A noite estava quente e a lua iluminava bem o pátio onde Gabrielle quase foi crucificada. A imperatriz não tinha a mínima ideia sobre qual caminho sua amada havia tomado na partida, então se dirigiu até as docas para procurar os guardas que a soltaram além do portão.

Assim que se aproximou do aposento dos guardas, o típico som e cheiro de homens inundou o ambiente. Se tinha algo que irritava a imperatriz, eram marmanjos entediados depois de um longo dia, então não economizou no chute na porta.

Os homens que estavam dentro do aposento pularam e só não avançaram com suas espadas pois reconheceram a imperatriz. Ela encarou homem por homem e quando localizou os que queria, apontou para eles e se retirou.

Com muita tensão, os guardas se levantaram e seguiram a imperatriz que se afastava do local cada vez mais. No momento em que ela parou, os homens diminuíram o passo já pressentindo o pior.

-Para que direção a escritora foi? – Xena foi curta e grossa e os soldados se entre olharam.

-Noroeste, imperatriz. Sentido do vilarejo de Cássia. – O mais alto deles falou.

-Vocês quem aconselharam ela a ir por esse caminho? – Xena quis saber.

-Sim, imperatriz. Cássia fica entre as montanhas e mais à frente tem um porto que recebe gregos. Pensamos que seria do seu agrado que ela partisse a todo custo daqui. – O outro falou.

-Por que achou isso? – Xena se aproximou e deu um olhar ameaçador para ele.

-Bem…- O guarda engoliu a seco e não sabia de fato o que Xena queria ouvir. –Sua majestade a libertou e depois que partiu ela olhou para trás inúmeras vezes. Pensei…- O guarda êxito de novo conforme a sobrancelha de Xena ergueu. -…pensei que tivesse urgência em ver uma amiga sair com segurança…

Xena não respondeu. Na realidade a percepção do soldado a fez notar que seu apreço por Gabrielle já havia sido notado por todos no momento que a libertou, sendo assim, aquilo deixaria a acusação de Cesar mais convincente.

-Mais alguém sabe para onde mandaram a escritora? – Xena perguntou enfim.

-Não, imperatriz. Sabíamos que iria retornar para saber, então mantivemos segredo. – O maior voltou a falar.

-Ótimo! – Xena exclamou e logo em seguida cravou duas adagas, uma em cada guarda, bem abaixo do queixo.

Os homens foram pegos de surpresa e gemeram quando a lamina afiada atravessou o rosto de baixo para cima e caíram no chão em seguida.

Xena não podia arriscar ser seguida e não podia deixar dois guardas inteligentes vivos. Ela puxou a faca de cada um e deixou no chão. Em seguida saiu dali já sabendo que Cesar usaria aquele assassinato contra ela.

A imperatriz pegou seu cavalo e partiu para o Noroeste sem olhar para trás. Aproveitando ao máximo a luz da lua, Xena cavalgou rapidamente, enquanto aguçava sua audição e olhava para todos os lados. Ela não queria correr o risco de ser atacada pelas costas e muito menos perder a chance de encontrar Gabrielle. Mas afinal, como ela iria achar a barda?

Xena começou a se perguntar aquilo e resolveu listar as características de Gabrielle. A loira era boa em se localizar, afinal, tinha ido de Potedia até Atenas sozinha. Ela era muito inteligente, mas não tinha experiência com fugas e não conhecia Roma. Fora aquelas duas características principais, Gabrielle provavelmente estava com medo e muito exausta uma hora daquelas, por isso se tornava imprevisível o fato dela parar depois de pouco tempo para descansar e recobrar a sanidade. Todos esses elementos se uniram com a noite que havia caído a algum tempo e cavalgar de noite não traria segurança a ela.

Com aquelas poucas informações, Xena continuou olhando para os lados esperando achar algum sinal de descuidado da escritora.

*********************************************************

Enquanto Xena desbravava os caminhos escuros da estrada, Gabrielle estava no alto de uma colina, encostada numa grande pedra que formava uma caverna rasa. Depois que fugiu, Gabrielle começou a se sentir muito mal e toda energia que tinha esvaiu-se.

Antes mesmo de escurecer, ela avistou aquela colina e pensou ser um bom lugar para descansar e conseguir espiar a estrada caso alguém viesse atrás delas. Por este motivo, a loira levou seu cavalo até lá, e se sentou no chão.

Gabrielle estava muito abalada com toda aquela situação. Seu coração estava quebrado e um choro de frustração caiu por seu rosto. A escritora não sabia explicar como tudo aquilo aconteceu tão rápido, mas ela não pode negar que estava apaixonada por Xena e ter de abrir mão daquele sentimento doía.

Assim que chegou até a colina, Gabi não se preocupou em fazer um acampamento. Ela se sentou no chão e ficou se perguntando onde estava com a cabeça. Ela realmente achou que seria fácil ter um romance com a imperatriz? Achou mesmo que seria fácil competir com o grande Júlio Cesar? Definitivamente se apaixonar pela imperatriz foi uma má ideia e não podia se dar ao luxo de indagar se a morena viria atrás dela. Era óbvio que não aconteceria aquilo e teria de se contentar com a lembrança da única noite de amor que tiveram.

Depois de um tempo refletindo e ficando cada vez mais chateada, Gabrielle notou que o sol estava indo embora e resolveu pegar um pouco de gravetos para uma fogueira. O corpo pequeno da escritora estava cansado e os olhos inchado de tanto chorar mal abriam. Com muito custo, ela pegou o que precisava para uma fogueira e com uma pequena faca que carregava, bateu numa pedra que gerou faíscas. Não demorou muito para o fogo surgir e diante do pouco calor que fazia, Gabielle se encolheu ainda sentada e ficou fitando as estrelas.

Alguns minutos depois a escuridão completa caiu sobre Roma e a lua começou a brilhar no céu. Os olhos de Gabrielle ficaram pesados e começaram a lutar para ficar abertos. A escritora não queria dormir, afinal, o medo de ser pega dormindo era grande, mas a canseira ganhou e perto da pequena fogueira, a loira se entregou a Morfeu.

Gabrielle começou a ter pequenos devaneios que teriam se tornado um sonho agitado se não fosse por um som de estralo. Os brilhantes olhos verdes se arregalaram e fitaram a estrada mais ao longe. Aparentemente não era nada, mas o som se repetiu e Gabrielle levantou rapidamente enquanto escorava na pedra.

-Que está aí? – A loira perguntou e puxou a faca que havia sido dada pelos soldados que a escoltou um pouco mais para frente da cidade.

Com a mão tremendo, Gabrielle foi na direção do som e viu uma figura no escuro vindo em sua direção. A escritora soltou um grito, fechou os olhos e investiu um golpe com a faca, mas a tal figura segurou seu pulso.

-Gabrielle. – Uma voz familiar a chamou e fez o coração bardo bater forte no peito. Os olhos de Gabi tornaram a abrir e diante de si viu Xena segurando seu braço.

-Xena! – Gabrielle soltou a faca no mesmo instante e fechou os braços em volta da cintura da morena. As duas se abraçaram calorosamente e se apertaram como se todo sofrimento fosse embora a partir daquilo.

Xena apertou Gabrielle em seus braços e com a mão direita segurou a cabeça loira e apertou os lábios contra a testa.

-Eu não acredito que você está aqui. – Gabrielle falou ainda no abraço e com os olhos fechados.

-Gabrielle, precisamos sair daqui. – Xena disse rapidamente e quebrou o toque caloroso.

-Por que? Tem alguém vindo? – Gabi ficou desesperada novamente.

-Em breve terá. – Xena foi na direção da fogueira e destruiu ela com poucas pisadas e chutes. Depois atirou para várias direções os gravetos queimados e colocou uma pedra em cima das cinzas.

-Como me achou aqui? – Gabrielle quis saber.

-Qualquer um pode te achar aqui, Gabrielle. Você escolheu o ponto mais alto com ampla visão de quem vem da estrada. Eu soube que era você no primeiro instante que vi fogo. – Xena respondeu rapidamente enquanto pegava as rédeas da montaria de Gabrielle e prendia em seu próprio cavalo. –Vem, temos que ir para outro lugar. – Xena esticou a mão para Gabrielle e ajudou a montar no alazão. Em seguida, a morena montou atrás dela e começaram a descer a colina, indo em direção oposta da estrada.

Gabrielle não conseguia acreditar que Xena estava ali. Uma hora ela estava encostada na pedra gelada e agora estava desfrutando do calor que o peito de Xena trazia. Era surreal, mas ótimo ao mesmo tempo.

-O que está fazendo aqui? – Mesmo com o coração transbordando de alegria, Gabrielle tinha inúmeras perguntas.

-César mandou Alti vir atrás de você. Ela vai te encontrar, levar para o palácio e te crucificar de novo. – Xena disse nervosa.

-Xena, o que está acontecendo? Porque seu marido quer me matar? – Gabrielle desencostou e encarou os olhos de Xena.

A imperatriz sabia que Gabrielle merecia respostas, mas não sabia como a loira reagiria se contasse o que realmente estava se passando. Por esse motivo, escolheu dar uma resposta compatível com o que Gabrielle poderia digerir.

-Cesar descobriu sobre nós. Ele quer te matar por isso. – Xena disse enquanto desviava dos olhos de Gabrielle e encarava o breu.

-E quanto a você? – Gabi continuo torta na montaria enquanto olhava Xena. A imperatriz não ia suportar mentir para a loira, então a puxou de volta para seus braços, colou seu rosto no dela e enrolou um braço na cintura da barda.

-Ele não me confrontou. Quer me ferir enquanto presencio sua morte e depois me acusar de adultério na frente de toda Roma. Eu ouvi ele tramando isso e sai do palácio. – Nessa questão Xena contou a verdade e Gabrielle ficou horrorizada.

-Eu estraguei sua vida…. Nós nunca devíamos ter nos envolvido. – Gabrielle começou a sentir extrema culpa e Xena parou seu cavalo no mesmo instante.

-Gabrielle, você não estragou minha vida, pare de dizer bobagens. – Xena pegou o rosto da loira e observou ali não só a escritora, mas a Gabrielle que conheceu em outra vida. –Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Me mostrou a direção correta e fez eu me sentir viva. – Xena falou com honestidade e por um momento se esqueceu que haviam menos de cinco dias que tinham se conhecido naquela linha temporal.

-Mas de que adianta se agora estamos sendo caçadas? Você perdeu sua coroa…- Gabrielle não conseguiu terminar a fala, pois Xena colou seus lábios nos dela. Ambas deram um beijo demorado que fez os corações baterem forte.

Depois de se separarem lentamente, ambas se encararam e sorriram, mas logo Gabrielle olhou para baixo e Xena sentiu que ela não estava bem.

-Gabrielle, eu não me importo com a minha coroa. Eu fui imperatriz por tempo demais e percebi que dominar o mundo é inútil. Desde que te conheci, a única coisa que ambiciono é seu toque, seu beijo e sua atenção. – Xena encarou os olhos de Gabi mais uma vez e a loira sorriu com carinho. –Eu jamais vou deixar Cesar e nem ninguém te machucar.

-Obrigada por ter vindo. – Gabrielle beijou os lábios de Xena mais uma vez e voltou a encostar na guerreira.

-Tente cochilar. Vou distanciar o máximo que conseguir da capital e assim que achar um bom lugar, descansamos. – Xena disse enquanto envolvia Gabrielle de novo.

-Ta bem! – A loira suspirou e sorriu para si mesma. –O que pretende fazer depois?

-Vamos para Grécia e de lá vou arrumar toda essa confusão. – Xena respondeu mais para si mesma do que para a loira.

Gabrielle não entendeu bem o que Xena quis dizer, mas voltar para a Grécia era uma boa ideia. Sem pensar mais, a loira fechou os olhos involuntariamente e cochilou por algum tempo.

************************************************

Algumas milhas dali, no palácio de Roma, Cesar e Alti continuavam tendo uma noite de luxuria. Ambos tinham saído do gabinete e desfrutavam da companhia um do outro no aposento de Cesar.

Eles não haviam suspeitado da ausência de Xena, até que Brutus bateu freneticamente na porta do quarto e chamou por seu imperador.

-Cesar! – O homem chamou aflito.

-Vá embora! – Cesar respondeu enquanto beijava a feiticeira.

-Dois guardas foram mortos no pátio da doca. – Brutus respondeu aflito e Cesar ergueu a cabeça já suspeitando de Xena.

O imperador levantou, cobriu o corpo com uma túnica e abriu a porta. Cesar saiu rápido do aposento e foi em direção ao aposento de Xena. Quando abriu a porta, o encontrou vazio e escuro. Os baús revirados e nenhuma das armas da mulher estavam ali.

-Os outros homens disseram que a imperatriz chamou os guardas e quando não retornaram, os acharam mortos no pátio, senhor. – Brutus que seguiu Cesar até ali informou.

-Essa foi a última vez que ela foi vista? – Cesar quis saber.

-Sim, imperador. O cavalo dela sumiu do estabulo também. – Brutus já sabia o que Cesar ia ordenar.

-Organize uma busca. Quero ela e a escritora aqui. Diga que a imperatriz traiu seu marido com uma grega. – Cesar deu as costas para o aposento de Xena e seguiu calmamente para o seu.

-Mas imperador…- Brutus disse aflito. –Isso é alta traição. Adultério e ainda mais com um inimigo. – Brutus indagou com horror e Cesar assentiu com a cabeça.

-É por isso que ambas serão executadas, Brutus.- Cesar parecia não sentir nada ao dar aquela ordem. –Agora vá rápido antes que elas se distanciem muito. – Cesar voltou a andar e Brutus o reverenciou. –Ah! E Brutus.- Cesar o chamou de novo. –Alti irá lidera-los. – O homem disse por fim e Brutus ficou desconfortável com toda aquela reviravolta.

********************************************************

Depois de duas marcas de velas no cavalo e uma cãibra na bunda por não querer se mexer e acordar Gabi, Xena encontrou um bom lugar para descansaram. Era uma caverna mais profunda onde os cavalos ficavam encobertos e era possível dormirem sem correr o risco de serem vistas. A única coisa que Xena lamentava, era a falta de tempo para esconder os castros dos cavalos.

-Gabi!- Xena tocou o ombro da loira que resmungou e abriu os olhos em seguida. –Chegamos a um lugar seguro. – Gabrielle olhou bem para o lugar e desceu com cuidado. A barda estava realmente fora de orbita e só queria dormir mais um pouco.

Xena desceu logo em seguida, esfregou a mão na bunda enquanto fazia cara de alivio e estralou as costas. Enquanto ela se alongava, Gabrielle andou um pouco pela caverna e pareceu bom para ela.

-Aqui, coloque no chão e volte a dormir. – Xena deu uma pele para Gabrielle e a loira a pegou sem contestar. Xena amarrou os cavalos mais para dentro da caverna e logo foi se deitar ao lado de Gabrielle.

Assim que se aproximou, viu que Gabrielle estava com os olhos abertos e sorriu. Xena sorriu de volta e se deitou deixando Gabrielle confortável com a cabeça em seu peito. Elas não falaram nada depois daquilo, mas dormiram bem por saber que estavam juntas.

Gabrielle não se sentiu sozinha e nem desesperada, apesar da preocupação e Xena se sentiu motivada em trazer o antigo mundo de volta. Custe o que custasse, ela iria até as Moiras e se vingaria de Cesar mais uma vez.