Warning: Intensidade emocional! — You can hide marked sensitive content or with the toggle in the formatting menu. If provided, alternative content will be displayed instead.

Warning Notes

Este conto apresenta uma intensidade emocional e temas de amor sobrenatural que podem ser avassaladores para alguns leitores. A relação entre Gabrielle e Xena é retratada de maneira profunda e complexa, abordando aspectos de fascínio e temor. Indicado para quem aprecia narrativas que exploram as fronteiras do amor e do sobrenatural.

you’re so hypnotising

could you be the devil, could you be an angel

your touch, magnetizing

feels like I am floating, leaves my body glowing

.

você é tão hipnotizante

você poderia ser o diabo, poderia ser um anjo

seu toque, magnetizante

parece que estou flutuando, deixe meu corpo irradiando

.

.

A primeira coisa que se lembrou – ou conseguiu lembrar – foram aqueles infinitos olhos azuis. O oceano que se estendia dentro deles não poderia fazer jus ao magnetismo irradiado; aqueles mesmos olhos que fitavam o chão, e então se dirigiam a ela, acompanhados do velho sorriso perverso em malícias. O mundo parecia piscar em volta, ao mesmo tempo que ela lhe estendeu a mão… Aquela mão que sabia que puxaria o mais fundo calafrio em sua espinha. Se pudesse, seu corpo estaria mergulhado em purpurina; porque fora do chão ela já se encontrava. Ela podia voar, elas podiam voar e sabia disso. Restou-lhe então só sentir aquela pele macia debaixo de seus dedos; e era justamente ali que buscava chegar.

.

.

they say be afraid

you’re not like the others, futuristic lover

different DNA, they don’t understand you

.

eles dizem para ter medo

você não é como os outros, amante futurista

DNA diferente, eles não te entendem

.

.

Sabia que na visão de outros, aquilo era totalmente proibido. Xena não era como qualquer outro mortal – ainda caminhante pela face da Terra ou então nela enterrado. Haviam aqueles que achavam que ela vinha do futuro; seus conhecimentos, toques e inteligências sempre se mantendo à parte daquela época. O medo era uma constante em sua vida, e era soprado pelo vento; mesmo seu perfume próximo poderia causá-lo. Mas quando viu nos olhos azuis novamente, ali estava a incompreensão; entendimento que somente ela poderia lhe dar. E por isso seu toque era tão profundo, tanto em seu corpo quanto em sua alma. Ela a amava, amava tudo que era e tudo que representava em sua vida; um ser poderoso e superior que ainda assim necessitava de sua pequena âncora. Foi quando sentiu o calor alheio subindo por seu ser, em insistente necessidade.

.

.

you’re so supersonic

wanna feel your powers, stun me with your lasers

your kiss is cosmic, every move is magic

.

você é tão supersônica

quero sentir seus poderes, paralise-me com seus lasers

seu beijo é cósmico, cada movimento é magico

.

.

Aquela mulher – se é que era realmente só isso, uma reles mortal – tinha capacidade de caminhar sobre um caminho de choque. O outrem que ali jazia hipnotizado, tanto quanto sua companheira. Daquelas mesmas mãos que poderiam sair poderes kármicos, poderiam ceder e dar aos toques um outro sentido: talvez literal de levar-lhe à lua, à outros mundos. Os azuis olharam nos seus mais uma vez; agora brilharam cruéis, pois mesmo o ser mais pacífico já existente possuía maldade – e com ela não era diferente. Mas dessa vez, era algo totalmente esperado pela loira. Ela entendia aquele código, e a tortura que se seguiria, fazia seu corpo pedir por mais. O que lhe cobria fora arrancado, mas o gelado não lhe invadiu; ao contrário, fora queimada ainda mais em seus poros – pois dedos flamejantes tocavam-na em cada lugar. E sons bailavam de sua boca para junto do cabelo negro… Nada poderia falar ou fazer, apenas sentir quando a boca carmesim buscou a sua. Cada movimento era visto em câmera lenta pelas claras matas verdes – algo para sempre marcado em sua memória jovem e vibrante. Lembrou-se então da energia dos poderes que outroras escaparam do meio da palma de pele morena; “Eu quero-os em mim”, sussurrou em seu ouvido. E ali então teve a certeza de que estava condenada.

.

.

this is transcendental, on another level

boy, you’re my lucky star

I wanna walk on your wavelength

and be there when you vibrate

for you I’ll risk it all

.

isso é transcendental, em outro nível

garota, você é minha estrela da sorte

quero andar na frequência da sua onda

e estar lá quando você vibrar

por você eu arriscarei tudo

.

.

Sua débil mente delirava à cada respiração, à cada parte do seu corpo coberta com toques quentes; uma parte de si estava longe dali, e então pôde claramente ver uma guerreira cruel descer dos céus envolta por flamas e arma em punho. Se aquilo fora fruto da sua imaginação, jamais saberia, mas seria o suficiente para assustá-la, como foi. O medo tomou conta de si, fazendo-a agarrar fortemente o pescoço acima; “O que foi?”, mas palavras não se faziam necessárias – a respiração, a força lhe diziam tudo; “Não tema”, sussurrou no ouvido loiro. Pôde então sorrir diante de sua tola reação imaginária – a voz sempre acompanharia sua dona, que ali estava –, e quando sua companheira estendeu-lhe a mão, nem frações de segundos foram suficientes para fazê-la hesitar. Não precisava nem ao menos de sua vida, pois seu significado estava plantado diante de si – arriscaria cada respiração sua naquilo; não era o comum, não era o banal, e a permissão ao escapamento fadaria sua vida à nunca mais ter isso de novo. Sua alma poderia fugir dali, nada importaria; queria acompanhá-la e quando tudo rodasse e trocasse, seu desejo era sentir a vibração por debaixo de seus dedos. Pois não estaria ali entregando seu corpo, mas sim sua alma e toda sua vida, como fizera remotamente.

.

.

you’re from a whole ‘nother world

a different dimension

you open my eyes

and I’m ready to go, lead me into the light

.

você é totalmente de outro mundo

uma dimensão diferente

você abre meus olhos

e eu estou pronta pra ir, guie-me para a luz

.

.

Um vento pousou por sobre ambas, esfregando-se em seus corpos. Os olhos azuis vibraram felizes; era como um presságio sobre sua terra. Por sua mente passou os momentos de tristeza e alegria, ou até mesmo forçamentos. Entrelaçou os dedos nos de sua mulher amada, e olhou profundamente em seus olhos verdes. Jazia ali a certeza sobre sua vida, seu passado e seu futuro. E esta não pôde evitar responder-lhe com um singelo sorriso de compreensão silenciosa. Mas para a morena, uma pequena peça haveria de ser pregada, e o medo trespassou pelos olhos de sua companheira. Então apenas limitou-se a apontar para a lua sobre elas; “Quero guiar-te para lá, ao pálido”, mas quando os olhos verdes voltaram a se encontrar com o oceano azul, tendo sua fértil imaginação inudada por uma imponente guerreira andando em direção aos céus, petrificou-se. Ali, a certeza sobre paralelidade inundou – e talvez infinitamente além. Abriu totalmente as órbitas quando sentiu o toque tão ousado, mas tão logo as mesmas jazeram; só restava o feliz fim de se manter sob o corpo quente quando foi empurrada para o chão, sentindo o amor físico pressionando-se contra seu ser. A luz aguardava sua espera finalizada.

.

.

kiss me, kiss me

infect me with your loving, fill me with your poison

take me, take me

wanna be your victim, ready for abduction

boy, you’re an alien, your touch so foreign

it’s supernatural, extra-terrestrial

.

beije-me, beije-me

infecte-me com seu amor, preencha-me com seu veneno

tome-me, tome-me

quero ser sua vítima, pronta para abdução

garota, você é uma alienígena, seu toque de outro mundo

é sobrenatural, extraterrestre

.

.

“Beije-me, beije-me”, seu corpo a fez falar apressadamente; e como dizia o ditado clássico, seu pedido fora atendido. Não esperava a ânsia e a pseudo-violência que se seguiram, mas foram de muito bem-vindas. Não era de todo algo que não desejava; queria sentir todo e completo amor daquele ser em si – por dentro e por fora. E quando a realidade bateu, desandou a olhar penetrantemente os olhos verdes, fazendo a pergunta silenciosa. Mostrou através de seu brilho toda a crueldade e todo o passado horrível que ali jazia por trás. Assustou sua companheira, de fato, mas o amor incondicional reinava por aquelas terras – nada poderia ser o suficiente para fazê-la desistir, entregue do jeito que estava. Tocou seu rosto levemente em agredecimento, para tão logo ter o hálito quente invadindo as veias da loira. E então seu próprio ar quente escapou ensandecidamente, em palpáveis, porém ausentes na forma de sílabas. Soube ali que poderia ser amarrada à espinhos para tê-la em seu ser – nada importava; necessitava-a, seus poros poderiam ter vozes à lhe chamar. Tudo que precisava era seu veneno, sua crueldade naquele momento; e se isso lhe faria a vítima, queria então ser raptada. Pois se sua débil mente estivesse num espaço de tempo para pensar ali, teria concluído o óbvio – e que todos estavam certos, onde o sobrenaturalismo pairava. O toque forasteiro que a tomou quando cada milímetro de si gritou no momento principal que ambas ansiavam. “Não se preocupe. Isso é real”, teve a voz rouca sussurada no meio de seus cabelos quando ela a segurou. E quando recuou, o maremoto azul estava ali, tão revoltoso quanto antes, molhado por chuvas. Diante dali, a sensação de que pertencia ao lugar certo nunca mais lhe abandonou – ao vir à tona, uma havia dado à outra a mesma coisa… Liberdade.

FIM