Fanfic / Fanfiction Penumbra grega - Chance

O sol estava nascendo tarde na Grécia. Quanto mais o inverno se aproximava, menos luz do dia tinha. Este era um dos motivos pelo qual Xena gostava do inverno. Poucas pessoas saiam de suas casas para amolar ela e quanto mais rápido sol se punha, mais rápido terminava suas tarefas.

A imperatriz estava dormindo nessa manhã gelada. Os raios fracos do sol entravam pela grande porta de vidro da sacada e atravessavam as cortinas brancas. 

Xena dormia pouco. Uma mínima luz era capaz de despertá-la e levar seu sono embora. Quando mais luz entrou no seu aposento, ela abriu os olhos levemente e encarou o vazio.

Alguns segundos depois, sua mente começou a reconhecer o lugar e processar a informação à sua volta. Estava deitada de bruços e toda largada na grande cama. As peles cobriam metade de suas costas e um pé se mostrou gelado por estar descoberto. Xena bocejou e quando foi se mexer, percebeu que o calor em suas costas não eram as peles em si, mas o corpo de  Gabrielle. 

Nessas últimas semanas que passou a dormir com Gabi, percebeu que a garota podia ser muito espaçosa e dorminhoca. No começo Xena achou desconfortável a forma que Gabrielle se amontoava em cima dela, mas depois de uns dias começou a sentir falta do calor quando ficava mais distante na cama. 

Xena se mexeu um pouco e Gabrielle rolou para o outro lado e se cobriu até a cabeça. Xena virou e descobriu que não só suas costas doíam, como também seu abdômen e a parte de dentro das coxas. 

-Pelos deuses.- A imperatriz se sentou e se contorceu para estalar a coluna. Transar com Gabi era mais que maravilhoso, mas a cada vez, aparecia com um músculo diferente doendo. 

-Xena.- A voz sonolenta de Gabi chamou.

Enquanto se espreguiçava, a morena olhou para trás e viu os olhos verdes bem pequenos a olhando. 

-Você já vai levantar?- A menina continuou.

-Sim…Já dormi o bastante.- respondeu a imperatriz enquanto olhava para Gabi.

-Por que não pode ficar aqui mais um pouco comigo? 

-Não vejo problema nenhum nisso.- Xena levantou a coberta e se deitou de novo. 

      Gabi fechou os olhos enquanto era envolvida pelo braço de Xena. Elas estavam deitadas uma de frente para a outra e a imperatriz olhava para o rosto de Gabi enquanto fazia carinho no cabelo loiro.

Sentindo o afago, Gabi se aproximou mais de Xena e escondeu seu rosto entre o ombro e pescoço da imperatriz.

-Seu espírito animal é um urso, Gabi. 

-Huum- Ela gemeu em tom de “por quê”.

-Porque você é comilona, dorminhoca e só pensa em acasalar.- Xena terminou a frase rindo e recebeu um tapa no flanco. 

-Ursos são fofos até chegarem perto.- Respondeu Gabi com a voz de sono.

Xena olhou o rosto da garota e deu mais um pouco de risada. As duas ficaram um tempo ali deitadas até que a imperatriz precisou sair para governar. Gabi por sua vez recebeu permissão para ficar dormindo porque a primeira reunião da imperatriz era com Kaleipus, então não tinha o que Gabrielle fazer.

**********************

-Olá, Kaleipus.- A imperatriz cumprimentou o centaira.

-Olá, Xena.- Já fazia um tempo que o centauro estava esperando.

-Então… o que tem pra falar comigo?

-Antes de mais nada eu gostaria de perguntar se você sabe por que Solan está desde ontem trancado na sua sala de treinamento tentando rachar um alvo com o machado?

Xena estranhou a pergunta e logo em seguida se lembrou que o menino viu seu surto de raiva ontem.

-Bom…digamos que e entrei furiosa lá, rachei um alvo de madeira no meio e só depois percebi que Solan viu. 

-Seu filho nem jantou. Ele cismou em querer atravessar o alvo.

Xena deu risada. Ela achou interessante Solan querer imitar sua força e teve a ideia de ir até a sala de treino. Quem sabe talvez ele quisesse algumas dicas.

-Eu vou falar com ele quando acabarmos aqui. 

-Bom, acho que vou dar mais essa chance para vocês então. Meu tempo aqui em Corinto está acabando, Xena. Se você e Solan não se acertarem até eu ir embora, provavelmente ele não vai querer ficar.- Kaleipus tinha razão e isso estava preocupando a imperatriz. 

Os dois conversaram por mais um tempo, então Xena foi até a sala de treino. Abriu a porta devagar para não ser notada e viu Solan sem camisa, suado e despenteado.

Ele jogava o mesmo machado que Xena havia arremessado e a arma só cravava no alvo. Ele caminhava até o alvo frustrado, pegava o machado e voltava para o mesmo lugar que a imperatriz estava quando atirou. 

-Flexione mais os joelhos.- Xena falou enquanto caminhava até ele. -O rapaz assustou e abaixou o machado. -Você precisa de impulso e equilíbrio.- A imperatriz pegou o machado, inclinou as costas para trás, curvou levemente o joelho e arremessou o machado com tanta força que a arma atravessou o alvo novamente. Solan correu até o alvo e analisou a rachadura.

-Não foi tão fundo quanto o primeiro.- Disse o garoto.

-Me falta ódio.

Solan caminhou até Xena, imitou a posição e jogou o machado. Em seguida correu até o alvo e suspirou frustrado. 

-Como você pode ser tão forte? Até parece uma deusa. -Xena riu e notou que seu filho falava sério. 

-Eu não sou uma deusa. Eu treino a mais tempo que você e já lutei muito com machado. 

Xena pegou o machado e pediu para o garoto trocar o alvo. Ela mirou novamente e arremessou a arma que girou no ar e atravessou de novo a madeira. Então ela caminhou até o alvo e comparou um com o outro.

-O que você vê de diferente?

-Nada.

-Existe algo diferente nos meus arremessos e nos seus. Tente ver.

Solan olhou para os alvos e os comparou. Não havia nada de diferente, todos os cortes estavam na mesma posição. 

-Não tem diferença, a única coisa é que seu primeiro arremesso foi mais fundo. 

-Tem diferença sim. Vá até lá e arremesse bem nesse ponto.- Xena apontou um local em especifico no alvo e colocou ele na parede. 

Solan se concentrou, imitou a posição anterior de sua mãe, suspirou e arremessou o machado o mais forte que conseguiu. A lâmina da arma cravou na madeira e fez um buraco tão maior quanto o de Xena na primeira vez. O rapaz arregalou os olhos e correu na direção do alvo.

-Como eu fiz isso? 

Xena deu risada, pegou o alvo e partiu ele ao meio. Solan assustou e continuou sem entender nada.

-Isso é madeira compensada, Solan. Veja como ela tem listras bem superficiais que parecem rachaduras.

O menino pegou o alvo na mão e analisou a madeira. Ele soltou uma risada e notou que ele só rachou a madeira porque mirou em uma fissura na qual a madeira não estava comprimida direito. 

-Você quase me enganou. Pensei que você fosse tão forte quanto Hercules. 

-Você ficou impressionado, não é?- Xena perguntou séria e Solan não respondeu. -Se eu tivesse te desafiado para uma luta você teria aceitado?- Solan não respondeu. -Pode ser sincero. A sensatez é melhor que o orgulho. 

-Não teria.

-Essa é a sua primeira lição de como governar.- Xena viu que os olhos azuis de seu filho a olhava fixamente.- Uma simples demonstração de poder desestabiliza qualquer pessoa a sua volta. Nem sempre você vai ser tão poderoso ao ponto de enfrentar alguém. Nesses casos, use a inteligência. Faça o seu inimigo e as pessoas a sua volta pensarem que você está perto de ser um deus.

Solan ouvia cada palavra atentamente e parecia absorver aquilo.

-Você já sentiu medo em ter que enfrentar alguém?-  Perguntou o menino.

-Eu sinto todas as vezes. 

-Mas você é a Xena, conquistadora impiedosa. Não é você que tem que sentir medo, são seus inimigos. 

-O medo é o melhor instinto que eu tenho, Solan. Ele me deixa em alerta e não me permite subestimar ninguém. É por isso que eu sempre venço.

-Você não sentiu medo quando atacou os centauros a 17 verões atrás, não é? 

Xena perdeu a fala, mas logo respondeu.

-Eu precisei perder algumas coisas para ter medo e desistir de atacar.

-Todo mundo fala que meu pai não tinha medo enquanto vivo.- Solan estufou o peito e respondeu com orgulho.

-É por isso que ele está morto.-  A imperatriz respondeu no automático, mas quando notou já era tarde demais. Solan fechou a cara, jogou o machado no chão e saiu da sala de treino. 

Boa, Xena. Deveria ter dito ao garoto que o pai sentiu medo. Sentiu medo de perdê-lo e por isso morreu. Pensou a mulher e suspirou.

 **************************

Gabrielle estava na biblioteca. Passou a manhã dormindo e quando despertou viu que já havia perdido o almoço. Correu para a cozinha, comeu o que sobrou e como Xena não havia dado nada para ela fazer, pensou em ir até a biblioteca estudar.

Havia pergaminhos de todos os tipos lá e os favoritos de Gabi com certeza eram os que contavam sobre as façanhas de Xena. Tinha muitos deles e sem perder tempo a garota começou a ler. 

Gabrielle começou a ler o primeiro e quando deu por si já havia se distraído com as lembranças da noite passada. Balançou a cabeça e voltou a ler.

A leitura não foi pra frente, tudo o que conseguia pensar eram nos beijos de Xena, no abraço apertado, nas curvas torneadas do corpo atlético da imperatriz e o desejo no olhar. 

….”Amor”….

Gabi repetiu aquela palavra na sua cabeça várias vezes. Ouvir ela da boca de Xena foi tão inesperado quanto saboroso. Xena pronunciou essa palavra mais de uma vez enquanto transavam e fazia Gabrielle chegar ao ápice por várias e várias vezes na noite passada. 

Gabi soltou o pergaminho, enrolou ele e colocou no lugar. 

Será que Xena está ocupada? pensou Gabi enquanto caminhava pelos corredores. Queria senti-la nela e queria isso naquele instante. Não conseguia fazer nada sem acabar pensando nas mãos da imperatriz em seu corpo.

Gabi começou a procurar por Xena, mas não encontrou ela em lugar nenhum, revirou o palácio e quando estava quase desistindo, foi até um dos pátios vazios. Não fazia sentido Xena estar lá, mas não custava olhar. 

-Está perdida? 

Uma voz chamou a atenção dela em um susto.

-Ai… Nossa, Solan. Você me assustou. – Disse Gabrielle.

-O que a preferida da imperatriz está fazendo sozinha aqui?

-Estou procurando por ela. Sabe onde está?- Gabi se aproximou tentando ignorar o tom de ciúmes e perguntou.

-Espero que no Tártaro. 

-Por que você fica falando essas coisas? De uma chance a ela e vai descobrir o quanto ela quer ser boa pra você.- Gabrielle ficou irritada.

-Ela não é boa nem pra ela mesma, garota.- Solan empurrou Gabrielle e pegou ela pelo punho.

-Me solta.- Pediu em tom grave e autoritário. 

-Ou o que? a imperatriz deve estar longe pra vir te salvar.- Solan apertou mais o punho de Gabrielle e encostou ela na parede. -O que você tem pra que a imperatriz te de tanta atenção, hein?

-Você está sendo idiota, Solan. Você é o filho dela, é pra você que ela quer dar atenção.

-ELA NÃO QUER SABER DE MIM. Aquela maldita me abandonou, porque seria diferente agora. Ela só quer um herdeiro.-  O menino pegou Gabrielle pelo pescoço e apertou. 

Antes que ele pudesse fazer mais algo, Gabi deu um chute no meio das pernas dele e saiu correndo. Quando a garota entrou de novo no palácio, Solan grudou nos cabelos loiros. 

Em seguida tudo aconteceu tão rápido que nem Gabrielle entendeu. Xena saiu de algum lugar e acertou um soco na costela de Solan. O rapaz caiu de lado no susto.. Quando a imperatriz foi atacá-lo de novo, Gabrielle entrou na frente e abraçou Xena.

-NÃO.- Falou enquanto segurava a imperatriz.

Solan colocou a mão no flanco e se levantou. Saiu correndo e desapareceu no meio dos corredores.

************************

-EU NÃO ACREDITO QUE ELE FEZ ISSO.- Xena bufava.

-Olhe pra mim.- Gabrielle falou com a voz autoritária e Xena assustou. -SENTA.-  Xena sentou-se com espanto e Gabi começou a falar. -Você e aquele rapaz precisam conversar. Não adianta ele espernear e você tentar arrebentá-lo toda vez. VOCÊ….- Gabi apontou para Xena – Vai procurar ele agora e vai conversar. Ele deve ter ensaiado tanta coisa para te falar todos esses verões, então vá lá e deixe ele cuspir o ódio que tem por você. E PELOS DEUSES, XENA. Seja madura e entenda que você o abandonou. O garoto está mais do que no direito de se enfezar e a cada surto seu de raiva, ele réplica da mesma forma.- 

Gabrielle terminou seu sermão e cruzou os braços olhando para a mulher que demorou alguns segundos para processar a informação. Depois disso, se levantou e assentiu com a cabeça. 

-Tem razão. Vou procurá-lo.- E juntando toda coragem de seu corpo, saiu do aposento. 

Onde será que ele se meteu. Pensou Xena enquanto caminhava pelo corredor. 

O ruim de viver em um palácio era ter que se esforçar para encontrar alguém. Depois de andar um tempo, a imperatriz finalmente achou o menino e suspirou novamente.

Solan estava sentado em um dos terraços do palácio. Encarava a cidade iluminada por tochas depois dos muros e seus olhos estavam vermelhos por segurar ao máximo as lágrimas. Sua cabeça estava longe.

Xena estava bem perto dele e podia sentir seu coração apertado. Aquilo era novo para ela e ver as lágrimas de Solan a fez lembrar que foi a única coisa que ela sempre tentou evitar todos esses verões. Pelo jeito havia falhado.

A imperatriz se aproximou do seu filho, se sentou ao lado dele e encarou a cidade. O jovem secou as lágrimas rapidamente e quando ia se levantar, Xena segurou em seu braço.

-Por que você não me fala logo tudo o que passou todos esses verões?-  Xena olhou para o rapaz e ele a encarou. –Eu estou aqui para ouvir o que está preso no seu peito, Solan. É muito mais fácil você dizer logo do que ficar descontado em quem não tem culpa. –  O rapaz desviou o olhar e ignorou Xena. -Eu sei que fui uma péssima mãe. Ou melhor, eu não fui mãe. Isso é uma das poucas coisas que eu reconheço ter falhado na minha vida. – As palavras da imperatriz chamou a atenção do rapaz.

-Por que matou meu pai? –Uma voz trêmula saiu da boca do jovem.

-As minhas ações mataram ele, mas a espada que o atravessou não era a minha.- Xena respondeu encarando a cidade.

-Kaleipus sempre me disse que eu deveria ouvir sua versão daquela noite. Muito bem, vou dar uma chance.

-Seu pai foi até meu acampamento para te tirar de mim. Ele estava acompanhado de alguns amigos centauros. Quando ele chegou lá e não te encontrou, ficou violento e nós começamos a lutar. Então um dos centauros tentou intervir e acabou morto por um de meus soldados, foi quando todos começaram a lutar.- Xena fez uma pausa e então continuou. – Em meio a confusão, seu pai viu uma de minhas criadas correndo para fora do acampamento com você no colo. Antes que ele pudesse correr eu sai em disparada na sua direção para que não fosse pego. Minha empregada correu o mais rápido que pode como eu ordenava e seu pai logo atrás de nós. -O menino ouvia enquanto lágrimas escorriam do olho dele.

“-Eu havia dado a luz a menos de dois dias. Em determinado momento cai, seu pai tropeçou em mim e caiu também. Ele foi mais rápido e quando puxou a adaga para enfiar em meu coração…. Minha soldada mais leal que nos seguia (Mioll), enfiou a espada nas costas dele que varou até o peito.- Xena olhou para o menino que virou a cabeça para não ser visto chorando. –Ele sangrou até morrer e eu tentei ajudar… Pelos deuses, eu tentei ajudar.- A voz da imperatriz falhou e Solan olhou espantado para as lágrimas dela. –Foi isso.- Solan encarou sua mãe por uns momentos então prosseguiu.

-Se brigou com meu pai até a morte, então por que me abandonou?

-Seu pai insistiu por muitas vezes que você jamais seria feliz comigo. Dizia que eu não servia para ser mãe e eu me recusei a acreditar nisso até que…. até que ele morreu por minha causa.- Solan agora não tinha expressão alguma em seu rosto enquanto Xena falava.- Assim que o sangue de Boraias me sujou, eu finalmente aceitei que aquela ia ser a primeira de muitas coisas que você perderia se ficasse comigo. Eu era monstruosa demais para te criar.- Solan puxou o fôlego em meio as lágrimas silenciosas e então falou:

-Eu não teria me importado com esse monstro. – Aquilo surpreendeu Xena e ela entendeu o quanto seu filho a queria como mãe.

-Eu sei que não. Você não teria vivido o bastante para ver o monstro em mim. Meus inimigos teriam te matado até os 5 verões no máximo. 

-E qual a diferença de mim como uma criança e agora para seus inimigos?- Solan perguntou irritado.

-Agora você é um homem, Solan. Forte, inteligente e pode se defender. Meus inimigos não ousariam te usar para me atingir mais.- A imperatriz respondeu.

-Para que me chamou aqui se todos esses verões sequer foi me ver. – Disse o rapaz.

-Eu jamais teria te chamado aqui se ainda não soubesse que é meu filho. Eu jamais teria lhe tirado o direito de mentalizar uma mãe perfeita.

-Eu só estou aqui para ser seu herdeiro então? 

-Eu… sempre pensei em você. Sempre quis saber de você e por vezes te imaginei comigo. Por isso o maior motivo de te trazer para cá foi para te pedir desculpas.

-Que? – Perguntou Solan com raiva na voz.

-Me perdoe por não ter te visto falar e andar pela primeira vez, por não ter te abraçado quando sentiu medo, por não ter penteado seu cabelo e te segurado no colo e dito o quanto era importante….Me perdoa..- Xena terminou a frase com lágrimas escorrendo.

-Você não pode me pedir perdão. NÃO PODE.- gritou Solan e se levantou chorando. –VOCÊ FAZ IDEIA  DE QUANTA COISA EU QUIS JOGAR NA SUA CARA E TE FAZER SENTIR MAL? Você faz ideia das inúmeras noites que eu passei em claro chorando de ódio? Você não sabe quantas vezes eu me imaginei te machucando….TUDO ISSO, PARA QUE NO FINAL VOCÊ ME PEDISSE PERDÃO…- Solan estava quase aos prantos e Xena se levantou para tentar controlá-lo. –VOCÊ NÃO PODE ME PEDIR PERDÃO…NÃO PODE SER TÃO FÁCIL ASSIM….EU TE ODEIO.- Gritou Solan enquanto se aproximava de Xena e dizia mais vezes na cara dela o quanto a odiava.

O garoto estava quase do tamanho de Xena e quando ele pensou em gritar mais uma vez, a imperatriz simplesmente o pegou pelo braço e o abraçou. O menino não se mexeu e nem correspondeu o abraço, simplesmente chorava e dizia em voz baixa que a odiava. A imperatriz derramava lágrimas e o apertava, deixando uma mão em sua cabeça que apoiava em seu ombro.

-Me perdoa. -Xena repetiu em voz baixa até que Solan parou de insultá-lá e a abraçou de volta. Os dois choraram quase na mesma proporção. Então o rapaz olhou para Xena e voltou a falar:

-Eu não quis machucar aquela menina.- Disse Solan se referindo a Gabrielle. – Queria que me olhasse do jeito que a olha. – O rosto do menino estava molhado e vermelho agora.

Ver aquilo quebrou o coração de Xena. Ela nunca se imaginou naquele momento e ver seu filho aos prantos por causa dela era doloroso. Aquela culpa jamais sairia do coração e a dor de ter falhado mais uma vez na sua vida era grande. Porém, naquele momento, a única coisa que importava era o que podia fazer por Solan, então simplesmente esticou a mão e secou o rosto do garoto.

Solan não reclamou, fechou os olhos e quanto mais Xena secava as lágrimas, mais escorria. Como estava sendo estranho ser consolado pela pessoa que mais odiou. Como era estranho sentir o toque materno da mulher mais poderosa da Grécia. Era estranhamente bom.

-Eu sei que você não queria machuca-la. Mas Solan, eu jamais vou poder te olhar da mesma forma que eu olho para Gabrielle.- Disse Xena e o menino abriu os olhos já em defensiva. Antes que ele pudesse dizer algo, ela segurou o rosto de seu filho e continuou. –Gabrielle é para mim o que seu pai um dia chegou perto de ser. Eu jamais olharia para você da mesma forma porque são sentimentos diferentes. – Então o garoto se sentiu besta por ter sido o único que não havia percebido o que realmente estava acontecendo entre sua mãe e Gabrielle.- O que eu tenho para te oferecer é único e exclusivo, Solan… Se me der uma chance….talvez eu possa tentar curar algumas feridas. – A imperatriz terminou a frase acariciando o peito de seu filho, na mesma direção em que estava o coração.

Solan soluçou algumas vezes tentando achar as palavras e simplesmente balançou a cabeça concordando que daria uma chance para sua mãe. A imperatriz segurou as lágrimas e abraçou o garoto mais uma vez.

-As pessoas estão dizendo que Gabrielle tem transformado você e que ela é a pessoa mais próxima do seu coração.- Solan disse essas palavras sem se soltar dos braços de Xena.  A imperatriz ouvia com cuidado e percebeu que seu filho estava com ciúmes. – Por que você não pode mudar por mim? – Continuou o rapaz.

A imperatriz ficou sem palavras. Ela realmente não havia mudado pelo seu filho, foi muito mais fácil fugir dessa responsabilidade do que encará-la. Foi isso que aconteceu.

-Gabrielle não está me transformando, ela faz com que eu me sinta bem por ser quem eu sou e graças a isso eu me sinto feliz em me tornar mais calma. Se você tivesse ficado comigo, com certeza teria morrido antes de conseguir me mudar, Solan… ou pior, teria ficado como eu. 

O menino não falou nada e simplesmente ficou ali, abraçado com sua mãe pela primeira vez na vida.