Katherine Fugate teria aprovado isso….
por Bidi NaschpitzNota: essa fanfic é o crossover #1 da Topps Comics reescrito de maneira que ao invés de ser o casamento de Xena e Hércules, seja Gabrielle no altar, e não Hércules. Esta história também contém o script interpretado na XenaCon de 2012 e menções ao episódio 6×19 Many Happy Returns.
Nota²: Katherine Fugate, autora do pequeno script, disse que aquele teria sido o seu final da série. Então, essa fanfic é como se isso tivesse acontecido, e seus acontecimentos posteriores. Aqui, Xena não impediu Gabrielle de jogar as cinzas no Monte Fuji e seu corpo renasceu, e esta história começa a partir desse momento (o último episódio da série).
Nota³: Se alguém ainda precisar de uma justificativa pra isso acontecer, aqui vai: Xena precisava combater Yodoshi como espírito, mas ela não precisava ficar morta pra vingar almas; as almas foram vingadas ao serem libertadas do monstro. Porque Xena deu à luz a Eva, a Mensageira de Eli, e a mensagem de Eli dizia que o amor é maior que tudo: ele dizia que a vingança não existe, que ela não adianta de nada, que somente o perdão vale. Então Xena já poderia ser perdoada pelo simples fato de ter salvado as almas (lembrando: essas pessoas morreram por um incêndio que ela causou ACIDENTALMENTE). Logo, esse papo de almas vingadas não rola.
Fechou os olhos. Podia claramente lembrar-se dos minutos atrás onde as cinzas se espalharam por sobre a água, criando um clarão que por sua vez formou o corpo da nobre guerreira. Elas conseguiram, elas salvaram a todos e a si mesmas. Lágrimas de felicidade ainda secavam em seus olhos enquanto sua cabeça de cabelos loiros descansava no ombro musculoso. Nenhuma palavra ainda havia sido dita: apenas olhares, sorrisos, respirações e abraços. O sol ia se pondo ao longe naquele lugar tão distante e elas estavam meramente sentadas nas rochas do monte, observando-o, sentindo a paz daquele lugar.
Olhou para baixo, para as mãos de ambas em seu colo, entrelaçadas. Xena não queria soltar da barda por mais nenhum instante; viu isso em seus olhos no momento em que se abraçaram verdadeiramente de novo, onde o calor de seus corpos voltou a se encontrar. Lembrou-se do beijo: nenhuma palavra até então. Sabia que Xena não tinha como considerá-lo, devido ao fato de estar inconsciente no momento do ato. Por um motivo era grata a isso, mas somente a loira sabia o porquê de tudo aquilo. Não aguentou, precisou falar, e não pôde evitar o sorriso feliz e o tom suave ao fazê-lo:
– Nós conseguimos.
A Princesa Guerreira sorriu deslumbrantemente, virando-se para ela.
– É… – conseguiu sussurrar.
Gabrielle mordeu o lábio, incerta. Olhou para a alta mulher.
– E agora?
– E agora o quê?
– Pra onde vamos, o que vai acontecer, o que faremos.
Xena inspirou fundo e deu uma última olhada para o sol que terminava de se pôr.
– Eu não sei… Pela primeira vez eu tenho a sensação de que finalmente está tudo terminado, que eu finalmente consegui me redimir. Tudo que sinto agora é paz por ter sido perdoada e felicidade por estar ao seu lado, inteira – sorriu.
A barda também sorriu.
– Pela primeira vez nós não temos pra onde ir, ou um motivo pra ir para algum lugar… E isso é bom. O que quer fazer agora?
A morena deu de ombros.
– Eu não sei. Férias, talvez? Temos muito tempo e muita coisa para fazer – riu. – Mas tem algo que fiquei pensando, Gabrielle.
A loira a olhou.
– O que?
Olhou brilhantemente aqueles olhos verdes, tentando ler a alma de sua companheira. Mal sabia ela o amor que ali se encontrava escondido; ou melhor, sabia… Mas talvez não da forma que imaginava. A imponente guerreira pegou a mão da barda por entre as suas.
– Eu… – olhou para as mãos de ambas. – Após ter sido atingida por Yodoshi, eu perdi parcialmente a consciência. A partir dali, eu não tinha mais capacidade de distinguir o real do irreal, até você me dar da Fonte da Força – respirou por um momento antes de continuar. – Mas eu sonhei que você tocou meus lábios, você fez isso pra me passar a água – olhou honestamente nos olhos da jovem mulher, buscando a verdade. – Isso foi realmente um sonho, Gabrielle?
Gabrielle ficou paralisada. Não sabia o que dizer ou como reagir, fora simplesmente pega de surpresa. Estava assustada.
– Mas… Você não estava inconsciente?
Xena apertou um pouco mais o enlaço que envolvia suas mãos, numa tentativa de acalmar a loira.
– Como eu disse, eu não tenho certeza do que se passou. Mas foi real demais, eu poderia descrever o modo, a doçura de seus lábios roçando nos meus. E então, quando eu abri os olhos, você estava lá, tão perto e sorridente – sorriu com a lembrança. – Foi tão bom acordar de um “sonho” assim e dar de cara com você tão perto, que mesmo fraca eu não pude evitar sorrir.
Gabrielle sorriu levemente ao lembrar-se disso.
– E então? – indagou a Princesa Guerreira, olhando-a de lado.
A Barda Guerreira suspirou.
– Não Xena, não foi um sonho… – conseguiu murmurar.
A morena olhou o horizonte adiante, com um sorriso vitorioso.
– Eu sabia!
Gabrielle a olhou, esperando.
– Xena?
– Sim? – olhou-a.
A Barda limitou-se a fitá-la com os olhos aflitos. O silêncio parecia agulhas a lhe pinicarem. A alta morena sabia o efeito que estava causando na jovem mulher, e uma parte de si gostava desse jogo meio sadista. Ela sorria docemente, pensando com cuidado no que diria. Encarou o horizonte finalmente, começando a falar.
– Eu nunca vou esquecer o momento que te vi pela primeira vez. Eu não podia respirar, eu não podia falar. Realmente houve esse fogo correndo para cima e para baixo na minha espinha e eu soube que minha vida estaria mudada para sempre – fitou então a mulher ao seu lado com carinho.
Gabrielle sorriu, lembrando-se do poema de Safo que ganhara de Xena em seu aniversário. Naquele pedaço de pergaminho estava escrito exatamente aquilo. Mas não poderia imaginar que era daquele modo que a Princesa Guerreira se sentia, que ela foi capaz de pedir à famosa poetisa para colocar em palavras seus verdadeiros sentimentos e se declarar silenciosamente, sem que a própria Gabrielle percebesse. Tudo estava claro agora. Precisou falar o que seu coração dizia também.
– Você me diz isso, mas quando você entrou na minha vila e me permitiu que eu viajasse o mundo com você, Xena, você me ensinou que tudo acontece por uma razão; quando você tem a oportunidade, você a pega. Isso muda sua vida, você deixa isso entrar. Você me ensinou a abraçar minha escuridão e toda minha luz. Você me ensinou a arriscar, a sonhar, a cometer erros e a dançar sobre mesas.
Xena interrompeu.
– Ah, não não, você sabia como fazer isso – comentou, fazendo as duas rirem e ela mesma receber um tapa da jovem loira.
– Ah sim, eu lembro que isso era perfeito – tomou um momento para interromper as risadas, e então respirou para continuar. – Acima de tudo, Xena, você me ensinou a ser quem eu sou e a falar a verdade sobre mim mesma não importando o preço.
– Você sabe, é por isso que eu sei que nós somos duas mulheres que representam esperança para milhões de pessoas que se inspiram no nosso amor, como nós amamos e amam igual.
Gabrielle consentiu.
– Nossa batalha final não é contra guerreiros no Japão: nossa batalha é por amor, amor nesse mundo e em qualquer mundo, porque você é minha alma-gêmea – e então olho nos olhos da morena.
– Às vezes eu acho que uma alma-gêmea é alguém que faz você o melhor que você possivelmente pode ser.
A loira então se virou para a mulher que estava ao seu lado, e com os olhos brilhando abriu seu coração.
– Eu te amo, Xena… Eu estou apaixonada por você, Xena – ambas se perderam no olhar uma da outra, e inconscientemente Gabrielle aproximou-se mais ainda da Princesa Guerreira, presa por aquela aura surreal. – E depois de todos esses anos, todas as vezes que eu vejo você eu ainda paro de respirar, apenas por um segundo.
– Isso não é saudável, Gabrielle… – riu, fazendo a barda rir também; mas mesmo essa pequena tirada não fora suficiente para quebrar a magia daquele momento, de dois rostos apaixonados se aproximando.
– Eu quero passar o resto da minha vida com você, Xena, até que nós fiquemos muito velhas e de cabelo bem branco – pausou, esquecendo-se de respirar enquanto se perdia naquele claro azul infinito. – Xena, você quer casar comigo?
Dessa vez, foi a imponente Princesa Guerreira que perdeu o ar e levou o choque, tal como uma inocente camponesa. O pedido que esperou muito tempo para fazer e não teve coragem no aniversário de Gabrielle estava ali, saindo da boca da pessoa que mais amou em toda sua vida. Sua alma-gêmea.
– Sim – conseguiu responder depois de um momento, num sussurro forçado de voz embargada.
E então, não se controlando mais, pôs a mão no rosto da barda e puxou-a para um beijo: um misto de saudade, ânsia, sofreguidão, felicidade e acima de tudo, amor. Os minutos se estenderam como uma doce eternidade, capaz de congelar o mundo e a história à sua volta.
Finalizou aquele momento dando uma pequena mordida nos lábios de sua amada, como não querendo abandoná-los. Mas pelo menos tinha a certeza em seu ser que aquele era o prelúdio de uma nova vida infinita em momentos como esse. Sorriu de forma bobalhona e atrapalhada intencionalmente.
– Esperei anos para fazer isso – e riu, fazendo a loira rir também.
E ficaram ali até tudo se tornar um breu, perdidas no olhar uma da outra e na sensação de seus dedos entrelaçados. Não importava, o tempo não parecia mais existir.
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É impossível acreditar. A união mais excitante desse ou de qualquer outro século… As duas maiores heroínas da Grécia Clássica, agora companheiras, parceiras, amantes. Onde nem mesmo a morte as separaria. E o que, apesar da linha de trabalho delas, incrivelmente não impede um compromisso de longo termo. Termo no qual significa “secular” ou até mesmo “milenar”, através de seus karmas e reencarnações.
Um pequeno palco fora montado num canto na maior praça pública de Tebas, no Egito: a única que podia comportar tanta gente e criaturas. Homens, mulheres, crianças, forasteiros, marinheiros, pacifistas de Eli, reis, rainhas, nobres, heróis, guerreiros, camponeses, Centauros, Amazonas, Arcanjos e até mesmo deuses estavam ali na frente do pequeno palanque de madeira. Eve e seus seguidores, Virgil, Hércules, Lila e Sarah, Aphrodite e Genia, Varia e algumas Amazonas, Xenan e Nika com o pequeno Borias, os Arcanjos Miguel e Rafael, Beowulf, Odin e Grinhilda, Kahina e alguns nômades, as agora crescidas Daphne e rainha Alesia, os agora velhos Autolycus, Iolaus, Minya e Pollener, Kao Sin, Tara e Armon, e até mesmo Ares: todos estavam lá para testemunhar aquela união lendária.
As duas guerreiras estavam de mãos dadas uma de frente para a outra, com uma Sacerdotisa no meio delas e de braços estendidos para o céu, proclamando a união. Mesmo a quantidade infinita de gente e os gritos de louvor da mulher não permitiam a quebra do contato visual das duas almas-gêmeas; os sorrisos pareciam tatuados em seus rostos.
– Xena, Gabrielle… Eu agora as proclamo esposa e esposa!
Elas se aproximam, aumentando ainda mais seus sorrisos – como se isso sequer fosse possível –, se beijando ternamente e fazendo a plateia explodir em aplausos e gritos. Parecia que todo o Mundo Conhecido estava ali. Aphrodite chorava, falando o quão bonito era seu trabalho, enquanto era amparada por Genia. As duas guerreiras então se separaram e se abraçaram, acenando para a plateia que as ovacionava.
– Então… Esse é o privado, secreto casamento no Egito que nós estávamos planejando? – sussurrou uma acusadora Princesa Guerreira.
– Bom, não olhe para mim. Eu não contei para ninguém além de Lila – sussurrou de volta.
– Sim, grande mantedora de segredos ela é… – resmungou a alta morena.
– Suponho que você não contou para Eve então – ironizou a barda.
– Ei, pelo menos Eve não espalhou isso para todos – defendeu-se.
– Não, tudo que ela fez foi pedir ajuda de Aphrodite para espalhar a notícia por todo o Mundo Conhecido… – bufou a loira.
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– Isso é uma piada de mau gosto. Aquela pirralha loira irritante pensa que pode domar o espírito de uma guerreira e transformá-la numa esposa bajuladora? – falava um contrariado Deus da Guerra enquanto comia uma coxa de faisão do enorme banquete.
– Ha! Isso está te comendo vivo, não é? Sentado aqui, tendo que admitir que o melhor homem… Quer dizer, mulher venceu – riu uma divertida Deusa do Amor enquanto bebericava vinho. – Até porque, acho que Gab já domou a grandalhona há séculos. Além do mais, você sabe, não é como se elas fossem se recolher num ninhozinho de amor parado numa casa. Vamos lá, Ares, dessa vez você perdeu seu verdadeiro amor para sempre.
– Nada é para sempre, irmã querida – sussurrou sombriamente.
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Uma Valquíria loira se aproximava de um alto homem loiro e barbudo pelas costas, carregando um odre contendo um líquido.
– Então, Odin… Importa-se de tomar um pouco mais de vinho? Eles dizem que é de uma colheita especial, garantida de revelar paixões secretas – ofereceu uma suave Grinhilda.
– Claro. Tanto faz – respondeu com um sorriso, oferecendo seu cálice à mulher.
Beowulf, que conversava com Odin, oferece seu cálice também, agradecendo com um aceno de cabeça. Então nota Hércules ao seu lado, aproximando-se.
– O lendário semideus grego. Hércules, é um prazer conhecê-lo – estendeu seu braço para cumprimentá-lo.
Hércules saiu de seus devaneios, sorrindo para o homem e cumprimentando-o.
– O prazer é meu. Pelas suas roupas, você é do Longe Norte… Amigo das duas?
– Beowulf.
– Olá Beowulf.
– Na verdade, sou um admirador especial de Gabrielle, se é que me entende – comentou rindo, e então Hércules notou seu leve estado de embriaguez. – Sabe Hércules, sua paixão pela Princesa Guerreira e o curto envolvimento de vocês enquanto ela ainda era má é contado até em minhas terras. Mas eu te entendo, sinto a mesma coisa pela jovem Gabrielle – suspirou. – Então, você percebeu que isso significa o fim de ambas nossas pequenas paixões heróicas? – riu.
O herói ficou sério.
– Nem me lembre. Eu sempre soube que esse dia chegaria, e eu estou feliz por Xena e tudo mais, mas, bem… Isso simplesmente fede.
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Xena e Gabrielle caminhavam de mãos dadas através da multidão, sorridentes e cumprimentando a todos quando a sacerdotisa que realizara a cerimônia se aproximou.
– Ah, aqui está o casal feliz. Parabéns! – disse, dando um beijo na bochecha de Xena, que vinha na frente.
– Obrigada, senhora Alta Sacerdotisa – agradeceu a morena, sorrindo.
– E obrigada pela amável cerimônia – completou a loira que observava as duas.
– Então, Xena, você realmente pensa que é mulher o suficiente para fazer esse pequeno prodígio sossegar? Quero dizer, agora Gabrielle tomou seu lugar e é jovem – perguntou um desdenhoso Deus da Guerra, com os braços cruzados e um cálice na mão.
A Princesa Guerreira se separou de Gabrielle, dando atenção a Ares sem muita paciência. Fez sua velha careta irônica, falando desrespeitosamente.
– Não, Ares, diferentemente de você, nós não achamos que um casamento requeira que ambas as pessoas “sosseguem”. Ou está ficando velho e esqueceu-se de como sou capaz de fazer isso? – indagou ironicamente.
– E os mais calorosos parabéns para essa amável noiva – disse a Sacerdotisa, que tinha os olhos estranhamente vermelhos, com as mãos nos ombros de Gabrielle e longe dos ouvidos de Xena.
– Obrig– antes que a barda pudesse terminar, a Sacerdotisa havia lhe beijado, pegando-lhe de surpresa.
– O prazer é meu – disse, após o beijo.
– Claro, Xena! Se você é incapaz de controlar sua mulher, você deve fingir que essa nunca foi sua intenção – a voz irônica de Ares era ouvida de longe.
– Não comece comigo, Ares. Aonde você quer chegar? Esse papo furado não é você… – ouviu-se ao longe também uma desconfiada Xena.
Uma estática Gabrielle olhava para a Sacerdotisa; seus olhos estavam tão brilhantes e vermelhos quanto os da mulher que lhe beijou.
–… O que… Por quê…? – colocou debilmente sua mão na cabeça ao lado dos olhos; sequer podia piscar. –… Obr-obrigada… Obrigada, senhora Alta Sacerdotisa… – respondeu mecanicamente.
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– Finalmente nós estamos longe daquela triste recepção. Agora eu tenho você para mim! – dizia a barda, abraçando sensualmente a Princesa Guerreira.
O sol ia caindo no meio do mar, tingindo o resquício de dia com tons alaranjados. As duas guerreiras viajavam em um Pegasus: presente de casamento do Arcanjo Miguel à mando do Deus Único de Eli. Eve ficara exultante, mas a pobre Argo ficara extremamente enciumada e brava por ter Xena deixando-a para montar outro cavalo; provavelmente achava que iria ser trocada porque o “branquelo” tinha asas. Mas Xena a tranqüilizara dizendo que seria somente para a lua de mel.
– Ei, olhe suas mãos, Gabrielle – dizia certa alta morena com arrepios na nuca e nas costas. – Nós concordamos que não seríamos distraídas com essa coisa de lua de mel.
– Ah, vamos lá, Princesa. Não há motivo pra nós não nos divertirmos um pouco – disse sensualmente ao pé de seu ouvido, provocando-a. – Depois de tudo, nós temos essa amável ilha só para nós. Isso foi tão bem pensado de Aphrodite de emprestar pra gente.
– Sim, eu aposto que aquela tarada lá fazia seu compartilhamento de laços aqui – riu, enquanto pousava o cavalo alado.
– Exatamente. E quem somos nós para quebrar uma tradição tão longa? – perguntou, insinuando-se enquanto Xena a aparava ao descer do cavalo.
– Vamos lá, Gabrielle, não há tempo para isso agora. Eu vou levar o Pegasus e instalá-lo nos estábulos enquanto você checa os quartos.
– O que você disser, esposa querida – suspirou pesadamente a barda, indo em direção à porta.
Seus olhos ainda se encontravam em vermelho vivo, mas Xena não pareceu ser capaz de notar. Andou pela casa, olhando de relance, procurando o quarto. Ao achar o cômodo, abriu a porta, inspecionando o lugar e dando de cara com um baú de ouro aos pés da cama; algo a atraía para lá, como a um ímã. Abriu-o rapidamente, dando de cara com uma roupa de dominatrix de couro vermelho.
–… Legal… Muito legal… – sussurrou maldosamente a mulher loira, tirando a peça do baú e analisando-a. – Isso deve chamar a atenção dela – então algo a atraiu para olhar dentro daquela mala novamente.
Reparando calmamente agora, no fundo do baú havia diversas armas: machados, clavas, espadas, punhais. Mas estranhamente, ao lado das armas jazia um cálice de ouro que queimava algo em seu interior, exalando uma fumaça vermelha.
– Ah, ainda melhor… – murmurou, pegando um machado e testando seu peso. –… O final perfeito para a noite perfeita – depositou o machado de volta em seu lugar, pegando então o cálice misterioso. – Agora tudo que nós precisamos é uma maneira de deixá-la frouxa – falou para si mesma, encarando a fumaça que subia dali. – Para uma noite de núpcias que entrará para a história – seu rosto próximo da fraca fonte de luz estava lapidado pela maldade; a mesma crueldade que exalava de seus olhos vermelho-vivos.
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De volta à Tebas, as pessoas ainda estavam pelas ruas comemorando, conversando, bebendo e comendo. As tavernas mais perto de onde ocorrera a cerimônia, que foram usadas para preparar o banquete, estavam vazias, abrigando somente pessoas que trabalharam servindo os comes e bebes, trazendo as bandejas vazias para dentro e ainda preparando mais alimentos para servir.
–…E pensar que eu estava na verdade excitada sobre servir os Deuses. Eu pensei que isso seria emocionante.
– É, grande emoção!
Duas mulheres que serviam o banquete conversavam, enquanto uma limpava algumas bandejas e a outra tomava da conta da carne que se encontrava assando.
– Se você gosta de idiotas prepotentes, arrogantes e detestáveis!
– Eles pensam que são tão superiores! Tão altos e poderosos!
Do lado de fora, Hércules passava pela porta da taverna, procurando algum lugar ou alguém que pudesse encher seu cálice.
– É, vamos ver quanto tempo vai durar a folia deles quando descobrirem que a lua de mel terminou numa tragédia sangrenta.
Ao ouvir isso, o alto homem larga o utensílio no chão e entra correndo.
– Isso vai tirar o cavalinho deles da chuva! – a outra mulher teve tempo de falar antes do semi-deus grego irromper com pressa.
– Do que você está falando?! O que é isso sobre tragédia sangrenta? – gritou, já agarrando o braço da mulher, aflito.
– Ei, me solte! Quem você pensa que é? – debateu-se a assustada mulher.
– O melhor amigo das noivas! Agora, fale… Ou eu devo começar a esfregar o chão com a sua cara?! – ameaçou, pegando a mulher pelo colarinho, furioso e alterado pelo álcool.
– Vo-você está falando sério? Você não sabe sobre a maldição?
– Maldição?! Que maldição?! Eu acho melhor você começar do início… – e então soltou a mulher.
– Bem, isso é a única coisa que todo mundo fala por aqui. Desde o ano passado, todos os casamentos realizados na vila terminaram do mesmo jeito… Na noite de núpcias, a noiva é possuída por algum espírito grotesco e horrível! Um espírito que a obriga a assassinar brutalmente seu novo marido ou esposa!
– É horrível – murmurou o herói.
– A raiva sanguinária desaparece todas as vezes, logo depois que a ferida mortal é infligida, e antes do noivo ou noiva morrer. Então a noiva é forçada a testemunhar a morte de seu marido ou esposa, sabendo que ela foi a causa.
– Ah, meus Deuses, isso é terrível! Por que ninguém avisou Xena e Gabrielle?
– Mas elas sabiam tudo sobre isso! Nós pedimos para elas nos ajudarem a encontrar a causa e tentar parar isso, porque precisávamos de uma garota com um chakram – interrompeu a mulher.
– Então foi por isso que elas quiseram casar tão longe da Grécia, aqui no Egito! Para confrontar a maldição! – falou o homem. – Claro! Quem é melhor parar sobreviver à maldição além de Xena! E quem é melhor parar resistir além de Gabrielle, agora que ela herdou o chakram de Xena?
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– Ei você, “esposinha” – falou a garota loira, chamando sua interlocutora que estava sentada na cama.
Gabrielle vestia a roupa de dominatrix: um top de couro vermelho e bordas e detalhes em bronze que era interligado com a calcinha através de um “X” que cruzava sua barriga. Sua parte íntima era coberta por grandes escamas do mesmo material e detalhes também metálico-amarelados, onde as tiras da peça que seguravam em seu corpo passavam ao lado do umbigo. Botas do mesmo couro subiam suas pernas até metade das coxas, e um bracelete de bronze em braço completava o conjunto. Nas tiaras da calcinha jazia presa a pele de algum animal, e enquanto um braço se apoiava na porta, o outro segurava algo, escondendo-o atrás da pele pendurada em sua cintura.
– Gabrielle! – embasbacou a Princesa Guerreira. – Onde você conseguiu essa roupa! É… É espetacular!
– Oh, somente uma coisinha que alguém deixou aqui para nos colocar no clima – falou com a voz sedutora.
Foi se aproximando da cama; seus olhos ainda jaziam num vermelho vivo, e Xena ainda parecia não perceber.
– Agora, por favor, Gabrielle, nós duas concordamos que quando nós entrássemos nisso nós íamos controlar nossos… Instintos – falhou ao falar, quando a barda tocou seus cabelos pretos, acariciando-lhes.
– Ah, vamos lá, Xena! Onde está aquela velha guerreira libidinosa?
– Você sabe que não quero te tratar como os outros que passaram em minha vida… Você é diferente, eu não vou soltar meu animal simplesmente em cima de você. Olha… Depois que tudo terminar, nós podemos conversar sobre isso. Mas você sabe que temos coisas mais importantes para lidar agora.
– Hmpf! Estraga-prazeres. Achei que essa era nossa chance de finalmente nos livrar do Bem Supremo e você quis logo vir pro Egito, lidar com mais problemas – resmungou. – Você pelo menos vai experimentar o vinho? – perguntou, trocando seu humor e revelando o odre que esteve escondido atrás de seu corpo todo esse tempo.
– Uh, eu estou certa de que essa não é uma boa idéia.
– Ah, vamos lá! Agora você está sendo ridícula! – protestou, passando seu braço pelo pescoço da guerreira, acariciando de leve para tentar fazê-la ceder.
– Tudo bem, tudo bem, só um pouquinho – Gabrielle sorriu, pegando um cálice que trouxera também. – Mas a última coisa que nós precisamos agora é ter nosso julgamento inebriado.
– Não se preocupe, querida. Se eu decidir pressionar minha vantagem, eu serei gentil – riu a loira enquanto despejava o líquido no cálice.
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– Todos os meses… Todo o planejamento. E agora, isso finalmente vem à realização – foi a primeira coisa que Virgil ouviu ao ser acordado de seu “coma alcoólico” por uma gota de vinho, que havia sido pingada da mesa onde ele se encontrava deitado por debaixo do tecido que a cobria.
– Ah, Ares, quando você prepara uma armadilha você faz isso como um mestre – ouviu-se uma voz feminina.
– Sim, bem, vamos poupar a celebração até depois de nosso triunfo.
–… Ahn…? – quando abriu os olhos, Virgil pôde ver as tão reconhecíveis botas de Ares e bonitos pés femininos descalços à altura de seus olhos.
– Eu quero ver o corpo de Xena diante de mim. Aquela vadia me rejeitou durante todos esses anos, então quero ouvir os patéticos choramingos de Gabrielle, sua alma completamente destruída pelo peso do que ela acabou de fazer.
–… Mas o quê… – Virgil acordara um pouco mais ao ouvir essas palavras, levantando suavemente a cabeça.
– Eu quero ouvir os argumentos dela para liderar meu exército. Sentir entre meus dedos a dureza que Gabrielle se tornou… Depois que ela assassinar Xena.
– Assassinar?! – com o susto, o jovem guerreiro tentou levantar de uma vez, batendo a cabeça na madeira maciça da mesa e caindo ao chão, tonto.
– Mas e se Xena for simplesmente demais para Gabrielle? – perguntou a mulher.
– Bem, Gabrielle é um prodígio, herdou o chakram de Xena e provavelmente se tornou mais poderosa que sua mentora após os acontecimentos do Japão. Meu dinheiro está apostado nela em qualquer luta justa. Mas então, essa dificilmente será uma luta justa.
–… Tenho que concentrar… Tenho que tentar… Dormir… – o jovem guerreiro lutava contra sua embriaguêz.
– Você vê, eu deixei para elas um pequeno odre de vinho, a colheita mais especial, a última produzida pelo próprio Baco. Eu te garanto, Xena vai descobrir que esse vinho é um tanto quanto avassalador.
Essas foram as últimas palavras que Virgil pôde escutar antes de cair no sono.
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A noite caíra na ilha de Aphrodite; tochas iluminavam o interior da casa e davam tons alaranjados para as paredes. No quarto principal encontrava-se Xena, caída no sono sobre a cama ainda com o odre de vinho em suas mãos enquanto Gabrielle adentrava o cômodo. Levantou a pele amarrada em sua cintura, sentando lentamente sobre a virilha da mulher morena. Trazia algo em suas mãos, levemente escondido atrás do corpo; em seus olhos, o olhar maníaco de assassinos, acentuado pelo vermelho vivo.
–… Espero que seus sonhos sejam agradáveis, meu brinquedinho tolo… – e então retirou a adaga de trás de si, elevando-a ao máximo. – Porque eles serão seus últimos…
– Ahn-? – Xena pula na cama, assustada e olhando em volta. – De-devo ter cochilado… O vinho… – zonza, tomou um segundo para se levantar.
Andou pela casa, devidamente iluminada por velas em todos os cômodos, mas incrivelmente vazia. Dirigiu-se então para o lado de fora, apoiando-se nas paredes e portas. Pela altura da lua, já era tarde da madrugada.
– Gabrielle? Gabrielle, onde você está? – andou até a cerca de madeira da propriedade.
Ao longe viu alguns cavalos selvagens na colina, que pulavam e escoiceavam, incomodados com algo. Seu comportamento barulhento e agitado não era normal, ainda mais àquela hora.
– Algo não está certo, algo no ar. Até mesmo os animais parecem sentir isso – e então, pôde avistar algo inacreditável. – Gabrielle?!
A barda se encontrava montada no garanhão líder do bando, submetendo-o, controlando-o somente com as mãos na crina do selvagem animal e as pernas em sua barriga. Seu corpo emanava um aura esverdeada que gradualmente cobria todo o cavalo.
– VOCÊ?! – gritou ao avistar a Princesa Guerreira.
– O que está acontecendo? Você está bem?
– Fique longe de mim, sua idiota! Você não entende? Você tem de me deixar sozinha! – conseguiu bradar, lutando contra a vontade guiar o animal até sua amada, o que fazia a aura verde se espalhar pelo bando selvagem.
– Nós estamos nisso juntas, Gabrielle, sempre estivemos! Não importa o que você estiver passando, eu estou com você! Deixe-me ajudar!
– Você não está ouvindo? Eu quero lutar contra isso, mas não posso fazê-lo se você não ficar longe de mim! – exclamou, inconscientemente liderando o cavalo contra Xena, fazendo o resto do bando segui-lo. – As vozes são fortes demais! A necessidade de corrigir uma eternidade de erros não pode ser negada.
Então Xena fez a única coisa que lhe restava: começou a correr, fugindo da jovem mulher e dos animais tomados por aquela força maligna.
– Gabrielle! Lute contra essa força! Não faça isso! – mas seu corpo mal lhe respondia. – O vinho! Eu não consigo focar… Está afetando meu equilíbrio… – e então tropeçou, indo ao chão. – Argh! – a horda de animais então pisoteou impiedosamente a guerreira.
– Xena, por favor! Eu estou lutando contra a raiva, mas quanto mais eu brigo, mais poderosa ela se torna! Está crescendo, saindo do meu controle! Está começando a possuir os cavalos… A terra e o ar em volta de mim… Tudo…
E então, como dito, os animais começaram a atacar a Princesa Guerreira: seus olhos brilhavam no mesmo vermelho-sangue de Gabrielle enquanto mordiam-na, fazendo seu corpo e principalmente seus braços sangrarem.
“Os cavalos… Eles estão me mordendo! Eles na verdade estão se alimentando da minha carne!”
– Você tem de ir embora, Xena! – usou o garanhão para empurrar os outros cavalos que se recusavam a deixar o corpo da alta mulher. – Fique longe de mim antes que esse poder me consuma… Consuma tudo e se torne grande demais para qualquer força pará-lo! – chutou o peito da morena quando esta tentou se levantar.
A guerreira rolou no chão, aproveitando-se disso para levantar-se com facilidade e voltar a correr.
– O que eu devo fazer? Eu mal consigo correr! O vinho… O efeito dele é forte demais, eu não consigo fazer nada… – corria enquanto segurava seu braço mais ferido.
Gabrielle vinha logo atrás, liderando os cavalos selvagens ainda sentada no lombo do líder. E então Xena encontrou-se encurralada em um penhasco à beira-mar.
– Nada além de queda… E essa é a única chance que me sobrou – e então pulou, mergulhando de cabeça no meio das rochas.
Gabrielle se aproximou da ponta do desfiladeiro, desmontando do cavalo que abria a noite fria com sua respiração quente, causando uma leve névoa. Extendeu a mão para o céu estrelado, intensificando a aura verde que a rodeava.
– Isso não é o suficiente, Xena! – e então lançou a outra mão em direção às estrelas, fazendo surgir no céu estranhas estrelas cadentes laranjas. – Nós estamos brincando com poderes muito mais fortes do que nós poderíamos ter imaginado! Ciúme, raiva, degradação… – abriu os braços, fazendo as luzes irem em sua direção. – O grito eterno por vingança contra a opressão sobre os mais fracos! – dois olhos gigantes surgiram no céu, fechados. – Ele deve ter um instrumento de expressão, e eu sou esse instrumento. O poder me alimenta e se alimenta de mim! – então os olhos se abrem, revelando-se tão vermelhos e brilhantes quanto os de Gabrielle. – E você… Você é o resultado! O foco! O sacrifício! – as pedras que haviam descido do céu, envoltas por chamas, agora desciam o penhasco, em direção à onde Xena havia mergulhado e ainda estava submersa.
“Pedaços do céu! Ela está conjurando pedaços do grande céu contra mim!” – pôde constatar, ao ver as pedras adentrando a água na tentativa de atingí-la. – “Tome o que tiver que tomar, custe o que custar, esse poder deve ser parado agora!”
– Pelo amor dos deuses, Xena… Vá! Nade de volta para a Grécia e me deixe em minha miséria! – gritou enquanto sua aura esverdeada subia aos céus, fazendo mais pedras cairem do mesmo em direção à Xena. – Abandone-me aqui para sempre e então esse poder profano morrerá comigo!
– Eu não posso fazer isso, Gabrielle – protestou, enquanto escalava o penhasco de volta ao topo, em direção à loira possuída.
Gabrielle, então, não conseguiu evitar que lágrimas escorressem pelos seus olhos tomados pelo vermelho do ódio.
– Você é louca?! Não há outra maneira!
– Tem de have – replicou, na metade do caminho até o topo. – Se eu abandonasse você aqui, você arranjaria uma maneira de me seguir, e essa fome demoníaca estaria à solta no mundo lá fora.
– Xena, eu estou te avisando! Eu não posso mais lutar contra isso! Quanto mais eu resisto, mais forte fica o poder! – colocou-se em posição de ataque, com as pedras flamejantes dançando em volta de si de acordo com sua vontade inconsciente.
– É por isso que eu estou me rendendo à você, Gabrielle. Eu vou deixar você me matar para acabar com a maldição – explicou-se, voltando à superfície do penhasco.
– Maldita seja você no Tártaro, Xena! Eu não quero fazer isso! Isso está me destruindo tanto quanto está destruindo você!
E então, tudo que a Princesa Guerreira fez foi se limitar a olhar serenamente sua alma gêmea.
– Perdoe-me, Gabrielle, mas a maldição venceu. Tudo que eu peço é escolher como eu morrerei.
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O sol nascia no horizonete, enquanto duas guerreiras voavam cada vez mais alto no lombo de um Pegasus furioso, também tomado pela raiva de Gabrielle, que o controlava sem esforço.
– Você é uma idiota! Se tivesse coragem para encarar um fim rápido, eu poderia ter feito um golpe de misericórdia limpo e indolor. Você não precisava sofrer. Da sua maneira, você experimentará milhares de mortes enquanto você mergulha do alto das estrelas até a terra abaixo, onde certamente sua morte aguarda
– Ainda assim, você concordou com a minha escolha – Pegasus então deixa as nuvens bem para trás e começa a entrar em uma zona onde o sol parava de iluminar.
– O que está acontecendo? Nós estamos alcançando as estrelas! Minha chama está… Oscilante! Ela não pode sobreviver aqui em cima entre as estrelas! – e então agarrou Xena pela armadura, tamanha sua força estava aumentada pela maldição. – Você! Esse era o seu plano o tempo todo! Você pensou que poderia me enganar ao extinguir a chama! Você pensou que seria tão simples fuçar o fogo da ofensa que tem sido construída por tanto tempo enquanto os mais fortes oprimem os mais fracos! De verdade, você é uma idiota! – e então jogou a debilitada guerreira para fora do cavalo, fazendo-a cair de volta à terra. – Deixe isso ser seu epitáfio!
Xena então olhou profundamente os olhos da barda nos últimos segundos que teve; dali emanou todo o amor de sua alma por aquela pequena mulher loira enquanto falou.
– Gabrielle… Gabrielle, eu te perdôo – e então caiu, fora da visão da jovem mulher.
– Ha! A idiota! Quem precisa de perdão quando eu tenho vitória! Após todos esses anos de ultrajes e humilhação, a vingança é minha! Finalmente, a fria e cruel justiça foi entregue ao maior trunfo do reinado de Ares…
E então o chakram em sua cintura, herdado de Xena, pôs-se a brilhar intensamente, ativado pela conexão milenar entre aqueles dois karmas. A arma mágica, que tinha seu laço selado com aquelas duas almas, não poderia permitir que forças malignas fizessem uma destruir à outra. Por isso, livrou Gabrielle da maldição, para que esta salvasse seu único grande amor; todo o ódio, a chama esverdeada e os olhos vermelhos se foram, tão rapidamente como vieram. Gabrielle havia voltado ao normal.
– Ah, meus Deuses! O que foi que eu fiz?! – olhou para baixo, para a diração em que havia jogado Xena. – A fúria! Deixou-me! Da mesma maneira que foi com as outras noivas, logo após da ação fatal! Mas isso não tem de ser fatal! Não dessa vez, não tendo o chakram me salvado para que eu impeça a morte de Xena! – e então agarrou na crina do animal, apertando-o com toda força para voltar à terra. – Pegasus! Vai, com tudo que você tem! – mulher e cavalo lançaram-se numa queda com toda a velocidade que era possível. – Mergulhe e pegue Xena! Pegue ela antes que… – interrompeu sua frase ao ver um borrão de cabelos negros caindo, e rapidamente manobrou o animal para que a guerreira caísse no lombo macio. – Obrigada Deuses, nós conseguímos! – respirou aliviada, dando o braço para a Princesa Guerreira se equilibrar.
– Com nenhuma margem de erro. Por que demoraram tanto? – sorriu.
– Nós viemos o mais rápido que pudemos… Enquanto outros além de nós parariam no meio do caminho para admirar o nascer do sol – e riram, juntas, felizes por aquele pesadelo ter terminado.
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De volta à Tebas, a maior taverna na praça principal continha pessoas bêbadas dormindo por sobre todas as suas mesas; marcas da folia da noite. Uma figura forte e morena se posicionava em frente à uma das mesas, com um cálice de prata entre seus braços e apoiando-se no tampo através dos mesmos. Ao seu lado, a sacerdotisa que havia celebrado a união das duas guerreiras puxava um de seus braços.
– Vamos lá, Ares, esse lugar está ficando deprimente. Vamos sair daqui.
– Não enquanto não escutarmos a palavra sobre o destino de Xena.
Então uma voz conhecida foi ouvida, parada não muito longe do casal.
– Deuses, Ares, isso é horrivelmente tocante. Não sabia que você se importava.
O Deus da Guerra então levanta sua cabeça em diração à sua interlocutora, levando um susto pela surpresa.
– Você?! Mas… Como?!
– Como o quê?! Como sobrevivi ao seu esquema de me matar e pôr as mãos sobre Gabrielle em seu estado de luto? – Xena apontou então para ele quando o viu abrir a boca. – Não se importe em negar isso, Ares. Virgil escutou atentamente à tudo e nos deu todos os detalhes.
– Isso mesmo! – concordou o jovem que se encontrava ao lado de Xena, de braços cruzados.
Ares então aproximou sua face da dele, ameaçadoramente.
– Você deu, agora?
O guerreiro então se assustou, tamanha intimidação.
– Heh-heh! Nada pessoal…
Gabrielle então intimidou a sacerdotisa da mesma maneira.
– E você, “sacerdotisa”. Foi você quem me infectou com a raiva!
A mulher então olhou inocentemente para a loira.
– Não “raiva”, Gabrielle… Maldição. Eu sou uma xamanesa – então se aproximou de Ares, na intenção de beijar sua bochecha. – E sim, eu estava trabalhando com Ares… Por um certo estímulo.
– Ah, por favor, nós não concluímos nada. Não haverá nenhum pagamento – e então empurrou a mulher. – Isso é o que nós ganhamos por deixarmos uma mulher tentar se intrometer entre outras. Mulheres! – completou, desaparecendo.
– Ei, volte aqui, seu rato! – protestou a xamanesa.
– Bem, é o que acontece algumas vezes. Você anda com ratos, você é mordida por ratos – riu Hércules.
– Poupe-me – desdenhou a xamanesa, também desaparecendo.
Virgil então se aproximou do casal.
– Então, qual a pontuação, pessoal? Esse casamento todo era somente uma farsa? Era um casamento de verdade ou um casamento farsa?
Hércules então se aproximou, colocando a mão por sobre o ombro do jovem.
– Você gosta de dizer essa palavra, não é?
– Que palavra? – e se voltou pra ele. – “Farsa”? O que tem de errado com farsa? Farsa!
– Desculpe te desapontar, mas o casamento era, de fato, somente uma parte do nosso plano. A pessoa que deveria realizar a cerimônia não era verdadeira, então não há nada de real aí – respondeu Xena, se virando então para a barda e colocando as mãos em seus braços. – E para ter certeza que não cairíamos nessa, Gabrielle e eu tivemos grandes dores para evitar consumar o casamento.
– Nós não poderíamos fazer isso pois planejamos nos casar verdadeiramente, em minha aldeia Amazona. Então nós simplesmente não poderíamos – completou a barda, olhando nos olhos de seu amor.
– De fato… – começou Xena, mas não teve capacidade de continuar, perdida no olhar da mulher que amava.
– Nós planejamos partir para lá hoje, e realizar o que já deveria ter sido realizado há muito tempo… – completou Gabrielle, dando as mãos à sua amada.
– Ainda assim, o que vocês estão dizendo é que, de fato o casamento era só uma…
– Não diga isso! – interrompeu Hércules, dando uma cotovelada na barriga de Virgil, impedindo-o de continuar.
– Hoof! …Uma artimanha! Eu ia dizer uma artimanha…
FIM