O sol havia nascido cerca de uma marca de vela. Solan estava no estábulo preparando o cavalo que usaria. Estava empolgado para passar o dia caçando com Xena e por isto quase não dormiu. Quando  despertou o sol não tinha aparecido ainda e como não iria conseguir dormir mais, começou a preparar sua bolsa de couro com frutas, odres de água e trapos de panos que poderiam servir para tapar machucados. Ele estava com uma armadura leve de couro marrom, uma capa de linho fina e botas de cano alto. 

Uma chuva fina caia naquela manhã e o frio criava uma leve névoa nas planícies agora não tão verdes. Xena apareceu na porta do estábulo e o rapaz sorriu. Ela também estava com uma armadura leve de couro, porém havia mais cintos e uma pequena bolsa de couro na cintura. Estava com uma capa de linho preta e em sua cintura uma bela espada curta. Nas suas mãos carregava um machado e encaixado no braço, um arco longo e aljava. Mas, o mais curioso de tudo aquilo, era uma capa marrom em seu ombro direito. Ela caminhou até Solan e estendeu a capa para ele.

-O que é isso?- Ele pegou e deu uma bela olhada. -Está com cheiro de poeira.

-Não está não. Eu mandei que limpassem ela antes de te dar.- Respondeu Xena enquanto ajeitava as coisas no cavalo marrom.

-Era sua?- Sola perguntou.

-Não, era do seu pai. -O rapaz olhou para a capa e encarou Xena com a boca aberta.

-Por que você tem uma capa do meu pai?

-Tenho tanto trapo do seu pai guardado nesse castelo.- Ela riu -Depois que ele morreu, não tinha pra quem dar, então amontoei tudo em um baú e só lembrei que existia a uns dias atrás.- Ela olhou para Solan e viu que o rapaz encarava o objeto em suas mãos. -Ela é sua agora. Coloque porque está frio. 

-O que mais tem dele nesse baú?- Perguntou enquanto estendia o manto de linha por seus ombros.

-Huuum.- Xena pensou um pouco. -Tem algumas camisas e calças cheias de furos por causa das tranças, pergaminhos manchados e corroídos, colares de pedras que ele gostava de usar no pescoço e uma bainha de couro ressecada. Isso foi a única coisa que não estragou.- Ela falou enquanto apontava para a capa. -Depois você olha. Vamos andando agora.- Xena subiu no cavalo e cavalgou para fora do estábulo. Solan subiu no seu e saiu logo atrás. Enquanto cavalgavam para fora do palácio eles conversavam.

-Por que você guardou as coisas dele? 

-Eu não sei… Enquanto eu guardava eu pensava em você. 

-Você pensava muito em mim?- Solan falou baixo quase com medo de perguntar.

-Você quer que eu seja sincera, ou prefere que eu assuma o papel de mãe culpada?- Xena não percebeu o quão seca sua frase foi.

-Pode ser sincera.-  O rapaz abaixou a cabeça.

-No começo eu pensei muito em você. No seu primeiro verão eu quase fui te ver, mas então eu tinha que escolher, ou te deixar sonhar com uma mãe perfeita ou marcar sua vida com as minhas sombras. Eu escolhi não influenciar seu meio, então eu fui obrigada a me desligar em pensamento de você.

-Não existia momento algum que pensasse em mim?- Solan parecia ter alguma esperança.

-Existia. Sempre que você marcava mais um verão de vida eu me lembrava. Sempre que eu via um garoto que teria mais ou menos sua idade ou quando eu via mulheres grávidas perto. 

-E o que você sentia?- Xena ficou em silêncio, olhou  para dentro de si e então respondeu.

-Às vezes culpa, às vezes nada. Eu não gostava de lembrar e sentir meu coração apertado. Eu tentava pôr na cabeça que você estava em um lugar melhor.

-Eu pensava muito em você…. Ou na mulher que possivelmente seria minha mãe.

-O que te contaram sobre mim?

-Disseram que a imperatriz havia matado meus pais. 

Xena e Solan estavam indo pela saída norte de Corinto. Contornaram o palácio e estavam quase passando por um portão que só os soldados usavam. Não havia muitas pessoas lá e o caminho estava silencioso.

-Solan, eu vou dar o meu melhor pra você.

Ele olhou para baixo e sorriu sutilmente. Xena nunca imaginou o quanto seu filho podia ser carente, não era do feito de homens se exporem dessa maneira, mas talvez Solan ainda não fosse um homem e sim um menino. A vida estava dando chances para ela consertar as coisas e transformar a tempo o coração do rapaz. Ela faria de tudo dessa vez para que ele se tornasse o melhor homem possível. 

Eles saíram pelos fundos de Corinto e cavalgaram pelo campo na direção leste. A chuva fina estava quase parando, mas não havia indícios nenhum de que o tempo melhoraria. Xena gostava de dias assim, o tempo nublado deixava o ambiente mais escuro e a imperatriz não era muito fã do sol. 

-Que tipo de animal vamos caçar?

-Tem um cervo naquele bosque. Ele zomba de mim a luas por não conseguir caça-lo. Vamos ver se você tem mais habilidades que eu.

-Com certeza eu tenho.- Ele riu.

-Veremos.- Ela também riu.

A fina chuva que caia, criava a aparência de um véu descendo pela terra. A névoa fina no chão era dispersada pelas patas dos cavalos e Xena cavalgava de olhos fechados e apreciava o clima rústico daquela manhã.

Depois de uma marca de vela, eles chegaram ao bosque. Trataram entre as árvores amarelas e peladas e o cheiro de terra molhada transbordou o lugar. Xena respirou profundamente e  soltou o ar. Ela se sentia em casa.

-Você gosta de florestas? – Quis saber Solan.

-Mais do que você imagina. 

-O que tem de especial?

-Tudo… É  como se minha energia se misturasse ao lugar e eu fico livre.

-Você vem aqui sempre? 

-Só quando consigo fugir do palácio… As vezes eu fico tão presa lá, que penso em largar tudo e viver no coração de alguma floresta. -Solan ficou surpreso com a declaração.

-Por que quis ser imperatriz então?

-Eu não quis. Foi o que os deuses previram para mim. Quando eu percebi, já estava com uma coroa na cabeça. 

-Falando desse jeito, nem parece que cortou alguns pescoços para estar no trono. 

Xena deu risada. -Realmente, eu cortei. Estava obcecada. Mas no fim das contas foi tão fácil que a coroa perdeu um pouco da graça. – Xena parou o cavalo e desceu.- É aqui.

Solan desceu de sua montaria e amarrou ele no mesmo lugar que sua mãe prendeu o dela.

O lugar que eles estavam era quase uma clareira, havia um riacho logo a frente com a água cristalina e árvores em volta. Xena foi até o riacho e quando abaixou, colocou a mão nas costas, soltando um gemido de dor. 

-O que foi?- Perguntou Solan.

-Dor nas costas. 

-O que você fez?- 

-Acho que dormi de mau jeito.- A imperatriz se fez de desentendida, mas aquela dor tinha nome, se chamava Gabrielle e sorriu quando lembrou como ganhou aquilo. 

A imperatriz encheu as mãos de água e bebeu algumas vezes, aquele riacho era quase imaculado e sua água saborosa. Não existia nada melhor para a imperatriz do que água fresca misturada com o sabor da chuva. Solan se abaixou ao lado dela e também bebeu. Ele fez cara de prazer quando sentiu  sabor e correu para encher um odre. 

Xena levantou e se espreguiçou, o vento gelado do bosque tocou sua pele e enfim ela se sentiu longe do palácio, longe do seu trono e das responsabilidades que pesavam seus ombros. Ela caminhou até o cavalo, tirou sua capa e pegou o arco. Encaixou a aljava nas costas e caminhou até Solan com o machado na mão. 

-Você já caçou antes, certo? -Ele levantou e tampou o odre. 

– Já.- 

-Pegue essa adaga e coloque na cintura. Se conseguirmos pegar esse cervo, quero que corte o pescoço dele assim que ele for pego pela flecha. Não quero que o animal sofra.

-Espera que ele caia com a flecha?- Perguntou Solan enquanto amarrava a adaga no cinto como ordenado.

-Não temos outra forma.- Os dois saíram de perto do riacho e começaram a entrar mais a fundo no bosque.

-Onde foi a última vez que viu ele?

-Exatamente perto desse riacho.- Xena pisava como um gato e olhava atentamente para os lados. 

Solan seguia logo atrás e pisava exatamente onde Xena pisava. Tudo estava quieto demais, a chuva fina tocava as folhas e a lama debaixo dos pés soltava bolhas de ar.

-Não acha que está quieto demais aqui?- Perguntou Solan e em resposta a imperatriz balançou a cabeça. -Não parece ter vida nesse lug…-

Antes dele terminar a frase, Xena fez sinal com as mãos para ele ficar quieto. Ela parou no meio do caminho, esticou as costas e Solan podia jurar que as orelhas da mulher se mexeram igual a de um cão de caça. Antes dele poder perguntar algo ela se virou para trás e grudou na cintura dele. Os dois caíram perto da raiz de uma árvore e a seguinte coisa que Solan viu, foi o cervo majestoso e selvagem passar ao seu lado. 

Xena se levantou, tirou uma flecha da aljava e mirou no animal. Ele correu para longe e a flecha acertou no chão. 

-Droga…Você está bem?- Xena sorriu e deu a mão para Solan, ele se levantou e limpou a calça.

-Da onde ele saiu?

-Não sei, mas ele veio zombar de mim mais uma vez.- A imperatriz riu. -Ele é um metido excêntrico. Se esconde tão bem que quando estou prestes a desistir, ele aparece e cospe na minha cara que é melhor.

-Acha mesmo que um animal tem essa consciência.

-Bom… se você acha que não, então vou ficar feliz em te provar o contrário…. vem.

Eles caminharam novamente um atrás do outro. Dessa vez parecia mais fácil pois o animal deixou pegadas. Xena caminhava com uma flecha posicionada no arco. Solan retirou o machado da cintura e segurou ele na mão. O rapaz estava impressionado com o cervo. Nunca havia visto um tão grande e com uma galhada perfeita como aquele. Ele passou ao seu lado exibindo virilidade com uma espécie de aura sagrada à sua volta. Era realmente saboroso pensar em tirar o orgulho do animal.

-Solan…- Xena sussurrou e tirou o menino do transe.

-Que?

-Você está fazendo muito barulho.

-Hein? não estou não.- CREC. Ele olhou para baixo e viu que quebrou um graveto.

-Esta sim, mesmo com a terra molhada você consegue fazer muito barulho.- Xena chegou perto dele. -Feche a boca e respire só com o nariz. Você parece ofegante.

Como podia ela ter notado tudo isso? Solan ficou espantado e por um momento seu orgulho foi despertado. Ele achou um saco ser corrigido, mas em seguida o semblante de alerta de Xena o distraiu. A imperatriz voltou a caminhar e dessa vez virou a direita. Um vulto branco passou rápido e logo em sequência uma flecha foi disparada.

-Como você viu ele?- Solan perguntou espantado.

-Eu não vi, eu ouvi.- Xena foi até o lugar, pegou a flecha do chão e correu na mesma direção que viu o vulto. Solan foi logo atrás e quase se desequilibrou no meio da corrida.

Xena corria muito rápido e pulava por cima dos troncos caídos no caminho. A cabeça dela se movimentava rápido e quando menos Solan esperava, ele via uma flecha sendo atirada, porém todas eram sem triunfo, tudo o que acontecia era a flecha atingir o chão ou uma árvore.

-Nós já passamos aqui.- Solan falou e Xena parou de correr.

Ela estava ofegante e quando notou o que aconteceu ela caiu na gargalhada.

-O que foi?- As bochechas do garoto estavam vermelhas por causa do frio e da corrida.

-O maldito nos fez correr em círculos.- Realmente, o animal tirou uma com a cara dos dois.

-Que cretino.- Solan finalmente parecia convencido que o animal era mais esperto do que imaginava. -Ele vai ver uma coisa.- O jovem apertou a mão no machado e num movimento rápido Xena começou a atirar flechas.

Solan preparou o machado quando viu o cervo correndo na sua direção e a imperatriz mirou mais uma flecha, o animal pulou mais rápido. A flecha foi disparada no chão e Solan levantou o machado para pegar a cabeça do bicho, porém ele cravou a lâmina na lama e o cervo saiu pulando e grunhiu em uma espécie de risada.

-Filho de uma…. cerva?- Solan olhou para Xena e a mulher riu. Os dois riram da situação humilhante que estavam e enfim recuperaram o fôlego. 

-Vamos…- Xena chamou Solan e os dois voltaram a caminhar. Tudo havia ficado em silêncio de novo e Xena notou que o cervo havia parado de se aparecer. Ele provavelmente estava escondido.

Eles entraram em uma parte mais plana no bosque, as árvores estavam mais afastadas e Xena começou a analisar o chão. A lama estava pisoteada por alguma coisa pequena e leve, as marcas eram uniformes e não seguiam um caminho certo. Foi quando ela ouviu um grunhido. A imperatriz procurou pelo som e viu que saia debaixo de um tronco de árvore. Ela se aproximou mais e notou que havia um pequeno espaço entre o tronco e o chão. No seu fundo era algo parecido com um buraco, Xena forçou mais a visão e o que viu a surpreendeu. Era um filhote de cervo escondido. A criaturinha parecia assustada e se encolheu quando a figura da mulher apareceu. 

-ora, ora…então é por isso que aquele cervo é tão bravo, hein? Ele está te protegendo.- Disse Xena para si mesma.

-AAAAh.- Solan gritou e caiu para trás. 

O cervo estava furioso na frente do menino, Xena correu na direção dele, mas o animal ficou em pé em duas patas e a fez parar de correr.

-Solan, fica parado.- O menino ficou imóvel e o cervo continuava se levantando em duas patas. -Vem devagar pro meu lado.- Solan tentou se arrastar, mas o seu barulho alertou o animal e ele se levantou de novo, indo para cima do menino. 

Solan estava prestes a ser pisoteado e Xena não conseguia pensar em nada. Foi quando o filhote saiu de baixo do tronco para tentar fugir e a imperatriz saltou na direção do animalzinho. Ela caiu, mas conseguiu agarrar a pata dele. O cervo grunhiu e se levantou de novo na direção de Solan. 

Xena ainda agarrada na pata do animalzinho, subiu em cima dele e jogou seu peso nele para que não se levantasse. O berro do filhote alertou o grande cervo e ele colocou suas patas no chão, deixando Solan entre elas, não sendo esmagado por pouco.

-Você quer seu filhote e eu quero o meu, grandão. Sai de perto dele…- Xena falou para o cervo que a olhava na espreita. A imperatriz levantou um pouco e deixou o filhote se movimentar. O cervo caminhou alguns passos longe de Solan. Xena notou que estava dando certo, ela soltou o animalzinho que levantou cambaleando. Com muito cuidado ela e o cervo se encararam e deram passos lentos até finalmente trocarem de lado.

-Você está bem.- Xena levantou Solan e olhou cada centímetro do rapaz.

-Sim… Foi por pouco.

Os dois olharam para os animais e notaram como o grande cervo cheirava o pequeno. A imperatriz sentiu um certo remorso por ter tentado tirar a vida daquele bicho. Ele estava tentando nada mais do que proteger sua cria. Antes que ele pudesse partir, um outro filhote saiu timidamente de trás de uma árvore e ali estava uma família quase completa de cervos.

-Cadê a mãe deles?- Perguntou Solan.

-Talvez tenha morrido e o pai tomou o lugar dela.- Aquilo era curioso tanto para Xena, quanto para o reino animal. -Eu acho que quero comer peixe.- disse Xena com a mão no ombro do menino.

-Eu também.

Os dois saíram calmamente de ré e quando tomaram uma boa distância, deram as costas para os bichos e voltaram para onde os cavalos estavam. Eles caminharam em silêncio e a todo caminho Xena não tirou a mão do ombro de Solan.

-Obrigado. 

-Pelo o que?

-Você me salvou.

-Eu não fiz mais que minha obrigação, não é?- Solan sorriu e continuou andando. 

Eles voltaram para o riacho e Xena conseguiu pegar dois peixes pequenos. Agora com a trégua da garoa, Solan fez uma fogueira com cascas de árvore e eles assaram a comida com as frutas que trouxeram nas bolsas. Comeram enquanto conversavam e no final Xena estava aliviada por não ter caçado o animal. Naquela manhã ela se conformou que havia espaço suficiente na terra para ela e o cervo viverem.

Um pouco depois de terminarem o almoço e conversarem mais um pouco, a chuva retornou e começou a engrossar. Mãe e filho decidiram que já estavam úmidos o bastante para um dia e resolveram voltar.

-Vamos.- Disse Xena levantando do chão onde estava deitada.

-Na primavera podemos voltar?- Perguntou Solan também se levantado.

-Na primavera eu pretendo te levar para outro lugar.- Ela piscou e começou a andar até o cavalo. Enquanto Xena andava, ela tropeçou em um galho e caiu de barriga no chão.

Solan gargalhou do tombo e quando Xena se levantou toda suja de barro, ele riu mais ainda.

-Que porcaria.- Disse ela. -Ta achando graça?- Xena pegou um punhado de terra e foi na direção do menino. Antes dele correr ela puxou a camisa dele e enfiou lama.

-AAh nãooo.- Ele remexeu enquanto tentava tirar. 

Xena correu de volta e quando Solan a seguiu ela passou o pé na frente dele e o fez mergulhar na lama. Eles ficaram um tempo esfregando lama um na cara do outro até que a chuva engrossou de verdade, com direito a trovões e os fez sair dali. Eles estavam irreconhecíveis e pareciam mais que tinham saído de um pântano do que de uma caçada.

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Gabrielle havia acabado de almoçar com Delia e estava no corredor conversando com Najara. Nesses últimos dias elas ficaram bem amigas.

-A imperatriz não tem nenhuma reunião hoje?- Najara perguntou pois estranhou Gabrielle estar no corredor aquela hora.

-Não, ela foi caçar com Solan em algum lugar aqui perto.

-É verdade o que estão falando sobre o menino?- Todo mundo estava comentando o quanto Solan era indisciplinado.

-Não é. Solan só precisa de mais tempo com a imperatriz e tudo vai se resolver.

-Você é muito corajosa por querer ficar na sombra dessa mulher, Gabrielle.

-Ela não é o monstro que todo mundo fal…- Antes de Gabi terminar de responder, um som chamou a atenção dela.

Xena estava vindo em sua direção com cara de poucos amigos. Gabrielle até teria se preocupado com aquilo, se não fosse a quantidade absurda de lama que lhe cobria o corpo.

-Pelos deuses, o que aconteceu?- Gabi perguntou.

-Longa história.- Xena parou na frente de Najara e a sentinela reverenciou a imperatriz. Sempre que Najara conversava com Gabi, fazia questão de ficar muito perto e isso irritava profundamente Xena. -Eu preciso que você me ajude…- Xena puxou Gabrielle -…a me limpar… 

-Vai demorar horas pra sair tudo isso.- Gabi por um momento se esqueceu de Najara e ergueu uma mecha de cabelo dura de Xena.

-Estou contando com isso.- Xena piscou para Gabi e notou o desconforto em Najara. 

Gabi voltou a notar a sentinela e enfim entendeu o que Xena estava fazendo. 

-Então vamos…- Respondeu ela sem graça. – Até mais, Najara. 

-Até, senhorita. – A sentinela bateu continência mais uma vez e saiu do corredor.

-Por que fez isso? Ela pode contar pra alguém agora.- Disse Gabrielle enquanto ia para o aposento.

-Que bom. Assim todo mundo fica sabendo que você é minha e não chega perto.- Xena pegou Gabi no colo e saiu em passos largos para o quarto. Elas entraram nele e quando Gabi desceu no chão viu que seu vestido estava sujo.

-Você me sujou.- Gabi deu um cutucão na barriga de Xena e tentava limpar o pano com a mão

Xena entrou na câmara de banho e começou a tirar a roupa suja, enquanto Gabi vinha em seu encalço. A água da banheira romana sempre estava quente por causa das pedras vulcânicas que os empregados colocavam duas vezes ao dia.

Gabi ajudou a tirar a armadura suja e com cuidado jogou no chão para não sujar os tapetes. 

-Você está maravilhosa. O corpo branco e a cara marrom. Sem falar no seu cheiro.- Gabi reclamou. 

Xena pegou Gabrielle no colo e pulou na banheira com ela.

-Eu não acredito que fez isso, Xena… 

-Você vai me limpar, fazer amor comigo e uma massagem nas minhas costas.

-Com certeza eu vou te limpar.- Gabi falou enquanto tirava o barro do rosto de Xena. – E eu pensei que a imperatriz não fizesse amor.- Ela riu e tirou mais barro do rosto. 

-Com você eu faço.- Xena beijou Gabi e tirou o vestido ensopado da jovem. – Pronto, agora sim você pode me dar banho.

-Você é uma pervertida.- Gabi deu a volta e começou a lavar o cabelo de Xena. -Uma pervertida encardida.- As duas riram. -Como foi essa manhã com Solan?

-Divertido, tivemos um bom tempo juntos.- Xena encheu Gabi de detalhes e elas passaram um bom tempo conversando sobre isso enquanto Xena se limpava.

-Ele com certeza vai querer fazer mais disso com você.- Respondeu Gabi sorrindo e orgulhosa do que a mulher a sua frente havia conquistado.

-Tomara que sim.- Xena tinha um sorriso bobo no rosto.

Gabrielle caminhou até a frente da imperatriz e colocou as mãos no ombro dela.

-Acho que agora você está limpa.

-Como faço pra ter certeza se estou ou não?- Xena perguntou e Gabi deu um beijo nela.

-Sua boca não está com gosto de barro pelo menos.

-Quer provar outra coisa?- Elas riram e encostaram a testa uma na outra. Gabi esperou de Xena uma ação, ou um beijo mais lascivo, mas a mulher não o fez.  Observou bem o rosto da jovem a sua frente e por alguns segundos, Gabi teve certeza de que Xena queria dizer-lhe algo.

-O que foi?

-Não gosto de Najara perto de você.- Surpresa, Gabi ergueu as sobrancelhas. Estava esperando qualquer outra coisa, menos aquilo.

-Por que?

-Eu não sei. Ela não parece ser o que mostra. Sem falar que eu sinto algo pesado nela. 

-Ou você acha que eu vou querer beijar ela em vez de você?- Gabi provocou e Xena olhou séria pra ela.

-Você me trocaria? 

-Claro que não.- A garota respondeu com mais um beijo. -Você não precisa se preocupar com Najara, ela é uma colega.

-Ela gosta de você, mas não como colega, Gabrielle.

-Por que acha isso?

-Ela não respeita seu espaço pessoal, chega muito perto e na primeira oportunidade tenta te tocar.

-E quando foi que você viu ela me tocando?- Gabi sabia que Xena tinha razão, mas achou tão curiosa a análise da imperatriz que resolveu perguntar.

-Eu vi vocês outro dia no jardim. Eu não queria espiar, mas ainda sim vi o jeito que ela te olhava. -Agora sim fazia sentido para Gabrielle o dia em que Xena perguntou o que ela sentia por Najara.

-Eu não tenho interesse nela, Xena. Por favor, não me peça para cortar laços, porque se não, vão existir somente duas pessoas no mundo para me ouvir tagarelar. Você e Delia.

-Só se você me prometer que vai fazê-la entender que são “colegas”.

-Eu prometo… meu amor.- Depois de uma longa pausa, Gabi disse as palavras que tanto desejava e deu um beijo doce em Xena. 

A imperatriz adorou ouvir aquilo e não conseguiu esconder o sorriso. Gabrielle sorriu largamente quando viu o que causaram em Xena e a imperatriz corou

-Eu vou te mostrar qual a punição por me fazer ciúmes, Gabrielle.

-A imperatriz está admitindo ter ciúmes? Eu acho que estou em um patamar bem perigoso mesmo, hein?- Gabi falou enquanto era carregada até o quarto.

-Se contar  isso para alguém, eu devoro você.- Xena mordeu o pescoço de Gabrielle.

-Acho que vou contar para todo mundo então.