Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    – Gabrielle, obrigada pela refeição. Agora, tenho que ir.

    – Puxa, como está apressada!

    A guerreira deu um sorriso. A verdade é que não estava apressada. Apesar de no começo ter ficado incomodada com o ambiente barulhento e de ter aceitado o convite da mulher simplesmente para não desagradá-la, acabara gostando de passar aquele começo de noite na companhia da gesticulante loirinha.

    – E o que você sugere então? – perguntou Xena.

    – Tem todo tipo de festa acontecendo em Atenas hoje. Tem bastante coisa para fazer.

    – Não sou muito de festas. Já passei dessa fase.

    – E em que fase está?

    – Na fase que quer estender um cobertor na relva e olhar o céu em um lugar muito silencioso até adormecer.

    – Vamos fazer isso, então.

    – Ah, Gabrielle. Com certeza uma jovem como você quer aproveitar as festas em Atenas. Não quer a companhia de uma guerreira velha e calada.

    – Velha? Por favor. Olhe pra você. Onde você quer olhar o céu?

    A morena percebeu que Gabrielle estava falando sério. Normalmente a guerreira não admitiria companhia em seu acampamento, mas percebeu que não se importaria de fazer isso naquela noite.

    – Você tem certeza disso? Não quer ficar por aqui e aproveitar o festival?

    – Pra ser bem sincera, ainda estou meio sem ânimo com o que aconteceu hoje. Não acho que eu vá conseguir aproveitar nada. Estou querendo mesmo um pouco de silêncio e sossego. Acho que vai ser melhor se eu ficar um pouco com você. Isso, se não for te incomodar.

    – Não vai. Bem, se realmente quer, então vamos.

    – Espera, vou só pagar nossa refeição.

    – Gabrielle… – Xena começou a argumentar.

    – Shh, ainda não entendeu que não é para ficar discutindo comigo?

    A guerreira balançou a cabeça, sorrindo meio contrariada, enquanto a mulher ia pagar a conta. Quando a barda voltou, saíram da taverna e a guerreira as direcionou para os estábulos.

    – Vamos pegar meu cavalo, aí sairemos rapidinho de Atenas.

    – Cavalo? – a guerreira ouviu a voz relutante da loira e riu.

    – Não me diga que tem medo.

    – Eles são muito altos. Não sou exatamente beneficiada nesse sentido.

    – E como viaja por aí?

    – A pé e de caronas.

    – Que perigoso!

    – Eu tenho minhas formas de me proteger.

    – Vamos fazer assim. Você monta na frente, e eu te seguro.

    – Xena…

    – Por favor, Gabrielle, demora demais se formos a pé.

    – Tudo bem – a loira estava pálida.

    Foi buscar o cavalo e a palidez de Gabrielle arrefeceu um pouco ao ver o belo animal.

    – Como ele é lindo!

    – Ela. Se chama Argo.

    – Você é muito bonita, Argo – disse Gabrielle, passando a mão na crina branca do animal dourado – promete que não me derruba?

    A égua meneou a cabeça e resfolegou. Xena achou graça.

    – Ela prometeu. Vamos? Vem cá, te ajudo.

    A guerreira ajudou a barda a montar. Lá de cima, a jovem olhava para o chão como se encarasse um abismo. Xena se compadeceu um pouco, a loira tinha suor na testa.

    – Segura firme na sela. Vou subir agora, tá?

    – Tá – a jovem disse, num fio de voz.

    Xena subiu rapidamente, logo atrás da barda. Percebeu que ela estava reta, rígida e trêmula. Passou a mão na cintura da mulher e a puxou contra si.

    – Encosta em mim, assim. Relaxa. Vai ser bem rápido. Deixa o corpo mole, seguindo os movimentos de Argo, e segura bem na sela, certo? Não vamos te deixar cair.

    – Uhum – a loira começou a soltar os músculos do corpo, relaxando contra a guerreira. Xena sentiu o corpo dela responder de forma inesperada ao contato, e começou a se questionar se tinha sido, de fato, uma boa ideia trazer a mulher junto com ela. Mas, resolveu não pensar demais, e sacudiu as rédeas de Argo, que partiu em cavalgada.

    – Oh, deuses! – Gabrielle segurou a sela, fechou os olhos e ficou rígida novamente.

    – Ei, assim – Xena a puxou novamente – já disse, não vou te deixar cair.

    – Ce-certo – a barda estava branca, mas abriu novamente os olhos. Devagar, foi relaxando de novo, e logo já tinha um sorriso no rosto. Pediu para segurar as rédeas e Xena entregou, focando em segurar a mulher no lugar.

    – Uau! – a loira já se divertia e acelerava a velocidade do cavalo. Xena estava feliz em ver a empolgação da jovem, mas estava atenta para caso precisasse fazer qualquer intervenção. Quando chegaram na parte que teriam que entrar na floresta, pegou as rédeas.

    – Agora eu guio, essa parte é mais difícil – disse.

    – Tudo bem – a barda voltou a segurar a sela e recostou novamente na guerreira, dessa vez bastante tranquila.

    Entraram na floresta e Xena às guiou até uma clareira. Desceu e ajudou Gabrielle a desmontar.

    – E aí? Não foi tão difícil, foi?

    – Nunca imaginei que ia enfrentar meu medo de cavalos. Hoje está sendo um dia cheio de surpresas.

    – Nem me fale – disse a guerreira – vou montar o acampamento.

    Rapidamente, Xena fez uma fogueira e estendeu os cobertores. Quando começou a tirar as peças de armadura, Gabrielle foi ajudá-la.

    – Essa é a hora que você se arrepende e me pede pra te levar de volta para Atenas? – perguntou a morena.

    – De jeito nenhum – Gabrielle retirava a última peça de ferro – aqui está lindo – a barda respirou fundo – tem uma paz aqui. Uma coisa… não sei explicar.

    – Você não acampa quando viaja?

    – Algumas vezes, mas tento evitar. É perigoso e não quero colocar tudo nas mãos da pobre Afrodite. Tento me proteger o máximo que posso.

    – Sábia decisão.

    – Mas você não tem medo.

    – Não tem muita coisa nesse mundo capaz de me assustar.

    A guerreira deitou-se no cobertor e a barda deitou ao lado dela.

    – Me diz uma coisa que te dá medo – pediu Gabrielle.

    – Está procurando minhas fraquezas?

    – Sim.

    Xena observou a jovem, que a olhava, curiosa.

    – Hum – a guerreira pigarreou – algo que tenho medo – uma coisa passou pela cabeça de Xena, mas era pessoal demais para compartilhar. Devolveu as memórias sobre seu filho ao mais fundo de sua mente – realmente não consigo imaginar algo.

    – Tem medo da morte? – perguntou a barda.

    – Não. Vivo ao lado da morte todos os dias.

    – Tem medo de cobras, ou outros bichos assim? Sapos?

    – Gabrielle, eles que tem que ter medo da gente.

    – Medo dos deuses?

    – Nem um pouco.

    – Medo de altura?

    – Não tenho nenhum desses medos comuns. Não posso me dar ao luxo. Sou uma guerreira. Vivo de me colocar em risco e em situações perigosas.

    – Nenhum medo comum – a barda refletiu – e medo de amar?

    A guerreira não pôde evitar uma risada um tanto quanto irônica.

    – Já deixei isso pra trás há muito tempo.

    – Então já amou?

    – Já.

    – O que aconteceu com seu amor?

    A guerreira suspirou.

    – Ela morreu.

    A barda sentiu seu coração dar um salto.

     

    – Ela?

    – Sim. Isso a incomoda?

    – Não. O que houve com ela?

    – Foi assassinada pelo próprio filho. O matei por vingança.

    Gabrielle ficou em silêncio, olhando para a guerreira. Esta não tirava os olhos do céu estrelado, sua expressão ao mesmo tempo calma e triste.

    – Sinto muito, Xena.

    – Não tem problema. São coisas do passado. Não me prendo a isso.

    Gabrielle estendeu o braço e segurou a mão da guerreira. Xena finalmente tirou os olhos das estrelas e olhou para os dedos entrelaçados nos seus.

    – Pra que isso? – perguntou a morena.

    – Estou consolando você – a barda respondeu.

    – Eu estou bem.

    – Quer que solte sua mão?

    Xena levantou os olhos para a mulher ao seu lado.

    – Não.

    Gabrielle sorriu e voltou novamente seus olhos para a imensidão pontilhada de branco. Apertou a mão de Xena na sua. A guerreira também voltou a olhar para o firmamento.

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