Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Era madrugada quando a barda abriu os olhos sobressaltada. Viu a guerreira que dormia ao seu lado, mas sabia que havia mais alguém ali. Sentou-se no cobertor, cobrindo o torso e quase gritou quando viu Afrodite sentada ao seu lado.

    – Você não me chamou, mas eu vim – disse a deusa, olhando-a com um misto de tristeza e divertimento.

    – Eu… – a barda estava muito constrangida que a deusa a visse em situação tão íntima – desculpe, Afrodite. Não tinha ideia que viria. Estou muito feliz em vê-la, mas porque a visita surpresa?

    A deusa suspirou, uma lágrima escorreu do olho da imortal. Gabrielle se alarmou com a visão. Deixou o pudor de lado, soltou o cobertor e segurou as mãos da deidade. Nunca tinha visto aquela expressão em seu rosto.

    – Afrodite, o que aconteceu?

    – O que aconteceria mais cedo ou mais tarde – Afrodite acariciou seu rosto – seu coração não é mais meu, vim devolvê-lo.

    A barda arregalou os olhos.

    – Eu sei que você sentiu quando a beijou – continuou a deusa – eu sei, porque eu sinto junto com você e todos os mortais que verdadeiramente amam. Mas especialmente com você.

    Gabrielle baixou os olhos. Ainda não tinha parado para pensar naquilo, mas dormira com os pensamentos inquietos, e a presença da deusa ali só confirmava suas suspeitas.

    – É ela? – perguntou a barda.

    – É ela.

    – Ela me quer também?

    A deusa balançou a cabeça, e beijou a testa da sua protegida.

    – Não é essa a pergunta que aterroriza todos os amantes? Sinto muito, pequena, não posso te dar essa resposta. Terá que percorrer esse caminho. Não posso mais proteger seu coração das dores que talvez ele sinta. Agora ele é dela. Só posso esperar que ela cuide tanto quanto cuidei.

    – Afrodite – a barda engoliu em seco – te pedi tanto essa benção, mas agora…

    – Dói mais do que pensava, não é?

    – Por que dói?

    – Por que pode perdê-la.

    – Nunca me senti assim.

    – Eu sei, pequena, eu sei. Mas não se preocupe agora. Durmam. Darei a vocês duas um sono tranquilo e restaurador. Amanhã será outro dia.

    Gabrielle voltou a se deitar. A deusa tocou sua testa e ela mergulhou profundamente no reino de Morfeu. Tocou também a testa da guerreira, que, pela primeira vez em anos, teria um sono pesado e sem pesadelos.

    – Melhor não magoá-la, princesa guerreira – disse a deusa, olhando para a mulher adormecida. 

     

    *** 

     

    Quando abriu os olhos, a guerreira percebeu que o sol já brilhava forte. Isso era bastante incomum, pois costumava acordar com as primeiras luzes da manhã. Sentia-se descansada como raras vezes se sentia, e percebeu, surpresa, que não tivera nenhum sonho inquieto naquela noite. Virou-se e contemplou a loira ao seu lado, e perguntou-se se isso tinha algo a ver com o pequeno mistério que dormia junto a ela.

    Sim, um mistério, porque a guerreira nunca tinha experimentado nada parecido com o que tinha acontecido na noite passada. O que parecia meio ridículo, porque tinha sido um sexo mais doce e calmo do que costumava viver com as pessoas que às vezes levava para a cama, porém, mesmo assim, tinha tido a intensidade de mil explosões simultâneas dentro dela.

    Percebeu seu coração acelerar quando as pálpebras se abriram e os olhos verdes apareceram, sonolentos e meio confusos. A guerreira notou, com uma sensação de alarme, que provavelmente se despediria da mulher naquele momento. Ela viajaria contando suas histórias e Xena iria para algum lugar cheio de perigo para batalhar. Algo oscilou dentro da alma da guerreira, e ela não sabia o que era.

    – Bom dia – disse a barda.

    – Bom dia – respondeu Xena.

    Ficaram em silêncio. A cabeça de Gabrielle, agora desperta, já fervia, tentando pensar no que dizer para mulher à sua frente. Queria dizer amo você, mas sabia que isso faria a guerreira pensar que era completamente maluca.

    – Xena?

    – O que foi?

    – Eu estava pensando.

    – Em que, Gabrielle?

    – Eu sou uma barda.

    – Sim, você é. Descobriu agora?

    – Não seja boba – Gabrielle retrucou – você é uma guerreira.

    – Acordou inspirada.

    – Para, me deixa terminar.

    – Certo, parei.

    – O que estou querendo dizer, é que você pode ser fonte de muito material para mim.

    – Que?

    – Digo – a barda corou, seu coração parecia que ia sair pela boca – se eu viajasse com você por um tempinho, poderia ter bastante coisa para escrever histórias.

    A guerreira ergueu uma sobrancelha.

    – Pensa bem – a barda continuou, nem o medo de parecer maluca a fez parar – eu viajo só, você viaja só. Se viajarmos juntas, teremos companhia. De minha parte, me agrada sua companhia. E, como eu disse, acho que sua vida é uma boa fonte de narrativas.

    – Entendi, quer me usar – zombou a guerreira.

    – Um pouco. Mas também gosto de você.

    – É mesmo?

    – Sim.

    A guerreira se sentou no cobertor. Queria com todas as forças dizer sim, mas não era algo simples.

    – Minha vida é bem perigosa, Gabrielle. O que para você são histórias, para mim são coisas bastante reais. Não quero que veja o lado sujo das bonitas coisas que você escreve.

    – Já lhe disse que sei me defender. Aliás, pode me ensinar a te ajudar em suas aventuras.

    – Não sei se é uma boa ideia, Gabrielle.

    A barda sentiu como se seu coração estilhaçasse. Segurou as lágrimas, lutando para não transparecer como se sentia.

    – Eu entendo – tentou sorrir, sem graça – bem, eu tinha que tentar.

    – Pra onde vai viajar agora? – perguntou Xena.

    – Terei que voltar para Atenas – Gabrielle levantou-se e começou a vestir-se – não fechei minha conta na taberna. Não imaginava que fosse passar a noite fora. O dono deve estar achando que sou uma caloteira.

    – Posso te dar uma carona até Atenas. Estou seguindo em direção ao porto, vou pegar um navio para Andros.

    – Certo. Eu aceito a carona. Mas dessa vez eu vou atrás – disse Gabrielle.

    – Tem certeza?

    – Sim. Me agarro em você e fica tudo bem.

    A morena subiu em Argo, depois ajudou a barda a montar logo atrás dela. Os dedos da loira logo se entrelaçaram em seu abdômen. Xena a sentiu escondendo o rosto em suas costas.

    – Achei que tinha superado o medo – disse a morena.

    – Acho que precisa de mais de uma cavalgada pra isso. Xena vai dev…

    A fala foi cortada pela disparada veloz da guerreira. Gabrielle gritou e apertou a mulher com todas as forças, o rosto bastante colado em seu dorso, enquanto o animal trotava a toda velocidade. Aos poucos, Gabrielle conseguiu olhar ao seu redor, e começou a apreciar a sensação de aventura. Sorriu e agarrou-se novamente à Xena, não por medo, mas porque queria senti-la. A guerreira largou a rédea por um momento para acariciar as mãos em sua barriga, mas logo retomou o trabalho de guiar o cavalo.

    Rapidamente chegaram até Atenas, que já estava menos movimentada. O festival tinha encerrado e parte dos visitantes já tinha ido embora. Xena levou Gabrielle até a taberna onde a loira estava hospedada. Desceram do cavalo.

    – Nos vemos por aí, não é? – disse Gabrielle.

    – Nos vemos – um vazio ensurdecedor começou a se apossar da guerreira. Sem conseguir se conter, Xena abraçou a barda.

    – Até mais, Gabrielle – Xena sentia o erro em cada sílaba que saía de sua boca. Beijou o topo da cabeça dourada.

    – Até mais – Gabrielle cerrava os dentes para não chorar.

    Xena se afastou, acariciou brevemente o rosto da barda, montou no cavalo e foi embora.

     

    ***

     

    – Quando sai o próximo navio para Andros?

    – Em algumas horas. Vinte dinares.

    – Vinte dinares? Acha que tenho cara de idiota?

    – É alta estação. Vinte dinares ou fica em Atenas.

    – Deuses! Certo, toma aqui. O cavalo vai junto.

    – Certo, certo.

    Enquanto procurava um lugar para aguardar o navio, Xena viu Darius entrar no porto, seguido por uma fila de prisioneiros. O homem a avistou e foi até ela.

    – Já está indo embora, Xena?

    – Sim. Para onde está levando esses caras?

    – Para a prisão em Citno. Lotamos aqui.

    Xena deu uma boa olhada na fila de condenados. Estreitou os olhos.

    – Onde está aquele idiota que tentou matar a barda ontem?

    – Então – o diretor pareceu constrangido – um velho apareceu e pagou a saída dele.

    – Que? – Xena ficou furiosa – Darius, você ouviu o que ele disse. Ele disse que ia atrás dela de novo!

    – Eu sei, Xena, eu não queria soltá-lo. Mas ele não tinha registro, e a lei garante a saída paga na primeira ofensa.

    – Ele tentou matar uma pessoa!

    – Acredite, eu concordo com você. Mas está fora de minhas mãos. Se serve de consolo, ele parecia estar bem arrependido, e umas horas atrás das grades junto com um bando de criminosos deu um bom susto nele.

    – Caras como ele não se arrependem. Ah, que droga! Preciso fazer alguma coisa.

    – Aquela garota é sua amiga ou algo assim?

    – Algo assim.

    A guerreira saiu apressada do porto. 

     

    ***

     

     Quanto as toquei,

    Foi como abrir um pergaminho

    Aquele, meio manchado, no canto mais afastado da prateleira

    Que você abre com delicadeza, pois sabe que é mais frágil

    Escrito num grego antigo, o qual você reconhece só a metade

    Mas fica ansioso para decifrar

    E que esconde segredos que só se revelam à alma mais atenta

    Quando me tocaram,

    Me transformaram em água, e eu inundei

    Entraram em mim, e me roubaram um pedaço

    Que não sei o que é, nem pra onde foi

    Me deixaram em falta, e eu nunca mais quero ser inteira

    Quero só que me façam derramar novamente

     

    A barda terminava de rabiscar sua última frase quando alguém bateu impetuosamente em sua porta, arrancando-a com força da doce nostalgia na qual estava perdida naquele momento. Praguejou baixinho e foi abrir a porta. Seu peito deu uma cambalhota quando viu emoldurado no portal o objeto de sua poesia.

    – Xena?

    – Gabrielle, tenho más notícias. Posso entrar?

    – Claro.

    Viu que a guerreira ia sentar-se à mesa onde seu pergaminho estava aberto. Correu e escondeu a poesia. A morena ergueu uma sobrancelha.

    – Nova composição, ainda não terminei – justificou a barda – o que aconteceu?

    – Nem sei como te dizer isso. O rapaz que atentou contra você foi solto.

    – Que? – a barda empalideceu.

    – Alguém pagou a saída dele.

    – Oh, deuses…

    – Desculpa trazer uma notícia dessas, mas achei que devia saber. Gabrielle, tem que se proteger de alguma forma.

    – Acha que ele estava falando sério quando disse que ia tentar de novo?

    – Homens como ele, simplesmente não se pode confiar. Talvez seja melhor você não ficar em público por um tempo. Ele ainda pode estar em Atenas.

    – Xena, não posso me esconder. Saí de Potedia para fugir justamente desse tipo de coisa. Pessoas me controlando, me vigiando, me dizendo o que fazer. Se deixo o medo me dominar, eles ganham.

    – Gabrielle… – Xena tentou retrucar.

    – Eu agradeço você ter vindo me contar. Eu ficarei atenta, e serei cuidadosa. Mas não posso deixar de viver minha vida por causa dele.

    A guerreira balançou a cabeça, contrariada. Conhecia o suficiente da outra mulher para saber que não adiantava muito argumentar com ela.

    – Certo – a guerreira resignou-se – me disse que sabia como se defender. O que exatamente quis dizer com isso?

    – Aprendi com um guerreiro a derrubar uma pessoa que me ataque corpo a corpo.

    – Ele não te atacou corpo-a-corpo.

    – Bem, pegar flechas eu realmente não sei, mas não acho que muita gente além de você saiba.

    – Muito bem – a guerreira se levantou – me mostre essas técnicas que sabe.

    – Que?

    – Vamos, tenho algum tempo antes do navio sair. Me mostre essas técnicas.

    – Não quero machucar você.

    A guerreira não pôde evitar de rir.

    – Acha realmente que consegue me machucar?

    – Hum – a barda levantou e cruzou os braços – está me subestimando?

    – Se confia tanto assim, do que está com medo?

    – Certo – a loira descruzou os braços – muito bem. Pode vir.

    Xena avançou rápido na direção de Gabrielle, que desviou com agilidade. A guerreira ficou impressionada.

    – Ah – Xena aprovou – parece que não é tão ruim mesmo.

    – Não viu nada ainda. Que ataque foi esse? É o melhor que você tem?

    Xena riu e atacou novamente. A barda agarrou seu braço e o torceu, enfiando uma perna entre as suas e a fazendo tropeçar. A guerreira sentiu o baque quando caiu de costas no chão.

    – Xena! – Gabrielle ficou imediatamente preocupada – você está bem? Deuses! Eu disse que não queria…

    – Auch – a guerreira levantou, com uma careta de dor – tudo bem. Me convenceu. Estou bem impressionada, para ser sincera.

    – Então estava mesmo me subestimando.

    – Estava sim, um pouco. Desculpe.

    – Tudo bem. Sei que não tenho cara de guerreira.

    – Não tem cara, mas tem bastante jeito para ser. Caso se dedicasse, seria uma das boas. Tem bastante agilidade e equilíbrio.

    – Não é pra mim. Mas obrigada. Vindo de você, é um elogio e tanto.

    – Então – a guerreira colocou as mãos na cintura – ainda não me sinto tranquila, mas…

    – Não tem que se preocupar comigo, Xena. Sei cuidar dos meus problemas.

    – Vejo que sim. Por favor, tenha muito cuidado.

    – Terei.

    – Então, adeus novamente.

    Gabrielle apertou os lábios. A breve alegria de ver a mulher novamente se desfez, e sentiu um aperto na garganta.

    – Até outro dia, Xena – não conseguiu evitar a voz embargada.

    A guerreira não se moveu. Tinha sido difícil o bastante a primeira despedida, agora parecia quase impossível. Seu corpo não queria obedecer. Quando olhou bem o rosto triste da loira, sua resolução desapareceu. Foi até a barda e a beijou.

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