Capítulo 7
por Officer KirammanEve estava meditando perto do riacho quando seus ouvidos captaram o som das ululações da Tardis. Ela abriu os olhos e correu para o centro da vila Amazona, se deparando com a enorme caixa azul pousada ao lado da cabana real. As amazonas todas pararam seus afazeres e olharam estáticas para a nave e logo Varia saiu segurando meia dúzia de pergaminhos que teimavam em desenrolar e fazê-la se atrapalhar. A porta da cabine telefônica atemporal se abriu soltando um pouco de vapor e por alguns segundos nada aconteceu. Eve engoliu em seco.
De repente a cabeça loira da Doutora apareceu para fora com um sorriso pateta enquanto olhava os arredores.
“Entrega para Nação Amazona! Precisa assinar!”
Yaz saiu da Tardis balançando a cabeça, certa de que absolutamente ninguém além dela entenderia a piada idiota, e logo foi acompanhada de Xena e Gabrielle que saíram de mãos dadas. Eve prendeu a respiração por um momento e seus olhos se arregalaram por apenas segundos o suficiente para ela tomar o ar novamente e disparar em direção às duas, jogando-se em cima delas de braços abertos e abraçando as duas ao mesmo tempo.
“Você conseguiu Gabrielle. Você a trouxe de volta” murmurou Eve “Mãe, eu senti tanto a sua falta”.
“Eu sinto tanto pela dor que fiz vocês passarem Eve, mas agora eu entendo que a minha missão não acabou”.
“Bom, tudo acaba bem quando acaba bem” disse a Doutora tentando disfarçar a emoção em ver uma família reunida. Yaz lhe lançou um olhar revirando os olhos e lhe deu uma cotovelada de leve nas costelas, cedendo às suas próprias vontades e abraçando a Doutora de lado, enquanto enxugava as lágrimas. Os braços da Doutora lhe envolveram e a sensação era simplesmente de paz, de que pelo menos por aquele breve momento, tudo estava certo.
“Pronta para partir?” perguntou a Doutora sem romper o abraço.
Varia que terminava de dar um longo abraço em Xena e Gabrielle virou-se para elas.
“Eu não sei sobre necessidades não humanas, mas eu imagino que Yaz esteja cansada e faminta depois dessa encrenca toda que vocês passaram. Por favor, a Nação Amazona as convida para descansarem e banquetearem conosco. Afinal precisamos comemorar a volta de Xena”.
“O que você diz, Yaz?”
“Javali com calda de romã e ervas?” perguntou Yaz voltando-se para a Rainha Amazona. Eve que estava atrás dela, com as mãos sobre os ombros de Varia sorriu acenando positivamente. “Seria uma grande ofensa recusar essa gentileza, Doutora”.
Após poucas horas uma enorme roda de dança amazona se apresentava no centro da vila e algumas das jovens guerreiras tentavam ensinar os movimentos para a Doutora que tentava copiá-los sem sucesso, arrancando risadas de todos.
“Olhe só para isso. Ela é ridiculamente adorável” soltou Yaz sem pensar, corando levemente em seguida. Ela estava encostada num dos pilares do alpendre da cabana real. Eve, Gabrielle e Xena também estavam ali, descansando após um enorme banquete, enquanto Varia conversava com Éris um pouco mais longe, a respeito das medidas para se prepararem caso algum grupo dos seguidores de Alti ainda resolvesse aparecer.
“Ela está se esforçando” riu Eve, olhando a Doutora “Você não pode julgá-la. Varia tentou me ensinar os movimentos e eu falhei miseravelmente. Eu lhe disse que era por essas coisas que eu desisti do meu direito de casta, porque logo depois ela também tentou me convencer a uivar para a lua, nua e coberta de lama dos pés a cabeça.”.
“Uivar nua para a lua? É disso que vocês jovens chamam hoje em dia?” disse Xena erguendo uma sobrancelha inquisidora para Eve.
“Você e Gabrielle vão tentar me fazer passar todas as vergonhas que não fizeram nos meus anos de adolescente, não é?” perguntou Eve, levemente corada.
“Cada. Uma. Delas” concordou Gabrielle com muita ênfase. “Honestamente, preciso conversar com Varia para revermos o parágrafo da lei que fala sobre essa coisa de uivar.”
“Falando em Varia, vou conversar com ela e logo volto. Quero tirar a limpo essa história de tentar fazer a minha filha uivar nua para a lua” disse Xena, piscando secretamente para Gabrielle.
“NÃO OUSE” disse Eve mais alto do que gostaria apontando um dedo para uma Xena que lhe deu as costas rindo secretamente.
“Relaxe, Eve” riu Gabrielle “Ela vai apenas falar sobre os planos de defesa da vila amazona”.
“Vocês duas juntas são terríveis, sabia? Não tem nada que me faça mais feliz do que tê-las juntas novamente, mas são terríveis”.
Ambas olharam para Yaz que estava ao lado, alheia à conversa, com o olhar perdido na figura da Doutora.
“Você deveria considerar dizer a ela como se sente” disse Gabrielle colocando uma mão no ombro dela.
“Aparentemente todo mundo já percebeu” suspirou Yaz, com um sorriso um pouco triste. “Eu não sei se conseguiria viver com a resposta. Ou com a ausência da resposta”.
“Você enfrenta todo tipo de criatura ao lado dela lá em cima. Acho que não lhe falta coragem”.
“Eu sou apenas uma humana com expectativa de vida limitada. Ela é… eterna. Algo entre nós, se alguma vez chegasse a existir algo, seria temporário e acabaria em perda e em luto. Não seria justo.”
“É assim que funciona para todos nós. Eu sei que minha vida ao lado de Xena é temporária. Perdê-la me machucou, em mais de uma ocasião… Mas não viver o que tínhamos e ainda temos para viver juntas, com medo da perda, me machucaria ainda mais. Xena costuma dizer que qualquer idiota pode arriscar a vida, mas é preciso ser um herói para arriscar o coração”.
“Talvez seja isso que me falte. Ela é o herói, não eu” riu Yaz.
“Vocês duas me salvaram e trouxeram Xena de volta. Eu sempre serei grata à ambas as minhas heroínas”.
“Obrigada. A vocês duas” disse olhando para Eve e Gabrielle “A Doutora consegue preencher um salão com a presença dela, mas às vezes viajar ao lado dela consegue ser um pouco solitário. É bom ter alguém para poder falar sobre isso.”
“Bom, enquanto você viajar nessa caixa azul ao lado dela, saberá onde nos encontrar”.