Quarta Parte

 

– Detesto as reuniões familiares. Vem muita gente hoje?

-Quer números? Ou seja, como vou lhe explicar minha mui ausente irmãzinha, não só vem muita gente, mas vêm todos, e quando digo todos, me refiro ao sentido literal da palavra. Entendeu? – Gabriela olhou com pesar sua irmã quem não despregava os olhos de suas unhas as quais estava pintando de cor rosa.

-Ai não Cata, diz que é mentira! Quer dizer que vou ter que dar uns vinte beijos e sem contar os de despedida?

-Sim, irmãzinha, no qual quero dizer que vai ter os micróbios de vinte classes distintas de babas pegajosas em sua carinha. – Catarina viu uma aflita Gabriela enquanto sorria amplamente.

-Não é necessário que seja tão detalhista. – Uma expressão de asco cruzou as feições da jovem loira.

-Bem já que minha irmãzinha não me dá detalhes íntimos de sua relação amorosa, não me resulta outra coisa do que ser detalhista com outras coisas me acalma um pouco esta curiosidade que me está matando. Além disso, não lhe dá tanto asco às babas afinal tem em abundância e gosta das que Xênia lhe dá. – Gabriela lhe deu um empurrão. – Ai! Fez-me borrar a unha.

-É por sua boca solta, além disso, Xênia não é nenhuma babosa, não sei com quem você está se associando para ter essa imagem de um beijo. – Gabriela colocou um cd de música.

-Ah, não? Então irá me contar os detalhes íntimos? – Catarina deixou de se concentrar em suas unhas e se dirigiu a sua irmã que se dispunha a escutar a canção que começava a tocar.

-Não! E deixe-me ouvir esta canção que eu gosto.

-E quem canta essa porcaria? Até que essa música não está tão má.

– Não é nenhuma porcaria, ouviu? – Gabriela agitava um dedo diante do rosto da adolescente.

-Tira esse dedo, já perdi a conta das vezes que me meteu esse dedo no olho.- lhe deu um tapa. – E por que está fazendo essa cara.

-Essa música me traz recordação, cala a boca.

-Recordação. Do dia mais aborrecido de sua vida ou quê?

-Que saco Catarina. Por que você tem que ser tão bisbilhoteira?

-Por acaso eu reclamo por que ultimamente você anda nas nuvens? Pelo menos eu tenho sido sempre bisbilhoteira e você ao contrário de um dia para o outro, anda o dia todo na lua, e com cara de tonta olhando um ponto fixo onde não há nenhuma coisa interessante que ver.

-A música já está acabando e eu não consegui ouvir nada, vou colocar de novo.

-Vou embora daqui, senão vou acabar dormindo, tchau. – Gabriela viu Catarina dirigir-se até a porta de seu quarto, enquanto agitava as mãos no ar e logo soprava as unhas uma por uma.

-Melhor, saia e me deixe escutar meu tema sozinha.

-Ui seu tema, já ficou claro, seu amorzinho lhe dedicou.

-Amorzinho? – ambas se assustaram ao ver sua mãe entrando no quarto nesse momento.

-Que amorzinho Catarina? – a senhora começou a perguntar de modo inquisitivo a sua filha mais nova enquanto esta começava a se colocar um tanto nervosa.

-Pablo mamãe, é um tema que me dedicou enquanto estávamos juntos, comentei com Cata e ela começou a zombar de mim por isso.

Perdoa-me Xênia.

-Não entendo por que não faz uma tentativa com esse rapaz, a mim ele parece um rapaz decente, estudioso e muito bom moço, é um grande partido, pensa Gabriela.

Esqueceu de mencionar que é asqueroso, odioso, pestilento.

-Nem se quer o conhece, para dizer que é estudioso e bom moço, segundo você, não o converte instantaneamente em uma boa pessoa. E decente? Quem sabe qual será sua definição de decente.

-Logo você irá se arrepender Gabriela, mas seria bom que encontrasse alguém rápido, assim essa gente deixaria de uma vez de falar coisas sobre você.

-Não me interessa o que os outros dizem sobre mim, contanto que eu seja feliz co..- conseguiu frear ao receber o olhar de sua mãe. -…migo mesma estando ou não com alguém.

-Desçam logo meninas que seus tios e avós estão chegando. – a mulher desapareceu detrás da porta. Catarina olhou com cara de inocência a Gabriela quem a estava assassinando com o olhar.

-Melhor não dizer nada Catarina…

Xênia estava saindo de seu apartamento quando o telefone tocou, pensou em atender ou não, o qual significaria que provavelmente de toda maneira a chamariam em seu celular. Assim resolveu que daria no mesmo. Também poderia ser Gabriela, embora isso era um pouco improvável já que essa hora certamente se encontraria entre sua queridíssima e enjoada família contando-lhe os mais íntimos detalhes de sua estadia no reality. Xênia sorriu diante dessa imagem, Gabriela com seus risonhos olhos dando-lhes ênfase a suas palavras com suas mãos e gestos.

-Alô?

-Olá, Xênia, ainda estamos esperando que você dê uma passada aqui em casa para conversarmos sobre aquele assunto, por favor, arranje um tempo para vir hoje.

-Olá mãe, como você está? Eu vou bem, muito obrigada.

-Preocupada com você, Jorge segue me perguntando por esse assunto que andam comentando, e queremos falar com você.

-Não me interessa falar sobre isso com vocês, pelo menos poderia ter a delicadeza de dizer que gostaria me ver ou algo assim, já sabe essas coisas que dizem as mães, que certamente sentem…

-Olha Xênia, não mude de assunto, ou você vem aqui ou nós vamos aí, o que prefere? – Xênia imaginou um agradável momento entre ela e Gabriela sendo interrompido por sua mãe e sua pestilenta família.

-Está bem mãe, mas hoje não posso, estarei todo o dia ocupada.

-Quando então?

-Não sei, eu ligo e digo.

-Quando Xênia?

Merda.

-Na próxima semana.

-Está bem, mas se não vier na próxima semana como disse, seu padrasto e eu lhe faremos uma visita. Certo?

-Vou lhe repetir ele não é meu padrasto, e se disser que me quer como tal vou vomitar, outra coisa, que merda supõe que ele quer me dizer? Vai me ensinar a enquadrar ou gastará seu precioso tempo em me contar sua experiência de ser um potencial assassino? Porque que eu saiba ele não tem nenhum maldito direito de me dizer nada. Agora me desculpe mãe tenho coisas para fazer.

-Não posso acreditar que tenha dito isso. Sabe o que sentiria Jorge se lhe ouvisse chamá-lo assim? Ele que daria sua vida pela paz desse país em que você vive. – Xênia girou os olhos com uma expressão de fastidio no rosto enquanto ouvia a voz de sua mãe choramingando do outro lado da linha.

-Ai, por favor, de que paz está falando? Sabe? Melhor deixarmos como está, na próxima semana vou, já que não tem remédio. Tchau mãe.

-Tchau filha, e que Deus lhe perdoe por dizer essas coisas a sua mãe.

Xênia respirou fundo tentando se acalmar, mas não teve jeito, deu um chute no primeiro objeto que encontrou ao seu alcance que resultou ser o sofá enquanto tentava segurar o grito de fúria que escapava de sua garganta.

Gabby este será um longo dia, como gostaria de passá-lo com você.

-Tudo isso que nos contou Gabriela é muito divertido e que foi bom, mas não poderíamos deixar de perguntar sobre isso que andam dizendo, verdade família? – Gabriela deixou de mastigar um segundo a comida ao ouvir a pergunta de seu tio, o irmão mais velho de sua mãe.

-Que coisa?

-Isso, esclareça-nos Gabby por que andam dizendo isso sobre você. – Gabriela olhou fugazmente seu primo um jovem de treze anos que a olhava sorrindo enquanto a animava a falar. Começou a se colocar nervosa.

Vamos Gabby não fique nervosa, se segura como diz Xênia, e só sorrir.

-Isso é o que fazem as pessoas, falam.

-Anda Gabby queremos escutar de sua boca, enquanto não nos disser que não é verdade, continuaremos duvidando. – disse sua prima, uma jovem de vinte e cinco anos com uma expressão de incredulidade no rosto.

-Não tenho nada para dizer. – sentiu o olhar de sua mãe nesse momento, não se atreveu a dirigir seus olhos até ela, sabia muito bem com que cara se encontrava.

-Deixem a menina, ela saberá se responde ou não, verdade menininha linda? – sua avó materna a olhava com carinho impresso em seus olhos de anciã, enquanto lhe sorria docemente. Gabriela lhe devolveu o sorriso enquanto lhe abraçava afetuosamente e não entendia como sua mãe havia saído tão diferente de todo o resto da família.

-Assim se diz mamita, estou de acordo com isso, deixa-a comer em paz. – sua tia mais próxima lhe piscou dissimuladamente um olho enquanto que se empenhava em mudar de assunto e tirar a atenção que todos tinham posto em Gabriela nesse momento.

-Eu não penso em sair desta casa enquanto não escutar de sua boca se é verdade ou mentira esses rumores. – seu outro tio, irmão de seu pai a olhava fixamente enquanto esperava alguma reação da jovem loira. – Olhe irmão não me diga que é verdade que sua filha saiu um pouquinho sapatão? – Gabriela observou seu pai se colocando tenso, enquanto que ela mesma sentia que sua fronte começava a palpitar mais da conta e ia se sentindo bastante descomposta. – Isso seria diferente porque sendo você o único homem desta casa, deveria ter saído feminina, ou não?

-Gabriela não responde debaixo de pressão, obviamente são falsos esses rumores, foi uma asquerosa armação que usou o canal para atrair o rating, agora, por favor, mudemos de assunto. – Sua mãe terminou sua frase querendo parecer o mais serena possível, deu uma olhada a Gabriela tentando que essa a apoiasse nisso.

-Para começar eu não tenho porque responder nada a ninguém, muito menos com o tom zombador com que me estão perguntando. Com respeito a ser “sapatão” não é a palavra para definir a uma pessoa que sente amor por outra do mesmo sexo, não seja ignorante, além disso, eu não saí a ninguém de nenhuma forma, já que não pertenço a ninguém. Preocupem-se com seus próprios assuntos, que pelo que vejo não hão de ser muito atrativos já que se deram os desprazeres de se reunirem aqui mais de vinte pessoas que não encontram outro assunto mais interessante para falar que não seja a sexualidade de um dos membros da família. Agora com a licença de todos eu me retiro, porque tenho coisas mais importantes para fazer do que continuar escutando seus absurdos tópicos. – sentiu o olhar de sua mãe e de seu pai, adivinhou o amplo sorriso no rosto de sua irmã, e não quis nem imaginar como a estavam olhando o resto dos presentes. – Vovó, tias, primos… – se dirigiu a sua família materna, exceto a sua mãe e lhes dedicou um sorriso, eram os únicos que não lhe haviam acusado com perguntas…- nos vemos.

-Tchau Gabriela. – ouviu uns quantos lhe respondendo enquanto se perdia dentro da casa e sentia os olhares cravados em suas costas de vários pares de olhos que estavam no jardim.

Que saco, agora sim que vão me aprontar alguma bem grande.

Xênia lançou as chaves na mesa enquanto se deixava cair no sofá com o cansaço evidente em seu rosto. Ligou o som esperando ter deixado algum cd com música que fosse perfeita para esse momento.

Que estará fazendo neste momento…?

Levantou-se do sofá e se dirigiu à cozinha para ver se encontrava qualquer coisa para comer que já estivesse preparada. Pedir demais, além das frutas e coisas enlatadas que não eram de seu agrado, não achou nada mais. Tirou um pinguinho dos que havia comprado para quando Gabriela desejasse comer quando estivesse ali e lhe deu uma grande mordida.

Resolveu tomar um banho para relaxar de seu agitado dia. Não encontrou sabonete.

Por favor, que eu encontre, que eu encontre.

Por fim encontrou tudo o que precisava, pegou os objetos e foi para o banheiro enquanto cantarolava uma música que não se lembrava aonde havia ouvido, mas que havia sido incapaz de esquecê-la e voltava uma e outra vez a repeti-la em sua cabeça. Antes de fechar a porta à campainha tocou. Xênia levantou uma sombracelha tentando adivinhar quem demônios podia ser.

Minha mãe? Não por favor, que seja qualquer pessoa menos minha mãe, pensando bem qualquer pessoa exceto Carla.

Não havia dito a Gabriela sobre as visitas de havia recebido, e muito menos lhe havia comentado sobre a chantagem que esta estava lhe fazendo. Preferia pensar que Carla se cansaria de aborrecê-la, e que mais cedo ou mais tarde deixaria de persegui-la. Por nenhum motivo queria que Gabriela se preocupasse por nada, menos ainda que tivesse temor que seus pais pudessem se interar de sua relação.

Dirigiu-se a porta, maldizendo por não ter nunca instado um olho mágico, fez uma anotação mental de comprar um o mais rápido possível. Tentou ver pela beira da porta, mas nada, tentou ver pela fresta da porta e menos ainda. Por fim se rendeu e abriu a porta com uma expressão de fastidio no rosto esperando ver o pior.

-Sinto muito vir sem avisar. – Seu rosto se iluminou completamente ao ver a pessoa que estava parada frente a ela nesse momento.

-Gabby! – Foi incapaz de reprimir um grande sorriso em seu rosto, seu coração palpitando rapidamente enquanto via a jovem olhando-a com um pequeno sorriso em seus lábios, embora pudesse ver alguma tristeza em seus olhos também. Já os conhecia muito bem, para não reconhecer cada emoção que emitam.

-Não interrompo nada? – viu seu olhar dirigir-se ao interior do apartamento como temendo encontrar a alguém mais dentro.

-Interromper? Está louca? Chegou no momento exato, entra entra, que estúpida, não lhe deixei entrar. – A pegou pela mão e a conduziu para dentro do lugar.

-Mesmo Xênia? Porque não gosto de ser inoportuna.

-Pára com isso e venha aqui. Por acaso vou ter que esperar muito tempo mais para que você decida me dar um beijo? – Xênia viu um sorriso crescendo no lindo rosto de Gabriela enquanto a jovem ia se aproximando dela até sentir seu corpo abraçando-a e levantando as pontas dos pés para alcançar seus lábios com os seus.

-Como senti falta disso. – disse Xênia uma vez que seus rostos de separaram.

-E eu.

-Você está bem? Não, não é essa pergunta correta. O que aconteceu? – Xênia começou a ficar preocupada ao vê-la tão cabisbaixa.

-Sim, bem, ou seja…

-Por que está aqui? Não é que não goste, ao contrário, mas pensei que estaria até tarde com sua família. – Xênia estudou o rosto de Gabriela, enquanto via como esta raciocinava diante da palavra “família”. – Aconteceu algo com eles?

-Sim, Xênia. – Gabriela baixou o olhar enquanto acariciava uma mão com a outra.

-Que aconteceu? – Xênia começou a ficar nervosa.

-Me importunaram com as perguntas que você já sabe quais são. – Gabriela alçou seus verdes olhos e olhou um tanto angustiada a morena. – Não foi tanto às perguntas Xênia, é o tom festivo com que as fazem, como se fossem um absurdo, como se fosse uma piada, entende?

-Eu sei, não sei que dizer, porque sempre vamos nos encontrar com esse tipo de gente Gabriela, e eles jamais vão entender nada. – Xênia a abraçou enquanto começava a sentir a raiva subindo até sua cabeça.

Ela podia com qualquer dessas coisas e que todos fossem a merda, mas Gabriela? Seria capaz de resistir a tudo isso? Sobretudo porque até o momento só eram rumores. O que aconteceria se chegassem a interarem-se de que era certo? A imagem de Carla e sua fotografia golpearam sua cabeça.

-Sabe Xênia? Já me sinto muito melhor, não quero mais falar deles por hoje, vim aqui porque necessitava estar com você, só você e eu. – Gabriela põe sua cabeça no ombro de Xênia enquanto seus olhos verdes a olhavam com amor.

-Só você e eu… – beijou sua testa e ficaram assim por um longo tempo sem falar nada. Xênia sentia uma paz em seu ser quando a tinha assim por perto, uma paz que não encontrava nem nos golpes que havia dado quando a raiva a cegava, nem quando fumava todos os cigarros que seus pulmões podiam resistir quando se sentia ansiosa por algo que nem se quer sabia o que era.

-Senti saudades.

-E eu. Sabe? Quando tocou a campainha ia tomar um banho, me espera um pouquinho enquanto faço isso? Não demoro nada.

-Claro Xênia. Por que ia tomar banho? Estava chegando de algum lugar? – Xênia começou a se perturbar.

-Sim, é que ando vendo uns trabalhos, logo lhe conto. – beijou sua testa e se dirigiu ao banheiro novamente.

-Desde que horas não come?

-Como sabe que não comi? – Xênia a olhou surpreendida.

-Porque lhe conheço. – Gabriela sorriu.

-Há várias horas, embora tenha comido um pinguinho agora mesmo, se quiser na geladeira tem mais, comprei para você.

-Linda. – viu seus olhinhos verdes brilhando de felicidade. Xênia sabia que Gabriela amava esses pequenos detalhes, certamente não tanto como ela mesma desfrutava dando-os.

-Você que é linda. – lhe lançou um beijo e se perdeu pela porta a dentro do banheiro.

Seus curiosos olhos viajavam por cada canto ao qual eram capazes de chegar sentada no sofá da sala de Xênia. Não haviam muitos móveis ali, nem muitas cores tampouco. Uma grande quantidade de cds, os quais começou a examinar, encontrou vários que ela mesma havia ouvido, na maioria em inglês. Abriu a bandeja do estéreo para ver qual estava ouvindo, se encontrou com o que ela mesma havia lhe dado há semanas atrás. Um sorriso se apoderou de seu rosto. Sentia-se tão bem nesse lugar, Xênia estava lhe dando liberdade para ver o que quisesse, isso significava que confiava nela, que não estava lhe ocultando nada.

De repente, a imagem de Xênia começou a se formar em sua cabeça, a imagem de Xênia tomando banho, a via tão claramente em sua cabeça que começou a converter-se em obsessão, tentava pensar em outra coisa, mas não tinha jeito, uma e outra vez voltavam. As gotas de água em sua pele bronzeada, sua nua pele bronzeada. Xênia passando sabonete pelos seus ombros, seu negro cabelo colado a seu crânio enquanto mantinha os olhos fechados e a água deslizava por seu corpo. Um rubor começou a subir por suas bochechas. Foi até a cozinha tentando sacudir todos esses pensamentos, porque se continuasse com eles, sabia que era capaz de terminar invadindo pela porta o banheiro e saciar todos seus desejos de vê-la nua. Não era como se nunca tivesse imaginado, mas tê-la tão perto com só uma parede separando-as não estava ajudando muito.

Vamos Gabby pensa em outra coisa, pensa em outra coisa.

Começou a descascar batatas e mais batatas, enquanto começava a sentir uma grande sede, por sorte havia coca-cola na geladeira, e até gelo, agradeceu ao céu por haver.

Voltou para a sala, caminhou ao redor, não havia nenhuma fotografia em nenhum lugar. Sentiu a tentação de entrar no quarto de Xênia, ver se encontrava a foto que lhe havia dado, mas se conteve. Em vez disso pegou um monte de revistas que encontrou por ali e voltou à cozinha. Passou as páginas, eram revistas de cosméticos, encontrou um ou outro lápis labial que foi de seu agrado, e até uma cor de tintura de cabelo que ela gostou.

Acho que vou mudar o tom de meu cabelo um dia destes.

De repente seu olhar se concentrou em um delineador de olhos, por algum motivo gostou mais do que esperava, passou a página, mas não teve jeito, voltou nele, se apoiou na parede enquanto observava de perto a fotografia dos olhos com o tom nele. Seus olhos se abriram de forma enorme enquanto uma idéia se mostrava em sua cabeça.

Espera um momento…

A porta do banheiro se abriu nesse momento e Xênia saiu com uma toalha azul cobrindo seu corpo, deixando a vista seus ombros e pernas.

Gabriela levantou a vista e esqueceu por um instante a revista e a fotografia, enquanto que a imagem de Xênia tomando banho voltou a sua cabeça, as cores voltaram a subir por suas bochechas enquanto via um pequeno sorriso se formar no rosto da morena, ao mesmo tempo em que uma de suas sombracelhas se elevava provocativamente. Gabriela sorriu timidamente enquanto tirava o olhar da jovem morena.

-Vou colocar uma roupa e volto em seguida. Que está fazendo? Há cheiro de fritura.

-São batatas fritas, espero que goste, porque eu adoro.

-Sim, eu gosto e estou morta de fome. – Fez um gesto de entrar em seu quarto, quando Gabriela regressou seu olhar até ela ao dar-se à volta, de repente recordou a fotografia.

-Espera Xênia. Que é isto? – Saiu correndo da cozinha e se aproximou da morena, em seguida se arrependeu do que havia feito, começou a sentir o cheiro que desprendia da pele de Xênia, uma que outra gota ainda em seus ombros, seus olhos azuis olhando-a, esperando saber o que ela queria lhe dizer. O rubor em seu rosto se multiplicou por dez enquanto que fazia o possível para desviar o olhar de seu rosto.

-Isso? – Xênia começou a confundir-se, e a ruborizar também. – ou seja, uma revista de cosméticos creio, não sei, chegou com a correspondência.

-Sim, Xênia já sei que é uma revista de cosméticos, o que eu estou perguntando é sobre esta foto, veja. – Gabriela apontou com o dedo a tal foto.

-Não sei do que você está falando. – disse Xênia tentando manter o rosto impassível. Gabriela começou a ficar nervosa novamente pela proximidade de Xênia enrolada apenas em uma toalha.

-Sabe Xênia? É melhor você colocar uma roupa e logo me dizer por que estou vendo seus olhos nesta revista, estou ficando louca vendo você enrolada nessa toalha aí. – Xênia sorriu enquanto se dirigia até seu quarto e fechava a porta atrás dela.

Relaxa Gabriela, respira, isso mesmo…

-Muito melhor, bem não tão melhor, mas mais prático, agora venha aqui. – Xênia sentiu os dedos de Gabriela aferrando-se a seu pulso enquanto que era conduzida até uma cadeira.

-Não, aqui não, vamos para o sofá, é mais confortável.

-Ok, onde você quiser desde que me explique isto.

-Não sei o que lhe chama tanto a atenção neste delineador de olhos, está bonito, se quiser lhe dou de presente. – Começou a sentir-se nervosa com o inevitável aproximando-se.

-A foto Xênia, deixe de se fazer de tonta, estes são seus olhos, seria capaz de reconhecê-los em qualquer parte, e não só estes são seus olhos, mas estes lábios aqui são os seus, e se não tivesse parado de ver a revista, quem sabe que outra coisa encontraria.

-Ou seja,…- viu os olhos de Gabriela fixos nos seus e soube que já não havia forma de negar. – Sim são meus olhos e estes são meus lábios. Que lindo como os reconheceu? – acariciou as bochechas de Gabriela e lhe tirou a revista das mãos e a lançou longe enquanto se aproximava para beijá-la.

-Xênia! Pára. Você é um modelo?

-Não! – a olhou indignada.

-Sim, Xênia reconheça, além disso, o que tem de mais, estou vendo uma foto sua em uma revista, isso é ser um modelo.

-Só de catálogos!

-Tremenda diferença, agora me conte tudo isso, olha já estou resignada que vou encontrar com surpresas sobre você o tempo todo, primeiro que trabalha em uma loja de tatuagens, logo que desenha, depois que fala inglês, agora modelo de catálogos. O que virá depois?

-Nada mais, isso é tudo. – disse Xênia.

-Desde quando trabalha nisto?

-Desde que tinha dezesseis anos, já não sei.

-Por que demônio me escondeu? – Xênia olhou Gabriela quem estava a olhando com cara de desaprovação.

-Porque me dava vergonha, o mais fácil era que lhe dissesse que tatuava somente, não era tão vergonhoso, e o do inglês já lhe disse que era para que não me fizesse falar.

-Você é mesmo incrível Xênia, juro que não lhe entendo, mas bem não vamos discutir, quero os detalhes disto.

-Quais detalhes?

-Trabalha para uma agência? Que tipo de fotos tiram? Quantas vezes faz isso?

-Está bem. Um dia ia pela rua e se aproximou de mim uma mulher e me disse que era de uma agência de modelos que precisavam de gente com minhas características físicas, me deu um número para que a chamasse se estivesse interessada. Eu ri na cara dela, mas logo precisei do dinheiro porque queria ser independente, e eles pagavam muito bem e só teria que tirar umas fotos e bem, liguei, fui ao lugar, lhes adverti que só faria as fotos para o catálogo e que nunca mostraria meu rosto completo na foto nem partes íntimas tampouco, estiveram de acordo e aqui estamos. É um trabalho simples, embora cansem as sessões de fotos, mas não tenho horários de escritório nem de comércio e faço cada vez que me chamam.

-Para começar tem toda a pinta de modelo, goste ou não, é linda fisicamente e sabe disso, acho que confunde o fato ser linda fisicamente com ser vaidoso e isso não é uma regra, segundo, me parece interessante, terceiro, quero ter todas as revistas nas quais saiu, e quarto, quero que me prometa que não voltará a esconder nada mais. – Xênia olhou para Gabriela com toda intenção de prometer, mas a imagem de Carla e sua maldita foto apareceram em seus pensamentos novamente, finalmente optou por prometer e seguir confiando em que nada de mal aconteceria.

-Prometo.

-Obrigada, agora vamos comer as batatas fritas que eu fiz que acha? – viu os olhos risonhos de Gabriela, esquecendo as mentiras e as preocupações.

-Me parece genial. – Gabriela correu até a cozinha para sair segundos depois com uma travessa cheia na mão, e uma garrafa de coca-cola na outra, as deixou sobre a mesa perto de Xênia, voltou a se perder dentro da cozinha e voltou com dois copos e gelo.

-Vamos procurar um filme na tv?

-Bom, mas agora venha aqui de uma vez por todas, e fique quieta. – Xênia esticou a mão a Gabriela enquanto a olhava esticada no sofá.

-Sim, minha modelo favorita e mais linda do mundo. – Xênia girou os olhos para logo lhe dar uma olhada de fastidio a Gabriela que se instalou a seu lado e apoiou sua cabeça em seu peito, o fastidio se apagou em seguida.

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-Xênia! Estou nervosa, estou morrendo dos nervos, olha como minhas mãos estão tremendo. – Gabriela viu como Xênia sorria enquanto se colocava a seu lado e apoiava sua cabeça no respaldo do assento do ônibus e a ficava olhando.

-Calma, vamos a um concerto, não a um exame. – Xênia tomou sua mão e a beijou docemente.

-Tem razão, mas de toda maneira estou nervosa. – Gabriela dirigiu seu olhar através da janela do último assento, onde ambas decidiram passar o resto da viagem.

-Pensei que me havia dito que já havia estado em três concertos, parece como se não soubesse aonde vai.

-Xênia temos credenciais, vou vê-los de perto, nunca os vi tão perto, bem você não sabe o que é idolatrar alguém.

-Sim, eu sei…-viu Xênia a olhando intensamente. Sorriu.

-Por que este ônibus demora tanto? – Gabriela começou a olhar a hora no pulso de Xênia.

-Gabriela acalme-se são só 9:00hs da manhã, o concerto é as 9:00hs da noite, não entendo por que nós viemos tão cedo, deveríamos ter vindo de carro seria melhor, não é mesmo?

-Não, não quero que você canse dirigindo, além disso, onde ia estacionar? Melhor assim, de ônibus.

-Está bem, como você quiser e agora se acalme.

-Deixei com você as entradas, não é? Eu tenho as credenciais. Você está certa que não quer que eu lhe devolva o dinheiro da sua? Depois de tudo só veio para me acompanhar.

-Deixe de perguntar isso de uma vez por todas, eu também vou desfrutar do concerto. – viu o rosto de Xênia aproximando-se do seu, seus olhos se fecharam, mas em seguida se abriram.

-Não, Xênia, aqui não, está cheio de gente podem nos ver. – Xênia abriu seus olhos azuis, colocou a cabeça no corredor do ônibus e olhou para frente, na verdade não estava cheio e as últimas pessoas estavam sentadas a três assentos à frente delas.

-Estão todos dormindo, vamos, calma. – voltou a tentar, mas Gabriela ia se afastando. Xênia abriu os olhos para se encontrar com Gabriela ajoelhada no assento observando a frente. – Vai gostar, é emocionante ter o temor que podem lhe provocar. – Um sorriso travesso se formou no rosto de Xênia, enquanto seus olhos brilhavam maliciosamente.

-Mmmm. – um sorriso igual ao da morena nasceu no rosto de Gabriela. Beijaram-se, seus olhos fechados, as mãos tomadas enquanto que o ônibus seguia seu caminho até Santiago a capital do Chile onde seria o concerto.

De repente a porta do banheiro se abriu e ambas deram um salto. Gabriela abriu os olhos assustada para se encontrar com um senhor a olhando como se dizendo se havia visto bem ou mal. O senhor não disse nada se perdeu atrás da porta.

-Ooops. – Xênia a olhou com um amplo sorriso no rosto enquanto agüentava o riso.

-Xênia! – Gabriela abriu os olhos enquanto dava um empurrão na morena. –Então estavam todos dormindo?

-Que culpa eu tenho se algumas pessoas têm sonho leve? – Xênia encolheu os ombros, enquanto começava a rir com vontade segurando as gargalhadas no ombro da jovem loira.

-Xênia logo vão nos enxotar do ônibus e será sua culpa. – Gabriela agitava um dedo diante do rosto enquanto começava a rir também. Depois de tudo que mal teria? Que essa gente despertasse de uma vez por todas e visse a realidade, que existe uma porção de casais do mesmo sexo que se amam e tem todo o direito de viver seu amor com a mesma liberdade que qualquer outro casal.

-Que se atrevam em tentar. – as pálpebras de Xênia começaram a entrefecharem-se com a fúria que sentiu ao imaginar isso.

-Xênia, ninguém está nos enxotando, agora em que estávamos? – Xênia sorriu enquanto procurava os lábios de Gabriela com os seus.

-Que lhe parece se entrarmos juntas no banheiro? Isso seria excitante, o ônibus se movendo, o espaço pequeno, o temor de que alguém nos veja. – Xênia sussurrava no ouvido para logo olhá-la com um sorriso malicioso no rosto.

-Nem lhe ocorra Xênia, nem se quer pense nisso.

-Somente dizia. – encolheu os ombros. – De toda maneira o convite fica de pé. – Deu-lhe uma olhada safada com seus olhos azuis brilhando, para logo se relaxar no assento, e fechar seus olhos, sem deixar de sorrir. Gabriela a observou pensando na possibilidade.

-Você é terrível…

-Quer que fiquemos fora do estádio nesse sol pelas próximas dez horas? Para que então consegui as credenciais?

-Xênia! Não exagere, dez horas não é muito, passam voando, bem nem tanto, mas cedo ou tarde chegará à hora.

-Não Gabriela, vamos pegar uma insolação e desidratar aqui, vamos aproveitar dar uma volta e voltamos mais tarde.

-Mas Xênia, e se não chegarmos logo e se nos perdermos? – Gabriela estava parada a sua frente vestida com uma blusa vermelha com um grande símbolo dos Red Hot Chili Peppers estampado, e um boné preto com um pimentão pequeno bordado no meio.

-Tenho perfeito sentido de direção, acalme-se, se está comigo chegaremos na hora e pegaremos o melhor lugar.

-Está bem, mas se nos perdermos e não chegarmos a tempo eu lhe mato, ouviu?

-Gabriela. – Xênia a olhou com cara de surpresa. – Tenho que começar a me preocupar com essas suas demonstrações de agressividade?

-Engraçadinha…- a olhou com fastidio. – Mas me alegro que continue lembrando tão bem das minhas palavras. – sorriu satisfeita.

-Então vamos. Onde gostaria de ir?

-Deixe ver. – Gabriela estava golpeando seu queixo com um dedo enquanto meditava onde gostaria de ir. – Xênia isto me parece estranho, você querendo se misturar entre a multidão.

-Na multidão nos misturaremos quando começar o concerto, isso sim que será multidão.

-Eu sei, mas vamos, quero andar um pouco, isso também é excitante, não acha? – Gabriela a olhou com um sorriso malicioso no rosto.

-Gabriela esteve vendo negócios arriscados? – Xênia observou a jovem alçando uma sobrancelha.

-Sim, na verdade sim, Tom Cruise estava tão lindo nesse filme.

-Olha! Quero que deixe isso de andar achando os atores lindos, eu não vejo nada de especial nesse aí. – Xênia a olhou irritada.

-Não se zangue meu amor, você sabe que você é mais linda que todos esses juntos. Além disso, não sou eu quem tem fotos de Liv Tyler em sua cômoda.

-Outra vez com isso. Tinha, você a levou, lembra? Além disso, não sei por que tenho a suspeita de que você tem pôsteres destes na sua. Estou errada? – Xênia agarrou a blusa da jovem loira mostrando-os.

-Não sei do que você esta falando Xênia. – Gabriela olhou para frente enquanto fazia uma cara de inocência.

-Sim como não…- a morena foi lançada para um lado por um empurrão que recebeu de Gabriela com seu ombro.

-Olha! – lhe devolveu o empurrão controlando sua força, caso contrário Gabriela terminaria estampada contra a parede.

Começaram a rir enquanto se olhavam e continuavam caminhando sem rumo, tinham as próximas dez horas para estarem juntas e fazer o que quiserem.

-Poderia me dar um autógrafo? – Xênia olhou o homem de meia idade que passava seu olhar entre ambas com olhos de adoração enquanto que lhe estendia uma folha de papel e um lápis a Gabriela.

-Claro. Qual é seu nome?

-Jaime. – disse. Gabriela fez um rabisco na folha e a devolveu ao tipo, o qual estendeu em seguida a mesma folha a Xênia esperando que esta repetisse o procedimento. Gabriela olhou a morena enquanto tentava conter o riso.

-Vamos Xênia, um autógrafo. Que custa? – Xênia girou os olhos até ela enquanto lhe fazia gesto de fastidio.

-Está bem. – a jovem de olhos azuis praticamente arrebatou o pedaço de papel do homem e rabiscou qualquer coisa nele, logo o devolveu mais aborrecida do que antes, enquanto sentia os risonhos olhos de Gabriela seguir seus movimentos.

-Obrigada, sabia que eram um casal, espero que estejam juntas por muito tempo mais, tchau. – o viram se afastar feliz da vida.

-Viu isto Xênia? Não é tão terrível dar autógrafos.

-Não posso crer que acabo de fazer o que fiz. – Xênia começou a caminhar enquanto movia sua cabeça de um lado para outro e cobria os olhos com seus óculos de sol.

-Ah Xênia! É divertido, você fez alguém feliz com uma bobeira, e, além disso, recebemos seus bons desejos para nossa relação. – Gabriela correu para alcançar a morena e a tomou de um braço.

-Não precisamos de bons desejos para que nossa relação siga funcionando.

-Sabe Xênia? Nisso você tem razão.

-Gabriela não quero andar mais, estou cansada e aborrecida com todos me olhando, estou começando a arrepender-me de ter proposto essa voltinha. Não está com fome? Já são 2:00hs da tarde.

-Na verdade sim, tenho bastante, olha vamos entrar aqui tenho vontade de comer empadas.

-Olha, não se esqueceu de um pequeno detalhe?

-Qual? – Gabriela olhou Xênia espantada.

– “A cebola”.

-Vamos comer de queijo.

-Ah bem, assim sim. – Gabriela lhe sorriu.

Entraram no lugar, pediram suas empadas de queijo, uns sucos e relaxaram. Os vinte minutos seguintes desfrutaram de uma agradável conversa na mesa mais afastada que puderam achar, enquanto saboreavam a comida.

-Sabe? Não sei se você vai gostar disso, mas há alguém que sabe sobre nós. – Gabriela olhou para Xênia enquanto esperava uma reação de sua parte.

-Quê? Quem? – Xênia a olhou surpreendida.

-Minha irmã, ou seja, na verdade só lhe confirmei, ela já sabia e falava como se fosse um fato de que você e eu…Bem, o que já sabe…E me insistia e me insistia, além do mais tem se portado muito bem comigo, ela está feliz.

Será possível que ainda me custe dizer?

-Está me dizendo que sua irmã de quinze anos sabe sobre nossa relação e a aprova? – Xênia a olhou levantando uma sombracelha.

-Exato, não só aprova, gosta, ela vai com sua cara, acha você interessante ou não sei o que. – tomou um grande gole de seu suco. – A verdade é que eu também me surpreendi quanto à reação que ela teve.

-É bastante diferente na verdade, mas eu gosto, uma adolescente mais sensata que qualquer adulto. – Xênia sorriu.

-É verdade. O problema agora é que está empenhada em querer lhe conhecer, eu lhe disse que não, mas está insistindo. Essa menina é terrível, quando começa a falar não há poder humano que a faça parar.

-Fala mais que você? – Xênia olhou a jovem sorrindo enquanto dava uma mordida em sua empada.

-Engraçada. – deu uma olhada de fastidio a Xênia. – Você se chateou que lhe tenha dito?

-Chatear-me? É uma brincadeira? Amei que você tenha dito, você pode dizer a quem quiser, eu estarei feliz.

-De verdade?

-De verdade.

-E você? Contou a alguém?

-Minha mãe, anda me irritando, quer que eu vá a sua casa, para que seu maridinho e ela me façam um discurso, vou ter que ir porque me ameaçou fazer uma visita se não for.

-Na verdade é tão ruim a relação que vocês têm? Por que não tenta se aproximar de sua mãe?

-Gabriela não é que a relação seja ruim, é que simplesmente não existe, ela jamais me deu amor maternal, e agora pretende vir e bancar a mãe do ano fingindo que se preocupa comigo quando a única coisa que lhe importa é não manchar o nome de seu maldito esposo. – Xênia deu um golpe na mesa enquanto olhava com fúria um ponto fixo.

-Calma. – Gabriela tomou sua mão enquanto olhava a morena nos olhos. Xênia se acalmou em seguida diante deste gesto.

-Desculpa, é que me dá raiva, eu quero que me deixem viver tranqüila, não quero que me interroguem nem se metam no que não lhes importa.

-E seu pai Xênia? Nunca tentou se aproximar dele?

-Menos com esse velho maldito, não preciso nem dele nem dela, só de você…- Gabriela viu os olhos de Xênia suavizando-se enquanto a olhava diretamente nos seus, sorriu.

-E eu de você…

-Vamos Gabby entremos no cine, são apenas 3:00hs da tarde, me nego a seguir caminhando, além do mais esta cidade está me deixando tonta.

A jovem loira começou a calcular enquanto observava o rosto sorridente de Xênia.

-Por que tanta felicidade para entrar no cine? É fanática ou o quê? – Gabriela a olhava inquisitivamente.

-Não, mas dentro está escurinho e certamente não há quase ninguém a esta hora. Não soa agradável? – os olhos azuis de Xênia brilhavam travessamente.

-O que está planejando? – Gabriela começou a sorrir.

-Eu? Nada, só um cômodo assento, nada de sol, nada de gente nos observando. Ah! Vamos. – Xênia agarrou Gabriela por um braço e a arrastou para dentro. – Ou está com medo? – Falou para jovem enquanto esta continuava sorrindo e se deixava conduzir.

-Medo? Eu? Nem em sonhos, vamos. – Gabriela começou a empurrar Xênia desta vez. Escolheu qualquer filme e pediu duas entradas.

-Calma Gabby, qualquer um diria que está ansiosa para me levar para o escurinho.

-Cala a boca, a idéia foi sua.

-Mas bem que você quis. – Xênia se virou até ela com uma divertida expressão no rosto enquanto abria a porta da sala número 2.

-Sabe o que eu quero Xênia? – A morena ouviu a voz de Gabriela enquanto que apenas distinguia a silhueta na escuridão.

-Quê?

-Isto. – Xênia sentiu que Gabriela a empurrava suavemente contra a parede para logo sentir seus lábios tocando os seus apenas, suas mãos instantaneamente a tomaram pela cintura prendendo-a e aproximando ainda mais a seu corpo. – Gosta? – lhe sussurrava.

-Muito…- lhe respondeu Xênia enquanto que seus lábios continuavam tocando-se, sem chegar a beijar-se mais profundamente.

Nesse momento a porta se abriu, e ambas se separam ao instante e fingiram estar caminhando até seus assentos. O casal que entrava as passou sem nem se quer lhes prestar muita atenção.

-Deus meu já nós surpreenderam duas vezes, Xênia controle-se. – deu um empurrão na morena.

-Como? Eu me controlar? Foi você quem me atacou.

-Eu?

-Sim, você. E venha aqui.

-Não, melhor sentarmos de uma vez. – agarrou a mão de Xênia e se sentaram na última fila. Tal como haviam pensado a sala estava praticamente vazia.

O filme já havia começado, nem se quer sabiam do que se tratava, mas já que estavam ali melhor assistir. Xênia tentava se concentrar no que estava acontecendo na tela e pegar o fio da história, mas no havia jeito, sentia Gabriela sentada junto a ela a milímetros de distância, a olhava de rabo de olho, e a via atenta à frente, ainda na escuridão podia ver a cor de seus olhos, seu cabelo preso por um rabo de cavalo. Havia tirado a blusa dos Red Hot para ficar com uma de cor vermelha que lhe deixava os ombros descobertos.

-Quer algo?

-Não, Xênia obrigada, olha o filme que está ficando interessante. – sentiu a mão de Gabriela procurar a sua, seus dedos entrelaçaram.

Xênia começou a se aproximar mais e mais, apoiando sua cabeça no ombro da jovem loira. Gabriela virou o rosto e a beijou na testa. Sentia sua suave pele em contato com sua bochecha, seu cheiro era irresistível. Sem pensar seus lábios começaram a beijar seu pescoço. Gabriela continuou atenta à tela enquanto Xênia intensificava os beijos. A olhou por um segundo, agora estava com os olhos fechados e seus lábios haviam se entreaberto, ainda de mãos dadas, a morena sentiu como Gabriela a apertava com mais força, rápido conseguiu que girasse seu corpo e se abraçasse a ela enquanto seguia beijando-a, chegou até o lóbulo de sua orelha, Gabriela deixava que ela continuasse, ouviu como sua respiração se agitava.

-Xênia…Xênia…Pára. – dizia enquanto respirava com dificuldade.

-Por quê…? Não está gostando…? – sussurrava no seu ouvido.

-É porque estou gostando que lhe peço que pare.

Xênia procurou seus lábios e a beijou profundamente enquanto sentia como Gabriela tentava reunir força de vontade suficiente para não seguir correspondendo com seus beijos. Suas mãos penetraram por entre sua blusa, acariciavam sua pele, tocavam seu sutiã, era tão simples meter-se por entre esse tecido e chegar até seus peitos, morria de vontade de tocá-la, de não ter nenhum limite.

-Por favor, Xênia, pára, pára agora. – Xênia obedeceu finalmente ao sentir-se incapaz ela mesma de se conter por mais um segundo.

-Desculpa… – observou o perfil de Gabriela novamente, seus lábios entreabertos ainda, sua respiração agitada. – Você está bem?

-Sim, estarei bem. – a olhou e se aproximou do seu ouvido. – Você se dá conta de como difícil está ficando estarmos juntas?

-Isso é bom ou mau?

-É bom, mas meus temores seguem sendo os mesmos…

-Eu sei, é por isso que lhe peço desculpas, às vezes é impossível reprimir a vontade que tenho de lhe tocar.

-E a mim…- Gabriela tomou a mão de Xênia e a levou até seus lábios, a beijou docemente e logo a deixou descansar em seu colo enquanto a sustentava na sua, voltou a se concentrar na tela. Xênia tentou fazer o mesmo.

Muito difícil…

-Xênia esta lotado! Olha! – Gabriela usava sua blusa dos Red Hot e seu boné com o pimentão. Havia sido impossível convencer a Xênia que levasse o mesmo.

-Vamos por aqui. – a tomou pela mão e a dirigiu até o outro lado.

-Aonde vamos?

-Por aqui, deve estar para começar a prova de som, quer vê-la não é?

-Sim! – Xênia sorriu diante do entusiasmo de Gabriela.

-Temos credenciais. – Xênia mostrou ambas e um jovem alto e musculoso que as deixou passar.

-Obrigada. – disse Gabriela sorrindo amplamente ao jovem. Este nem se quer a olhou.

-De verdade Xênia? Vamos ver agora?

-Sim, mas nada de desmaiar, ok? Tente se controlar, por favor.

-Vou tentar Xênia, meu coração está palpitando muito.

-Calma. – se sentaram por ali nas grades, o palco estava praticamente montado, era enorme, uma bateria se distinguia ao fundo e muita gente ao redor.

Estiveram meia hora sentadas esperando, conversando de diversos assuntos, o sol seguia queimando. De repente começou a tocar o celular de Xênia, o tirou do bolso, olhou o número, era desconhecido, pensou em voltar a guardá-lo.

-Atende, pode ser algo importante Xênia, se é particular vá até ali a mim não importa. – Gabriela seguia observando com seus olhos completamente entusiasmados até o palco esperando que a qualquer momento aparecesse à banda.

-Alô? – Xênia atendeu finalmente. – Alô? – repetiu.

-Xênia amorzinho, como está? – se assustou ao ouvir a voz de Carla do outro lado da linha.

-Que merda? – levou a mão à testa enquanto tentava se controlar olhou para Gabriela, esta seguia com o olhar atento ao palco.

-Darling lhe liguei porque estava com saudades de escutar essa sua voz sexy. Sentiu saudades da minha? – ouvia a voz de Carla soando tão sensual que chegava a ser irritante.

-Vá a merda…

-Não…Não…Não…Se desligar vou ligar para o celular de sua adorada Gabita, captas? – riu em zombaria. – Por que está tão nervosa amor? Ohhh…Não me diga, ela está aí com você, não é? – sua voz baixou vários tons, enquanto alongava as sílabas da última palavra.

-O que quer?

-Assegurar-me de que não se esqueceu de nosso trato, você me dá o que eu lhe pedi e sua preciosa Gabita não sofre as conseqüências do desprezo de seus pais, você sabe bem o que isso, não é verdade? Todos apontando com o dedo, chamando de ninfomaníaca, degenerada, doente, inclusive toda sua família, não queremos isso, ou queremos?

-Filha da puta, você vai se arrepender ouviu?

-Não Xênia do meu coração, não fique agressiva, pensa nela, olha diante de você. Ela está lhe olhando? Xênia observou o perfil de Gabriela, seu rosto sorridente, era tão inocente. A jovem escolheu esse momento para olhar para Xênia, enquanto lhe sorria docemente e a olhava com olhos radiantes de felicidade. – Olha esses olhos verdes preciosos, essa carinha com traços infantis, a forma como lhe olha, toda a confiança que tem em você. Por acaso quer ser a causa da rejeição de sua família?

-Se fizer alguma coisa contra ela, eu lhe mato, entendeu? Mato-lhe sua maldita. – Xênia sentia sua mandíbula tensa, suas pálpebras perigosamente entrefechando, suas têmporas palpitando, enquanto seus dedos se apertavam convertendo-se em punhos. Viu que a expressão de Gabriela mudava para preocupação.

-Aconteceu algo ruim? – Perguntou Gabriela, Xênia negou com a cabeça.

-Então Xênia? Tenho sua confirmação?

-Deixe-me em paz. Disse enquanto sentia náuseas.

-Para que veja que continuo sendo paciente lindíssima, lhe darei ainda mais tempo para que decida, sei que finalmente aceitará.

-Continue esperando.

-Continue a falar comigo Xênia, sua voz me excita. Sabe onde estou com a mão agora? Estou baixando por meu ventre, posso sentir a suavidade de minha vagina. Gostaria de senti-la Xênia? Vou comer a sua até me fartar…

-Maldita asquerosa. – cortou a ligação.

Xênia regressou ao lado de Gabriela ainda com o sangue fervendo de raiva, tentou dissimular na medida que lhe foi possível.

-Xênia, você está bem? – Gabriela a olhava preocupada. – Quem era?

-Sim, bem bem, nada, só me chamaram da agência, precisam de mim na segunda.

-Ah! Ok. – disse Gabriela, sem se convencer totalmente. – Xênia! Aí estão eles! Olha! É o Chad! E ali está o Flea! E o John! E o Anthony!

-Sim, estão ali, desfrute. – Xênia sorriu tentando esquecer a maldita da Carla.

-Veja Xênia! Estão tocando “If you have to ask”. – Gabriela apontava o palco com seu rosto completamente iluminado de felicidade, quase chorava de alegria, Xênia pouco a pouco foi se acalmando e começou a se divertir com a prova de som.

Haviam passado as horas restantes da tarde. Xênia havia esquecido já a desagradável ligação que havia recebido de Carla. Gabriela estava transbordando de alegria e havia ficado tão fascinada por ver a banda, que não havia falado por duas horas inteiras depois que eles deixaram o palco. Xênia agradeceu essa falta de comunicação, já que certamente a jovem teria sido capaz de ver que algo lhe havia acontecido.

O lugar estava já repleto de gente, todos no estádio. Xênia e Gabriela estavam junto de muitas outras pessoas em umas grades próximas do palco. O grupo de técnicos já havia descido do palco e agora é só esperar para que o verdadeiro espetáculo começasse.

-Quer que lhe compre uma bebida? – Gabriela ouviu a voz de Xênia perguntando-lhe.

-Na verdade estou morta de sede, perdoe-me Xênia se não falei muito todo esse tempo, mas é que estou muito emocionada.

-Não se preocupe minha menina, desfruta tudo o quiser. Irei buscar as bebidas, me espera aqui.

Xênia parou para procurar alguém que estivesse vendendo bebidas. Gabriela a observou, via-se como ela era diferente entre as pessoas, sempre se destacava, tão alta, tão linda. Sentiu-se orgulhosa de que essa mulher fosse sua parceira.

Xênia regressou a seu lado ao final de alguns minutos com um sorriso no rosto e dois copos de coca-cola, entregou um a Gabriela e começou a beber do outro.

-Você é linda eu já lhe disse? – Gabriela disse ao ouvido da morena.

-Não nas últimas cinco horas, e mais, hoje você só tem olhos para eles. – Gabriela viu como Xênia apontava com o queixo para o palco.

-Não, deles gosto muito, reconheço, mas meu amor é você. Sabe disso não é verdade?

-Eu sei. – se apoiaram uma na outra, e ficaram de mãos dadas, aproveitando que as pessoas não lhes prestavam atenção e a escuridão predominava.

-Será que falta muito para começar?

-Já são nove horas, já deve estar para começar a qualquer momento, escuta, depois que termine vamos nos meter por ali, vê? Eles ficaram dando autógrafos e tirando fotos com as pessoas por um tempo, espero que a segurança não coloque nenhum problema.

-Estou nervosa!

-Veja estão apagando as luzes novamente, acho que já estão vindo.

-Sim! Já!

Começou a tocar a música, os quatro músicos se apoderaram do palco. Houve uma exclamação em uníssemos quando tocou os primeiros acordes do baixo. Gabriela não se cabia de felicidade, estavam a poucos metros, e via perfeitamente os traços dos quatro integrantes.

-É by the way! Xênia! Isto é genial!

A morena lhe sorriu enquanto que se movia ao compasso da música e Gabriela cantava a todo pulmão.

-Xênia não posso crer no que acaba de me acontecer, me sinto tão estranha. Será que estou sonhando?

-Vamos comprovar. – Xênia a tomou e a beijou.

-Não, creio que não é um sonho.

-Pode se apressar um pouco? – Xênia olhava para fora do táxi enquanto apressava o motorista.

-Estou indo o mais rápido que posso.

-Que foi Xênia?

-O último ônibus sai as 11:30hs, creio que ficamos muito tempo com seus Red Hot, espero que cheguemos na hora.

-E se não chegarmos? – Gabriela perguntou assustada.

-Vamos ter que dormir em um banquinho de uma praça, não se preocupe eu lhe abraço para esquentar do frio.

-Xênia você não está falando sério, não é? Ou seja, algum ônibus tem que sair mais tarde.

-Não, o último é o das 11:30hs e não há mais nenhum outro.

O táxi parou, Xênia pagou ao chofer, desceram do carro e saíram correndo até o terminal de ônibus.

-O ônibus para Viña qual é?

-Acaba de sair. – Xênia olhou para o lugar onde lhe indicaram, não havia mais nenhum ônibus. Correram o mais que podiam para tentar alcançá-lo, Xênia assoviou, Gabriela gritou, nada. Voltaram correndo até a janelinha.

-Há algum outro ônibus?

-Esse era o último, até amanhã não sairá outro.

-Quê? Xênia, que vamos fazer?

-Calma. – Xênia olhava para todos os lados pensando no que ia fazer. Algum conhecido, não tinha ninguém em Santiago.

-Xênia que vamos fazer?

-Deixe-me ver, não tenho nenhum conhecido e você? – Gabriela negou com a cabeça. – Teremos que achar um lugar para passarmos a noite.

-Quê? – Gabriela a olhou espantada? – Que lugar?

-Não sei, vamos ver na lista telefônica o lugar mais próximo. Fique calma. Enquanto isso liga para sua casa se você quiser e os avise.

-Oh, oh.

-Um motel?

-É o mais próximo que havia, sinto muito. – Gabriela a estava olhando assustada.

-Xênia, vamos passar a noite em um motel?

-Temo que sim. Ligou para sua casa?

-Sim, e minha mãe não gostou nada. Vamos dormir em quartos separados, não é?

-Está louca? Gabriela calma não vou lhe fazer nada. Está com medo de mim?

-Não tenho medo de você, tenho medo de nós duas. – Xênia sorriu.

Xênia se encarregou de tudo enquanto Gabriela tentava cobrir a cara, com as bochechas coradas até não poder mais.

-Quarto sete, gosta? – Xênia lhe mostrou a chave.

-Meu número favorito. – se dirigiram para o quarto.

-Veja, não está tão mal. – observou ao redor, um quarto bastante pequeno, com televisor, telefone, e banheiro.

-Já esteve em um motel antes? – Gabriela olhou para Xênia estudando seu rosto. – Sabe? Melhor que não me diga, não quero saber.

-Bem e o que achou de hoje? – Xênia se recostou na cama enquanto procurava alguma coisa para comer na mochila.

-Xênia foi incrível. Conversei com eles. – Gabriela agitava as mãos no ar enquanto sorria amplamente. – Sabe? Quando nós estávamos tirando essa foto, Flea me perguntou quem era você, ele fala bem espanhol, e sabe o que lhe disse?

-Quê? – Xênia a olhava com interesse enquanto relaxava.

-Que você era minha parceira, e ele sorriu e disse que fazíamos um bonito casal.

-Sério? – Xênia sorriu.

-Sim, e senti uma sensação de liberdade ao dizer assim. Gabriela ficou olhando um ponto fixo enquanto suspirava e recordava os momentos vividos. De repente sentiu os olhos de Xênia em seu rosto, dirigiu seu olhar até ela, a estava olhando fixamente, com a cabeça um tanto ladeada e um braço atrás de nuca.

-Venha aqui. – Gabriela viu como a morena estendia sua mão até ela.

-Sabe Xênia? Vou tomar um banho, estou morta, já volto. – Xênia moveu a cabeça sorrindo enquanto via Gabriela escapar para o banheiro.

Depois de quinze minutos Gabriela apareceu novamente no quarto. Xênia sorriu ao vê-la visivelmente mais relaxada e com seu sorriso ainda intacto em seus lábios.

-Agora vou eu, já volto. – Xênia entrou no banheiro, enquanto Gabriela a observava atentamente.

Deus meu, pensa Gabby, toda à noite com Xênia, a mulher que você ama na mesma cama. Que vou fazer?

Xênia regressou novamente ao quarto depois de dez minutos, Gabriela estava vendo televisão, enquanto comia salgadinhos deitada debaixo do cobertor. Dirigiu seu olhar a Xênia. Ficaram se olhando.

-Gabriela sei que tem medo, não vou lhe pedir nada, não vou tentar nada, por favor, relaxa.

-Sinto muito Xênia, não sei por que sou tão estúpida.

-Calma, só vamos dormir na mesma cama, mas não lhe tocarei. – Xênia levantou o cobertor e se meteu dentro tentando manter-se o mais longe possível do corpo da jovem loira. Tirou as calças e ficou com a roupa interior, em cima deixou a blusa.

-Quero que você toque Xênia, esse é o problema…- Xênia a olhou, Gabriela estava olhando para o teto.

-Quer que eu lhe toque…? – Xênia disse duvidando se havia ouvido bem, enquanto via os olhos de Gabriela dirigindo-se diretamente até os seus.

-Sim…- Gabriela se aproximou lentamente até Xênia quem a estava olhando intensamente.

-Está segura…? – Xênia sentiu o corpo de Gabriela junto ao seu, sentia suas pernas nuas tocando as suas, enquanto que seu coração começava a bater forte.

-Não…Não estou.

-Então…? – Xênia sentia sua própria voz soar vários tons mais baixos.

-Não estou pensando com a cabeça Xênia, não a chame, por favor, deixa que me deixe levar.

-Somente estou tentando me assegurar de que não se sinta pressionada por mim.

-Xênia eu desejo, e você…?

A tinha tão próxima, não havia nada nem ninguém que pudesse interromper esse momento. Gabriela a estava olhando com seus olhos doces, e um leve sorriso em seu lindo rosto, convidando-as a cruzar esse pequena barreira que existia entre ambas até o momento.

A amava, sentia que a amava mais que tudo no mundo, e mais que qualquer outra coisa nesse momento, desejava, tocá-la, beijá-la, sentir sua pele, não ter nenhum limite, amá-la simplesmente.

Colocou-se de lado enquanto continuava a olhando nos olhos, sentia a tensão no corpo de Gabriela, temia que em qualquer momento se assustasse e fugisse como tantas outras vezes. Colocou a mão em sua bochecha e a acariciou suavemente com seu polegar, era tão suave, tão delicada. Percebeu como os dedos de Gabriela deslizavam através de seu cabelo, sentia a eletricidade em cada fibra de seu ser. Então fechou os olhos e a abraçou enquanto que se sentia abraçada com a mesma intensidade, podia ouvir a respiração de Gabriela junto a seu ouvido. Suas mãos viajaram até a cintura, até a beira das roupas de Gabriela, seus dedos tocando a pele enquanto tocavam o tecido sem decidir-se se o deixaria ou o tiraria de uma vez. Separou-se um segundo enquanto olhava o rosto da jovem, seus olhos fechados, seus lábios entreabertos, sem colocar-lhe nenhuma resistência, se deixava fazer, a tinha ali só para ela. Aferrou-se a blusa finalmente e começou a subi-la lentamente, enquanto Gabriela abria os olhos e a ajudava na tarefa dobrando suas costas, finalmente saiu por sua cabeça e a olhou ali, só coberta com sua roupa interior, era de cor branca. Por um momento a percebeu pura, tão menina, tão linda que teve medo de tocá-la, de lhe fazer algum mal, não queria fazer as coisas de forma errada, nem se quer sabia bem o que fazer, começou a tremer. Sentiu a mão de Gabriela tomando a sua, se sentia torpe e nervosa.

-Calma. – ouviu a voz de Gabriela quase imperceptível, levou seus olhos azuis aos verdes que a olhavam esperando que fizesse algo.

-Gabby eu…- começou a gaguejar.

-Calma. – repetiu ela, enquanto a atraia até si. – Preciso sentir-lhe Xênia… – a ouviu sussurrar no ouvido, enquanto que sentia que estava sendo despida de sua blusa, levantou os braços e a deixou sair por sua cabeça.

Seu corpo começou a reagir diante do contato de sua pele com a de Gabriela, já não coordenava bem os pensamentos. Colocou-se sobre ela e começou a beijá-la, seu corpo estava tão sensível que as caricias chegavam a ser dolorosa. Fundiu seus lábios na clavícula da jovem loira enquanto que a ouvia gemer suavemente, suas mãos começaram a percorrer seu corpo sem tocar ainda nenhuma parte sensível, uma vez que sentia as mãos de Gabriela viajar pelo seu timidamente.

De repente se separou por um momento, e olhou seu rosto, continuava tão puro como sempre, só que em suas feições podia adivinhar que a jovem estava sentindo o mesmo desejo. Um pensamento estranho começou a se formar em sua cabeça, quis sacudir, mas era impossível, ia se fazendo mais e mais nítido.

-Que foi? – ouviu Gabriela falando com dificuldade, enquanto abria os olhos para olhá-la espantada.

-Nada eu…- tentou novamente reprimir aqueles pensamentos, mas não tive êxito.

A imagem de Carla e sua maldita chantagem, a fotografia, Gabriela sofrendo a rejeição de sua família, a mentira… Voltou a olhá-la ali, continuava desejando-a tanto que doía. Separou-se bruscamente, enquanto respirava com dificuldade.

-Que foi Xênia? Você está bem? – sentia os olhos assustados da jovem.

-Eu…Sinto muito Gabby…Não posso.

-Por quê? – Gabriela a estava olhando quase com dor.

-Não estou pronta, perdoe-me, lhe quero tanto…Só que agora não posso, me abraça.

A jovem obedeceu. A apertou forte contra seu corpo.

-Fiz algo errado? – ouvia sua voz temerosa.

-Não minha menina, sou eu, não é você. Pode somente…? Podemos somente ficar assim e dormir?

-Sim meu amor…Não foi nada, vamos só dormir, está bem assim…

-Não me solte Gabby…

-Não soltarei…- sentiu Gabriela se separar por um momento e esticar o braço para apagar a luz, e depois voltar a aferrar-se a seu corpo. Fechou os olhos tentando que todo seu temor desaparecesse.

-Te amo…

-Eu também…

-Gabby prometa-me que nunca vai me deixar aconteça o que acontecer.

-Prometo… – sentiu os lábios de Gabriela beijando sua testa e começou a relaxar pouco a pouco enquanto sentia a calma voltar novamente, o cansaço foi chegando lentamente a seu corpo, até que todo pensamento bom e mal foi sumindo por completo, para se converter em simplesmente sonhos.