sua asquerosa cara nunca mais?

-Quer que lhe escreva? Porque eu preferiria que fizéssemos e já.

-Meta em sua maldita cabeça, não vai acontecer nada entre você e eu, nada!

-Sim, vai acontecer, você e eu vamos fazer tudo o que eu tenha vontade. Como faço para lhe deixar claro darling? – a ruiva girou os olhos para logo voltar a pousá-los nos de Xênia. –Se você não me der o que quero sua Gabita vai pagar as conseqüências, captas?

-Não vai tocar em nem um fio do cabelo de Gabriela, maldita filha da puta. – Xênia se lançou sobre Carla com a mandíbula apertada de fúria enquanto tremia contendo a vontade de lhe quebrar a cara.

-É verdade, nisso tem razão, ninguém falou em tocar nessa menina, esse é seu trabalho. – a olhou dos pés a cabeça. – Por mim você pode seguir pegando-a pelo resto da sua vida sozinha, a mim não me interessa, captas?

-Pode inventar o que quiser sobre mim, ela não vai lhe acreditar.

-Tampouco é isso darling, tudo é tão simples, ou me dá o que eu quero ou vou até os queridíssimos pais dela e lhes dou isto. – tirou uma fotografia de um de seus bolsinhos a olhou com um grande sorriso no rosto lhe deu um repugnante beijo e a lançou para Xênia. – Acha que eles gostariam de ver essa ceninha? – Xênia olhou a imagem.

Filha da puta.

-Não amor, não se altere lindinha – agarrou o rosto de Xênia, esta tirou a mão com um tapa. – É simples – disse a ruiva apalpando a mão, enquanto gesticulava um exagerado “ai” que mais do que lhe doía parecia lhe ter fascinado. – se obtenho o que quero, seus sogros não saberão de nada e todos ficam felizes como sempre. Deixo-lhe para que pense, e veja que até sou bonita. – juntou suas mãos com uma fingida cara de inocência enquanto girava os olhos ao céu. Xênia a viu se afastar e antes que a perdesse de vista ela se virou. – Disse que sempre obtenho o que quero…- desapareceu pelas escadas, e reapareceu novamente. – Ah! E você não tem muito tempo. – lhe piscou um olho e se foi finalmente.

Gabriela se sentou em frente ao computador enquanto esperava alguma mensagem de texto ou um chamado de Xênia. Olhou a hora, o relógio marcava 11:15 da noite. Revisou sua caixa de entrada, os costumeiros e-mails de propaganda faziam 50% de sua correspondência. Percorreu com o olhar sua lista de contatos do mensageiro instantâneo, várias pessoas na linha, mas todos estavam bloqueados, não tinha vontade de responder a mesma pergunta centenas de vezes, nem muito menos ter que negar aquilo que tanto lhe doía negar.

Levantou-se da cadeira e foi até a cozinha, ali abriu o refrigerador, seus verdes olhos percorreram o interior buscando algo de seu gosto, nada a convencia. Era incrível como ultimamente havia diminuído suas ânsias de comer tanto.

Deve ser Xênia que me enche, era ela o que me faltava.

Por fim voltou a seu quarto com um potinho de sorvete de chocolate.

Tampouco é para tanto um pouquinho de sorvete de chocolate não fará mal a ninguém.

Regressou a seu lugar frente à tela, alguém a havia agregado a sua lista de contatos, levou uma grande colherada de sorvete a boca, enquanto decidia se aceitava ou não. Quem quer que fosse, não era uma pessoa conhecida, e tinha vontade de falar com alguém que não soubesse quem era ela, desabafar um pouco. Finalmente optou pela primeira alternativa. Levou o cursor até o botão de aceitar, em seguida apareceu um contato mais em sua lista, a pessoa estava na linha, portanto se via seu nick em cor verde. Esperou um momento para ver se falava, mas nada, nesse momento seu celular tocou. Colocou-se de pé e foi em busca dele.

“Est tdo bem? Tnho saudades,qria estar convc agora.pq não vem para cá e dormims junts? Promt não tocr.TA…”

Sorriu diante da proposta, e até considerou a possibilidade, o mais provável era que Xênia tivesse dito de brincadeira já que sabia que isso não ia ocorrer, mas a brincadeira sempre tem algo de certo. Nesse momento se assustou ao ouvir a musiqueta enquanto que uma janela de conversa se abria em sua tela.

-Olá?

-Olá, nos conhecemos?

-Mmm talvez…

Talvez? E se é alguém que me conhece e está se fazendo passar por desconhecido? Bem já veremos.

-Como se chama? É homem ou mulher?

-Prefiro guardar meu nome até me assegurar que seja de confiança, sou mulher.

-Entendo…Bem um pouco. Como encontrou meu endereço?

-Recebo muitos e-mails.

-Ok. De onde você é?

-Do Chile, e você?

-Também, sou de Viña, e você?

-De Viña também. Por que está triste? Está triste por amor ou algo assim?

-Por que acha que estou triste? – Gabriela ficou olhando a pergunta, enquanto que uma colherada cheia de sorvete se perdia dentro de sua boca.

-Não acho, apenas sinto, talvez tenha me equivocado.

-Bem, talvez tenha alguma razão, mas não é por amor, eu de amor ando muito bem de verdade.

-Sério? Ou está esquivando?

-Sim, faz pouco tempo, só dias, mas nos conhecemos já faz mais de um mês.

-É feliz com essa pessoa?

-Não só feliz, sou plena, é muito especial…Além disso, é a pessoa mais linda que já vi em minha vida, parece estrela de cinema.

-A ama?

A ama? Por que não especifica um gênero? Isso é estranho aqui, mas eu gosto, não dá pelo fato que é um homem talvez…Quisera que todos fossem iguais.

-Com todo meu coração.

-Eu também te amo…

Eu também te amo? Quê?

-Xênia?

-Sim, a não ser que exista outra por aí…

-Xênia! Malvada. Por que não me disse?

-Sinto muito, queria dizer, mas era muito tentador ver o que você ia dizer. Perdoa-me?

-Não sei, vou ter que pensar…- Gabriela começou a sorrir enquanto olhava a tela.

-E se lhe dou um beijinho?

-Não me convém perdoar só por um beijo, além disso, um beijo virtual não me serve muito…

-E se eu ficar devendo?

-Não sei…Deixe-me pensar…Ok, já pensei, lhe perdôo em troca de um beijo que vou cobrar na próxima vez que nos vermos.

-Obrigada minha menina…Eu sabia que seria indulgente com sua Xênia.

-É minha de verdade?

-Completamente…E você… É minha?

-Inteirinha sua, nos pertencemos então?

-Para sempre…

-Te amo…

-Eu mais…

-Não, eu muitíssimo mais…

-Eu mais! Eu lhe quero até o infinito e mais ainda.

-Eu lhe quero até o infinito do infinito e mais ainda.

-Vem para cá Gabby…Minha cama é grande, cabe nós duas, prometo que não lhe toco, só vou lhe olhar…

-É o que mais eu queria fazer, mas você já sabe que por mais que proponha não posso nem tocá-la, além disso, o que eu digo a meus pais quando me perguntarem onde passei a noite?

-Tem razão…Estou morrendo sem você…Se amanhã amanheço morta pode ter certeza que as pessoas podem sim, morrer de amor…

-Linda, preciosa.

-Você que é linda e preciosa, linda, mais linda que todas as pessoas deste mundo e todos os mundos que existam.

-Estou pensando em sua proposta de ir para aí…Ainda está de pé o convite?

-Sim! Eu vou lhe buscar em um instante, já estou saindo.

-Não, meu amor…Sinto muito…Foi um impulso.

-Me chamou de meu amor outra vez…Você não tem nem idéia do que sinto quando me chama assim…

-O que sente?

-Meu coração palpita muito rápido…Sinto que ele quer sair pela boca…E sinto ganas de gritar…

-Te amo Xênia…

-Te amo Gabby…

Observou a tela, o diálogo que até o momento haviam mantido, por certo, cada vez que a chamava assim, sentia que seu coração não resistia com tantas palpitações. Estava sorrindo como uma boba, já havia praticamente esquecido da desagradável visita de Carla, e das pessoas murmurando a suas costas quando se mostraram juntas em público, o forte desejo que sentiu de agredir a todos para que não ficassem mais se intrometendo no que não lhes importava. Nada desses sentimentos negativos sentia, todo o mal desaparecia quando estava com Gabriela, tudo era perfeito junto a ela.

-Ainda está aí? – leu a pergunta de Gabriela.

-Sim, ainda estou aqui, só estava olhando o seu te amo.

-E eu o seu.

-Gabby?

-Sim?

-Está triste pela forma que as pessoas nos olhavam?

-Não é isso Xênia, ou seja, me irrita, mas não é isso o que me dói mais.

-Então o que lhe deixou triste?

-Não poder andar de mãos dadas com você…Não poder lhe beijar em público…E que todos saibam que estamos juntas, que eu Gabriela consegui uma pessoa tão maravilhosa como você…E que todos morrem de inveja.

-A que conseguiu a pessoa mais maravilhosa e especial do mundo sou eu e você deve saber isso, às vezes sinto que não lhe mereço.

-Você não se valoriza o suficiente, se não fosse especial eu não sentiria o que sinto por você, não quero que me diga isso de que não me merece nunca mais, isso me dói ainda mais que qualquer outra coisa…

-Nunca teve dúvidas sobre nós duas? Do que sente? Sabe tudo o que nos vai custar…- Xênia olhou sua pergunta e arrependeu-se de tê-la feito, não poderia suportar que lhe respondesse afirmativamente. Esperou a resposta, mas não a recebeu, um minuto, dois minutos, nada. Começou a preocupar-se. – Está aí? – seguia sem obter resposta. Seu telefone começou a tocar, enquanto não tirava a vista da tela esperando a resposta de Gabriela, esticou a mão e pegou o telefone, olhou o número, era Gabriela.

-Alô?

-Isso sim que me doeu Xênia…Jamais pensei que me perguntaria isso. – ouvia a voz da jovem verdadeiramente angustiada.

-Mas Gabby…Ou seja, só foi uma pergunta.

-Não foi só uma pergunta, são suas dúvidas Xênia, se você as têm não quer dizer que eu também tenha, não posso crer que me disse isso…

-Gabby…Não, não tenho dúvidas, só temor de estar lhe…

-Não se atreva a dizer, não Xênia, se voltar a dizer eu vou começar a chorar, apenas estou contendo-me aqui.

-Perdoa-me…Foi uma estupidez, sinto muito, não voltarei a dizer mais. – Xênia começou a afligir-se.

-Não se trata de que diga ou não diga, mas do que pensa ou não. Xênia eu escolhi estar com você porque eu te amo, se tivesse dúvida acredita que eu teria dito o que sinto? Gostaria que eu duvidasse do seu amor?

-Não é a mesma coisa…

-Por quê? Porque me disse que era gay e eu não lhe disse que eu não sou? Que saco Xênia! Pensei que havíamos dito que nos amávamos mais além da sexualidade, que era pelas pessoas que somos simplesmente, independentes de todos esses malditos limites do corpo. Por acaso me mentiu?

-Não! Verdade, verdade, merda…Sinto muito Gabriela, esqueça que lhe perguntei, sei que me quer como eu lhe quero.

-Sabe? Vou desligar e vou me desconectar, não quero seguir falando por hoje, te amo ainda que duvide…Tchau.

-Gabby!

Merda, como posso ser tão estúpida, sabe que essas coisas lhe fazem mal, idiota!

Golpeou a escrivaninha com o punho, enquanto apertava a mandíbula e via que Gabriela já não estava conectada.

-Ouch.

Agarrou rapidamente o celular e se começou a escrever uma mensagem de texto.

Gabriela se despediu com um abraço da senhora que a olhava sorridente. Havia ficado feliz com a resposta que havia dado o tarot sobre sua relação amorosa.

-Por que não vai agora? Hoje tivemos uma porção de clientes, bem desde que ficou famosa agora vivemos cheios, não posso me queixar. – Sua tia uma mulher de quarenta e cinco anos, de estatura mediana e olhos verdes como os seus a olhava com carinho enquanto classificava por cores as velas.

-Não sei. Você vai ficar bem com todas estas pessoas?

-Claro que sim, além disso, você não está bem para ler cartas hoje. – Gabriela ficou a olhando. – Quê? Não me olhe assim, lhe conheço mais do que você imagina, seus olhinhos são transparentes sabia? Vá, eu estarei bem, dê um abraço a sua tia favorita e desapareça da minha vista.

-Obrigada. – lhe sorriu e lhe deu um forte abraço, pegou sua mochila e saiu da loja.

Atrás ficaram as velas aromáticas e o incenso de morango que já estava quase no fim, quando Gabriela saiu do lugar. Não quis olhar ao redor, sabia que as pessoas a estavam observando e não estava com humor para assinar autógrafos nem se quer lhes dizer olá. Caminhou o mais rápido que pôde.

Por que nunca comprei óculos de sol?

Tirou o celular não tinha nenhuma chamada perdida, nem novas mensagens de texto, somente o que havia lido pela manhã e o releu novamente.

“Perdão… TA”.

Passou por uma sorveteria, na verdade não tinha vontade de comer nada, de toda maneira entrou no lugar. Dentro estava fresco muito iluminado e incrivelmente não havia muita gente. Repassou com o olhar os diferentes sabores tentando se decidir por algum.

-Pensei que só comia de chocolate. – se assustou ao ouvir a conhecida voz, girou a cabeça de imediato e se encontrou com esses impressionantes azuis que já tantas vezes havia visto, nos quais tantas vezes se havia perdido. Não pôde reprimir um pequeno sorriso formando-se em seus lábios.

-Só queria variar um pouco hoje. – baixou um segundo o olhar, só para alçá-lo novamente e ficar vendo a pessoa a seu lado.

-Ainda está aborrecida comigo? – a voz de Xênia se suavizou ao fazer a pergunta enquanto que não lhe tirava os olhos de cima.

-Não estava aborrecida com você Xênia, só me doeu o que você me disse. – Gabriela baixou o olhar novamente.

-Já se decidiram por um sabor? – Ambas giraram a cabeça até o jovenzinho que as olhava com um grande sorriso.

-Sim, eu de chocolate.

-De lúcuma e menta. – disse Xênia sorrindo enquanto olhava Gabriela. A jovem se afastou ainda que com um sorriso em seu rosto.

-Então, me perdoa? – Xênia se concentrou em olhar uma de suas mãos.

-Sabe que sim. – tocou apenas as mãos de Xênia, esta em seguida levantou seus olhos até os seus enquanto sorria docemente.

-Vamos sair daqui. – Disse Xênia, enquanto pegava a mão de Gabriela que havia lhe tocado.

-Mas, e os sorvetes?

-Levamos. – olhou o jovem que já se aproximava com ambas casquinhas. – Onde pago?

-O caixa está ali senhorita.

-Obrigada. – Xênia recebeu os sorvetes, os passou a Gabriela e pagou por eles.

-Os próximos sorvetes eu convido está bem? – Gabriela levou a colher a boca. –Que delícia!

-Não está mal suponho, vamos deixar o carro por aqui perto. – Gabriela seguiu Xênia enquanto que nenhuma prestava atenção às pessoas que as olhavam passar.

-Como me encontrou?

-Não foi casualidade se é isso que está pensando, faz uma hora que eu estava lhe esperando, passei várias vezes por fora da loja, você estava concentrada atendendo as pessoas.

-Uma hora? Xênia você não tem paciência.

-Mas com você sim, e teria ficado mais horas se tivesse sido necessário.

-Xênia…

-Xênia diminui a velocidade está indo muito rápido, e come este sorvete que ele está derretendo todo.

-Gosto de velocidade, muito mais que sorvete.

-Abre a boca. – Xênia obedeceu enquanto que não tirava o olhar do caminho. Gabriela colocou uma colherada na boca. – Isso é que é lindo?

-Dá um beijo.

-Está louca? Está dirigindo, assim batemos.

-Sou capaz de dirigir até com olhos fechados, vamos me dá um beijo, só um. – Xênia olhou um segundo para Gabriela que duvidava se dava ou não, finalmente aceitou e lhe deu um pequenininho a morena.

-Viu? Ainda fiquei com vontade. Outro?

Gabriela se aproximou novamente e desta vez seus lábios permaneceram unidos por mais tempo.

-Tem os lábios geladinhos, estão deliciosos. – disse Gabriela saboreando-se. – Aonde vamos Xênia?

-Por aí. Veja, procura aí dentro, tem algo aí para você. – Xênia lhe indicou com um dedo o lugar onde ela deveria procurar.

-Algo para mim? Que é? – Gabriela a olhou com entusiasmo.

-Veja por si mesma. – Gabriela abriu o porta-luva e procurou dentro o que poderia ser para ela.

-Isto? Que é?

-Leia. – Xênia olhou a jovem loira sentada a seu lado enquanto que esta lia atentamente o que o plástico dizia.

-Xênia! Como conseguiu? – Gabriela a estava olhando com a felicidade impressa no rosto, seus olhos sorridentes a faziam ver tão linda.

-Conheço uma ou outra pessoa influente.

-Xênia! – Gabriela se lançou sobre a morena e lhe plantou um tremendo beijo esquecendo-se por completo que estava em plena estrada.

-Cuidado Gabriela! Não é que me aborreçam estas suas demonstrações tão efusivas de afeto, mas pode me dar quando sairmos do carro?

-Oops perdão.

-Está bem, você fica linda quando tem essas reações de felicidade.

-Xênia não posso crer que você tenha conseguido credenciais para o concerto. Isto quer dizer que vou poder falar com eles? – Gabriela olhou a morena enquanto que está fingia pensar na resposta. – Não é Xênia!

-Sim, vai poder falar com eles, mas provavelmente só seja um minuto, então não se entusiasme tanto, está bem? – Xênia olhou Gabriela quem tinha um sorriso pintado no rosto enquanto que seus olhos brilhavam de entusiasmo.

-Quê? Não me entusiasmar? Xênia tem idéia do que isto significa para mim? Falar com os Red Hot, ou seja, deus meu, e se não consigo falar nada? – seus olhos a olharam assustada. – Espera, eu não falo inglês. Como vou poder me comunicar?

-Calma, poderá dizer olá e isso eles vão poder entender, de qualquer maneira e se tivermos oportunidade eu faço a intérprete.

-Xênia, por que faz estas coisas por mim? Você é tão linda…- Xênia dirigiu seu olhar até a jovem cujos olhos estavam cheios de doçura.

-Porque te amo, e porque me emociona essas suas reações. – pararam no sinal vermelho. – Venha aqui. – Xênia passou sua mão pela nuca de Gabriela trazendo-a até si, com a intenção de lhe dar um pequeno beijo, mas em vez disso o beijo se prolongou por vários segundos mais até que ambas começaram a ouvir buzinas.

-Oops.

-Que merda, já vou! – Xênia colocou a cabeça para fora da janela, enquanto olhava com ódio os motoristas imprudentes. Gabriela começou a rir com vontade, enquanto via a cara de fúria de Xênia. – Esta gente não tem nem um pouco de paciência.

-Xênia quando você se irrita fica linda. – Gabriela apoiou sua cabeça no ombro de Xênia enquanto a olhava com amor.

-Não zombe de mim e me dê outro beijo.

-Todos o que você quiser…

-Vamos deixe-se cair, não vai lhe acontecer nada. – Xênia tentava persuadir Gabriela para que se lançasse rodando duna abaixo.

-Não! Me dá medo, fique aí não se aproxime. – Gabriela corria como uma condenada tentando escapar da morena, enquanto seus pés afundavam na areia e a impediam de alcançar a velocidade desejada.

-Lhe peguei, não vou lhe deixar cair, só feche os olhos. – estavam no alto da duna e Xênia a balançava ameaçando deixá-la cair enquanto que Gabriela fazia esforços em vão para se soltar de seus braços.

-Não Xênia, por favor! – Gabriela abriu os olhos e a olhou com um temor evidente neles.

-Está bem, só estou brincando, calma. – a jovem de olhos azuis plantou firme os pés na areia enquanto olhava Gabriela em seus braços com seus olhinhos verdes abertos exageradamente. – Confia em mim, verdade? Não tem que ter nunca medo comigo a seu lado, jamais deixaria que algo de ruim acontecesse com você.

-Eu sei, mas sabe a medrosa que eu sou, e claro que confio em você, lhe confiaria até minha vida.

-Que bom, porque eu daria a minha por você se fosse necessário. – viu Gabriela sorrindo docemente.

-Olha Xênia fique aí, sente-se, vou descer.

-Vai se lançar sozinha?

-Está louca? Vou descer assim sentada e aos pouquinhos, viu? – Xênia sorriu enquanto via a jovem loira descer lentamente, com o traseiro pegado a areia. – Aiii vou cair! – Xênia se levantou com a intenção de ir correndo até o lugar onde estava Gabriela seus olhos se abriram com surpresa.

-É brincadeira. – viu o sorriso travesso em seu branco rosto. – Você fica aí, não se mova. – lhe fez sinal com as mãos para que ficasse no mesmo lugar.

-Que vai fazer aí embaixo? – Xênia elevou a voz até Gabriela que se via menor a essa distância.

-Fecha os olhos Xênia. – a morena obedeceu. – Não olhe até que eu lhe diga.

-Está bem, já fechei.

-Agora Xênia! Olha. – abriu os olhos e viu Gabriela subindo novamente com um sorriso no rosto enquanto lhe indicava com um dedo o lugar onde segundos antes havia estado parada. Leu o que estava escrito dentro de um grande coração na areia.

“Xênia e Gabriela”.

-Gostou? – sentiu o calor do corpo de Gabriela a seu lado enquanto a via sorrindo docemente.

-Amei…

-Veja Xênia! O pôr do sol. – ambas olharam para frente, o sol baixando lentamente enquanto que o céu e o mar ficavam vermelhos.

-Você está linda com essas cores no rosto, veja seus olhos parecem que mudaram de cor.

-Os seus também.

-Nossos nomes estão se apagando na areia. – Xênia observou como pouco a pouco iam desaparecendo as letras.

-O vento poderá apagar nossos nomes, mas nada nem ninguém poderão levar jamais o amor que sinto por você.

-Para sempre juntas…? – Xênia observou Gabriela quem estava concentrada no cenário de cores que tinha a frente.

-Para sempre juntas…- recebeu o olhar da jovem a seu lado, seus olhos verdes acariciando os seus.

Ficaram vendo o sol se perder pelo horizonte enquanto mantinham suas mãos dadas firmemente e seus corpos estavam os mais juntos possíveis refugiando-se do frio vento que já começava a soprar com mais intensidade.