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⚠️: Este trecho contém cenas que fazem menção a tortura e punições severas que violam os direitos humanos. Leitores sensíveis podem se sentir desconfortáveis ou ofendidos.

Fanfic / Fanfiction Penumbra grega - Onda de fúria

– Eu exijo uma explicação – O duque de Esparta gritou.

-TODOS VOCÊS ESTÃO PRESOS POR TRAIÇÃO. – Mioll gritou e um alvoroço se formou no salão. – GUARDAS, PRENDAM TODOS.

Uma porta no canto do salão foi aberta e uma fileira de guardas reais entraram no salão e cercaram o aglomerado de nobres.

-Eu não sou um traidor. Eu exijo uma investigação sensata.- Um dos nobres no meio do aglomerado gritou. Outros se manifestaram da mesma forma e de repente uma voz cobria a outra.

-SILEEEENCIO.- Mioll berrou.– EXISTEM TRAIDORES NESSA SALA. ENQUANTO NÃO FOR DESCOBERTO UM POR UM, TODOS VOCÊS FICARÃO PRESOS.-

-Isso é um absurdo. – E mais vozes tomaram conta do ambiente até que uma voz em específico ganhou a atenção de todos.- EU NUNCA. Nunca traí a coroa. Eu sempre mantive minha lealdade para com a imperatriz. – Outro nobre se manifestou.

-Eu também nunca trai a imperatriz. Minha conduta sempre foi uma das mais impecáveis.- Agora foi a vez de uma condessa.

-Eu fui subornado por Telemenes. Esse duque fajuto me ofereceu 5000 dinares para patrocinar o exército persa e depois me disse que me daria o dobro quando Octavios subisse ao trono. Eu neguei a oferta e mesmo assim estou sendo preso. Isso é um ultraje. – Gritou outro nobre.

-Você é um desgraçado, Dolios. – Gritou Telemenes, o duque de Esparta.- Mentiroso embuste. – Telemenes agarrou pela camisa o nobre que acabará de entregá-lo.

-GUARDAAAS. LEVEM O DUQUE DE ESPARTA PARA AS MASMORRAS. – Mioll deu o comando e três guardas atravessaram o motim de nobres e agarraram Telemenes que passou a se debater.

-Você não tem provas, General. – O duque agora de joelhos e preso pelos braços gritava.

-Eu também fui subornada. O duque de Tebas me ofereceu um salário de 15 mil dinares por verão se eu desse dinheiro para o exército dele. – Uma duquesa se manifestou.

-MENTIROSOS, TODOS VOCÊS – o duque de Tebas gritava e empurrava os que estavam à sua volta.

Mais guardas saíram de seus postos e agarraram o duque de Tebas. Quando menos esperavam o duque de Argos saiu correndo e tentou atravessar a barreira de guardas que se formava nas portas. Ele foi agarrado e arrastado de volta para o centro do salão.

-EU NÃO QUERO SER PRESO. ELA VAI NOS MATAR. EU NÃO QUERO MORRER. – berrava o duque de Argos sem dignidade alguma.

-Cala essa boca, seu maldito. Ninguém aqui tem provas contra nós. – gritou Telemenes.

-EU NÃO QUIS TRAIR A IMPERATRIZ, MAS TELEMENES E OCTAVIOS AMEAÇARAM MINHA FAMÍLIA. OCTAVIOS DISSE QUE ESTUPRARIA MINHA FILHA SE N… – gritava o duque de Argos. O homem estava tão bêbado que não controlava mais sua língua e emoções.

-CALA A BOCA, SEU ANIMAL. – Telemenes tentava se soltar das mãos gigantes dis sentinelas. Seu intuito não era fugir, mas sim findar com a vida do companheiro que o acusava sem mais e sem menos.

-Pelos deuses. Vocês não são amigos de ninguém. Na primeira oportunidade, se entregam a custo de nada.- Mioll cuspiu na direção dos três comparsas e continuou: -Parem de resistir. Todos aqui estão contra vocês. Seu plano falhou e agora vai morrer crucificado.- No mesmo instante Telemenes começou a dar risada. Uma risada que aos poucos se tornou um grito de fúria.

– Luvon, Mérida, Angus, Tobias, Lúcia, Magnus… – Telemenes começou a gritar o nome de vários nobres. – Pietro, lidya, Fabrichio, Angnar…

-MENTIROSO.

-DESGRAÇADO.

-PORCO IMUNDO.

Conforme o duque gritava os nomes dos traidores, uma onda de insultos e palavrões varreram o homem. Alguns tentavam correr, outros desmaiavam, muitos ficavam agressivos e partiam para cima dos guardas, mas nenhum teve exito. A guarda real era uma força tática cujo os treinamentos eram secretos e aqueles que passavam por eles, se tornavam mortais..

-PRENDAM TODOS. – Mioll deu a ordem e nobre por nobre começou a sair do salão e ser levado para as masmorras.

O plano inicial de Xena era embebedar todos os nobres o máximo possível. Todo empregado foi ordenado a encher taças sem que fosse pedido. Assim todos estariam bêbados o suficiente para não pensarem bem diante de tanta pressão. 

Durante todo o baile, litros e litros de álcool foram consumidos, então a ordem era levar os nobres que tivessem a maior probabilidade de ser traidor para a masmorra e os que não apresentassem culpa eminente seriam levados para o salão do trono e mantidos lá até que provas fossem juntadas para condená-los ou libertá-los. Essa parte do plano ficava encarregada pelos duques do conselho.

Mioll sorriu quando viu tudo funcionar de acordo, mas faltava uma pessoa. Octavios.

 

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-POR QUE VOCÊ NÃO O MATOU? – Xena gritou para Najara enquanto corria pelo corredor.

-Ele estava tão violento que provavelmente a mataria se eu tentasse impedir. 

O plano era que Najara ficasse perto do salão e escondida. Assim que Gabrielle saísse do local, era para ser seguida. O capitão provavelmente iria segui-la e abordá-la e no primeiro sinal de brutalidade era para ser preso em flagrante.

Najara estava pronta para pôr o plano em ação e salvar Gabrielle, quando notou a adaga no cinto do capitão. Para ele puxar e matar Gabrielle e depois lutar com a sentinela seria questão de segundos.

Os convidados da festa não tinham autorização de entrar no salão armado e Octavius quebrou como sempre, debochou das leis e violou o decreto. Najara também sabia que o homem era um excelente guerreiro e cruzar lâminas com ele seria uma sentença de morte. Se enfrentasse o capitão sozinha, tendo de se concentrar na vítima e no criminoso, seria morta e logo em seguida Gabrielle. 

Najara estava tentando pensar em algo, quando ouviu o capitão  dizer que iria abusar de Gabi e somente depois matá-la. Sentiu que teria algum tempo. Me perdoe, Gabi. A sentinela saiu correndo em direção ao salão. A única pessoa que poderia salvar a menina era Xena.

-CADÊ ELES?- Xena perguntou e Najara apontou para uma porta de madeira pequena do lado direito do corredor. Aquela sala possuía mesas e cadeiras de madeiras. Por ser próxima do salão, os empregados a usava para empilhar móveis que poderiam ser utilizados em festas. 

Xena abriu a porta delicadamente e viu que o Capitão tentava manter as pernas de Gabrielle aberta. A jovem se debatia e dificultava o trabalho. Enquanto tentava dominar Gabi, o capitão rasgou seu vestido quase por completo e batia em seu rosto. 

Num impulso de fúria, Xena entrou na sala e grudou na camisa do homem. Puxou ele com tanta força que acabou caindo de bunda no chão. Sem dar tempo para o homem se levantar, a imperatriz chutou seu queixo e o fez pregar as costas no chão. Subindo no peito do capitão, a conquistadora começou a distribuir socos violentos pelo seu rosto.

-VOCÊ GOSTA DISSO? – E mais socos eram depositados com ambas as mãos. 

O capitão tentou usar suas mãos para empurrar Xena, mas a imperatriz imobilizou um braço e segurando o colarinho da camisa agora sujo de sangue. Batia com a cabeça do capitão no chão repetidas vezes.

Najara assistiu aquela cena por um tempo e então olhou para Gabrielle que estava encolhida e tremendo num canto. 

-Gabi.- Tentou se aproximar, porém recuou quando Gabrielle gritou e se encolheu mais ainda. 

Xena despertou de seu transe de fúria e viu o estado da garota. O capitão parecia inconsciente, então se levantou cambaleando, embriagada de adrenalina e tentou chegar perto de Gabrielle. Assim como fez com Najara, a jovem gritou e empurrou seu corpo para trás.

-Sou eu, Xena. – A imperatriz preocupada disse. 

Quando tentou se aproximar mais uma vez, a menina empurrou seu corpo mais para trás ainda e tentou chutar a imperatriz. 

-Pelos deuses, o que é isso. – Delia entrou na sala e viu o capitão deitado no chão em uma poça de sangue e em seguida viu sua menina em estado de choque no chão. – Gabrielle. – A senhora se aproximou e pela surpresa de todos a menina procurou pela voz. 

Delia se abaixou com dificuldade, soltou a bengala e puxou Gabrielle para seu colo. A menina agarrou a senhora como se fosse sua única salvação.

-Está tudo bem agora, criança.- A senhora dizia palavras doces enquanto balançava a menina machucada e em troca, Gabrielle a abraçava de volta,  com toda força que tinha e chorava descontroladamente. 

Xena estava estranhamente desapontada. Tudo o que queria era segurar Gabrielle daquela forma, no entanto a escrava fugiu e parecia não a reconhecer. A imperatriz notou que o tornozelo de Gabrielle estava com um roxo avermelhado e parecia inchado. O maldito do Octavios deve ter pisado várias vezes no local para impedi-la de correr. A onda de fúria voltou e a imperatriz agarrou o capitão deitado no chão. Ergueu ele pela camisa e o arrastou pelo corredor. 

– Você ainda não é um homem morto, Octavios. Eu vou transformar sua morte no maior espetáculo que a Grécia já viu. – Xena soltou o corpo desacordado no chão e continuou. – Eu vou fazer o possível para lavar a plateia com seu sangue.            

******************************* 

-O que descobriu?- Xena estava em sua mesa no gabinete. Mioll e o duque de Loyola estavam junto dela.

Depois que todos os duques foram levados ou para as masmorras, ou para o salão do trono, Xena e os demais nobres do conselho se ocuparam com a investigação. Os primeiros a serem interrogados foram os supostos traidores que mantinham contato direto com Octavios.

Xena e os demais recolhiam o máximo de nomes que conseguiram e quando parecia não ter mais o que confrontar, iam falar com os nobres presos na sala do trono. 

O sol estava nascendo e todos estavam mais do que exaustos. Xena encontrou mais traidores do que esperava e isso a quebrou. 

-Os duques e condes que estão nessa lista não foram citados em momento algum pelos traidores, majestade.- Miolo estava sentada na poltrona de frente para Xena. 

A imperatriz abriu o pergaminho e leu os nomes. 

-Deixe eles saírem. Mas avise que estão proibidos de deixarem Corinto até segunda ordem. Caso desobedeçam a punição será grave.

-O que faremos com o restante, majestade? – O duque de Loyola perguntou.

– As investigações não podem parar por aqui. Vamos mais a fundo.

– Que punição está pensando em aplicar, imperatriz? 

– Eu não sei ainda. Acho que vou crucificar os traidores que foram influenciados por outros nobres e ainda estou pensando se punirei Octavios e os demais da mesma forma. 

– Já sabe o que fará com Octavios, majestade?- Loyola parecia curioso.

-Sim. Eu vou usar a morte dele para avisar as pessoas que ninguém me derruba.- Xena tinha um sorriso maléfico no rosto.

– Eu não entendi porque pediu para Phergus cuidar das feridas de Octavios, majestade.-  Perguntou o duque ainda.

Depois que Xena quase matou o capitão no soco, ela pediu para que seu curandeiro atendesse primeiro Gabrielle e em seguida Octavios. Com relutância, o curandeiro atendeu a ordem e tratou das feridas do capitão. Em seguida a imperatriz deu ordem para que o traidor fosse trancado na torre mais alta da masmorra, sem acesso a ninguém e acorrentado nas mãos e nos pés.

-Eu quero que ele esteja saudável e muito forte para a sentença que vou dar. Não quero que ele morra nos primeiros minutos da punição.- depois de uma pausa continuou. – Mioll. Coloque os melhores guardas na porta da cela de Octavios.

-Sim, majestade.

-Alguma notícia de Matia?- Xena perguntou.

-Os guardas olharam por toda parte, majestade. Mas parece que ele fugiu do palácio. – O duque falou com receio e nítido medo da reação da imperatriz.

Xena suspirou e tocou a testa. 

-Estão dispensados.- Ambos saíram do gabinete e deixaram Xena sozinha. A imperatriz estava cansada e abatida. A cena de sua pequena serva se afastando do seu toque aparecia em sua memória o tempo todo. Tudo o que queria fazer era correr para a enfermaria e ver Gabrielle, mas a garota estava tão traumatizada que Phergus a fez dormir com o chá de papoula. 

A imperatriz saiu do gabinete e foi para seu aposento. Retirou o vestido rasgado e se deitou. Pensou que não iria dormir, mas por incrível que parece, pegou no sono e começou a sonhar.

Sonhou que estava em uma colina verde, o vento tocava seu rosto e o sol aquecia sua pele. Quando olhou para baixo viu Anfípolis, sua aldeia natal e logo no fim da colina estava seu amado irmão Lyceus. O coração de Xena acelerou e começou a correr na direção dele. Corria e corria, mas seus pés pareciam parar gradativamente. Xena olhava para o garoto e ele acenava para ela. 

-Eu não consigo.- O pé da imperatriz estava preso.

Lyceus acenava sorridente para a irmã, mas nada dizia. Xena tentava puxar o pé, porém não se movia.

-Venha até aqui, Lyceus.- Ela chamava, mas o irmão continuava apenas acenando. – Eu não consigo.- respondeu enquanto puxava mais forte a perna imóvel. 

Xena olhou para seu irmão mais uma vez, mas agora ele havia parado de acenar. No seu rosto não tinha mais aquele sorriso jovem. Ele parecia triste e uma sombra começou a tomar conta da colina, junto com um vento gelado que arrepiou a pele de da morena. 

-Eu preciso de ajuda.- Ela começou a gritar. 

Então seu irmão virou as costas e começou a andar em direção a Anfípolis, que agora estava tomada pela tal sombra e quando Xena olhou para o céu, viu uma onda gigantesca de sangue.

-NÃO, NÃO VÁ POR AI, LY.- Xena chamava o irmão cada vez mais alto, mas ele não ouvia.

Antes da onda de sangue tocar a cidade, a imperatriz acordou suando. Seu coração estava acelerado e o ar faltava. Uma batida na porta a assustou.

-Deuses.- falou esbaforida e olhou para os lados. A luz tremula da vela em sua mesa de cabeceira fazia o suor de sua testa e pescoço brilharem. A batida se repetiu e ela passou a mão pelo rosto, se enrolou nos lençóis, tomou o candelabro e foi até lá.

-Majestade.- Najara era quem a acordara.- A duquesa de Corinto pediu para avisar que Gabrielle despertou. 

Xena fechou a porta sem dizer nada e correu para seu closet. Colocou uma calça e blusa comprida de algodão e saiu correndo do aposento, sem se preocupar com o que estaria em seus pés. A vontade de ver Gabrielle era enorme e quando finalmente chegou até a enfermaria, o medo a tocou.

E se ela continuar com medo de mim? E se gritar quando me ver? As mãos da imperatriz não conseguiam empurrar a porta.

-Xena.- Uma voz leve chamou. Era a duquesa atrás de si. Era o que faltava para encorajar a morena. Ela abriu a porta e revelou Gabrielle deitada na cama com um pote de ensopado. A jovem olhava a janela que estava próxima a sua cama e o sol do outono iluminava sua pele branca e os cabelos dourados. Algo interessante parecia acontecer do lado de fora, pois a jovem não reparou quando ambas as mulheres adentraram.

-Gabi, você tem visita. – Delia falou e a garota enfim virou. 

Xena reparou nas marcas que haviam no pescoço de Gabrielle. Reparou no tornozelo enfaixado que repousava em uma almofada grande e também notou um corte em sua bochecha.

-Majestade.- A jovem sorriu ao vê-la. 

Com o peito dolorido e olhar preocupado, Xena sorriu de volta e caminhou até a cama. 

-Vou deixar vocês duas sozinhas.- Delia fechou a porta ao sair.

A imperatriz se sentou delicadamente na cama e Gabrielle colocou seu pote de ensopado no criado mudo ao lado. Ficaram em silêncio por um tempo e se antes havia culpa em Xena, agora, ela estava estampada duas vezes mais forte em seu olhar. A mulher fitou mais uma vez sua serva e a única coisa que encontrou em seu semblante, foi curiosidade. 

-Como você está?- Perguntou por fim.

-Confusa.- Gabi olhava calmamente para ela. – Delia me contou o que aconteceu, mas eu não me lembro de muita coisa.- Olhou para as mãos e voltou a dizer:- Sabe, acho que é meu mecanismo de defesa. Sempre que algo ruim acontece, eu tenho amnésias. No fim das contas isso é bom.- Deu um sorriso fraco e Xena sentiu como se um punho espremesse seu coração. 

-Você vai conseguir me perdoar um dia?- Esses são realmente tempos diferentes. Em que momento eu iria imaginar que a palavra perdão sairia da minha boca. Pensou Xena por um momento.

-Te perdoar de que, majestade?- Gabi sorriu e continuou.- Te perdoar por ter salvo minha vida?

-Eu te coloquei nesse risco, Gabrielle. Eu não sei se um dia esquecerei o que fiz com você. 

Sem dizer uma palavra, Gabrielle desencostou da almofada e se aproximou. Tocou delicadamente sua mão no braço da imperatriz e depois de pensar por uns instantes, beijou a bochecha da mulher.

Xena arregalou os olhos e encarou a garota com a boca semiaberta. Não estava esperando aquilo. Sua expressão deve ter sido muito boba, pois Gabi não se controlou e riu, colocando a mão na boca.

-Me perdoe, majestade. Não quis rir ou constrangê-la. Queria apenas agradecer por tudo. Principalmente pelos pergaminhos que deixou em meu aposento.- Disse a jovem com uma voz leve e calma.

-Disponha.- A imperatriz respondeu baixo e depois sorriu. Mal se lembrava dos benditos pergaminhos.- Eu pensei que não tinha visto ainda.

-Eu vi sim e amei.- A loira deu outro sorriso que fez o coração da imperatriz derreter. Deuses, como ela podia ser tão bonita.

Ambas ficaram se olhando por alguns instantes e em silêncio. Seus olhos falavam mais que tudo e Xena sentia um nervosismo crescer. Queria se aproximar. Como adoraria demonstrar o quanto vinha gostando de Gabrielle, mas depois do que fez, não se sentia no direito. Lentamente, a cabeça da loira se aproximou e claramente encarou os lábios de sua senhora. Hipnotizada, se aproximou mais e o coração de Xena disparou. Então, Phergus abriu a porta do cômodo.

-Me perdoe, majestade. Eu não sabia que estava aqui.- O homem ficou envergonhado e recuou. 

– Tudo bem.- A imperatriz respondeu sem tirar os olhos da sua escrava. 

-Eu só vim dar o remédio para dor, da senhorita Gabrielle.- Phergus preparou algumas ervas e exibiu um frasco pequeno. 

-Certo. Venha até aqui.- A mulher autorizou e o homem serviu o remédio a jovem que tomou rapidamente.

– Está com dor?- Xena perguntou logo após.

– Um pouco.- Sem graça, Gabi falou.

– Onde dói? 

– Um pouco da cabeça e meu tornozelo.

-Eu prometo que vou fazer Octavios pagar por isso, Gabrielle. Ele vai se arrepender de ter tocado em você.- O tom da voz da imperatriz mudou subitamente. 

-Ele me machucou, isso é a pura verdade. Machucou mais minha alma que meu corpo, mas mesmo ele sendo um homem mau eu não desejo que ele sofra, majestade.- Gabi respondeu inocentemente e nem percebeu o que causou na imperatriz.

-Como isso pode ser possível? – Perguntou Xena confusa. – Ele merece que você o odeie, Gabrielle. Merece ser desprezado e julgado. 

-Ninguém merece ser odiado, desprezado ou julgado, majestade. As pessoas acabam agindo por algum motivo e talvez tenha explicação. –Como pode uma pessoa pensar dessa forma? Como pode ela não querer ver o sangue do seu agressor? Xena não entendia.

-Ou você é uma tola, ou é especial demais para esse mundo, Gabrielle. 

-Talvez eu seja tola mesmo.- Respondeu inocentemente e sorriu.

-Eu acho que é especial.- Por fim, Xena não pode resistir. Se inclinou e beijou a testa da jovem Gabi fechou os olhos ao sentir o toque dos lábios macios em sua testa e com pesar, os sentiu se afastar. -Vou deixá-la descansar agora.

-Tudo bem.- Não soube bem o que responder. -Obrigada por vir, majestade.

-Disponha.- Sorriram uma para outra novamente e enfim, a mulher se retirou.

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 Quando deixou o aposento onde Gabrielle fora colocada para repousar, Xena sentiu seu coração pesado novamente e resolveu descer até as masmorras para ver a face daqueles que haviam atentado contra seu trono e apoiado Octavios. Eles não se importavam com as vidas que haviam sacrificado para colocarem seus planos em ação, só não esperavam que uma pessoa em específico chegaria aos olhos da pessoa que menos queriam e que Xena repentinamente daria valor a aquela vida. Não imaginavam que por conta disso, pagariam mais do que dobrado por sua traição. 

Ela desceu até as masmorras, tomou a tocha de um dos guardas e adentrou ao lugar mais indesejado de sua fortaleza. Aquele lugar não era bom. Coisas ruins aconteceram ali, muito antes de Xena ser a imperatriz e a energia do ambiente era a pior possível. Não somente pessoas culpadas foram torturadas, mortas e largadas para apodrecer naquelas paredes, mas gente inocente também, o que pesava ainda mais o lugar. 

Ao adentrar a gélida escuridão de sua prisão, a imperatriz sentiu de imediato a pressão tortuosa no peito e o mal estar que não devia pertencer aos vivos. Naquele lugar, as pessoas adoeciam repentinamente e não era por conta do estado precário da higiene. A mulher passou pelas primeiras celas, onde a luz da pequena porta ainda podia iluminar e logo foi engolida pelo breu. Mais adiante, a luz fraca e tremulante de sua tocha, iluminou o rosto sujo e careca do capitão persa. Ela parou diante de sua “acomodação” e o fitou bem. Já não era o homem hostil e nojento de antes. Agora, parecia mais um corpo flácido e angustiado. Estava sentado no canto direito da cela, com a cabeça encostada na parede e os braços largados ao lado do corpo. Ratos comiam o jantar à pouco trazido em uma cumbuca de madeira e nada ele disse ao ver sua carrasca. 

-Sabe a escrava que você mantinha em seus aposentos no navio? Agora ela é minha. -Xena falou e o homem deu um riso fraco que não durou mais que um segundo. -Tenho uma sentença especial para você. Acha que essa cela é ruim? Eu vou te fazer pagar caro por cada dia infeliz que deu a aquela garota.- E com isso, continuou caminhando.

Virando em um dos corredores, Xena ouviu uma briga acalorada. Os nobres que haviam sido presos ali, não desistiram de ofender uns aos outros como se aquilo pudesse salvá-los de sua pena. 

-Que cena mais linda.- Sua voz fria ecoou e as celas ficaram em silêncio. Demorou alguns segundos até entenderem que ela e ao fazê-lo, desesperados, os nobres colaram suas caras nas barras de ferro e começaram a implorar pelo perdão da imperatriz. Ela riu, como sempre fizera em seus momentos de loucura e as faces assustadas tremeram. -Por que essas carinhas? Não fiquem com medo…- Falou mansa demais. -FIQUEM APAVORADOR. – E repentinamente seu tom ficou áspero e cheio de vingança. Caminhou de cela em cela enquanto sorria sadicamente. -Se ao menos soubessem a ideia maravilhosa que tive agora pouco para a punição de vocês.- Riu novamente. -Vai ser um dia lindo. Vão falar desse grande dia por décadas e todos os reinos vizinhos ficaram sabendo em menos de uma semana. Ficarão famosos, ah sim. Ficaram. Prometo não desapontar a plateia que virá ver vocês.- E com outra risada, Xena deixou o local.