Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    DEZ ANOS DEPOIS.

     

    O salão do castelo estava tumultuado. As pessoas gargalhavam e comiam, a festa corria com animação. O rei estava em seu trono e conversava animadamente com um lorde, enquanto corria os dedos pelos longos cabelos negros da mulher sentada na almofada aos seus pés. Ela tinha a cabeça recostada no joelho de seu amo, e parecia satisfeita com seu toque.

    – Ariadne – disse o rei – encha minha taça, sim? E tome uns bons goles, se quiser.

    – Sim, meu senhor – a mulher pegou a taça e foi enchê-la, aproveitando para beber também. Seu amo permitia que ela permanecesse constantemente intoxicada, e ela não poderia ser mais grata por essa bondade. Cuidava, porém, para nunca ficar inebriada a ponto de perder a noção das coisas. Cortese a puniria severamente se começasse a perder seus reflexos, fazer bagunça ou passar mal.

    Voltou para os pés de seu amo e lhe estendeu a taça, ao que ele agradeceu com mais carinho em seus cabelos.

    O cerimonialista bateu o cajado no chão, chamando a atenção de todos.

    – O Grande Gurkham oferece à Cortese, O Impiedoso, uma apresentação de uma de suas favoritas, a graciosa Aletheia.

    A multidão ficou em silêncio quando uma jovem mulher entrou e caminhou para o meio do salão. Os cabelos eram loiros e curtos, presos rentes ao couro cabeludo por meio de fios dourados de seda. As vestes deixavam pouco para a imaginação, e os adornos, também de ouro, pendiam dos panos brancos quase transparentes que cobriam seus seios, sua cintura e envolviam seus braços, conferindo movimento e tamanho à sua pequena silhueta.

    A mulher começou a mover-se lentamente pelo salão, numa dança cadenciada e lânguida que aos poucos foi aumentando de intensidade. Num dado momento, a loira fechou os olhos e pareceu entregar-se aos seus movimentos, era como se bailasse sozinha, apenas para si mesma. Os olhos da audiência seguiam cada voltear de seu corpo, e as respirações aceleravam junto com a velocidade dos membros musculosos da mulher.

    Ariadne, que até então estivera perdida em sua neblina ébria, percebeu a mão de Cortese deixar seus cabelos e ergueu os olhos para buscar a razão. O viu de olhos fixos no centro do salão e acompanhou seu olhar, dando de cara com o espetáculo que ali se desenrolava. A paixão que exalava dos giros da dançarina misturou-se com o formigamento do álcool em seu corpo, lançando-a a um estado ainda mais profundo de entorpecimento. Permitiu-se sentir algum prazer com a beleza da apresentação e seus lábios curvaram-se para cima, um raro movimento.

    Quando a jovem terminou a intensa dança, sua pele brilhava de suor. A multidão, incluindo o rei, aplaudiram de pé. Gurkham saiu de onde estava e se postou ao lado da loira, que agora fitava o chão.

    – Para firmar nossa aliança, Cortese, lhe dou de presente uma de minhas preferidas. Você pode ver como ela é especial. É sua, para desfrutar como bem entender. Recomendo moderação, usufrua devagar de tudo que ela pode te oferecer, para que possa servir-lhe por muito tempo.

    A jovem loira caminhou até o palanque do trono e ajoelhou-se. Cortese desceu os degraus e ofereceu a mão à dançarina, que a segurou obedientemente.

    – Seu presente é recebido de bom grado, Gurkham. Pode ter certeza, usufruirei.

    Puxou a mão de Aletheia, que seguiu o rei até seu trono. Ele sentou-se e apontou para o chão. A loira ajoelhou-se ao pé esquerdo do trono, sentando-se sobre os calcanhares, ficando de frente à morena.

    Quando a dançarina ergueu os olhos, reconheceu imediatamente a mulher à sua frente. Um arrepio percorreu seu corpo, mas não deixou transparecer. Seu estômago esfriou quando viu os dedos do rei entrarem nas mechas escuras e massagearem o couro cabeludo da morena, que fechou os olhos perante o contato.

    A festa ainda durou algumas horas. A fizeram dançar novamente. Quando finalmente encerrou, Cortese ordenou que a banhassem e depois a levassem à câmara real.

    Desfizeram seu penteado, e as pequenas madeixas loiras caíram ao redor de seu rosto, emoldurando-o. Retiraram todos os seus adornos, vestindo-a numa simples túnica branca. Depois de anos no além-mar, onde as roupas pesadas e as joias eram a regra, as roupas econômicas do povo grego lhe causavam estranheza.

    A levaram até a porta da câmara real e bateram. Quem abriu para ela foi a mulher morena, que, novamente, não parecia ter ideia de quem ela era.

    O que não era de se estranhar. Ela tinha mudado de menina para mulher feita, enquanto a outra mulher conservava a mesma aparência. Ou, melhor dizendo, repensou a loira ao observar o corpo nu da outra, cujas costas estavam cobertas de cicatrizes, algumas coisas tinham mudado.

    – Venha cá, pequena – ela ouviu a voz grave que vinha da cama.

    Cortese estava lá, deitado. Como era diferente do senhor da guerra sujo e bruto cuja imagem estava estampada como uma tatuagem no centro de sua mente. O homem estava grisalho, limpo e perfumado.

    – Ariadne, dispa-a – ordenou o homem.

    A morena foi até ela e desatou os nós de sua túnica, que foi ao chão, deixando-a como veio ao mundo. Cortese fez sinal para que ela se aproximasse.

    – Ariadne, fique no narguilé. Hoje vou provar algo diferente.

    – Sim, meu senhor – a morena acendeu o aparelho na mesa ao lado da cama.

    A loira dissociou-se de si para oferecer o que o homem queria dela. Não durou muito tempo. Ela tentou de tudo, mas ele não foi capaz de ficar pronto. Frustrado, o homem a golpeou no braço e ela arquejou com a dor.

    – Pensei que Gurkham tinha dito que era especial.

    – Peço desculpas, meu senhor. Tenho certeza que está apenas cansado hoje – sussurrou Aletheia.

    – Sim, sim, não preciso de suas palavras – o rei levantou-se e sentou-se numa poltrona próxima à cama – faça outro tipo de espetáculo para mim. Tome Ariadne. Sabe fazer com uma mulher, não sabe?

    – Sim, meu senhor – a loira engoliu em seco e olhou para a morena, que já tinha largado a mangueira do narguilé. Os vagos olhos azuis agora a encaravam, e esperavam.

    Pegou a mão da morena e a conduziu até a cama, deitando-a, e escorregou a mão por seu corpo. Sentiu os pelos se arrepiarem sob seus dedos e viu os mamilos endurecerem. Colocou uma coxa entre as pernas da mulher e se curvou para colocar um seio em sua boca. Ficou surpresa quando sentiu o sexo da mulher umedecer contra sua perna. Essas coisas costumavam ser performances, e nada mais. Quando percebeu que estava causando um efeito real na mulher sob ela, seu próprio corpo começou a reagir contra sua vontade.

    Tentou recuperar o controle de si mesma, mas quando beijou a mulher e sentiu a língua dela entre seus lábios, um gemido real de desejo escapou de sua garganta. Logo, sua mão estava metida entre as pernas da morena, os dedos dentro dela, e a quantidade de líquido ali aumentava a cada movimento.

    Interrompeu o beijo e encarou os olhos azuis. O prazer que viu neles a desarmou e seus lábios modelaram, sem produzir som, o nome que vinha ecoando em sua mente desde que pusera os olhos na outra mulher.

    Xena.

    Foi como ver um vidro frágil cair no chão. O ardor no rosto da morena foi substituído por pânico. Xena gritou de forma estridente e a empurrou com toda a força, e ela caiu da cama. Confusa, a loira viu um vulto passar rápido por ela, e, de repente, Cortese estava sobre Xena, gritando-lhe impropérios e desferindo tapas por seu corpo.

    – Mas será que nem mesmo consegue ser fodida?! Será que é pedir demais que simplesmente deixe a outra trabalhar?! Está ficando uma velha inútil!

    Um flashback agonizante perpassou a mente da loira ao ver o homem maltratando a outra mulher. Seus músculos contraíram-se e seu corpo agiu só. Jogou-se sobre Cortese, derrubando-o da cama. O rei bateu a cabeça no chão e desmaiou. Xena gritou novamente e tentou ir até o rei, mas a loira a segurou.

    – Oh, deuses! – a morena exclamou, aterrorizada – deuses! O que você fez?

    – Xena… – começou a loira, tentando conter a morena, que se debatia.

    – Esse não é meu nome!

    – Xena! Me escute, tenho uma ideia…

    – Sou Ariadne!

    – Xena! Sou eu, Gabrielle. Não lembra de mim?

    A morena parou, os olhos arregalados.

    – Xena… podemos colocá-lo na cama, enchê-lo de drogas, e amanhã conseguiremos convencê-lo que simplesmente nos intoxicamos e tivemos uma noite de prazer. Ele não se lembrará de nada.

    A morena balançou a cabeça para os lados vigorosamente.

    – Tem… tem… a cabeça dele está…

    – Daremos um jeito. Mas temos que agir rápido, ou ele logo se recobrará. Me ajuda, por favor, ou estamos mortas.

    Após alguns segundos de hesitação, Xena assentiu. Colocaram o homem na cama e sopraram o máximo de fumaça que conseguiram dentro dele. Ele mergulhou num profundo estupor.

    – Acho que é o suficiente – disse Gabrielle – como você está?

    Xena olhava fixamente para o rosto de Cortese.

    – Xena… – chamou Gabrielle. A morena cerrou os olhos.

    – Por favor, não me chame assim. Por favor, Aletheia…

    – Sou Gabrielle, e você sabe.

    Xena escondeu o rosto nas mãos.

    – Você machucou ele… meu amo… o que ele vai fazer comigo?

    – Vamos ficar bem.

    – Não! Você não sabe…

    – Eu sei sim, confia em mim, Xena, por favor. Essas drogas vão deixar ele totalmente confuso. Mais confuso que você.

    – Não estou confusa.

    – Sim, você está.

    Gabrielle sentiu seu coração partir-se quando os quebrados olhos azuis despontaram novamente e se fixaram nela. Nenhum escravo tinha uma vida boa, mas era óbvio que aquela mulher tivera muito pior que ela. O que era irônico, pois Gabrielle aprendera a obedecer muito rápido e cair nas graças dos amos justamente pelo que vira aquela mulher sofrer. Isso, aliado a sorte de ter encontrado amos gentis, a tinham conferido uma vida tão boa quanto a vida de uma escrava sexual pode ser.

    Xena claramente não tivera a mesma sorte.

    – Sinto muito pelo que passou – disse Gabrielle.

    A morena continuava encarando-a, em silêncio.

    – Eu não vou deixar ele te machucar – disse Gabrielle, sabendo que era uma promessa vazia, mas queria desesperadamente aplacar o temor que via nos olhos da outra mulher – nunca mais, eu o matarei antes que ele te machuque de novo. Mesmo que eu mesma morra depois.

    – Está falando idiotices – disse Xena, e Gabrielle pode ouvir algo da voz feroz que ouvira uma vez quando a mulher ainda resistia ao seu algoz – não é capaz de fazer nada com ele.

    – Acabei de fazer, não foi?

    A morena pareceu ficar confusa. Gabrielle pegou as duas mãos da mulher nas suas.

    – Você também está drogada. Quando passar o efeito, vai ver que está tudo bem. Agora, descanse. Onde você dorme?

    Xena levantou-se devagar e fez sinal para Gabrielle acompanhá-la. Levou-a a um quartinho adjacente minúsculo, onde havia uma cama, um baú de roupas e uma bacia com água.

    – Nós duas dormimos aqui – disse Xena, sua voz agora estava vazia – pode vestir algo meu.

    Vestiram-se e deitaram-se. A cama mal cabia as duas.

    – Xena?

    A morena não respondeu.

    – Seu eu passar meus braços ao seu redor, ficaremos melhor acomodadas. Você se importa?

    Um leve menear de cabeça indicou a Gabrielle a resposta, e ela abraçou a mulher maior. Nem percebeu quando adormeceu.

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