Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Era Cortese sobre ela. Gabrielle olhou de lado, performando uma inexistente luxúria. Viu Xena ao seu lado, sentada na cama, abraçada ao narguilé. Gabrielle sabia que metade do conteúdo do aparelho tinha sido derramado na sala de banho. Xena voltou os olhos difusos para ela e deu o mais discreto dos sorrisos. Gabrielle fechou os olhos, sua mente foi para outro lugar, um lugar onde só existia o sorriso de Xena. 

     

    *** 

     

    Ele ordenara que Xena a tomasse diante dele, e ela o fez. Agarrou-se ao corpo da morena como se fosse sua tábua salva-vidas, enquanto ondas quase ininterruptas de prazer a percorriam incessantemente. Com o polegar, traçou na bochecha da mulher os contornos do nome que estava gritando dentro de sua alma.

    X

    E

    N

    A

    No meio do faz de conta, comunicavam a realidade em sua linguagem invisível. Cortese era uma mancha borrada ao fundo do cenário. Cada vez mais ópio era derramado no ralo da banheira. 

     

    ****

     

    Cortese não estava. O tempo era curto, as oportunidades, raras. Ansiosas, os ouvidos atentos ao barulho dos corredores, mergulharam uma na outra. Era cada vez mais difícil lembrar que tinham que ficar atentas à chegada do seu senhor. Por segundos, cada vez mais longos, Ariadne e Aletheia desapareciam e havia apenas Xena e Gabrielle.

     

    **** 

     

    Até o dia em que os segundos foram longos demais e o perigo entrou na hora em que se amavam.

    O puxão em seus cabelos curtos fez o couro cabeludo queimar com a dor intensa. Mal registrou os gritos ensandecidos do rei, enquanto ele golpeava todo o seu corpo com socos e pontapés. Viu o mundo sair de foco e tossiu, o gosto de sangue tomou sua boca. Viu, aterrorizada, o homem dirigir-se à Xena e começar a espancá-la também. O grito que escapou de sua garganta foi quase inumano e não soube como, no meio da dor, tinha conseguido saltar nas costas de Cortese e enfiar os dedos em seus olhos, fazendo-o largar a morena. O homem definitivamente esqueceu de Xena e direcionou toda sua atenção à Gabrielle.

    Não é que um amo nunca a tivesse golpeado, mas isso era diferente. O homem parecia saber os lugares exatos onde ela ia sentir a maior dor. Perdeu a consciência várias vezes e retornou, o homem a forçava a acordar com alguma substância de cheiro forte, para continuar a espancá-la. Percebeu, aliviada, que Xena estava de costas para eles, encolhida num canto de parede, olhos fechados e ouvidos cobertos. Cortese a tinha deixado em paz.

    Acordou na cama do quartinho, e percebeu que Cortese não estava mais ali. Xena estava deitada ao seu lado, os olhos muito abertos espiando seus movimentos.

    – Ele vai nos separar? – Gabrielle mal ouviu o gorgolejo que saiu de sua garganta inflamada.

    – Não – respondeu Xena.

    – Ele bateu em você?

    – Não.

    Desmaiou novamente, quando acordou, Xena ainda estava ali, mas estava em outra roupa. Seria ainda o mesmo dia?

    Dessa vez, não perdeu a consciência depois de pouco tempo. Viu Cortese entrar no quarto, e seu corpo inteiro contraiu-se de pavor. Xena levantou-se e o homem sentou-se ao seu lado na cama e passou a mão em seus cabelos. Gabrielle percebeu o arranhão que ele tinha no olho esquerdo e precisou de todas as forças para segurar o sorriso que lutou para aflorar em seus lábios.

    – Como está, pequena? – perguntou o homem, sua voz era doce e calma.

    Você é doente.

    – Bem, meu senhor.

    – Agiu muito mal, Aletheia – o homem continuou, afagando seus cabelos – ia ser só uma pequena lição por se divertirem sem mim, nada de mais. Mas você foi fazer isso – o homem passou a mão no próprio olho – isso é inadmissível.

    – Eu entendo, meu senhor. O que posso fazer para me perdoar?

    – O que pode fazer? – os dedos do homem perderam a leveza e puxaram seus cabelos com força – é o que eu vou fazer, Aletheia. Vou te foder tanto que vai virar uma puta inútil e usada como aquela ali em pouco tempo. Vou te matar, e não vai ser rápido.

    Gabrielle sentiu seu estômago revirar.

    – Entendo, meu senhor – sua voz tremia.

    – Tão bem treinada… – Cortese se levantou – Ariadne, cuide dela – e saiu.

    – Sim, senhor – respondeu a morena. Sentou-se ao lado de Gabrielle na cama e segurou a mão da loira.

    – Vou matá-lo – disse Xena, calmamente.

    – Xena…

    – Vou matá-lo, Gabrielle. Não sei como, não sei quando, mas vou.

    – Vamos – respondeu a loira. A morena arregalou os olhos. Gabrielle sorriu e apertou a mão da morena.

    – Eu e você – continuou a loira – ele nem imagina com quem se meteu.

    Xena rompeu em lágrimas e abraçou Gabrielle, sem apertá-la para não machucá-la.

    – Me perdoe – disse.

    – Pelo que?

    – Você me defendeu, e eu não consegui fazer nada por você. Congelei como uma covarde.

    – Não há o que perdoar. Que bom que não fez nada, ou não teria você para cuidar de mim.

    Xena beijou a mão da jovem.

    – Por quanto tempo… – Gabrielle tossiu, sua boca ainda tinha sabor de cobre – ele fez isso com você?

    – Dois anos inteiros.

    – Oh, Xena…

    – Ele sabe onde bater, como não deixar marcas. Exceto quando flagelou minhas costas, como você, com certeza, já deduziu.

    – Eu sinto muito.

    – Tudo porque eu quis defender minha vila – o sorriso de Xena era amargo – ele destruiu tudo, matou toda minha família.

    – Ele também matou a minha. Eu nasci em Potedia.

    – Oh – Xena arregalou os olhos – então foi logo depois que ele atacou Anfípolis?

    – Acho que sim.

    – Estávamos tão perto uma da outra.

    – Curioso, não? E nos reencontramos.

    – Vamos acabar com ele, Gabrielle.

    – Vamos. Xena?

    – Sim?

    – Eu amo você.

    A morena apenas arregalou os olhos e seu queixo caiu. Gabrielle riu, sôfrega.

    – Não sei se realmente vamos conseguir acabar com ele, e podemos morrer – a jovem continuou – mas gostaria que soubesse, caso eu não sobreviva.

    – Gabrielle… – Xena baixou os olhos – eu…

    – Eu apenas queria que soubesse, Xena.

    A morena beijou mais uma vez a mão de Gabrielle, as lágrimas voltaram a cair de seus olhos.

    – Eu não posso dizer isso.

    Gabrielle acariciou o rosto de Xena.

    – Eu entendo.

    – Não, você não entende – Xena riu em meio as lágrimas – o que se sente por alguém que te ressuscitou? Por alguém que te faz lembrar que você existe? Não sei se amor é a palavra. Você devolveu minha alma. Eu morreria por você, destruiria o mundo por você. Eu te quero o tempo todo.

    Gabrielle puxou a morena para um beijo nos lábios.

    – Xena… pode só falar que me ama?

    Xena afagou o rosto da jovem.

    – Eu realmente te amo, Gabrielle. 

     

    ***

     

     

    Xena sentiu Ariadne ameaçar dominá-la completamente quando foi forçada a observar Cortese tomando Gabrielle violentamente quase todas as noites. Desejou mais que nunca mergulhar completamente no ópio, esquecer a realidade, afastar-se e flutuar no estupor irreal em que vivera nos últimos anos. Mas, quando abraçava uma trêmula e ferida Gabrielle toda noite em seus braços, sabia que não podia se desconectar. Precisava manter seus sentidos alertas e vislumbrar a oportunidade que precisava para fazer o necessário. Temia fazer algo impulsivo antes de ter uma oportunidade real de acabar com o homem de uma vez por todas e tirá-las daquela situação.

    Jamais saberia se essa oportunidade de fato chegaria ou não, pois as circunstâncias, mais uma vez, foram as mestras do destino. Quando viu as linhas vermelhas começarem a aparecer na superfície branca dos olhos da mulher que era sufocada na cama, ela soube o que aquilo significava.

    O narguilé quebrou-se no impacto com a cabeça de Cortese e ele caiu sobre a cama, inconsciente, mas isso não foi o bastante para Xena. Montou sobre ele e, gritando como uma besta enlouquecida, espancou-o até que ele fosse uma massa sangrenta. Não percebeu quando os dois guardas invadiram o quarto e Gabrielle tirou a espada de um deles, enfiando-a desajeitadamente na barriga do outro.

    Só voltou a si quando o outro homem pulou sobre ela a arrancou-a de cima de Cortese, e um punho poderoso desceu em seu rosto. Porém, viu-se logo livre, quando Gabrielle saltou sobre o homem e puxou-o. Xena viu a espada no chão, e enfiou no segundo guarda. As mulheres finalmente se entreolharam, logo depois reparando no corpo ensanguentado sobre a cama.

    Xena sabia que elas estavam mortas e que logo ali estaria cheio de outros guardas. Não podia permitir que fosse em vão. Saltou novamente sobre o rei e atravessou o estômago dele com a pesada lâmina, torcendo-a. O homem não se mexeu, pois já estava morto. Xena largou a espada e correu até Gabrielle, abraçando-a. Foram separadas pelos puxões do pelotão de soldados que entrou na câmara real.

    As levaram para as masmorras.

    Sozinhas, deitadas na pedra, elas se enrodilharam.

    – Conseguimos – disse Gabrielle.

    – Sim – murmurou Xena.

    – Você me salvou.

    – Idem.

    Adormeceram de exaustão e choque.

    0 Comentário

    Digite seus detalhes ou entre com:
    Aviso! Seu comentário ficará invisível para outros convidados e assinantes (exceto para respostas), inclusive para você, após um período de tolerância. Mas se você enviar um endereço de e-mail e ativar o ícone de sino, receberá respostas até que as cancele.
    Nota