Uma estranha em seus olhos – Capítulo 2

Uma explosão luminosa atingia uma das paredes de mármore do Olimpo, enquanto Ares espumava de raiva com os olhos flamejantes.

-Se você destruir alguma estátua minha nós teremos uma verdadeira guerra aqui! – disse Afrodite irritada com as mãos na cintura.

-Ora, deixe-me em paz! Você viu no que deu reviver ela??! Por ANOS, POR ANOS  E ANOS eu ofertei o mundo a ela, a troco dela SOMENTE ficar ao meu lado, liderar meu exército. Depois nem isso mais eu queria, era tão simples, apenas estar do meu lado…mas não! O lado negro blábláblá…O Bem supremo nhénhénhé e agora ISSO?!?! Com licença, irmã, mas ONDE ESTÁ O MUNDO NO QUAL EU COSTUMAVA VIVER?!?! Primeiro a loirinha irritante deixa o lado negro da vida toda aflorar e sai destruindo tudo, e agora XENA, a XENA que sempre me chutou por eu ser um cara mau resolve se juntar e ELA!?! ISSO não está certo! –  urrou atirando mais uma bola de fogo contra um pilar.

-Não, não está, mas destruir a casa por causa disso não vai ajudar!A questão é que a gente tem que achar um jeito de reverter isso!

-Reverter? Você sabe o que seria reverter nesse caso, não sabe? E sabe o trabalho que daria matar Xena?! Isso não é trabalho pra um homem, nem para um deus. Isso é trabalho pra um exército inteiro, SE tiver sorte.

-Não, Ares! Eu já disse que meus meios não envolvem morte! Você lembra como Xena te deteu no dia em que ela derrubou o resto do panteão?

-Bom, naquele dia eu levei socos, chutes, levei uma flechada na perna e fui acorrentado. Nada com que eu não pudesse lidar. – respondeu sarcasticamente.

-Aí está a resposta.A corrente de Hephestus que  ela usou pra te prender, é ela a chave para deter Gabrielle.

-Bom, você viu o juramento que Xena fez. Chegar perto de Gabrielle não será a coisa mais fácil agora que ela tem uma campeã. Antes nós até tínhamos chances devido a inexperiência dela com seus poderes, mas agora…

-Então traçaremos uma estratégia – disse Afrodite simplesmente  – Você luta com Xena para distraí-la e eu trato de acorrentar Gabby.

-Fala sério Afrodite, você não puxa nem um gato pelo rabo, sozinha como espera fazer isso?

-Se você parasse de subestimar todos a sua volta uma vez na sua existência talvez as coisas não estivessem tão distorcidas agora. – afirmou secamente – É a única chance que temos, você querendo ou não. A não ser que sua sublime inteligência tenha alguma estratégia alternativa, coisa que eu duvido, considerando que sua essência sempre foi a guerra pura, simples e sanguinária.

-Eu não traço planos, eu ajo.

-Então trate de agir agora e cuidar da sua parte que eu cuido da minha. Eu não sei se você notou, mas ao contrário do que todos pensam eu não sou apenas uma perua inútil. Eu tenho meu valor, Ares. E se isso tudo é sobre salvar o karma das MINHAS amigas, eu me sujeito ao trabalho braçal que for preciso.

-Está certo, faremos do seu modo. Como você disse, é a única chance que temos, no entanto se isso não der certo, eu não te ouvirei mais Afrodite, eu farei do meu jeito , não importa o que aconteça.

——

A estrutura do novo templo tomava sua forma as custas do sangue e suor dos tomados escravos enquanto Gabrielle era servida de oferendas na sombra de seu trono. Ao seu lado, de semblante sério e taciturno, estava parada Xena. Por duas ou três vezes, quando homem ou menino caiam ao chão em completa exaustão seu instinto humano falou mais forte e pelo ímpeto, foi socorrê-los, para em seguida ser severamente repreendida por Gabrielle. Não concordava ou compactuava com os métodos de sua alma gêmea – teria ela alma ainda? – mas apenas mantinha-se fiel a sua promessa porque era assim que as coisas teriam que ser. Sabia de sua culpa. Sabia que havia sido sua decisão, sua ausência que causara tudo aquilo, embora tudo estivesse muito além do seu poder para que fosse controlado. Agora apenas pensava tristemente onde estava a sua Gabrielle cheia de amor pela humanidade, cheia de luz?

Um estrondo interrompeu seus devaneios de maneira abrupta e surpreendente. Dois raios luminosos de grande potência se chocaram com a parede do templo que vinha sendo levantada fazendo-a tombar .Gabrielle levantou-se sobressaltada e seus olhos avistaram com fúria as figuras de Ares e Afrodite há uns cem metros dali. Ares trazia nos ombros uma espessa corrente e Afrodite vinha caminhando mais determinada do que jamais esteve.

-Que inferno vocês pensam que estão fazendo?!!?!! – berrou Gabrielle .

-O que já devíamos ter feito, acabar com essa palhaçada. – rosnou Ares largando a corrente nas mãos de Afrodite.

-Por cima de mim!

-Tente me deter – disse Ares com um olhar cínico.

Gabrielle  puxou a espada em riste numa mão e na outra uma bola de fogo, estava pronta pra descer do trono e ir ao ataque quando sentiu um a mão de Xena em seu ombro.

-Não faça isso Gabrielle. É uma armadilha, eles sabem que você não tem pleno domínio dos seus poderes, querem lhe enfraquecer e te dominar com as correntes. Seja sábia minha deusa, deixe-me ser sua campeã, lutarei no seu lugar.

-Que prova de maior fidelidade eu poderia querer? – sorriu a loira – Você tem razão. Vá Xena, defenda  minha honra.

Xena puxou a espada e desceu até Ares lhe encarando mortalmente.

-Olá Xena, parece que houve uma reviravolta em suas ideologias desde a ultima vez  que nos vimos.

-Que moral tem você a falar de ideologias, seu verme? Você causou tudo isso em primeiro lugar.

Ambos andavam em volta de si mesmos, concentrados como serpentes prontas a dar o bote a qualquer segundo.

-Depois de tantos anos eu ainda não lhe entendo. Mas acredito que isso seja bom, sem mistérios tudo perde a graça.

-Você veio aqui pra lutar ou pra tagarelar Ares?

Ambos deram o primeiro passo, as espadas se bateram com energia e um alto tinido pode ser ouvido. Como toda luta anterior entre ambos, a disputa estava muito acirrada, batidas de espadas, chutes, socos,derrubadas no chão… O povo assustado começava a se retirar dali aproveitando a distração de Gabrielle que só tinha olhos para a luta.

-Você não vai desistir não é? Eu não quero ter que te matar Xena, isso seria uma grande pena.

-Não entrei nessa luta pra sair derrotada. Daqui só saio vitoriosa…ou morta.

Perto dali Afrodite segurava as correntes hesitante olhando para Gabrielle que lhe fitava friamente.

-Está aqui para fazer o que Afrodite? Assistir a derrota do seu irmãozinho? O reinado de vocês acabou, eu sou a  nova deusa que esse povo precisa, voltem para o Olimpo antes que seja tarde.

Afrodite nada respondeu, apenas deu um passo a frente segurando a corrente de Hephestus com mais confiança.

-Ah…esse é seu planinho ingênuo? Me acorrentar?

Gabrielle lançou um raio que Afrodite bloqueou com outro seu. Outra seqüência de troca de poderes foi lançada, até que aproveitando um intervalo Afrodite avançou atirando as correntes pra cima de Gabrielle que as desviou facilmente e acertou um soco no rosto da outra deusa, derrubando-a ao chão. Gabrielle ergueu a espada e a apontou na direção de Afrodite, seus olhos estavam repletos de determinação para o ato que mesmo para uma imortal, parecia prometer conseqüências bastante dolorosas.

-Nãooo! – um raio vindo de Ares atingiu a espada de Gabrielle fazendo-a cair, ele empurrou Xena para o lado por um segundo e correu até Gabrielle com sua espada pronta para golpear a deusa que agora, tendo derrubado sua espada estava sem defesa. Xena presenciando isso encheu-se de desespero e mais rápido do que em toda sua vida correu e deu uma cambalhota caindo logo na frente de Gabrielle para receber em cheio o golpe de Ares. Seus olhos se arregalaram e ela tossiu deixando o sangue escorrer por sua boca.Ares perplexo retirou a espada suja de sangue da barriga da guerreira, olhou para Xena, para a lâmina e depois para Gabrielle que tinha os olhos igualmente arregalados. Xena caiu de joelhos sem forças e perdendo muito sangue…

-Não…não… – balbuciou Ares olhando para Xena – Não – repetiu voltando o olhar para Gabrielle que parecia em choque…

-Nããããooooooooooo!!!!DESGRAÇADO!!!!!!!!!!!!!!!!! –  gritou a loira partindo pra cima de Ares com golpes de espada, socos e chutes. Ela o derrubou afastado de Xena e correu de volta para a guerreira lhe tomando nos braços-  Não, Xena! Não me deixe, não me deixe de novo!

Os olhos azuis estavam turvos, um filete de sangue saia do canto de sua boca e sua mão esquerda segurava a ferida do abdômen, se ensopando de sangue.Gabrielle lhe segurou firme a outra mão e pela primeira vez desde que toda confusão se iniciara, pode-se ver um sentimento que não fosse fúria ou ódio naqueles olhos. Estava repleta de desespero, tristeza e culpa.

-Não me deixe Xena, não me deixe….Eu não dou esse direito, não me deixe!!!!! Por que!? Por que você fez isso!? Eu sou Imortal, ele não pode me matar, por que você fez isso!?

-Gabrielle… – ela sussurrou com a voz fraca e rouca – Gabrielle…não importa em que forma, humana ou divina…eu sempre te amarei. – foram as últimas palavras antes seus olhos se fecharem e sua mão cair pendente.