Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Capítulo 9

    “Bom dia, Maria”. Rose rodou dentro da cozinha, seguindo o cheiro dos pãezinhos de canela recém assados.

    “E bom dia para você também, Rose. Quer um pouco de café?”.

    “Adoraria uma xícara de café, obrigada”.

    “A trarei aqui a mesa”. A governanta alcançou o armário e tirou uma xícara sem olhar. No momento não se deu conta de qual havia pegado, já havia acrescentado o creme e o açúcar. “Acho que Ronnie vai ter que usar outra xícara”.

    “Você me deu sua favorita outra vez, não é?”. Rose perguntou com um sorriso. Este era outro dos pequenos caprichos de Ronnie. Seu café da manhã era sempre servido em uma xícara preta que continha as seguintes palavras escritas nela: “O chefe”.

    “Temo que sim. Vou esvaziá-la e lhe darei outra”.

    “Não, não se preocupe. Ronnie pode viver sem sua xícara de chefe por um dia”. Isto realmente divertia Rose que com as dezenas de xícaras que enchiam o armário, sua amiga estivesse afeiçoada com esta em particular.

    “Você sabe que ela gosta de seu café nesta xícara”, Maria advertiu.

    “É bom que mude sua rotina de vez em quando”, veio a brincalhona resposta quando pegou a xícara da mulher mais velha.

    “O que está acontecendo com vocês duas?” Ronnie perguntou quando entrou na cozinha. Pegou seu jornal e deu uma olhada nas manchetes antes que notasse. “Roubando minha xícara favorita?” Cruzou por trás da jovem mulher e se sentou na cadeira ao lado desta.

    “Não se preocupe, eu sei quem é realmente o chefe por aqui”, Rose respondeu quando tomou um gole.

    “Às vezes me pergunto!”. Ronnie devolveu a brincadeira. “Acha que pode me enviar um e-mail hoje?”.

    “Sim, anotou o que devo fazer, não é?”.

    “Está ao lado do computador”. Levantou o olhar para ver Maria vir com seu café. Olhou a xícara de maneira zombadora. “De onde veio esta?” Era uma xícara de Cartoon Far Side com dois cervos nesta. Um tinha um alvo vermelho brilhante em seu peito. Abaixo da foto umas palavras diziam ‘inferno de marca de nascimento, Hal’. Ronnie riu suavemente e bebeu desta.

    “Viu, a mudança é boa”, Rose disse com o lábio sobre sua xícara. Maria trouxe seu desjejum junto com uma jarra de café.

    “Se as senhoras me dão licença, irei começar na lavanderia”.

    “Ok, obrigada Maria”.

    “Obrigada”.

    Já sozinhas, ambas mulheres começaram a comer seu desjejum. Ronnie tinha o garfo em uma mão e o jornal na outra. Embora olhasse a seção de negócios, o jornal também tinha a vantagem extra de lhe permitir olhar e estudar a distraída Rose. As pernas quebradas estavam escondidas debaixo da mesa redonda. Com o suave cabelo loiro metido atrás de suas orelhas, Ronnie tinha uma vista sem obstáculos da suave curva do rosto de Rose, o pequeno nariz arrebitado, a cor oxida das sobrancelhas que se reclinavam por cima de seus intensos olhos verdes. Repentinamente esses olhos voltaram-se e a olharam. Amassando as páginas e baixando o olhar ao jornal, Ronnie esperou que o rubor que sentia não fosse muito visível. “Hum… estou pensando sobre diminuir um pouco a quantidade de trabalho de Laura. Tenho algumas cartas que precisam ser colocadas em dia. Não é difícil de fazer, mas é tempo a consumir. Você disse que aprendeu como usar a fusão do correio, não é mesmo?” Seus olhos não saiam do jornal, embora não tivesse idéia de quais notícias estavam no jornal.

    “Hum. Hum”. Rose engoliu e deixou a xícara abaixo. “Foi difícil a princípio, mas uma vez que consegui aprender isto realmente parece bastante fácil”. Por dentro estava entusiasmada. Ronnie está me dando um trabalho de verdade para fazer, exemplos e provas nos programas de computador. Verdadeiro trabalho que precisa ser feito e está confiando a mim. “Assegurei de que isto seja feito em seguida e prometo que não haverá erros”.

    Atrás do jornal, a executiva sorria com o tom entusiástico. “Mandarei um e-mail dos arquivos logo que chegue ao trabalho. Tenho certeza que você não terá nenhum problema com isso”. Deixou a seção de negócios do jornal para baixo e se serviu de outra xícara de café. “Vamos ver quem a polícia prendeu a noite”, Ronnie disse quando pegou a seção local. Olhou através das páginas até que encontrou o relato da polícia enumerando a todas as pessoas que haviam sido presas ou que havia comparecido a corte. Viu o nome de uma velha amiga do curso pré-vestibular sendo presa por prostituição. “O que?”. Aproximou mais o jornal, derrubando sua xícara de café em cima de si no processo. “Droga”. Levantou-se. A blusa amarelo creme agora estava coberta de cima a baixo na frente com o molhado bege do café. Desabotoou os primeiros botões, confirmando que o líquido havia se filtrado sobre sua camiseta também. “Maria!” Virou-se para ver a governanta sair da lavanderia. “Café”.

    “Sobre a seda”, Maria apontou. “Verônica Louise, atravessarei mais Woolite com você”. Moveu sua cabeça, causando que Rose sorrisse enquanto o café molhava a mesa. “Bem, saia dessas coisas molhadas”. Ronnie se virou para sair da cozinha. “Não há necessidade de você ser modesta agora. Você não vai correr até o andar de cima com o café pingando de sua blusa. Há bastante desastre para limpar aqui mesmo”.

    “Bem”. Em um movimento rápido a blusa foi tirada seguida pela camiseta. “Dê-me à saia também”. Um puxão no fecho e a roupa seguiu as outras roupas molhadas nas mãos de Maria.

    Com Ronnie de costas para ela, Rose deixou seus olhos viajarem de cima a baixo no alto corpo vestido só com meias e uma calcinha cor creme que se encaixavam. Concentrou-se, mas não sentiu a excitação que havia experimentado na noite anterior. O que sentia era culpa por olhar fixamente o corpo de sua amiga. Isto é loucura. É só Ronnie. Afastou seus olhos quando o corpo meio vestido se virou, levantou o olhar só quando ouviu a mulher de cabelo escuro se dirigir a ela. “Vou lá em cima me trocar”.

    “Oh, sabe o que ficaria realmente bonito em você? Aquela calça cinza de lã e aquela blusa azul claro”. Rose pensou sobre a última vez que havia visto Ronnie usar esse traje e em como destacava seus olhos. “Estes ficam realmente bonitos em você”.

    “A calça cinza, humm?” Ronnie lembrou o quanto Rose gostava dessa particular combinação. A pele se arrepiou e se levantou em suas coxas. “É melhor eu ir me trocar antes que me congele até a morte por estar parada aqui”.

    Voltou poucos minutos depois, admitindo a si mesma que a calça de lã era uma idéia muito melhor do que a saia em uma manhã tão fria. “Ok, o que acha?” Perguntou, girando com o blazer dobrado no braço.

    “Maravilhoso”, Rose disse. A calça se ajustava em todos os lugares corretos e a camisa contornava agradavelmente suas suaves curvas. “Você está… encantadora”.

    “Obrigada”. Ronnie baixou o olhar nos brilhantes olhos verdes e sorriu. “Enviarei a você por e-mail os arquivos logo que chegue lá”. Combateu o impulso de dar a jovem mulher um beijo rápido no rosto e mudou isso por um apertão no ombro. “É melhor eu ir antes que o tráfego se torne mais intenso”.

    “Ok. Ok. Vou me assegurar de ter esse programa pronto para que possa conseguir começar tão logo os arquivos cheguem”.

    “Não tenha pressa, Rose. O que conseguir fazer estará bom”. Particularmente satisfeita ao final de não ouvir o entusiasmo na voz de sua amiga. Ronnie não teve dúvidas quando checou à ética de trabalho de Rose. “Tentarei chegar cedo em casa”. Nesse momento, a governanta saiu da lavanderia com um esfregão e um balde na mão. “É melhor eu ir antes que Maria encontre um novo uso para esse esfregão”.

    “Às vezes”, Maria disse quando sacudiu sua cabeça.

    Ronnie girou sua atenção a Rose. “Ligo para você mais tarde”.

    “Okay”.

    Rose se rodou afastando-se quando a governanta começou a limpar o desastre. O jeep azul brilhante desapareceu do caminho da entrada, deixando as duas sozinhas. É hora de conseguir algumas respostas, Rose pensou para si mesma.

    “Maria, foi fácil para você aprender a usar o e-mail?”.

    “Senhor, não, criança. Quando Ronnie me deu o computador eu estava assustada até de ligá-lo. Não sabia o que fazer”.

    “Mas agora você gosta de usá-lo?”.

    “Falo com meu filho no Arizona todas as noites”. Empurrou o esfregão seco sobre as últimas gotas de líquido que havia sido derramado. “Devia ver minhas contas de telefone antes disso”.

    “Aposto que quando Ronnie estava fora na universidade às contas de telefone eram altas”. Genial continue, Einstein. Por que não só vai direto ao ponto e lhe diz vamos falar do tema Stanford, mentalmente se repreendeu. “Quero dizer, é que ela é tão próxima de sua família e tudo mais”.

    “Quando os garotos estavam no colégio isto por certo havia sido um tempo duro por aqui”. Maria pegou os pratos do desjejum e se dirigiu até o lava-louças. “Um deles estava sempre ligando para uma coisa ou outra”. Pegou a jarra e se serviu de um pouco do fumegante líquido em uma xícara. “Juro que ia ao correio todos os dias enviar algo a um deles”.

    “Vamos sente-se e vamos conversar um pouco”, Rose disse, apontando o assento vazio. “Não há muito que tenha que ser feito hoje e tenho que esperar que ela me envia esses arquivos”.

    “Só um pouquinho. Tenho que aspirar. Tabitha solta mais pelo que qualquer gato que já vi”, voltou a encher a xícara da jovem mulher. Sentou-se na cadeira que lhe havia sido oferecida e bebeu um gole de seu café. “Eles eram exatamente um monte então”.

    “Acho que a independência que veio em estar ausente do lar deve ter sido muita, não é?”. Meteu uma mecha perdida de cabelo loiro atrás de sua orelha. “Com certeza Ronnie passou por momentos duros com isto”. Viu o piscar dos olhos da mulher mais velha e sabia que teria de pisar com cuidado. “Ela me contou sobre Chris”.

    “Essa foi uma coisa muito triste e é algo que não gosto de falar”. Maria disse, baixando o olhar a mesa. Bebeu vários goles de seu café. “Algumas pessoas são só lixo, Rose. Simples e sinceramente”.

    “Maria, posso lhe fazer uma pergunta?”. Com o receoso cabeceio, respirou profundamente e continuou. “Você acha que eu estou usando Ronnie?”.

    “Não importa o que eu penso. O que importa é o que ela pensa”. Esvaziou sua xícara e deu a Rose uma séria olhada. “Odiaria vê-la machucada assim outra vez”.

    “Não sei como alguém que possa conhecer Ronnie por qualquer espaço de tempo queria usá-la”, Rose disse suavemente, seu olhar flutuava de Maria a mesa e a ela novamente. “Tem o coração mais bondoso que qualquer pessoa que eu já tenha conhecido e não quero dizer só por ser generosa. Deve ter sido devastador para ela confiar em alguém e ter essa confiança quebrada”. Não tinha idéia que os pensamentos da governanta foram imediatamente ao Porshe completamente restaurado metido na garagem. “Estando nessa idade, tendo algo tão particular exposto a seus pais…” Rose mexeu sua cabeça. “Só não posso imaginar por que alguém seria tão cruel com ela. Você conheceu Chris?”.

    “Não, o escavador de ouro, nunca se apresentou aqui”, Maria disse. “Eu só falei com ela por telefone”.

    Bingo. A grande pergunta foi respondida.

    *********

    Delores Bickering dirigiu sua oxidada Station Wagon dentro da garagem do estacionamento público e o meteu no primeiro lugar vazio, não se importando que fosse reservado para os deficientes. Se recebesse uma multa, terminaria no porta-luva com o resto das que já havia recebido. As multas e o seguro não eram coisas na que escolhia gastar seu dinheiro. O pacote vazio de cigarros bateu no chão quando acendeu o último e se afastou de seu carro. Se as coisas acontecessem da maneira com que havia planejado, teria dinheiro suficiente para os cigarros antes que o dia tivesse terminado.

    Os Cartwrights sempre gostaram de coisas grandes. Quando o Hotel Wellington foi construído no final dos anos 20, esta torre sobre o menor edifício Cartwright na porta seguinte também foi construída. O avô de Ronnie a tomou como um desafio e o resultado foi à construção de um dos maiores edifícios de Albany, mais de trinta andares. Delores estava parada diante deste e fez uma expressão de indiferença ao olhar o grande logotipo entalhado em granizo vermelho sobre as portas. Empurrou-se através das portas giratórias e entrou no espaço vestíbulo. Na parede estava uma placa de metal dando as boas vindas e os escritórios corporativos de Cartwright. Abaixo deste estava um diretório de departamentos junto com os andares nos quais estavam situados.

    Ronnie estava terminando um pote de fruta, quando a campainha soou. “Sim. Laura?”.

    “Hum… há alguém aqui que quer lhe ver”, disse a vacilante voz.

    “Quem?” Deu uma rápida olhada em sua agenda na qual não mostrou nenhuma entrevista para esta tarde. Ouviu sua secretária perguntar o nome do visitante e apertou sua queixada tão logo que reconheceu a voz. “A mantenha aí fora por um minuto”. Desligou o telefone e bateu suavemente a caneta contra a mesa. Droga, o que essa cadela está fazendo aqui?

    A resposta veio a ela imediatamente. Seu primeiro instinto foi lançar Delores para fora, mas quando abriu sua boca para falar, Ronnie notou algo que a fez mudar de decisão. Girando ao redor em sua cadeira, alcançou o mouse e fez clic acedendo o ícone de segurança. Sua contra-senha e alguns toques a mais no teclado, uma pequena luz vermelha se acendeu na câmara de segurança colocada discretamente no canto superior de seu escritório. Era hora de expor Delores Beckering ao que ela realmente era. “Mande-a entrar”.

    “Bonito escritório”, a mulher grande balançou a cabeça aprovando quando deu uma olhada. “Você emprega?”.

    “Não”. Ronnie não podia acreditar que tivesse o descaso de fazer essa pergunta. “Você não está aqui para me perguntar sobre um trabalho”.

    “Vim falar com você sobre Rose”. Desabotoou sua suja jaqueta amarela e tirou o gorro de tecido, enviando flocos de neve sobre o espesso tapete Borgonha. “Você sabe que sou a coisa mais próxima de uma mãe que ela jamais teve”.

    “Se você diz”. Oops, não quero que Rose me veja sendo hostil com a cadela. Forçando um cortês sorriso em seu rosto, disse com uma voz mais cuidadosa. “E para que você desejava me ver? Por favor, sente-se”.

    Delores se deixou cair no sofá e lançou sua jaqueta na almofada mais longe. “Pensei que alguém como você teria café para seus visitantes”. Olhou de maneira irônica a cafeteira vazia na mesa lateral. “Especialmente para aqueles que são parentes de seus amigos”.

    Os olhos de Ronnie se apertaram, mas guardou sua língua. “Disse que desejava falar comigo sobre Rose?”.

    “Encontrei uma maneira de lhe ajudar a sair disso”.

    “Ajudar-me a sair disso?”.

    “Sim”. A mulher grande se incorporou. “Encontrei um trabalho para ela em Cobleskill. Pode começar na segunda. Pagam seis dólares por hora”.

    “Por que ela precisaria trabalhar em Cobleskill? Isso está à uma hora daqui. Além disso, você notou que ela tem duas pernas quebradas? Ela não está em condições para trabalhar”.

    “É um escritório de telemarkenting. Não terá que ficar de pé, só é falar ao telefone. Por certo acho que terá que voltar a morar comigo”.

    “Ela já lhe disse que quer morar comigo. Por que mudaria de opinião agora?”. Que vantagem está tentando tirar? Fazer com que Rose escolha entre nós? Está enganada se vou deixar que a leve para longe de mim.

    Delores balançou sua cabeça. “Você não entende. Eu e Rose temos um acordo. Ela me deve por ter cuidado dela e prometeu me ajudar de qualquer maneira que pudesse”.

    “Deixe-me entender. Quer que ela more de novo com você e trabalhe nesse emprego de telemarketing para que possa lhe dar dinheiro?”.

    “Acho que é o justo. Viveu debaixo de meu teto e comeu minha comida por anos sem pagar nada e já é tempo para que me devolva o que gastei”. Delores cruzou os braços e esperou.

    “Então ela deve a você por tudo o que fez por ela quando ela viveu com você?”. Soava ridículo, mas não riu. Não posso acreditar. Rose merece muito mais em sua vida que um pedaço de lixo como você.

    “Você pode considerar dessa maneira. Eu considero desta forma. Poderia ter alugado seu quarto a alguém que pudesse ter me pagado. Deve-me o dinheiro que perdi por não poder alugá-lo. Quando partiu tive que começar a pagar uma babá nas noites de bingo e os bolos. Minha generosidade pôde ir só até agora. Não sou rica, você sabe. Não posso me permitir ser tão caridosa como você”.

    Tra… Ronnie agarrou a beira de sua mesa. Sua cadela. Agora não tinha dúvida sobre a razão pela qual Delores havia vindo a seu escritório.

    “Decidiu que Rose lhe deve dinheiro porque viveu com você quando era uma adolescente, é isso?”.

    “Exatamente”.

    “E dado que lhe deve todo esse dinheiro acha que ela deve morar com você para trabalhar nesse emprego para que possa lhe pagar o que lhe deve, correto?”.

    “Correto”.

    Os lábios de Ronnie se puxaram para trás dentro de um sorriso muito mais parecido a uma cobra justo antes de atacar.

    “Mas visto que eu sou sua amiga você pensou em vir aqui e ver se havia algo que eu pudesse fazer, correto?”.

    “Bem, não estamos falando de muito para alguém como você. Se for realmente sua amiga penso que desejaria ajudá-la”. Delores disse de maneira indignada.

    “E eu poderia ajudar a Rose pagando sua divida com você, essa é a idéia?”. Ronnie estava cansada do jogo e de olhar a mulher suja que estava tentando usar Rose. Hora de ir ao ponto. “Quanto?”.

    “Bem, você tem que levar em conta todo o tempo que viveu comigo e então…”.

    “Diga quanto?” Ronnie fez o possível para manter a hostilidade fora de seu tom. “Vamos, estou certa de que você já tinha uma cifra em mente quando entrou aqui. Quanto acha que Rose lhe deve por cuidar dela?”. Tirou seu talão de cheques da gaveta e o abriu.

    “Cinco… não, dez mil”.

    “Dez mil dólares e você se afastará e deixará Rose em paz?”.

    O signo de dólares dançava diante dos olhos de Delores e a avareza cantou em seu coração. Quase esteve de acordo, então percebeu que a rica mulher estava fazendo as coisas muito fáceis. “Espere”. Levantou-se e aproximou-se da mesa, apoiando as redondas mãos na polida madeira. “O que diria se lhe dissesse que queria quinze mil ou talvez vinte?”.

    “É o que lhe você gostaria?”.

    “Você está disposta a me dar vinte mil dólares?” A desconfiança apareceu. “Por que?”.

    “Tenho minhas razões”. Pegou a caneta para endossar o cheque e parou. Não tinha a intenção de usar a caneta que Rose havia lhe presenteado. Procurou na gaveta, tirou outra e começou a escrever.

    “É B-i-c-k-“.

    “Sei como se escreve”.

    “Sabe”, Delores riu de maneira nervosa. “Sempre soube que encontraria alguém que a acolhesse”. Seus olhos se dilataram quando os zeros foram acrescentados à casa da quantia. Sensação de vitória dentro de sua visão, então relaxou e aproximou sua cadeira a mesa, muito, para irritação de Ronnie. “Vinte mil dólares. Humm. Pode não parecer muito a você, mas posso conseguir um novo reboque com isso”.

    Ronnie se levantou e arrancou o cheque do talão. “E pelo custo de um reboque você está disposta a sair da vida de Rose e a deixá-la em paz para sempre, correto?” Delores estendeu a mão pelo cheque, mas Ronnie o susteve no ar. “Este é o trato. Por vinte mil dólares você não voltará, nunca ligará ou passará perto. Você se esquecerá que ela existe”.

    “Dê o cheque e me esquecerei de tudo sobre ela”, Delores prometeu, seu indicador e polegar agarraram a ponta do papel.

    “Você nem deseja se despedir dela?”. A executiva susteve o cheque firmemente, negando-se a entregá-lo sem uma resposta. Não esperava ouvir o que ouviu.

    “Por que? Isso vai valer mais dinheiro se o fizer?” Delores a olhou na expectativa.

    Ronnie se esqueceu sobre o vídeo que estava gravando com o shock ao ouvir as frias palavras. Com um movimento irritado puxou o cheque para trás e se levantou, seu marco de seis-pés se elevou sobre a mulher mais baixa. “Sua cadela”. Os olhos azuis ardiam em fúria. “Você nunca se preocupou com ela, não é?” Seus punhos se fecharam, amassando o cheque. “Você a acolheu só pelo cheque de cada mês e para ter uma babá incorporada!”. Os nós de seus dedos ficaram brancos pela pressão e o cheque sofreu mais dano.

    “O cheque…”. Delores falou. “Temos um acordo”.

    Ronnie baixou sua cabeça, o longo cabelo escuro escondeu seu rosto. “O dinheiro. Isso é tudo o que você se preocupa, não é?” Sua voz era reservada, baixa… A calma depois da tormenta. “Você usou Rose pelo dinheiro. A usou como uma filha para obter o dinheiro do estado e quando estava lutando para sobreviver você tomou o dinheiro dela”. Levantando sua cabeça de uma vez, Ronnie cruzou os olhos com o da mulher que odiava. “Agora está deitada ali com duas pernas quebradas e ao invés de você se preocupar com ela você está tentando conseguir dinheiro de mim”.

    “Você quer se desfazer de mim? Dê-me o cheque e eu irei embora”. A mulher grande estendeu sua mão.

    “Você quer o cheque?” Ronnie abriu o amassado cheque, depois o estendeu diante dela. O rasgou cuidadosamente em dois, depois colocou os pedaços juntos e os rasgou outra vez. “Tenho certeza que o Estado de Nova York lhe pagou muito mais do que você gastou com Rose”. Outro rasgão. “Houve semanas que ela não tinha nada o que comer, mas, no entanto não deixou de lhe enviar um cheque porque você conseguiu convencê-la de alguma maneira que lhe devia”. Lançou o monte de confetes sobre a mesa. Delores só pôde ficar parada ali e ver como seu plano se desmoronava. “Você usou Rose pela última vez. Saia de meu escritório antes que eu faça a segurança lhe enxotar”.

    “Você não pode…”.

    “Não posso o que? Lançar a um aventureiro folgado para fora de meu próprio edifício?” Ronnie pressionou seus nós contra a mesa para evitar ir até o outro lado e bater na asquerosa mulher. Os músculos em seus antebraços agrupados e apertados estavam preparados. “Você machucou Rose e não permitirei que faça outra vez. Você não merece saber que de alguém tão amável e terna como ela. Chegue perto de minha casa e farei com que lhe prendam. Uma chamada telefônica, uma carta, qualquer intenção de fazer contato com ela e farei de sua vida um inferno”.

    Com todas as perspectivas do dinheiro idas, Delores não tinha nada mais o que perder. “Você pensa que é tão inteligente com todo seu dinheiro de merda. Você não é NADA!” Arrebatou de sobre o sofá sua jaqueta e seu gorro. “Você pensa que Rose era a única criança adotiva que tive?” A porta se abriu e dois robustos oficiais de segurança entraram, sem dúvida chamados por Laura depois de ouvir os gritos.

    “Algum problema, Srta. Cartwright?”.

    “Acompanhem a essa…” Cadela veio a sua mente, mas um sentido de decoro tinha que ser mantido no escritório. “… intrusa para fora e se assegurem de que jamais entre outra vez”.

    “Vocês mantenham suas mãos afastadas de mim”, Delores agarrou sua bolsa e estourou diante dos homens uniformizados. “Certifique-se de que Rose saiba que você foi à única que não me deixou falar com ela. É sua culpa”. A porta externa do escritório se fechou, deixando uma Laura confundida e uma furiosa Ronnie paradas ali.

    “Laura, tire o resto do dia de folga. Vou para casa mais cedo”. Fechou a porta e se aproximou de sua mesa. Os pedaços do cheque foram jogados no lixo e sua apreciada caneta foi colocada novamente dentro da gaveta de sua mesa.

    Houve umas rápidas batidas antes que sua porta fosse aberta. “Ronnie?”. A cabeça de Susan surgiu na porta. “O que aconteceu? Ouvi que ligaram para a Segurança do seu escritório”.

    “Nada importante, só um certo assunto do qual tive que cuidar”. Agitou sua mão em um gesto depreciativo. “Não se preocupe com isso”.

    “Sabe que vou averiguar de qualquer maneira. Pode também me dizer”. A ruiva entrou e fechou a porta.

    “Tenho direito a algo de vida privada”. Afundou-se em sua cadeira, um profundo suspiro escapou de seus lábios. “Deixe isso para lá, irmã”.

    “Tem haver com Rose?” O rápido girar de sua cabeça respondeu a pergunta de Susan. Um torpe silêncio caiu entre elas por vários segundos antes que ela falasse outra vez. “Humm…”. A Cartwright mais jovem baixou o olhar a suas unhas. “Se, hum… bem, sei que você realmente não tem alguém próximo a você exceto Rose e bem, suponho, eu. Se… se precisar falar com alguém… bem, estou aqui”. Endireitou-se e deu um passo atrás. “Os meninos estão perguntando quando podem ir outra vez”. Limpando sua garganta, Susan continuou e seu olhar caiu sobre sua irmã mais velha. “Quando expliquei a John que Rose vivia com você, ele me perguntou se isso a fazia sua tia também”.

    “Já lhe disse…”. Ronnie começou só para ser detida por uma mão levantada.

    “Eu sei. Disse-lhe que não era, mas se isto estivesse bem para ela, ele poderia chamá-la assim”.

    Baixando o olhar a sua mesa, a executiva sorriu, entendendo o indecifrável gesto detrás das palavras. Levantou-se e mesmo nunca sendo muito carinhosa com sua irmã, Ronnie se aproximou e envolveu seu braço ao redor dos ombros de sua irmã. “O que você acha de amanhã à noite? Tenho certeza que Rose não pode esperar para ter seu individuo de luta livre pisoteado outra vez”. Soltou o casual abraço. “Mas o que lhe parece se eu lhe levar para comer algo? Em algum lugar agradável, que tal o Maurice ou Giovanni?”.

    “Oh, isso soa maravilhoso, mas o que você acha de provarmos esse novo lugar chinês em Westem Aveniue? Ouvi dizer que tem uma comida excelente”.

    Um pequeno ícone na tela chamou a atenção de Ronnie. Como no começo lembrou da fita de vídeo. “Hum… sim, isso soa maravilhoso”. Girou-se para seu computador e desligou a câmera. “Por que não vai pegar seu casaco e me encontra lá embaixo no vestíbulo? Tenho um par de coisas aqui que necessito terminar”.

    *********

    Ronnie levou para casa o vídeo e o escondeu em seu quarto, não vendo razão para mostrá-lo a Rose em seguida. Sabia que a fita machucaria sua apreciada amiga e essa era a última coisa que queria fazer outra vez. Em seu lugar essa noite e as outras que se seguiram foram passadas ambas dormindo uma junto à outra na cama ajustável vendo televisão ou no sofá assistindo a filmes. Às vezes elas renunciavam ao entretenimento eletrônico e só passavam o tempo trançando o cabelo uma da outra ou pintando suas unhas. Era uma confortável rotina da que desfrutavam enormemente. Não fizeram menção sobre os ajustes de continuarem dormindo juntas e Ronnie estava muito bem com isso. Se tivesse a forma dormiria sempre juntas. Amava a maneira em que o corpo de Rose cabia contra o seu. Nunca falaram sobre os crescentes abraços e os carinhosos toques, mas Ronnie observou que eles eram instigados por ambas em partes iguais.

    Não precisando mais de Karen, Rose encheu seus dias trabalhando em projetos para Ronnie. Além de melhorar suas habilidades, também aprendeu a maneira em que a empresa de sua amiga funcionava. Agora pelas tardes não falavam somente de si mesmas ou do que estava passando na televisão, falavam de algo mais. O último degelo de janeiro continuou por dentro de fevereiro, prometendo uma primavera antecipada. Já se via mais pasto no jardim traseiro do que a neve e o sol que surgia através das janelas era suficiente para esquentar o quarto sem precisar subir o termostato. Claro que a noite havia o calor acrescentado do corpo de Ronnie para mantê-la quente. Era durante essas últimas horas da noite que Rose pensava sobre sua relação com sua amiga de cabelo escuro. Com exceção do trabalho, Ronnie estava a seu lado constantemente, não que Rose se queixasse. Alegrava-se com o tempo em que passavam juntas. Freqüentemente, enquanto viam televisão, sua cabeça se apoiava contra o ombro de Ronnie ou no colo da mulher mais velha. Desfrutava desse tempo todo o possível. Ronnie poderia distraidamente acariciar seu cabelo ou deixar uma cálida mão sobre seu ombro. Elas estavam muito mais à vontade uma com a outra agora. Os iniciais abraços na cama não foram mais assuntos tensos, vacilantes. Agora, quando chegava à hora de dormir, o braço de Ronnie se envolvia ao redor de sua cintura e a cálida respiração fazia cócegas em seu pescoço quando elas moldavam seus corpos juntos.

    Rose pensava constantemente no carinho cada vez maior entre elas. Os abraços eram comuns acontecimentos e Ronnie os fomentava ainda mais. Parecia que podiam sentir as necessidades uma da outra, pelo menos estava certa de que Ronnie podia sentir as suas. Quando a dor em suas pernas aparecia, os fortes braços a confortavam e consolavam. Quando uma lágrima a sacudia por um filme romântico que motivava a necessidade de ser abraçada, não fazia discurso ou petição indireta, elas só se aconchegavam uma contra a outra. Mas mesmo desfrutando da atenção e do carinho, Rose não estava certa de estar pronta para algo mais ou se Ronnie estava inclusive interessada. Não haviam acontecido beijos desde que estiveram debaixo do muérdago no Natal e suas conversas permaneciam longe dos assuntos do coração ou do sexo. Deliberado ou não por parte de Ronnie, Rose não estava certa. Só sabia que ela estava evitando, seus sentimentos eram muito confusos inclusive para pensar em dar-lhes voz.

    Como sempre. Elas estavam deitadas na cama vendo Dateline e a cabeça de Ronnie estava apoiada contra seu ombro. Rose baixou seu olhar ao sedoso cabelo escuro misturado com o seu próprio cabelo. Sua companheira parecia tão relaxada, tão calma. Tendo seu braço preso entre seus corpos isso fez com que sua posição resultasse desconfortável. “Levanta sua cabeça por um segundo”.

    “Hum? Desculpe, estou lhe machucando?”. A preguiçosa voz disse a Rose mostrando o quanto relaxada a executiva estava.

    “Em absoluto. Só quero mover meu braço”. O fez rápido e o envolveu ao redor dos ombros de Ronnie antes que a mulher mais velha pudesse se afastar. “Agora volte aqui”. Fez tão rápido, mas de forma suave e foi recompensada com a cabeça de sua companheira apoiando-se sobre seu seio direito. “Confortável?”.

    “Humm, muito”.

    “Bom”. O comercial terminou e a atenção de Ronnie foi novamente à televisão. Rose, porém não. Seus dedos começaram a puxar suavemente os longos cabelos escuros. “Você tem o cabelo tão suave”.

    “Se você diz. No entanto, acho que o seu é mais suave. O meu é mais grosso”.

    Os dedos de Rose afundaram-se no cabelo de Ronnie e começaram a massagear seu couro cabeludo. “Humm, pode ser que você tenha razão sobre isso”, concordou. Mas gosto muito mais de tocar o seu. Lentamente os pequenos círculos que estava fazendo com seus dedos se moveram mais para baixo até que eles estavam acariciando a suave pele do pescoço de Ronnie. A televisão foi completamente esquecida por ambas mulheres à medida que a massagem continuava. Quanto vai me permitir? Um solitário dedo se aventurou debaixo do suave algodão da camisa por um segundo então puxou esta para trás. Outra vez. “Chris algum vez esfregou seu pescoço assim?”.

    Ronnie se agitou, seus olhos se pareciam muito a esses cervos cegados pelos faróis. “Hum, n-não…”. Engoliu, sua garganta repentinamente seca. “Por que a pergunta?”.

    “Só me perguntava”. Rose vacilou, a pergunta não lhe pareceu mais uma boa idéia. “É só… bem, você gosta disto tanto. Pensei que alguém já tivesse feito isto por você antes”.

    “Chris e eu…”. Ronnie procurou as palavras certas. “Nós não éramos…”. Era um cara ou coroa entre o que estava mais seco, seus lábios ou sua garganta. “Não estávamos fisicamente próximos. Não houve muitos abraços”. Sentou-se completamente e se moveu até que ficou de frente a Rose. “Então, pensei que era amor verdadeiro”. Um depreciativo riso deixou ver a velha dor. “Agora sei melhor”. Baixou sua cabeça e olhou as mãos. Rose permanecia silenciosa, sentindo a luta de Ronnie com algum demônio interno. Finalmente a alta mulher escolheu a saída mais fácil. “Pelo menos o sexo era bom”.

    As brincadeiras não estão funcionando comigo. Conheço você muito bem, Verônica Cartwright. “Sabe odeio Chris por ter lhe machucado assim”. Estendeu a mão e colocou seus dedos debaixo do forte queixo, forçando aos olhos azuis a se encontrarem com os seus. “E não odeio a muitas pessoas neste mundo”.

    Ronnie tirou a mão de seu queixo e a segurou dentro das suas. “Curioso”. Baixou o olhar a suas mãos, seu polegar de maneira ociosa tocava os nós dos dedos da mulher menor. “Sinto a mesma coisa em relação as pessoas que lhe machucam”. Fez uma pausa por um momento, o medo a ameaçava de manter as palavras presas dentro dela. “Você é muito especial para mim, Rose”. Sua cabeça levantou-se e por vários longos segundos se olharam fixamente uma a outra.

    Oh meu Deus, vai me beijar? Rose não estava certa se estava excitada ou assustada quando seu coração começou a bater acelerado. Seus lábios se separaram um pouco em um convite inconsciente.

    Estava a ponto de se mover para frente quando viu os resplandecentes olhos azuis piscarem e olharem para outra parte.

    “Acho que isto é bastante sério para falar esta noite”, Ronnie disse, e contra a vontade soltou a mão da jovem mulher. O mágico feitiço se quebrou e ambas sentiram uma grande sensação de decepção. Outra oportunidade perdida… Outra ocasião desperdiçada.

    Rose ainda estava pensando sobre esse momento muito tempo depois que já havia anoitecido. Virou seu rosto para olhar a mulher adormecida junto a ela. Queria que tivesse me beijado. Você queria isso também? Cuidadosa de não incomodar sua companheira, se apoiou em seu cotovelo direito e colocou seu cabelo atrás de sua orelha. Com indecisão baixou os lábios ao rosto de Ronnie e plantou um suave beijo ali. Seus olhos se ajustaram na escuridão, Rose viu tanto quanto sentiu o pequeno sorriso vir do rosto da adormecida mulher. “Te amo”, sussurrou antes de se recostar em seus travesseiros. Entrelaçou seus dedos com os que descansavam sobre seu ventre, a jovem mulher fechou os olhos.

    “Também te amo”, Ronnie murmurou adormecida, inconscientemente se arrumou mais próximo. Rose mostrou uma expressão assustada um minuto antes que se desse conta de que sua amiga estava dormindo. Virou seu rosto para apóiá-lo contra a cabeça de cabelos escuros e logo adormeceu também.

    *********

    Ronnie abriu o guia de TV e começou a ler as opções. “’Um passeio pelas nuvens’. Está programado. Nós já vimos essa. ‘Sabrina’, essa é irritante”. Virou a página. “Vamos ver quais estão no pacote pago”. Um suave puxão em seu pulso a forçou a mover o guia para que Rose pudesse olhar com ela.

    “Há esse novo filme de Jim Carrey”, a jovem mulher ofereceu.

    “Odeio Jim Carrey. Olha, Bruce Wills explodindo outro prédio”.

    “Odeio os filmes de ação. Vamos ver um romance”.

    “Por que um romance e não uma comédia?”.

    “Bem, este é o Dia de San Valentin, boba”.

    “Se duas pessoas estão realmente apaixonadas não precisam de um dia para celebrar este”.

    “Verônica Cartwright você é tão cínica. Dê-me isso”. Rose tomou o guia de TV e começou a procurar através das páginas. “Sabe que poderíamos jogar ou fazermos algo que prefira. Vi que você está dois níveis acima de mim no ‘Rescuer of the Miden’”. Riu do envergonhado sorriso na cara da mulher mais velha. “Como faz isso, joga quando estou dormindo?”.

    “É um vício. Vamos, encontremos algo para nós vermos”.

    Quinze minutos mais tarde a televisão ainda não oferecia programas apropriados para serem vistos. “Há o que, cem, cento cinqüenta canais nisto e nós não podemos encontrar nada para ver?”.

    “Isso é porque não quer ver nenhuma história de amor e eu não quero ver nenhum desses filmes onde todos correm rapidamente fazendo os prédios explodirem”, Rose respondeu.

    “Muito para a televisão”, Ronnie pressionou o botão de desligar e lançou o controle remoto sobre a mesa de café. “Esse é um emocionante Dia de San Valentin”.

    “Se você está aborrecida então vamos fazer algo diferente”.

    “Como o que?”.

    “Poderíamos jogar ou fazer as unhas uma da outra ou algo assim”. Rose também não sabia o que fazer. Embora nunca tivesse acreditado que poderia acontecer, estava realmente bastante aborrecida neste momento. Em dois meses juntas haviam conseguido ver cada filme que Ronnie possuía e jogar cada jogo da casa várias vezes. Realmente não havia muito que fazer exceto…”Conversar”.

    “Humm?”.

    “Vamos fazer um pouco de chocolate quente, recostamos e conversamos. Você sabe, uma de nossas infames conversas de garotas”. Os olhos de Rose tinham um brilho travesso.

    “E qual exatamente seria o tema da conversa esta noite? Não estarei fazendo ‘reviver’ seus momentos mais embaraçosos outra vez”.

    “Oh vamos, você já se interou de algumas coisas bastante embaraçosas sobre mim”, a jovem mulher repreendeu.

    “Bem, isso é verdade”, Ronnie concordou. “E você fica nessa sua tonalidade mais linda de vermelho. Ok jogarei, mas vamos até a cozinha e façamos o jantar enquanto conversamos”.

    Quinze minutos mais tarde Rose estava sentada na mesa da cozinha cortando cebolas enquanto Ronnie estava parada na plataforma fatiando champignon. “Responda-me algo”, a jovem mulher disse enquanto limpava o interminável rio de lágrimas. “Por que sou eu quem termina sempre cortando a cebola?”.

    “Oh, não posso suportá-las, me fazem chorar”, a mulher mais velha disse descaradamente.

    “Você tem sorte de não estar ao alcance de minha mão, Srta. Cartwright”, avisou de maneira brincalhona. Ronnie serviu o fumegante chocolate quente em duas xícaras, então acrescentou mini-melcochas¹. Trouxe uma para mesa e a outra deixou ao alcance da jovem mulher.

    “Estou ao alcance de sua mão agora, o que é que vai fazer sobre isso?” A inteligente executiva percebeu seu erro um segundo depois quando os pequenos dedos deslizaram ao redor de sua cintura e começaram a fazer-lhe cócegas sem piedade. “Oh, hei pára, hei, hei, vamos já, Rose só estava brincando”. Saiu para trás fora do alcance das brincalhonas mãos. “Espere-me…” disse entre respirações. “Quando estiver fora dessa cadeira… vai me pagar”.

    “Sim. Você e qual exército?” Rose sorria de orelha a orelha, obviamente completamente orgulhosa de si mesma. “Parece que eu só preciso de minhas mãos para lhe derrotar, oh poderosa guerreira do mundo corporativo”.

    “Isso é porque conhece meus pontos fracos”, Ronnie respondeu. E estou indefesa quanto a resistir a você. Aproximou-se por detrás da cadeira e colocou as mãos nos ombros da mulher menor. “E uma fraqueza agora mesmo é que estou morrendo de fome. Quer seu bife assado ou refogado?”.

    “Surpreenda-me”.

    “Refogado foi o que disse? Sai em seguida”. Deu-lhe um suave aperto e caminhou até a geladeira. “Oh, há torta com creme para a sobremesa”.

    “Soa maravilhoso. Maria seleciona sempre a melhor comida”, Rose disse. “Você estava praticamente babando em cima do frango à noite”.

    “Outra de minhas fraquezas”, disse enquanto reavia os bifes e a manteiga.

    “Terei que lhe dizer que aos seus possíveis pretendentes que o caminho do seu coração é através de seu estômago”.

    E terá que lhes dizer que meu coração já está dado, Ronnie pensou para si mesma. “E sobre você? Que coisas secretas eu deveria saber para dizer a seus possíveis pretendentes?” Observou com atenção que Rose olhava a tudo menos a ela. “Que é isso? Não estou lhe entendendo”. Ninguém pode entender esse murmúrio. Vamos, Rose, me deixe entrar.

    “Humm…”. Seus dedos remontaram o delicado desenho de seu guardanapo. “Eu tenho”, finalmente respondeu com um encolhimento de ombros. “Acho que nunca realmente pensei no que desejaria em um amante”.

    Ah, agora estamos chegando a algo interessante. “Ok, então pense nisso agora. Vamos começar com o básico alto, moreno e atraente. Agora o que mais?” Colocou os bifes para cozinhar, pegou sua xícara, e se dirigiu até a mesa.

    “Bem, acho que desejaria alguém que fosse inteligente, atento, que tenha senso de humor, mas que seja um brincalhão prático, nenhum problema com jogo ou drogas ou algo assim”.

    Por enquanto estou batendo em uns mil. “Estar atento a suas necessidades e desejos…”.

    “Mas não a suas custas”, Rose interpões.

    “Apropriado”, concordou. Suas próprias? Sua sobrancelha se levantou levemente. “Ok, o que mais?”.

    “Humm”. A jovem mulher golpeou levemente seu dedo na ponta de seu queixo. “Oh, bem que tenha honra e seja confiável. Que nunca me mentisse. Tem que haver confiança”.

    Whoops, isso não é nada bom. Hei, eles nunca mentissem? O que há com a neutralidade de gênero, Rose? “Não se esqueça que ele teria que poder cumprir cada desejo seu”.

    Rose parecia refletir em um pensamento em sua cabeça por um momento antes de falar. “Não sei como nossos pais o fizeram. Esperar até que estivessem casados para ter sexo”.

    Uau, de onde veio isso? “Hum, odeio lhe dizer minha amiga, mas não acho que eles esperaram. Quero dizer, você compraria um carro sem primeiro dar um passeio com ele para provar?”.

    “Sim, talvez seja por isso que tantos trocam os seus depois de alguns anos”.

    “Acho que eles só estão procurando um modelo mais novo”.

    “Talvez o que estejam realmente procurando não é um carro em absoluto”, Rose falou nervosa.

    “Talvez”. Ronnie respirou profundamente e mergulhou adiante em um perigoso território. “Nem todo mundo está interessado em carros”. Está perguntando se estou?

    “E isso é bom”, a jovem mulher disse rapidamente. “Se alguém prefere ter uma caminhonete que um carro, mais poder para eles”.

    “Eu acho que de qualquer marca, desde que sejam felizes”. Você e eu sabemos que está me dizendo que está bem, não é? Outro pensamento ocorreu a mulher de cabelo escuro. Ou está tentando me dizer que você é? “Há inclusive os que gostam de ambos”. Já estão cobertos quase todos os ângulos.

    “Algumas pessoas não estão seguras do que gostam”. Rose levantou o olhar por um segundo e o voltou a mesa novamente. “Talvez acreditem que gostam de carros, mas agora acham que querem uma caminhonete”.

    Ronnie deixou sair uma profunda respiração. Oh garota, como acha que se supõe responder a isso? “Hum, bem… is-isso está bem também. Mas acho que devem tomar tempo e não se apressarem em algo devido a que pensem que alguém mais pode lhes ser agradável”. Observou os nervosos dedos que golpeavam levemente a asa de cerâmica. “Especialmente se não estão seguros”. Vamos ver se faço isso de maneira correta. “Talvez tenha dirigido somente carros e agora tem um amigo que gosta de caminhonetes. Podem pensar que querem uma caminhonete também, mas realmente não querem”.

    “Então está dizendo que não devem se apressar em algo, inclusive se realmente sentem que querem uma caminhonete?”. Veio a suave voz enquanto os olhos verdes se levantaram até se encontrarem com os de Ronnie.

    “Tiveram alguma vez desejos de ter uma caminhonete antes?” Tanto como as metáforas a conduziam a loucura, a mulher mais velha não desejava fazer algo que pudesse aparecer os fantasmas da obviamente nervosa Rose.

    “Não”.

    “Acho que a melhor coisa é que a pessoa só passe algum tempo passeando de carro por aí com seu amigo para ver se realmente gosta das caminhonetes”. É isso aí, só deixe tudo da maneira em que está, agradável e seguro. O cheiro de carne crepitando lhe deu a desculpa perfeita. “Droga, me esqueci dos bifes”. Ronnie saiu e foi a plataforma. “Agora vê porque Maria não gosta que eu cozinhe”.

    “Oh, pensei que era porque você usa cada panela e cada frigideira da casa”.

    “Vejo que as duas falam de mim quando não estou ao redor”. Ronnie sorriu por dentro com o pensamento. “Espero que sejam coisas boas”.

    “Sobretudo as coisas boas”, Rose brincou. Um incômodo silêncio seguiu-se, quebrado somente pelo crepitar dos bifes quando cada mulher se retirou metendo-se em seus próprios pensamentos. Para Ronnie, a conversa revelou muito mais do que havia esperado. Olhou para Rose. Então sente algo. Não estou imaginando os crescentes toques e abraços. No entanto, seguido a esse pensamento veio o medo. Não acho que você de algum modo me usaria como Christine o fez, mas não posso colocar tudo sobre a linha outra vez. Não posso me arriscar. Nesse momento Tabitha veio saltando na cozinha e Rose moveu sua cadeira para permitir a gata que saltasse em seu colo. Além disso, há o detalhe de menor importância sobre que eu sou a que lhe atropelou. Estou certa de que se esse pequeno pedaço de informação saísse à tona você inclusive nem desejaria ser minha amiga muito menos algo mais. No fundo Ronnie sabia que tinha razão em manter as coisas da maneira em que estavam, não importa o que seu coração lhe dissesse. Havia ferido Rose bastante.

    Na mesa, Rose estava cruzando sua própria agitação mental. Abraçou o ronronante felino pestanejando ao fundo das emoções e fluindo muito próxima da superfície. Então já sabe o que eu sei. Olhou quando Ronnie alcançou o armário para os pratos. Você sabe e não me deseja. Rose não estava certa se estava aliviada ou decepcionada. Seu coração insistiu no último.

    Ronnie colocou dois pratos na mesa. “Precisa de algo mais para beber antes que me sente?”.

    “Não, isto está muito bom, obrigada”. A jovem mulher não levantou o olhar de seu prato. No entanto sabia que esses incríveis olhos azuis estavam fixos nela. “Isto cheira maravilhoso”. Pegou sua faca e o garfo e se concentrou em cortar sua carne. Ronnie se dirigiu ao lado oposto da pequena mesa redonda, depois parou e se sentou ao lado de Rose.

    “Há mais legumes se você quiser”.

    “Não, assim está bem”. A jovem mulher continuou empurrando sua carne ao redor do prato.

    Ronnie pode somente se sentar próxima impotentemente e observar como Rose se retirou metendo-se em si mesma. Odiou a tensão pendendo no ar, mas não estava absolutamente certa do que fazer ou dizer para romper esta. “Hum, se tem alguma pergunta sobre as caminhonetes, hum, talvez eu possa lhe responder”. Oh, isso é brilhante, se repreendeu. “Quero dizer…” parou por um segundo quando a cabeça loira se levantou para encontrar com seu olhar. “Quero dizer… odeio esta torpeza”. Dividiram um pequeno sorriso antes que Rose baixasse a cabeça outra vez.

    “Eu mesma não me emociono especialmente com isso”.

    “Então vamos conversar”. É mais fácil dizer do que fazer.

    “Não sei o que dizer”, a jovem mulher disse em uma queda de voz. O coração de Ronnie se estremeceu pela dor que ouviu ali. Sem pensar esticou o braço e colocou sua mão em cima da mão de Rose. O suave aperto devolvido a deixou saber que o toque era bem vindo.

    “Só diga o que está em sua mente”. Vários pedaços do bife desapareceram antes que Rose falasse.

    “Teve muitas caminhonetes?”.

    “Hum…”. Não era a pergunta que Ronnie esperava. “Não, Christine foi a única”. Aí está, disse seu nome. Vamos conseguir mais desta coisa estúpida de carros/caminhonetes.

    “Oh”. Rose retirou a mão e começou a cortar mais carne.

    “Você não pode me olhar e falar disso, ou pode?”.

    “Não”. Lentamente um rubor se arrastou sobre seu pescoço. “Nunca fui boa falando sobre este tipo de coisas”.

    “Mais na ação do que palavras, hein?” A brincadeira de Ronnie fez exatamente o que esperava que fizesse. Rose lhe sorriu e lhe deu um golpe de brincadeira.

    “Na realidade, quando se refere a isso, não sou realmente muito boa em nenhuma categoria”. Acalmou-se um pouco, mantendo o contanto visual por vários segundos antes de baixar o olhar outra vez. “Não tenho a experiência”.

    “Quer dizer…”. Tem vinte e seis anos. Você não pode ser. “M-mas quando você foi surpreendida no caminho de entrada?” Olhou o lindo rubor voltar ao rosto de Rose.

    “Não estávamos fazendo ‘isso’. Estávamos trabalhando nosso caminho para isso quando fomos surpreendidos”. Afastou seu prato, desistindo de pretender comer. Ronnie fez o mesmo. “Depois disso, bem… isso nunca mais aconteceu”.

    Ronnie lutou para manter um sorriso fora de seu rosto. “Então você… nunca…”. O sorriso se negou a se esconder e teve que olhar para outro lado. “… Hum, sendo levada para um passeio para provar?” Rindo.

    “Pare de rir”. Rose fingiu estar brava, mas o brilho em seus olhos a traiu. “Não. Ninguém me levou para um passeio de prova”. Lançou uma diabólica olhada na mulher de cabelo escuro. “Isso não quer dizer que ninguém olhou debaixo da capota”.

    “Não podemos começar isto outra vez”. Ronnie esvaziou sua xícara e se levantou. “Dado que o jantar obviamente se acabou, vamos para sala de estar e relaxemos no sofá”. Tenho o pressentimento que esta conversa vai continuar e eu preferia falar debaixo da suave luz em vez  desta potente lâmpada fosforescente. “Levarei a torta com creme”.

    “Não se preocupe por mim”. Rose olhou sua amiga abrir a geladeira e tirar uma cerveja. “Me dá uma dessas?”.

    Ronnie a olhou de maneira zombadora. “E sobre seu Percocet? Acho que não deveria beber com ele”.

    “Não tomei nenhum hoje e não tomarei nenhum esta noite”. Rose não era muito dada a bebida, mas neste momento sua boca estava tão seca que estava certa de que poderia esvaziar um six pack sem problema.

    “Está bem”, a mulher mais velha respondeu com indecisão. Talvez não deva beber. Preciso da minha agudeza quando estou com você, Rose. Tirou dois copos do armário e seguiu sua amiga até a sala de estar.

    Deixou as cervejas e os copos na mesa de café justo quando Rose, estava preparada para se transferir da cadeira de rodas ao sofá. “Aqui, deixe-me ajudá-la”.

    “Posso fazê-lo”.

    “É mais fácil se lhe ajudo”. Deu um passo adiante e baixou sua cabeça. Já fazia muito tempo desde que Rose deixou de precisar de sua ajuda e sentia falta da sensação de sustentar a jovem mulher em seus braços. Um braço se deslizou atrás de suas costas e sentiu os braços menores envolver-se ao redor de seu pescoço. Sim, é isso, agarre-me. Colocou seu outro braço debaixo das pernas de Rose e a levantou afastando a cadeira de rodas com seu joelho. Ao invés de colocar sua preciosa carga abaixo em seguida, Ronnie susteve Rose sem problemas, em seus braços e desceu o olhar no rosto que amava. Se as coisas fossem diferentes, pensou quando seus olhos caíram sobre os suaves lábios rosados tão próximos aos seus. No fundo de sua mente sabia que um beijo não seria protestado. Mas o destino às vezes encontra a necessidade de ser cruel, Rose teve que se mover, provocando que o duro gesso de seu molde esfregasse contra o antebraço de Ronnie. Foi um imediato lembrete a executiva de todas as razões de não agir sobre seus sentimentos. Deixou sua amiga abaixo rapidamente, mas suavemente, desviando o olhar antes que mudasse de opinião. Passou para o outro lado do sofá e se sentou de lado na almofada afastada. Um rápido torcer de seu pulso e a cerveja estava aberta. Ronnie não se preocupou com seu copo, tomou vários goles direto na garrafa. “Quer ouvir um fundo musical?”. Oh, isso é brilhante. É Dia de San Valentin. Todas as estações tocam canções de amor.

    “Claro”. Para Rose, qualquer coisa era melhor que o ensurdecedor silêncio. Ronnie brincou de maneira nervosa com os diferentes, controles até que encontrou o correto. Ajustou o volume a um ponto onde poderiam apenas ouvir, então deixou o controle na mesa. Abriu a outra cerveja e a serviu em um copo sem fazer comentários, logo a passou a Rose. “Obrigada”.

    “De nada”. Ronnie se encostou contra o braço do sofá e tomou outro gole de sua cerveja. Olharam uma para a outra, silenciosamente esperando que a outra começasse. Uma canção começou e terminou sem um som de nenhuma das duas mulheres. “Bem, isto é produtivo”, a executiva finalmente disse.

    “Talvez devamos só deixar para mais tarde”, Rose sugeriu.

    “Não. Precisamos falar disto abertamente”. Deu um profundo suspiro e alcançou sua cerveja. Para sua surpresa já estava vazia. “Uau, não tomo uma assim há muito tempo”. Por que estou tão nervosa? Sei o que tenho de fazer. “Rose, você significa muito para mim, sabe disso”. Esforçou-se para encontrar o olhar da jovem mulher, esperando que suas palavras não soassem tão falsas para Rose como o fizeram a seus próprios ouvidos. “Mas tomei uma decisão há muito tempo que a empresa vem primeiro”. Inclusive antes de meu próprio coração. “Não posso voltar a isso”.

    “Chris lhe machucou tão seriamente?”.

    “Sim, ela fez isso”. Ronnie estava olhando seu colo e levantou sua cabeça diante da surpresa do delicado toque em seu calcanhar que estava estendido. “É mais complicado que isso, mas…”.

    “Sua caminhonete está estacionada na garagem e não irá a nenhuma parte”. Rose falou. Suas palavras ganharam um comovente sorriso.

    “Algo assim. Preciso de outra cerveja. O que lhe parece?”.

    “Estou muito bem com esta”. Tomou outro gole e observou quando Ronnie saiu da sala.

    Agora sozinha, Rose sentia o nervosismo que tentava manter sob controle caindo por terra. Seus pequenos goles se converteram em grandes goles e seu copo estava quase vazio no momento em que Ronnie voltou. Olhou para cima, inclinando o corpo dobrando-se sobre a almofada e olhando na expectativa. Acho que agora é minha vez, não é? Tomou outro gole, e o álcool fortaleceu sua coragem. Levantou o olhar até os suaves olhos azuis. “Não sei o que quero”, sussurrou. “Nunca me senti dessa maneira sobre alguém mais, Ronnie”. Apertou o olhar e terminou seu copo, seu coração palpitava com força dolorosamente dentro de seu peito. Rose não tinha idéia de como haviam começado esta conversa, mas sabia que não podia dar meia volta agora.

    “Então aonde nós vamos a partir daqui?” A voz de Ronnie era titubeante, traindo as fortes emoções que lutavam dentro dela. “Não quero perder o que nós temos”. Não quero perder você.

    “Não, sei”. Olhava desejando a cerveja de sua amiga. Ronnie sorriu e a passou. “Obrigada”. Rose tomou vários goles da garrafa antes de a devolver. “Acho que as coisas podem só permanecer igual. Quero dizer, nós somos ainda amigas, correto?”.

    “As melhores amigas”, Ronnie corrigiu, passando a cerveja.

    “As melhores amigas”. A mulher loira sorriu. “E as melhores amigas podem dormir uma junto à outra e não tem significar nada”.

    “Correto, e as melhores amigas, podem ainda se abraçar”.

    “Absolutamente”. Rose estava animada pelo rumo da conversa. “E às vezes…” O rubor começou a levantar-se por sobre seu rosto. “… se esta é uma ocasião especial… elas podem inclusive se beijar”. Suas orelhas queimaram de um vermelho intenso e não se atreveu a levantar o olhar. Se o tivesse feito teria visto a sobrancelha arqueada e o sorriso dirigido a ela.

    “Sim, se houver uma ocasião especial eu não vejo razão ou por que as melhores amigas não possam se beijar”. A mente de Ronnie foi novamente ao bem-aventurado beijo debaixo do muérdago. Censurou-se por tê-lo retirado depois dos dias de festa.

    “Vou lhe contar um segredo”, Rose ainda não podia olhar para ela. “Antes, quando me levantou. Eu hum… pensei… quero dizer eu esperei… que você pudesse me beijar”. Disse as últimas palavras tão baixo que Ronnie quase não as ouviu. Levantou a cerveja e devolveu a garrafa vazia. “Desculpe, não percebi que estava sedenta”.

    “Não tem importância. Há suficiente cerveja. Quer outra?”.

    “Não… sim. Por favor”. Ronnie levantou-se do sofá e se ajoelhou no chão ao lado de Rose. Levantou uma mão e virou o rosto da jovem mulher para ela. “Volto já”. Seu polegar tocou contra um lábio muito suavemente. “Eu desejei lhe beijar também”. Levantou-se e pressionou seus lábios na coroa do cabelo dourado. “Quer sua torta de creme agora?”.

    Com seu medo dissipado, Rose descobriu que sua fome havia voltado. Assentiu e viu Ronnie voltar à cozinha. Desejava me beijar também? Esticou sua mão e tocou o ponto onde os lábios de sua amiga haviam tocado seu cabelo. Quando Ronnie voltou, Rose a recompensou com um sorriso de orelha a orelha e os dedos se arrastaram uns sobre os outros quando a garrafa foi trocada. “Obrigada”.

    “De nada”, disse voltando a seu assento. Sabia que estava pisando em uma linha perigosa, mas não podia parar. “Feliz dia de San Valentin, Rose”. Estendeu sua garrafa, observando que a jovem mulher havia servido a sua em seu copo.

    “Feliz dia de San Valentin para você também, Ronnie”. Os vidros tintinearam juntos e ambas tomaram um grande gole. “Lembra quando na escola primária costumávamos repartir valentines a todos na classe?”.

    “Sim?”.

    “Bem, e de volta então pedíamos que nossos amigos fossem nossos valentines, correto?”.

    “Correto, lembro disso”. Ronnie sorriu. “Rose Grayson, está me pedindo para ser seu Valentin?” Recebeu um tímido sorriso em resposta. “Serei seu Valentin com uma condição”. Deixou a cerveja no chão e se moveu para mais próximo. “Tem que ser o meu, também”. Ajoelhou-se na almofada do lado de Rose, seus rostos a poucos centímetros.

    “Ronnie?”.

    “Hum?” Sua atenção estava somente sobre os lábios da jovem mulher.

    “Poderia o Dia de San Valentin… ser considerado… uma ocasião especial?” Prudentemente amorteceu a cerveja, Rose levantou seu braço e colocou sua mão esquerda ao redor da nuca de Ronnie, as longas mechas escuras resvalavam através de seus dedos. Não houve resposta, só um sorriso e o baixar dos lábios aos seus.

    A lembrança de Ronnie do beijo de Natal se empalideceu em comparação a realidade. O suave e delicado toque dos lábios juntos aos seus a fez ter fome de mais e se viu, mordendo o lábio inferior de Rose com os seus por várias vezes antes de deixar a língua sair para provar a suavidade. Afastou-se um pouco e recebeu um suave gemido de protesto. Oh, sim, poderia facilmente me perder em você, Rose Grayson. Muito facilmente. “Feliz Dia de San Valentin”. Ronnie retrocedeu a uma distância ‘amigável’ e recuperou sua cerveja. Para seu imenso prazer, foi outro segundo antes que os olhos verdes se abrissem e se enfocassem.

    Para Rose, todas as histórias sobre os fogos de artifícios e as campainhas estalando foram reais. Sentia-se absolutamente tonta e não pôde saber se foram os beijos de Ronnie ou a quantidade de álcool que havia consumido. A sensação de formigamento em seus lábios gritou sua escolha e seu coração palpitou com força em acordo. “F-feliz Dia de San Valentin para você também”. Levantou o olhar e viu o sorriso de gato Cheshire na cara de Ronnie. “O que foi?”.

    “Nunca antes meus beijos haviam deixado alguém sem ar”. Esticou sua mão e pegou a da mulher mais jovem com as suas. Olhar da forma em que você me olha. Se você soubesse a verdade… Ronnie deu uma olhada no relógio, observando que era muito cedo para fingir estar cansada.

    “Quer ver um filme?”. Sem esperar uma resposta, alcançou os controles. Um segundo depois a música havia parado, sendo substituída por Chevy Chase fanfarronando no filme ‘Férias’. “Aí vamos nós”.

    Rose deu uma olhada na televisão então novamente na mulher que acabava de lhe beijar carinhosamente. Ronnie negou-se a olhá-la. Você não está me enganando. Esse filme não é interessante. Está assustada com o que? Nunca vou lhe machucar como fez Chris, eu juro. Entendia que sua amiga precisava de um pouco de espaço e Rose estava disposta a lhe dar. A noite havia respondido muitas perguntas. Agora sabia que seus sentimentos eram recíprocos, pelo menos parcialmente. O beijo havia sido a prova. Seu medo de ir mais longe havia sido apaziguado pela declaração de Ronnie que ela não queria tomar sua relação nessa etapa, mas agora Rose precisava… De algo. “Ronnie? Posse deitar em seu colo?”.

    “Eu gostaria muito que você fizesse isso”. Colocaram-se na posição familiar, a cabeça de Rose em seu colo e sua mão suavemente acariciando o dourado cabelo debaixo desta. O toque levava com este um novo significado agora, a luz das recentes revelações. A ternura estava ainda ali, mas envolvida em uma capa de amor que se movia de uma a outra. Os dedos de Ronnie se desviaram para traçar o contorno da pequena orelha escondida pelo cabelo de Rose. A mão apoiada em seu joelho começou a se mover também, traçando ociosos círculos através do algodão grosso de sua calça, movendo-se através de sua pele, fazendo com que Ronnie desejasse tanto estar usando um short para assim poder sentir esses dedos movendo-se através de sua pele. Oh, Deus, como vou agüentar isto? Desceu o olhar a Rose. Se você só soubesse o quanto desejo fazer amor com você neste momento. Não sei se posso agüentar isto, estar tão próxima de você e não poder lhe tocar da maneira que eu quero. Seu dedo indicador percorreu a queixada até o queixo. Te amo tanto, Rose.

    Ao final da noite, era hora para outra prova. A casa foi fechada e as luzes foram todas apagadas para a noite salvo a pequena lâmpada ao lado da cama. Rose estava preparada para se meter na cama quando sentiu os fortes braços de Ronnie envolver-se ao seu redor e levantá-la. “Pensei em ajudá-la outra vez”.

    “Hum, hum”, observou que a alta mulher não fazia nenhuma menção de soltá-la, não que estivesse se queixando. “Acho que lhe devo algum tipo de recompensa por me ajudar?” Um sorriso apareceu na comissura da boca de Ronnie.

    “Bem, você não me ‘deve’ nada, mas se quiser me dar uma recompensa, claro que não vou me importar”. A abaixou até a cama, sua boca estava a centímetros da de Rose. Ambas mulheres estavam completamente conscientes da maneira em que a parte superior de seus corpos estavam juntos se pressionando.

    “Não me importaria”. Sorriu quando seus lábios se encontraram, surpreendidas com o quanto era perfeito este sentimento. Quando Ronnie se colocou para trás, Rose fez o contrário se colocou mais para frente, prolongando o contanto por outro segundo. Muito logo, para sua comodidade, o peso sobre ela se moveu, sendo substituído pelos suaves lençóis.

    “Boa noite, Rose”. Ronnie se acomodou a seu lado, o longo braço se envolveu ao redor de sua cintura como de costume. Sorriu na escuridão. Quando o nervosismo naufragou como devia, o dia havia resultado melhor do que Rose havia pensado que seria. A sua maneira elas falaram de seus medos e sentimentos e agora estavam dormindo juntas como faziam a cada noite. Mesmo sabendo que algumas coisas haviam mudado entre elas, havia muito mais que permanecia igual. Baixou sua mão para entrelaçar seus dedos com os dedos maiores. “Boa noite”, a adormecida voz de Ronnie murmurou quando apertou seus dedos unidos.

    “Boa noite”.

    ********

    No mês que se seguiu, ambas mulheres se ajustaram à nova faceta de sua relação e tudo o que esta levava. A revelação e o reconhecimento de seus sentimentos lhes permitiu mais liberdade quando vinham para demonstrar o carinho uma a outra. Havia muito mais contato e ambas foram bastante criativas quando definiram o termo ‘amigas carinhosas’. Para Ronnie, não havia nada mais agradável que passar uma noite trocando suaves caricias e ternos beijos com Rose enrolada em seus braços. Continuou dizendo que não estava quebrando sua promessa a seu pai dado que ela e sua deusa de cabelos dourados não eram amantes, no entanto com cada olhada, cada toque, Ronnie sabia que estava mentindo para si mesma. Estava cativada pela jovem mulher com o terno sorriso e suave riso e não havia nada que pudesse mudar isso.

    “Penique”.

    “Hummm?” Baixou o olhar para ver uns olhos verdes sorridentes que se levantavam para olhá-la. Estavam em sua posição favorita. Ronnie sentada no sofá com Rose sobre seu colo. Havia se passado quase uma semana e meia desde que o molde direito foi tirado e o esquerdo encurtado justo abaixo do joelho. A diferença do peso era uma benção para as coxas de Ronnie e a suavidade do corpo de sua companheira era também absolutamente bem-vinda.

    “Um penique por seus pensamentos. Parece tão distante daqui, há um tempo”.

    Ronnie levantou sua mão para contornar o rosto da mulher mais jovem. “Nada, só pensando”.

    “Sobre? Ou devo deduzir?”.

    “Sobre você”, disse simplesmente, tirando um sorriso de orelha a orelha de Rose. “Me importo muito com você…”. Seu polegar passou sobre a fina cicatriz na bochecha de sua companheira, veio uma severa lembrança da escondida verdade. “Estou tão contente que esteja comigo. Sou muito afortunada”.

    Rose sorriu e esfregou sua bochecha contra a mão grande. “Eu é quem sou a afortunada”. Travando os olhos azuis com os seus, continuou. “Nunca vou entender por que você me recebeu em sua casa, uma completa estranha, e fazer tudo o que pode para me ajudar”. Encolheu-se mais próxima, apoiando sua cabeça no peito de Ronnie. “Mas sempre estarei agradecida disso. E isto”. Agitou sua mão para indicar sua intima posição. “Você não me empurra e nem me faz sentir incômoda”.

    “Nunca”, a mulher de cabelo escuro disse veemente. “Nunca vou querer fazer algo que lhe faça se sentir dessa maneira”.

    “E você não poderia. Sei disso”. O rosto de Rose ficou sério e se afastou um pouco. “Aposto que quer que eu me apresse e decida sobre se gosto de caminhonetes ou não”. Era uma idéia que brincava com ela constantemente não fundo de sua mente, especialmente depois de alguns muito quentes beijos trocados.

    “Hei”, Ronnie sussurrou. “Isso é algo que só você pode decidir”. Se sujeite aos eufemismos.

    “Sei que já falamos muito sobre isto, mas…”. Vacilou, em absoluto certa de que queria tocar neste assunto com o objeto de seus desejos sentadas em seu colo. “É mais só uma preocupação por outra mulher”. Colocou um dedo para silenciar o protesto de Rose. “Ponha seus sentimentos sobre mim de lado por um minuto. Pense sobre o que significa ser uma… lésbica”. Depois de muitos anos de ficar envergonhada por quem era, Ronnie encontrou dificuldade em dizer realmente a palavra em voz alta.

    “Isso é mais aceitado atualmente”, Rose disse suavemente.

    “Não no meu mundo”. Disse as palavras de maneira mais dura do que era sua intenção, a amargura estava pintada em seu tom. Numa voz mais baixa acrescentou. “Não em minha família”. Sua mente voltou novamente a esse fatídico dia no estúdio de seu pai quando a forçaram a aceitar seu castigo pela vida. Baixou o olhar a sua amada, Ronnie decidiu que se essa fosse a única coisa que a restringisse, poderia ir embora para outro lugar para ter uma oportunidade de estar com sua Rose. A fina e branca cicatriz e o resto do gesso viraram completamente a fechadura nessa porta.

    “Nada precisa mudar”, a suave voz disse simplesmente. “Ambas somos felizes e ninguém está sendo prejudicado”. Ronnie sentiu os suaves braços lhe envolver ao redor e um suave apertão. Feliz devolveu o abraço. “Vamos”, Rose disse. “Sua irmã vai estar aqui logo e estou certa de que você não vai querer ela nos veja assim”. Tentou se afastar, mas se encontrou mantida no lugar pelas fortes mãos de Ronnie.

    “Não quero lhe deixar ir”. As palavras significaram mais que só o momento e Rose sabia disso. Inclinou-se para frente e beijou a mulher de cabelo escuro.

    “Não vou a nenhum lugar”. Seus lábios se tocaram outra vez e o medo foi perdido na cara do amor. Como sempre gostava de fazer, o relógio do avô soou a hora e quebrou o momento. Com a ajuda de Ronnie, Rose levantou-se em sua perna direita e deslizou as muletas debaixo de seus braços. “Onde colocou as canetas? Sabe que os meninos vão querer pintar o gesso novo”.

    “Acho que estão na gaveta da cozinha. Falando nisso, nós provavelmente podemos fazer alguns biscoitos para os garotos”.

    “E para as garotas?” Rose apoiou sua axila contra a parte superior da muleta e usou sua mão livre para apalpar o estômago de Ronnie.

    “Bem”, a executiva agachou sua cabeça e deu um envergonhado sorriso. “Acho que há outra torta de chocolate chips na geladeira”. Dirigiram-se a cozinha.

    “Não conte com isso a menos que Maria tenha comprado os comestíveis ontem”, Rose disse. Entraram na cozinha justo quando a minivan de Susan parou no caminho de entrada.

    Ronnie abriu a porta de correr e os cumprimentou. “Fora do meu caminho, eu primeiro” Ricky o de doze anos disse quando correu passando com o Play Station na mão. Timmy de dez anos e John de seis anos o seguiram rapidamente, ambos faziam a mesma quantidade de ruído que o garoto pré-adolescente. Rose rapidamente se colocou para trás contra a plataforma para evitar ser atropelada pelo trio.

    “Não corram na minha casa”, Ronnie gritou inutilmente.

    “Não sei… eles nunca escutam”, Susan disse quando entrou, seguida por Jack. Viu Rose e sorriu. “Rose querida, Ronnie disse que você estava de muletas”. Aproximou-se e lhe estendeu a mão. A jovem mulher se equilibrou em seu pé direito e devolveu o gesto. “Então as coisas estão melhorando?’”.

    “Sim, tudo está indo vendo bem segundo a doutora Barnes. Só esperando que meu tornozelo se cure completamente”.

    “Bom, muito bom, me alegra que esteja melhorando. No entanto não deveria ficar de pé por muito tempo”. Lançou a sua irmã mais velha uma olhada e puxou uma cadeira. “Você só se sente aqui. Se quiser algo, estou certa de que Ronnie trará para você”. Rose ia começar a protestar, mas decidiu que era mais fácil ceder. Para sua surpresa, Susan se sentou na cadeira ao lado. “Jack, vá ver o que os garotos estão fazendo. Não quero ter que substituir algumas coisas de minha irmã”. Uma vez que ele saiu da cozinha, a ruiva indicou uma cadeira vazia a sua irmã. “Venha sente-se, eu não quis que casualmente os garotos ouvissem isto”. Rose e Ronnie trocaram olhadas confusas quando a mulher de cabelo escuro se sentou.

    “O que está acontecendo? Está tudo bem entre você e Jack?”.

    “Claro tudo está bem entre nós. Nós estamos felizmente casados há treze anos”, Susan respondeu.

    “Então qual é o problema?”. Ronnie decidiu que era melhor não mencionar as aventuras sobre as quais sabia, inclusive a atual.

    “Você sabe daquele broche de diamantes que papai deu a mamãe no vigésimo quinto aniversario?”. A Cartwright mais velha assentiu. Seu pai havia gastado uma extravagante quantia, mesmo para uma família tão rica como a deles. Era uma das possessões mais apreciadas de Beatrice. Susan baixou o olhar a renda da toalha da mesa. “Desapareceu”.

    “Desapareceu? O que quer dizer com desapareceu?”. Os olhos de Ronnie se apertaram com a incredibilidade. “Ela o guarda em seu cofre quando não o está usando, não é assim?”.

    “Ela disse que o havia colocado ali dentro. Somente quatro pessoas sabem a combinação. Mamãe, você, eu… e”. As irmãs olharam uma para outra, então assentiram lentamente em acordo.

    “Tommy”. Ronnie empunhou suas mãos. Rose nunca havia ouvido um nome dito com tanta raiva, como se fosse uma maldição. Sem pensar, estirou sua mão e a colocou sobre a mão maior. Percebeu seu erro imediatamente quando sentiu que a mão maior se encolhia então retirou a sua. Intercambiaram olhares antes que Ronnie falasse outra vez. “Quando descobriu isto?”.

    “Ontem. Você não vai gostar disso”, Susan começou. “Disse que havia ido à casa de sua amiga na terça-feira, noite de brigde, e quando voltou notou que a marca da pintura não estava rente contra a parede, mas não pensou nada sobre isto”.

    “O cofre está atrás do quadro?”. Rose perguntou.

    “Quando foi à última vez que Tommy esteve lá?”. Ronnie perguntou, assentindo ao mesmo tempo a pergunta de sua amada.

    “Sábado à noite”. A ruiva suspirou. “Acho que ele o pegou e eu disse isso à mamãe”.

    “Disse a ela?” A Cartwright mais velha não se incomodou em esconder sua surpresa. “Disse a ela que seu precioso Tommy pode tê-la roubado? O que ela lhe disse?”.

    “Justamente o que você pensa que ela me diria”. Susan respondeu. “Acusou-me de me associar com você contra ele. Disse que não o entendemos e como as coisas estavam difíceis para ele. Mas acho que acreditou em mim”. Virou-se para Rose. “Nossa mãe não vê nunca as coisas tão claras como deveria”.

    “Essa é uma maneira de considerar isto”, Ronnie disse, secretamente satisfeita que sua irmã tivesse convidado Rose a entrar no que obviamente era uma discussão familiar. “Mais precisamente, ela vê somente o que quer ver e algo que incomode sua visão é incorreto”. Suspirou e coçou sua cabeça em frustração. “Nada que possamos fazer sobre o que ela pensa. E sobre o broche?”.

    “Claro que pagaremos pela reclamação. Esse não é o problema”.

    “Não, o problema é um rapaz que pensa que as drogas o fazem um homem. Por que não me ligou para falar sobre isso?”.

    “Porque soube justamente ontem e não quis perturbar seu fim de semana”. Olhou Rose sutilmente. “Além disso, sabia que a veria hoje”.

    Ronnie ignorou a descarada implicação de sua irmã. “E o que vamos fazer sobre ele? Agora ele está roubando sua própria mãe”.

    “Pedi ao chaveiro que passasse por lá e trocasse a combinação de seu cofre. Seguros Cartwright pagarão a reclamação. Realmente não há nada mais que possamos fazer”.

    “Isso é tudo o que pegou, só o broche?”.

    “Sim”, Susan assentiu. “Todas as outras jóias estavam ainda ali. Mas só nós sabíamos que o broche era a peça mais cara ali dentro. Tem aquele colar que parece que vale mais que ele, mas este estava intocável”.

    “Tommy sabe que tudo é valioso. Mamãe só os tira em ocasiões especiais. Provavelmente imaginou que ela não notaria em seguida”. Ronnie olhou para Rose, silenciosamente desejando que elas estivessem sozinhas. Uma profunda cólera fluiu dentro dela e só o abraço da jovem mulher poderia diminuir esta. Ao inferno com isto, você já pensa que nós somos amantes. Respirou profundamente, esticou o braço, e envolveu sua mão ao redor da mão menor de Rose.

    Susan deu o que era claramente um incômodo sorriso. Você começou isto. Ronnie apertou a mão de sua amiga uma vez mais, então a retirou. Deu uma olhada de lado para ver a surpreendida e interrogativa olhada de Rose. Sorriu e esperou que a mulher loira pudesse entender. Às vezes eu só preciso lhe tocar.

    “E… Hum… vamos falar de outras coisas”. Susan disse. “Conseguiu a receita de Maria para o frango recheado?”.

    “Consegui, mas não estou de humor para escândalos ao redor disto esta noite. Vai ter que vir durante a semana e fazer com que ela lhe faça”.

    “Quer dizer aquele com brócolis e aquele molho?” Rose perguntou. “É delicioso. Maria disse que você sempre gostou”.

    “Bem, Ronnie gosta também”. O cativante sorriso da jovem mulher provocou que Susan lhe devolvesse um do mesmo modo. “Maria faz absolutamente os melhores recheios”.

    “Sim ela faz”, a Cartwright mais velha concordou. Rose sorriu para si mesma lembrando da caixa vermelha que dizia ‘Stove Top’ colocada sobre o balcão uma tarde. Decidiu guardar o segredo da governanta. Além disso, havia tentado fazer a Stove Top antes, quando vivia sozinha, e nunca ficou tão gostoso quanto o da Maria.

    Com o assunto liberado do gesto físico e colocado em um assunto mais familiar, Susan visivelmente se acalmou. “É por isso que Ronnie decidiu conservar Maria. Cozinha tão bem, se trabalhasse para mim eu estaria tão grande quanto uma casa”.

    “Às vezes me sinto também dessa maneira”, Rose disse, palmeando seu estômago. Justo então, John entrou correndo na cozinha.

    “Mamãe, quero um pouco de refrigerante”.

    “Precisa pedir, por favor, e tem que pedir a sua tia Ronnie”, sua mãe lhe disse. Ele olhou sua alta tia e repetiu sua pergunta corretamente.

    “Claro”.

    “Tia Rose, posso me sentar em seu colo?”. Olhos assustados se encontraram com sua inocente pergunta. “Por favor?” Ele acrescentou, pensando que esse era o problema.

    “Hum, bem…”.

    “Se a tia Rose quiser deixar que você se sente sobre seu colo, essa é uma decisão dela”, Susan disse. Olhou para Ronnie e assentiu.

    “Claro, se você quiser. Por mim, tudo bem”. Rose empurrou sua cadeira um pouco para trás para lhe dar espaço. Ele rapidamente subiu e envolveu seu braço ao redor de seu estômago para evitar escorregar. “Seus irmãos deixaram você jogar com eles?” Perguntou em seu ouvido.

    “Não, eles não são divertidos para jogar”, John fez cara feia.

    “Jack não é melhor”, Susan disse. “Juro que ao instante em que os controles estão em suas mãos seus trinta anos caem”. O ruído dos garotos discutindo atraiu sua atenção. “Melhor eu ir ver o que estão fazendo antes que um deles mate o outro”. Levantou-se e estendeu a mão a seu filho mais novo. “Vamos, John”.

    “Estaremos ali em um minuto”, Ronnie disse, parada próxima da cadeira de Rose. Uma vez que ficaram sozinhas, se inclinou para um beijo. “Acho que Susan está encantada com você”.

    “Não sei. Quando você me tocou, parecia que havia engolido um inseto”.

    “Mas depois disso deixou que John se sentasse em seu colo e que lhe chamasse de tia Rose”.

    “Hum, isso é verdade”. Permitiu um beijo mais de Ronnie antes de alcançar as muletas. “Já ligou para as pizzas?”.

    “Droga, sabia que estava me esquecendo de algo. De qual todos querem?”.

    “Duas grandes de champignon, duas supremas, e você quer sua de peperoni e champignon”, Rose disse. A estridente voz de Susan veio da sala de estar. Ao que parece havia uma luta de vontades ocorrendo entre ela e seu filho de doze anos, Ricky.

    Ronnie balançou a cabeça. “É melhor eu ir até lá. Pode ligar para mim? É três no marcado rápido”.

    “Claro”. Rose pegou o telefone e pressionou o botão enquanto Ronnie ia evitar a terceira guerra mundial. Conseguiu na primeira tentativa e fez o pedido. Desligou e estava justamente colocando suas muletas embaixo de seus braços quando o telefone tocou. Pensando que era a ligação de volta do lugar das pizzas, Rose o atendeu. “Alô?”.

    “R-Ronnie?”. Não reconheceu a voz, mas entendeu o tom claramente. A mulher no outro extremo do telefone estava chorando.

    “Não, sou Rose”.

    “Você poderia, por favor, dizer a Ronnie que sua mãe está ao telefone? Eu… é muito importante”, Beatrice soluçou.

    “Espere só um segundo”. Dando-se conta de que não podia sustentar o telefone em uma mão e utilizar as muletas, Rose deixou o telefone no balcão e se dirigiu a sala de estar.

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