Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

“Eu acho que deveríamos conseguir algumas roupas para não nos destacarmos tanto na multidão” Yaz disse entre os dentes enquanto se aproximava de uma Doutora com a boca cheia de tâmaras que escaneava os arredores com sua chave de fenda sônica. “Você pagou por essa comida?”.

“Definitivamente tem algo estranho acontecendo” disse ignorando o que Yaz havia dito “Existe uma vibração anômala para esse lugar. Algo de fora. Algo com muita energia. E não é energia boa”.

“Algo extraterrestre? Em plena Grécia antiga?”

“Definitivamente algo não humano. Se a Tardis nos mandou para cá, existe uma razão.”

“Evidentemente” respondeu Yaz com um sorriso levemente cínico. E claramente não é para um cruzeiro na Ilha de Lesbos. Pensou consigo mesma. “O mascate estranho mencionou um nome. Gabrielle de Potédia. Talvez possamos começar por aí.”

“Quais as chances de Gabrielle de Potédia ser encontrada em… Potédia? Eu não sei. Mas vamos tentar!” disse A Doutora agarrando a mão de Yaz e disparando numa corrida até a Tardis.

Alguns minutos depois elas aterrissavam novamente.

“Potédia!” exclamou a Doutora se dirigindo à porta da nave “Se bem me lembro, conhecida por ser uma aldeiazinha pacífica e bucólica, cheia de pastores de ovelhas e… AMAZONAS lutando??!” disse arregalando os olhos após dar uma primeira olhada para fora. Claramente a comoção era tamanha que nem mesmo haviam sido notadas pelas demais pessoas. Algumas dezenas de amazonas brigavam com homens armados e nitidamente levavam vantagem. Mais uma vez a Tardis aplicava-lhes um golpe levando para algum local aleatório diferente do destino pretendido. A luta levou mais alguns minutos até que elas conseguissem estabelecer sua vitória, e com a poeira baixando, a presença de Yaz e da Doutora se tornou evidente.

“MAIS INVASORAS” gritou uma das amazonas, correndo em direção a elas com uma espada em mãos. Ela era loira, de cabelos lisos e soltos com pequenas tranças adornando.

“Não, não, não, espere. Estamos desarmadas” disse a Doutora erguendo as mãos pra cima enquanto segurava sua chave de fenda sônica. Ao se dar conta disso, soltou-a ao chão.

“Não somos inimigas. Só estamos perdidas” disse Yaz repetindo o gesto.

Algumas amazonas se juntaram ao redor de ambas, olhando com espanto e curiosidade as vestes estranhas e a cabine de polícia da qual saíram.

“Devem ser feiticeiras mandadas pela inimiga” gritou uma delas.

“Não parecem feiticeiras. Serão deusas?”

“Quietas!” gritou a primeira Amazona.” Abram espaço para a Rainha.

“O que está acontecendo Éris? Achei que a luta tivesse terminado” disse a Rainha. Ela era morena, tinha cabelos longos e olhos ligeiramente puxados. “Quem são vocês?”

A Doutora soltou o ar e baixou as mãos, gesto repetido por Yaz novamente.

“Eu sou a Doutora e essa é minha companheira, Yaz. Nós estávamos a caminho de Potédia, quando estranhamente viemos parar aqui, mas não queremos problemas porque evidentemente vocês já tiveram uma boa dose deles” disse olhando ao redor para alguns soldados mortos. “Pedimos desculpas por interromper a sua luta contra os…os…”

“Seguidores de Alti.”

“Claro, os seguidores de Alti”

“Quem é Alti?” cochichou Yaz, entre os dentes.

“Eu não faço ideia” resmungou A Doutora de lado.

A Rainha deu alguns passos a frente, analisando ambas dos pés a cabeça e percebendo que de fato não estavam armadas. Cautelosamente estendeu um braço.

“Meu nome é Varia, sou Rainha dessa tribo no momento.” A Doutora respondeu à saudação estendendo seu braço também e Yasmin fez o mesmo. Logo uma outra mulher, com vestes diferentes das demais amazonas, um semblante calmo e uma voz suave apareceu atrás de Varia colocando as mãos nos ombros dela.

“Vocês mencionaram Potédia. O que procuram lá?” indagou ela. Yaz não deixou de notar que ela vestia um lindo Sari verde claro, muito parecido com aqueles de suas ancestrais. “Perdoem-me, meu nome é Eve” ela disse estendendo a mão.

Ambas retornaram o cumprimento.

“Estamos procurando Gabrielle de Potédia. Nos disseram que ela poderia nos ajudar com um assunto.”  Eve as olhou com curiosidade por alguns segundos.

“Hm. A sua coisa metálica está girando” pontuou Varia olhando para a chave de fenda sônica aos pés da Doutora que girava horizontalmente e emitia um zumbido.

“O que está acontecendo?” perguntou Yaz.

“Ela está captando a frequência anômala. Existem traços energéticos dessa frequência nesse lugar” disse olhando ao redor e abaixando-se para juntar a chave e guardar no bolso do seu sobretudo. “Esses homens com quem vocês lutaram. Quem é Alti que eles seguem?”

“Eu faço as perguntas aqui.” Respondeu Varia de maneira mais enérgica. “De onde vocês vêm e o que querem com Gabrielle?”

“De muito longe. Não somos inimigas. Queremos ajuda. Ou ajudar. Ainda não tenho certeza” respondeu a Doutora percebendo que Varia dava uma olhada reticente para a Tardis logo atrás delas “Eu posso explicar isso. Podemos conversar com um pouco mais de privacidade?” disse olhando ao redor para dezenas de amazonas armadas.

Varia apenas sinalizou com a cabeça em direção à cabana real. Éris e outra amazona escoltaram as duas estranhas até o recinto. Varia sentou-se em seu trono, com Eve ao seu lado repousando uma mão em seu ombro. Yaz e a doutora sentaram-se de frente para elas.

“Vocês são algum tipo de deus?”

“Não. Também não somos feiticeiras, entidades malignas, nem nada do tipo. Só humanas mesmo” disse Yaz.

“Ou quase isso” resmungou a Doutora. “Somos apenas viajantes. É difícil explicar”.

“Tente” disse Varia mortalmente séria.

“Aquela cabine azul é uma nave. E nós somos…de um outro tempo. Essa nave nos trouxe aqui porque existe alguma coisa estranha acontecendo e… eu acho que eu preciso tentar resolver isso.” Disse a Doutora tentando simplificar boa parte da explicação, mas com a absoluta certeza de que não seria compreendida mesmo assim. Há milênios fazia isso e nunca havia se tornado mais fácil.

“Nave? Como uma embarcação?” Indagou Varia.

“Algo assim”.

“Outro tempo? Quanto tempo?”

“2020 d.C”

“Tudo bem.”

“Tudo bem? Mesmo? Sem mais perguntas? Sem pensar que somos loucas?”

“Já lidei com bastante esquisitice convivendo com deuses pra me impressionar com pouca coisa” retrucou Varia.

“E eu já tive minha parcela de contato com gente de outra época. Até hoje não sei como aquele repórter importuno veio parar aqui.” completou Eve.

“Foi fácil dessa vez” cochichou Yaz.

A chave de fenda sônica começou a vibrar no bolso do sobretudo da Doutora e emitir um som parecido com o de um radar. Varia olhou em direção a ela por alguns segundos e procurou o olhar de Eve em seguida. Confiava nas intuições de sua companheira, e não encontrando preocupação nos olhos dela resolveu prosseguir.

“Aqueles homens contra quem meu exército lutava eram seguidores de Alti. Isso é o “algo mais estranho” que encontrarão por aqui.”

“Receio que não estejamos familiarizadas com as personalidades locais. Quem é Alti?”

“Era uma xamanesa que tem perseguido pessoas de bem há…alguns milênios, por diversas vidas”.

“Exceto que ela está morta agora e aparentemente nunca teve seguidores antes. Pequenos exércitos, talvez, mas nunca um culto. Alti se alimentava do medo e da dor que conseguia extrair das pessoas. Nunca a enfrentei pessoalmente, mas Xena e Gabrielle lutaram contra ela em muitas ocasiões” explicou Eve

“O que eles queriam com a sua tribo?”

“Estavam atrás de Gabrielle” respondeu Varia.

“Gabrielle de Potédia? Finalmente…” exclamou Yaz.

“A questão é… por que vocês estão atrás de Gabrielle?”

“Nos disseram que ela tem certa experiência com coisas estranhas acontecendo e costuma ser o tipo de pessoa que resolve problemas. Pareceu um passo lógico para se começar”.

“A Rainha Gabrielle partiu há 4 dias. Deve estar perto do Porto de Atenas nesse momento para pegar a próxima embarcação para o Oriente”.

“Atenas? Droga, estávamos tão perto!”  resmungou Yaz.

“Mas sem ter vindo parar aqui, não teríamos ficado sabendo dessas informações. A Tardis não age aleatoriamente. Ou pelo menos quase nunca.” Afirmou a Doutora com uma mão no queixo, e Yaz podia jurar que se radiografassem a cabeça dela nesse momento, engrenagens girando rapidamente seriam visualizadas. “Vamos voltar para Atenas, Yaz.”

Varia as olhava com um semblante sério não impressionada pela origem das duas figuras à sua frente, mas genuinamente curiosa sobre o que as havia trazido ali e por que pareciam ter alguma estranha ligação com os acontecimentos recentes. No entanto, foi despertada de seus pensamentos por um leve cutucão na lateral das costelas. Eve lhe lançou um olhar de quem tentava fazer-lhe lembrar de algo. Ah, claro. Hospitalidade. Trabalhar a hospitalidade era algo que ainda estava aprendendo.

“Entendo que tenham pressa, mas descansem antes de partir. Se tiverem fome, temos javali fresco assado ontem à noite e vinho tinto.  Uma refeição não levará tanto tempo a ponto de tornar impossível alcançar Gabrielle… visto que vocês têm uma… embarcação”.

A Doutora recebeu uma cotovelada de leve no braço. Ela realmente não tinha a mesma necessidade de nutrição que pessoas comuns. Comer era muito mais uma diversão do que um ato biológico. Seu paladar era curiosamente infantil, sempre afoito por experimentar explosões de sabores que eram basicamente pequenas aventuras. Mas Yasmin era humana e já se passavam horas desde a última refeição. Além do mais, um pouco de vinho grego não lhe faria mal.

Yaz sentou-se à mesa rústica do refeitório Amazona e foi servida com um delicioso pedaço de javali assado temperado com ervas e calda de romã. Nunca havia experimentado tal sabor em sua vida, mas refletindo que morava na Inglaterra, isso não lhe surpreendeu. A Doutora segurava um caneco com um pouco de vinho e conversava com Varia um pouco afastada dali, provavelmente tentando dar uma explicação mais compreensível sobre o que era a Tardis e como haviam chegado ali. Eve aproximou-se andando com suavidade e sentou-se do outro lado da mesa onde Yaz estava, lhe contemplando com curiosidade.

“De que lugar vocês vem?” indagou curiosa. Yaz ergueu os olhos de sua comida e sorriu, pensando em como explicaria isso de maneira que fizesse sentido.

“Grã Bretanha… É uma…”

“Bretanha, hm. Conheci alguns soldados bretões no passado, quando eu estava…em Roma”.

“Você não é uma amazona” observou Yasmin analisando as informações.

“Não.” Eve sorriu. Era um sorriso que escondia algum pesar. “Mas eu meio que fui… não oficialmente. História complicada” Eve descansou os cotovelos na mesa apoiando o queixo sobre as mãos fechadas.

“Mas escolheu estar entre elas?”

“Muitas razões…” respondeu com um sorriso leve.

Yaz apertou os olhos levemente, e por um segundo olhou para a Doutora e Varia que conversavam há alguns metros dali.

“A Rainha é uma delas, suponho” disse finalmente.

“Uma das principais” disse Eve dando de ombros “E como não seria, você já prestou atenção nela?”

Yasmin soltou uma risada espontânea, afastou seu prato vazio e se debruçou na mesa com um gesto de resignação.

“Suponho que não, sua atenção está em outra… pessoa? Deusa…? Ela é diferente, eu consigo perceber.”

Yaz levantou o rosto e esfregou os olhos um pouco cansada.

“Ela não é uma deusa. Às vezes penso que é mais humana do que eu” disse tomando um último gole de vinho que estava em sua taça. “Mas sim, ela é diferente. Diferente o suficiente para nos tornar algo impossível de ser” falou olhando com um pouco de tristeza para a Doutora como quem contemplava tudo de mais precioso a distância.

“Tem certeza? Ela lhe apresentou como sua companheira…”

“Não nesse sentido. Provavelmente nunca nesse sentido.” Ela fez alguns segundos de silêncio. “Estar ao lado dela é como… colidir com a eternidade. Com um universo de conhecimento, de histórias, de atos de bondade… De tudo que pode existir de mais belo ou excitante na vida.” Eve podia perceber os olhos de Yaz brilhando a cada palavra que descrevia. “Mas como tudo na vida, tem o seu outro lado, o qual contempla séculos de trauma, de desilusões, cicatrizes e de luto. Estar comigo seria… um sopro breve de algumas décadas, e então ela estaria sozinha novamente. Não é justo.”.

“A história me parece familiar” disse Eve se levantando “Mas já pensou em perguntar o que ela acha?”

Yaz apenas respondeu com um sorriso triste.

“Gabrielle de Potédia” disse “Escutei a Rainha Varia se referir a ela como Rainha Gabrielle. Ela abdicou?”

“Algo assim. A missão dela é outra. Sempre foi.”

“E Varia, que agora é rainha, é filha dela?”

“Não” Eve riu “Não a Varia. Os títulos de Rainha e Princesas Amazona tem um sistema um pouco mais complexo que isso… Ouça Yaz, você e a sua…Doutora claramente estão atrás de encrenca. Se essa encrenca for Alti, vocês precisam saber com o que lidarão. Eu nunca enfrentei Alti diretamente, mas as histórias que Gabrielle e Xena me contaram são de um mal mais opressor do que qualquer outro. Ela se alimenta do medo e da dor das pessoas, e na maioria das vezes faz isso sem nem mesmo estar encarnada. Ela tentou roubar a minha alma, quando eu estava na barriga de Xena para voltar à terra em forma corpórea e… não foi bonito. Parece que todas as soluções para derrotá-la acabam sempre sendo temporárias. Alguém cheia de traumas e cicatrizes é uma fonte perfeita de poder para Alti, então…” Eve acenou com a cabeça em direção à Doutora “Cuide dela”.

Yasmin engoliu em seco escutando aquelas palavras. Ela estava acostumada a estar na posição inversa. A Doutora era quem sempre cuidava de todos os seus companheiros de viagem, garantindo a segurança de cada um com esmero por mais improvável que as situações parecessem. Por alguns segundos refletiu consigo mesma se Alti seria pior do que todos os perigos que já haviam enfrentado em suas viagens nos confins do universo. Pensando bem, não, Alti não poderia ser tão ruim quanto um Dalek… poderia?

“Esse culto…exército… que está lutando por ela chegará até Gabrielle, é uma questão de tempo. Eu sei o quanto Gabrielle é forte e o quão boa guerreira ela é, mas meu coração se aperta em pensar que alguém possa machucá-la. No entanto não posso ir até o encontro dela. Tenho um trabalho a fazer aqui nessa tribo, ao lado de Varia e eu não sou mais exatamente…uma guerreira. Ficarei extremamente grata se vocês a ajudarem.”

“A Doutora sempre dá um jeito” Yaz respondeu sorrindo.

“Eu imagino. A energia dela lembra… minha mãe. Espero que possam conhecê-la um dia”.

“Eu achei que ela não estivesse mais… entre nós”.

“Não está. Mas isso nem sempre é uma situação permanente” Eve disse caminhando até Varia e a Doutora.

Nota