Após Gabrielle ser presa e condenada injustamente por algo que não fazia ideia, ver Xena ao seu lado e disposta a provar sua inocência foi reconfortante. Em um momento ela pensou que não havia sido importante para Xena, mas no outro ela comprovou que sua obsessão pela imperatriz provinha da admiração por aquela mulher.

Depois de ver Gabrielle na masmorra, com seus belos cabelos cortados e trapos de prisioneira, a imperatriz saiu determinada a resolver aquilo e a salvar a escritora. Para conseguir resolver tudo, Xena teria de ir até o mal da raiz e cortá-lo.

A imperatriz foi até o final da masmorra e parou de frente para a cela que mantinha Alti. A feiticeira deu um de seus olhares debochados para a morena e sorriu enquanto aguardava pelo drama de Xena.

-Destranque! – Xena falou firme para o soldado que a acompanhava.

-Mas o imperador disse…- Começou ele.

-Você vai chatear sua imperatriz até que ela te deixe sem dentes? – Xena deu um olhar mortal para o soldado.

-Não, devo ter me esquecido disso. Abrirei a porta…- Com a garganta seca o soldado escolheu a chave certa do molho e abriu a cela. Enquanto isso, Xena e Alti se encaravam ferozmente.

-Saia. – Xena disse novamente para o soldado e diferente das outras vezes ele não contestou sua imperatriz.

Xena fitou bem o rosto de Alti e recebeu um sorriso maldoso da mesma. Antes que pudesse falar algo, a imperatriz analisou a linguagem corporal da feiticeira e ficou desconfortável com toda tranquilidade dela.

-Você denunciou a escritora como sua cúmplice. – Xena afirmou com raiva em sua voz.

Alti por sua vez soltou uma risada debochada e ergueu as sobrancelhas.

-A escritora? Você só pode estar de brincadeira comigo. – A bruxa fechou a cara pela primeira vez e tentou entender o que Xena queria a partir daquela acusação. –O que você quer?

Xena já não conseguia compreender o que estava acontecendo. Aparentemente Alti havia atacado sua amante com acusações falsas e Cesar pareceu muito apressado em lidar com Gabrielle. Em seguida ela questionou a feiticeira, mas recebeu uma resposta tão confusa quanto aquela história toda. Afinal, o que estava ocorrendo?

A imperatriz não soube responder, mas ela sabia outra coisa. Sabia que Alti tinha informações e que era mentirosa, ardilosa e astuta.

-Vai ficar aí parada me olhando? – Alti disse com irritabilidade e Xena deu um passo em sua direção. –O que quer de mim?

-Suas mãos sobre mim como ontem à noite…- Xena não podia entrar na mente de Alti e descobrir a verdade, mas podia ser possuída e talvez ali ter sua revelação.

Alti se levantou com ar curioso e se lembrou que ao invadir a mente de Xena na procura de conhecimento, acessou informações estranhas e que não a levou a lugar nenhum. Porém, a vida era curiosa e Xena estava diante dela tão perturbada quanto sua busca de entendimento de tais visões.

-Suas mãos me deram visões e conhecimento. Eu quero ver de novo. – Xena estava muito perto de Alti agora, mas se mantinha em modo de defesa.

A feiticeira tornou a sentar e sendo a mesma manipuladora de sempre, começou a jogar com Xena na esperança de ganhar algo.

-E por que eu faria isso? – Alti quis saber.

Xena já sabia que a mulher tentaria ludibria-la, mas sua última chance de contra-atacar seria apostar na intuição de que Alti ainda não tinha um plano de como escapar dali.

-Então apodreça na masmorra. – Xena deu as costas com os dentes serrados e Alti se ergueu na mesma hora.

-Espere…- Alti falou por impulso e Xena parou bruscamente. –Liberte-me e te mostrarei o que quiser. – A feiticeira tocou o rosto da imperatriz e colocou “suas cartas na mesa”.

-Não se esqueça do que meu marido pode fazer com você caso me machuque. – Xena não fugiu dos dedos de Alti, mas alertou sobre os riscos que corria.

-Oh! Seu marido? – Alti ironizou e levou as mãos mais para cima da garganta de Xena e começou a mostrar as visões ocultas naquela mente.

Em questão de milésimos, Xena viu um César pomposo e cheio de guardas nas suas costas. Viu seu marido dando ordens na sala do trono, mas diferente do lugar que conhecia, aquela sala havia um único trono. Em seguida presenciou Cesar fazendo sexo com outras mulheres, mas nenhuma delas era a imperatriz e em seguida e mais perturbador, Xena viu Cesar e Brutus numa praia e ordenando que as pernas de alguém fossem quebradas.

No mesmo instante, Xena gritou e sentiu a dor da marretada esmagando suas pernas. Aquela dor tão aguda e profunda trouxeram mais visões que caíram em sua consciência como um relâmpago e a fizeram compreender porque Cesar a teria agredido de tal forma.

Alti que compartilhava das visões com Xena, percebeu pela primeira vez do que se tratava tudo aquilo e o porquê o mundo parecia fora do curso certo. Alti pode ver a si mesma tentando matar Xena num plano espiritual e procurando por respostas sobre a escritora.

A visão seguinte foi de uma Gabrielle determinada e cheia de vida. Uma Gabrielle que pareceu tocar tão fundo no coração de Xena ao ponto de perturbar deuses e forças ocultas. No momento em que Alti se deu conta do papel de Gabrielle naquelas visões, um temor subiu por sua espinha.

Alti não podia acreditar no que estava acontecendo e por um momento se recusou a aceitar que de alguma forma o destino tinha sido modificado. Mas se aquilo realmente fosse verdade ou até mesmo possível, então significava que na outra vida, ela já não existia mais.

Indo mais fundo na consciência de Xena, ela pode ver as inúmeras mortes e tentativas de sobreviver da guerreira. Viu que Gabrielle era a fonte de sua força e descobriu que assim como César, ela havia sido ceifada graças ao poder daquelas almas gêmeas.

Todas aquelas revelações, levou Xena e Alti no elemento final. Elas puderam ver César se erguendo dos mortos e invadindo o templo do Destino. Com um corte rápido e habilidoso, ele remoldou o destino e fadou a humanidade toda em uma desordem e insatisfação.

Alti soltou Xena bruscamente e a imperatriz caiu no chão com os olhos estalados. Então era aquilo? César mudou os destinos, mas de alguma forma os destinos de todos tornou a se colidir.

-Essas imagens…- Alti começou. –Não são dessa vida. –

-Não, não são- Xena respondeu e deixou claro que tinha entendido bem o que aconteceu.

-Agora a sua parte do trato! – Alti notou que sua missão estava cumprida e queria garantir a liberdade.

-Imperatriz! – O soldado que acompanhou Xena chamou. –Estão levando a escritora.

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Enquanto Xena estava com com Alti, Gabrielle ficou na cela aguardando por ela. Seu coração estava aflito e a cada martelada que escutava do lado de fora da masmorra, mais ansiedade sentia. Então era isso? Ela iria morrer longe de casa e de tudo o que amou e conheceu um dia? Não bastava os pais terem sido assassinados e sua casa violada, agora ela teria de morrer de um jeito humilhante?

Quando menos esperou, as marteladas pararam bruscamente e dois guardas fortes apareceram. Os homens não pareciam gentis e nem tinham a intenção de ser. Eles abriram a cela o mais rápido que puderam e pegaram Gabrielle pelo braço.

-Não! – A loira disse. – Eu não sei os motivos das minhas acusações, eu mereço um julgamento justo. – Gabrielle tentou lutar, mas as mãos dos guardas eram fortes e a tiraram de lá sem dificuldade. –Eu mereço ser ouvida.

-Você não é cidadã romana para receber um julgamento aqui. – Um dos guardas falou na esperança de calar a escritora.

-Mas eu sou um ser humano…- Gabrielle disse convicta, mas recebeu uma gargalhada em resposta.

Assim que saíram do lado de fora do pátio, Gabrielle viu uma multidão de nobres e curiosos. Os atores da companhia de Atenas estavam horrorizados com o que viram e um deles estava machucado. Provavelmente tentou salvar Gabrielle e apanhou de algum guarda.

-NÃO…- Gabrielle gritou de novo. –Por favor. –

Mas ninguém ousou responder. Envolta a multidão cochichava e aguardava sua morte como se fosse uma atração formidável e a humilhação inundou Gabrielle.

Enquanto tinha seus punhos amarrados na cruz, seu peito subia e descia desesperadamente e um ataque de pânico ficou aparente. Ela não queria morrer, queria saber o que estava acontecendo e queria ser salva. Queria ser salva mais uma vez de seu destino, mas onde estava sua heroína? Onde estava aquela pessoa que era para ter aparecido em Potedia? Onde?

Do outro lado do pátio estava Cesar cercado por seus guardas e esperando ansiosamente pela morte de Gabrielle. Aquela garota já havia o atrapalhado uma vez, mas não iria atrapalhar nesta nova vida. Ele precisava ver o sangue da escritora escorrer pela areia e somente depois daquilo sentiria triunfante.

As mãos de Gabrielle estavam prestes a serem pregadas na cruz, quando a porta do pátio se abriu e uma voz forte soltou uma ordem.

-PAREM.- Xena saiu pela porta furiosa e os guardas largaram os martelos.

Cesar sentiu uma raiva tremenda quando viu Xena intervir, mas não podia demonstrar.

Gabrielle por outro lado sentiu um alívio incrível no peito e virou a cabeça para tentar ver Xena e o que ela iria fazer.

-Eu sei da verdade, Cesar! – Xena caminhou calmamente até seu marido. O imperador sentiu um frio na barriga, mas talvez não era o que ele estava pensando. –Eu sei quem eu fui e sei quem você foi.- As seguintes palavras de Xena fizeram Cesar temer, mas ele continuou firme.

-De que demônios está falando? – Apesar da pressão e medo, Cesar riu largamente e não estremeceu diante de Xena.

-Me crucificar naquela praia foi um terrível engano. Deve ter sido seu pior pesadelo. – Xena falou com os dentes cerrados e Cesar notou que fingir e mentir ia ser em vão.

O imperador deu um olhar irritado para Gabrielle e afastou Xena da visão da escritora e dos guardas.

-Sim! Bem, já tive experiências melhores com mulheres. – Falou Cesar no seu tom sarcástico de sempre.

-Então é verdade! – Xena se afastou da mão dele e tornou a cerrar os dentes. –Você me traiu! – No momento seguinte ela teve dificuldades em controlar a altura de sua voz.

-Xena, eu arrependi disso, por isso dei uma segunda chance para nós. – De fato Cesar tinha se arrependido, mas não era por amor ou coisa do tipo.

-Você se meteu com os Destinos e o tear, Cesar. Isso é loucura. – Xena estava achando tudo aquilo um absurdo.

-Escute, meu amor! – Uma euforia tomou conta de Cesar e ele tocou o rosto de Xena para que ela prestasse atenção e pudesse ser persuadida. –Quando dermos a ordem, nossas tropas irão atacar a Grécia e Chin. Se conseguirmos, todas as nações estarão aos nossos pés. Seremos imperadores não só de Roma, mas do mundo todo…- Cesar cuspiu seu egoísmo, mas uma vez e esperou que Xena compreendesse qual o sentido de ter mudado o destino. Ele queria que ela entendesse quais os benefícios daquilo.

Por um momento Xena deixou as palavras de glória de Cesar entrarem em sua mente, mas por algum motivo toda aquela ambição já não cabia mais dentro de si. Ela olhou involuntariamente para Gabrielle que continuava deitada e amarrada na cruz, mas Cesar trouxe seu olhar de volta nos dele.

-Esse é o nosso destino. – Cesar falou convicto enquanto passava os dedos delicadamente nas bochechas de sua imperatriz.

-E isso ainda pode acontecer. – Xena compreendia agora o porquê Cesar queria a cabeça de Gabrielle. Ela sabia qual risco ela apresentava para Roma e sabia melhor do que ninguém que nas circunstâncias atuais ela não conseguiria tirar sua amante daquele lugar a não ser que pudesse dar o que Cesar mais queria. –Se deixar Gabrielle ir embora serei sua imperatriz e conquistaremos o mundo todo.- Cesar prestou bem atenção e temeu as próximas palavras. –Mas se matá-la, dedicarei minha vida a reverter o que você fez e devolverei a todos o mundo que você mudou. – Xena deu seu sorriso louco e determinado. –Você sabe que eu consigo fazer isso. Porque ambos sabemos que tenho muitas habilidades. –

O lábio superior de Cesar contraiu sutilmente e naquele instante ele se deu conta de que não estava mais diante de sua esposa perfeita e imperatriz de Roma. Ele estava diante da princesa guerreira e havia uma diferença gritante entre a pessoa que ele “enterrou” na outra vida e a esposa que forjou nesta outra.

O imperador olhou para os soldados que aguardavam uma ordem e ergueu a mão.

-Soltem a prisioneira. – A ordem de Cesar foi decisiva e os guardas começaram a desamarrar Gabrielle. Mais do que de imediato, Xena saiu andando na direção da escritora e deixou um Cesar muito frustrado para trás.

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Quando Gabrielle ouviu a ordem de Cesar, um choro de alívio entalou em sua garganta, mas apesar daquilo, ela queria explicações e o choro quase veio à tona quando Xena começou a caminhar em sua direção.

-Gabrielle!- Xena chamou. –SAIAM DO CAMINHO! – Em seguida ela empurrou dois guardas. –TIRE as suas mãos nojentas dela. – A imperatriz empurrou outro guarda e ele não ousou olhar em sua direção.

Xena se ajoelhou ao lado da cruz e ajudou Gabrielle a se sentar. Enquanto isso, Cesar observava tudo com a cara mais feia do mundo e controlava sua vontade de matar ambas mulheres naquele instante.

-Você pode ficar de pé? –Xena perguntou e Gabrielle se apoiou nela para levantar. –Você está bem? – A preocupação na voz da imperatriz era enorme e Gabrielle pode notar.

-Obrigada por salvar minha vida, Imperatriz. – Gabi ficou de cabeça abaixada pois não soube como reagir diante de Xena na frente daquela multidão. –Estou em dívida com você.

Xena ergueu a cabeça de Gabrielle para poder olhar naqueles olhos verdes mais uma vez, mas seu coração partiu quando os encontrou banhados de lagrimas. A imperatriz se lembrou então da outra vida e de como havia presenteado com Gabrielle. Se lembrou da aproximação, da amizade e da paixão que desabrochou tempos depois. Xena se lembrou de tudo e tentou não chorar, afinal, sua alma gêmea estava diante dos seus olhos, mas naquela linha temporal maldita criada por Cesar, elas não poderiam ficar juntas.

-Eu não sou sua imperatriz…- Xena pensou em revelar naquele instante tudo para Gabrielle, mas seria perigoso demais. Seria melhor deixar Gabrielle pensar que as coisas eram daquela maneira mesmo. –Eu sou sua amiga…- Xena tirou sua capa e colocou envolta do corpo branco da escritora. –TRAGAM UM CAVALO. – Xena ordenou e um guarda correu na direção ao estabulo. –Gabrielle, volte para sua vila junto ao mar…

Por um momento a gratidão por ter sido salva foi embora e Gabrielle se lembrou do pedido de Xena na noite anterior. Se lembrou de quando pediu para que ficasse em Roma mais uns dias, mas gora o pedido para que fosse embora era desesperado. A escritora sabia bem que sua vida estava em risco e por isso Xena estava dando a chance de que fosse embora, mas no fundo ela não queria.

-Por favor, volta para sua vila e seja muito feliz. – O olhar final de Xena foi quase um apelo e abraçou Gabrielle muito forte para que não se esquecesse nunca mais dele. –Escreva aquela história da heroína indo salvar sua família e a faça a mais grandiosa obra. Assim eu posso ouvi-la aqui um dia e te sentir perto de mim de novo.- Xena sussurrou para Gabi durante o abraço e a lagrima desesperada da escritora escapou.

Com muito custo ambas se separaram e deram um último olhar intenso. Com a dor mais forte que pode sentir em toda sua vida, Xena virou de costas e começou a se afastar.

Gabrielle sentiu uma vontade imensa de gritar e correr atrás de Xena, mas será que seria conveniente? Gabrielle olhou para dentro de si e notou que não queria voltar para a Grécia, não queria voltar para sua vila junto ao mar e não queria voltar a escrever sobre um amor que nunca sentiu. Ela queria uma experiência nova, queria poder acordar na manhã seguinte e ver Xena ao seu lado e quem sabe não viver aquele tão esperado amor. Se era conveniente ou não, Gabrelle não se importou. Quando deu por si, chamou por Xena o mais alto que pode.

-Xena!- Gabi chamou, mas a imperatriz não parou de andar. –XENA!- Ela chamou de novo e dessa vez a morena ficou parada de costas. –Xena!- Gabrielle se aproximou um pouco mais e resolveu falar o que sentia. –Quando eu pensei que fosse morrer tudo ficou tão claro. Minha vida está vazia apesar do meu sucesso…- Xena apertou seus olhos e se virou para olhar Gabrielle mais uma vez. –Eu escrevo sobre o amor, mas nunca o senti. –

Xena se aproximou de Gabrielle com o coração aflito e apaixonado ao mesmo tempo. Ela queria poder contar a sua querida barda que ela sabia muito bem que amor era aquele e o tal vazio era a mais pura e dolorida saudade. Xena viu outra lagrima escorrer dos olhos de amor de Gabrielle e secou delicadamente com seu dedo.

-Roma não é segura para você. – Diante de todas as palavras reconfortante que queria dizer, Xena optou pela mais sensata. Sua escolha já havia sido feita e sua promessa para com Cesar garantiria a paz da pessoa que mais amava. –Você tem que ir agora. – Xena deu um passo para trás e Gabi entendeu que a Imperatriz não iria vir junto.

-Jamais vou te esquecer. – Gabrielle disse uma última vez e Xena deu um sorriso doce para ela. Logo em seguida, a imperatriz autorizou dois guardas a acompanharem Gabrielle para fora do portão e voltou junto a Cesar.

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No restante daquele dia, Xena ficou em silêncio e pensativa. Ela deveria ter enviado algum de seus guardas de confiança atrás de Gabrielle e certificar que ela iria sair em segurança de Roma, mas Cesar ficou em seu encalço o tempo todo e só foi lhe dar um pouco de liberdade no começo da noite.

Xena suspirou profundamente enquanto estava sentada em sua cama e se amaldiçoou. Tudo o que ela queria era poder viver em paz com Gabrielle e ter a remissão de seus pecados, mas suas tiranias foram tão além do que se consideram “humanas” que o preço foi uma vida sedenta por perdão e sempre fugindo da vingança de quem atingiu.

Muito abalada com tudo aquilo, Xena se levantou e foi até a sacada. A mesma sacada que pode olhar bem para Gabrielle pela primeira vez, a mesma sacada que recebeu o convite da escritora e tiveram uma noite de amor incrível. Mas não faria mais sentido ir até lá. Agora o quarto de hospedes estava vazio e o amor da sua vida longe.

A pior parte por ter descoberto a verdade não foi o fato de saber que sua vida e escolhas haviam sido roubadas, mas sim ter o conhecimento de duas realidades, ter a plena noção de duas vidas que se destoavam agora.

Xena estava prestes a chorar, quando viu Alti passar rapidamente pelo pátio e seguir pela porta que levava ao gabinete de Cesar. A imperatriz se lembrou que havia deixado a porta da cela aberta e sequer se preocupou para onde Alti iria. Porém, agora que Gabrielle estava longe, podia se concentrar na burrada que tinha feito. Alti sabia agora que na outra linha temporal havia sido morta por Xena e havia muito mais motivos para querer permanecer nesse mundo criado por Cesar do que qualquer outra coisa.

A imperatriz saiu correndo de seu aposento e foi em direção ao gabinete de Cesar. Logo que chegou no corredor, pode ver velas iluminando o cômodo e a voz de Alti surgiu. A vontade de Xena era entrar no gabinete e dar socos e chutes na feiticeira, mas agora ela não sabia qual a posição de Cesar, sendo assim, preferiu se esgueirar e ouvir o que estava acontecendo.

-Sua esposa me libertou. – Alti que estava sentada na mesa de Cesar disse toda felizinha.

-Estou vendo. – Cesar por outro lado respondeu cauteloso enquanto permanecia sentado na cadeira e passava o dedo no queixo.

-Xena se lembra de tudo agora, Cesar. Ela não pode mais ser sua imperatriz ideal. – Alti começou a envenenar o imperador e dar força nos palpites que ele próprio já tinha.

-Eu sei e foi tudo graças a vocês. – Cesar não baixou a guarda. –Me dê um bom motivo para não puni-la agora por estragar meu destino perfeito.

-Você não vai querer me punir porque assim como você, eu sou grata por ter tido uma segunda chance. Não sei se você sabe, mas no mundo que você destruiu eu já estava morta. Morta pelas mãos de Xena.- Alti enfatizou o final. –Então, é importante sua majestade saber que não tenho intenção nenhuma de desfazer esse aqui.

-Digamos que eu acredite nisso. – Cesar colocou os cotovelos na mesa e encarou Alti. –O que está pensando em fazer?

-Xena não pode mais ser sua imperatriz, Cesar. Ela tem a consciência da princesa guerreira mais uma vez e logo vai ficar enjoada de matar e conquistar o mundo. Na primeira oportunidade que tiver, vai voltar para aquela escritora sem graça e tentar desfazer seu trabalho sujo. – Alti terminou de dar o checkmate em Cesar e os receios do imperador ganharam voz por meio da feiticeira. –Eu sugiro que matemos a Loirinha e depois Xena. –

-Você sabe que não é tão fácil matá-la. – Cesar cedeu ao plano de Alti, mas começou a pensar nos prós e contras.

-E você sabe também que uma hora ou outra você mesmo decidiria por isso. Veja, você já fez a parte mais difícil que foi mudar o destino e criar uma superpotência ao lado de Xena, agora ela não faz mais diferença. Na verdade, depois de hoje ela passou a ser seu empecilho. – Alti falou firme e Xena fechou os punhos de raiva.

-Muito bem então, Alti! Vá atrás de Gabrielle, traga-a até mim e mataremos ambas no pátio crucificadas. – Cesar tinha um sorriso no rosto agora e cedeu a caricia sensual de Alti.

-Qual será a sentença de ambas, afinal, é sua imperatriz idolatrada pelo povo. – Alti saiu da mesa e foi se sentar no colo de Cesar.

-A sentença será traição matrimonial. – O imperador disse de bom humor e Alti gargalhou.

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Xena podia ter impedido aquela conversa e ter colocado um peso nos argumentos de Alti, mas a verdade é que ela não queria e mais uma vez a intuição da feiticeira se provou certeira.

Logo após o fim do diálogo de Cesar e Alti, Xena não suportou os sons dos beijos das víboras e se retirou. Ela subiu até seu aposento, colocou sua armadura de couro preto, juntou alguns pertences e saiu do palácio de Roma para nunca mais voltar.

Agora ela de fato procuraria sua amada barda e colocaria um fim naquela palhaçada.