BY SOMARQ

 

                          Declaração: Este fanfic foi feito apenas como mero entretenimento, não querendo ferir direitos autorais.

                                 As personagens, Xena e Gabrielle, são marcas registradas da MCA/Universal Pictures, Studios USA, são usadas aqui, sem intenção de infringir as leis de copyright.

                              

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A guerreira entrou na taberna. E se lembrou da última vez que estivera ali. Eram lembranças amargas. Fora a primeira vez que ela havia saído após a surra que levou no “corredor”, por ordens de Darphus_ o seu ex-oficial que lhe tomou o comando do seu exército, não lhe deixou marcas no corpo, só na mente_ a obsessão de vingança. Agora o desgraçado estava morto, ela o matara com a ajuda de Hércules. Mas isso são águas passadas.

A guerreira foi direto pro balcão, onde pediu um licor. Puxou o saquinho de dinares da cintura e certificou que havia apenas três moedas. Lembrou que nunca tinha passado por dificuldades financeiras antes, não assim como agora. Perdera tudo, jóias, dinares… no momento em que estava começando um império. Até mesmo as pequenas fortunas escondidas pelos diversos cantos da Grécia, pouco lhe restava. Bebeu um pouco do licor e olhou ao redor, percebeu que havia poucas pessoas. Era começo de noite e fim-de-semana, deveria estar lotado. Percebeu também que, sentadas ao seu lado esquerdo, duas mulheres a olhavam insistentemente. Deu de ombros, ali era um lugar público e as pessoas iam para lá não somente para beber e comer, iam também para “caçar”. E o que ela menos queria naquele momento era “companhia”. Ainda se sentia confusa, não sabia ainda o que iria fazer: se iria formar um novo exército_ desta vez não de bandidos, ou continuaria fazendo esses pequenos serviços de alugar os seus préstimos aos desfavorecidos, aqueles que eram ameaçados e extorquidos por malfeitores. Levou a taça à boca, mas percebeu que o licor havia acabado. Chegou a puxar o saquinho de dinares na intenção de pagar outro licor, mas ponderou. Quando ia se levantar pra sair, as duas mulheres que a pouco olhavam para ela, interceptaram a sua passagem. Uma delas disse:

–         Podemos conversar?

A guerreira olhou bem uma a uma e viu que não eram guerreiras comuns.

–         O que vocês querem?

A guerreira ao ficar em pé fez com que as duas mulheres que estavam a sua frente quase sumirem. E as duas se olharam e balançaram a cabeça num consentimento mútuo, que só elas sabiam o que era.

–         O que foi? Vão ficar aí paradas balançando a cabeça?_ perguntou impaciente a guerreira.

–         É que constatamos que você serve para o que nós viemos procurar.

–         Esquece. Não estou a fim disso.

As duas mulheres se olharam, riram e uma disse:

–         Não é o que você está pensando. Queremos os seus préstimos como guerreira.

–         Pagamos bem._ disse a outra mulher.

A guerreira pensou um pouco. Depois perguntou:

–         Quanto?

–         Qual é o seu preço?

–         É bem alto.

–         Não tanto quanto o seu tamanho, espero.

–         Solaris!_ repreendeu a outra mulher.

–         Ela tem razão. O meu preço é bem alto. Acho que vocês não têm dinares para isso.

–         Não se engane, por estar nos vendo vestidas desse jeito. Faça o seu preço.

–         Não sabia que as Amazonas tinham tanto dinheiro assim.

–         Como sabe que somos Amazonas?

–         Soláris!

–         Pare de ficar gritando o meu nome, Amoria.

–         Eu percebi assim que as vi._ disse a guerreira.

–         Você tem algum problema em trabalhar com Amazonas?_ perguntou Amoria.

–         Bem, vamos dizer que já trabalhei junto com algumas de vocês. Mas isso faz um bom tempo.

–         Com quem?_ ainda Amoria.

–         Cyane.

–         A nossa lendária rainha?!_ perguntou admirada Solaris.

–         Ela mesma, a rainha das Amazonas do norte.

–         Como saberemos que não está mentindo?_ perguntou desconfiada Amoria.

–         Não saberão. Ou acreditam ou não.

–         Está bem. Podemos conversar em outro lugar?_ perguntou Amoria.

Foram ao celeiro onde Argo estava e que, na verdade, era onde a guerreira iria pernoitar também.

–         Estou esperando._ disse a guerreira.

–         Não é bem um trabalho, é uma tarefa. A nossa rainha pediu que contratássemos umas guerreiras para escoltar a nossa princesa._ explicou Amoria.

–         O quê?! Vocês querem que eu seja uma espécie de ama de uma princesa?

–         Não é uma princesa qualquer. É uma princesa Amazonas._ esclareceu Solaris.

–         E daí?_ deu de ombros a guerreira.

–         E daí? Não sei se você sabe, mas estão matando as Princesas e Rainhas Amazonas para que as nossas tribos fiquem desestruturadas._ avisou Amoria.

–         Estou sabendo, não havendo liderança, vocês se tornam alvos fáceis para os caçadores de escravos.

–         E dos romanos._ ainda Amoria.

Esse era um assunto que interessava a guerreira_ o seu ódio mortal pelos romanos. Perguntou:

–         O que tem eles?

–         Matam as nossas líderes e fazem das nossas irmãs escravas._ explicou Solaris.

–         Além de tomarem as nossas terras também._ acrescenta Amoria.

–         Com isso aqueles canalhas estão se fortalecendo, construindo fortalezas nas terras conquistadas. Como se não bastasse de eles terem devastado a Gália e exterminados com a população, agora querem conquistar a Grécia também, bastardos!_ disse com raiva.

–         Pelo que vejo, os romanos a incomodam._ disse Solaris.

A guerreira a olha bem séria, mas nada diz.

–         Você já sabe os nossos nomes, mas nós ainda não sabemos o seu. Como se chama?_ perguntou Amoria.

–         Xena.

–         Xena?! A Destruidora de…_ Solaris não consegue concluir, pois Amoria a cutucou.

A guerreira percebe e as tranqüiliza, dizendo:

–         A ex-Destruidora de Nações. Agora sou apenas uma guerreira solitária.

–         O que houve com o seu exército?_ perguntou Solaris.

–         Não tenho mais exército e não quero mais falar sobre isso. Se quiserem os meus préstimos é melhor não fazerem mais perguntas.

Combinaram então de partirem bem cedo no dia seguinte. Iam todas dormir ali mesmo.

Depois de um dia e meio de viagem, chegaram a aldeia amazona. Antes de chegarem lá, Xena percebeu que o território das Amazonas era extenso, pois haviam passado por inúmeras guardas que ficavam praticamente invisíveis em cima das árvores, por trás dos arbustos e rochas. A aldeia também era bastante grande, a maior que ela já vira. Assim que penetraram no centro da aldeia, a guerreira virou motivo das atenções das mulheres que iam se aproximando. Xena não conseguiu contar quantas eram e que ladearam a aldeia por toda parte.

–         Venha por aqui._ disse Amoria mostrando uma das cabanas feita de madeira e pedra com teto de palha.

A guerreira entrou e percebeu que ali deveria ser uma espécie de sala de cerimônia, onde o clã se reunia, pois havia uma cadeira ornamentada como se fosse um trono e a frente diversos troncos enfileirados em forma de bancos.

–         Solaris foi chamar a nossa rainha._ avisou Amoria.

Xena fez menção de se sentar num dos bancos, mas a Amoria a impede, dizendo:

–         Por favor, não se sente. Só quando a nossa rainha mandar.

Xena fez pouco caso, mas não sentou, resolveu andar um pouco e percebeu que no fundo daquela cabana tinha uma mesa retangular toda ornamentada. Imediatamente ela lembrou que na tradição amazonas, aquela mesa servia para cerimônias formais, inclusive as cerimônias fúnebres. Quando olhou para a porta viu uma mulher que a olhava com altivez. Era uma mulher um pouco mais morena que as outras amazonas que ela vira naquela aldeia, cabelos pretos longos e cacheados, corpo um pouco musculoso, não era bonita, mas atraente, olhos negros e um par de sobrancelhas compridas e arqueadas que chamavam a atenção e dava um aspecto severo ao seu semblante. Soube de imediato de quem se tratava, era a rainha.

–         Então você é Xena._ disse a rainha se aproximando.

–         O que quer de mim?

–         Bom! Não gosta de rodeios… Eu também. Gosto de ser específica e direta nas coisas que faço. Mas, por favor, vamos sentar.

Xena só se sentou depois que a rainha se sentou, ladeada por Amoria e Solaris.

–         Sou a rainha Melosa. Comando há bastante tempo essa tribo. Mandei minhas guerreiras procurarem por mulheres guerreiras, que não fossem amazonas, para conduzirem a nossa princesa até a casa dos pais dela e trazê-la de volta sã e salva.

–         Por que não veste suas amazonas de guerreiras para levá-la?

–         Porque são Amazonas. Os traficantes e os romanos sabem distinguir a diferença entre guerreiras e amazonas.

Xena sabia que a diferença não estava apenas nas vestimentas, estava também no bronzeado que quase todas as guerreiras possuíam e a maioria das mulheres amazonas eram pálidas. Talvez porque quase nunca saiam ou atacam durante o dia. Seus saques, suas lutas eram sempre à noite. Ponderou isso.

–         Então quer que eu seja uma espécie de guardiã para a sua preincesi… princesa?

–         Quanto quer por isso?

–         Quanto me oferece?

–         Como vai querer o pagamento: em dinar, pedras preciosas ou em ouro?

Xena riu, ela não estava acreditando. A rainha percebeu, então levantou as mãos e bateu palmas, uma amazona entrou trazendo um pequeno baú. A um gesto de mão da rainha Melosa, a amazona abre o baú o mostrando para a guerreira, enquanto a rainha diz:

–         Isso vai lhe dar uma pequena amostra de que estou falando sério.

 Xena ficou impressionada com o que viu: pedras preciosas, dinares e pepitas de ouro, uma pequena fortuna.

–         Isso poderá ser seu, se você aceitar e proteger a nossa princesa.

Xena refletiu um pouco, com aquela pequena fortuna dava para ela voltar pra Amphipolis e reconstruir a sua vida.

–         Tudo bem. O que tenho que fazer?

–         Isso quer dizer que aceitou. Então amanhã lhe direi, ao lhe apresentar a princesa.

–         E por que não hoje?

–         Porque é amanhã que será a cerimônia de confirmação da princesa.

–         Então queria conhecer a princesa.

–         Ela está em retiro espiritual até amanhã no momento da cerimônia.

–         Pelo menos dá pra adiantar como será a viagem?

–         Não, isso tem que ser na presença da princesa.

–         Bem, nesse caso gostaria de tomar um banho, comer alguma coisa, cuidar da minha égua e dormir.

–         Solaris, leva Xena até a cabana de banhos._ ordenou a rainha, satisfeita por ter conseguido convencer a guerreira.

Assim que saíram dali, Xena pergunta:

–         Cabana de banhos?

–         É sim, você já vai conhecer._ disse Solaris a conduzindo.

–         A princesa ainda está se purificando?

–         Oh, sim. Vejo que você conhece os nossos costumes. Mas é claro, você já conviveu com as amazonas do norte.

–         Esses rituais de vocês parecem até cerimônia de casamento._ disse a guerreira com sarcasmo.

–         Nós amazonas não temos essa espécie de cerimônia.

–         Eu sei, foi uma piada.

–         Bem, a gente se casa sim, mas não da maneira tradicional.

–         Mas… Vocês se casam?_ Xena ficou curiosa.

–         A Rainha ou a Regente juntamente com a sacerdotisa de Artemis é quem realizam a cerimônia. Mas não é um casamento entre…

–         Eu sei. É um casamento entre vocês, uma amazona com outra amazona.

–         Não precisa ser necessariamente só entre amazonas.

–         Como assim?

–         Aqui temos vários casos de amazonas com guerreiras e amazonas com camponesas.

–         E a rainha também é casada?

–         Desculpe, mas não tenho consentimento para falar sobre a nossa Rainha e a nossa Princesa._ disse Solaris e parando, avisa: É aqui.

 Ao entrar, só então que Xena percebe que se tratava de uma caverna.

–         Você pode escolher: se quiser banho frio, use o poço da direita ou se preferir banho quente, o poço da esquerda. Nos potes você vai encontrar pedaços de sabão. As águas dos poços são correntes, por isso não usamos sais, óleos ou ervas medicinais. Pode ficar à vontade. Daqui a pouco trago um roupão e o pano de banho pra você.

Assim que Solaris saiu, Xena tirou a roupa e se instalou no enorme poço feito de pedra e de água quente. Percebera que o piso dele era de pedras vulcânicas, como também deveria ser de onde a água saía, olhou a parede e viu a uma certa altura uma brecha na rocha onde a água escorria fazendo vapor. Entendeu logo do que se tratava, era um veio condutor de água vulcânica. Não muito longe dali tinha um vulcão inativo, mas de qualquer forma, não estava completamente adormecido. O que realmente importava é que era relaxante e aconchegante.

–         Vejo que está gostando._ disse Solaris se aproximando e colocando na beira do poço a roupa de banho.

–         Muito. Eu realmente estava precisando de um banho relaxante.

–         Então fique a vontade._ disse a amazona antes de se retirar.

Assim que se viu só, a guerreira lembrou que não havia conhecido nenhuma tribo igual àquela. Tudo ali parecia muito bem organizado, as mulheres pareciam tranqüilas, felizes e até um certo luxo havia ali, o qual ela estava desfrutando no momento. E aquele pequeno baú com pedras preciosas, dinares e pepitas de ouro… Ficou pensando de onde será que elas arranjaram aquela pequena fortuna que a ofereceram para proteger a princesa. Estava na cara que elas deviam ter muito mais. Deu de ombros, pouco importava para ela de onde vinha aquela fortuna. O que importava é que ela iria lucrar também. Aí lembrou e se aborreceu um pouco ao pensar que ainda teria que esperar mais um dia sem fazer nada e também faltava conhecer a tal princesinha mimada que teria que escoltar sabe-se lá para onde.

Quando saiu da cabana de banho vestida no roupão, com o seu traje, apetrechos e armas nas mãos, encontrou Solaris parada na porta conversando com uma outra amazona.

–         Xena, essa é Daphne. Ela é amiga pessoal da nossa princesa. Ela é quem fica montando guarda na porta da cabana onde a princesa está.

–         E o que está fazendo aqui?_ perguntou Xena.

–         Estou vindo do jantar, mas já estou voltando ao meu posto._ disse se afastando.

Solaris aproveita para dizer:

–         Ela veio te conhecer.

–         A mando da princesa?

–         Não. Nossa princesa nem sabe que você está aqui. Há três dias que ela está sozinha se purificando e em retiro espiritual, refletindo. Só quem entra lá, no final da tarde para o ritual do banho a vapor com ervas é a nossa curandeira.

–         Três dias, é? Ela vai sair de lá magrinha._ disse a guerreira com um certo deboche.

–         Não a nossa princesa._ disse Solaris sorrindo e ao chegar na frente de uma cabana diz: Esta é a sua cabana. Esteja à vontade, o jantar está na mesa.

Ao entrar, Xena sentiu o cheiro da comida convidativa. Mas antes deu uma olhada na cabana. Era grande, um cômodo só, com uma ampla cama e ao lado desta uma arca; do outro lado, uma mesa e duas cadeiras; ao fundo, uma enorme tina de madeira. Gostou do que viu, colocou as suas armas em cima da arca. E, o seu traje, a armadura e os apetrechos, os colocou na beira da tina para secar.

No instante que terminara de jantar, a rainha entrou acompanhada por Amoria e Solaris.

–         Como a porta estava aberta, tomamos a liberdade de entrar._ disse a rainha.

Xena estende a mão mostrando-lhe a cadeira para que se sentasse.

–         Está sendo bem tratada?

–         Como nunca fui antes, quero dizer, já faz um bom tempo que não tenho tanta mordomia.

–         Fico feliz ao ouvir isso. Vamos ao que interessa: vim para avisar que você é a minha convidada de honra para a cerimônia que acontecerá no final da tarde. Mas até lá, você poderá caçar, pescar, o que quiser fazer até o momento da cerimônia.

Xena balança a cabeça concordando e ao notar que a rainha ia se levantar, pergunta:

–         Ah, Rainha Melosa, você ainda não disse pra onde vou levar a princesi… a princesa._ corrigiu a tempo.

–         Você a levará para assistir ao casamento da irmã em Poteidaia.

–         O quê?! Poteidaia? Mas daqui até lá são vários dias de viagens… Claro, de barco…

–         A princesa tem pavor de barco._ avisou interrompendo Amoria.

–         E como iremos então?_ perguntou a guerreira pondo as mãos na cintura.

–         A cavalo._ respondeu Solaris.

–         Vocês têm idéia de quanto tempo levaremos para chegar lá se formos a cavalo?_ perguntou a guerreira.

–         Por isso é que vocês partirão logo, para chegarem a tempo para a cerimônia._ explicou a rainha.

Xena passou a mão na franja, num gesto nervoso e se contendo, diz:

–         Pelos meus cálculos, se não houver nenhum contratempo, serão quase trinta dias para ir e outro tanto para voltar. Isso se não houver imprevistos e cortando caminho para encurtar a viagem.

–         Isso a incomoda?_ perguntou Amoria.

–         A mim não, mas não sei quanto a sua princesa. Não sei se ela vai agüentar.

–         Pois saiba que essa não é a primeira vez que ela vai pra Poteidaia. Já levamos mais de um mês para chegarmos e ela suportou tudo sem reclamar. E na volta, foi a mesma coisa.

–         Está bem. Vocês me convenceram._ disse Xena.

–         Ótimo, nos vemos amanhã na cerimônia. Lembre-se que você é a minha convidada de honra._ disse a rainha antes de sair.

–         O que ela quis dizer com isso?_ perguntou a guerreira a Solaris que ia saindo por último.

–         Que você deverá ir com o seu traje de guerreira. Ah, já ia esquecendo… Aí na arca, além da roupa de cama e banho, tem roupas pra você usar enquanto as suas roupas secam.

Quando a amazona saiu, Xena foi até a arca e tirou de dentro uma manta que colocou em cima da cama e remexendo novamente na arca tirou uma calça comprida marrom e uma camisa de mangas compridas branca. Percebeu que ,o tamanho das pernas da calça, eram menores que as suas, mas disse pra si mesma “Com as botas por cima não vai dar pra perceberem”.

E de roupão mesmo saiu da cabana para dar uma olhada em Argo. Por cada amazona que encontrava pelo caminho, notou que a olhavam com curiosidade ou interesse. E o que ela também percebeu é que era a mulher mais alta da aldeia. Depois que constatou que a sua égua fora bem tratada, ao sair do celeiro avista a cabana onde a princesa estava. Não havia luz, sinal que ela estava dormindo. E parada na porta estava a tal da amiga dela, Daphne. Se aproximou.

–         Vai ficar aí a noite toda?_ perguntou a guerreira.

–         Vou. É uma honra que não concedo a ninguém._ disse Daphne quase sussurrando.

–         Como queira. A gente se vê amanhã._ disse a guerreira no mesmo tom.

Ainda não havia amanhecido, mas a guerreira acordou com a cantoria das amazonas. Espiou pela janela e viu que elas preparavam o pátio enfeitando-o e cantando. Xena fechou a cortina, dizendo:

–         Decididamente não daria nunca pra ser uma amazona. Que bando de mulheres irritantes.

Vestiu a tal roupa que escolhera na noite anterior e estendeu o seu traje de guerreira na janela lateral da cabana. Foi até o celeiro e depois de alimentar Argo a levou para fora da aldeia para um passeio, queria conhecer melhor o território ao redor da aldeia. Percebeu que as cabanas foram colocadas estrategicamente para proteger a cabana da rainha. Ao passar pela cabana onde a princesa se encontrava, lembrou de oito anos atrás na aldeia de Cyane. Se fosse naquele tempo, sem dúvida, que ela iria dar um jeito de espiar a princesa, como fizera com Cyane. Mas não era mais a jovem impetuosa e atrevida de antes, sentia-se mais amadurecida, embora com o mesmo vigor e um pouco de respeito por essas tradições que não significavam nada para ela. Viu Solaris sentada num canto polindo a espada. Foi até lá.

–         Solaris esclarece para mim uma coisa: Se ela já é princesa por que precisa confirmar o que já é?

Solaris ri e faz sinal para que ela se sentasse ao seu lado. Explica:

–         Ela é princesa por sucessão e direito. Sucessão essa que foi passada pela Princesa Terreis para ela que era a sua grande amiga. Mas, hoje, chegou finalmente o dia da confirmação dos votos. Aí sim, ela receberá a máscara, o colar e a abraçadeira de princesa. Com isso ela confirma a sua realeza e a sucessão ao trono.

–         E esse retiro de três dias é realmente necessário?

–         Claro, faz parte da tradição. São três dias de reflexão e purificação.

–         Não vá me dizer que ela ainda está sem comer?

–         Não. O jejum foi só no primeiro dia. Mas por que a preocupação?

–         Não quero saber de princesa desmaiando de fraqueza durante a viagem.

–         Ela é uma garota muito forte. A nossa princesa segue a tradição e as regras das amazonas. Ela será uma grande rainha.

Amoria se aproxima, dizendo:

–         Solaris vá ajudar as outras no preparo da princesa.

–         Mas já? O banho não é à tarde?

–         O preparo do banho é à tarde, mas agora é o momento da reunião das amigas mais chegadas.

–         Aquela cabana vai ficar pequena para isso._ disse Solaris.

–         Foi pensando nisso que a rainha Melosa selecionou só cinco amigas._ disse Amoria sorrindo.

–         Quem?_ perguntou Solaris.

–         Eu, você, Ephony, Chilapa e Daphne, é claro.

–         Já estou indo._ disse Solaris colocando a espada na cintura.

Antes que Solaris se afaste, Xena pergunta:

–         Por que ela disse “Daphne, é claro?”

–         Porque Daphne é a amiga mais íntima da princesa. E ela ficou esses três dias de guarda.

–         E o que vocês vão fazer lá?

–         A gente vai conversar, trocar idéias, tudo o que for a respeito da tribo. Vamos passar as nossas experiências para ela.

Assim que Solaris sai, Xena que ainda não conhecia a princesa, mas que já estava com ela atravessada na garganta, diz baixinho pra si mesma:

–         Nunca vi uma princesa mais mimada que nem essa aí. Deve ser um sebo!

Durante a manhã toda, Xena ajudou algumas amazonas na ornamentação da festa. Por ser alta, foi várias vezes solicitada para pendurar os mais diversos enfeites como flores, penachos, símbolos amazonas em artefatos feitos com penas coloridas e outras coisas que Xena não saberia descrever o que era.

Depois do almoço resolveu dá uma volta, caminhou bastante e acabou por se refrescar no rio, ficando lá perdida em seus pensamentos até que Solaris veio chamá-la para que se arrumasse para a cerimônia.

Foi para a cabana onde tomou banho na tina. Depois vestiu seu traje de guerreira completo. Penteou os cabelos e na frente do espelho em forma oval se olhou, estava se achando ridícula por se envolver num assunto que absolutamente não lhe dizia respeito.

Finalmente chegara o momento da cerimônia. Ao se aproximar do pátio, viu que as amazonas fizeram fileira dupla desde da porta da cabana onde a princesa se encontrava até o pequeno altar que fora construído para a cerimônia e onde estava a rainha ladeada pelas suas conselheiras. A Rainha Melosa ao vê-la, a convida para se sentar ao seu lado esquerdo. E a um gesto de mão da rainha, as amazonas começaram a entoar um canto. Nesse exato momento a porta da cabana se abre e dela sai a princesa que usava uma espécie de capa verde escura comprida que se arrastava até o chão e no rosto usava a máscara de guerreira das amazonas. Imediatamente foi ladeada por Daphne e Amoria que a conduziram até o primeiro dos três degraus que a princesa teria que subir para se reunir à rainha. Então as duas amazonas tiram a capa da princesa e se afastam. Só então que Xena percebe que, além de ter os cabelos longos e louros, ela tinha um corpo bem feito, cheio de curvas como dava para ver naquele traje de couro marrom justo e curto.

A princesa se ajoelhara aos pés da Rainha Melosa que se levantou e pegando a máscara das mãos de uma amazona, diz ao oferecer a mão para que a princesa se levantasse:

–         Eu, Melosa, a Rainha desta tribo amazonas, em memória da minha amada irmã Terreis e realizando o último desejo dela, concedo a Gabrielle o direito de casta. A partir de agora, Gabrielle é a minha única e legítima herdeira e sucessora.

Solaris e Amoria se aproximam e retiram a máscara do rosto da princesa ao mesmo tempo em que a Rainha Melosa se aproxima também, com uma outra máscara mais pomposa e a coloca no rosto da princesa, impossibilitando assim de Xena ver o rosto dela.

No momento em que a rainha abraça a princesa e esta avista Xena, a guerreira sente o olhar dela. Xena teve a nítida impressão que a princesa a olhava insistentemente. Isso a aborreceu porque não sabia com que jeito ela a olhava.

Logo após a princesa fez o juramento ao lado da rainha e em frente a todas as mulheres da aldeia:

–         Eu, Gabrielle, agora Princesa Amazona, título conferido a mim pela Rainha Melosa e direito passado pela minha inesquecível amiga Terreis, juro honrar a memória dela e a de toda nação amazona.

A princesa é saudada por um novo cântico e por gritos de “Viva a Princesa Gabrielle!”. A princesa então acena com a mão para todos os lados saudando a todas as companheiras. Mas, ao olhar pra trás, viu um olhar desconcertante e atrevido que a encarava. Um olhar que parecia que a estava despindo. A princesa a encarou por um momento, a guerreira manteve o olhar cínico e debochado. A princesa então ergueu a cabeça e virou pra frente, num gesto que a guerreira considerou impertinente, como uma provocação e um desaforo, embora ainda não tivesse visto a expressão do rosto dela.

Ephony e Daphne se aproximam segurando uma pequena arca acolchoada, onde a princesa ao retirar a máscara a deposita dentro, fechando-a. Só então que Xena a viu. Ficou olhando-a, ela era linda.

A cerimônia acabara, agora era o momento dos abraços e felicitações de cada membro da tribo, mas a Rainha Melosa interrompeu, puxando Gabrielle para o lado em que Xena estava.

–         Gabrielle esta é Xena, a guerreira que a conduzirá até Poteidaia.

A princesa acena com a cabeça cumprimentando a guerreira que a estava olhando de baixo para cima, deixando-a incomodada. Nisso uma outra amazona se aproximou, dizendo:

–         Felicidades, Princesa Gabrielle!

–         Ephiny!_ exclamou surpresa a princesa a abraçando.

–         Chegou há tempo Ephiny?_ perguntou a rainha.

–         Sim, minha Rainha, no momento em que Gabrielle havia saído da cabana.

–         Ephiny quero lhe apresentar Xena, a…

–         Xena?! A guerreira sanguinária, a Destruidora de Nações?

Xena a olha bem séria. Percebeu de imediato que iria ter problemas com aquela loura ondulada, de nariz empinado e olhos castanhos-esverdeados.

A rainha percebendo o mal-estar que se instalara, diz:

–         Ephiny contenha-se. Xena agora é apenas uma guerreira.

–         A senhora vai confiar a segurança e a vida da nossa princesa nas mãos dela?

–         Ephiny, Xena é a pessoa certa para proteger e conduzir Gabrielle. Ela é temida e respeitada, além de ser uma guerreira poderosa. E ninguém poderá imaginar que quem a está acompanhando é uma princesa amazona._ explicou a rainha.

–         Rainha Melosa, por que eu não posso ir pra Poteidaia como fui das outras vezes?_ perguntou Gabrielle que até então estivera calada, atenta e a tudo observara.

–         Porque das outras vezes não estava esta guerra que está agora. Se fosse só os caçadores de escravos nós daríamos conta deles, mas agora também há os romanos que são inúmeros.

–         E por falar neles, não é que foram perturbar os centauros!_ contou Ephiny.

–         E como vai Tiltus?_ perguntou Melosa.

–         Agora está bem. Conseguiu se recuperar pela perda da metade dos seus centauros que foram mortos pelo exército dela!_ disse Ephiny apontando para Xena.

–         Agora chega, você está me enchendo!_ disse a guerreira se aproximando dela.

–         Venham, vamos nos sentar à mesa pra comer em homenagem a Gabrielle e também para combinarmos os detalhes da viagem._ disse Melosa interrompendo uma possível discussão e as conduziu para onde foi colocada uma enorme e farta mesa improvisada. Mas a rainha ao passar por Ephiny lhe lança um olhar de reprovação, o qual foi acatado pela amazona.

Durante toda a conversa, a guerreira percebeu que a princesa não se manifestara, ficara calada o tempo todo, escutando-a discutir com a rainha sobre o caminho a percorrer. E que também a pegara várias vezes a olhando e era sempre de um jeito intrigante, que ela não sabia explicar como. Contudo, isso a incomodava. Xena também percebeu que Daphne, que se sentara ao lado da princesa, só faltava lhe dar comida na boca de tanta atenção e devoção à amiga. Porém a guerreira não soube explicar pra si mesma, porque isso também a incomodava. Se havia algo entre as duas, não lhe dizia respeito, assim que deveria ser.

Num dado momento, Xena comunica que vai se retirar, dizendo:

–         Se vamos viajar amanhã temos que dormir. Quero partir bem cedo.

E antes de se retirar deu uma olhada para trás e viu que a princesa também havia se levantado e que estava olhando para ela. Pensou: “Mas por que será que essa princesa tanto olha para mim? Que olhar esquisito, indecifrável…” E, cismando, foi até o celeiro ver Argo. Quando acabara de alimentar a égua, percebe que tem alguém na porta do celeiro a espiando. Diz sem se virar:

–         O que é que você quer Ephiny?

–         Só vim te dar um aviso: Estou de olho em você!_ e sai em seguida.

–         E essa agora!_ diz a guerreira pondo as mãos na cintura.

Nem bem o dia havia clareado, Xena já estava com Argo na frente da cabana da princesa. Não esperou muito, pois a princesa logo surgiu na porta, vestida numa saia curta marrom, com cinto de couro também marrom e um top verde musgo. Calçava bota marrom e trazia pendurada no ombro uma bolsa de couro marrom franjada. Os cabelos estavam soltos, apenas um arco separava a franja, dando um aspecto quase infantil aquela jovem. O rosto dela ainda estava um pouco inchado, mas a guerreira a achou mais linda assim.

–         Bom dia._ disse a princesa.

–         Bom dia. Pensei que eu fosse ficar esperando um bom tempo por aqui.

–         Não foi o que combinamos, então?_ respondeu a princesa à provocação.

Nisso Amoria, Solaris e Daphne chegam trazendo uma égua com uma sacola de mantimentos presa na sela. Solaris ao lhe passar as rédeas, diz:

–         Gabrielle, essa égua é mansa e obediente.

–         Você não tem a sua própria montaria?_ perguntou Xena.

–         Eu tinha uma égua, meio malhada, muito linda. Mas morreu flechada pelos…

–         Romanos!_ completou Xena.

–         Como soube?_ perguntou a princesa.

–         Os romanos têm o costume de flechar, jogar lança ou golpear com espada as montarias dos inimigos. Eles acham que assim conseguem enfraquecer o inimigo._ explicou Xena.

A Rainha Melosa chega, abraça Gabrielle e lhe entrega um pequeno saco de camurça, dizendo:

–         Este é o seu e o nosso presente para a sua irmã.

Gabrielle abre o saco e admirada mostra a todas ali presentes as pedras preciosas. Depois diz:

–         Minha Rainha, ao ver este presente a minha irmã Lila com certeza vai desmaiar. Acho que vou deixar pra dar depois do casamento.

Quando estavam rindo sobre o comentário que a princesa acabara de fazer, eis que chega Ephiny toda arrumada e puxando o seu cavalo. Xena estanca o sorriso.

–         Podemos ir._ disse Ephiny.

–         Ir pra onde?_ perguntou Xena.

–         Ora, pra Poteidaia._ disse a amazona a encarando.

–         Você não. Eu e ela._ disse a guerreira também a encarando.

–         Eu também vou.

–         Não vai não.

–         Vou.

–         Tudo bem. Então leve a princesa. Eu vou embora._ disse Xena já puxando Argo.

–         Espere Xena!_ disse a rainha a segurando pelo braço e lhe entregando um outro saco, explica: Aqui tem dinar mais que suficiente para a despesa e contratempo que possam ter. Não quero atrasar vocês, podem ir. E Ephiny, quero conversar com você na minha cabana.

–         Mas, minha Rainha…

–         É uma ordem, Ephiny, me espere lá.

Ephiny se despede de Gabrielle e antes de sair pára na frente de Xena e mesmo a outra sendo bem mais alta, a ameaça:

–         Se acontecer alguma coisa com ela, mato você!

Em resposta a guerreira faz cara de pouco caso, até com um certo cinismo. Preferiu ficar calada, pois estava doida pra sair dali.

A princesa lembrou que esquecera algo e entrou na cabana para pegar. Quando voltou, Xena percebeu que ela trazia um cajado na mão. Perguntou:

–         Essa é que é a sua arma?

–         É a que mais me identifico e também a que mais gosto._ disse a princesa girando o cajado para o lado.

–         Mas gabrielle é uma excelente arqueira também._ disse Daphne.

–         Só que Gabrielle não vai levar o arco e as fechas para não chamar a atenção._ avisou a rainha.

–         Tem razão. E com o cajado ela facilmente passará por camponesa ou minha ajudante._ explicou Xena.

Na estrada. Cavalgaram lado a lado sem nada dizerem. O que se ouvia eram os cascos das éguas ao tocarem no chão. De vez em quando, Gabrielle lançava um olhar de soslaio para a guerreira. Xena fingia que não via. De repente, Xena faz sinal para que parassem e diz:

–         Olha, se formos de barco vamos economizar bastante tempo. Tem certeza que não quer tentar?

–         Não, por favor, pelo mar não._ implorou a princesa.

–         Tudo bem._ disse Xena a tranqüilizando e acrescenta: Só que vamos levar mais do dobro de dias para chegar lá.

–         Eu não me importo, você se importa?

–         Por mim…

–         Obrigada.

–         Por quê?_ perguntou a guerreira sem entender.

–         Por atender ao meu pedido.

–         Não seria uma ordem?_ perguntou num tom provocativo e um tanto cínico.

–         Jamais daria uma ordem pra você.

A guerreira ficou surpresa com a revelação e perguntou:

–         Por que não? Já que eu estou a seu serviço.

–         Porque, de certa forma, você está me fazendo um favor.

–         Os favores não se pagam com dinares e pedras preciosas.

Mesmo percebendo que a guerreira a estava provocando, a princesa disse:

–         Gostaria muito que nos tornássemos amigas. A viagem ficaria mais agradável, conversaríamos, trocaríamos idéias, você me contaria sobre as suas experiências como guerreira e eu lhe contaria histórias, além de dividirmos as tarefas.

A guerreira percebeu que aquela não era uma princesa igual as que ela havia conhecido. Olhou-a por uns instantes e depois disse:

–         Tudo bem, podemos tentar.

Em resposta recebeu o sorriso mais lindo que já vira. Ficou desnorteada. Estava tentando se fazer de antipática, implicante e, no entanto, em troca recebeu amabilidade.

Cavalgaram a manhã toda, só pararam para almoçar. Depois seguiram andando até se cansar, então cavalgaram o resto da tarde. Chegando num determinado ponto, Xena desmontou e ajudou Gabrielle a desmontar e adentraram a pé pela floresta indo até uma clareira.

–         Vamos pernoitar aqui. E partiremos amanhã bem cedo._ disse desatrelando Argo.

Gabrielle fez o mesmo com a sua égua.

–         Vou catar uns gravetos para acender a fogueira.

–         Quer ajuda?_ perguntou a princesa se aproximando.

–         Ponha as nossas coisas ali naquele canto e traga o resto da comida pra esquentar.

Enquanto acendia a fogueira, Xena observou que a jovem princesa fizera tudo o que ela havia mandado fazer e depois se sentara ao seu lado preparando a comida. Pegou um prato e colocou a carne com legumes e um pedaço de pão e ofereceu a ela. Depois pegou outro prato e se serviu e quando ia começar a comer, percebe que Xena ainda nem havia tocado na comida e que a olhava desconfiada.

–         Não está do seu agrado?

–         O quê?

–         A comida. Está fria ou você acha que é pouco? Posso te dar um pouco da minha.

–         Pare com isso!

–         Parar com o quê? Não estou entendendo?

A guerreira a olha indagativa, desconfiada, contudo diz:

–         Vamos comer sossegadas.

A princesa sentiu que não deveria argumentar.

Ao terminar de comer, quando foi pegar o prato e a colher da mão da guerreira, esta se nega a lhe entregar e se dirige à beira do pequeno riacho para lavá-los. Gabrielle vai junto e em silêncio também começa a lavar o seu prato, a colher e a panela. Depois a guerreira foi escovar Argo. Gabrielle fez o mesmo com a sua égua. Então Xena se senta defronte a fogueira. Gabrielle faz o mesmo. Irritada a guerreira diz:

–         Mas o que é? Vai ficar me seguindo?

–         Eu não estou te seguindo._ diz a princesa surpresa com aquela reação.

–         Não precisa ficar tentando me agradar. Eu já disse que vou levá-la para Poteidaia. Não precisa ficar me adulando.

–         Eu só estava querendo ser amável…

–         Sei. Também sei o que o medo pode fazer com as pessoas.

–         Você está insinuando que eu estou sendo amável com você porque tenho medo que possas me largar aqui no meio do caminho? Isso não tem lógica, o que você lucraria com isso, se nem recebeu…

–         Largar não, vender. Sendo você uma legítima princesa amazona, vale muito mais do que aquele saquinho que me foi ofertado.

Gabrielle estava chocado ao ouvir palavras tão cruéis. Mas manteve a dignidade, dizendo:

–         Pois bem, se você quiser pode ir embora, eu sei cuidar de mim mesma. Não quero ninguém forçada ao meu lado.

–         Não seja tola, você não chegaria em Poteidaia e nem de volta a sua aldeia, os traficantes de escravos a pegariam antes. Vi pelo caminho vários sinais deles.

–         Pois prefiro me arriscar a ficar…

–         Ô, garotinha…

–         Garotinha não, meu nome é Gabrielle e eu sou uma princesa amazona, exijo que me trate como tal.

–         Olha aqui, princesa, você está sob a minha responsabilidade, é melhor me obedecer por bem ou terei que amarrá-la e carregá-la.

–         Você não se atreveria.

–         Ah, não? Quer experimentar?_ disse se levantando.

–         Eu sou uma princesa… Exijo respeito._ disse Gabrielle também se levantando.

–         Eu também sou uma princesa._ disse a guerreira avançando na direção dela.

–         Você, uma princesa?_ disse Gabrielle recuando.

–         Princesa Guerreira, esse foi o título que a Imperatriz Lao Ma conferiu a mim._ percebendo que acuara a princesa na parede da pedreira, disse praticamente em cima dela: Agora, de princesa pra princesa, vai cooperar ou não? Ou terei que amarrá-la para não cometer alguma besteira?

–         Tudo bem, não vou criar problemas.

–         Assim é melhor. Agora vamos arrumar as nossas cobertas pra dormir.

Gabrielle começou a arrumar a sua coberta onde a guerreira lhe indicara, ao lado dela. Engoliu e secou as lágrimas que teimavam em cair. Não podia deixar que aquela guerreira orgulhosa e prepotente a visse chorando.

Gabrielle quase não dormira, estava profundamente triste e decepcionada. Tinha esperado tanto, fora quase três anos e toda essa espera se desmorona assim? Sentiu-se a mais infeliz das criaturas.

Quando a guerreira acordou, viu Gabrielle preparando o chá. Ao se aproximar e perceber as olheiras na jovem princesa, pergunta:

–         Parece que você não dormiu bem. É claro! Como uma princesa que é, deve ter sentido falta da sua cama e do seu travesseiro.

Gabrielle que acabara de colocar água quente nas canecas, a olha e sem esconder a tristeza que sentia, diz:

–         Você não gosta mesmo de mim.

Xena pôde ver e sentir no olhar e na voz dela toda a tristeza que ela estava sentindo. Um sentimento de culpa lhe bateu, disse:

–         Não repare pelo o que eu disse agora a pouco. Não sei porque eu ando te tratando assim.

–         Talvez porque você não consiga se lembrar.

–         Não consigo me lembrar, de quê?_ perguntou a guerreira sem entender.

–         A gente já se conhece.

–         Mesmo? De onde?_ disse com um pouco de deboche.

–         Você não se lembra mesmo de mim?

–         Às vezes, pelo caminho, eu me deparo com algumas amazonas, mas não me lembro de ter visto você.

–         Pois eu me lembro de você.

–         Lembra de mim, de onde?

–         Eu ainda não era amazona e você salvou a minha vida.

–         Eu?! Quando foi isso?_ a guerreira já estava se interessando pela conversa.

–         Isso foi há quase três anos.

A guerreira olhou pensativa para a princesa, parecia que não estava acreditando no que ela dissera. Gabrielle percebe e diz:

–         Você me encontrou caída perto de um arbusto. Eu tinha sido espancada por um traficante de escravos.

–         Você é aquela garotinha semimorta que eu entreguei a curandeira amazona?_ perguntou a guerreira surpresa.

–         Eu mesma. Lembra?

E a guerreira lembrou… Naquela tarde, ela estava sem rumo, tinha saído de Amphipolis arrasada, após ter discutido e de ser expulsa pela sua mãe. As palavras cruéis e verdadeiras que ouvira dela ainda ecoavam e lhe tocaram fundo em seu ser. Estava cansada de tudo, tinha desistido de viver. Parara perto de um vilarejo, tirara a armadura, as armas e até o traje de couro de guerreira, ficando só com a roupa debaixo. Quando estava procurando um lugar para enterrá-los, Argo relinchou lhe chamando a atenção para algo. Ela se aproximou e viu de que se tratava de uma pessoa estendida no chão, encoberta pelas folhagens. Ao se abaixar viu que era uma garota que havia sido espancada e que batera com a cabeça numa pedra, mas que ainda respirava, estava viva.

–         Com certeza ia ser levada para o mercado de escravos. Ao verem o sangue, pensaram que estava morta._ disse a guerreira a examinando.

Ao pegar a garota no colo, percebe que ela acordara e que a olhava assustada.

–         Calma, não tenha medo, não vou te fazer mal. Vou levá-la para um acampamento aqui perto para que cuidem de você.

Notando que a garota ficou calma, colocou-a sentada na sua frente ao montar em Argo e se dirigiu rapidamente para o acampamento das Amazonas que ela vira pelo caminho.

Antes mesmo de chegar perto do acampamento viu a movimentação em cima das árvores, que passaria despercebida por qualquer pessoa, mas não a uma guerreira como ela. Ao se aproximar desmontou e colocando os braços para cima com as palmas das mãos unidas esperou que se apresentassem. De repente, ao seu redor desceram dos cipós várias mulheres mascaradas que a rodearam por todos os lados e todas bem armadas.

–         Você conhece o sinal das amazonas._ disse uma delas que estava a sua frente.

–         Conheço. Já convivi um tempo com as Amazonas do Norte._ disse a guerreira abaixando os braços devagar.

–         Mas você não é uma amazona.

–         Não. Sou uma guerreira.

–         Por que veio até nós?

–         Por causa dela._ disse apontando a garota que estava apoiada no pescoço da égua, conclui: Ela precisa de ajuda, parece que foi espancada por traficantes de escravos e abandonada por eles por acharem que ela tinha morrido quando bateu a cabeça numa pedra.

–         Traga-a.

Xena seguiu a amazona que, apesar da máscara, tinha o cabelo ruivo. Conduziu a égua a pé com a jovem debruçada nela até chegar na frente da tenda indicada pela a amazona, então a guerreira pegou a jovem no colo e a levou para dentro. A curandeira mandou que a colocasse na cama improvisada, mas a jovem a segura pelo braço apertando-a, talvez estivesse sentindo medo do que estava vendo sem poder falar, a guerreira não a culpava por isso, eram realmente medonhas as máscaras que aquelas mulheres usavam, com exceção da curandeira que não usava. Disse, tentando acalmá-la:

–         Não tenha medo. Elas são Amazonas, vão cuidar bem de você.

Mas a garota não a largou, ao contrário, a apertou mais e a olhava como se suplicasse com aqueles lindos olhos verdes.

–         Está bem, vou ficar um pouco aqui com você.

Xena ajudou a curandeira a limpar os ferimentos dos braços e dos ombros e esta lhe diz:

–         Parece que ela se defendeu das chibatas com os braços, protegendo o rosto e os peitos. O resto do corpo dela está todo marcado. E essa pancada na cabeça deve mesmo ter sido quando ela caiu e desmaiou.

–         Os traficantes viram o sangue na pedra e devem ter pensado que ela estava morta._ completou a guerreira.

–         Minha fa-família… ajude-os…_ balbuciou a garota olhando para a guerreira.

–         Como eles se chamam?_ perguntou a guerreira.

–         Hecuba… Herodotus… e minha irmã… Lila… Somos de… Poteidaia.

–         Você sabe quem os raptou?

–         Hector…

–         O tenente de Draco?

–         Foi o que ele disse… a mando de Draco.

–         Fique sossegada. Vou agora mesmo atrás deles.

–         Obrigada._ disse a garota num fraquíssimo tom de voz e saltando o braço da guerreira.

Xena cavalgou veloz e conseguiu chegar no momento exato em que começava o leilão de escravos. Vê o cercado onde estavam os escravos se aproxima como se estivesse examinando-os. Viu o pavor nos rostos daquelas pessoas que estavam sendo vendidas como mercadorias e tendo os seus destinos decididos em ofertas, vendidos como escravos até mesmo para outros países.

–         Quem de vocês se chamam Herodotus, Hecuba e Lila?_ perguntou a guerreira aos escravos.

Uma jovem, agarrada a uma senhora, diz assustada e chorando:

–         Somos nós.

–         Então se preparem que vou tirar vocês daqui.

Ao terminar de falar, Xena tira o chakram da cintura e o lança ao lugar almejado. Um sibilo forte ecoa no ar cortando as espadas e pescoços dos soldados de Draco, enquanto a guerreira cortava com a espada as cordas que cercavam e mantinham presos os escravos. Depois grita:

–         Vão embora! Vocês estão livres!_ e se dirigindo para a família da garota, diz: Vocês três esperem aqui.

Xena percebeu que o Senhor da Guerra Mezentius ia fugindo e arrastando com ele, três jovens garotas. Ao pegar o chakram de volta o lança nas costas dele, matando-o, diz ao se aproximar e ao retirar a sua arma que estava cravada nele:

–         O que vocês estão esperando, meninas? Vão para casa!

As três garotas saem correndo.

Então Xena vê Hector escondido atrás de um enorme cesto.

–         Saia daí seu crápula!

–         Por favor, Xena, eu só estava cumprindo ordens._ disse colocando a cabeça de fora.

–         Venha cá! Ou quer que eu vá aí?

Hector sai detrás do cesto atirando a espada e o punhal no chão, com as mãos para cima diz:

–         Estou desarmado, Xena.

–         Não vou matá-lo, seu rato. Quero que você leve um recado para Draco. Diga a ele que nunca mais apareça por esses lados. Se não vou matar os soldados deles, um a um, vou matar você e a ele. Fui clara?

–         Sim, Xena.

–         E para que você não saia daqui sem nenhum osso quebrado, me diga uma coisa: o que Mezentius fazia aqui pessoalmente?

–         Pensei que você tivesse vindo para matá-lo.

–         Por quê?

–         Ora, porque ele matou o regente da sua cidade e tomou o palácio. Os homens dele estão lá em Amphipolis.

–         O quê?!

–         Se você não sabia, agora não faz diferença, você o matou.

–         Cai fora! Agora!

O bandido não pensou duas vezes para sair correndo dali.

Xena estava limpando o chakram quando a família da garota ferida se aproxima.

–         Nós queremos te agradecer por nos salvar e as outras pessoas também. Como você sabia os nossos nomes?_ perguntou a garota.

–         Sua irmã pediu que viesse ajudá-los._ disse a guerreira.

–         Gabrielle está viva?_ mãe e filha perguntam ao mesmo tempo.

–         Está sim.

–         Onde ela está? Aquele bandido que saiu correndo bateu nela até ela cair… A gente pensou que ela…_ Hecuba não conseguiu completar.

–         Ela está bem. Está em boas mãos. Logo, logo ela volta para casa.

–         Quero ver a minha filha._ pediu Hecuba.

–         Sinto muito, mas não posso levar vocês até lá. Agora vão para casa, assim que ela estiver em condições e curada, será levada para casa.

–         Mas que lugar é esse que minha filha está e que nos não podemos ir?_ perguntou Herodotus.

–         Como já disse, ela está em boas mãos. É tudo que posso dizer.

Quando voltou ao acampamento foi direta para a tenda da curandeira.

–         Como ela está?_ perguntou adentrando na tenda.

–         Bem melhor, mas se recusa a dormir, ela estava esperando por você._ diz a curandeira.

Xena se aproxima da jovem que agora estava de roupa trocada e de rosto limpo, apesar dos lábios inchados com um leve corte no inferior, e de alguns hematomas em volta do rosto e no pescoço, dava pra ver que era uma garota bonita. Assim que a viu a jovem tornou a agarrar o seu braço e ainda com muito custo, perguntou:

–         Você… os encontrou?

–         Sim, fique sossegada, eles já estão em casa.

–         Em Potei…

–         Sim, em Poteidaia. Estão esperando por você assim que ficar boa.

A jovem levantou a mão e a depositou no braço da guerreira, acariciando-o, enquanto com lágrimas escorrendo daqueles lindos olhos verdes, disse:

–         Obrigada.

A guerreira se sentiu inibida com aquele gesto, pois era a primeira vez que ela se sentia assim. Disse num meio-sorriso:

–         Agora você precisa descansar.

E a garota dormiu.

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–         Ah, então era você!_ disse Xena ao despertar dos seus pensamentos.

–         Que bom que você lembrou!_ disse Gabrielle quase não contendo a alegria.

–         Convenhamos, você mudou! Você era quase uma menina, frágil, magrinha… Agora, adquiriu corpo, é uma princesa…

–         Graças a você.

–         A mim?_ perguntou curiosa se sentando em frente a ela.

–         Se você não tivesse me levado àquele acampamento amazona, eu jamais teria conhecido e me tornado numa amazona.

–         Está arrependida?

–         De maneira nenhuma. Estou sim, agradecida. Foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

–         É, vejo que você realmente gosta de ser uma amazona.

–         O meu lugar é com as amazonas.

–         Gabrielle me diga uma coisa, você demorou muito a se recuperar?

–         Demorei. Por minha causa, elas tiveram que ficar mais uns dias por lá. Você sabe o quanto é perigoso ficar acampada num lugar como aquele por muito tempo. Quando me recuperei, conseguia andar e não sentia mais dores, elas me levaram para casa, mas eu voltei com elas para Sarmátia, queria ser uma amazona, tinha feito amizade com Terreis.

–         Terreis era aquela ruiva com quem conversei?

–         Ela mesma. Terreis era a princesa, irmã da Rainha Melosa.

–         Então você ficou com elas.

–         Foi sim, mas antes fui comunicar a minha família que eu ia me tornar uma amazona.

–         Como a sua família reagiu?

–         A minha irmã Lila sempre me achou uma excêntrica, minha mãe me perguntou várias vezes se eu tinha certeza se era isso mesmo o que eu queria e o meu pai… Bem, ele brigou comigo.

–         Ele acabou deixando._ não foi uma pergunta que Xena fizera.

–         Se não deixasse, eu fugia. Mas até hoje ele não aceitou a minha escolha. E você o que andou fazendo depois daquele dia?

–         Depois que deixei você com as amazonas fui até a minha cidade expulsar os soldados de Mezentius de lá e por causa disso, fui bem recebida pelo meu povo. Bem, nem todos._ a guerreira lembrou que a sua mãe não quis vê-la, continuou: Sabia que voltei para o local onde estava o acampamento pra ver como você estava, mas as amazonas já tinham partido?

–         Você voltou lá pra me ver?_ perguntou a princesa sentindo o coração aos pulos.

–         Queria ver como você estava passando. Pensei até em ir pra Poteidaia, mas desisti.

–         Não ia me encontrar. E eu nem sabia o seu nome. A minha irmã Lila ouviu o tal Hector dizer o seu nome, mas ela não conseguiu se lembrar.

–         Eu não falei o meu nome para as amazonas com receio que elas conhecessem a minha antiga fama.

–         Fama de quê?

–         Então você não sabe?

–         Só sei que você é uma guerreira. Ephiny disse alguma coisa, mas eu não entendi e a Rainha Melosa proibiu que ela continuasse.

–         Então se prepare para uma decepção.

–         Fale.

Xena olhou bem nos olhos da princesa e disse:

–         Eu cheguei a ser conhecida como a Destruidora de Nações. Tinha um exército, tinha quase um império, um barco, dinheiro, jóias, escravos… Até o dia em que conheci Hércules e percebi que tinha me tornado numa bandida sanguinária.

–         Hércules, o filho de Zeus?

–         Ele mesmo. E foi também por causa dele que perdi o comando do meu exército. Mas isso foi o melhor que poderia ter me acontecido, pois tinha sido dez anos de fúria. Vivia como uma selvagem, sem escrúpulos e sem alma._ a guerreira parou, engoliu seco, isso ainda a incomodava.

A princesa percebendo a angustia e a tristeza que se apossaram da guerreira, diz:

–         Agora você está querendo se redimir, ajudando os oprimidos. Foi quando me encontrou, não foi?

–         Não. Momentos antes de te encontrar, eu estava disposta a desistir de tudo, de lutar, de ser guerreira e da minha vida. Eu ia enterrar o meu traje de guerreira e as minhas armas quando Argo me mostrou você.

–         Xena, você ia se matar?_ perguntou Gabrielle assustada.

–         De certa forma, sim. Uma guerreira sem proteção e sem arma é um alvo fácil. E era isso que eu queria, queria que me matassem.

–         Ainda bem que surgi em sua vida.

–         Ainda bem? Você quase morreu, como pode dizer ainda bem? A curandeira disse que se eu demorasse mais um pouco, se não a tivesse achado logo, ela não poderia fazer nada.

–         Mesmo assim. Valeu a pena eu ter levado aquela surra.

–         Como você pode dizer uma coisa dessa! Acho que aquela pancada na cabeça afetou as suas idéias.

A princesa achou engraçado o modo como a guerreira falara revirando os olhos. Disse:

–         Porque eu te conheci.

A guerreira ficou sem jeito, fora pega de surpresa.

A princesa ainda eufórica por Xena ter se lembrado, pergunta:

–         E por onde você andou esse tempo todo? O que andou fazendo? É que, durante esses anos eu sempre tive a esperança de te ver de novo.

–         Pra quê?_ perguntou Xena coçando o nariz, esse era um gesto típico dela quando se sentia desconcertada.

–         Pra te agradecer. Você não só salvou a minha vida e da minha família como também me salvou de um destino que eu não queria ter.

–         Que destino?

–         De continuar sendo camponesa e casar.

–         Eu fiz isso?

–         Não diretamente. Mas, foi por seu intermédio que conheci as amazonas. Eu nunca poderei pagar tudo que você fez por mim.

–         Eu fiz o que tinha que ser feito que era tentar salvar a sua vida. Mas quem te curou foi aquela curandeira…_ Xena não se lembrou do nome dela.

–         Astéria.

–         É, Astéria. Ela ainda está na tribo?

–         Foi ela quem me preparou para a cerimônia.

–         Se eu soubesse… Gostaria de trocar umas idéias com ela.

–         Quando voltarmos eu vou te levar até a cabana dela.

–         Quando voltarmos? Você confia mesmo que eu vá te levar de volta para a sua aldeia?_ perguntou com uma certa malícia, levantando levemente a sobrancelha.

–         Confio sim, senão não estava aqui com você.

Xena riu e depois, novamente séria, perguntou:

–         Não vi nenhuma cabana que indicasse que fosse a da curandeira.

–         A cabana dela fica do outro lado da caverna de banhos. Fica meio escondida.

–         Mas eu não vi Astéria durante a sua cerimônia.

–         Mas ela estava lá.

–         Que coisa estranha.

De repente um ruído estranho, a guerreira se levanta puxando a espada e olhando ao redor. Mas ao olhar para a princesa percebe que ela está de cabeça baixa e envergonhada.

–         Ele sempre faz isso comigo._ disse a princesa ainda desolada.

–         Ele quem?_ perguntou Xena guardando a espada, mas ainda desconfiada.

–         O meu estômago. É um esfomeado. Me faz passar cada vexame!

A guerreira não conseguiu conter o riso. Depois, ao olhar para a princesa que ainda estava um pouco inibida, diz:

–         Ficamos conversando durante esse tempo todo e eu ainda não providenciei o nosso almoço de hoje.

–         E o que vai ser?

–         Peixe.

–         E nesse riacho tem peixe?

–         Não, mas lá pra baixo no rio tem bastante peixe. Quer vir comigo?

–         Eu nunca pesquei.

–         É fácil, se quiser posso te ensinar.

E a princesa foi pescar com a guerreira. Bem que ela tentou, mas não tinha muito jeito em pescar apenas com as mãos. A guerreira se divertiu em ver o medo da princesa de ser mordida nos dedos pelos peixes. Pois era assim que a guerreira pescava: ela ficava com os dedos abertos estendidos embaixo d`água, quando o peixe se aproximava para mordê-los ela o prendia abrindo os dedos na boca do peixe e dependendo do tamanho do bicho, o socava com a outra mão. A princesa ficou espantada e disse ao sair da água:

–         É incrível como você pesca, nunca vi nada igual!

–         Era assim que eu e meu irmão Lyceus pescávamos.

–         Se fosse depender de mim, não tinha almoço. Sou mesmo um fracasso.

–         Não é não. Você apenas tem medo de peixes.

–         Eles mordem.

–         Só um pouquinho. É por isso que tem que ser rápida!_ disse socando a mão, mostrando como matar o peixe.

–         Prefiro pescar com vara e anzol. É mais seguro e não dói.

Xena riu dizendo:

–         Vou preparar o peixe, depois vou tomar um banho enquanto o peixe assa, quer vir?

–         Aqui?! Não há perigo que nos vejam?

–         Aqui não, lá em cima no riacho.

Xena balança a cabeça e ficou pensando em como era o acampamento que a princesa participava toda vez que ia para Poteidaia. Perguntou:

–         Gabrielle me diga uma coisa: das outras vezes quando você ia para Poteidaia que caminho vocês fizeram?

–         Nós fomos por fora das estradas, beirando as montanhas e as colinas, sempre pela floresta. Ephiny achava mais seguro.

–         Ah, Ephiny, é aquela loura de cabelos ondulados que ficou me desafiando?

–         É. Ephiny é uma excelente guerreira, precavida… Um pouco desconfiada, eu sei, mas uma amiga maravilhosa.

–         Ela me detesta!

–         É que você ainda não a conhece, esse é o jeito dela. No começo, ela também implicava comigo. Hoje somos grandes amigas.

A guerreira ensina a princesa a limpar o peixe: a maneira certa de descamá-lo e de tirar-lhe as vísceras sem ter que abri-lo totalmente. Ao colocar o peixe na fogueira, Xena diz:

–         Bem, enquanto assa, eu vou tomar um banho. Você vem?

–         Vou pegar os nossos panos de banho e o sabão.

Enquanto isso, Xena tirou o seu traje de baixo que ainda estava molhado e o coloca numa pedra para secar. E completamente nua se dirige para o riacho, deixando a princesa atônita pelo que acabara de ver. Xena mergulha e Gabrielle aproveita para tirar o pano de banho que a envolvia e entra na água. Começa a se ensaboar procurando com o olhar onde a guerreira estava. Passado uns instantes, Gabrielle começou a se preocupar, gritou pelo nome dela e nada. Então resolveu sair da água. Quando estava se dirigindo para a beira do riacho, eis que a guerreira emerge a sua frente causando-lhe um tremendo susto.

–         Desculpa, não queria te assustar._ disse a guerreira ainda com um sorriso safado no rosto.

–         Quase derrubei o sabão._ disse a princesa segurando o sabão entre as mãos.

–         Você me empresta?

–         Claro._ disse a princesa lhe oferecendo o sabão.

–         Então ensaboe as minhas costas._ disse se virando e conclui: Depois eu faço o mesmo nas suas.

Gabrielle afastou os longos cabelos negros que estavam grudados naquelas costas largas e, espalmando a mão espumante, esfrega a acariciando. Xena vira-se repentinamente, dizendo:

–         Pode esfregar com mais força que…_ a guerreira pára de falar ao ver os seios desnudos da princesa.

Ao perceber que Xena ficara olhando-a, Gabrielle submerge até o pescoço. E notando o embaraço que causou, Xena diz:

–         Agora é a sua vez, vire-se.

A princesa lhe entregou o sabão e ficou de costas para ela. Vendo que não dava para ensaboar, a guerreira lhe diz:

–         Levanta um pouco Gabrielle, senão não dá pra ensaboar as suas costas.

Timidamente, a princesa, fica em pé, somente o suficiente para que a guerreira pudesse lhe ensaboar. E, enquanto Gabrielle puxava os cabelos para frente, Xena espumando as mãos não perdia nenhum movimento dela. Então colocou as duas mãos nos ombros dela, massageando-os e depois desceu lentamente até as laterais da cintura, onde Gabrielle se sentiu quase se desfalecer ao toque das mãos que deslizavam para frente e para trás e que também subiam e desciam com os polegares encostando em seus peitos. Completamente inibida Gabrielle submerge até o pescoço ainda de costas para a guerreira. Xena faz o mesmo só que submerge por completo e saindo da água rapidamente. Não se atreveu a olhar para trás.

Já havia transcorrido sete dias desde que saíram da aldeia amazona e, contrariando o que a guerreira havia pensando antes, a viagem estava se tornando cada vez mais agradável para ela, estava realmente gostando da presença daquela princesa. Há muito tempo que Xena não se sentia assim tão bem e descontraída na presença de outra pessoa.

A guerreira percebeu que a princesa era alguém  que ela podia conversar sobre qualquer assunto que ela estava sempre disposta a ouvir e, também, que tudo que ela lhe ensinava Gabrielle prestava a máxima atenção e aprendia rápido.

Nessa noite, quando Xena estava sentada na frente da fogueira com o seu traje de guerreira estendido numa das suas coxas e que acabara de enfiar na agulha uma linha resistente, Gabrielle pára ao seu lado e lhe tomando a agulha das mãos, diz:

–         Deixa que eu faça isso, sou boa nisso. Vá cuidar de Argo. Eu já cuidei da minha égua.

O primeiro impulso da guerreira era de não permitir, mas, no entanto, de imediato entregou o seu traje para ela. A guerreira detestava costurar. Sentindo-se aliviada foi ver Argo. Enquanto escovava a égua, observava Gabrielle. Disse baixinho na altura da orelha de Argo:

–         Cada dia que passa essa garota me surpreende cada vez mais. Ela é simpática, não é metida como pensei. Tudo que mando fazer, ela faz sem reclamar. E olha que nos primeiros dias eu a estava testando… Até com você ela tem o maior carinho. E você gosta dela, não é mesmo?

Argo relincha em resposta, Xena alisa a sua crina, dizendo:

–         Eu também.

Enquanto costurava o traje da guerreira, Gabrielle pensava que o primeiro passo ela já havia dado. A guerreira não mais a maltratava. E ela sentia que já não era indiferente para a guerreira. Lembrou das noites que sonhara com ela. Sonhos que se repetiam desde o dia em que a conhecera e que só agora quase três anos depois que ela estava ali com a guerreira dos seus sonhos. Esta viagem tinha que ser demorada, pois não podia deixá-la ir embora desta vez. Haveria de conquistá-la. Tudo estava a seu favor, não havia impedimentos. Haveria, talvez, se não fosse amazona e morasse com os pais_ tinha certeza que o seu pai jamais permitiria. Mas sendo uma amazona, mesmo sendo uma princesa, sabia que poderia se unir a outra mulher fosse ela amazona, guerreira ou camponesa. Sentiu-se uma felizarda por fazer parte de uma sociedade como aquela. Quando Argo relinchou, Gabrielle olhou na direção e encontrou o olhar penetrante da guerreira. Sorriu meio desconcertada e continuou a costurar. Estava pensando no quê devia fazer para se aproximar mais daquela mulher, quando ela se senta ao seu lado naquele pequeno tronco de árvore na frente da fogueira.

–         Ainda não terminou?

–         Estou reforçando as outras partes que poderiam descosturar._ respondeu a princesa.

–         Não precisa._ disse a guerreira tentando pegar o traje.

Mas Gabrielle virou as costas para ela, dizendo:

–         Já estou quase terminando.

A guerreira achou engraçado o jeito dela. Então se levantou e colocando a panela de água no fogo, pergunta:

–         Vai querer chá?

–         Tem folha de melissa?

–         Por que, está nervosa?

–         Não, é que eu estou sem sono. Como sei que vamos partir amanhã bem cedo…

–         Não se preocupe. Quando formos dormir vou fazer uma massagem em você que a fará relaxar e dormir.

Gabrielle pensou: “Ou então, é que não vou conseguir dormir mesmo”.

Depois que a princesa tomou o chá de hortelã, o único que tinham, foi até onde estavam os cobertores e onde a guerreira a aguardava.

–         Deita aqui, no seu cobertor, de bruços._ disse a guerreira ajoelhada no próprio cobertor e com um pequeno frasco ao lado.

–         O que tem nesse frasco?_ perguntou a princesa se deitando de bruços.

–         Óleo relaxante retirado da essência do jasmim. Agora tire o top.

Gabrielle ficou imóvel, deitada, meio atônita com o que acabara de ouvir, ficou sem saber o que fazer.

–         Desamarre o cordão aí na frente que eu mesma puxo o top pra cima da sua cabeça.

Foi o que a princesa fez, depois de desamarrar levantou os braços na altura da cabeça, enquanto a guerreira puxou o top para cima e o colocando ao lado do rosto da princesa. Depois de derramar o óleo nas mãos, despeja um pouco por toda a coluna da princesa e logo após começa a espalhá-lo, espalmando, pelas costas toda. Com os quatro dedos de cada mão, comprimia os ombros enrijecidos da princesa e com os dois polegares massageava a nuca. Para Gabrielle era uma sensação que ela nunca sentira antes, não era apenas uma massagem relaxante, era muito mais que isso, pois se sentia desfalecer, uma total perda dos sentidos naqueles toques daqueles dedos e estava completamente à mercê daquelas mãos habilidosas. De repente não sentiu mais elas deslizarem na sua pele, já ia se virar para vê porque a guerreira tinha parado, quando voltou a senti-las novamente. Só então que percebeu que a guerreira havia parado para besuntar as mãos. Sentiu-se aliviada.

Xena estava fascinada com aquele contato. A massagem para relaxar seria apenas nos ombros e na nuca, mas a guerreira não resistiu a tentação de ficar tocando naquelas costas macias. De propósito, deixou que os dedos tocassem as laterais dos seios. Não soube explicar porque sentira um frenesi a esse toque rápido e extremamente sensual. Gabrielle parecia prender a respiração, que na verdade ela estava com receio de saltar uns suspiros ou gemidos causados pelo que estava sentindo. Apertou os olhos e os lábios, mas não conteve o estremecimento. Xena parou.

–         Pode pôr o top, Gabrielle.

A princesa levou um instante para se recompor e se sentando de costas para ela veste o top, sentindo o penetrante olhar da guerreira. Depois se deitou também de costas, queria falar alguma coisa, mas não conseguiu mover os lábios. Quase gemeu quando a guerreira a puxou e colocou a sua cabeça no meio das pernas dela que estavam cruzadas e começou a massagear as suas têmporas. A sensação que esses toques lhe causavam era tão divino que ela tinha a impressão que tinha morrido e estava nos Campos Elíseos, não sozinha, mas com aquela guerreira especial ao seu lado. Levou a imaginação um pouco mais além ao imaginar as duas de mãos dadas no meio de flores, depois nadando num lago límpido, se beijando e… e…

Ao notar que a princesa adormecera, Xena a coloca no cobertor dela com muito cuidado para não acordá-la. Puxa a manta e a cobre bem devagar, a olhando. Depois se deita ao seu lado. Agora quem não conseguia dormir era ela. A noite estava quente, era início de verão. Olhou pro céu, viu a lua. Era a última noite do quarto-crescente, como era também crescente o que estava sentindo. Tentou lembrar, mas não conseguiu quando foi e com quem foi a última vez que tinha se envolvido sexualmente com alguém. Devia ter sido realmente insignificante para ela por não lembrar tal coisa. Há muito tempo não sentia desejo, vontade de se tocar como estava sentindo naquele momento. Tentou resistir, mas sabia que não conseguiria dormir se não satisfizesse aquele instinto. Levantou com cuidado e foi até o rio, onde se despiu e entrou na água. Com o contato da água inesperadamente fria, sentiu seus instintos se acalmarem. Nadou um pouco e depois foi dormir, mas antes disso se aproximou com cuidado de não olhar muito para aquela pequena loura.

Na manhã seguinte, a guerreira acordou, se arrumou e depois que preparou o chá, foi acordar a princesa.

–         Dormiu bem?

–         Como um bebê._ disse Gabrielle após um leve bocejo ao se sentar.

–         É, realmente, não sei se deixou de ser.

–         Ah?

A princesa não entendeu bem aquelas palavras da guerreira, mas ficou com receio de perguntar, ainda sentia um pouco de medo da reação que ela poderia ter. Apenas se sentou ao seu lado, bebendo o chá e comendo uma fatia grossa de pão. Mas, foi a guerreira quem quebrou o silêncio.

–         Há quanto tempo você vive com as amazonas?

–         Eu moro na aldeia há quase três anos. Quando elas me levaram para Poteidaia, eu avisei aos meus pais que ia ser uma amazona e partir com elas para Sarmátia.

–         Por que você quis se tornar uma amazona?

–         Quando eu estava me recuperando daquela surra, tive um período de convivência com elas e aí eu observei o modo de vida delas e percebi que queria conviver com aquilo._ disse Gabrielle surpresa e contente pelo interesse da guerreira.

–         Você não me contou para onde vocês foram, onde ficaram até você se recuperar. Sei que não foram para Sarmátia, porque você não tinha condições para isso e nem para Poteidaia também. Para onde foram?

–         Terreis me disse que não podíamos ficar mais tempo acampadas ali porque era perigoso e então por sugestão de Astéria fomos para o velho templo de Afrodite para que eu pudesse me recuperar.

–         Quanto tempo ficaram lá?

–         Duas semanas.

–         Duas semanas?! Engraçado, quando voltei de Amphipolis quase fui dormir naquele templo abandonado.

–         E por que você não foi? A gente teria se encontrado.

–         Foi porque eu me encontrei na estrada com uma velha amiga e acabamos por acampar juntas._ e nesse instante foi que a guerreira se lembrou quando fora à última vez em que ela se envolvera com alguém.

Gabrielle não gostou do que ouviu, sentiu ciúmes, falou um tanto magoada:

–         Eu também tive uma amiga, não que eu não tenha agora, mas há três anos atrás se não fosse Terreis…

A guerreira não agüentou a curiosidade e perguntou:

–         O que tem ela, quero dizer, o que houve?

–         Foi ela quem cuidou de mim.

–         Você não me disse que ela era também curandeira.

–         E não era. Mas ela simpatizou comigo e quis ser a minha amiga, me ajudou.

–         Quer dizer que você se tornou uma amazona por causa dela?

–         Não foi só por causa dela. Foi porque ao conviver com elas passei a gostar e quis ser uma delas.

–         E você conseguiu. Sendo que agora não é mais uma amazona e sim a princesa delas.

–         Este foi o último desejo de Terreis. Foi um presente dela para mim.

Ao perceber que o semblante da princesa ficara triste, uma guerreira incomodada pergunta:

–         Ela gostava muito de você, não é mesmo?

–         E eu dela.

Xena não soube explicar porque ficou irritada de repente. Levantou-se bruscamente indo até onde Argo estava.

–         Já vi que essa vai ser uma longa viagem, garota._ confessou a guerreira para Argo.

No meio da tarde, quando estavam cavalgando, Xena mandou que Gabrielle diminuísse a cavalgada. Quando pararam, a guerreira desmontou e examinou o chão e a mata, depois voltou correndo. Enquanto montava disse pra Gabrielle:

–         Temos que sair daqui imediatamente, depois eu te explico. Siga-me.

Não voltaram pelo mesmo caminho, tomaram um atalho ladeando a montanha, quando começou a cair os primeiros pingos de chuva, a guerreira desmontou e mandou que a princesa fizesse o mesmo, a seguindo e conduzindo a sua égua. Chegaram num abrigo feito pela própria natureza, era uma árvore que havia sido derrubada, talvez por um raio e ficara escorada nas paredes rochosas da montanha. As duas e seus animais ficaram abrigadas do inesperado temporal. A princesa então pergunta:

–         Xena, o que houve? Por que saímos correndo daquele lugar?

A guerreira que estava tirando a bolsa de montaria de cima de Argo, pára e responde:

–         Uma tropa do exército Persa estava acampada perto dali.

–         O exército Persa? Mas…

–         Sei o por quê do seu espanto, eles sempre atacam pelo litoral e desta vez vieram pelo o outro lado e pelo rio. Desse jeito eles vão pegar de surpresa o exército ateniense. Os persas não desistiram de tomar a Grécia.

–         Pelos deuses! Será que vamos sempre viver nessa ameaça de posse? Egípcios, romanos, persas… Sei lá quem mais. Todos querem se apoderar da nossa terra.

–         Mas eu não vou deixar que isso aconteça.

–         O que você pretende fazer?

–         Amanhã bem cedo vamos procurar a tropa do exército ateniense que está acampada aqui próximo ao litoral. Quero chegar lá antes que sejam surpreendidos pelos persas.

–         Será que vai dar tempo de evitar a emboscada?

–         Ah é isso, eu pensei que… Bem, acho que sim. Pois temos uma boa dianteira.

–         Mas o que foi que você pensou antes o que era?

–         Pensei que você tivesse se referindo em chegar a tempo do casamento da sua irmã.

–         Nem havia pensado nisso. Se der pra chegar a tempo do casamento vou ficar feliz, mas salvar vidas é prioridade.

–         Quantos anos você disse que tem?

Mesmo sem entender a razão da repentina pergunta, a princesa responde:

–         Vou fazer vinte e um. Por quê?

–         Acho que você já está pronta para se tornar uma rainha sábia e humana.

–         Humana? Como assim humana?_ perguntou a princesa sem entender direito o elogio.

–         Nesta minha jornada, já conheci muitos reis, muitas rainhas, inclusive rainhas amazonas. Mas parece que eles, quando assumem o trono, se esquecem a sua parte humana, governando somente com as leis, com as regras.

–         Eu vou governar com a mente e o coração dentro da lei. E quanto às regras, se tiver que modificá-las, lutarei para isso até conseguir.

A guerreira ficou impressionada com as palavras da princesa, mas não demonstrou, apenas disse, mudando de assunto:

–         Vamos ter que dormir sentadas, encostadas aqui na rocha. Desatrele a sua égua e ponha o cobertor aqui junto do meu.

Como a princesa estava demorando, a guerreira notou que ela tinha colocado o cobertor pendurado num galho dentro do abrigo, perguntou:

–         Gabrielle, o que houve?

–         Acho que a minha égua ficou com a parte traseira de fora e molhou o cobertor. Mas a manta só molhou numa ponta, vai dar pra me proteger do frio.

–         Pendure-a aí também.

–         Mas, Xena, eu sou frienta…

–         Faça o que eu estou mandando e venha pra cá.

A princesa não discutiu, pendurou a manta e se aproximou onde a guerreira estava sentada.

–         Senta aqui._ disse a guerreira mostrando uma parte livre do seu cobertor.

A princesa timidamente se senta ao seu lado, dizendo:

–         Obrigada.

–         É mania ou você gosta de dizer essa palavra?

–         Que palavra?_ perguntou Gabrielle sem entender.

–         Obrigada, você vive dizendo isso.

–         Só quis agradecer a sua gentileza. Não sabia que isso a irritava._ disse toda desconfiada.

Um silêncio repentino se fez, os únicos sons que se ouvia eram os ruídos da chuva e o remoer das éguas nas folhagens. Ao perceber isso, a guerreira pergunta:

–         Está com fome?

Em resposta a princesa balança a cabeça afirmativamente, ainda sem jeito perante aquela guerreira intempestiva. Notando isso, Xena tira de dentro da sua bolsa um pequeno embrulho. Abre-o e tira de dentro a única maçã e comida. Diz:

–         Tome.

–         E você?

–         Não estou com muita fome._ disse colocando a maçã na mão da princesa.

–         Vamos fazer o seguinte: Comeremos juntas a maçã._ e dizendo isso a princesa deu uma mordida na fruta, depois a levou até a boca da guerreira que a princípio não quis comer, mas como Gabrielle ficou brincando com a maçã lhe roçando os lábios tentando assim à forçar a comer, Xena então dá uma mordida na fruta. E assim elas dividiram a maçã.

A princesa bem que tentou dormir com a cabeça encostada na rocha, mas acabava sempre escorregando para os lados, até que se encostou ao ombro de Xena e ficou por uns instantes apoiada lá, até que se deu conta, levantando a cabeça rapidamente e ao olhar para a guerreira, viu que esta a estava olhando. Quando ia se desculpar, a guerreira se antecipa lhe dizendo:

–         Pode ficar com a cabeça encostada no meu ombro. E não peça desculpas.

Gabrielle sorriu com os lábios apertados, estava um pouco desconcertada, mas aceitou o convite.

Durante a noite, Xena acordou com o movimento inquieto da princesa ao lado dela. Reparou que ela esfregava os braços e que estava toda encolhida, devia estar sentindo frio. A guerreira então segura a cabeça da princesa com a mão esquerda enquanto levanta seu braço direito e o passa por detrás dela, a agasalhando.  Gabrielle se aninha mais nos braços dela, encostando a cabeça no seu colo. Xena constatou que ela estava dormindo profundamente, então puxou mais a manta para cima da princesa e fechou os olhos. Ela estava tendo uma sensação inédita e não saberia descrever, explicar o que era. Só sabia que era muito bom e isso era o que lhe interessava no momento.

Quando acordou, antes mesmo do dia clarear, percebeu que a jovem princesa estava quase deitada em cima dela. O rosto estava totalmente virado entre os seus seios e o braço direito dela estava em volta da sua cintura, aquilo era mais do que um abraço. Ficou tentada em deixá-la um pouco mais assim naquela posição, que ela própria estava gostando de sentir ou se a acordava só pra vê o rosto dela ao perceber a situação. Não resistiu e a chamou. Ao abrir os olhos e vê onde ela tinha enfiado a cabeça, a princesa senta-se ligeiro e completamente envergonhada, diz:

–         Me desculpe, Xena, eu… eu sinto muito. Você deve estar toda moída.

–         Não precisa se desculpar, Gabrielle. Eu não estou nem um pouco moída, só percebi que você estava em cima de mim quando acordei. Você é muito leve. Agora vamos levantar, temos que ir agora, senão não chegaremos a tempo no acampamento ateniense. Depois a gente providencia alguma coisa para a gente comer.

Antes mesmo do sol se firmar, bem cedo, as duas chegaram no acampamento do exército ateniense. Xena se apresentou ao comandante e avisou sobre a tropa de soldados persas que estavam a caminho. E então sugeriu que fizessem uma armadilha. E assim foi feito. Os cobertores dos soldados ficaram estirados no chão como se eles estivessem dentro deles dormindo. Deixaram apenas dois soldados de vigia. E toda a tropa se escondeu na floresta, ladeando a acampamento, menos pelo lado aonde viriam os persas. Não tiveram que esperar por muito tempo. Os dois guardas foram flechados, caindo no chão. Então a tropa inteira de soldados persas invade o acampamento golpeando com as espadas os cobertores e invadindo as barracas. Ao perceberem que ali não havia ninguém se vêem cercados pelos soldados atenienses, todos empunhando arco e flecha.

–         Rendam-se e joguem as armas no chão!_ gritou o comandante. E depois se dirigindo aos dois soldados que haviam sido flechados, diz: Bom trabalho homens, vocês foram muitos corajosos.

Os dois soldados se levantam do chão ainda com as flechas cravadas nas costas e ao tirarem os cobertores que os agasalhavam foi que o comandante persa viu que por debaixo do agasalho eles traziam amarrados nas costas e no peito tábuas de madeira.

–         Essa sua idéia foi esplêndida Xena, não só as vidas deles foram salvas como a de toda a tropa também.

–         Mas, foi meio arriscado, as flechas poderiam também atingir o pescoço._ disse Xena.

–         Era um risco que teríamos que correr.

–         Não sei se há outras facções de tropas persas por aí, é melhor não arriscar, mande mensageiros avisar as tropas que vocês têm espalhadas por aí.

–         Mandarei agora mesmo. Mas… será que tem alguma coisa que eu posso oferecer a vocês?

–         Ainda não comemos nada até agora._ Gabrielle apressou-se a dizer antes que Xena dissesse que não era necessário ou algo parecido.

–         Mas isso podemos resolver agora mesmo. Vocês são minhas convidas para o desjejum.

O comandante as levou a sua tenda onde acabaram de colocar, numa mesa improvisada, diversas iguarias que encheram os olhos de Gabrielle. Quando estavam comendo e conversando, entra um soldado se apresentando para a missão sugerida por Xena. O comandante diz:

–         Soldado, quero que parta para o porto imediatamente e avise ao tenente Perdicas para ficar atento e que logo chegaremos com os prisioneiros e depois vá avisar as outras tropas.

Assim que o soldado se retirou, Gabrielle pergunta:

–         Perdicas?

–         Sim, tenente Perdicas. Você o conhece?_ perguntou o comandante.

Antes de responder, a princesa olhou para a guerreira que parecia surpresa e se dirigindo ao comandante, diz:

–         Esse Perdicas é lá de Poteidaia?

–         Ele mesmo. O jovem camponês de Poteidaia é hoje o valente tenente de Atenas. Um dia ele arriscou a própria vida para salvar a minha vida. Quer que eu leve algum recado para ele?

Gabrielle pensou um pouco antes de responder.

–         Não, não tenho nada pra dizer a ele. Ele é apenas um conhecido, nada mais.

Mas a guerreira não acreditou no que dissera a princesa. Olhou-a de uma maneira que, Gabrielle não conseguiu sustentar o olhar.

Na estrada, Xena perguntou:

–         Quem é esse Perdicas?

Pega de surpresa Gabrielle responde sem olhá-la:

–         Um rapaz lá de Poteidaia.

–         Se você não quiser me dizer a verdade, pelo menos não minta._ disse Xena a olhando seriamente.

–         Não estou mentindo, ele é realmente da minha cidade. Ele foi o meu noivo.

–         Noivo?_ disse uma guerreira surpresa com a revelação.

–         Sei o por que do seu espanto… Mas isso aconteceu antes de eu me tornar uma amazona.

Cavalgaram um pouco em silêncio. Enquanto a princesa pensava alguma coisa para quebrar aquela mudez, uma certa guerreira não conseguiu controlar a sua curiosidade, perguntando:

–         Por que você desfez o noivado, qual foi o motivo?

–         Porque eu não o amava.

–         E por que é que ficou noiva?_ a guerreira percebeu que não estava conseguindo controlar a própria língua.

–         Por influência do meu pai. Mas depois que conheci você e as amazonas, terminei o noivado e fui pra Sarmátia com elas.

–         Eu também tive culpa nisso?

–         Eu não disse que você teve culpa ou mesmo as amazonas. Não há culpa nisso. A verdade era que eu estava sendo pressionada pelo meu pai e estava me deixando levar porque não tinha motivo ou algo que me incentivasse a mudar. Até aquele dia do seqüestro.

–         E por que você quis ser uma amazona ou será que foi por causa de uma amazona?

–         Não foi por causa de nenhuma amazona em especial. Quanto a eu querer ser uma amazona essa não foi à causa principal, essa foi a causa secundária.

A guerreira olhou para a princesa esperando que ela acrescentasse alguma coisa mais, como ela permaneceu calada, perguntou um pouco irritada:

–         Tá bem, vou perguntar: Qual foi a causa principal?

–         Uma pessoa que conheci.

–         E o que tem essa pessoa?

–         Ela me mostrou que ela era o meu caminho._ Gabrielle estava surpresa por ter tido coragem de dizer isso.

Xena quase mandou que a princesa calasse a boca, que não dissesse mais nada. Estava estranhamente irritada, incomodada, preferiu ficar calada.

Gabrielle estranhou a atitude da guerreira, olhando para ela viu que estava zangada com as sobrancelhas franzidas, achou melhor ficar calada. Ficou triste por perceber que a guerreira não notara de que era dela que ela falara.

Quando pararam para almoçar, enquanto a carne assada que foi dada pelo comandante era aquecida na fogueira, repentinamente, Xena retomou ao assunto:

–         Essa pessoa deve ter sido muito importante pra você.

–         Ela é._ corrigiu a princesa.

–         Deve ser mesmo, pois você não a esqueceu.

–         Não poderia, mesmo que ela nunca me note._ Gabrielle se levantou, ficou com medo de se declarar. Foi ver a sua égua, boa desculpa para sair dali.

Xena ficara confusa com o que acabara de ouvir, ficou remoendo os pensamentos até que retirou a panela do fogo e chamou Gabrielle. E assim que a princesa se senta ao seu lado, pergunta:

–         A princípio eu pensei que a tal pessoa que você se referiu fosse Terreis, mas como a pessoa está viva, deve ser a tal da Ephiny._ disse isso fazendo cara de desdém.

–         Não é Ephiny.

–         Sei, então deve ser a sua guardiã, Daphne.

–         Também não. Ela não é amazona.

Xena sentiu que a sua cabeça ia dá um nó. Pensou na curandeira Astéria, mas ela era uma autêntica amazona. Estava quase perguntando quem era, tamanha a sua curiosidade, porém não quis que a princesa notasse isso. Mudou de assunto:

–         Assim que as nossas éguas descansarem, vamos pegar a estrada principal e só vamos parar lá no final da tarde, pois quero chegar a uma cabana abandonada que conheço para passarmos a noite.

–         Será que lá vai dar para a gente tomar um banho? Não sei se você lembra, mas há dois dias que a gente não toma banho._ disse a princesa e conclui quase sussurrando: Estou cheirando a cavalo.

Xena não pode deixar de rir, principalmente com a preocupação da princesa com que as éguas pudessem ouvir aquele comentário.

Já estava quase escurecendo quando chegaram num lugar fora da estrada e escondido entre a mata. Depois que instalaram as éguas num pequeno abrigo ao lado da velha cabana, entraram. Xena trazia uma tocha na mão e com ela foi acender os dois candeeiros que estavam pendurados nas paredes.

–         Mas que ótimo!_ resmungou a guerreira, concluindo logo a seguir: Estão secos. O óleo secou.

–         Ainda bem que tem uma lareira bem ali._ disse a princesa mostrando-a.

–         Pelo menos isso._ disse Xena se aproximando e constatando: Tem bastante madeira nela.

E num instante a guerreira acendeu a lareira que clareou o cômodo suficiente. Gabrielle mostrou uma mesa cujas pernas foram cerradas pela metade e que não havia cadeiras. Foi então que Xena reparou que as lenhas da lareira eram de cadeiras desmontadas. A guerreira também viu uma cama não muito larga perto da janela. Ainda com a tocha na mão foi até lá e examinou a cama toda, inclusive embaixo dela. Revirou o colchão que era de capim. A princesa se aproximando pergunta:

–         Por que você revistou a cama toda e virou o colchão?

–         Me certifiquei se não tinha nenhum bicho e virei o colchão porque à parte de cima estava muito suja. E também verifiquei se ela é resistente, pois seria muito desagradável a cama desabar quando a gente estiver dormindo.

–         Vamos dormir aí?

–         Não vejo outro jeito, melhor do que dormir nesse chão empoeirado. Vamos colocar os nossos cobertores por cima do colchão. Traga o seu cobertor e me ajude aqui a forrar.

A princesa obedeceu. Estava intimamente animada com a idéia de dormir na mesma cama com a guerreira.

–         Agora que a cama está pronta e já deixei a panela com o peixe na lareira, que tal um banho?

–         Adoraria. Mas… onde?_ disse a princesa olhando para os lados.

–         Chega aqui que eu te mostro._ disse Xena parada na janela.

Gabrielle quando se debruçou na janela viu uma pequena cachoeira tão perto que disse admirada:

–         Que maravilha! Por pouco, estendendo o braço, não dá pra tocá-la. Parece um sonho.

Xena já desprendendo a armadura, diz:

–         Como a cachoeira fica aqui nos fundos da cabana, não vamos precisar sair pela porta, é só pularmos a janela. Vamos nos despir aqui e levaremos apenas os nossos panos e o sabão.

–         Não tem perigo de alguém chegar e nos pegar desprevenida?_ perguntou Gabrielle observando a guerreira tirar o seu traje de couro.

–         Essa cabana é bem escondida… Mas, você tem razão é melhor prevenir, vou levar o chakram e a espada.

Enquanto se despia, a guerreira olhava de soslaio para a jovem princesa que, apesar de visivelmente inibida, se despia com naturalidade. A cada parte desnuda do belo corpo da amazona fazia crescer a curiosidade da guerreira. Quando se despiu completamente, ao se virar, viu a princesa  segurando o pano na frente do corpo e isso permitiu que ela visse o contorno cheio de curvas dele. A guerreira não entendeu porque sentiu a boca seca. Disse:

–         Vou pegar os odres e enchê-los com essa água fresquinha.

E, totalmente desinibida, Xena foi até à mesa e pegou os odres sob os olhos encantados de Gabrielle que ainda não tinha visto daquele jeito a guerreira nua. Ao perceber que a princesa a estava olhando, Xena diz com certa malícia ao se aproximar dela:

–         Não vá me dizer que você não costuma tomar banho com as outras amazonas. Que eu saiba o banho comunitário é um ritual originário das amazonas.

Gabrielle demorou pra responder e enquanto Xena pulava a janela, ela diz:

–         Eu não sou adepta do banho comunitário, prefiro a tina da minha cabana. Mas de vez em quando compartilho de um banho relaxante com as minhas amigas mais íntimas.

–         De quem você está falando?_ perguntou a guerreira ajudando a princesa a pular a janela.

–         Das minhas amigas: Ephiny, Daphne, Amoria, Ephony, Solaris e Chilapa.

–         Que sexteto!_ disse Xena revirando os olhos, depois pergunta: E a Rainha Melosa?

–         Que tem ela?_ perguntou Gabrielle se sentando ao lado da guerreira embaixo da cachoeira.

–         Ela também participa com vocês?

–         Não. Nesses anos em que convivo com as amazonas eu nunca vi a minha rainha…

Como a princesa hesitou em completar a frase, a guerreira completa:

–         Nua. Sabe, eu não conheço a Rainha Melosa, mas ela me parece uma pessoa sofrida, melancólica, só.

–         Ela é.

–         Eu não quero ser indiscreta, talvez por não ser uma amazona, sei que não tenho o direito de me meter em assuntos que não me diz respeito, mas se você puder responder a uma curiosidade minha.

–         Pode perguntar.

–         Uma rainha amazona pode ficar sozinha, quero dizer, pode ser solteira? É que quase todas as rainhas que conheci, amazona ou não, não eram solteiras.

–         É por isso que eu gosto de ser amazona. Pois a gente tem o direito de escolher se quer ter uma companheira ou não. A Rainha Melosa nunca se casou.

–         Outro dia conversando com Solaris soube que há um ritual que unem as amazonas que se amam.

–         Não é um ritual, é um casamento de verdade com a presença das sacerdotisas das deusas Artemis, Atena e Afrodite. Além da benção da nossa rainha.

–         Interessante. Mas, agora, vire-se de costas que eu vou te ensaboar._ e assim que a princesa obedece, a guerreira pergunta: E você não pretende se casar?

Gabrielle pega de surpresa não consegue achar uma resposta adequada.

–         Não vá me dizer que você não pensa em se casar. E aquela pessoa que você ama?

–         O que tem ela?

–         Você se casaria com ela?

–         Ela não sabe que eu a amo.

–         E por que você não fala pra ela que a ama?

–         Não sei se agüentaria a rejeição dela.

–         Medo ou timidez?_ perguntou a guerreira já de frente para ela.

Gabrielle pega o sabão da mão dela e fazendo um gesto com a mão para que a guerreira se virasse, após começar a ensaboar àqueles ombros que ela tinha vontade de beijar, de acariciar com os lábios, diz:

–         Mais timidez do que medo de rejeição.

–         Vou te dizer uma coisa, nem sei se deveria te dizer isso, mas se você não tomar a iniciativa, vai ser difícil alguém que não seja amazona se declarar pra você, ainda mais se tratando de uma Princesa Amazona.

Xena se vira e vê a expressão de espanto no rosto de Gabrielle, diz:

–         É, pelo jeito vi que você não tinha pensado nisso. Você ainda é muito nova, não tem experiência, é quase uma menina…

–         Menina não! Eu tenho vinte anos!

Xena sorriu e balançou a cabeça de um jeito que deixou Gabrielle irritada.

–         E você, guerreira, quantos anos tem?

–         Trinta.

Gabrielle arregalou os olhos e disse:

–         Pois não parece. Eu diria que você ainda estaria na casa dos vinte.

Xena gargalhou não só pelo que ela dissera, mas também pela a expressão dela toda desconcertada.

–         E você… você já se casou?_ perguntou a princesa tentando fazer a guerreira parar de rir.

–         Bem, casar, casar mesmo, não. Mas tive muitos envolvimentos.

–         Algum envolvimento especial?

–         Diria que apenas dois.

A princesa quase deixou o sabão escapulir das mãos ao ouvir o que a guerreira dissera, pergunta:

–         Eram dois homens?

–         O primeiro foi um homem com quem me envolvi por mais tempo, Borias era o nome dele. Tivemos mais que um envolvimento, um filho. E a outra pessoa foi aquela que me pôs esse título de Princesa Guerreira.

–         Lao Ma, a imperatriz chinesa.

–         Estou surpresa. Você realmente prestou atenção quando eu te falei dela.

Gabrielle estava tentando arranjar um jeito de perguntar sobre a revelação que ela fizera sobre o filho, mas Xena corta a oportunidade, dizendo:

–         Vamos voltar lá pra dentro, o peixe deve estar pronto. Estou faminta e acho que você também.

Já vestidas, enquanto Xena colocava o peixe nos pratos em cima da mesa rasteira que ela mesma havia arrastado para frente da fogueira, Gabrielle enchia as canecas com água. Quando a guerreira senta no chão em frente a Gabrielle, esta lhe pergunta:

–         Posso te fazer uma pergunta?

–         Faça.

–         Você disse que teve um filho e onde ele está?

Xena bebe um pouco da água antes de responder.

–         Olha, esse é um assunto o qual não gosto de falar. Se quiser perguntar outra coisa, não vou me negar a responder. Mas sobre isso, esqueça o que ouviu.

–         Tudo bem, não vou mais perguntar. Se algum dia você quiser falar, estarei disposta a te ouvir.

Xena acenou com a cabeça e com um sorriso de lábios apertados. Gabrielle percebeu que, sem dúvida, aquele era um assunto muito delicado e a parte vulnerável da guerreira.

Enquanto comiam, Xena notou que a princesa estava introspectiva, distante, perguntou:

–         Está pensando nela?

–         Quem?_ Gabrielle não entendeu a pergunta.

–         Na tal pessoa especial.

–         Eu nunca deixo de pensar nela.

Mais uma vez Xena não entendeu porque ficara irritada com o que ouvira. Disse:

–         Não consigo entender você, gosta de uma garota e não sabe se ela também gosta de você. Afinal, como você se encontra com ela, já que não é na aldeia amazona, onde então?

Desta vez é Gabrielle que bebe um pouco de água para ganhar tempo pra responder.

–         É o destino que me faz encontrar com ela.

–         O destino, é mesmo?_ falou com pouco caso e conclui: Sabe se vai encontrar com ela lá em Poteidaia?

–         Ela vai estar lá._ disse Gabrielle sem encará-la.

A guerreira se levanta bruscamente, quase assustando a princesa, dizendo:

–         Vou ver as éguas.

–         E eu vou lavar os pratos.

Lá fora, após inspecionar as éguas, a guerreira diz pra si mesma:

–         O que está acontecendo comigo? O que me importa se ela vai se encontrar com a pessoa que ela ama? O que é que eu tenho com isso?

Quando voltou encontrou Gabrielle sentada na cama que lhe perguntou:

–         Qual o lado da cama que você vai dormir?

–         O que está próximo da janela. Mas que roupa é essa?

–         Minha roupa de dormir. Por quê?

Ao perceber que fora indiscreta e que deixara a princesa sem jeito, a guerreira diz:

–         É que hoje está muito quente e isso aí é algodão.

–         É que eu não trouxe outra roupa de dormir.

–         Bem, eu vou dormir à vontade.

Ao acabar de dizer isso, a guerreira descalça as botas, que havia colocado para ir lá fora, e num relance tira o traje debaixo que estava usando, ficando somente com aquela calça de guerreira, muito mais cavada do que a calça amazona que a princesa estava usando. Deitando-se de bruços a guerreira puxa a manta até a cintura, sob o olhar encantado da princesa que ao deitar pergunta:

–         Vamos sair cedo?

–         Hum? Não. Depois do desjejum. Boa noite.

–         Boa noite. Sabe, acho que perdi o sono, não consigo dormir.

–         Deite, feche os olhos e conte os carneiros.

–         Ahn?…

Xena vira a cabeça pro lado e dá de cara com dois lindos olhos verdes que lhe sorriem. Disse:

–         Quando eu era criança, minha mãe mandava eu contar os carneiros até conseguir dormir.

–         E conseguia?

–         Contar os carneiros?

–         Não, dormir._ disse Gabrielle sorrindo e percebendo que a guerreira estava brincando.

–         Acho que sim, porque nunca me lembrava de quantos carneiros que eu havia contado._ disse também sorrindo.

–         Pois eu acho que nem contando todos os carneiros do meu pai e da vizinhança, eu não vou conseguir dormir.

–         Tente._ disse Xena fechando os olhos.

–         E se acabar os carneiros, conto o quê?

A guerreira abre os olhos, espantada e, ao vê a expressão no rosto da princesa, percebe que   agora era ela quem estava brincando.

–         Está bem, já vi que você está acesa, mas eu dou um jeito nisso._ disse se sentando na cama e puxando a cabeça da princesa para cima das suas pernas que estavam cruzadas.

Xena fez a mesma massagem que fizera noutro dia. Sendo que desta vez, ela estava praticamente nua. A princesa tinha consciência disto e por isso não ergueu os olhos para não se deparar com aquele par de seios que tanto a fascinavam. Fechou os olhos e se deliciou com o toque suave daquela guerreira. E, novamente, a princesa adormecera nos braços da guerreira. Com muito cuidado Xena a ajeita no travesseiro. Ao afastar uma mecha de cabelo do rosto de Gabrielle, Xena a acaricia e diz baixinho:

–         Eu sinto que te conheço, Gabrielle. Só que não sei de onde. Talvez dos meus sonhos.

No dia seguinte, ao acordar, Xena percebeu que Gabrielle estava colada em suas costas, que fizera dela o seu travesseiro. Xena passou a mão na sua própria franja, sentira novamente aquela estranha sensação de que já vivera aquele momento. Pensou: “Mas o que está acontecendo comigo? Desde que começamos esta viagem que eu tenho sentido essas sensações estranhas de momentos vividos, será que estou enlouquecendo? Então Gabrielle também está, ela tem sentido isso também”. Com jeito conseguiu ficar de frente pra Gabrielle que então se aconchega ao seu peito. Passado o espanto, Xena ri da situação em que se encontrava. Agora teria que acordar a princesa para poder se levantar. Contudo, estava gostando de tê-la assim nos seus braços. Encostou o nariz na cabeça de Gabrielle e aspirou o doce e suave aroma que exalava daqueles lindos cabelos louros.

–         Eu já a conheço, isso está forte agora em mim. Mas da onde? Gabrielle… Gabrielle…_ Xena ao pronunciar o nome dela como querendo se lembrar de onde a conhecera, acaba por acordá-la.

Ao abrir os olhos a princesa percebe que está abraçada na guerreira, ergueu os olhos com um pouco de receio e viu aquele olhar azul, que tanto a seduzia, observando-a.

–         Desculpa, você deve estar achando que eu sou mesmo uma abusada._ disse a princesa se afastando e nitidamente desconcertada.

–         Abusada não, mas dorminhoca._ disse a guerreira sorrindo e se levantando. Avisa: Vou alimentar as nossas éguas.

–         E eu vou preparar o nosso desjejum.

Enquanto cuidava das éguas, Xena ficou cismando com a impressão que já conhecia Gabrielle.

–         Argo, você não acha que estou certa quando digo que conheço há muito tempo Gabrielle?

A égua relincha balançando a cabeça.

–         Até você garota acha isso._ disse Xena dando uns tapinhas com carinho no pescoço da égua.

Quando entrou na cabana percebeu que Gabrielle havia arrumado a cama e dobrado os cobertores e as mantas. Como também tinha colocado em cima da mesa rasteira o desjejum que era além das canecas com chá, o pão repartido, dois pedaços de peixe que sobrou do jantar e duas maçãs.

–         Reforcei o desjejum como você sugeriu._ disse a jovem se sentando à mesa.

–         Ótimo. Vamos comer sem pressa, depois iremos caminhar um pouco e só então vamos cavalgar, só parando para o almoço._ disse Xena já se servindo.

Xena ficou observando os gestos delicados e graciosos de Gabrielle. Estava tão entretida que nem percebeu e se surpreendeu quando Gabrielle a tocou.

–         Desculpa, eu não queria assustá-la._ disse a princesa.

Xena achou graça ao ouvir isso, como poderia aquela garota assustá-la de alguma forma. Disse:

–         Você não me assustou, é que eu estava distraída. Você disse alguma coisa?

–         Perguntei para onde vamos.

–         Bem, eu fiz uns cálculos e percebi que temos que chegar a Cálcis em três dias. Por isso teremos que ir pela estrada principal, não há como cortar caminho. Pensei em ir pelo litoral, mas…_ Xena bebeu um gole do chá, depois tirou um pedaço do pão passando-o na panela e retirando um pedaço do peixe. Come sem nada dizer.

–         Mas… O quê?_ perguntou Gabrielle curiosa.

–         É que não seria prudente, diria até perigoso.

–         O quê?_ perguntou ainda mais curiosa.

–         É que vi rastros de mercadores e traficantes de escravos por toda a orla.

–         Você já havia visto no início da nossa viagem._ lembrou Gabrielle.

–         Não, aqueles eram traficantes de escravos comuns, esses não.

–         E qual a diferença?

–         Aqueles que vi no início são traficantes que vendem os escravos em leilões para Senhores da Guerra e Reis. Esses são criminosos que querem escravos para uso próprio. O tempo de vida de um bom escravo nas mãos desses bandidos, se durar mais de um ano, eles vendem, isso se for homem, porque as mulheres depois que eles enjoam delas as alugam para os outros mercadores.

–         Pelos deuses, Xena, isso é terrível!

–         Não precisa temer Gabrielle, eu não deixo que nada de mal aconteça a você.

–         Eu não temo só por mim, mas por você também._ disse a jovem a olhando com ternura.

Xena sorri para ela. Gabrielle percebeu que essa era a primeira vez que isso acontecia e de uma maneira tão espontânea e carinhosa. Sentiu o coração disparar de alegria.

Gabrielle percebeu que o tratamento da guerreira para com ela havia mudado de uma maneira que ela estava adorando. Quando pararam e saíram da estrada para almoçar, teve um momento que a princesa jamais irá esquecer, foi quando Xena saiu do rio segurando dois peixes grandes, um em cada mão e com um sorriso infantil no rosto que emocionou e encantou Gabrielle.

Foram três dias inesquecíveis para Gabrielle. Foram dias que se conheceram mais intimamente, pois conversavam o tempo todo, Xena contava as histórias vividas por ela e que merecia toda a atenção e interesse de Gabrielle que lhe enchia de perguntas. E a noite, depois de uma longa conversa, colocavam os seus cobertores não mais lado a lado, mas juntos. E Gabrielle sempre se chegava um pouco mais, se aconchegando nas costas da guerreira. Isso já estava virando um hábito.

Chegaram em Cálcis no fim da tarde, foram jantar numa taberna. Ao ouvir a conversa entre dois viajantes, Xena se levanta e vai até a mesa deles. Depois de conversar um tempo com eles ela volta para a mesa onde Gabrielle estava acabando de comer a sobremesa.

–         Por essa eu não esperava!_ disse se sentando completamente largada na cadeira.

–         O que foi?_ perguntou a jovem lambendo os dedos.

–         Vamos ter que pernoitar aqui essa noite e teremos que voltar para a estrada e seguir por outro caminho, pois a estrada que nos levaria mais depressa para Cândia está completamente bloqueada.

–         E isso quer dizer o quê? Vai nos atrasar?

–         Já estamos com um dia de atraso, se lembra? Bem, agora acrescente dois ou mais dias de atraso.

–         Você acha que não chegaremos a tempo pro casamento?

–         Eu tinha feito um cálculo de chegarmos três ou dois dias antes do casamento. Se tivermos mais um imprevisto só chegaremos lá na noite de núpcias da sua irmã. E aí não seremos tão bem vindas, suponho._ disse Xena fazendo cara de sapeca.

Gabrielle ri, dizendo:

–         Se conheço bem a minha irmã, ela iria me bater. Ela tem um gênio e uma força! Eu que o diga.

Ao entrarem no quarto, Xena diz:

–         Gabrielle, eu estava pensando… Sei que você tem medo, mas eu vou estar ao seu lado e eu já lhe disse que não vou deixar que nada de mal lhe aconteça. Bem, o que eu estou querendo dizer é que chegaremos a tempo pro casamento se formos pelo mar.

–         Oh, não Xena, você prometeu que iríamos por terra.

–         Eu não vou te obrigar, apenas queria que você reconsiderasse…

–         Por favor, Xena, eu não quero ir.

–         Gabrielle…

–         Por favor, Xena…

–         Calma, meu bem, eu não vou obrigá-la.

O coração de Gabrielle disparou de felicidade ao ouvir ser chamada de “meu bem”. Disse tentando disfarçar o que sentia:

–         Eu sou uma decepção como princesa.

–         Não diga isso. Eu só queria saber porque você tem tanto medo assim do mar.

–         Se eu te contar você promete que não vai caçoar de mim?

–         Prometo.

–         Bem, é que eu… O meu estômago e o mar não se combinam… Eu… Eu passo a viagem toda… com o estômago revirando… vomitando…

–         Ah, então é isso!_ disse Xena divertida.

–         Você acha pouco! Eu estou falando sério, Xena, eu passo mal mesmo!

–         Mas comigo por perto não vai passar, eu prometo.

–         Não, Xena… Por favor…

–         Você confia em mim?_ perguntou num tom quase sedutor ao se sentar ao lado dela na cama.

–         Confio._ disse Gabrielle num fio de voz, perturbada com aquela situação.

–         Prove isso._ disse a guerreira ainda com o mesmo tom de voz.

–         Provar?_ perguntou a princesa custando em manter o olhar naquele olhar imensamente azul.

–         Façamos a viagem de barco, serão no máximo cinco dias até o porto de Poteidaia. Eu vou cuidar de você. Então?

Em resposta Gabrielle balança a cabeça concordando.

–         Boa garota._ disse Xena assanhando a franja de Gabrielle e pergunta: Que tal agora um banho nessa tina?

–         Estou mesmo precisando, preciso relaxar os meus nervos.

Xena teve vontade de arreliá-la um pouco, mas se conteve e foi preparar o banho. Verificou se água estava na temperatura ideal e percebeu que não tinha sais ou óleo para o banho, tirou da bolsa de montaria o pano de banho e ao pedir para Gabrielle trazer o sabão, viu que ela já havia se despido e que vinha se aproximando usando o pano de banho na frente do corpo. Imediatamente, Xena começou a se despir. Gabrielle aproveitou para entrar na tina, mas a guerreira a olhando de soslaio viu no exato momento em que ela tirou o pano ao entrar. Era realmente uma coisa linda de se ver, pensou a guerreira. Enquanto se despia, Xena percebeu que Gabrielle arriscava olhares demorados, sempre que ela não estava olhando. Sem dúvida que a princesa apreciava vê-la nua. E a guerreira não se fez de rogada, despiu-se demoradamente, tirava cada peça com intenção, mas sem olhá-la, queria provocar e acender o desejo naquela loura. E ao entrar na tina percebeu que Gabrielle estava com os cabelos molhados, perguntou:

–         Você lavou os cabelos?

–         Não resisti ao cheiro desse sabão que você comprou. É delicioso._ disse cheirando os próprios cabelos.

–         Me deixa sentir._ disse a guerreira se debruçando sob a princesa, cheirando-lhe os cabelos no alto da cabeça, deixando a mostra os peitos que ficaram na altura dos olhos da princesa.

Percebendo que Gabrielle prendera a respiração e que ficara perturbada com aquela aproximação, disfarçou dizendo:

–         É você tem razão, esse sabão é muito cheiroso, vou lavar também._ disse se inclinando a cabeça pra trás enquanto encolhia os joelhos para cima para poder mergulhar. Depois levantou a cabeça e começou a ensaboar os cabelos.

Gabrielle ainda não havia se recuperado e ainda estava perturbada com o acontecido, de ter ficado tão intimamente próxima àquela mulher que lhe despertava tamanho sentimento e paixão. Mesmo se sentindo extremamente feliz pela intimidade que conseguia compartilhar com ela, mesmo assim, lhe perguntou timidamente:

–         Quer que eu enxágüe os seus cabelos?

Xena vira as costas e se encolhe um pouco para que Gabrielle pudesse lavar os seus cabelos. Com estrema delicadeza a princesa começou a ensaboar aqueles longos cabelos negros. Massageou também com as pontas dos dedos o couro cabeludo da guerreira que, de olhos fechados, saboreava aquela sensação de carícia que estava sentindo. Chegou a se arrepiar no contato dos dedos da princesa em sua nuca. Então mergulhou a cabeça dentro d`água até tirar todo o sabão e também a tensão que a sua pele sentia.

–         Xena vamos ter que comprar alguma coisa pra viagem?

–         Apenas comida para nossas éguas.

–         Você comprou algum chá pra enjôo.

Xena riu antes de responder:

–         Na minha bolsa de montaria tem chá pra enjôo. Mas não será com chá que eu vou tratar de você.

–         Com o que então?

–         A água já está começando a ficar fria, vamos sair?_ disse Xena se levantando da tina.

–         Você não respondeu a minha pergunta._ insistiu Gabrielle se levantando e pegando logo o pano de banho.

Só depois que ajudou a princesa a sair da tina e ficando frente a frente com ela é que a guerreira diz com ar de mistério:

–         Gabrielle, eu tenho muitas habilidades, confie em mim.

No dia seguinte, bem cedo, após um rápido desjejum as duas embarcaram.

–         Vou acomodar as nossas éguas, leve as nossas coisas para a nossa cabine._ disse Xena e depois ficou olhando Gabrielle se afastar nitidamente tensa.

Ao entrar na cabine Gabrielle percebeu que só havia uma cama e que ela era muito estreita. Sorriu ao pensamento que lhe veio à cabeça que era: ela e a guerreira dividindo aquela cama. Então olhou pro lado e viu uma rede enrolada e pendurada na parede do barco, disse:

–         Mas não mesmo, vou tratar de esconder você.

Gabrielle tirou a rede do gancho e tentou colocar embaixo da cama, foi então que percebeu que a cama era pregada ao chão. Olhou ao redor e não encontrou nenhum esconderijo. Resolveu esconder debaixo do colchão. Depois que fez isso, sentiu que o barco estava se movendo. Sentou na cama, mas continuou a sentir o balanço do barco. Fechou os olhos e tentou se concentrar dizendo pra si mesma:

–         Gabrielle, você vai conseguir, é só se concentrar… Você não pode botar o desjejum pra fora… Oh, não!…

–         Já está se sentindo mal?_ perguntou Xena parada na porta.

Gabrielle abriu os olhos. Xena se abaixa na frente dela.

–         Oh, Xena… Eu juro que tentei… Mas, eu não estou conseguindo me concen…_ Gabrielle não conseguiu terminar de falar, pôs a mão na boca e saiu correndo pro convés.

Xena foi atrás dela e a viu debruçada na borda do barco. A guerreira toma-lhe o pulso, dizendo:

–         Calma, coração, que eu vou resolver isso agora mesmo.

E dizendo isso, Xena coloca o dedo na parte de dentro do pulso de Gabrielle comprimindo-o. A princesa salta um grito de dor e tentou puxar a mão. Xena teve que segurá-la com força, prendendo-a em seus braços até que a sentiu relaxar.

–         Passou!_ disse Gabrielle admirada e conclui: Xena, não estou sentindo mais vontade de… E nem precisei tomar nada.

–         Eu não lhe disse que eu tinha muitas habilidades…

–         Você é formidável!_ não fora só um elogio que a princesa fizera fora um desabafo.

A guerreira perdeu um pouco a pose e disse meio sem jeito:

–         Venha vamos sentar ali e apreciar essa manhã linda.

E durante toda manhã elas ficaram no convés conversando, se conhecendo melhor. E toda vez que a princesa começava a sentir náuseas, a guerreira lhe aplicava o ponto de compressão e recebia o mais lindo sorriso que já vira. E foi num desses momentos que Xena percebeu que já conhecia aquele sorriso, era como se isso sempre fizesse parte da sua vida.

–         O que foi?_ perguntou Gabrielle preocupada com a expressão tensa da guerreira.

–         Você já teve a impressão de que aquele momento que acabou de acontecer, já estivesse acontecido antes?

–         Com você também?! Então você também sente isso…_ disse Gabrielle surpresa.

–         Ultimamente.

–         Eu também.

Repentinamente, uma ficou olhando para a outra sem nada dizer, mas com tantas perguntas estampadas nas suas expressões. O badalo do sino do cozinheiro, chamando para o almoço, as tiram do transe.

Durante o almoço as duas continuaram caladas, cismadas em seus pensamentos. Ao terminar, Xena avisa:

–         Vou alimentar as nossas éguas.

–         Vou com você.

–         Não acho uma boa idéia você ir pro porão logo após comer.

–         Estou me sentindo bem, não se preocupe.

Depois que alimentou a sua égua, a princesa se encosta numa estaca. Sem puder falar e também com as mãos tampando a boca, procura ao redor algo. Xena que estava distraída ao escutar um barulho e um gemido, olha de imediato pra Gabrielle e a vê debruçada de joelhos vomitando dentro de um balde.

–         Gabrielle, por que você não avisou que estava se sentido mal?_ disse se aproximando e aplicando o ponto de compressão no pulso da jovem.

Mas a princesa nada disse, estava se sentindo envergonhada e a guerreira percebeu.

Assim que se sentiu melhor, Gabrielle diz:

–         Obri… Já estou bem, Xena.

–         Então vamos para a cabine._ disse a guerreira a levantando.

–         Primeiro eu vou limpar o balde._ disse constrangida.

–         Nada disso, é capaz de você passar mal de novo. Depois eu volto pra esvaziar o balde.

–         Oh, Xena, eu sinto muito pelo trabalho que venho lhe dando. Eu…

–         Não precisa se desculpar, Gabrielle, eu já te disse que passei um bom tempo vivendo no mar, eu estou acostumada a lidar com isso.

–         Foi quando você era a Destruidora?

–         Foi. Você presta mesmo muita atenção nas coisas que falo, na minha história da qual eu sinto vergonha.

–         Oh, Xena me desculpe por te lembrar disso.

–         Como eu disse agora a pouco, não precisa se desculpar, afinal você não falou nenhuma mentira.

–         O que eu não quero é te magoar.

A princesa falou com tanto sentimento que a guerreira ficou sem saber o que dizer e saiu.

Quando Xena retornou notou que Gabrielle estava muito quieta deitada na cama, se aproximou e chamou por ela. Mas Gabrielle não respondeu. Perguntou:

–         Gabrielle, você está se sentindo mal?

–         Não._ sussurrou a jovem.

Chegando perto Xena viu que ela havia chorado. Então se sentou na cama e disse:

–         Espero que não tenha sido por minha causa.

–         O quê?

–         Essas lágrimas que ainda estão nos seus olhos.

–         Oh, não, Xena. Eu chorei foi pela minha falta de sensibilidade.

–         Gabrielle, eu acho que está havendo uma contradição no quê você disse. Não conheço ninguém tão e mais sensível como você. Se você chorou é porque de alguma forma se magoou.

–         Não, foi porque eu magoei você.

–         Pode ter certeza, neném, que em nenhum momento você me magoou._ disse a puxando para si e colocando a cabeça dela nas suas pernas.

–         Não? Nem quando a chamei de…_ não conseguiu repetir a palavra.

–         Destruidora? Não, nem nesse momento. Gabrielle, você é a pessoa mais pura que eu conheço._ disse alisando os cabelos da princesa.

–         A mais boba, você quer dizer._ disse Gabrielle com o coração aos saltos de tanta felicidade pelos carinhos que recebia da guerreira e acrescentou: Vou ter muito que aprender antes de me tornar uma rainha. Pois quero ser uma boa e justa rainha.

–         Você será, garota, eu tenho certeza disso. Agora, levanta que eu vou te ensinar como controlar o enjôo.

Enquanto Xena ensinava a usar o ponto de compressão, Gabrielle se emocionava ao lembrar que mais uma vez a guerreira a tratou carinhosamente, momentos atrás a havia chamado de “meu bem” e “coração”. Há pouco a chamou de “neném” e havia ternura em sua voz. Seu coração quase não cabia no peito, principalmente agora ao vê-la assim tão preocupada em lhe ensinar como amenizar e parar a náusea.

Passaram a tarde conversando, era nítido, para ambas, que queriam se conhecer melhor, mais intimamente. Quando o sino toca novamente para o jantar, Xena se levanta, dizendo:

–         Quer que eu trague o seu jantar?

–         Não, vou com você.

–         Tem certeza que está bem?

–         Absoluta.

Xena a olha com dúvida, Gabrielle a tranqüiliza, dizendo:

–         Ao menor sinal de enjôo, eu aplico o ponto que você me ensinou.

No término do jantar, a pedido de um dos viajantes, Gabrielle contou uma história. E aí teve que contar outra história e mais outra. Xena percebeu que todos ali naquela sala e fora dela, nas janelas, os passageiros e tripulantes estavam interessadíssimos na narração daquela jovem, pequena e brilhante loura. Era como se emanasse claridade quando Gabrielle contava histórias. Aquela garota tinha nascido para isso, Xena constatou. Estava tão entretida em seus pensamentos, lembrando que a chamara de “meu bem”, “coração” e “neném”, e que tudo fora proposital, pois queria tocar fundo naquela garota. Na verdade, ela estava pondo em prática o seu plano de conquistá-la, queria aquela garota como nunca desejou alguém antes. Ela sabia que a jovem princesa estava interessada em alguém que nem sabia dos sentimentos dela. Resolveu que iria fazer com que a princesa esquecesse esse alguém que ela pensava que amava, mas que poderia ser só uma ilusão ou fantasia. Para isso teria que conquistá-la, seduzi-la. E era isso que ela estava fazendo. Esse era um jogo de sedução que iria ser colocado em andamento aquela noite, pois percebera que de alguma forma e jeito, perturbava a princesa, que vira no olhar dela em várias ocasiões que ela também a desejava. Estava tão entretida nesses pensamentos que quase se assustou quando Gabrielle a tocou.

–         Não estava prestando atenção na minha história._ disse Gabrielle um pouco sentida.

–         Desculpe, mas é que essa história eu vivi. Estava prestando atenção nas expressões do seu público._ disse se levantando.

–         Meu público?_ perguntou baixinho, a seguindo.

–         Gabrielle, você ainda não percebeu, mas você é uma contadora de histórias, uma barda.

–         Você acha mesmo?

–         Tenho certeza.

Tanto Xena quanto Gabrielle não souberam explicar, a impressão que tiveram, de aquela cena e aquele diálogo já terem acontecido.

Somente quando entraram na cabine foi que Xena viu o pequeno pote na mão de Gabrielle. Pergunta:

–         O que tem aí?

–         Eu ganhei. Foi um dos comerciantes que me deu por ter gostado das histórias que contei.

–         E o que tem aí? Você não disse.

–         Mel.

–         Mel?

–         Sim, você gosta?

–         Muito.

–         Você quer?

–         Quero.

Gabrielle pega a caneca e a entrega pra Xena, depois tenta tirar o pedaço de sabugo de milho que tampava o pote sem conseguir. Xena se oferece para abrir, mas ela não desiste de tentar, sem sucesso.

–         Me dá aqui, Gabrielle.

–         Não, eu posso fazer isso.

–         Não seja teimosa.

–         Não é teimosia, eu posso abrir.

–         Não é o que está parecendo. Eu tenho mais força.

–         Para abrir isso aqui não precisa força e sim jeito.

E Gabrielle travou uma luta tentando abrir aquele pote. O que parecia ser um ato simples de desarrolhar passou a ser um extremo esforço. A princesa não queria dar o braço a torcer admitindo que a guerreira estava certa que para tirar aquela rolha dali só à força mesmo. Xena se impacienta, se aproxima e tenta tirar o pote das mãos dela. Porém, ao recusar entregá-lo para a guerreira, Gabrielle ao puxar o recipiente consegue abri-lo, contudo melando toda a mão direita. Disse:

–         Olha só o que você me fez fazer?

–         Eu?!_ exclamou Xena apontando com a mão o próprio peito e contendo a vontade de rir.

–         Dá pra você encher de água aquela bacia?

–         Pra quê?

–         Ora, pra eu lavar a minha mão que está toda melada.

–         E desperdiçar todo esse mel? Mas não mesmo!_ e após dizer isso, Xena segura a mão de Gabrielle e a leva até a boca. Primeiro passou a língua lambendo o excesso do doce que ia do pulso até a palma da mão.

Gabrielle quase derrubou o pote que segurava na outra mão. Fingindo não perceber, Xena começa a lamber os dedos, um por um, sugando-os. Passou a língua entre os dedos de uma maneira como se saboreasse não só o mel como o que o conduzia, aquela mão tão delicada e tão doce como o próprio néctar. Mesmo sem que nenhuma vez tenha olhado para Gabrielle, Xena tinha noção de todo o movimento e do que estava causando nela. Sabia que o olhar de Gabrielle estava fixo no que a sua boca fazia, ela podia sentir isso até de olhos fechados. Após sugar todo o mel e de deixar a mão dela praticamente limpa, Xena diz:

–         Estou satisfeita. Bem, vou dormir.

E Xena foi até a cama. Enquanto se despia notou que a princesa estava paralisada, que não saíra do lugar, sorriu pra si mesma. Deitou de bruços e puxou a coberta até a cintura, deixando as costas descobertas. Pela sombra da princesa refletida na parede do barco, Xena viu que a deixara completamente desnorteada, pois ela andava de um lado para o outro como sem saber o que fazer. Depois se deitou ao seu lado. Xena fingiu que estava dormindo. Durante um bom tempo, pela movimentação ao seu lado, Xena sentiu que Gabrielle tinha perdido o sono e ela se deliciou com isso. Dormiu sorrindo.

Na manhã seguinte, ao despertar, Xena sentiu que Gabrielle fizera, novamente, as suas costas de travesseiro e de novo o mal-estar de sentir que já vivera aquele momento antes, não durante essa viagem como já havia acontecido, mas em um outro tempo, outra época. Levantou devagar, com cuidado para não acordar a princesa. Vestiu seu traje de couro e saiu. Retornando depois com uma bandeja com duas canecas de leite, pão, geléia e frutas. Colocou a bandeja em cima da pequena e estreita mesa. Antes de acordar a princesa, fica em pé, parada, a contemplando. Gabrielle estava de bruços, com o rosto no travesseiro que ela a pouco dormira. Xena se debruçou sobre ela para tirar uma mecha de cabelo que lhe impedia de ver melhor o rosto dela. Segurou um pouco a mecha entre os dedos sentindo a maciez daqueles cabelos dourados. E num impulso incontrolável se debruçou mais um pouco e encostou os lábios nos lábios dela num suave e breve beijo. Gabrielle esboçou um sorriso. A guerreira se afasta rapidamente, ao mesmo tempo em que a princesa abre os olhos. Parecendo confusa por ver a guerreira parada e sorridente a sua frente, Gabrielle diz:

–         Xena…

–         Quem mais poderia ser.

–         Não é bem isso o que eu quis dizer.

–         Então diga.

–         Você… Faz tempo que você está parada aí?

–         Só o tempo de te acordar. Por quê?_ a guerreira pergunta se fazendo de inocente.

–         Nada, nada. É que eu tive a impressão… Deixa pra lá, acho que sonhei.

–         Então se levanta que eu não gosto de comer sozinha._ disse indo para a mesa.

Gabrielle se sentou na cama, estava completamente confusa. Será que tinha sido um sonho? Pensou ela. Enquanto vestia o top por baixo da roupa de dormir, passou a mão na boca e pensou: “Será que fora realmente um beijo? Será que eu estava mesmo sonhando?” Talvez jamais saiba. Despertou dos seus pensamentos com a guerreira a chamando para comer. Levantou, vestiu a saia, tirou a roupa de dormir, banhou o rosto na pequena bacia, ajeitou os cabelos com os dedos e foi para a mesa.

–         Puxa até que enfim!_ disse Xena.

–         Bom dia.

–         Estou vendo que só agora você despertou, sua dorminhoca. Aproveite que o leite foi ordenhado da cabra agora a pouco e está quentinho._ dizendo isso, Xena despeja o leite na caneca de Gabrielle.

–         Você quer o seu pão com geléia?_ perguntou Gabrielle.

–         Não, com mel._ respondeu a guerreira olhando intensamente para a princesa.

Gabrielle desviou o olhar e pegou o pote de mel e com uma colher começa a besuntar a fatia de pão.

–         Gabrielle me diga uma coisa: por que você usa roupa de dormir de algodão, já que você não é mais uma camponesa?

–         Ahn?_ Gabrielle não entendera bem a pergunta, ainda estava atordoada.

–         Já que você é uma amazona, devia usar o mesmo que elas.

–         Usar?! Mas as amazonas dormem quase nuas!

–         Eu sei, por isso que eu durmo assim.

Gabrielle não soube o que dizer. Agora ficara ainda mais confusa com aquela conversa e principalmente com o ocorrido da noite anterior. Sentiu que a sua cabeça tinha dado um nó.

–         Você não gosta da minha roupa?_ perguntou a princesa.

–         Não é que eu não goste, mas é que ela não lhe faz jus. Se estivéssemos em Atenas ou Corinto, eu iria comprar uma roupa digna de você.

Gabrielle sorriu envaidecida e encantada com as palavras da guerreira.

Durante três dias, Gabrielle sentia que estava concretizando aos poucos o seu sonho. Entre ela e Xena estava havendo um namoro, disfarçado, porém repleto de carinho.

No quarto dia, à noite, quando estavam deitadas, Xena pergunta:

–         Como é o nome dela?

–         Dela quem?

–         Da garota que você gosta e com quem vai se encontrar lá em Poteidaia.

Gabrielle não sabe o que dizer. Xena nota e diz:

–         Bem, se não quiser falar, tudo bem. Era apenas uma curiosidade.

Gabrielle suspirou aliviada. Como ela iria dizer pra guerreira que sua amada se chama Xena, um nome bastante incomum, sendo que ela era a única que conhecia. Fechou os olhos para dormir, mas os abre logo a seguir quando Xena lhe diz:

–         Depois de amanhã chegaremos ao porto de Poteidaia.

–         Já? Quero dizer, que das outras vezes demorou mais.

–         Claro, vocês foram por terra.

–         Então vamos chegar no dia do casamento.

–         Se estivéssemos pego o barco no início da viagem, já teríamos chegado lá há dias.

–         Eu não me arrependo, achei que a viagem valeu a pena.

–         Por quê?_ perguntou Xena se virando para ela.

–         Porque nos conhecemos melhor, ficamos amigas, não ficamos?_ disse Gabrielle que estava de frente para ela desde o início da conversa.

–         Somos sim._ respondeu Xena olhando de perto aqueles olhos verdes que brilhavam muito naquele momento. Perguntou: Quanto tempo você quer ficar em Poteidaia?

–         Por quê?

–         É que estou pensando em ir para Amphipolis.

–         Você vai visitar a sua mãe?

–         Não, ela não quer me ver. Vou ver o meu irmão Toris. Há anos que a gente não se vê.

–         Quero ir com você.

–         Mas você não vai passar uns dias com a sua família?

–         Você não pode ficar um dia comigo lá?_ perguntou docilmente.

–         Pensei que você quisesse ficar sozinha com a sua família e tentar conquistar a tal garota.

–         Se isso tiver que acontecer, acontecerá._ disse Gabrielle num pequeno sorriso.

–         Essa garota deve ser realmente idiota.

–         Ela não, eu é que sou. Ela não sabe o que eu sinto por ela.

Xena se irritou com o que ouvira e por Gabrielle ter defendido quem ela gostava. Disse secamente se virando de costas para ela:

–         Boa noite, Gabrielle.

–         Boa noite, Xena._ e desta vez foi a princesa que dormiu sorrindo.

Amanhecera. As duas acordam, fazem o desjejum e depois vão para o porão cuidar das suas éguas.

–         A única coisa errada que esse barco tem é não ter uma tina decente para que pudéssemos tomar um banho relaxante.

–         Pior de tudo é tomar banho naquele cubículo que eles chamam de reservado e com água salgada. Vou chegar pro casamento cheirando a maresia.

Xena ri e diz:

–         Não se preocupe com isso, porque antes de irmos para a sua aldeia, podemos tomar um banho naquela hospedaria do porto, lá tem uma casa de banhos.

–         Bem lembrado, Xena. Seria péssimo chegarmos do jeito que estamos, Lila ia ter um troço.

–         Eu não acho que você esteja cheirando mal.

–         Nem você está. Porque usamos um sabão muito cheiroso que você comprou.

–         Pode ser, mas ainda digo que você tem um cheiro muito bom.

Gabrielle se ruborizou até as orelhas. Xena fingiu que não viu.

Naquela noite, depois do jantar, Xena avisa a Gabrielle:

–         Enquanto você conta as suas histórias, eu vou alimentar as nossas éguas.

–         Eu notei que você fica sem jeito quando conto as suas aventuras na sua frente._ disse Gabrielle divertida por ver a guerreira arranjar sempre uma desculpa.

Xena não diz nada apenas balança a cabeça como quisesse dizer que aquela garota não tinha jeito mesmo e sai.

Gabrielle já havia contado várias histórias e nada da guerreira aparecer. Ao término da última história, se despediu dos ouvintes e saiu atrás de Xena. Ao chegar no convés a viu de costas debruçada no parapeito olhando o mar.

–         Oi._ disse ao se aproximar e ficando ao lado dela, também apreciando a linda noite.

–         Cansou de contar histórias?_ perguntou Xena sem olhá-la.

–         Cansei, mas aquela turma lá não se cansa.

          Xena ri e faz um afago na mão de Gabrielle que estava ao lado da sua no parapeito do barco. Depois voltou a colocar a mão no parapeito. Gabrielle tomada de uma coragem repentina pousou a sua mão na mão de Xena entrelaçando os seus dedos nos dedos dela. Surpresa, Xena a olha de soslaio e com intenção aperta-lhe os dedos. E Gabrielle afaga-lhe a costa da mão com o polegar. Xena sentiu uma vontade de passar o braço ao redor da cintura ou pelos ombros dela, mas freou o impulso, não queria assustá-la, queria conquistá-la e para isso tinha que ser cautelosa.

–         Está uma noite magnífica!_ disse a guerreira a olhando de soslaio.

–         O céu está estrelado. Que noite linda!_ disse Gabrielle encostando a cabeça no ombro da guerreira.

–         Está com sono?_ perguntou para desviar a perturbação que aquela proximidade lhe causava.

–         Um pouquinho só. Mas não queria dormir agora, pois essa é a nossa última noite e uma noite tão maravilhosa que nem essa nós temos que aproveitar._ disse sem desgrudar do ombro e da mão da guerreira.

–         Pensei que você estivesse ansiosa pra chegar em Poteidaia._ disse disfarçando.

–         Nem um pouco, quero dizer, tem sido uma viagem tão fascinante que eu não queria que fosse tão curta.

–         Ora veja, pra quem não queria viajar de barco…

–         Não estou falando da viagem em si, mas da companheira de viagem.

–         Quem eu?!_ Xena realmente se surpreendeu com o que ouvira.

–         Você mesma, guerreira. Você tem sido uma companheira maravilhosa.

–         Você que é maravilhosa.

–         Ah, Xena, eu estou falando sério.

–         E eu nunca fui tão sincera, Gabrielle. Você é realmente é uma pessoa muito especial.

Gabrielle olhou para Xena que a olhava de lado. Tomada novamente de coragem, diz:

–         Se eu que sou uma simples camponesa que se tornou por obra do destino numa Princesa Amazona, de alguma forma eu devo ser especial para que uma guerreira como você me diga isso.

–         Gabrielle, você não é uma simples camponesa. Você é uma barda, poeta, um ser humano acima da nobreza. Você vai ser a rainha mais bondosa e justa, pode ficar certa disso.

A princesa sorri franzindo o nariz e abaixando o olhar. Xena fica novamente cismada, sentiu mais uma vez que já vira esse sorriso antes… em outra época, outro lugar. Sem conter o impulso puxou Gabrielle pra si, envolvendo-a pela cintura e deu-lhe um beijo no topo da cabeça dela. E, novamente, o incômodo de sentir que esta cena também já se passara.

–         Que coisa estranha, Xena, por um momento tive a impressão que… que esse momento já havia acontecido._ disse Gabrielle.

–         Então você também sentiu isso… E não é a primeira vez que nós duas temos a mesma sensação. Eu não sei o que está havendo, mas que alguma coisa está acontecendo, está._ disse Xena olhando para cima.

–         Sabe o que eu acho? Eu acho que a gente já se conhece de vidas passadas.

–         É o que eu acho também. Desde que eu te conheci tem-me acontecido “lembranças” que eu não vivi nesta vida.

–         Sabe o que quer dizer isso?

–         Diga.

–         As pessoas que possuem as mesmas lembranças que viveram juntas em outras vidas são… almas gêmeas._ disse Gabrielle com o coração aos saltos.

Xena a olha indagativa e diz:

–         Será?

–         Você não sente isso?

–         Vamos entrar, está esfriando._ disse Xena caminhando na frente.

Assim que entraram na cabine, Gabrielle interrompe o silêncio, perguntando:

–         Você não respondeu a minha pergunta.

–         Achei que não precisava. Está tão evidente.

–         Gostaria que você respondesse assim mesmo.

Xena se sentou na cama, cruzou as pernas, colocou a mão esquerda na cintura e o braço direito encostado na coxa direita, pensou um pouco e disse:

–         Não sei o que está havendo, se são cenas passadas ou cenas futuras, só sei que mexem comigo.

Gabrielle se senta ao seu lado e pergunta:

–         Isso a perturba?

–         Muito._ respondeu Xena seriamente.

Gabrielle se decepciona com o tom de voz de Xena que parecia aborrecida. Abaixando os olhos, diz:

–         Sinto muito por irritá-la de uma forma involuntária.

–         Mas eu não disse isso. Eu falei que fico perturbada de outra maneira.

–         Que maneira?_ o coração de Gabrielle tornou a disparar.

Xena a olha bem dentro dos olhos e diz:

–         Vamos mudar de assunto?

–         Não. De que maneira?_ insistiu Gabrielle lhe segurando o braço.

–         É como se eu te conhecesse a vida inteira.

–         Eu também sinto isso.

Xena pressentia o perigo daquela proximidade e sabia muito bem que não resistiria à vontade de beijar aquela garota, pois a pouco, no convés, quase a beijara. Porém, o suave perfume que exalava da pele e dos cabelos dela, a inebriavam. E o aroma doce que exalava daqueles lábios a entorpeceu.

–         Gabrielle…_ a guerreira tentou dizer mais alguma coisa, porém não conseguiu.

–         Xena…_ sussurrou a princesa.

Os nomes foram ditos num mesmo tom, na mais pura emoção. Ambas se olhavam dentro dos olhos, procurando por respostas para as suas próprias indagações. Gabrielle continuava segurando o braço de Xena, sentiu vontade de fazer uma carícia, mas temeu que esse gesto quebrasse o encanto daquele momento. Sentia ao seu ouvido a batida descompassada do seu coração. Mal conseguia respirar. Por um momento pensou que fosse desfalecer tamanha a emoção que sentira ao ver os lábios de Xena se aproximarem dos seus. Fechou os olhos e entreabriu os lábios. Sentiu primeiro o hálito quente e logo a seguir os lábios poderosos e macios invadirem a sua boca numa busca frenética e ela se deixou invadir por uma língua que dominou a sua e a tocou de um jeito que ela nunca imaginou que um beijo pudesse ser assim. Abandonou-se completamente àquela carícia. Quando ia retribuir, sentiu as mãos da guerreira afastando o seu rosto, os lábios dela dos seus.

–         Sinto muito, Gabrielle, eu sou uma inconseqüente.

Ainda bastante emocionada e agora surpresa com o que ouvira, Gabrielle queria falar, mas não conseguia sequer se mexer.

–         Prometo que isso não vai acontecer mais._ disse Xena se levantando e conclui: Vou dormir aqui no chão.

–         Xena…_ foi só o que Gabrielle conseguiu dizer tamanha a comoção que se acometia.

–         Não diga nada, Gabrielle._ disse pegando o seu cobertor.

Gabrielle se aproxima e antes que Xena pudesse jogar o cobertor no chão, a impede lhe segurando a mão.

–         Você não vai dormir aí.

–         Entendo. Vou dormir onde Argo está._ disse tentando puxar o cobertor.

Puxando o cobertor com força Gabrielle diz:

–         Vem dormir Xena.

–         Gabrielle, eu não posso… Quero dizer, eu não devo, não depois do que houve.

–         Mas é justamente por isso que você deve._ Gabrielle estava surpresa com ela mesma por tomar a iniciativa.

–         Gabrielle, você está insinuando que…

Gabrielle não diz nada apenas fica olhando para ela fascinada, que não deixava mais nenhuma dúvida em Xena, mas que mesmo assim perguntou:

–         Você quer que eu durma com você?

–         Sim.

–         Sabe o que vai acontecer? Eu não vou conseguir me dominar.

–         Sei._ quase sussurrou.

–         Você me quer?

–         Quero._ a voz saiu completamente rouca.

 Xena custou a acreditar no que acabara de ouvir. Olhou-a indagativa por uns instantes, depois foi se aproximando lentamente, ainda estava em dúvida se a garota realmente entendeu a sua intenção. Quando ficou frente a frente com ela, viu-a novamente fechar os olhos, esperando que a beijasse. A guerreira não teve mais dúvida, sem puder resistir a puxou para si a envolvendo toda em seus braços. Passado um instante sem que nada acontecesse, Gabrielle abre os olhos e vê que Xena a olhava percorrendo com os olhos cada traço do seu rosto. De repente se sentiu invadida por aquele olhar infinitamente azul que se aproximou até que seus lábios se uniram num beijo de ardorosa paixão. Era mais do que um beijo, era uma troca de sentimentos, de carícias, de reconhecimento de quem já tinham se pertencido talvez em outra época, em outras vidas ou apenas em sonho.

Xena constatou que Gabrielle também a queria, pois a beijava com paixão. Enquanto a beijava, Xena desceu com a mão e rodeou a cintura desnuda de Gabrielle, acariciando-a. E, a princesa, com os braços envoltos em seu pescoço, afagava-lhe a nuca e os cabelos. Xena então desceu com a boca aberta em beijos sugadores até a mandíbula esquerda de Gabrielle, depois lhe mordiscou o queixo e foi descendo o pescoço em beijos ardentes. As mãos da guerreira agora procuraram a frente do top da princesa, quando começou a desamarrar, as duas escutaram gritos e tilintar de espadas vindo do convés. Rapidamente Xena pega a espada, dizendo:

–         Fique aqui, eu vou lá ver o que está acontecendo.

Assim que Xena saiu, Gabrielle entrelaça novamente o cordão da frente do top, sorri lembrando do tão sonhado acontecimento. Pega o cajado e vai atrás da guerreira.

Quando chegou ao convés, viu Xena lutando com vários homens. Levantou o cajado e partiu pra cima de dois homens que tentavam atacar a guerreira pelas costas, derrubando-os com golpes certeiros. Depois ainda conseguiu colocar fora de ação mais dois bandidos que tentaram atacá-la. Nisso, Xena consegue dominar os outros bandidos, se aproxima de Gabrielle, dizendo:

–         Bom serviço. Gostei de ver como maneja esse cajado.

Gabrielle apenas sorri, orgulhosa com o elogio.

O capitão do barco, com o rosto sangrando, se aproxima das duas, dizendo:

–         Não sei como eu e minha tripulação poderemos agradecer a vocês por nos salvarem. Esses piratas têm agido por essas bandas roubando as mercadorias, levando o barco e não deixando testemunhas que pudessem denunciá-los. O que vocês querem? Podem pedir.

–         Nós queremos cordas para amarrar esses canalhas antes que acordem._ respondeu Xena.

O capitão manda um dos seus homens buscar as cordas e depois se dirigindo a Gabrielle, comenta:

–         Então, além de ser uma excepcional contadora de histórias você também luta?

–         Ela é minha ajudante._ antecipou-se em responder Xena.

Gabrielle sorriu. Depois se aproximando de Xena, diz baixinho:

–         Então eu sou sua ajudante?

–         Fiquei com receio que você dissesse quem é._ disse no mesmo tom de voz.

–         Obrigada.

–         Pelo quê?

–         Por me proteger.

–         Eu não estou aqui para isso? Mas a verdade é que eu não quero que nada de mal lhe aconteça.

–         Com você por perto, isso não vai acontecer.

–         Você confia tanto assim em mim?

–         Completamente.

Xena ia dizer mais alguma coisa, quando o capitão, bastante preocupado, se aproxima delas, dizendo:

–  Não temos lugar onde colocar esses homens. Muitos dos passageiros e até alguns dos meus tripulantes que foram espancados, querem acabar com a raça deles. Como capitão eu não posso permitir que isso aconteça. Por isso, estou pedindo mais uma vez a ajuda de vocês para que tomem conta deles até amanhã.

Xena olhou pra Gabrielle e respondeu:

–         Tudo bem, ficaremos aqui vigiando.

–         Agora estou mais tranqüilo. Com vocês duas aqui não haverá mais confusão._ disse o capitão se retirando, agora, bastante aliviado.

Após verificar, um por um dos bandidos, se estavam bem amarrados e desacordados, Xena se aproxima de Gabrielle, dizendo:

–         Não era isso que eu tinha em mente hoje à noite para nós duas.

–         Amanhã, depois do casamento de Lila, teremos todo o tempo do mundo.

–         O casamento não é à tarde?

–         É.

–         Então, vamos ter um bom tempo antes disso._ disse a olhando tão ardentemente, que a princesa desviou o olhar, meio desconcertada.

Notando, Xena faz uma carícia, com a mão, no rosto de Gabrielle.

–         Xena, você pensou que eu ia dizer pro capitão que eu sou uma amazona?_ perguntou baixinho.

–         Eu tive receio que você pudesse falar a verdade, então respondi logo. Se, ser uma amazona já é perigoso, imagina ser uma princesa amazona…

–         Por que as pessoas odeiam tanto as amazonas?

–         Tem uma longa história por trás de tudo isso. Porém, grande parte dessa culpa e dessa perseguição, deve-se aos romanos que puseram as cabeças das amazonas a prêmio._ contou Xena.

–         A Rainha Melosa sempre nos aconselha a nunca dizermos ou nos apresentarmos como realmente somos.

–         A Rainha Melosa é uma rainha sábia. Agora quero que você tire um cochilo, se não você vai dormir na cerimônia. Eu também vou dar uma cochilada, sentada ali atrás da porta pra impedir que alguém entre, pois esses piratas de água doce vão ficar um bom tempo desacordados.

–         Uau! Nós duas batemos mesmo neles pra valer!_ disse com entusiasmo.

–         Se foi!_ disse Xena rindo.

Instantes depois, enquanto Gabrielle dormia com a cabeça por cima dos braços debruçada sobre a mesa, Xena estava sentada numa cadeira atrás da porta, pensando. Lembrou o quanto ela fora desagradável com aquela jovem princesa, chegando mesmo a maltratá-la sem ao menos ter motivo para isso. E, ainda, tinha aquela sensação de terem vivido, de terem se conhecido em outra época. Isso a incomodava porque não sabia como resolver ou descobrir de onde vinha isso. Ficou cismando a noite toda, revivendo os momentos em que isso aconteceu, querendo desvendar o fio da meada.

–         Xena, você ainda não deu um cochilo?

A voz de Gabrielle a tirou dos pensamentos, respondeu:

–         O que foi?

–         Aposto que nem escutou o que eu falei agora. Estava me olhando, mas estava longe.

–         Eu estava te namorando._ disse Xena agora a olhando mesmo.

–         Acho melhor você dormir um pouco e eu ficar atenta._ disse Gabrielle desviando o olhar daqueles olhos penetrantemente azuis.

Fora uma madrugada longa, muito cansativa. Xena pra agradar a princesa fingiu tirar um cochilo, mas estava mais atenta do que estava com os olhos abertos. Percebeu todo o movimento de Gabrielle, sentira o olhar dela quando estava a uma certa distância e quando ela se aproximou, julgando que ela estivesse realmente dormindo e parou quase na sua frente. Teve vontade de abrir os olhos, mas deixou que ela tivesse esse momento de zelar pelo sono da amada. Ao pensar nisso, que ela era a amada, Xena teve que conter o sorriso que queria brotar de seus lábios. Esperou mais um tempo e fingiu acordar e mandando que Gabrielle cochilasse mais um pouco, porém a princesa não conseguiu, acordara duas vezes sobressaltada, então resolveu ficar acordada fazendo companhia pra guerreira.

–         Já estamos chegando, Gabrielle. Estou sentindo o cheiro de terra.

Gabrielle correu para o convés, depois voltou e disse:

–         Você tem razão, já dá pra avistar a terra. Mas o cheiro… Eu não estou sentindo não.

–         Com o tempo você vai sentir.

–         E agora o que a gente vai fazer?

–         Primeiro vamos ajudar o capitão levar esses bandidos e depois vamos fazer um desjejum na taberna e então iremos para a sala de banho.

–         Eu nem conheço a sala de banho. Você já esteve lá?

–         Sim, já estive lá. É muito limpo, sossegado e tem uma espécie de tina de pedra muito repousante. E o melhor, vai dá para a gente namorar.

Gabrielle não conseguiu sustentar o olhar, a guerreira a intimidava.

Assim que ancoraram e levaram os bandidos para a cadeia, a princesa e a guerreira foram para a taberna.

–         Esse leite de cabra está uma delícia, como eu gosto._ disse Xena.

–         Já experimentou esses bolinhos?_ perguntou e ofereceu Gabrielle com a boca cheia.

Xena riu do apetite incontrolável da princesa.  E então lembrou que, quando comentou com Solaris a preocupação dela com o retiro da princesa de que ela saísse de lá fraca e magrinha e a amazona lhe dissera com convicção que isso não aconteceria com a sua princesa, só agora que ela entendeu a insinuação ao apetite de Gabrielle. Sorriu, aquela garota também era muito engraçada.

–         Está rindo de novo, de quê agora?

–         Como você presta atenção em mim!

–         Não deveria? Não posso?

–         Você pode tudo, neném.

Novamente aconteceu. Pela expressão de espanto de Gabrielle, Xena lhe afirma:

–         Eu também senti de novo aquela sensação.

–         O que está acontecendo, Xena?

–         Não sei. Isso está me deixando louca.

–         Eu também.

–         GABRIELLE!

As duas se viram na direção da voz.

–         Ephiny!_ exclamou Gabrielle se levantando.

–         Minha Princesa._ disse a amazona ao ouvido dela.

–         Ephiny, o que você está fazendo aqui? Aconteceu alguma coisa?_ perguntou preocupada, alterando a voz.

–         Não, não aconteceu nada. Mas pelo que vejo você AINDA não tomou conhecimento que esqueceu algo._ disse Ephiny que enquanto falava olhara de uma para a outra.

–         Eu esqueci algo? Mas o que foi que eu esqueci?

–         Gabrielle o que você veio fazer aqui?

–         Eu vim para o casamento da minha irmã e… O presente! O presente de Lila, eu acho que o esqueci lá na aldeia… Mas não consigo me lembrar onde eu o deixei.

–         Deve ter sido quando você entrou na cabana para pegar o cajado, deve ter colocado o saco de jóias em cima da cama e o deixou lá.

–         E quem o achou?

–         Uns dias depois que vocês partiram a Rainha Melosa ao entrar na sua cabana, viu o saquinho em cima da cama. Antes que eu me esqueça, ela mandou dizer que o pequeno baú de jóias de Terreis agora é seu. Era isso o que ela levou pra sua cabana e graça a isso que ela me mandou a tempo de trazer o presente de casamento. Já estou aqui em Poteidaia há três dias. Onde vocês estavam?

Antes de responder Gabrielle deu uma rápida olhada pra Xena, que estava visivelmente contrariada.

–         É uma longa história, Ephiny.

–         Nós temos bastante tempo até a cerimônia de casamento._ disse Ephiny.

Gabrielle deu outra olhada pra Xena que estava de braços cruzados, tamborilando os dedos da mão direita no braço esquerdo e com as sobrancelhas franzidas. Disse:

–         Tá, só que nós não vamos agora para a minha casa.

–         E pra onde vão?_ perguntou Ephiny.

–         Não sei se você notou, mas nós não estamos apresentáveis, queremos tomar um banho, nos arrumar…

–         E pra onde vão?_ insistiu Ephiny.

–         Vamos para a casa de banho.

–         Vou com vocês. Assim, enquanto vocês se lavam, a gente conversa.

–         Era só o que faltava!_ disse Xena jogando o pano na mesa, após limpar a boca.

–         O que é que há com ela?_ perguntou Ephiny depois que a guerreira se levantou e foi pagar a conta no balcão.

–         É que nós queríamos ficar sozinhas.

–         Vocês já não ficaram sozinhas o suficiente?

–         Não como agora.

–         Gabrielle o que está havendo?

–         A gente está namorando, Ephiny.

–         O QUÊ?!_ disse a amazona aumentando a voz.

–         Fale baixo Ephiny, por favor._ pediu a jovem princesa olhando para os lados e percebendo que estavam chegando mais viajantes. Avisa: Acho melhor a gente sair daqui.

Xena faz sinal com a mão para saírem e Ephiny aproveita que Gabrielle estava recolhendo as bolsas e o cajado, vai atrás de Xena e a alcança quando ela estava pegando as rédeas de Argo, diz:

–         Olha aqui, se você abusou dela…

Xena a encara, dizendo:

–         Eu jamais abusaria de Gabrielle.

–         Acho bom que seja verdade._ disse a amazona a encarando também.

–         E se não for?_ provocou Xena.

–         O que você fez com ela?_ erguendo mais a cabeça pra encarar melhor a guerreira que era bem mais alta.

–         Não fiz nada que ela não tenha consentido.

Gabrielle se interpõe entre elas, dizendo:

–         Ephiny, Xena e eu estamos namorando.

–         Gabrielle, ela a seduziu!

–         Ainda não._ disse Xena olhando para a Gabrielle que sorriu para ela.

Ephiny olhou pra Gabrielle de tal maneira que a princesa se sentiu sendo repreendida como se tivesse feito algo errado. Gabrielle tenta abrandar a amiga, dizendo:

–         Ephiny venha com a gente até a casa de banho, que lá a gente conversa melhor.

Na casa de banho.

–         Vai ficar aí olhando a gente se despir e se banhar?_ perguntou Xena tirando a armadura e os adereços.

–         Por quê, isso a incomoda?_ disse Ephiny sentada num banco em frente à tina de pedra.

–         Incomoda sim._ respondeu a guerreira asperamente.

–         Garotas, não briguem, por favor!_ pediu a princesa de uma maneira tão doce que as duas obedeceram e em troca receberam um lindo sorriso.

Um silêncio inesperado se fez, mas foi logo interrompido quando Xena pediu pra Gabrielle que lavasse as suas costas. Então Ephiny pode perceber que os modos e o olhar duro e frio daquela guerreira se transformaram em carinhos e brilhavam de ternura quando olhava para a princesa. A amazona teve que reconhecer que a guerreira estava mesmo apaixonada.

Quando terminaram e estavam se enxugando, Ephiny diz pra Xena:

–         Gostaria de ter uma conversa com você.

–         Fale._ disse ríspida a guerreira.

–         Aqui não, eu quero conversar em particular com você.

Xena se impacientou, embora não dissera nada. Gabrielle percebendo, diz:

–         Não quero que vocês duas briguem. Principalmente por minha causa.

–         Eu não vou brigar, Gabrielle. Eu quero fazer as pazes com Xena.

–         É mesmo? Que bom, Ephiny! Bem, então vou ver as nossas éguas, enquanto vocês conversam._ e antes de sair sussurra ao ouvido da guerreira: Dê uma chance a ela. Tenho certeza que vocês ainda serão grandes amigas.

Surpreendida Xena ficou olhando Gabrielle se afastar, quando Ephiny lhe diz:

–         Agora eu sei que você ama Gabrielle. Acho que podemos tentar ser amigas.

Xena olha bem dentro daqueles olhos castanhos-esverdeados e diz:

–         Pensei que você não gostasse de mim porque ama Gabrielle.

–         Eu poderia dizer que amo Gabrielle como se fosse a minha irmã caçula, mas não é só isso, outro dia conversaremos sobre isso. Agora tenho um pedido de amiga zelosa da princesa e futura amiga sua.

–         Peça.

–         Gabrielle, embora seja uma princesa amazona e tenha muitas amigas, ainda é uma menina. Entendeu?

Xena percebendo a intenção das palavras de Ephiny, responde:

–         Perfeitamente. Nem precisa ser mais clara, eu já havia notado.

–         Então, o que eu tenho a lhe pedir é que você seja delicada com Gabrielle. Vá com calma.

Mesmo sentindo vontade de rir do zelo daquela amazona, Xena se contém e diz:

–         Eu amo Gabrielle. Não vou fazer nada que ela não queira.

–         Eu me enganei com você, fico feliz por isso.

E antes que Ephiny saísse, Xena a segura pelo braço e lhe diz:

–         E eu fico feliz por saber que Gabrielle tem uma amiga como você.

–         Uma?! Aquela garota tem dezenas de amigas.

–         É, eu percebi.

–         E nós, amigas?_ perguntou Ephiny.

–         Amigas._ disse Xena oferecendo o braço para o tradicional cumprimento grego.

As duas se cumprimentam e se abraçam sorrindo.

Enquanto isso, Gabrielle estava entre as duas éguas acariciando as crinas e diz pra Argo:

–         Argo, eu ainda não te agradeci por ter salvado a minha vida, por ter me encontrado no meio das folhagens há três anos atrás. Foi por causa disso que eu conheci Xena, a guerreira com quem eu sonhava e sabia que um dia iria encontrar. Sabia que agora a gente está namorando?

–         Com qual das duas você está conversando, Gabrielle?_ perguntou Xena se aproximando com Ephiny.

–         Com Argo.

–         Posso saber o que falava?

–         Não, isso é um segredo entre mim e Argo.

–         Ainda bem que Argo me ama, se não eu ficaria com ciúmes dela._ disse a guerreira pegando as rédeas das mãos da princesa.

–         Vocês fizeram as pazes? Já se tornaram amigas? Por que não respondem?

–         E você deixa!_ Xena e Ephiny disseram ao mesmo tempo. Depois olham uma para a outra e começam a rir.

–         Vejo que sim e fico feliz por isso._ disse Gabrielle também sorrindo.

–         Vamos indo?_ perguntou Xena.

–         Esperem aqui que eu vou pegar o meu cavalo._ avisou Ephiny.

Assim que ficaram a sós, Xena se aproxima de Gabrielle praticamente se encostando nela. Diz ao seu ouvido:

–         Estou louca pra te beijar.

–         Abaixe um pouco que você consegue.

Xena não resistiu e fez o que a princesa disse, inclinou a cabeça pra frente e buscou ardorosamente aquela boca tão desejada, enquanto a envolvia toda em seus braços. Ao sentir o abandono total da princesa colada em seu corpo, sentiu acender ainda mais o seu desejo. Disse-lhe com os lábios nos lábios dela:

–         Eu quero você, Gabrielle.

–         Você só me quer?_ disse a princesa afastando os lábios dos lábios dela.

–         Porque eu te amo._ disse a guerreira tentando beijá-la.

–         Então mostre._ disse Gabrielle encostando a sua boca na dela.

Xena a beija de tal maneira que Gabrielle cambaleia.

–         Vocês perderam o juízo?_ perguntou Ephiny olhando seriamente para as duas e completa: Querem atrair a atenção das pessoas daqui? Esqueceram onde estão?

Xena sabia que Ephiny estava certa, que ela fora totalmente imprudente e quase expôs Gabrielle ao falatório da sua própria gente.

–         Você tem razão Ephiny, eu fui contratada para protegê-la, Gabrielle, e não para expô-la.

–         Bem, já que você reconheceu a sua culpa, eu reconheço a minha, fui eu quem a aticei._ disse Gabrielle.

Xena e Ephiny entreolharam-se e começaram a rir. Gabrielle também ri, mas sem entender. Notando, Xena diz:

–         Então vamos “tentação”, se não eu perco a cabeça novamente.

–         Muito engraçada, depois você vai me explicar o motivo dessa risada.

–         Você riu também, Gabrielle._ disse Ephiny.

–         Se você não sabe, por que achou graça?_ provocou Xena.

–         Vocês duas não sabem que a risada contagia? Então.

Tanto Xena como Ephiny sentiram vontade de rir, mas se controlaram.

Quando elas chegaram a aldeia foi Lila quem as viu primeiro e correu ao encontro da irmã.

–         Gaby que bom que você chegou a tempo. Eu estava preocupada, o almoço já vai ser servido, mas temos um tempinho para a gente conversar um pouco.

–         Lila, você se lembra dela?_ perguntou Gabrielle mostrando Xena.

Lila olhou atentamente para a guerreira, depois falou:

–         Você não me é estranha… Essa roupa de couro… Mas não consigo me lembrar.

–         Ela é a guerreira que me salvou  e libertou você, a mãe e o pai, agora se lembra?

–         Foi ela?!

–         Foi. Lila está é Xena, a Princesa Guerreira.

–         Pelos Deuses! Mais uma princesa no meu casamento!

–         E uma Regente também._ acrescentou Gabrielle.

–         Ai, que as minhas amigas vão morrer de inveja!_ disse Lila levando-as para dentro de casa.

Assim que entraram, Lila apresenta Xena aos pais e chamando o noivo, diz:

–         Hector, quero lhe apresentar a principal responsável por todos nós estarmos hoje aqui: Xena, a Princesa Guerreira.

–         É uma honra conhecê-la._ disse Hector lhe oferecendo a mão.

Enquanto Xena e Hector se cumprimentavam, Ephiny diz ao ouvido de Gabrielle:

–         Os dois cunhados estão se cumprimentando.

–         Ephiny!_ exclamou baixinho Gabrielle e rindo.

–         E não é verdade?_ disse Ephiny entregando a Gabrielle o saco de jóias.

Gabrielle estende o saco para a irmã, dizendo:

–         Lila, em meu nome, da Rainha Melosa e de todas as minhas irmãs Amazonas, entrego a você o nosso presente de casamento.

–         Presente?_ disse Lila já abrindo o saco e quase perde a fala ao ver o que era. Recuperada mostra para o noivo e os pais, enquanto comentava: Gabrielle, isso é uma pequena fortuna!

–         Acho que não podemos aceitar, somos simples fazendeiros._ acrescentou Hector.

Gabrielle usou de todos os seus argumentos para, finalmente, convencer o casal aceitar o presente.

Durante o almoço, Xena ficou de olho em Gabrielle. Ficava atenta quando a princesa se aproximava de qualquer pessoa, embora ela tinha-lhe dito que estava apaixonada por uma mulher. Ela tinha que saber quem era essa tal mulher. Mas Gabrielle havia lhe dito que a amava, então não amava mais a outra. Xena ficou confusa. Na primeira oportunidade, quando ficassem a sós, ela iria perguntar pra Gabrielle se aquela mulher estava presente e quem era.

A oportunidade surgiu quando Gabrielle havia se levantado da mesa e entrou na casa, Xena foi atrás dela.

–         Gabrielle, eu queria que você me mostrasse aquela garota por quem você estava apaixonada.

–         Vem cá, que eu vou mostrar pra você quem é essa pessoa que nunca saiu do meu pensamento._ disse puxando Xena pela mão e a levando até o quarto.

Porém, antes de entrar, a guerreira completamente confusa com o que ouvira, diz:

–         No seu quarto?! Você ainda pensa nela, Gabrielle? Então, você não foi sincera quando disse que me amava.

–         Eu nunca menti pra você._ disse Gabrielle conseguindo puxá-la para dentro.

Xena olha ao redor e diz:

–         Cadê a tal garota, Gabrielle?

–         Vou te mostrar. Olha aqui a mulher que nunca saiu do meu pensamento e do meu coração._ disse Gabrielle colocando Xena na frente do espelho e conclui: Essa mulher é você Xena.

Surpresa ao olhar a sua imagem abobalhada no espelho e imensamente feliz com aquela revelação, Xena abraça Gabrielle, envolvendo-a de tal maneira em seus braços que a princesa tremeu de emoção. E ainda trêmula, Gabrielle colocou as mãos na armadura peitoral da guerreira e diz:

–         Eu nunca te esqueci, Xena.

Contudo, o olhar da guerreira ainda estava cheio de indagações, talvez de dúvidas, de confusões e isso Gabrielle pôde sentir, então resolveu esclarecer:

–         Depois daquele dia em que você me salvou e foi embora. Eu queria muito te ver de novo, precisava falar com você. Pois, a sua imagem não saia da minha mente e nem sequer o seu nome eu sabia. Mas tinha certeza que iria me encontrar com você novamente.

–         E por que você queria se encontrar comigo?

Gabrielle hesitou antes de responder, não entendera aquela pergunta. Será que a guerreira não percebera que ela a amara desde a primeira vez que a viu? Resolveu testá-la:

–         Queria te agradecer.

–         Você me agradeceu naquele dia.

–         Não precisa, não é mesmo? Você salva tanta gente que eu fui apenas mais uma. Você nem se lembrou de mim._ disse queixosa.

–         E como poderia? Se só a tinha visto duas vezes e mesmo assim toda machucada. Eu me lembro que quando tinha voltado de Amphipolis, pensei em fazer uma visita pra você em Poteidaia, eu já te falei sobre isso. E, convenhamos, você era bem diferente, você mudou.

–         Mas você não. Eu a reconheci assim que a vi na minha cerimônia de coroação. Quase desmaiei quando ao colocar a máscara de princesa, a vi sentada. Xena, você é aquela guerreira que se apoderou da minha mente e do meu coração. Eu te amo Xena.

Emocionada, Xena toma-lhe as mãos entre as suas e diz:

–         Gabrielle, daqui por diante eu quero lhe proteger de todos os perigos e medos, de todos os ventos e tempestades, de todos os problemas que vai enfrentar. Eu quero estar sempre ao seu lado para ensinar as experiências que tive e para aprender com você o muito que tem pra me ensinar. Gabrielle, esse é o meu jeito de dizer o quanto amo você.

–         Oh, Xena…_ sussurrou Gabrielle antes de ser beijada pela guerreira.

–         Vocês perderam mesmo o juízo e a noção das coisas!_ disse Ephiny parada na porta do quarto.

–         Oh, Ephiny, Xena me ama!_ disse Gabrielle com a cabeça encostada no peito da guerreira.

–         E só agora que você descobriu?

–         Que Xena me ama da mesma maneira que eu a amo, sim._ disse Gabrielle levantando a cabeça e encontrando os olhos apaixonados da guerreira que lhe confirmaram isso.

–         Está bem, vocês se amam. Mas acho que perderam o juízo por causa disso. Vocês estão querendo que todo mundo tome conhecimento disso?

As duas se olham e depois olham para Ephiny, então Xena diz:

–         Você tem razão, Ephiny. Seria mesmo um escândalo e poderia prejudicar o casamento da sua irmã, Gabrielle.

–         Eu não me perdoaria se isso acontecesse._ disse Gabrielle.

–         Gabrielle, amanhã bem cedo eu vou partir pra Sarmátia, vocês vêm comigo?_ perguntou Ephiny.

–         Não, Ephiny. Xena e eu vamos para Amphipolis. Eu quero conhecer a família dela.

–         Tudo bem. E o que eu digo para a Rainha Melosa?

–         Diga que a princesa encontrou a sua princesa._ respondeu Gabrielle olhando pra Xena.

–         Pode ficar sossegada Ephiny, assim que ela conhecer a minha mãe e a cidade, eu a levarei de volta para a aldeia._ tranqüilizou Xena.

–         Já ia me esquecendo, Lila pediu que a chamasse, Gabrielle.

Lila comunicou a irmã que, com uma parte do presente, ela iria comprar a fazenda de Perdicas e pediu que Gabrielle a ajudasse a se arrumar para a cerimônia.

Chegara o momento do casamento. O Templo das Três Deusas Irmãs, Afrodite, Atenas e Artemis, fora devidamente ornamentado e enfeitado. As três sacerdotisas iam realizar a cerimônia juntamente com o chefe dos aldeões.

Começada a cerimônia, Xena segura a mão de Gabrielle e lhe diz ao ouvido:

–         Quer se casar comigo?

Gabrielle riu e disse baixinho:

–         Se aqui fosse possível, sim.

–         Então vamos fazer o seguinte: tudo o que eles dizerem, nós falamos também, está bem?

–         Está bem._ concordou Gabrielle quase não conseguindo controlar a vontade de gritar a sua felicidade.

E assim tudo o que foi dito durante a cerimônia, as duas repetiram e disseram entre si. Quando os noivos se beijaram, Xena disse ao ouvido de Gabrielle:

–         Sinta-se beijada. Mais tarde te darei o beijo devido.

E alisou e apertou a mão da princesa numa demonstração do que estava sentindo. Gabrielle corou. Xena percebeu e riu, ela adorava isso nela.

Depois dos cumprimentos aos noivos e de os levarem até a casa deles, Xena e Gabrielle levaram Ephiny para a pousada onde ela estava hospedada e voltaram para o templo que, agora, estava vazio. Sem perder tempo, Xena puxa Gabrielle para si a envolvendo e a beijando apaixonadamente. Depois se afasta um pouco e diz:

–         Você está linda! Você fica irresistível com essa roupa.

–         Você gosta da minha roupa de princesa?

–         Muito.

–         Sabia que ela era de Terreis?

–         Mas em você ficou perfeita. E eu vou despi-la aos poucos do seu corpo.

Gabrielle tornou a corar. Xena então não resiste e quando ia beijá-la novamente, a deusa Afrodite se materializa na frente do altar.

–         Afrodite!!!_ repreendeu Xena ao ver o susto que Gabrielle levou, a agarrando.

–         Oi, Xena!_ acenou a deusa rindo.

–         Afrodite!…_ exclamou fascinada Gabrielle, se ajoelhando a seguir.

Xena levanta Gabrielle, enquanto pergunta a deusa:

–         O que é que você quer, Afrodite?

–         Bem, eu estava assistindo ao casamento e vi que vocês duas também queriam se casar.

–         É que a gente se ama._ disse Gabrielle ainda muito emocionada.

Após examinar com o olhar a jovem princesa, Afrodite diz a Xena:

–         Você tem bom gosto, Xena. Ela é mesmo uma gracinha e vejo que também é muito especial. Vocês querem se casar?

–         Você pode fazer isso?

–         Claro, Xena. As sacerdotisas não fazem isso? E você esqueceu que eu sou a Deusa do Amor? Então…

–         Eu gostaria muito. É uma honra ser casada pela Deusa do Amor._ disse Gabrielle olhando da deusa para Xena.

–         Está bem. Casa a gente, Afrodite._ a guerreira não pediu, apenas concordou.

Num simples gesto, a deusa fez com que aquele espaço todo se iluminasse com velas e candeeiros e flores encheram e perfumaram o ambiente. Gabrielle olhou maravilhada. Xena segurou as duas mãos da princesa em frente ao altar e a deusa então diz:

–         Sendo eu a Deusa do Amor e em nome dele concedo o direito de casamento e união a Xena e Gabrielle, que a partir de agora serão, entre si, esposas.

E uma chuva de pétalas de rosas vermelhas cai sobre as duas cônjuges.

Xena levanta a mão direita de frente a Gabrielle que também levanta a mão e une a da guerreira, entrelaçando-se os dedos a guerreira diz:

–         Pra todo o sempre, Gabrielle, eu vou te amar.

–         Pra todo o sempre, Xena, eu vou te amar.

E se beijam tão apaixonadamente que nem percebem que a deusa sumiu.

Ao saírem do templo, Xena avisa:

–         Eu vou até o celeiro dá uma olhada em Argo. Vá me buscar quando os seus pais dormirem.

–         Talvez eu demore um pouco. Não vá dormir.

–         Como poderia? Estou acesa.

Ante o olhar chamejante da guerreira, a princesa se inibiu corando. Xena percebendo a tranqüiliza:

–         Gabrielle, eu a desejo, mas antes disso, eu a amo.

Comovida com aquela declaração feita pela aquela mulher tão amada, a princesa a abraçou pela cintura, encostando a cabeça no colo dela e dizendo:

–         Eu te amo Xena e hoje vai ser a noite mais importante da minha vida.

Xena ainda estava cuidando de Argo quando Gabrielle retorna.

–         Ainda não terminei, minha princesa.

–         Vim para avisar que não poderemos dormir juntas.

–         Por quê?_ perguntou a guerreira visivelmente decepcionada.

–         Porque vou dormir no quarto da minha mãe.

–         No quarto da sua mãe? Mas… E o seu quarto?_ perguntou se aproximando de Gabrielle.

–         Meu pai está lá. Ele bebeu demais, mamãe brigou com ele e ele foi dormir no outro quarto. Por isso que eu vou dormir com ela e vamos improvisar uma cama pra você lá na sala.

–         Eu prefiro dormir aqui no celeiro. Faz o seguinte: enquanto eu arrumo um cantinho para nós duas, você espera a sua mãe dormir e vem, eu vou ficar te esperando._ disse a segurando pelos braços.

–         Não vai dar. Mamãe tem sono leve e a cama dela range até quando a gente se meche.

–         Então vai ser assim a nossa noite de núpcias: você com sua mãe e eu aqui com… Argo!_ disse Xena revirando os olhos num gesto brincalhão e se sentando num feixe de feno.

Gabrielle ri e se encostando a ela, lhe alisa a franja, dizendo:

–         Nós teremos a nossa noite, amor. Não vamos partir amanhã? Então…

–         Então? Então agora quero um beijo._ disse Xena a envolvendo nos braços.

Quando ficou só, ainda sentia na boca o beijo rápido e caloroso que Gabrielle lhe dera antes de sair correndo. Xena pensou como, em poucos dias, a sua vida havia mudado, do desespero a alegria, da solidão ao amor. Sim, ela estava amando, estava completamente apaixonada por aquela garota.

Xena tentou, mas não conseguiu dormir. A lembrança de que aquela poderia ter sido a sua noite de amor, a incomodava, a irritava. Já não lhe bastava o gosto daquela boca e o cheiro daquela pele macia e apetitosa, queria mais, estava sendo extremamente difícil se controlar. Então se levantou e sentada resolveu fazer uns exercícios de meditação. Quando estava quase conseguindo se concentrar…

–         Xena, o que você está fazendo?

A guerreira abriu os olhos e viu ali parada em sua frente a jovem princesa a olhando curiosa.

–         Gabrielle, pensei que você já estivesse dormindo.

–         Eu estava conversando com mamãe e me lembrei que você não comeu nada agora à noite._ disse colocando em cima de um velho barril, uma bandeja com uma jarra com água, uma caneca com chá e um prato com pedaços de bolo.

–         O que eu estou precisando não é de comida._ disse a olhando de tal maneira que Gabrielle se ruborizou. Percebendo, a guerreira, diz: Vai neném, senão não me responsabilizo pelo que possa acontecer aqui.

Mas antes que Gabrielle saísse, Xena, se levantou num impulso tomando-a nos braços e a beijou com paixão, num beijo que uniu os dois corpos num só, demonstrando assim tudo que sentia, deixando a princesa atônita.

Agora sim, a guerreira ficou satisfeita em saber que desta vez não seria apenas ela quem iria custar a dormir.

Na manhã seguinte, bem cedo, as duas já estavam de pé e se encontraram na varanda quando Xena vinha trazendo a bandeja que Gabrielle havia levado na noite anterior. Ao perceber a bandeja vazia, Gabrielle diz satisfeita:

–         Que bom! Vejo que você se alimentou, guerreira.

–         Pois é, como não conseguia dormir… Mas vejo que você também custou pra dormir.

Imediatamente, Gabrielle coloca as mãos na face, dizendo:

–         Está muito feio? Estou com o rosto inchado. É que não dormir direito…

–         Está linda, mais linda do que nunca._ interrompeu Xena.

Gabrielle sorri abaixando os olhos e diz:

–         Venha Xena, vamos comer alguma coisa antes de partir.

Quando estavam finalmente na estrada, Xena faz sinal para pararem e diz com um certo brilho no olhar:

–         Que tal se a gente passássemos a nossa noite de núpcias no antigo templo de Afrodite?

–         Seria maravilhoso, Xena. Mas eu soube que houve um deslizamento e a entrada da caverna ficou interditada.

–         É verdade. Mas eu consegui abrir uma entrada. Andei até dormindo uns dias por lá.

–         Você é incrível, minha guerreira.

Xena olhou pra ela com carinho e depois olhando para a estrada, diz:

–         Se não houver contra-tempo, chegaremos lá antes do anoitecer.

Cavalgaram bastante e só saíram da estrada para almoçar.

–         Hum, essa carne assada que a sua mãe faz é uma delícia._ disse Xena.

–         É mesmo, mamãe cozinha muito bem. Lila puxou a ela, enquanto eu…_ disse fazendo uma careta.

–         Você é o meu amor._ disse Xena a interrompendo.

–         Oh, Xena, como é bom ouvir isso. Ainda me sinto como se estivesse sonhando._ disse Gabrielle lhe estendendo a caneca com vinho.

–         Eu vou te mostrar que não é um sonho, minha linda. Estou doida para te beijar, mas sei que não devo, não é prudente. Eu sei esperar.

Já havia entardecido e faltava pouco para chegarem ao templo, quando Xena avista um reflexo logo a diante.

–         Gabrielle, vamos desmontar e seguiremos a pé pela floresta.

–         O que foi, Xena?

–         Não sei ainda. Só sei que tem alguma coisa lá pra frente.

Quando se aproximaram da entrada do antigo templo, elas descobriram que havia uma pequena tropa de soldados atenienses acampados ali.

–         E agora, Xena?

–         Gabrielle fique aqui com as nossas éguas que eu vou até lá tentar descobrir o que esses soldados estão fazendo aqui.

–         Eles devem estar a serviço.

–         Sem um comandante? Ali só tem soldados e isso não tem cabimento. Tem algo estranho e eu vou descobrir.

–         O que você vai fazer?

–         Ainda não sei, mas vou até lá. Fique aqui.

–         Toma cuidado._ disse Gabrielle afagando o braço da amada.

–         Tomarei._ disse a guerreira acariciando a mão da princesa.

Pouco depois, Xena volta, dizendo:

–         Como eu suspeitava, Gabrielle, eles não são soldados, são baderneiros. Garotos ainda. Parece que roubaram as roupas dos soldados enquanto tomavam banho no rio.

–         E o que você está pretendendo fazer?

–         Dá uma lição neles e mandá-los de volta pra casa.

–         Como assim, Xena?

–         Não tenho tempo para explicar direito, mas vou precisar da sua ajuda.

–         Tudo bem. É só dizer o que é que eu tenho que fazer.

–         Então, siga-me em silêncio, deixe sua égua aí e traga Argo sem fazer barulho.

Enquanto elas esperavam os falsos soldados dormirem, Xena providenciou um enorme cone improvisado de um tronco oco de árvore. Conduziu Gabrielle e Argo para um lugar próximo a caverna.

–         Agora é com você Argo, relinche garota!_ disse Xena colocando o cone na frente do focinho da égua.

O som que se ouviu a seguir foi de deixar os cabelos em pé. Os jovens impostores acordaram sobressaltados. E ainda não tinham se recuperados do susto, quando um outro som bem mais medonho ecoou pela floresta. Aí então saíram correndo, deixando tudo para trás. O som foi Xena que fez dando o seu grito de guerra no bocal do cone, que o reproduziu de uma maneira assustadora.

Gabrielle pula vibrando.

–         Deu certo, Xena, foram todos embora, não sobrou ninguém!

–         Venha, vamos até lá.

Antes mesmo de se aproximarem do local, Xena percebe uma movimentação na mata, segura as rédeas de Argo e o braço de Gabrielle, dizendo:

–         Silêncio.

Gabrielle a olha sem entender e Xena mostra, indicando com o dedo um grupo de homens que chega ao local onde os baderneiros tinham acampado. Um dos homens diz:

–         Olhem só, eles deixaram tudo!

–         Vamos pegar só o que podemos levar._ disse um outro.

E começaram a revirar tudo.

–         O que será que eles viram pra saírem correndo daqui?_ perguntou o mais jovem do grupo.

–         Devem ter ouvido ou visto um lobo. Como são frangotes, fugiram de medo.

–         Mas eu ouvi um deles dizer que tinha um monstro que urrava como se tivesse saído do inferno.

A esse comentário, Gabrielle colocou a mão na boca, prendendo o riso. E Xena lhe lança um olhar de reprovação.

O chefe do grupo avisa:

–         Pensando melhor, vamos passar a noite aqui.

Gabrielle olha para Xena que bufa de impaciência, dizendo:

–         Sabe de uma coisa, eu vou lá e vou dá uns sopapos neles.

–         Não, Xena, eles são muitos…

–         Gabrielle são apenas sete. Eu posso com eles.

–         Eu sei que você pode com eles. Mas, você pode se machucar ou se cansar. E a nossa noite de núpcias?

Xena olhou pra Gabrielle e percebeu que ela tinha razão. Ela queria estar inteira para aquela noite especial. Queria proporcionar aquela garota todo o prazer que só ela podia lhe dar.

–         E o que você sugere?

–         Que devemos achar um outro local para passarmos a noite. E amanhã quando eles forem embora, a gente entra na caverna, no templo e aí podemos ter as nossas núpcias.

–         Só de pensar que terei que esperar mais uma noite…

–         E precisa ser à noite?

Com essas palavras Gabrielle acalmou a guerreira que olhou para ela, mista de surpresa e ternura. E envolvendo o braço nos ombros da princesa, diz:

–         Venha, coração, tem um lugar aqui perto onde podemos passar a noite.

E foi assim que elas passaram a noite: Xena sentada e encostada numa árvore num canto atrás da caverna, com Gabrielle sentada entre as suas pernas, recostada no seu corpo. A guerreira a agasalhou com os braços e a princesa adormece.

Para Xena fora uma noite difícil, quase não conseguiu dormir. Assim que os primeiros raios solares surgiram, ela acordou Gabrielle e avisou que ia dá uma espiada no acampamento.

Chegando lá, Xena constata que os sete homens ainda estavam dormindo. Viu no chão o peitoral de uma armadura e, ao lado, um pedaço de corrente. Teve uma idéia. Procurou pelo cone que ela usara na noite anterior e chamou Gabrielle para ajudá-la na execução do plano.

Instantes depois, um tremendo estrondo ecoou pela floresta. Os sete homens acordaram sobressaltados e sem muito pensar, todos saíram também correndo, do mesmo modo criticado por eles antes.

–         Pelos deuses, Xena! O som que saiu do cone com as correntes batendo na armadura, é apavorante!

–         Foi um eco poderoso. Bem, agora podemos ir para o templo._ disse olhando de um jeito pra Gabrielle, que a desconcertou.

Xena afastou com extremo cuidado a passagem secreta e estreita da abertura da caverna. Depois teve o cuidado de fechá-la novamente. Pegou a tocha que estava na entrada da caverna e a acendeu no atrito das duas pedras especiais que trazia sempre consigo. Com a tocha acesa percorreu o pequeno corredor até o centro da caverna e lá acendeu todos os candeeiros e tochas que havia no templo. Só então que Gabrielle, que estava cuidando das duas éguas, pode se locomover e ver como era bonito o templo.

–         Como isso aqui é lindo, Xena!

–         Você já esteve aqui Gabrielle.

–         Estive, mas eu estava machucada. Não me lembrava direito de como esse templo é bonito, mesmo estando abandonado. Aí é que era o altar de Afrodite?

–         Era. Esse templo era muito bonito, mas levaram tudo, só deixaram os candeeiros e as velas, ainda bem. Ah, aqui tinha uma estátua de Afrodite em tamanho natural.

–         Estátua de Afrodite… do tamanho natural…_ balbuciou Gabrielle cambaleando.

–         O que foi? Não está se sentindo bem?_ perguntou Xena quando a amparava e depois que a colocou sentada no último degrau que levava ao altar, torna a perguntar: Está se sentindo melhor?

–         Xena, eu tive a nítida impressão de ter vivido esse momento aqui. Você e eu, essa estátua…

–         Eu também, Gaby. Foi bom você ter tocado nesse assunto, eu não sei o que está havendo, mas tenho certeza que alguma coisa está acontecendo.

–         Será coisa de algum deus?

Xena pensou em Ares, mas não havia sentido o “cheiro” da presença dele. Poderia ser Afrodite, mas não havia luxo e nem beleza ali.

–         Seja o que for, Gabrielle, nós sempre estaremos juntas._ nem mesmo a guerreira entendeu porque dissera isso e novamente a impressão que já havia dito isso há muito tempo. Achou melhor mudar de assunto, disse: Até que isso aqui está bem conservado.

–         Olha só que maravilha, Xena! Um poço com água corrente!_ disse Gabrielle olhando fascinada para um canto da parede.

–         O quê?!_ disse Xena espantada. Ao se aproximar e constatar, diz: Esse pequeno poço não estava aqui da última vez que estive aqui.

–         Você tem certeza?

–         Claro, Gabrielle. Eu já vim para cá várias vezes. Alguma coisa estranha está acontecendo aqui.

–         É alguma coisa dos deuses, não é?

Xena a olhou pensativa e depois disse:

–         É, Gabrielle, talvez você tenha descoberto quem está causando tudo isso.

–         Eu?!

–         Esse não é o templo de Afrodite? Então…

–         Ah, é mesmo! Claro, só poderia ser ela, a minha deusa favorita. Obrigada de coração, Afrodite.

Nem bem acabara de agradecer a deusa, Gabrielle arregala os olhos completamente surpresa com que acabara de ver, mal conseguindo balbuciar:

–         Xe-Xena… Olha!

A guerreira que estava juntando uns gravetos que outrora foram armazenados num canto por ela mesma, olha para onde a princesa apontava: uma enorme mesa, cheia de frutas, comidas e vinho, havia surgido no centro da caverna. Ao se aproximar, ela diz:

–         Sem dúvida que foi Afrodite.

E ao olhar para o outro lado, onde antes era o altar, surpresa diz pra princesa:

–         Olha só o presente que ganhamos! Agora sou eu quem agradece a Afrodite.

Gabrielle que já estava colocando o vinho nas duas taças fica encantada ao ver a enorme cama. Aproxima-se com as duas taças na mão e ofertando uma a Xena, diz:

–         Xena, eu nunca vi uma cama assim… redonda!

–         Com certeza é uma cama oriental. Um sheik costuma dormir com suas esposas em camas espaçosas até maiores que essa._ disse a guerreira pegando a taça oferecida pela princesa e conclui: Mas nesta, apenas você e eu.

–         Nem poderia ser de outro modo._ disse Gabrielle tentando controlar o nervosismo que começara a sentir.

–         Como assim?_ perguntou Xena antes mesmo de beber o vinho.

–         Não a dividiria com mais ninguém.

–         Quem, a cama?_ perguntou a guerreira fingindo não entender.

–         Não, você.

–         Ah, então você não se deitaria comigo se eu quisesse ter mais uma outra companhia na cama?

–         Não.

–         Por quê?

–         Porque não suportaria ver uma outra pessoa te tocando.

Imensamente feliz por ouvir isso, Xena se aproxima mais de Gabrielle e a puxando pela cintura, olhando-a nos olhos diz:

–         Sou eu quem não suportaria vê-la com outro alguém. Desse momento em diante, Gabrielle, você pertencerá somente a mim, será só minha.

Beijou-a de uma maneira tão ardente que, Gabrielle quase derrubou a taça que segurava em uma das mãos. Xena pegou a taça da mão dela e junto com a sua colocou-as num dos degraus. E, voltando-se para Gabrielle, novamente a envolveu nos braços, dizendo:

–         Eu te amo, Gabrielle._ e, novamente a beijou com ternura. Depois, olhando-a nos olhos, diz: Quero você, Gabrielle._ e agora a beijou com paixão e sofreguidão.

Gabrielle foi envolvida pela própria paixão, pelo sentimento finalmente demonstrado. Ela beijava Xena como nunca antes beijara alguém, era maravilhoso sugar aquela língua que buscava a sua, era totalmente excitante o que a guerreira fazia na sua boca.

Quando Xena, sem deixar de beijá-la, a estava conduzindo ao primeiro dos três degraus que as levariam a cama, Gabrielle afasta os lábios um pouco e diz num fio de voz:

–         Queria me banhar primeiro, amor.

–         A água deve estar fria, coração. Mas eu não vou deixar que você sinta frio, eu a esquentarei nos meus braços._ disse Xena a conduzindo ao pequeno poço.

Gabrielle se abaixa e põe a mão dentro d`água para sentir a temperatura. Surpresa diz:

–         Xena, a água está quente!

A guerreira então se abaixa e constata, dizendo sorrindo:

–         Afrodite…

–         Ela é o máximo!

–         Bem, de qualquer maneira eu vou te esquentar.

Gabrielle, que já não tinha mais como se ruborizar, se levantou e foi onde estava a sua bolsa e a bolsa de Xena, pegou os panos de banho e o sabão. Quando voltou viu que a guerreira havia tirado todos os seus adornos de braço e ia tirar a armadura, perguntou:

–         Posso?

Em resposta, Xena suspendeu os braços estendendo para os lados. Gabrielle sentiu uma vertigem. Xena a ampara, dizendo:

–         Também senti, Gabrielle.

–         Tenho certeza que já vi você fazer esse gesto antes, mas com outra roupa.

–         Eu também tive essa mesma impressão. Mas… Não vamos deixar que isso estrague o nosso momento.

Sem dizer nada, Gabrielle começa a desprender o feche de metal que prendia a armadura. Depois, desata as duas alças de metal que estavam presas as alças do traje de couro. Gabrielle sentia sobre si o olhar ardente daquela guerreira. Deu a volta e ficou de lado para retirar o peitoral. Após retirá-lo, foi por atrás da guerreira para desabotoar todos os feches do traje de couro. Ao vê as costas nuas, não resistiu e as acariciou.

–         Hum… Isso é muito bom, mas agora é a minha vez de te ajudar.

–         Ainda não terminei, falta tirar as suas botas.

Xena lhe estendeu uma perna por vez para que ela pudesse descalçá-la sem muito esforço. Depois também a descalçou. Levantando-se, diz:

–         Agora, permita-me despi-la, princesa.

–         Posso despi-la primeiro?

O modo, a maneira e o tom de voz com que Gabrielle pedira era muito difícil de Xena lhe negar alguma coisa. Xena abre os braços, não da mesma maneira que fizera momentos atrás, e diz:

–         Sou toda sua, minha princesa, dispa-me.

Gabrielle olha para o traje de couro dela e, carinhosamente, desliza a mão direita no ventre da guerreira. Depois, dá a volta por trás e vagarosamente arreia as alças dos ombros. Enquanto puxava o traje para baixo, encostou os lábios no meio das costas e a beijou. Quando o traje cai ao chão, a visão maravilhosa daquelas nádegas praticamente desnudas a impulsiona a tocá-las e sentindo nas mãos o enrijecimento provocado na guerreira, Gabrielle torna a sentir uma ligeira tonteira. Imediatamente percebida por Xena que lhe pergunta:

–         O que foi Gabrielle?

–         Xena, essa sua calça… eu já vi antes.

–         Claro, Gabrielle, você me viu usar durante toda a viagem. Todas as minhas calças são assim, calças de guerreira. Você sabe que algumas amazonas usam também.

–         O que eu estou querendo dizer é que já vi essa cena antes, quero dizer, eu sonhei, sei lá. Pelos deuses, será que estou enlouquecendo?

–         Então eu também estou. E isso já está me dando nos nervos.

–         Tudo que eu sinto, você sente também._ disse a princesa pensativa.

–         Só com nós duas. Todas essas sensações dizem respeito somente a nós duas.

–         Você acredita em vidas passadas?

–         Antes de começar essa viagem com você, não._ disse Xena abraçando com a mão esquerda a cintura da princesa e com a mão direita acariciando o rosto dela. Conclui: Não vamos mais pensar nisso. Agora eu quero te amar.

Com extrema delicadeza, começa a desamarrar o cordão do top da princesa, enquanto salpicava de beijinhos que desciam por trás da orelha até o pescoço dela. Ao desnudá-la, Xena se afasta um pouco para vê-la. Os olhos da guerreira não escondem o encanto e o desejo ao verem aqueles peitos arfantes. Puxa-a de novo para si e a beija com paixão, enquanto as suas mãos deslizam lentamente para os seios tocando-os suavemente, delicadamente. Depois foi descendo com as mãos até a cintura, desprendendo o cinto e a saia marrom. Nesse momento pára de beijá-la e se abaixando vai lhe descendo a saia. Os seus olhos ficaram na altura da calça amazona que ela usava. Ali mesmo, abaixada, Xena calca-lhe as mãos na cintura e sem pressa vai lhe tirando aquela última e mais íntima peça que cobria aquele corpo fascinante. Ao ver aqueles cabelos dourados, quase ruivos, a guerreira salta um suspiro e percebe toda a timidez da princesa ao colocar as mãos na frente. Para Xena aquele momento era inaudito, maravilhoso, estava extasiada com cada descoberta que fazia. Ao se levantar, tirou a própria calça e olhando para a princesa que, mesmo tímida, a olhava fascinada também, diz:

–         Venha, vamos nos banhar.

Entrou no poço conduzindo a princesa pela mão. Ficaram frente a frente por um bom tempo sem nada a dizer, apenas se olhando, se namorando. Coube a guerreira quebrar aquele maravilhoso silêncio:

–         Vira de costas, Gaby, que eu vou ensaboar as suas costas.

Antes de se virar, Gabrielle lhe dá um sorriso daquele jeito que a guerreira tanto gostava.

–         Você é linda, minha princesa._ disse Xena passando a mão ensaboada naquelas costas tão amada.

–         Você que é linda, guerreira.

–         São os seus olhos.

–         E os olhos de todas as amazonas da minha aldeia. Eu vi como elas olham para você.

–         E eu também vi muitas delas olhando pra você quase babando. Principalmente, Daphne e Ephony.

–         O que foi que você viu em mim?

Antes de responder, Xena a vira para si e diz:

–         A minha outra metade.

Gabrielle não conseguiu conter as lágrimas. Xena a abraça, dizendo:

–         Eu já conheci várias amazonas, mas nenhuma tão sensível como você, com essa sensibilidade toda à flor da pele.

–         É, eu sei, se não consegui mudar, não serei uma grande rainha a altura das Amazonas._ disse abaixando os olhos.

Com a ponta dos dedos, Xena lhe levanta o queixo, dizendo:

–         Não, não quero que você mude. Você não precisa mudar. Eu amo você do jeito que você é. Foi esse seu jeito que me conquistou. A única coisa que você precisa aprender é tomar mais cuidado com as pessoas, elas poderão te machucar. E eu não estou me referindo a traição, a luta, mas aos seus sentimentos. Pessoas mal intencionadas poderão te magoar.

–         Você me acha assim tão… tão frágil?_ perguntou Gabrielle um pouco decepcionada.

Notando, Xena diz:

–         Não, coração, eu acho você muito sensível, pura. Eu nunca pensei que fosse encontrar alguém assim como você. Que é o maior presente que eu jamais esperei ter.

Gabrielle se ruborizou, não conseguiu dizer tudo que tinha vontade e que tinha guardado para aquele momento especial. Na verdade, desde que Xena tornou a chamá-la de “coração”, que ela não cabia mais em si. Com muito custo tentou dizer:

–         Oh, Xena, eu…

–         Fale, você o quê?

–         Eu… Eu tenho medo de não corresponder as suas expectativas.

–         Você quer dizer que tem medo de não me satisfazer, é isso?

–         Xena, você é uma guerreira, uma mulher forte, grande e eu sou uma mulher… pequena.

Xena riu. Então era esse o medo de Gabrielle. Teve que se controlar para não ofendê-la, disse:

–         Gabrielle, por acaso você não sabe que tamanho não é documento? E, além do mais, eu gosto de mulher pequena, principalmente quando ela é loura, tem um sorriso cheio de covinhas e é tão sensível como você._ puxando-a para si e sentindo no seu, o corpo nu dela, olhando-a profundamente, diz: Será que eu vou ter que dizer novamente que eu te amo?

–         Sempre. Eu quero ouvir todo dia.

–         Mas agora, eu quero demonstrar como._ e a beija com paixão.

Gabrielle sentiu que ia desfalecer, mas não conseguia parar de sentir tamanha emoção.

–         Xena…_ suspirou a princesa em meio de um beijo interminável.

–         Vamos._ disse a guerreira se afastando o suficiente para poder sair da água e conduzir a princesa para a cama.

Gabrielle se enrolou no pano de banho e Xena pegou o pano para secar os cabelos. Quando a princesa se sentou na beira da cama escovando os cabelos, Xena se aproxima, também enrolada no pano, e se senta na cama defronte a ela. Percebe que Gabrielle tenta esconder o nervosismo no modo como escovava os cabelos sem parar. Então, delicadamente, tira da mão dela a escova e com a mão alisa aqueles cabelos louros que molhados estavam dourados. Depois, segura com as mãos o rosto dela e com os polegares acaricia as suas têmporas, tentando relaxá-la. Olhou-a nos olhos, que brilhavam feitos estrelas numa lagoa esverdeada; depois para os lábios, que tremiam ante a sua respiração, então foi encostando a boca levemente e a beijou suavemente, carinhosamente, sem pressa de mostrar toda a emoção que estava sentindo. Parou de beijar ao sentir que seria correspondida, pois queria demonstrar mais carícias. Pegou-lhe a mão e a beijou com carinho e virando-a a seguir beijou-lhe a palma com a boca aberta num beijo intenso que fez Gabrielle entreabrir os lábios e suspirar. Então, começou a beijar cada dedo com beijos sugadores e os intercalando, passando a língua entre eles, causando assim estremecimentos na princesa. Sem parar o que estava fazendo, perguntou:

–         Você está gostando?

–         Muito._ Gabrielle quase não conseguiu responder.

–         Se quiser que eu pare…

–         Pelos Deuses, eu morro se você fizer isso._ disse uma princesa praticamente fora de si.

Ao ouvir isso, uma guerreira totalmente fora de si, chega mais para perto daquela princesa, a envolvendo nos braços e a beija com ternura, com paixão e com todo o desejo que um beijo poderia transmitir. Era um beijo de posse, que sugava muito mais que saliva, que sorvia e retribuía a essência de um sentimento que demonstrava para aquela garota que, daquele momento em diante, ela seria dela. Ao sentir que Gabrielle estava quase sem fôlego, parou e foi descendo com a boca em beijos que percorreram todo o pescoço até o colo, onde se afastou um pouco para poder tirar o pano de banho que a cobria. Ao puxar o pano até a cintura viu aqueles lindos seios, Xena ficou embevecida contemplando-os e antes que pudesse tocá-los, Gabrielle também puxa o pano que a cobria, pois queria vê-la também. Ao vê-los fez menção que iria tocar os seios da guerreira, mas timidamente desistiu. Notando, Xena pega a mão dela e a coloca em seu seio, dizendo:

–         São seus, toque-os quando quiser.

Encorajada, a princesa, leva também a outra mão e a coloca no outro seio. Acariciando-os, diz:

–         São lindos, Xena. Há muito que eu queria fazer isso. São tão macios que eu…

Gabrielle não pode completar o que ia dizer porque Xena a calou com um beijo cheio de paixão.

Xena sem parar de beijar a levanta para melhor tirar os panos que as envolvia e conduzi-la para o meio da cama. Antes de deitá-la, Xena olha para o corpo nu da amada e sem se conter diz:

–         Você é linda, Gabrielle.

Então a deita e sentada ao seu lado, pergunta:

–         Você quer mesmo ser minha?

–         Quero.

Xena se debruça em cima de Gabrielle, encostando os braços e os cotovelos ao redor da cabeça da amada e a olhando assim tão perto, diz:

–         Gabrielle, eu vou fazer amor com você como jamais fiz antes.

E, novamente, busca os lábios dela numa desenfreada paixão. Inexplicavelmente, Xena sentiu naquele momento um medo de perdê-la. Parou de beijá-la para olhá-la um pouco, queria se certificar que era ela que estava ali. Gabrielle abriu os olhos e lhe sorriu. Mas, Xena ainda vagueava com olhar todos os traços daquele rosto tão amado e, somente a carícia que Gabrielle agora lhe fazia nos cabelos, a livrou daquela estranha sensação, daquele torpor que a pouco sentira.

–         Gabrielle, Gabrielle…_ sussurrou enquanto descia com a boca deslizando em beijos carinhosos até os seios.

Gabrielle queria dizer alguma coisa ou mesmo dizer o nome da amada, mas a voz não lhe saia, só conseguia suspirar e gemer. Estava muito emocionada, pois o seu maior sonho estava se concretizando. Abriu e fechou os olhos várias vezes pra constatar se era realmente verdade o que estava acontecendo, chegou até mesmo a se beliscar. Nesse momento, Xena com uma mão lhe acariciava um peito e com a boca lhe sugava o outro. Tanto Gabrielle quanto Xena, por um momento, se sentiram como se estivessem nos Campos Elíseos, uma sentindo um prazer nunca antes sentido e a outra como estivesse saboreando o mais delicioso dos frutos. Xena então busca com a boca o outro seio, enquanto a sua mão faz uma carícia ardente no outro peito umedecido pela sua própria saliva. Depois deslizou a mão percorrendo por aquele corpo repleto de curvas. Quando chegou naquele triângulo de cabelos dourados, constatou que estavam molhados, quase enlouqueceu de prazer ao ouvir um gemido e ver no olhar de Gabrielle o mesmo prazer que sentia. Então, se sentindo ainda mais estimulada, foi escorregando em beijos de boca aberta até a fonte de todo prazer e ali lhe beijou sem pressa, lentamente. Ergueu os olhos e viu dois olhos verdes escurecidos, brilhando de desejo e a boca, ligeiramente aberta, ofegante. Não resistiu, buscou e lhe proporcionou o prazer, lhe sugando a vontade, desvendando o prazer do amor que a sua língua podia lhe dar. Subindo novamente em beijos molhados e sentindo que já a havia preparado, Xena toca-lhe com os dedos onde há pouco a sua boca havia lhe dado prazer e calcando com firmeza percorreu o caminho até desvendá-lo, até que por entre os seus dedos escorressem a prova definitiva de que Gabrielle agora era inteiramente sua.

A tarde se fora e a noite já se fazia alta e as duas amantes, agora exaustas, dormiam abraçadas.

Nem bem o dia amanhecera e a guerreira é despertada pelo toque macios dos lábios amados no seu ombro. Abriu os olhos e viu a princesa debruçada sobre ela com os olhos semicerrados deslizando e acariciando com os lábios o seu colo.

–         Vem cá, minha linda._ disse a guerreira tentando colocá-la deitada.

–         Não, agora sou eu que quero te amar. Deixa.

Gabrielle falou com tanta ternura que, em resposta, Xena retirou a manta que a cobria e estendeu os braços para ela, dizendo:

–         Venha, faça de mim o que quiser, minha princesa, sou sua.

–         Eu vou mostrar pra você como eu sou uma boa aluna e mais do que isso, quero te mostrar como eu te amo, Xena.

E a jovem princesa se apoderou daquele vigoroso e desejável corpo. Suas mãos percorriam encantadas por todos aqueles músculos que ela sabia que foram adquiridos em anos de lutas e deslizavam naquelas curvas maravilhosas que tanto apreciava. Possuir aquela magnífica guerreira era mais do que a realização do seu sonho era quase uma necessidade vital. Enquanto acariciava os peitos da guerreira, Gabrielle pode perceber que ela estava com os olhos semicerrados, numa expressão de satisfação de que ela estava gostando. A princesa, sem parar de olhar pra guerreira, aproximou a boca de um seio e tocou com a ponta da língua o bico túrgido, passou-a lentamente, depois com os dentes fez uma leve pressão que provocou um suspiro na guerreira. E, intensamente incentivada ao ver a expressão de êxtase na guerreira, Gabrielle, ainda acariciando um peito, envolve com a boca o outro peito, beijando-o, sugando-o, sorvendo todo prazer que também sentia. Depois foi buscar no centro do prazer da amada, o êxtase que ela antes lhe propusera. Agora era ela quem causava estremecimento e gozo e, era ela também que sentia o gosto daquele mais íntimo dos beijos. Sentiu-se invadir por um estranho sentimento de posse nas carícias feitas pela guerreira nos seus cabelos e ao olhá-la novamente, ao vê-la se contorcendo de desejo, não resistiu e foi subindo em beijos de boca aberta até o pescoço dela. E antes que a guerreira parasse de sentir todo aquele prazer, Gabrielle mergulhou os dedos onde a pouco lhe beijara. Os gemidos de Xena eram a confirmação que ela sem dúvida era uma excelente aluna.

–         Gabrielle… Onde você… aprendeu… isso?…_ perguntou uma ofegante e satisfeita guerreira.

–         Momentos atrás com você._ respondeu Gabrielle debruçada em cima dela e a olhando encantada nos olhos.

–         Acho que tenho outra aula para te dar, princesa._ disse a guerreira acariciando as nádegas da amada.

Antes que Gabrielle pudesse dizer alguma coisa, o seu estômago “falou” mais alto. Xena a olha com espanto e depois começa a rir. Gabrielle se desculpa, dizendo:

–         É o esfomeado se manifestando.

–         E ele tem razão. Precisamos comer e cuidar das nossas éguas.

–         Quanto tempo levaremos para chegar em Amphipolis?

–         Dois dias.

Após cuidarem das éguas e de comerem as iguarias ofertadas por Afrodite, começaram a arrumar as bolsas para a viagem, mas antes, porém…

Xena abraça Gabrielle pelas costas quando esta estava prendendo a bolsa na montaria, diz:

–         Venha, vamos nos despedir e aproveitar um pouco mais desta maravilhosa cama ofertada por Afrodite.

–         Xena… Assim vamos levar mais de dois dias pra chegarmos em Amphipolis…_ disse Gabrielle fechando os olhos, sentindo no seu pescoço beijos amorosos e luxuriantes.

–         Então, você não quer?_ perguntou Xena numa voz sensual ao seu ouvido e mordiscando-lhe o lóbulo da orelha.

–         Quero… quero… Por favor, não pare…

Já na cama, em meios aos beijos e afagos as duas pareciam que não se entendiam, que se embaraçavam com os braços, uma querendo envolver a outra. Então Xena percebeu que Gabrielle também a queria naquele exato momento. Pegou a mão da princesa e a colocou em si própria e depois a sua mão nela. Ensinando-a assim o prazer mútuo.

Algum tempo depois, já vestidas e montadas em suas éguas seguem a caminho da estrada. Xena diz:

–         Não se preocupe Gabrielle, que eu conheço um atalho e em dois dias chegaremos em Amphipolis. Só que iremos acampar ao ar livre e sem conforto nenhum.

–         Não me importa se dormiremos numa cama ou no chão, contanto que eu esteja com você.

A guerreira nada disse, mas demonstrou no olhar o quanto gostara de ter ouvido aquilo.

Durante toda a cavalgada pararam apenas para almoçar e continuaram até o anoitecer. Xena as conduziu até uma clareira, onde ao pé desta havia sofrido uma erosão.

–         Parece uma pequena gruta._ disse Gabrielle.

–         Aqui ficaremos protegidas. Vou fazer uma fogueira e colocar no espeto o resto do peixe do almoço.

–         E eu vou desatrelar as nossas éguas.

Mas tarde, enquanto saboreavam e peixe, Gabrielle pergunta:

–         Como se chama a sua mãe?

–         Cyrene.

–         Você se parece com ela?

–         Um pouco. Meu irmão Toris e eu herdamos a mesma cor dos olhos dela. Já o meu irmão mais novo Lyceus, era louro e tinha os olhos verdes como você.

Gabrielle lhe sorri franzindo o nariz do jeito que a guerreira tanto gostava, dizendo:

–         Será que a sua mãe vai gostar de mim?

–         Tenho certeza que sim.

–         Por quê?

–         Conheço a minha mãe. Embora a recíproca não seja verdadeira, ela não me aceita porque não me conhece.

–         Mas vai conhecer, quero dizer, vai te aceitar.

–         O que você está pretendendo, Gabrielle?

–         Ainda não sei direito, só vou saber ao certo quando chegar lá.

–         Você vai é quebrar a cara.

–         Melhor do que não tentar.

Xena balança a cabeça pros lados como a dizer que não tinha jeito, que não iria adiantar nada, ela conhecia bem a própria mãe.

Gabrielle enche um pouco mais de água a caneca de Xena, dizendo:

–         Esta noite está quente. O céu está estrelado, é lua cheia…

–         Uma noite perfeita para fazer amor._ completou a guerreira, bebendo a seguir toda a água num gole só.

Percebendo o olhar ardente da guerreira, uma princesa por demais lisonjeada, resolve mexer, provocar, brincar para prolongar o momento inevitável de cair nos braços da amada.

–         Gostaria de me banhar, mas não estou escutando o barulho de água.

–         Não se preocupe, tem um pequeno lago ali atrás._ disse apontando pra detrás da clareira e conclui: Na verdade é uma poça, uma grande poça.

–         O que estamos esperando, vamos.

–         Primeiro vou providenciar uma tocha.

Dizendo isso Xena juntou uns galhos secos e com as suas duas pedras acendeu a fogueira. Depois enrolou um pedaço do saco, no qual elas transportavam frutas e legumes, num pedaço de pau. Retirou de dentro da sua bolsa de montaria uma pequena garrafa arredondada de metal que às vezes levava na cintura, e despejou um pouco do líquido dela na tira enrolada, logo após levou-a até a fogueira, a acendendo.

O caminho até a poça estava bem claro. Ao chegar no local, Xena enfiou a tocha acessa no chão. As duas se despem rapidamente e entram na água.

–         Me dá aqui o sabão que eu quero te ensaboar.

Gabrielle entrega o sabão para Xena e vira-lhe as costas para que ela pudesse lhe ensaboar. Depois de ensaboar bem as costas da princesa, Xena diz:

–         Agora, vire-se de frente pra mim.

E antes que Gabrielle pudesse pegar o sabão, Xena começa a ensaboar os ombros dela, depois o pescoço, o colo…

–         Você vai me dar banho?

–         Se você permitir…_ disse a olhando de uma maneira que Gabrielle só conseguiu responder com um leve aceno de cabeça consentindo.

Não fora simplesmente um banho, foram verdadeiras carícias que a guerreira fez na amada.

–         E eu também posso?

Em resposta, Xena lhe entregou o sabão e virou-lhe as costas. As carícias que Gabrielle lentamente fazia nas suas costas, pescoço, ombros e quadris, estavam despertando na guerreira algo que ela queria sentir depois, não naquele momento. Então virou de frente pra Gabrielle e esta, com extrema carícia, começou a deslizar as mãos do pescoço para os ombros e para os peitos eretos da guerreira, onde propositalmente, demorava alisando-os. E percebendo o que estava causando na guerreira, contornou com as mãos a cintura dela em pequenos movimentos circulares até descer com a mão direita, devidamente ensaboada, até o meio das pernas da amada, lavando-a e acariciando-a lá. Depois deixou que seus dedos mostrassem todo o seu amor. Xena gemeu, mas conseguiu dizer:

–         Eu… não fiz isso em você… Você não deixou.

–         Foi porque eu não resistiria. E eu queria te dar prazer.

–         Oh, Gaby… Você sempre me dá prazer…

Então, a princesa acariciou com a outra mão um peito da guerreira e o outro o envolveu com a boca. Era um pouco incômoda a posição da guerreira, mas Xena nem se atrevia a sair dali, estava totalmente entregue àquela pequena princesa.

Momentos depois, uma guerreira totalmente saciada, pergunta:

–         Gabrielle, você aprende muito rápido as lições.

–         Você me inspira, Xena.

Xena a ergue nos braços, beijando-a e antes de sair dali, diz:

–         Vamos lá pros cobertores que eu quero mostrar pra você que também sinto prazer quando te possuo.

Era noite de lua cheia, o céu estava todo estrelado; clima agradável de final de primavera, quase verão; aroma de flores, folhas e mato no ar; e, principalmente, o cheiro da pele e dos cabelos de Xena que Gabrielle aspirou sentindo invadir todos os seus sentidos e que lhe dava a certeza que jamais esqueceria o cheiro e o sabor da sua amada.

Acordaram bem cedo e pegaram o atalho para Amphipolis.

Já era fim de tarde quando chegaram lá. As duas apearam das éguas na frente à porta da hospedaria. Xena parou, indecisa, frente à porta. Gabrielle, percebendo, tomou a dianteira, dizendo:

–         Se quiser pode ficar aqui esperando. Eu vou entrar.

Ainda parada na porta, Xena viu Gabrielle se aproximar de Cyrene que estava atrás do balcão. Dali onde ela estava não dava para ouvir o que conversavam, mas viu quando Gabrielle segurou as mãos de Cyrene e quando esta lhe sorriu em troca. Depois, notou que Gabrielle lhe acenava para que entrasse. O sorriso que ela estampava no rosto era tão luminoso que Xena sentiu que já o tinha visto antes, era aquela sensação de novo. Ao olhar para Cyrene, percebeu que ela a olhava séria. Então se aproximou, sentia-se desconcertada, quase como uma menina que ia ser repreendida pela mãe. Mas ao chegar perto viu lágrimas nos olhos de Cyrene e por isso balbuciou:

–         Mãe, me perdoe… eu…

–         Oh, Xena… Minha pobre filhinha…_ disse Cyrene soluçando enquanto a abraçava.

Xena olhou pra Gabrielle e no seu olhar, a princesa pode sentir toda a gratidão e todo o amor que a guerreira sentia naquele momento.

Depois de todas as palavras ditas que mãe e filha tinham calado por todos esses anos e passado o momento de maior emoção, Cyrene as levou para o antigo quarto de Xena.

–         Veja, Xena, está do mesmo jeito que você deixou. O meu coração sabia que você iria voltar, a minha Xena, não aquela outra.

–         Oh, mãe, me perdoe…_ disse Xena beijando-lhe as mãos.

–         Eu também peço perdão pelas vezes que te expulsei.

–         Eu mereci.

–         Não, Xena, se eu não tivesse te expulsado da primeira vez, quando a culpei pela morte de Lyceus, você não teria se transformado na-naquela guerreira, na Des-Destruidora de Nações, era como chamavam você.

–         Mãe, você não tem culpa, eu tinha que passar por tudo aquilo, fazia parte do meu destino. Como também fez parte do meu destino ter conhecido Gabrielle e graças a ela eu estou aqui. Sabia que Gabrielle é uma Princesa Amazonas?

–         Eu senti que ela é realmente muito especial, mas uma princesa?! É uma honra tê-la aqui, Princesa.

–         Por favor, não me chame de princesa, somente Gabrielle.

Cyrene passa a mão no rosto de Gabrielle, dizendo:

–         Gabrielle, eu vou ser eternamente grata por você ter trazido a minha filha de volta.

Em resposta, Gabrielle que estava ainda com o rosto na mão de Cyrene, segura a mão dela a levando até os lábios e beijando-a.

–         Mãe tem uma coisa que eu preciso lhe dizer._ disse Xena.

–         O que é, filha?_ perguntou Cyrene segurando as mãos da princesa.

–         É que… Gabrielle e eu… Nós não somos só amigas… O que eu quero dizer é que nós duas…

–         Que vocês se amam._ disse Cyrene e ao perceber as caras espantadas das duas, conclui: Xena, você não poderia ter escolhido companheira melhor.

Sensibilizada, Gabrielle, afaga as mãos de Cyrene.

–         Mãe, nós estamos casadas._ avisou Xena.

Vendo a expressão espantada de Cyrene, Gabrielle esclarece:

–         Foi a própria deusa Afrodite quem nos casou.

–         É como eu mesma cabei de dizer, você é a melhor coisa que poderia ter acontecido a minha filha, Lindinha._ e sem notar as expressões espantadas das duas, conclui: Vou buscar uma garrafa daquele vinho que você tanto gosta, Xena.

Assim que Cyrene saiu, Xena diz:

–         Percebi que você também sentiu o mesmo que eu.

–         Foi como se eu já tivesse ouvido ela me chamar de “lindinha” antes.

–         Eu ainda não sei o que está acontecendo, mas vou descobrir.

–         O que importa é que estamos juntas.

–         Você tem razão._ disse Xena e rindo, pergunta: Vai chamá-la de sogra?

–         Não, de mãe.

O sorriso que Xena deu fez Gabrielle se emocionar. Diz:

–         Xena, você fica ainda mais linda quando sorri desse jeito.

–         Que jeito?

–         Como você sorriu agora, assim: natural.

–         Ah, então eu não costumo sorrir naturalmente?

–         Às vezes você ri com sarcasmo e às vezes esconde o sorriso num repuxar de lábios.

–         Hum, então você anda me observando, hein?

–         Claro, adoro olhar você. Tudo em você me interessa.

–         Você é mesmo uma princesa muito observadora.

–         É que além de estar apaixonada, eu sou uma barda._ quando acabou de dizer isso, Gabrielle percebe uma expressão estranha no rosto de Xena, pergunta: O que foi?

–         Novamente aquela estranha impressão de ter vivido esse momento.

Neste instante, Cyrene chega trazendo a garrafa de vinho e três canecas. Enquanto enche as canecas, diz:

–         Eu quero brindar a sua volta Xena e a minha mais nova filha: Gabrielle.

–         Obrigada, mãe._ agradeceu Gabrielle.

–         A nós três!_ disse Xena e concluiu: Verdadeiras mulheres guerreiras!

Após o lauto jantar preparado pela própria Cyrene e de ficarem relembrando a infância de Xena, mesmo sob o protesto desta, tiveram que terminar com a prosa, pois Gabrielle havia se excedido com o vinho e estava um pouco tonta. Xena a conduziu para o quarto.

–         Princesa, de agora em diante, este será o nosso quarto, toda vez que viermos para Amphipolis.

–         Então você concorda em morar comigo lá em Sarmátia?

–         Não é lá que a minha Princesa Amazona mora? Então é lá que eu vou morar também. Gabrielle aonde você for, eu irei também.

–         Oh, Xena…_ balbuciou uma princesa comovida, apesar do riso frouxo estampado no rosto pelo efeito do vinho.

–         Hum… Gabrielle acho melhor te levar pro reservado logo e te dar um banho, você está precisando.

–         Ahn… Estou cheirando mal, Xena?

Xena ri.

–         Não, meu bem, você tem um cheiro delicioso. O banho é porque você está um tanto alta.

–         Quem dera. Mas já me conformei com o meu tamanho.

Xena salta uma gargalhada. Gabrielle então diz:

–         Eu só deixo você me dar banho se você tomar também.

–         Eu já ia mesmo fazer isso.

Depois de uma deliciosa luta no banho, agora era na cama.

–         Gabrielle, você hoje está impossível!_ disse Xena “lutando” para colocar a amada embaixo dela.

–         A culpa é sua.

–         Minha?!

–         É… toda sua… Quem manda ser tão linda e tão gostosa.

Mesmo com vontade de rir, a guerreira não pôs mais resistência e deixou que a sua amada lhe proporcionasse todo o prazer que ela queria lhe dar. Depois então seria a sua vez de demonstrar.

Ficaram um pouco mais que uma semana em Amphipolis, onde Xena pôde reencontrar com o seu irmão Toris, que ela não via desde a partida dele logo após a morte de Lyceus.

Uma tarde, as duas estavam sentadas numa pedra à beira do rio e Xena pensava, lembrando na vida de guerreira errante que ela levará até o dia em que conheceu Gabrielle. Disse para ela:

–         Sabia que há três anos atrás você salvou a minha vida?

–         Eu?! Quando foi isso?_ perguntou Gabrielle muito surpresa, sentada ao lado dela.

–         Eu sei que já te contei uma parte desta história, mas agora eu a quero contar por inteira. Naquele dia em que eu te encontrei toda machucada, eu vinha daqui de Amphipolis, totalmente arrasada. Tinha sido expulsa mais uma vez pela minha mãe e quase fui linchada pelo povo daqui. Queria morrer, mas não me matar. Ia enterrar o meu traje de guerreira e as minhas armas quando Argo te encontrou. E depois quando você me olhou e pediu que eu salvasse a sua família, naquele momento nasceu em mim a Princesa Guerreira e morria de vez a Destruidora de Nações.

–         Oh, amor… Você é quem me salvou de ser infeliz.

Quando iam se beijar, Gabrielle vê uma aranha, de pernas longas, em cima de um pedaço de tronco, próximo a Xena. Levanta-se assustada, dizendo:

–         Ai, Xena. Vamos sair daqui.

–         O que foi?_ perguntou Xena se levantando e pondo a mão nas costas para pegar a espada, só então que lembrou que não estava armada. Olhou para todos os lados e como não viu nada, indagou: Gabrielle, você está com medo de quê?

–         Daquela aranha ali, em cima daquele tronco._ disse apontando e se afastando mais um pouco.

–         Ora, veja só! Uma Princesa Amazona com medo de um bichinho inofensivo como esse!_ gracejou a guerreira pondo as mãos na cintura.

–         Bichinho inofensivo?! Tem muita aranha que possui picada fatal.

–         Mas não esta aqui._ disse a guerreira pegando a aranha nas mãos.

–         Não faça isso Xena, larga ela… Ela pode te picar.

–         Gabrielle, eu sempre brinquei com aranhas. Tive até uma de estimação, que morava no meu quarto. E você nunca teve um animalzinho de estimação?

–         Quando eu era criança tive um pônei. Minha irmã Lila tinha um gato e a minha amiga Serafim tinha um cachorro. Conheci uma garota que tinha um coelho, mas aranha…

–         Vem cá, me dê a sua mão.

–         Pra quê?

–         Eu vou colocá-la só um pouquinho na palma da sua mão e você vai ver como é legal…

Xena não conseguiu completar o que estava falando, pois Gabrielle saiu correndo.

–         Gabrielle!

Ao ouvir o grito da guerreira foi que a princesa correu mais. E antes que pudesse pegar o caminho da estrada, ainda no mato, foi pega de surpresa pelo pulo fenomenal de um vôo da guerreira por cima da sua cabeça, pousando bem a sua frente.

–         Não, Xena, não.

Gabrielle tentou correr pro outro lado, mas Xena a derruba ali entre as gramas.

–         Sai de cima de mim, Xena. Não faça isso._ disse a princesa esperneando.

–         Fazer o quê?_ perguntou a guerreira prendendo o riso.

–         Me forçar a segurar a aranha._ respondeu ainda tentando se mover.

–         Mas eu não estou mais com a aranha.

–         Não?

–         Não.

–         E por que foi que você saiu correndo atrás de mim?

–         Porque você correu primeiro.

–         Então pode sair de cima de mim.

–         Não.

–         Não?

–         Não.

–         E porque não?_ Gabrielle adorava esse joguinho entre elas.

–         Porque estou muito bem assim. Aliás, esta é a posição que eu mais gosto de ficar.

–         Muito engraçada…

–         Muito engraçada, eu? Você quer achar graça, não é? Pois bem, vou satisfazer o seu desejo.

A guerreira arrancou uma haste, espécie de caule, do mato cheia de flores minúsculas e a colocou na boca onde começou a roçar o pescoço de Gabrielle.

–         Pára, Xena…_ dizia a princesa entre um riso e outro.

–         Só se você me der algo em troca._ respondeu sem deixar a haste cair.

–         Está bem. O que você quer?

–         O que você tem pra me dar?

–         Eu tenho aqui um véu todo colorido…

–         Não quero roupa._ e tornou a fazer cócegas, agora no colo da princesa.

–         Pára, Xena, assim… não posso falar…_ disse Gabrielle com os olhos cheios de água de tanto rir.

–         Parei. Mas, fala logo, se não…

–         Tá bem, eu te dou um beijinho.

–         Um beijinho? Só um beijinho, Gabrielle?

–         Eu te darei muitos beijinhos.

–         Mas tem que valer a pena esses beijinhos se não…

E antes que a guerreira pudesse dizer mais alguma coisa, Gabrielle lhe toma da boca a haste, beijando-a. Fora um beijo tão ardoroso que fez com que Xena a saltasse. Imediatamente, Gabrielle aproveita para ficar por cima dela, tornando a beijá-la com paixão. Depois pergunta:

–         Valeu a pena?

Uma guerreira satisfeita sussurra:

–         Humm, humm…

–         Bem, agora é a minha vez._ disse colocando a haste na boca e a deslizando no pescoço da amada.

Xena deixou que ela fizesse isso, deu umas boas risadas e depois perguntou o que ela queria em troca.

–         Como esse é o nosso último dia aqui em Amphipolis quero que essa noite fosse igual a uma noite de núpcias, muito especial e totalmente do seu jeito, do seu gosto.

–         Você vai ter.

Uma princesa mais do que agradecida a recompensa com um beijo mais tenro e mais doce dos que ela costumava lhe dar, como se fosse possível, já que Gabrielle a beijava sempre com ternura. E antes que a guerreira quisesse mais “alguma coisa”, Gabrielle se levanta e sai correndo.

Xena, sem nenhuma pressa, a observa e falando pra si mesma:

–         Essa noite promete!

Enquanto Gabrielle ajudava Cyrene no serviço da hospedaria, colocando os pratos e arrumando as mesas, Xena estava no quarto preparando para a tal noite. Assim que terminou, Gabrielle foi até o quarto, mas a guerreira a proibiu de entrar, então ela foi até a cozinha conversar com Cyrene.

–         Tem certeza que não quer experimentar, Lindinha?_ perguntou Cyrene oferecendo um pedaço da torta de amoras com morangos que ela acabara de fazer.

–         Bem que eu gostaria, mas Xena me proibiu. É que eu só vou comer o que ela levou lá pro quarto. Espero que ela tenha se lembrado da torta.

–         Mãe, a gente vai partir amanhã bem cedo._ disse Xena parada na porta e olhando para a amada, diz: Venha Gabrielle.

–         Ahn…_ balbucia a princesa um pouco embaraçada e totalmente ruborizada perante aquele olhar da guerreira e diz pra Cyrene sem encará-la: Boa noite, mãe, a gente se vê amanhã.

Antes de entrar no quarto, Gabrielle parou e perguntou:

–         Xena, você não esqueceu da torta de amoras com morangos, não é?

–         Imagina se eu ia esquecer de um dos seus doces prediletos.

E antes que Gabrielle pudesse dizer mais alguma coisa ou mesmo abrisse a porta, Xena a segura no colo, dizendo:

–         Eu estava lhe devendo isso, coração.

–         Xe…_ sussurrou docemente Gabrielle, adorando a gentileza.

Ao adentrar, Gabrielle percebeu que os candeeiros estavam apagados e que o ambiente estava levemente iluminado pelas pequenas velas espalhadas em determinados cantos do quarto. E também notou dois lindos candelabros com velas grandes iluminando a mesa arrumada por Xena.

–         Humm… Está lindo, Xena.

–         Eu sabia que você ia gostar.

–         Agora pode me colocar no chão.

–         Ainda não._ disse a guerreira a levando a um outro compartimento do quarto.

–         Ai, Xena, que linda! Como você conseguiu essa tina?_ perguntou Gabrielle olhando encantada para tina que estava toda enfeitada com velas nas bordas e pétalas de rosas na água.

–         Eu tive certeza que você iria gostar, assim que a vi na venda.

–         Gostar não, eu amei! Uma tina só pra nós duas, hum… Vai ser difícil sair daqui do quarto.

Xena a coloca no chão, Gabrielle se aproxima da tina e ao sentir o aroma, pergunta:

–         Xena, o que foi que você colocou aqui dentro, além das pétalas de rosas?

–         Sais, óleo e lanolina. Gostou?

–         Delicioso.

–         Mas, agora chega de conversa, permita-me despi-la?

Xena deu a volta por trás de Gabrielle e a beijando no pescoço começou a desatar o cordão da frente do top verde da princesa. Nisso um estranho barulho se fez ouvir. A guerreira pergunta:

–         Não vai me dizer…

–         É ele mesmo, o esfomeado._ esclarece a princesa.

–         Gabrielle, até nesse momento você sente fome!…

–         Eu não, ele.

–         Como ele?_ perguntou Xena já a conduzindo para a mesa.

–         É que ele parece que tem vida própria. Já passei cada vexame por causa dele! Qualquer dia te conto.

–         Senta aqui, minha princesa gulosa._ ao dizer isso, Xena pára, pensa um pouco e depois diz; Não era princesa gulosa que eu dizia, era barda gulosa. Eu me lembro disso.

–         Eu também me lembro.

As duas se olham espantadas, ficam por um momento sem saber o que dizer.

–         Xena é aquela sensação de vidas passadas.

–         Eu diria de vidas recentes, Gabrielle.

–         Como assim?

–         Eu senti e você deve ter sentido também que foi há pouco tempo que eu a arreliei a chamando assim.

–         Sim, de barda e não de princesa. E eu tive a nítida impressão de que era apenas uma barda.

–         Tem algo ou alguém mexendo com nossas vidas.

–         Quem? Você desconfia de quem possa ser?

–         Não, eu não sei quem é. Só sei que tem algo muito estranho acontecendo conosco… Mas, agora, vamos deixar isso para um outro dia. Esqueceu que essa é a nossa noite especial?

–         Como eu poderia esquecer, se fui eu quem sugeriu?

–         Então, deixe-me servi-la antes que o esfomeado se manifeste outra vez._ disse Xena e fazendo uma cara sapeca, conclui: E depois o nosso banho.

–         A água será que não vai esfriar?

–         Não. Coloquei embaixo da tina pedras vulcânicas superaquecidas, elas vão manter a temperatura da água aquecida por muito tempo.

–         Eu devia saber que você pensa em tudo, que você sabe tudo!_ disse com admiração.

–         Nem tudo, são apenas vivências, experiências adquiridas ao longo desses anos na estrada e muita coisa aprendi a duras penas.

–         Você vai me contar um dia, Xena?

–         O que você quer saber?

–         Eu quero saber de tudo sobre você.

–         Tudo? Tem uma parte da minha vida que eu sinto vergonha e com certeza você iria se decepcionar…

–         Essa parte a qual você se refere fez parte do seu passado e eu quero saber. Quanto a me decepcionar, o importante é que a guerreira que você é agora não me decepciona, eu sinto orgulho de ser sua amiga, além de ser o seu amor.

Xena suspira alto e passando a mão na mão de Gabrielle, diz:

–         Um dia eu te conto. Mas, agora eu quero vê você saborear essas guloseimas que mamãe fez especialmente para você.

–         Só se você comer também.

–         Hum…_ disse Xena fazendo uma careta.

–         Ah, Xena, são tão gostosas… Não vá me dizer que não dá vontade de comer. Você não está com fome?

–         A minha fome é outra._ respondeu olhando-a daquela maneira que a desconcertava.

–         E se eu te der na boca?_ perguntou Gabrielle tentando não demonstrar que ficara um pouco inibida.

–         Assim fica mais gostosa.

Gabrielle desviou o olhar daqueles olhos penetrantemente azuis, mas não conseguiu conter o rubor. Percebendo, Xena para não perder a oportunidade, diz:

–         A comida, Gaby. Que gostosa eu sei que você é.

Gabrielle sabia que teria que se acostumar com as tiradas de Xena, e, ela apreciava intensamente isso na guerreira. Para ela tudo que a sua guerreira fazia e dizia era perfeito.

Enquanto dava de comer a sua guerreira, Gabrielle saboreava toda aquela delícia de comida e sobremesa feita por Cyrene. E, Xena contemplava com satisfação o apetite majestoso da sua pequena princesa.

–         Gaby agora chega, vamos ao banho. Deixa para mais tarde que, com certeza, vai sentir fome._ disse Xena com intenção.

Percebendo, Gabrielle diz:

–         Você tem razão, Xena. É melhor mesmo deixar para mais tarde, porque nós duas vamos mesmo precisar.

Xena olhou para ela percebendo o propósito daquelas palavras que corrigiu o que ela dissera antes. Ela amava o “joguinho” que incrementava o relacionamento entre elas, porém não disse nada, apenas a envolveu pela cintura e a conduziu até a tina.

Gabrielle despiu-se rapidamente com intuito de apreciar a sua guerreira, mas Xena também fez o mesmo.

–         Que pena!…_ suspirou a princesa.

–         O que foi?_ perguntou a guerreira verificando a temperatura da água.

–         Você foi muito rápida ao se despir. Adoro vê-la se despindo.

–         Se você tivesse falado, eu te fazia esse agrado. Fica pra próxima.

Gabrielle se aproxima e passando a mão em volta do rosto de Xena, diz num tom meigo de voz:

–         Você é tão doce…

–         Eu, doce?! Você não está invertendo os papéis?

–         Não. Só porque você é uma guerreira não pode ser também doce, meiga? Pois eu sou uma princesa que também sou guerreira e também carinhosa. Tudo em seus devidos momentos, claro.

–         Que momentos?_ perguntou a guerreira dando corda ao joguinho.

–         Um desses momentos é esse: o momento do carinho, de quando estou com a minha guerreira que é a minha amada, a minha amante, a minha esposa, a…_ Gabrielle não pôde terminar de falar, pois Xena a calara com um beijo apaixonado.

Ao entrar na tina, Gabrielle sentiu as mãos fortes, guerreiras, que a puxam para si, a fazendo se sentar enganchada naquelas coxas de músculos rijos que deixavam-na excitada. Enquanto as suas bocas se uniram, as mãos de Xena faziam o reconhecimento do corpo da amada, fazendo Gabrielle exalar suspiros entre os beijos. Isso estimulava mais ainda a guerreira que agora com as mãos por baixo da água deslizava em movimentos sinuosos e provocativos.

–         Amor…_ sussurrou Gabrielle.

–         Sim?_ perguntou Xena agora lhe beijando embaixo do queixo.

–         Vamos pra cama?…_ pediu uma ofegante princesa.

–         Daqui a pouco._ a guerreira agora lhe acariciava com a língua o lóbulo da orelha.

–         Por favor, Xena… Aqui não dá._ sussurrou Gabrielle completamente abandonada nos braços da amada.

Xena sabia do que se tratava, mas queria continuar com o jogo.

–         Não dá pra quê?_ e abocanhou o lóbulo da orelha, sugando-o.

–         Humm… Você sabe, Xena…

–         Não estou bem certa do que se trata.

–         É que aqui na tina… com toda essa espuma… arde, entendeu?

–         Perfeitamente. Não vou fazer, prometo.

–         Não, eu quero que você faça… Eu… Eu preciso que você…

–         Que eu o quê?_ perguntou-lhe intencionalmente ao ouvido.

–         Que você me possua._ disse mista de timidez e desejo.

Ao escutar isso, Xena a olhou com um olhar ardente de paixão e disse:

–         E eu vou te possuir, princesa, como se nunca tivesse feito isso antes.

E assim foi, mais um momento e uma noite inesquecível para ambas.

No dia seguinte, acordaram tarde. Xena que queria ter partido ao amanhecer, resolveu que viajariam logo após o almoço.

Quando elas estavam preparando as montarias para partir, Xena pergunta:

–         Tem certeza que quer ir pra Espamona? Já ficamos bastante tempo longe da sua tribo.

–         Xena, eu tenho todo o tempo disponível. Quero aproveitar enquanto ainda sou uma princesa, pois como rainha terei que seguir a risca todas as regras e leis amazonas. E, como estou casada e quero aproveitar mais um tempo a sós com a minha esposa… Por isso que eu quero conhecer as famosas fontes quentes de Espamona e de lá então voltaremos para Sarmátia.

–         Eu diria que é um risco e tanto irmos até lá. Os caminhos para lá são em estradas perigosas.

–         Eu sei que estarei protegida porque terei ao meu lado a maior e melhor de todas as guerreiras, que, além disso, é a minha esposa, o meu amor.

–         Gabrielle, você, realmente, sabe como me convencer. E eu quero que saibas que nunca deixarei que algum mal lhe aconteça, nem que eu tenha que morrer por isso.

–         Não, amor, não fale assim. Nada de mal vai nos acontecer.

Foram três dias de muitas expectativas e preocupação para Xena, que, devido a sua experiência e perícia, conseguia desviar dos riscos e emboscadas que encontrou pelo caminho. E também foram três noites dormindo sentadas, escondidas na floresta.

Assim que avistaram a cidade, Xena diz pra Gabrielle, visivelmente aliviada:

–         Ufa! Finalmente chegamos.

–         E vamos direto para as termas! Há três dias que não tomamos banho e eu estou cheirando a ca…_ Gabrielle parou de falar, apontando para a sua própria montaria.

Xena pensou que somente aquela garota para lhe devolver o bom humor.

Ao entrarem na cidade, Gabrielle pode ver que era uma cidade completamente diferente das que ela conhecia, as pessoas se vestiam de uma maneira diferente: todos usavam couro. Somente algumas mulheres usavam vestidos volumosos e bastantes coloridos. Apesar de destoarem com aquele povo, elas não atraíram a atenção de ninguém.

Depois que elas alugaram um quarto na hospedaria, foram para as termas.

Era um casarão de madeira construído a partir de uma caverna e onde havia diversas salas distribuídas em salas de massagens, salas de banho e a vapor. No entanto, preferiram ir para as fontes quentes que ficavam ao término da casa, no centro da caverna. Antes se despiram, deixando as roupas num armário e saindo enroladas nos panos de banho. Entraram num reservado, dos muitos que havia ali.

–         Ai, Xena, como isto aqui é bonito!_ disse Gabrielle colocando o pano de lado e entrando no pequeno poço de água quente que escorria pelas paredes.

–         Aconchegante._ disse Xena já dentro do poço e percebendo que a princesa olhava de uma maneira estranha para o local, pergunta: O que foi Gaby, não está gostando?

–         Não que eu não tenha gostado, mas… Xena as fontes quentes é só isso aqui?

–         Não, não, Gaby…_ disse Xena rindo e conclui: Isso aqui é só um veio de água das fontes. Eu preferi vir para cá primeiro para que pudéssemos ficar mais à vontade. Depois eu te levo até as fontes.

–         Desculpa a minha ignorância…_ disse quase num lamento.

–         Ignorância não, inexperiência. Gaby, ninguém nasce sabendo. O conhecimento vem com a vivência.

–         Obrigada.

–         Lá vem você de novo com essa palavra.

–         Mas eu preciso agradecer a você por ter sempre uma palavra amiga comigo, além de paciência, é claro.

–         Eu diria que vai um pouco mais além do que amizade._ disse Xena se aproximando.

–         E eu não sei disso?

–         Sabe? E o que mais você sabe?

–         Eu sei o que uma certa guerreira está querendo agora._ disse Gabrielle se afastando da frente dela e fingindo interesse pelos potes de essências na beira do poço.

Percebendo o joguinho, Xena sem sair do lugar, diz:

–         Pois eu duvido.

–         Duvida de quê?

–         Que você saiba exatamente o que eu estou querendo agora._ disse Xena ainda sem se virar.

Como Gabrielle, pega de surpresa, não sabe o que dizer, Xena atiça:

–         Eu não disse? Sabia que você não seria capaz de…

Não terminou de completar a frase, pois Gabrielle calou a sua boca com a dela, mas sem beijá-la. Ficou segurando o rosto de Xena com as duas mãos, com o corpo colado no dela. Abriu os olhos e se deparou com aquele par de olhos infinitamente azuis… Os seus olhos se encheram de lágrimas ao mesmo tempo em que sorriam. Mãos poderosas a envolveram num abraço tão intenso que ela se rendeu àquele encanto. Depois de um beijo ardente, quase sofrido e vendo que a sua princesa estava chorando, Xena segura o rosto dela e pergunta:

–         O que foi, coração? Por que você está chorando, foi alguma coisa que eu fiz?

–         Não, Xena, você não fez nada.

–         Então o que foi? A gente estava brincando como sempre fazemos… Será que foi alguma que eu disse…

–         Tudo o que aconteceu há pouco fazia parte do nosso joguinho, mas…

–         Mas o quê?_ Xena estava realmente preocupada.

–         Foi algo que senti quando olhei nos teus olhos antes da gente se beijar.

–         E o que foi que você sentiu?_ perguntou ainda segurando o rosto da amada.

–         Uma sensação de… perda.

Nesse instante, Gabrielle não conteve o pranto. E, Xena, mesmo sem entender, a abraça e ao beijar-lhe a cabeça, diz:

–         Gabrielle, meu amor, não tenha medo. Eu já lhe disse que não deixarei que nada de mal lhe aconteça. Você é o meu amor, a minha vida, a minha luz. Sem você não vou ter razão para viver. Gabrielle, você é minha responsabilidade.

–         Oh, Xena, foi uma sensação muito forte, eu… me desculpe…

–         Lá vem você de novo com essa palavra…

–         Como você pôde se interessar por uma garota assim como eu: uma simplória camponesa que por obra do destino se tornou numa Princesa Amazona. Eu não te mereço.

–         Quem não te merece, sou eu. Deixa-me corrigir uma coisa que você acabou de dizer: simplória, não. É verdade que você era uma simples camponesa, mas também não era tão simples, comum, como as outras camponesas, tanto é verdade que você se tornou nessa adorável, amada e desejada princesa. Como eu acabei de dizer, quem não te merece, sou eu. Ainda bem que no amor o merecimento não conta. Pois se assim fosse, eu não seria digna de você e do seu amor, princesa.

–         Oh, Xena, eu te amo tanto._ disse Gabrielle a abraçando.

Xena a abraça mais forte e a beija com paixão, depois diz ainda com a boca colada na de Gabrielle:

–         O que foi mesmo que a gente veio fazer aqui?

Gabrielle se afastou um pouco para poder olhar melhor a guerreira e vendo um certo brilho naqueles expressivos olhos azuis, diz:

–         Já que você não se lembra, então vou te mostrar.

Gabrielle pegou uma esponja e diz:

–         Vire-se.

Xena obedeceu.

Depois de ensaboar bem as costas da guerreira, a princesa, diz:

–         Agora vire-se de frente.

–         És mesmo uma soberana._ disse Xena lhe tomando a esponja da mão, conclui: E eu sou sua escrava, aquela que irá satisfazer os seus mais secretos e íntimos desejos.

–         Você já satisfaz todos._ disse Gabrielle.

–         Mesmo? Tem certeza?

–         Os meus, sim. E os seus, foram?

–         Serão.

–         Xe! _ disse Gabrielle surpresa, então pergunta: Xena, eu não te satisfaço? Por favor, seja sincera, fale a verdade. E me diga como, quero dizer, o que devo fazer.

Xena não se contém e ri da aflição da sua jovem esposa. Mas, ao perceber que Gabrielle estava realmente preocupada, a puxa para si, dizendo:

–         Gabrielle será que não deu pra você notar como eu fico antes, durante e depois quando a gente faz amor?

A princesa fica por uns instantes quieta e depois num riso revelador, diz:

–         Hum… Me mostra de novo?

Depois de muitas demonstrações e certezas foram se vestir. Gabrielle fez questão de ajudar Xena a colocar a armadura peitoral, na verdade ela adorava fazer isso. Ao procurar a bainha com a espada foi que lembrou:

–         Você deixou as suas armas na hospedaria.

–         É que aqui nesta cidade é proibido andar armado. Interessante, eu já estive aqui há uns cinco ou seis anos atrás e isso aqui era uma bagunça. Não tinha esse casarão ligado a caverna da fonte. Aliás, não era nenhuma cidade, era um povoado, um paraíso de bandidos. Quem será que conseguiu pôr ordem por aqui?

–         Uma mulher que eles chamam de Xerifa.

–         Xerifa?

–         Sim. Eu ouvi dois homens conversando lá no estaleiro, quando a gente levou as nossas éguas. Eles diziam que graças a Xerifa que a cidade era respeitada e eles estavam prosperando.

–         E eles disseram o nome dela?

–         Dália… Thália… Não entendi direito.

–         Será?!

Pela expressão de Xena, Gabrielle soube que ela deveria conhecê-la. Perguntou:

–         Você a conhece?

–         Se for quem eu estou pensando, sim.

Ao voltarem para hospedaria e antes que entrassem na varanda, alguém põe a mão por trás no ombro de Xena, dizendo:

–         Xena é você mesmo, guerreira?

Ainda sem se virar, Xena diz:

–         Thália…_ e vendo de que se tratava da Xerifa, completa: Vejo que você mudou bastante._ disse a guerreira indicando com a mão ao traje de agente da lei que a amiga estava usando.

–         É verdade, mas mudei pra melhor.

–         Estou vendo.

–         Não vai me dar um abraço?_ disse Thália abrindo os braços.

–         Não vai querer me prender?_ disse Xena brincando.

–         Talvez a antiga Xena sim, mas esta guerreira que vejo agora, não.

As duas se abraçam com expressiva alegria.

–         Thália me diz uma coisa: como você sabe que eu mudei?_ perguntou Xena curiosa.

–         Atma esteve aqui e me contou o quanto você tinha mudado.

–         Ah, ela esteve aqui…_ disse Xena num riso amarelo e olhando pra Gabrielle. E, ao perceber o olhar indagativo da princesa, diz ainda meio sem jeito: Thália esta é a minha… amiga Gabrielle. E Gabrielle, essa é a minha grande amiga Thália.

Ainda a olhando sério e até mesmo com um certo ar de censura, que a guerreira pôde sentir, Gabrielle vira-se para a Xerifa e num sorriso, diz:

–         Muito prazer em conhecê-la Thália. Estou encantada com o seu trabalho.

–         Muito obrigada. Quero que você Gabrielle e Xena venham jantar comigo hoje. Não aceito recusas.

E assim que ficam a sós.

–         Mas o que é?_ pergunta Xena ao ver Gabrielle parada a olhando com os braços cruzados.

–         O que é?! Então eu sou só sua amiga, é? Eu vou lembrar disso hoje à noite.

–         Gabrielle você quer que eu fique anunciando pra todo mundo que nós duas…

–         Não precisa dizer pra todo mundo, mas ela não é sua amiga? Então.

Xena preferiu não argumentar.

Quando estavam no quarto trocando de roupa.

–         Quem é Atma?_ perguntou Gabrielle.

–         Uma… velha amiga._ disse Xena de costas para ela .

–         Velha? Duvido muito.

Novamente Xena preferiu ficar calada.

Durante o jantar na casa de Thália, à mesa Xena diz:

–         Thália, eu quero aproveitar que estamos aqui só nós três para te contar uma coisa.

–         Do que se trata, Xena?

–         Eu não te contei antes foi porque estávamos na rua. Gabrielle e eu não somos só amigas, somos amantes.

A estas palavras a princesa quase se engasgou. A guerreira então conclui:

–         Estamos casadas. Afrodite nos casou.

Ainda espantada Gabrielle recebe um abraço de Thália que lhe diz:

–         Parabéns Gabrielle. E como foi que você conseguiu transpassar essa muralha que era o coração desta guerreira?

–         Com amor._ disse a princesa simplesmente.

–         Quer dizer que foi você quem ensinou a guerreira a amar?

–         Gabrielle é uma excelente professora._ disse Xena olhando para Gabrielle.

–         Na verdade, sou eu que tenho muito o quê aprender._ disse Gabrielle sem olhar pra Xena.

–         Você está certa, com ela você vai aprender tudo e um pouco mais até._ disse Thália com malícia.

–         Como sempre exagerada!_ disse Xena passando aquele olhar de sobrancelha levantada.

–         Eu não, você que é um exagero de mulher! Se eu gostasse da coisa garanto que você não me escaparia, com todo respeito Gabrielle.

Com esse comentário Thália conseguiu arrancar risos das duas convidadas e o jantar transcorreu mais solto. Batem à porta e Thália foi vê quem era.

–         Xena, ela não se parece com a…

–         Rainha Melosa._ conclui Xena.

–         Será que são parentes?

–         Acho que não. Melosa é mais velha que Thália.

–         Mas podem ser irmãs, não podem?

–         Bem, Thália nasceu em Trácia.

–         E a Rainha Melosa nasceu em Sarmátia.

–         Então…

–         Mas que são parecidas, são._ afirmou Gabrielle.

–         Eu tenho uma sósia, uma trambiqueira que costuma trabalhar em tabernas. O nome dela é Meg. Qualquer dia desse a gente esbarra com ela e então você verá que somos idênticas, mas não somos gêmeas, nem irmãs ou mesmo parente.

–         Gabrielle, você não deve mencionar as seguintes palavras por aqui: amazonas, princesa e rainha. É perigoso, porque aqui circula todo tipo de gente, inclusive caçadores de recompensas e traficantes de escravos.

–         Como somos perseguidas! Malditos romanos!

–         Que amolação!_ disse Thália chegando na sala, nitidamente aborrecida.

–         O que foi?_ perguntou Xena.

–         Darcon está vindo para cá.

–         O assaltante?

–         É, assaltante, canalha, farsante, aproveitador, egoísta, imbecil…

–         Você conhece mesmo o sujeito._ disse Xena.

–         O bandido é o meu ex-marido.

–         Meus pêsames.

–         Xena!_ cutucou Gabrielle.

–         Xena está certa, Gabrielle. Eu devia estar bêbeda quando me casei com ele.

–         Não seria cega?

–         Xena!_ tornou a cutucar Gabrielle.

–         Cega não, burra. Burra, burra, burra!

–         Mas até que não foi por muito tempo._ disse Xena.

–         Xena!_ exclamou Gabrielle agora colocando a mão na própria testa.

–         Ô, Gabrielle, o que é que tem de errado dizer isso? Eu mesma já fui burra um dia… Quando me aliei a Ares.

–         E eu fui burra ao me casar com um asno!

Mesmo antes de Xena e Gabrielle começassem a rir com tal desabafo, Thália o fez primeiro.

De volta a hospedaria, no quarto.

–         Então vamos ficar mais uns dias por aqui?_ perguntou Gabrielle arrumando a cama para dormirem.

–         Até que o tal do Darcon apareça e que eu possa… que nós possamos ajudar a Thália.

–         Obri… Ahn, quero dizer que fiquei feliz por você me incluir.

–         Afinal, você não é minha parceira?

–         Em tudo?

–         Em tudo e em algo muito especial._ disse a olhando daquele jeito que ainda inibia a princesa.

–         Posso te fazer uma pergunta?

Xena deita na cama e diz:

–         Só se você se deitar aqui primeiro.

Gabrielle se deita ao lado dela, que imediatamente se coloca em cima dela, dizendo:

–         Agora pode perguntar.

–         Quem é Atma?

Novamente o riso amarelo apareceu na face da guerreira.

–         Quem é Atma, Xena?_ insistiu Gabrielle.

–         Eu já lhe disse…

–         Foi sua amante?

Xena rola pro lado e suspira alto, um pouco contrariada.

–         Nem precisa responder._ disse Gabrielle virando de costas para ela.

–         Agora faço questão de te contar toda a verdade._ disse Xena virando Gabrielle para si e explica: Atma, Odessa, A… Bem, outras e outros que passaram pela minha vida e que não ficaram. Sabe porquê? Porque não havia nada além de sexo. Foram só desejos momentâneos e passageiros. Só isso._ parou de falar para olhar diretamente nos olhos confusos da princesa e disse antes de lhe dar as costas: Se você não entendeu, sinto muito Gabrielle, não quero falar de coisas que não representam absolutamente nada para mim. Boa noite.

Houve só um breve instante de uma respiração de alívio e de uma outra contida se unirem numa só, quando Gabrielle virou Xena para si e antes de beijá-la, disse:

–         Você é minha, guerreira, minha.

Foram acordadas pelas batidas nervosas na porta. Enrolada na manta Xena, de espada em punho, abre a porta.

–         Desculpa Xena se tirei você da cama e ainda nem amanheceu totalmente._ disse Thália e conclui: Mas é que Darcon e seus homens vêm vindo. Queriam nos pegar de surpresa, desprevenidos.

–         Como você soube?_ perguntou Xena já pegando os trajes de guerreira.

–         Coloquei homens meus em vários pontos estratégicos da estrada e um deles chegou agora me avisando.

–         Já colocou o nosso plano em ação?_ Disse Xena já se vestindo.

–         Já, tudo pronto._ respondeu Thália.

–         Pronta, Gabrielle?_ perguntou Xena olhando pra trás.

–         Estou. Já peguei o cajado e o arco com as flechas onde estão?

–         No local combinado._ respondeu Thália.

–         Então vamos!_ disse Xena partindo na frente.

O plano de Xena era bem simples e muito cauteloso: colocara, estrategicamente, homens armados na entrada e na saída da cidade; como também, em cada telhado e janela de cada casa, incluindo a hospedaria; colocando também algumas armadilhas de proteção em volta da fonte e do celeiro.

Passado algum tempo, de repente Darcon e seus homens invadem a cidade a todo galope. E são atacados impiedosamente pelo povo da cidade, inclusive pelas mulheres que das janelas jogavam água fervendo em cima deles e pelas crianças e idosos que atiravam, também pelas janelas, pedras de todo tamanho.

Mesmo perdendo mais da metade dos seus homens, Darcon não recuou e ordenou que seus soldados invadissem as casas com seus cavalos. Tentando impedir tal procedimento, Xena, Gabrielle e Thália saem dos seus esconderijos avançando sobre eles. Devido ao inesperado ataque, todos os bandidos, que estavam montados, foram neutralizados por uma enorme rede que caiu em cima deles depois que Xena lançou seu chakram soltando a rede. Restou apenas Darcon. Thália então propõe um duelo entre eles.

–         Xena, não é perigoso?_ perguntou a princesa apreensiva.

–         Não, Gabrielle, Thália é excelente com a adaga.

Percebendo que não tinha escolha, Darcon, após ter olhado ao redor e visto que seus homens ou estavam mortos ou estavam amarrados, concorda dizendo:

–         Se eu te vencer, Thália, quero o direito de sair daqui ileso.

–         Você não está em condição de fazer nenhum acordo, Darcon, mas eu aceito.

Então ambos se prepararam tomando distância. Thália prendeu o seu casaco comprido nas costas, deixando livre a bainha com a adaga que ela trazia presa ao cinturão e amarrada na coxa.

–         Xena se ela não…

–         Xiii, Gabrielle! Preste atenção!_ interrompeu Xena e indicando com o dedo a direção do duelo.

Gabrielle observou que o semblante de Thália não demonstrava nada, não parecia nervosa e nem preocupada, como ela própria estava. Tornou a olhar pra Xena viu que ela estava com um ar completamente descontraído e até com um certo risinho nos lábios. Olhou então para Darcon e percebeu que ele suava e no seu semblante com a testa franzida demonstrava todo nervosismo. E foi exatamente nesse instante que o bandido puxou a adaga e a lançou na direção de Thália. No exato momento que Gabrielle acompanhou a adaga ao seu destino, ficou surpresa ao ver a arma ser agarrada no ar pela mão ágil e rápida da Xerifa que diz:

–         Você sabe Darcon que agora é a minha vez e eu não costumo errar.

–         Você não faria isso, afinal eu fui seu marido._ disse o homem suando e sem ter pra onde correr, pois estava cercado pelo povo.

–         Não faria?! Você quis me matar atirando a adaga bem aqui na direção do meu coração e antes que começasse a contagem. Mas, eu não vou matá-lo, pois você já está morto há muito tempo. Podem prendê-lo!_ disse Thália mandando os seus auxiliares prenderem o bandido.

–         E pra onde você vai me levar?_ perguntou Darcon já com as mãos sendo amarradas nas costas.

–         Para Cálcis, eu tenho uma ordem para levá-lo até lá.

–         Cálcis não! Lá eles vão me enforcar!_ implorou o bandido.

–         Eu sou uma agente da lei e estou cumprindo ordens.

Mais tarde, tomando um vinho com Xena e Gabrielle, Thália diz:

–         Sabe, meninas, que fiquei tentada em fazer a lei com as minhas próprias mãos?

–         E por que não fez?_ perguntou Xena.

–         Porque eu realmente gosto de ser uma agente da lei. E não seria justiça o que faria, seria vingança.

–         De qualquer maneira ele vai morrer._ disse Gabrielle um tanto confusa.

–         Mas não pelas minhas mãos e sim pela lei, pela justiça.

Momentos depois quando as duas estavam nas fontes quentes, após comentarem todo o ocorrido daquela manhã, Gabrielle pergunta:

–         E agora, o que vamos fazer? Para onde vamos?

–         Que tal se fôssemos pro nosso quarto?

–         Estou querendo saber depois daqui de Espamona para onde iremos?_ desconversou Gabrielle.

–         Depois a gente fala sobre isso. Agora eu estou querendo ir pro nosso quarto.

–         Pra quê?

Percebendo que agora a princesa queria brincar, Xena responde:

–         Para descansarmos.

–         Descansar?

–         Foi uma manhã longa. Depois de pegarmos os bandidos, teve aquele almoço na casa da Thália, que tivemos que fazer uma longa caminhada para nos recuperar dele e depois viemos para cá para relaxar. E eu estou tão relaxada que quero ir pra cama. Você queria fazer alguma coisa?_ perguntou Xena de costas para ela para que o seu semblante não lhe traísse.

–         Ahn… Nada, nada. É melhor descansar mesmo.

–         Ah, e quanto aquela sua outra pergunta, para onde vamos… Amanhã bem cedo vamos para o porto onde pegaremos um barco para Atenas e de lá voltamos para Sarmátia. Já falamos sobre isso.

–         Eu sei. É que eu pensei…_ Gabrielle calou de repente, pensativa.

–         Pensou o quê?_ Xena estava se controlando para não rir do jeito confuso da princesa que se perdeu naquele joguinho começado por ela própria.

–         Em ficarmos um pouco mais juntas.

–         E não estamos?

–         Sim, mas é que quando voltarmos para Sarmátia não ficaremos juntas.

–         O quê?_ agora era Xena que ficou confusa.

–         Eu vou explicar: Para que o nosso casamento seja concretizado pelas leis amazonas, vamos ter que dormir em cabanas separadas. Eu sei disso porque já assisti a muitos casamentos lá na aldeia.

–         E essa agora!_ exclamou Xena com as mãos na cintura.

–         É por isso que eu queria prolongar um pouco mais as nossas núpcias.

–         E quanto tempo ficaremos separadas?

–         Depende da lua. Se chegarmos lá na lua minguante, vamos ter que esperar até a lua cheia para a cerimônia. As cerimônias amazonas: casamentos, coroação, acordos entre tribos, tudo é feito na lua cheia. Pois trás prosperidade.

–         Prosperidade num casamento entre amazonas?

–         Sim, nos sentimentos, na vida em comum.

–         Bem, é que eu pensei… Hum, esta idéia me agrada, é._ disse a guerreira puxando a princesa para mais perto.

–         Que idéia?

–         Em te engravidar.

E antes que a princesa conseguisse dizer alguma coisa, a guerreira demonstrou no beijo todo amor que sentia por ela. E a levando para saírem da água, diz:

–         Venha Gabrielle, vamos sair daqui que é um lugar público, senão não vou conseguir conter o que eu quero fazer com você agora.

Mais tarde, no quarto da hospedaria, após uma noite prazerosa de amor, deitada no braço de Xena, Gabrielle pergunta:

–         Xena, você realmente estava falando sério?

De olhos fechados e totalmente satisfeita, Xena pergunta:

–         Do quê você está falando?

–         De que você me engravidaria.

–         Hum… Hum…_ a guerreira se limitou a dizer ainda de olhos fechados.

–         Mas… Mas como, Xena?_ perguntou Gabrielle que havia levantado a cabeça para olhar o rosto da amada.

Xena abre os olhos e a puxa de novo para o seu braço, dizendo:

–         Você não vai querer que eu tente agora, vai?

–         Agora não, estamos ambas cansadas… Mas como é isso?_ a princesa estava realmente curiosa.

–         Gabrielle, entenda amor, quando eu quero uma coisa, vou fundo até conseguir. E, além do mais, eu tenho muitas habilidades.

–         Mas Xena…

–         Ga,,, bri… elle…

–         Tá bem…

De manhã bem cedo, partiram em direção ao porto mais próximo. Depois de um dia inteiro de cavalgada, onde pararam apenas para almoçar, saem da estrada.

–         Mas onde está a gruta?_ pergunta Gabrielle puxando a sua égua e seguindo a amiga.

–         Aqui._ respondeu Xena apontando para um arbusto que encobria uma imensa rocha e depois de suspender um dos galhos, conclui: Esta é a entrada da caverna. Venha traga a sua égua.

Gabrielle ficou encantada com o que viu dentro da caverna, que na verdade não era propriamente uma caverna, era uma imensa rocha que uma erosão abrira uma cratera ao lado e uma outra em cima deixando a caverna sem teto e onde ao fundo, na parte coberta, escorria um veio de água.

–         Isso aqui é lindo, Xena!_ exclamou Gabrielle encantada.

–         Sabia que você ia gostar._ disse colocando no chão os gravetos que trouxera para fazer uma fogueira.

–         Como você conhece lugares bonitos, Xena! Esse é simplesmente fantástico!

–         Eu o descobri quando estava praticamente acuada pelos romanos. Foi o meu instinto de sobrevivência que me fez achar isso aqui. Na verdade, essa caverna foi um dos meus esconderijos. Por isso que você vai encontrar escondidos ali atrás daquele pequeno arbusto, as tochas, panelas e alguns utensílios que deixei aqui.

Após pegar as panelas, Gabrielle as leva até o veio de água para lavá-las e qual não foi a sua surpresa ao constatar a temperatura da água:

–         Uau! É água quente, Xena!

–         Eu sei, o ano todo é assim, por isso só vinha para cá no inverno._ disse Xena friccionando uma pedra na outra e acendendo a fogueira.

Quando Xena estava desatrelando Argo, Gabrielle se aproxima e também começa a fazer o mesmo com a sua égua e ao terminar a tarefa, pergunta:

–         Nós vamos mesmo partir amanhã bem cedo?

–         Sim, bem cedo. Por quê?

–         Porque pensei que podíamos passar mais um dia aqui, que tal?_ como Xena estava demorando pra responder, pediu: Por favor…

–         Está bem. Só um dia. Gabrielle é impressão minha ou você não está com nenhuma vontade de voltar pra Sarmátia?

–         Temos tão pouco tempo juntas, mas como você me conhece!_ disse a olhando com ternura.

–         E eu sinto o mesmo em relação a você. É como se nos conhecêssemos a vida toda.

–         Ou em outras vidas.

–         Lá vem você profetizando…

–         Mas é que eu sou uma barda e tenho o dom de prever as coisas às vezes, é que eu não desenvolvi isso, mas previ a sua chegada. Eu já te contei isso.

Xena se aproxima, ficando tão próxima que podia sentir o cheiro dos cabelos dela, disse:

–         Bendito dom! Devido a ele você esperou por mim._ e acariciando o rosto de Gabrielle, conclui: Linda do jeito que você é, já estaria casada.

–         Eu não sei o que seria da minha vida se depois de ter previsto a sua chegada e você não viesse. Mas de uma coisa eu tenho certeza: eu ia ficar te esperando.

–         E eu nunca pensei que poderia ser tão feliz como estou me sentindo. Principalmente por eu não merecer um sentimento tão grande assim devido ao meu passado, da minha fase na escuridão, nas trevas. Gabrielle, você é um presente que a vida me deu e que eu jamais deveria aceitar, porque não te mereço. Mas ficar sem você seria o mesmo que morrer.

–         Se você não me aceitasse, você estaria sendo cruel comigo. Estaria não só se punindo, como me punindo também, me proibindo de ser feliz com você.

–         Gabrielle, você sempre vê o lado bom das coisas. Eu te amo. Você é a minha luz, a minha razão de viver.

–         Oh, Xena…

E antes que a jovem princesa começasse a derramar as lágrimas que inundariam aqueles lindos olhos verdes, Xena a aperta nos braços e a beija com paixão.

Momentos mais tarde, deitada na coberta com Gabrielle em seus braços, Xena pergunta:

–         Você não respondeu a minha pergunta.

–         Qual?

–         Por que você não está querendo ir pra Sarmátia?

Gabrielle pensa um pouco antes de responder e puxando a coberta, diz:

–         Tive uns pressentimentos. Aliás, ainda ando tendo.

–         E o que é?

–         Não sei explicar, mas alguma coisa me diz que não devíamos voltar pra lá.

Xena se afasta um pouco para poder olhar no rosto dela, queria olhá-la nos olhos, pois sentira que Gabrielle estremecera ao falar. Pergunta:

–         E o que seria isso? O que você acha que poderia acontecer?

Gabrielle não consegue falar, encobre o rosto com as mãos e começa a chorar.

–         Oh, não, Gabrielle, não chore, meu bem…_ disse já a puxando pra si e a acariciando no rosto, pede: Gabrielle, eu quero que você me diga a verdade, eu preciso saber.

Gabrielle enxuga as lágrimas e diz em voz trêmula:

–         Vão nos separar.

–         Quem?_ pergunta apreensiva, mas como Gabrielle não se manifesta em responder, torna a perguntar: Quem vão nos separar? As amazonas? A sua família? Quem?

–         O destino.

–         Gabrielle, no destino nós duas poderemos dar uma mãozinha… E, além do mais, não estou disposta a largar mão de você, lutarei com quem quer que seja se for preciso.

Sem mais nada a comentar, Gabrielle a aperta com força. Xena a consola, dizendo:

–         Está bem, ficaremos mais um dia aqui.

No dia seguinte, saíram as duas para caçar e deixando as suas éguas soltas pastando.

Xena constatou que Gabrielle ainda não era uma boa caçadora, pois não conseguira pegar um coelho que estava encurralado num canto entre duas pedras grandes. Era só se aproximar e com destreza pegá-lo pelas orelhas com as mãos, mas ao invés disso, de uma tarefa que parecia fácil quase se tornou num acidente, pois o coelho saltou por cima dos braços de Gabrielle a fazendo cair sentada e embreando na mata. Xena assistira tudo com as duas perdizes nas mãos e se controlando para não ri. Definitivamente Gabrielle não era uma caçadora, não de bichos, mas tinha uma excelente pontaria para acertar corações como acertou em cheio o seu, pensou Xena.

À tarde, Xena resolveu não caçar, mas colher amoras e levar as éguas de volta para a caverna.

As duas passaram uma parte da noite conversando o que iriam fazer ao chegarem na aldeia amazona e a outra parte fazendo amor.

–         Gabrielle, amor, a gente precisa dormir um pouco…_ disse Xena sendo beijada no pescoço pela princesa que parecia insaciável.

–         Eu sei, amor, mas eu preciso guardar você em mim. O seu cheiro, o seu gosto, a sua pele… Quero que se entranhe em mim.

–         Já estou mais que entranhada em você, princesa, como você está também em mim. E, Gaby, essa não será a nossa última vez que faremos amor antes de chegarmos na aldeia, faremos no barco, quando acamparmos…

Gabrielle calou a boca da guerreira com um beijo cheio de intenções.

Já estava amanhecendo, Xena ao acordar tenta tirar Gabrielle dos seus braços, mas a princesa a aperta, dizendo:

–         Vamos fazer amor?

Mesmo se estivesse cansada, a guerreira jamais resistiria a este convite.

Depois de ter feito amor, Xena fez menção de se levantar, mas Gabrielle, que só estava abraçada a ela, estira-se toda em cima dela, dizendo:

–         Agora é a minha vez.

Momentos mais tarde, uma guerreira totalmente extasiada, ainda com a amada em cima dela, diz quase num sussurro:

–         Meu bem, Argo está inquieta, talvez precise ir lá fora.

Imediatamente, Gabrielle se senta no púbis da guerreira, impedindo-a de se levantar e dizendo:

–         Se você se mexer, vou me remexer daquele jeito bem aqui onde estou, então eu quero ver se você ainda assim vai querer se levantar.

–         Gabrielle…_ sussurrou a guerreira e tentou se levantar.

Achando que se tratava de mais um joguinho, Gabrielle torna a se estirar em cima da amada esfregando o corpo no corpo dela, numa quase dança, num movimento sinuosamente provocante fazendo Xena saltar um gemido. Mas a guerreira segura-lhe a cabeça, lhe confidencia ao ouvido:

–         Gabrielle tem gente aqui dentro. Sem que percebam, deslize para a minha esquerda.

Assim que a princesa rolou para o lado, Xena salta da cama improvisada já com a espada e o chakram nas mãos, dizendo:

–         Muito bem, saiam daí!_ como não obtém resposta imediata, avisa levantando o chakram: Vão sair ou preferem ficar sem as cabeças?

–         Calma, Xena, sou eu.

Antes mesmo que o vulto tomasse forma, Xena e Gabrielle dizem ao mesmo tempo:

–         Ephiny!

–         Calma, Xena, eu posso explicar… A gente não queria assustar vocês.

–         Como não? Chegando assim à surdina, no meio da madrugada… Espero que tenha mesmo um bom motivo para isso._ disse abaixando as armas, mas com o semblante bastante contrariado.

–         Infelizmente, tenho sim._ disse Ephiny em frente à guerreira e depois olhando para Gabrielle.

Gabrielle que já havia se levando enrolada na sua manta, se aproxima e cobre com uma outra manta o corpo nu da guerreira e vendo na expressão séria do rosto da sua Regente, pergunta-lhe:

–         E qual é o motivo, Ephiny?

–         Minha princesa, não gostaria de ter sido a portadora de tão má notícia, mas… A Rainha Melosa morreu.

–         O quê?!_ disse Gabrielle visivelmente abalada.

–         Como foi isso, Ephiny?_ perguntou Xena aparando Gabrielle e a abraçando.

–         Primeiro deixe-me apresentar…_ Ephiny faz sinal com a mão para que alguém saia da escuridão e apareça, diz: Esta é Ariadne, a princesa herdeira das Amazonas do Norte, ela era a noiva da Rainha Melosa.

–         Noiva?!_ foi o que conseguiu falar Gabrielle, ainda muito abatida e com os olhos rasos d`água.

–         Entendo o seu espanto, Gabrielle. Nem eu sabia. A Rainha Melosa só me contou uns dias depois que vocês saíram.

–         Vai contar pra ela ou eu conto?_ perguntou Ariadne a Ephiny.

–         Creio que esse não é o momento adequado para isso._ disse Ephiny olhando duro para Ariadne.

–         Já que não vai contar, eu conto. Pois está sendo muito constrangedor para mim, encontrar a minha noiva nos braços de outra._ disse Ariadne olhando diretamente para Gabrielle.

–         Noiva?! Que noiva?!_ perguntou Xena tornando a fechar o semblante.

Ephiny se aproxima mais de Xena e Gabrielle, ficando assim entreposta as duas e Ariadne. Diz:

–         Xena, essa é uma longa e complicada história…

–         A princesa Gabrielle é minha noiva._ interrompeu, revelando, Ariadne e sem tirar os olhos de cima de Gabrielle.

–         O quê?!_ disse Gabrielle arregalando os olhos.

–         Como é que é?!_ exclamou Xena quase gritando.

–         Calma, se vocês me derem um tempo, eu vou tentar explicar essa história._ disse Ephiny e se virando para a outra princesa, diz: E, por favor, Ariadne, não me interrompa desta vez.

–         Começa a falar, Ephiny._ disse Xena já vestindo o seu traje.

–         A Rainha Melosa havia-me dito, quando da sua segunda visita as Amazonas do Norte, que iria fazer uma aliança com elas. Somente as conselheiras da tribo, além da nossa curandeira Astéria, que sabiam desse compromisso. Ela só iria comunicar a nossa tribo quando Ariadne viesse conhecê-la.

–         Mas elas não se conheciam?_ perguntou Gabrielle saindo de trás de Argo onde fora se vestir.

Percebendo o olhar fascinado de Ariadne por Gabrielle e o olhar mortífero de Xena em Ariadne, Ephiny explica:

–         Não, elas não se conheciam porque das duas vezes que a Rainha Melosa esteve lá, Ariadne não estava presente. Na verdade, o compromisso da Rainha Melosa era com a mãe de Ariadne e como a mãe dela faleceu, a filha, herdeira legítima assumiu o compromisso. E a nossa rainha foi avisada e aceitou o compromisso. Ariadne então veio com a sua comitiva para o casamento e ela chegou no momento em que a Rainha Melosa estava enfrentando Velaska.

–         Velaska?_ Perguntou Gabrielle.

–         Velaska é a filha da ex-companheira da Rainha Melosa. Um dia elas brigaram e a mãe de Velaska foi embora levando a filha adolescente. Velaska ao saber da morte de Terreis veio reivindicar o lugar de herdeira.

–         E ela pode?_ perguntou Gabrielle.

–         Não. Ela não é filha da Rainha Melosa e nem foi reconhecida como tal, pois a nossa rainha não era casada com a mãe dela._ Ephiny deu uma parada fingindo um pigarro e olhando para Xena que continuava com aquela expressão que parecia que iria a qualquer momento se lançar sobre elas, continuou: Bem, continuando. Assim que Velaska lançou o desafio para um duelo de honra, eu, como o braço direito da rainha, me ofereci para lutar em seu lugar. Mas Velaska fez pouco caso e provocou a Rainha Melosa dizendo que ela estava velha e com certeza estava com medo dela.

–         Então Melosa aceitou o desafio._ disse Xena ainda impaciente.

–         Isso. Velaska escolheu a espada, que era o seu forte. Mas a nossa rainha estava em forma e levava vantagem na luta, já estava quase desarmando Velaska, após derrubá-la no chão, quando se desconcentrou ao olhar para Ariadne que havia chegado e chamado por ela e foi nesse momento que, traiçoeiramente, Velaska cravou a espada no peito da nossa rainha. Corri para socorrê-la, mas antes que Astéria pudesse fazer alguma coisa, ela fez o seu último pedido antes de morrer.

–         E… qual foi?_ perguntou Gabrielle quase gaguejando, já prevendo o que seria.

–         Ela disse: “Peça que a princesa Gabrielle assuma o trono e honre o meu compromisso”, essas foram às últimas palavras dela que morreu nos meus braços.

Xena olha para Gabrielle, que já a estava olhando, completamente pálida e meio trôpega se abraçou a ela sussurrando baixinho “Xena…”, como se lhe pedisse proteção. A guerreira a abraça e olhando para Ephiny, pergunta:

–         E a tal da Velaska, o que foi que vocês fizeram?

–         Eu a matei._ disse Ariadne a olhando nitidamente contrariada por vê-la abraçada a princesa.

–         É, Ariadne ao dar-lhe um tapa no rosto a desafiou para um outro duelo. E novamente Velaska perdeu, só que desta vez ela encontrou uma adversária que não teve a clemência que Melosa iria lhe dar.

–         Ela era a minha noiva, era o mínimo que eu poderia fazer por ter sido, involuntariamente, causadora da morte da Rainha Melosa._ justificou-se Ariadne.

–         E, após o funeral da nossa rainha, a pedido das conselheiras vim pessoalmente lhe buscar, Princesa. Ariadne fez questão de vir junto. Estivemos em Amphipolis, onde Cyrene nos disse que vocês tinham ido para Espamona e lá nos disseram que vocês haviam partido um dia antes da nossa chegada e que iam para o porto._ explicou Ephiny.

–         E como nos acharam?_ perguntou Xena.

–         Foi por pura sorte. Como essa é a única estrada que leva ao porto e como tínhamos que descansar, me lembrei desta caverna._ disse Ephiny.

–         Você já tinha acampado aqui antes?_ perguntou Gabrielle.

–         Gabrielle, você se lembra que eu e sete das nossas irmãs sofremos uma emboscada quando viemos por essas bandas fugindo dos romanos?_ ao vê que a princesa balançou a cabeça concordando, conclui: Ao defender Amoria acabei me ferindo e nós tivemos que correr, pois apareceram mais soldados. Então viemos para esse local e acidentalmente o meu cavalo que queria comer o arbusto que escondia a entrada da caverna, nos mostrou o lugar perfeito para ficarmos protegidas. Ficamos uns dias por aqui até nos recuperar. Estranhamos encontrar panelas, ervas para chá, candeeiro, velas e algumas mantas.

–         Fui eu quem deixou essas coisas aqui, era um dos meus esconderijos._ esclareceu Xena.

–         Então você deve ter dado pela falta das mantas._ disse Ephiny.

–         Não, não tive tempo de reparar nisso._ disse Xena olhando intencionalmente para Gabrielle.

–         Aquelas mantas foram a nossa salvação, pois a usamos para encobrir os nossos trajes de Amazonas. Por causa do ocorrido, a Rainha Melosa ordenou que quando viajássemos usaríamos trajes de guerreira ou de camponesas.

Só então que Xena reparou que tanto Ephiny quanto Ariadne estavam vestidas de guerreiras com calça comprida, proteção peitoral e botas de couro. Elas poderiam passar despercebidas para os romanos e os traficantes de escravos, mas não para ela.

–         Você quando esteve em Espamona viu a xerifa Thália?_ perguntou Gabrielle a Ephiny.

–         Não. Por quê?_ perguntou Ephiny.

–         Com certeza você levaria um susto se a visse, ela se parece muito com…_ Gabrielle não conseguiu completar o que ia dizer, pois não consegue mais controlar a tristeza que sentia.

–         Thália é a cara de Melosa._ esclarece Xena, envolvendo a sua amada em seus braços, consolando-a.

–         Será que vou ter que lembrar que as coisas mudaram?_ falou rispidamente Ariadne olhando para Gabrielle.

Rapidamente, Ephiny se intromete, dizendo:

–         Minha Princesa, temos que voltar imediatamente para Sarmátia. Deixei Amoria como sendo a minha representante, já que sou a Regente e tenho certeza que Amoria deve estar nos cascos, quero dizer, com os nervos à flor da pele, se conheço bem aquela lá.

Xena e Gabrielle arrumaram as suas coisas em silêncio, nenhuma das duas quis o desjejum. Xena ponderou, se Gabrielle não quis comer era porque estava bastante preocupada e triste. Cavalgaram lado a lado, seguidas por Ephiny e Ariadne.

Quando elas chegaram no porto tiveram a sorte de embarcar num barco que já ia zarpar para Atenas. Alugaram apenas uma cabine, pois não havia outra disponível até o próximo porto. A única cama foi ocupada por Ephiny; Xena e Gabrielle preferiram dormir, lado a lado, em suas respectivas mantas no chão; e, Ariadne preferiu dormir na rede de onde poderia vigiar melhor a sua noiva. Como ainda era dia, resolveram ir pro convés. Mas antes que Ephiny saísse, Gabrielle lhe segura o braço, dizendo:

–         Xena e eu gostaríamos de ter uma conversa com você, Eph.

–         E eu também gostaria de ter uma conversa a sós com você, Gabrielle._ disse Ariadne.

Gabrielle coçou o queixo, Xena sabia que quando isso acontecia era porque ela estava tentando se controlar.

–         Primeiro eu quero ter uma conversa a sós com Gabrielle._ avisou Ephiny olhando seriamente para Xena e para Ariadne.

–         Vou esperar lá fora no corredor._ avisou Xena.

–         Eu também._ disse Ariadne.

Depois que as duas saíram, Gabrielle fecha a porta da cabine e conduz Ephiny para se sentarem na cama.

–         Ephiny diz que isso é um pesadelo, que eu vou acordar e que há uma saída pra me livrar desse compromisso.

–         Sinto muito, minha amiga.

–         Eph, eu já sou casada, não posso assumir nenhum compromisso com Ariadne.

–         Gabrielle entenda, você ainda não está realmente casada, não como uma amazona.

–         Mas foi a própria deusa Afrodite quem nos casou.

–         O casamento só é válido para a nação amazona quando é realizado conforme os nossos costumes, leis e rituais. Perdoe-me por estar sendo cruel, mas você ainda é solteira e… noiva de Ariadne.

–         Isso nunca. Eu me recuso a tal coisa.

Ephiny preferiu calar, não teve coragem de contar tudo o que sabia a respeito do que iria acontecer, pois percebeu que Gabrielle não suportaria outro choque, dava pra ver como ela estava com os nervos à flor da pele.

Gabrielle se dirigiu a porta, ao abrir pediu que Xena entrasse, somente ela e nem olhou para Ariadne. Assim que fechou a porta disse para a sua guerreira:

–         Xena, o nosso casamento não é válido para a nação amazona.

–         Não tem problema a gente se casa lá.

–         Gabrielle está prometida a Ariadne._ disse Ephiny.

Xena exala ar pelas narinas, numa fisionomia totalmente transtornada, após apertar os lábios e de andar de um lado para o outro, diz:

–         Não por muito tempo, se o empecilho é ela, vou matá-la!

–         Xena!_ exclamou Gabrielle preocupada e abraçando-se a ela, suplica: Não, amor, se você fizer isso vai haver guerra entre as duas tribos. Deve haver um meio legal para anular esse compromisso.

–         Gabrielle, eu estou no meu limite. Ela fica me provocando, olhando para você daquela maneira, se impondo entre a gente. Sem contar que ficou escondida na penumbra espiando a gente na nossa intimidade, se não fosse Ephiny ter entrado… Eu vou quebrar a cara daquela cretina!_ disse dando um soco na própria mão.

–         Não, Xena, me prometa que você não vai fazer nada contra ela, prometa!_ implorou Gabrielle segurando com as mãos o rosto da amada.

–         Prometo._ disse Xena após relutar consigo mesma.

Gabrielle a abraça e Xena a envolve nos seus braços.

Nesse instante, Ariadne abre a porta e vê as duas quase se beijando, diz irritada:

–         Ephiny, eu exijo que você ponha um fim nisso ou terei que relatar a sua conduta conivente e condescendente em ultrajar o compromisso entre as duas nações amazonas. Agora quero conversar com a minha noiva a sós.

–         Ora, sua…_ Xena fez menção de partir pra cima daquela prepotente e atrevida princesa.

–         Xena…_ disse Gabrielle se colocando na frente da amada e suplicando: Por favor, amor.

Como a guerreira hesitou, Ephiny interveio dizendo:

–         Venha, Xena, deixa que elas conversem um pouco.

–         Vai com Eph, amor. Depois a gente conversa._ pediu carinhosamente Gabrielle.

Por ter escutado Gabrielle chamá-la de “amor” por duas vezes seguidas, demonstrando assim que era a ela que ela amava, Xena concordou em sair. Foi tão clara a intenção de Gabrielle de mostrar o seu amor por ela, que o coração de Xena se abrandou um pouco.

–         Venha, precisamos conversar._ disse Ariadne se dirigindo e se sentando na cama.

Um pouco hesitante Gabrielle se aproximou e se sentou na beira da cama. Percebendo Ariadne pergunta:

–         Está com medo de mim? Não quero que tenha medo de mim.

–         Não é medo.

–         Receio, talvez?

–         Talvez.

–         Então, deixe-me tirar essa má impressão, eu quero que você me conheça melhor.

–         Desculpe, eu não quero que você se ofenda, mas, sinceramente, eu não estou interessada em conhecer quem quer que seja. Eu já conheci quem eu realmente queria conhecer.

–         Como você pode ter certeza disso, se só foram alguns dias que vocês ficaram juntas?

–         Eu tenho.

–         É impressão minha ou você está me evitando?_ perguntou a olhando de tal maneira que Gabrielle não soube o que responder. Ariadne então continuou: Sabe, Gabrielle, eu também não tive escolha, tive que assumir o compromisso assumido pela minha mãe. E por causa disso tive que renunciar ao que mais gosto de fazer: as disputas nos jogos entre todas as nações amazonas. Já fui diversas vezes campeã em várias modalidades.

–         Sinto muito.

–         Também sinto muito por você que terá que renunciar a esse envolvimento com aquela guerreira. A nação amazona é mais importante que nós mesmas. E vai depender desse compromisso para a paz, a sobrevivência e a união do nosso povo.

Gabrielle mais uma vez não soube o que dizer. Ariadne prossegue:

–         Só há uma maneira de sobrevivermos ao ataque dos romanos e dos traficantes de escravos é mantermos as tribos unidas. Se houver uma quebra, um racha entre o nosso povo ficaremos fracas e seremos dominadas, daí execradas, exterminadas. Sabe por que os romanos querem nos liquidar? Porque não somos bom exemplo para as outras mulheres. Só na minha tribo, nós acolhemos cerca de dúzias de mulheres romanas que fugiram dos pais ou dos maridos. Essas mulheres eram verdadeiras escravas em suas próprias famílias. E agora elas são guerreiras, mulheres que se governam, mulheres felizes que…_ Ariadne pára de falar ao perceber a presença de Ephiny e Xena paradas na porta. Diz a elas: A conversa ainda não terminou.

–         Ah, terminou sim!_ disse Xena se aproximando e estendendo a mão para Gabrielle, diz: Vem, Gaby, vamos almoçar.

Quando Gabrielle ia se levantando é segura pelo braço por Ariadne que diz:

–         Terminaremos a nossa conversa depois. Também estou faminta, vamos?

E assim Gabrielle foi levada ao refeitório ladeada por aquelas duas princesas apaixonadas. No entanto, Gabrielle também percebera com espanto que a sua guerreira estava se controlando, embora a expressão do seu rosto não demonstrasse o mesmo.

 Novamente Gabrielle quase não comeu, o que era incomum a sua natureza, Xena percebeu. A conversa à mesa era sobre o mercado, o preço das mercadorias, isso era uma maneira de mostrar aos que estavam ao redor, em outras mesas, que elas eram guerreiras. Depois, foram para a proa do barco, para fazerem a digestão e também apreciarem a noite.

–         Xena, quantos dias levaremos para chegar em Atenas?_ perguntou Gabrielle saindo do meio das duas guerreiras e se encostando ao parapeito do barco.

–         Se não houver nenhum imprevisto, chegaremos em…

–         Vinte dias._ antecipou-se Ariadne.

–         Não. Chegaremos em duas semanas, no máximo quinze dias._ corrigiu Xena visivelmente irritada.

Ariadne chegou a fazer menção que ia dizer alguma coisa, mas Ephiny se intromete, dizendo:

–         Lembrem-se do que combinamos: falar de assuntos íntimos e corriqueiros só dentro da cabine. Vocês perderam a noção do perigo?

Nisso começou a chuviscar, Gabrielle é a primeira a entrar, seguida por Ariadne. Xena puxa Ephiny e lhe diz:

–         Assuntos íntimos ainda vá lá, mas corriqueiros? Com aquela lá? Você deve estar brincando!

–         É o que eu gostaria que isso tudo fosse: uma brincadeira._ respondeu Ephiny.

A chuva aumentou e com ela veio uma forte tempestade. No quarto, todas estavam preocupadas e tensas, agora também por causa disso.

–         Xena, eu não estou conseguindo acertar o ponto de compressão._ disse Gabrielle estendendo o pulso e completa meio chorosa: Já estou começando a ficar enjoada…

Imediatamente Xena se senta ao lado dela na cama e tomando-lhe o pulso aplica-lhe o ponto de compressão, enquanto lhe dizia baixinho:

–         Você não estava conseguindo foi porque estava completamente tensa, meu bem.

–         E não é para estar?_ respondeu Gabrielle no mesmo tom.

–         Tenha calma, meu bem, que nós vamos resolver juntas essa situação.

–         É tão bom ouvir você me chamar de meu bem._ disse Gabrielle franzindo o nariz naquele seu modo de sorrir que a guerreira tanto gostava.

–         E eu adoro quando você ri dessa maneira._ disse a guerreira ainda aplicando o ponto de compressão e se aproximando para mais perto da sua princesa. Com a outra mão, Xena ofereceu uma maçã que estava enrolada no pequeno pano de mesa, diz: Reparei que você quase não comeu, não quero que sinta fome.

Sem pegar na fruta, Gabrielle morde a maçã na mão da guerreira que passa a alimentá-la com carinho.

–         Ephiny!_ disse Ariadne apontando para as duas e exigindo com isso uma providência.

Ephiny se aproxima da cama e diz baixinho:

–         Perdoe-me, minhas amigas, pelo que vou dizer, mas não pode mais haver intimidade entre vocês. Sendo Gabrielle a nossa futura rainha e devido a isso o compromisso dela com a princesa Ariadne.

–         Gabrielle é minha… esposa._ disse Xena tentando se controlar.

–         Não é não._ replicou Ariadne.

E antes que começasse o bate-boca, Ephiny interfere:

–         Calma gente! Quando chegarmos em Sarmátia, na nossa aldeia, resolveremos isso.

–         Mas enquanto não chegamos lá, nada e NINGUÉM vai me impedir de namorar a minha esposa._ avisou Xena se levantando e estendendo a mão pra Gabrielle, diz: Vem, Gabrielle, vamos ver como nossas éguas estão.

As duas saem e Ephiny impede que Ariadne vá atrás, dizendo:

–         Você fica, Ariadne. Xena tem razão. Não vá tornar essa viagem num inferno.

–         Mas Gabrielle é minha noiva…

–         E é a esposa de Xena. Não sei se você percebeu, mas elas se amam.

–         Eu estou apaixonada por ela e não vou abrir mão dos meus direitos.

–         Agindo assim dessa maneira, você não vai conseguir nem sequer a simpatia de Gabrielle. Eu posso afirmar isso porque a conheço bem.

–         Não quero vê-la com intimidades com aquela guerreira.

–         Agora já é tarde para exigir isso.

–         Mas eu posso impedir._ disse Ariadne tentando tirar Ephiny da frente da porta.

–         Calma aí Princesa! Você só poderá tentar alguma coisa lá na aldeia. É melhor pra você se comportar, não queira me ver enfezada. Deixe as duas em paz, não há nada que você possa fazer. Entenda isso!_ disse Ephiny com aspereza e cansaço.

No porão.

–         As nossas éguas estão bem instaladas, Xena…_ Gabrielle não conseguiu completar o que ia dizer, pois fora agarrada e beijada com paixão pela sua guerreira.

Momentos depois de muitos afagos e beijos.

–         Hum… Como é bom ser beijada assim._ disse Gabrielle e completou: Eu estava mesmo doida pra te beijar.

–         E eu estou doida para te amar._ disse Xena a beijando no pescoço.

–         Aqui não, Xena. É perigoso.

–         Aqui sim e agora mesmo._ disse a guerreira sem deixar de beijar o pescoço da amada.

–         Aqui onde? Em pé?_ perguntou Gabrielle quase rindo.

–         Sabe que não é má idéia? Mas eu já preparei um cantinho para nós._ disse levando a princesa para detrás de uns caixotes e pergunta: Que tal?

–         Vamos estar bem escondidas, mas também ficaremos cheias de palhas sabe-se lá onde.

–         Não seja por isso._ disse Xena estendendo duas mantas em cima das palhas e explica: São as mantas das nossas éguas, eu as lavei e deixei aqui para secar. Agora… Vem cá, neném.

A esse pedido, Gabrielle jamais recusaria fosse aonde fosse, em qualquer lugar que estivesse. Aquele tom de voz e a maneira como a chamara era a sua rendição. Jamais poderia negar a se entregar nos braços daquela guerreira.

Enquanto isso, na cabine, Ephiny tentava conter a fúria de uma princesa preterida.

–         Sai da frente, Ephiny!

–         Sinto muito, Ariadne, mas para passar por esta porta vai ter que medir forças comigo.

–         Eu não quero brigar com você, Ephiny.

–         Ótimo, eu também não quero brigar.

–         Será que você não entende que isso não pode ficar assim?

–         Por que não?

–         Ora, porque… porque Gabrielle é minha noiva!

–         Ainda não, Ariadne. Eu pensei bastante e me lembrei que ela só será a sua noiva depois da cerimônia de posse, quando ela se tornar rainha. Não foi assim com você que, após assumiu o trono também assumiu o compromisso da sua mãe?

–         Foi, mas isso é uma afronta! A minha futura noiva está neste momento nos braços de outra!

–         Não foi assim que você viu Gabrielle pela primeira vez? Eu só estava esperando o momento certo para lhe dizer isso: foi abominável o seu procedimento, indigno de uma futura rainha.

–         Eu… Eu não resisti, ela é linda! Ao vê-la daquele jeito fiquei paralisada, isso nunca tinha acontecido comigo.

–         Você está realmente apaixonada por Gabrielle?_ perguntou Ephiny olhando profundamente para Ariadne.

–         Completamente, ela é adorável.

–         Mas é apaixonada por Xena e eu só prova viva disso.

–         Só em pensar que ela está nos braços daquela guerreira…_ disse Ariadne dando um soco na porta.

–         Não vá me dizer que você está com ciúmes, se só a conheceu hoje pela manhã?

–         Eu posso jurar pra você que eu não queria que isso tivesse acontecido. Logo eu que tive todas as mulheres que quis, me apaixonar por uma mulher que ama outra.

–         Já que você reconhece que Gabrielle ama Xena, tente manter-se digna de sua tribo e respeite isso.

Ao ouvir essas palavras, Ariadne desiste de sair e se deita na rede.

Ephiny se senta na beira da cama defronte a rede e vendo lágrimas nos olhos dela, diz:

–         Então você se apaixonou mesmo por Gabrielle…

–         Eu já lhe disse que sim.

–         Quer um conselho?_ e sem esperar a resposta, diz: Tente esquecê-la, assim você não sofre e nem ela também.

–         Eu vou fazê-la feliz, isso é uma questão de tempo.

–         De tempo? Pois bem, Gabrielle esperou por um longo tempo por Xena. Você acha mesmo que o tempo fará ela mudar?

–         Ephiny, você não esconde mesmo que está torcendo pelas duas…

–         Pra ser sincera eu torço sim, sabe por quê? Porque amo Gabrielle como se fosse a minha irmã caçula e eu daria a minha vida para que ela fosse feliz com seu grande amor que é Xena.

Ariadne lhe vira as costas sem retrucar, mas Ephiny percebeu que ela ainda estava furiosa.

Um pouco antes de o dia clarear, Xena e Gabrielle entram na cabine sem fazer barulho e se deitam nas suas mantas estendidas no chão. Tanto Ephiny quanto Ariadne perceberam a chegada delas, mas nenhuma das duas se manifestou.

Quando amanhece, Xena é a primeira a se levantar e quando ia acordar Gabrielle, Ephiny a cutuca e faz um sinal para que saíssem da cabine. Xena a segue e no corredor, pergunta:

–         O que foi, Ephiny?

–         Xena, eu estou com uma brasa acesa nas mãos!

–         E o que é você quer que eu faça?_ disse a guerreira fingindo não ter entendido.

–         Que pelo menos não assopre mais essa brasa.

–         Você tem noção do que está me pedindo, Ephiny?_ disse Xena colocando as mãos na cintura.

–         E você tem noção de como estou me sentindo no meio disso tudo?

–         Ephiny, eu não gostei nenhum pouco de vocês terem ficado espiando lá na caverna, Gabrielle e eu, num momento tão íntimo.

–         Já que você tocou nesse assunto, acho que te devo mesmo uma explicação. Assim que chegamos na frente da caverna pedi a Ariadne para que ficasse vigiando a entrada enquanto eu escondia os nossos cavalos. Mas, ao invés disso, ela entrou. Depois que entrei e camuflei a entrada da caverna, foi que vi que ela estava mais adiante parada, escondida na penumbra. Ao me aproximar foi que percebi que ela estava olhando era vocês duas, quando ia chamar a atenção dela, você pulou com a espada em punho e o resto você já sabe. Foi a situação mais constrangedora que já passei.

–         Ah, que você passou?! Então prepare-se!

–         O que você quer dizer com isso?

–         Que minha esposa e eu não vamos dividir mais a cabine com vocês e nem ficar mais lá no porão.

–         E vão ficar onde?

–         Para a cabine aqui do lado, o passageiro que ia ocupá-la não embarcou e o capitão me avisou quando… quando passávamos pelo convés hoje… de madrugada._ disse a guerreira um pouco constrangida.

–         Eu vi quando vocês chegaram. E aposto que aquela lá viu também.

–         Bem, eu já te comuniquei a nossa decisão.

–         Mas, Xena…

–         Não tem “mas”, Ephiny. Tanto e eu quanto Gabrielle queremos a nossa intimidade de volta.

–         Mas Xena, Gabrielle é noiva…

–         Gabrielle é minha esposa! Antes mesmo dessa história de noivado surgir, ela já era a minha esposa. E quer saber de uma coisa: Eu já estou cheia dessa história.

–         Então sobrou pra mim, ter que dividir a cabine com aquela princesa, cabeça dura, tinhosa, ciumenta, o que seja!_ desabafou Ephiny.

–         É, você a descreveu direitinho, Ephiny. Venha vamos entrar, só espero que ela não tenha acordado, pois não quero deixar a minha pequena loura sob o olhar faminto daquela loba.

E fora isso o que realmente estava acontecendo, Ariadne estava sentada na rede olhando para Gabrielle que dormia profundamente.

–         Eu não disse._ sussurrou Xena para Ephiny. Depois se aproximou de Gabrielle e debruçando-se sobre ela a chama enquanto a acariciava o contorno do rosto com a costa da mão: Gabrielle…

–         Xena…_ respondeu a princesa ainda de olhos fechados. Ao abri-los viu a sua guerreira e num belo sorriso, disse: Bom dia, amor.

–         Bom dia, meu bem.

–         Você já fez o desjejum?_ perguntou Gabrielle passando o rosto na costa da mão de Xena que a acariciava.

–         Não, estava esperando por você. Está com fome?_ Xena perguntou com propósito.

–         Morrendo de fome, também depois desta noite…

Ephiny pigarreia, só então que Gabrielle percebeu que não estavam a sós. Fora essa a intenção de Xena de mostrar de uma vez que Gabrielle era e sempre será somente dela.

–         Pegue as suas coisas, meu bem._ disse Xena já pegando as suas e num tom mais baixo, diz: Vamos para a nossa cabine.

–         E nós podemos ir?_ perguntou Gabrielle quase num sussurro.

–         Nós podemos tudo, meu bem. Vamos?

Antes de sair, Gabrielle deu uma olhada para Ephiny e viu a sua regente com os olhos arregalados, com os lábios apertados quase fazendo um bico, esse era o modo peculiar dela mostrar toda a tensão que estava passando. Sentiu vontade de rir, porém a confortou com um afago no ombro, dizendo baixinho:

–         Eph deixe pra se preocupar quando chegarmos lá na aldeia.

Em resposta, Ephiny lhe sorriu balançando a cabeça concordando.

Entretanto, Ariadne segura o braço de Gabrielle a impedindo de sair, dizendo:

–         Gabrielle, você não pode.

–         Posso sim, Ariadne. Eu não estou tendo uma aventura. Eu sou casada com Xena e estamos em núpcias.

–         Mas existe um compromisso que…

–         Que teremos que rever quando chegarmos na aldeia._ disse Gabrielle puxando o braço da mão dela e saindo a seguir.

–         Isso não vai ficar assim!_ esbravejou Ariadne ao ficar a sós com Ephiny e avisa: Não vou perdê-la para aquela guerreira.

Mesmo não entendendo bem o significado daquelas últimas palavras, Ephiny barra-lhe a passagem pela porta da cabine, dizendo:

–         Escuta aqui Princesa, futura Rainha, o que seja, você não vai fazer nada agora. Estamos num barco cheio de mercadores, quer colocar em perigo a nossa segurança? Que espécie de líder é você? É assim que você lida com as dificuldades e os problemas que aparecem por ímpetos?

Ariadne cerra os dentes, vira as costas para Ephiny recuando um pouco, depois se voltando para a regente, diz:

–         Tudo bem, eu não sou irresponsável. Mas não pense que isso vai ficar assim. Quando chegarmos em Sarmátia, eu vou fazer cumprir os meus direitos.

Ariadne saiu da cabine com Ephiny atrás a seguindo, a regente não confiava nela. E deram de cara com Xena e Gabrielle que tinham saído da cabine.

–         Vamos comer._ avisou Xena.

–         Vamos todas._ disse Ephiny ainda com os olhos saltando do rosto.

Sentaram-se à mesma mesa e, desta vez, quem quase não comeu foi Ephiny, que continuava com aquela expressão sobressaltada, vendo de um lado Ariadne com um olhar acintoso para Gabrielle, do outro Xena com a sobrancelha erguida num olhar fulminante e em meio a tudo isso a jovem princesa degustando prazerosamente seu desjejum. Era demais para ela que estava, não somente contando os dias para chegar em terra firme, mas também controlando um eminente conflito que poderia colocar em risco a segurança e as vidas delas.

Depois do jantar, Xena levou Gabrielle para a cabine delas e lá lhe contou tudo sobre o que Ephiny disse sobre Ariadne tê-las espiado na caverna.

–         Que safada!_ disse Gabrielle.

–         Safada só? Foi muita audácia dela ficar nos espiando daquele jeito em que estávamos…

–         Xena!

–         E principalmente que você estava lindamente nua em cima de mim se esfregando…

–         Xena!

–         Ô Gabrielle nós estamos a sós!

–         Ah, é… Mas é que você falando desse jeito…

–         Eu queria era arrancar os olhos daquela atrevida.

–         Hum, você está com ciúmes?

–         Ciúme só não… O que me deixa louca é que ela viu você nua.

–         Nua só não, mas fazendo amor com você.

–         Não pense que isso vai me servir de consolo.

–         Isso serve._ disse Gabrielle beijando-lhe a boca.

–         Pra começar.

–         Então que tal continuarmos o que estávamos fazendo naquele momento?

–         Essa foi a melhor oferta que já me fizeram e eu não vou recusar.

Durante toda a viagem havia sempre o mesmo constrangimento quando as quatros estavam juntas. Ariadne provocava Xena, olhando para Gabrielle acintosamente. Se Xena quisesse poderia responder a altura tamanho atrevimento, mostrando em carícias que Gabrielle era sua, porém a guerreira jamais usaria Gabrielle em sentimentos tão mesquinhos, expondo-a desse jeito. E com isso engolia seu orgulho ferido ou seria um ciúme nunca antes sentido? De qualquer maneira, estava se controlando por amor àquela garota.

Numa noite, após o jantar, Xena confidenciou a sua amada:

–         Gabrielle, você nem faz idéia do quanto hoje estive perto da loucura, na beira do limite de esganar aquela princesa safada…

–         Quando foi isso?_ perguntou Gabrielle espantada.

–         Quando ela se debruçou por trás de você no pretexto de pegar a maçã antes de sair do refeitório. Quase que passo por cima da mesa para esganá-la.

–         Oh, amor, que bom que você não fez isso.

–         Eu até agüento os olhares dela para você, os toques dela em seus braços, mas se esfregar em…

A guerreira não completou o que estava falando, pois foi beijada com paixão.

Numa noite, quando todas estavam no convés, Ephiny chama Xena a um canto para conversar. Aproveitando a oportunidade Ariadne se aproxima de Gabrielle e lhe diz ao ouvido:

–         Queria passar uma noite com você e te mostrar do que sou capaz.

Percebendo o repentino enrubescimento de Gabrielle, Xena vai-lhe ao encontro.

–         O que está havendo?

Ariadne nada diz, olha para ela com sarcasmo e se afasta.

–         Nada não, Xena. Está começando a esfriar, vamos entrar?_ disse Gabrielle puxando a guerreira pela mão.

Assim que entraram na cabine delas, Gabrielle quebra o silêncio repentino, perguntando:

–         O que foi que você e Ephiny conversaram?

–         E o que foi que aquela princesa safada disse para você, que te deixou vermelha?

–         Ah, besteira, eu nem liguei.

–         Não, hein?…

–         Afinal o que você conversou com Ephiny?

–         Ela me disse que está com os nervos à flor da pele, que não dorme direito,  que estava ansiosa para sair desse barco e eu a sosseguei revelando para ela que a gente desembarca amanhã.

–         Como você sabe disso? Agora, a pouco, antes de escurecer não havia sinal de terra…

–         Estou sentindo o cheiro da terra e das árvores.

–         Oh, Xena, você é incrível!

–         Gabrielle, você não respondeu a minha pergunta._ disse Xena bem séria e com as mãos na cintura.

–         Por que você quer saber o que ela disse?

–         Porque eu não quero que você esconda nada de mim.

Gabrielle se aproximou dela e disse quase num sussurro:

–         Ela disse que queria passar uma noite comigo para me mostrar tudo que… que ela é capaz.

Xena dá uns passos em direção a porta, Gabrielle chama por ela, que pára e se virando, diz:

–         Não posso culpá-la, pois não deve ser fácil para ela ver você e não poder tocá-la. Porque se ela se atrever, eu a mato!

–         Xena…_ é só o que consegue dizer Gabrielle um pouco preocupada.

A guerreira se aproxima e puxando a princesa para si, diz:

–         Você me pertence, Gabrielle. Marquei o seu corpo com a minha boca, com os meus beijos e com as minhas carícias.

–         Eu sei amor, eu sou sua, sua escrava.

Tanto Gabrielle quanto Xena sentiram novamente aquela estranha sensação, a de que já viveram juntas aquele momento em outra época. E antes que isso pudesse quebrar o encantamento daquele momento, Xena aperta mais Gabrielle em seus braços, dizendo:

–         Eu é que vou te mostrar, mais uma vez, tudo que sou capaz de fazer com você.

–         Mas você já me mostrou._ disse Gabrielle incentivando o joguinho delas.

–         Sei, mas sempre tenho uns truques novos.

–         Truques?!

–         Hum, vejo que ficou curiosa… Venha que eu vou te mostrar._ disse a guerreira a conduzindo para a cama.

Abraçada a Xena, Gabrielle pára ao lado da cama, dizendo:

–         Talvez seja esta a nossa última noite juntas, Xena. Pois quando chegarmos na aldeia, teremos que nos separar.

E um brilho de uma lágrima de tristeza escorre pela face da princesa. Carinhosamente, Xena lhe acaricia a face secando-lhe aquela gotinha de angustia que a sua amada sentia. Depois lhe segurando o rosto com as mãos, diz numa voz amorosa:

–         Gabrielle, ninguém vai me separar de você. Eu sou sua como eu sei que você é minha.

–         Oh, Xena, eu te amo tanto!…

Ainda a segurando no rosto, Xena não resiste ao encanto daquela boca tão próxima da sua e a beija, a princípio com extremo carinho, depois com uma incontrolável paixão que surgiu da profundidade do seu ser até por todos os poros da sua pele. Sentiu-se como se fosse a primeira vez, pois suas mãos estavam nervosas ao desamarrar o cordão do top verde, ávidas por ter aquele par de seios macios, que ela tanto desejava agora. Nem bem abrira o top, mergulhou a boca sequiosa no peito direito, enquanto com a mão direita acariciava o outro peito de uma maneira tão sensual que fez com que Gabrielle saltasse um suspiro. Depois trocou de posição, alternando as carícias naqueles seios amados e arrancando mais suspiros e gemidos da jovem princesa. Mas o que excitou ainda mais a guerreira foi: quando ao subir pelo pescoço em beijos ardentes e prolongados, agarrou com as mãos os seios arfantes, colocando entre seus dedos os dois mamilos túrgidos massageando-os e fazendo que Gabrielle gemesse mais alto. Buscou-lhe a boca, lhe sorvendo cada gemido como se precisasse daquele som, daquela saliva para viver.

Desceu as mãos para a cintura de Gabrielle, desabotoando, rapidamente, o cinto e a saia marrom. Deixando-a somente com aquela calça de amazona que a tornava ainda mais sensual. Quando fez menção de retirar tal peça, foi segura pelas mãos por Gabrielle que lhe disse quase num sussurro:

–         Deixe-me despi-la, amor…

Em resposta, Xena abriu os braços pros lados, facilitando assim que Gabrielle a despisse. Imediatamente a jovem princesa começou a saltar as amarras da armadura e ao ficar atrás da guerreira retira a armadura lhe cheirando as costas e dizendo quase num suspiro:

–         Adoro o cheiro deste couro.

–         Só do couro?

–         Desse couro misturado com o teu cheiro.

–         Meu cheiro?

–         Sim, da sua pele, dos seus cabelos…_ disse agora sussurrando e já descendo as alças do traje da amada. E ao lhe tirar o traje, a abraça por trás, dizendo: Oh, Xena… Eu não vou conseguir ficar sem sentir isso… Eu vou ficar perdida sem você… Não me deixe… Eu vou morrer sem você…

Xena a vira de frente para si, dizendo:

–         Eu nunca vou deixar você, Gabrielle.

–         Você promete, Xena?

–         Prometo. Eu nunca deixo de cumprir as minhas promessas. Eu vou estar sempre com você, coração. Mas, agora quero você._ disse a envolvendo completamente nos seus braços.

Fora uma noite de amor, de carícias intermináveis. Quando cansavam, elas buscavam, uma a outra, num abraço para um breve descanso e para depois recomeçarem em novas e ardentes carícias. Praticamente, não dormiram, pois havia uma ansiedade, quase uma ameaça que pairava ante o momento da separação. Faziam amor de um jeito como se quisessem que o cheiro do corpo de uma permanecesse para sempre no corpo da outra. Era com sofreguidão e paixão que se tocavam e se beijavam. Tanto que, antes do amanhecer, Xena sentiu num beijo as lágrimas de Gabrielle. Ao abrir os olhos, viu o choro silencioso daqueles olhos verdes e foi tão doloroso que os seus olhos marearam também. Nenhuma palavra foi proferida nesse momento, somente os suspiros que foram crescendo, transformando em gemidos em uma nova entrega de sentimentos.

Momentos mais tarde.

–         Já amanheceu._ disse Xena, olhando na direção da escotilha e com Gabrielle envolvida em seus braços.

–         Não, Xena, eu não quero levantar agora._ disse Gabrielle se agarrando mais a ela.

Xena ri e levantando o queixo dela com os dedos, diz:

–         Gaby, você sabe o quanto eu gostaria de ficar aqui, assim com você em meus braços, fazendo amor com você. Como também você sabe dos seus deveres, principalmente agora em que vai se tornar numa rainha.

–         Ai, Xena, você tinha que me lembrar justo agora!_ disse Gabrielle escondendo o rosto no peito da guerreira.

–         Vamos, amor, coragem… Vamos enfrentar isso juntas._ disse Xena alisando os longos cabelos dourados da amada.

–         Isso é uma promessa?_ perguntou Gabrielle erguendo a cabeça e a olhando nos olhos.

–         Eu já disse que sim, que só morta… Ou melhor, nem morta, eu deixo você.

–         Jura?

–         Juro.

–         Eu também juro. E se eu morrer antes, nem Hades vai conseguir me afastar de você.

–         Gabrielle, você é uma amazona.

–         O que tem isso?

–         As amazonas não são levadas aos Campos Elíseos por Hades.

–         Não?!

–         Não. Elas vão primeiro para a Terra das Amazonas, onde irão atravessar o caminho para a Eternidade, onde fica os Campos Elíseos.

–         Por que não vão diretas, como as outras pessoas?

–         Pelo que Hércules me disse, as amazonas ficam lá na Terra das Amazonas, esperando cada uma o seu julgamento: se seguem em frente para os Campos Elíseos ou se volta para reencarnar; acontecendo o mesmo com as almas levadas por Hades.

–         Então, se morremos juntas, você vai com Hades e eu vou ter que percorrer todo o caminho sozinha?

–         Mas não vai mesmo. Se você não puder ir comigo, eu irei contigo e…_ Xena é interrompida por um inesperado beijo apaixonado.

Após uma troca de carícias e afagos, Xena com uma certa relutância se afasta dela, dizendo:

–         Gaby, temos que levantar… O cheiro da terra está forte, sinal que já vamos ancorar.

–         Ah, Xena, só mais um pouquinho…

–         Sei bem que pouquinho é esse. Não._ disse Xena se levantando num pulo e já se vestindo com a costumeira rapidez que lhe é peculiar nos momentos que exigem isso, como naquele exato momento para não sucumbir ao contato dos encantos da sua amada. E avisa: Gaby, enquanto você se veste, vou acordar Ephiny.

–         Não, espere por mim._ disse a princesa se levantando da cama.

E a guerreira esperou parada na frente da escotilha espiando e confirmando a aproximação do barco com a terra. De onde estava não dava para avistar o porto, mas não se atrevia a sair dali até que Gabrielle estivesse completamente vestida, não queria correr o risco de cometer um desatino.

Momentos depois, já prontas e com as bolsas nos ombros, elas se dirigiram à cabine ao lado. Apenas com uma leve batida dos dedos da guerreira a porta se abre e uma amazona visivelmente arrasada olha para as duas.

–         O que foi Ephiny, teve insônia?_ perguntou Xena.

–         Ephiny, você não está se sentindo bem?_ perguntou Gabrielle ao mesmo tempo em que a guerreira.

A amazona aperta os lábios, olha de uma para a outra e diz quase entre os dentes:

–         Insônia?! Eu não consegui dormir, isso sim! Não estou passando mal, estou MORTA de sono. Olha aqui, vocês duas: eu não tenho nada a ver com a relação de vocês. Como também sei que, esse assunto não me diz respeito, mas… Pelos deuses! Vocês tinham que fazer todo aquele barulho!

–         Barulho?_ perguntaram as duas ao mesmo tempo.

–         Uma gemedeira interminável!… A noite toda, de madrugada… Ainda estou com os gemidos ecoando pela minha cabeça…_ concluiu colocando a mão sobre a cabeça.

Xena e Gabrielle entreolharam-se com surpresa.

–         Deu para escutar da sua cabine?_ perguntou Xena.

–         E como!_ respondeu a amazona ainda com a mão na cabeça.

–         Ai, será que “ela” também ouviu?_ perguntou Gabrielle se referindo a Ariadne e um pouco enrubescida.

–         Se ela ouviu? Claro que sim. Vi pelo movimento dela na rede, ela quase caiu de tanto que se revirava.

Xena só conseguiu controlar o riso, ao ver a preocupação estampada no rosto de Gabrielle.

–         E está com um péssimo humor._ avisou Ephiny e antes de entrar na cabine, diz: Ah, e se houver uma próxima vez, vou me lembrar de me instalar bem longe de vocês duas. Estou um caco…

Assim que a amazona entrou para pegar seus pertences, Gabrielle confidencia para Xena:

–         Eph fica de mau humor quando não dorme.

Xena chegou a esboçar um riso pelo comentário ingênuo de Gabrielle, quando surge a sua frente à cara enfezada de Ariadne, que nada diz apenas a olha com todo o ódio que uma pessoa consegue expressar num olhar. Gabrielle gela e se estremece, o que não passa despercebido pela guerreira que lhe alisa as costas como a lhe dar forças.

–         Pronto, está tudo aqui. Já podemos ir._ disse Ephiny surgindo atrás de Ariadne e quebrando o mal estar que havia se instalado.

–         Então vamos._ disse Gabrielle tomando a frente e puxando Xena pela mão.

Quando ancoraram no porto de Sarmátia, elas foram informadas que a estrada, por onde teriam que passar, estava interditada por duas enormes árvores caídas, atingidas por raios e que levariam alguns dias para que os lenhadores a removessem.

–         E essa agora!_ exclamou Ephiny visivelmente contrariada.

–         Eu sei de um outro caminho que pode nos levar a aldeia._ disse Xena.

–         Eu nem sabia que há outro caminho por esse lado._ disse Ephiny.

–         É um caminho bem estreito, na verdade nem é um caminho, é uma trilha restrita, mas segura se agirmos com cautela._ avisou Xena.

–         E em quanto tempo levaremos para chegar na aldeia?_ perguntou Ephiny.

–         Se partimos agora… Um dia e meio.

–         Então vamos._ disse Ephiny indicando com a mão para que Xena fosse na frente mostrando o caminho.

Seguiram pelo rumo contrário da estrada principal e cavalgaram lado a lado aos pares: Xena e Gabrielle na frente, seguidas por Ephiny e Ariadne.

Quando chegaram ao local onde não havia mais sinal de estrada ou trilha, Xena mandou que desmontassem e que seguiriam agora a pé, uma atrás da outra. Xena foi à frente abrindo espaço pela mata com a espada. Pararam apenas uma única vez para um descanso e se alimentarem.

–         Xena ainda falta muito?_ perguntou Gabrielle abrindo o saco e distribuindo as frutas.

–         Para que possamos chegar na clareira no final da tarde, foi por isso que eu recomendei que só comêssemos frutas, nada pesado, pois temos muita trilha para percorrer.

–         E quando poderemos montar nos nossos cavalos?_ perguntou Ephiny pegando duas maçãs de dentro do saco.

–         Vamos andar mais um pouco e quando a trilha se alargar poderemos cavalgar, mas sempre em fila, uma atrás da outra.

Xena pegou uma maçã e um cacho de uvas verdes que Gabrielle estendeu a ela e lhe disse ao ouvido:

–         Aquela lá, não abriu a boca até agora.

–         Ainda bem. Só assim não tem discussão e chegaremos lá clareira no tempo certo, que você estipulou._ disse Gabrielle saboreando uma uva.

Depois de descansarem e de alimentarem os cavalos com a vasta vegetação ao redor, retornam a caminhada ainda a pé.

Quando o sol começa a se pôr e depois de uma longa cavalgada, elas finalmente chegam numa clareira que estava totalmente escondida em meio à vasta vegetação.

–         Perfeito!_ exclamou Ephiny admirando o lugar após descer do cavalo.

–         Que lugar lindo! Xena, isso aqui era uma caverna?_ perguntou Gabrielle também admirando o lugar.

–         Não, isso aqui é uma pedreira que foi explorada por alguém na construção de algum palácio._ explicou Xena.

–         Como você sabe disso?_ perguntou Ephiny.

–         Está um pouco escuro agora, mas amanhã na luz do dia vai dá para perceber que essa pedreira é feita de puro mármore, ou que restou dele.

–         Bem, não é uma caverna, mas parece uma mansão em ruína._ disse Gabrielle após inspecionar o lugar.

–         Que vai nos proteger da chuva e ali, atrás daquela moita, tem uma nascente._ apontou Xena para o local.

Gabrielle correu até a moita e constatou encantada:

–         Que maravilha! Água limpinha e fresquinha, que além de bebermos, poderemos encher os nossos odres e fazermos chá sem racionar.

–         Eu vou acender uma fogueira, antes que fique escuro demais e comece a chover._ avisou Xena puxando a sua égua e a de Gabrielle para o abrigo.

–         Como você sabe que vai chover? Não tem nenhum sinal, nenhuma nuvem de chuva no céu._ perguntou Ephiny.

–         Assim que escurecer a chuva chega, eu sinto no ar._ disse Xena.

–         Ephiny, se Xena diz que vai chover é porque vai chover, é só esperar pra ver._ disse Gabrielle arrumando em cima de uma pedra o que iriam comer naquela noite e na manhã seguinte: pão, queijo, carne defumada e frutas, além das folhas de chá que fora colocado nas canecas enquanto a água fervia na fogueira.

Após um breve lanche, com todas sentadas no chão, rodeando aquela improvisada mesa de pedra, Ephiny se levanta, dizendo:

–         Estou muito cansada e morta de sono, espero dormir sossegada hoje._ disse olhando de Xena para Gabrielle.

–         Não tenha receio, Ephiny, esse lugar é muito seguro._ disse Xena e conclui: Não há lobo ou gato selvagem por aqui. Você vai dormir tranqüila sem barulhos ou uivos para perturbar o seu sono. Só os pingos da chuva.

–         Por falar nisso, cadê a chuva?_ nem bem Ephiny acabara de falar e pingos grossos molham o chão à frente delas.

–         Aí está!_ disse Xena apontando para a água que agora caía torrencialmente.

–         Nada como dormir escutando o barulhinho da chuva._ disse Gabrielle olhando pra Xena.

–         Então vamos, pois amanhã temos uma longa caminhada pela frente._ disse Xena ajudando Gabrielle a se levantar.

–         Você não vem, Ariadne?_ perguntou Ephiny ao ver que a princesa não se moveu do lugar.

Ariadne não respondeu, apenas se limitou a se levantar e seguí-la calada e com o semblante totalmente enfezado.

Xena escolheu um canto e fez sinal para Gabrielle colocar a manta dela ao lado da sua. Imediatamente, Ephiny, colocou a sua manta do outro lado da sua princesa, dizendo:

–         Ladeada por nós duas a nossa Rainha estará bem protegida.

E, sem ter outra opção, Ariadne estende a sua manta ao lado de Ephiny.

–         Bem, boa noite a todas e vamos dormir em paz._ diz Ephiny olhando para Xena e depois para Gabrielle, que se entreolharam.

Quando se deitou, Xena se chegou para mais perto de Gabrielle, que também se aproximou. A guerreira afastou uma mecha do cabelo da princesa que teimava em esconder uma parte daquele belo rosto, disse-lhe em voz baixa:

–         Ainda sinto o seu cheiro em mim.

Uma princesa, levemente ruborizada e lisonjeada, responde:

–         Eu também, mas o seu cheiro não está só na minha pele, está dentro de mim.

Xena repuxa os lábios num sorriso de satisfação e ainda fazendo carícias no contorno do rosto da amada, diz:

–         Gabrielle, você precisa saber de uma coisa: eu nunca senti tanta necessidade de possuir alguém, como sinto em possuir você. Fizemos amor a noite toda, na madrugada também, e, agora, neste momento, eu estou tentando controlar o impulso de puxá-la para o meu cobertor e tê-la embaixo de mim… Poder sentir as suas coxas enlaçando-me…

–         Oh, Xena pára… Por favor… eu… eu já estou toda… toda…

–         Molhada, eu sei._ acrescentou Xena num tom bastante sensual.

Em resposta, Gabrielle abaixa o olhar, apertando levemente os lábios. Xena amou o que viu.

–         Vocês vão ficar aí tagarelando? Pelos deuses, eu, REALMENTE, preciso dormir!_ suplicou Ephiny de cabeça erguida olhando para as duas e desabando depois na sua manta.

Xena arregalou os olhos e repuxou os lábios para baixo num trejeito sapeca em resposta a bronca que levou. Gabrielle, carinhosamente, passa a palma da mão no rosto da guerreira, da franja até a boca, onde a sua mão é agarrada e amorosamente beijada.

Quando o dia amanhece, Xena acorda Gabrielle que está aconchegada em seus braços. A princesa abre os olhos e espantada, diz:

–         Xena, como eu vim parar aqui?

–         Você não se lembra?

–         Eu me lembro que a gente se beijou e dormimos uma ao lado da outra e eu estava no meu cobertor.

–         Foi assim até que no meio da noite quando você foi se chegando de mansinho e se ajeitou em mim. E eu percebi que você estava dormindo.

–         Hum, eu acho que isso vai se tornar um hábito, toda vez que eu dormir ao seu lado._ num sorriso maroto de lábios repuxados.

–         Vocês não dormem?_ resmungou Ephiny com a cabeça encoberta.

–         Se você tirar a coberta do rosto vai ver que já amanheceu._ avisou Xena.

Fizeram um rápido desjejum e cavalgaram seguindo pela trilha.  Quando resolveram parar para almoçar, já estavam embreadas na floresta bem próximas a Terra das Amazonas. De repente, a guerreira pediu a Ephiny o arco e a flecha que ela havia tirado da sua bolsa momentos atrás.

–         O que pretende fazer?_ perguntou a amazona.

–         Isso aqui!_ disse Xena após lançar a flecha numa moita.

Um grunhido é ouvido e logo após um silêncio.

–         Mas o quê foi isso?_ perguntaram ao mesmo tempo, Ephiny e Gabrielle.

Xena que já havia pulado de Argo, foi até a moita e puxando o que atingira, diz:

–         Eis aqui o nosso almoço!

–         Uau! Javali!_ gritou Gabrielle descendo rapidamente da sua égua.

–         E esse é um dos grandes! Como você o viu, Xena?_ perguntou Ephiny já desmontando.

–         Como você mesma disse, foi fácil de vê-lo, com esse tamanho todo!_ respondeu Ariadne, que até então se mantivera calada.

Era de certa forma um desafio que Ariadne estava lhe propondo, mas Xena não respondeu a provocação e Ephiny lhe sorriu agradecida por isso.

           Quando Ephiny estava ajudando Xena a tratar do bicho, pergunta-lhe:

–         Xena me explica direito porque que você esperou para matar o javali com o arco e flecha e não com o seu chakram?

–         Bem, quando paramos para observar se o lugar era próprio para pousarmos, eu vi o javali atrás da moita e se descermos ele iria atacar. Eu ia pedir o cajado de Gabrielle para lançá-lo nele, o que iria aturdi-lo e depois eu o mataria com a minha espada. Foi quando vi você tirando o arco e as flechas da sua mochila. Quanto ao chakram, não gosto de sujá-lo atirando em javalis ou em…

–         Peixes!_ falaram ao mesmo tempo, Xena e Gabrielle e ficaram olhando, cismadas, uma para a outra.

–         O que foi?_ perguntou Ephiny notando.

–         Nada… Foi só um pressentimento…_ respondeu Gabrielle nitidamente confusa.

–         É uma coisa que vem acontecendo com a gente desde que nos conhecemos e que diz respeito a nós duas.

–         Então tá, mas o que diz respeito a todas nós é esse javali. Xena vai preparando a fogueira que eu e Gabrielle damos conta disso aqui.

Foi então que Xena se lembrou de Ariadne e ao procurá-la com o olhar, viu que ela vinha do local onde o javali estava escondido, pelo menos era isso que lhe parecia. Deixou a cisma para lá e foi catar galhos e folhas secas.

Nem bem terminaram de comer, Gabrielle pediu para andarem um pouco.

–         Eu falei para você não comer muito._ disse Xena a olhando preocupada.

–         Você sabe que eu não resisto a um javali assado, Xena. E… eu, realmente, não percebi que tinha comido demais._ disse Gabrielle tentando se desculpar.

Xena chegou perto de Ephiny e lhe disse ao ouvido:

–         Garanto pra você que hoje a noite ela ainda vai comer mais.

Ephiny riu.

–         Por que vocês duas estão rindo?_ perguntou Gabrielle.

–         É que estávamos comentando como levaremos esse javali gigante até a aldeia._ disse Ephiny piscando pra Xena.

–         Eu não havia pensado nisso… Eu me lembrei agora que só temos o saco das frutas, mas ele é muito pequeno.

–         Eu já havia pensando nisso e ia dizer para Ephiny quando você nos interrompeu. Já juntei uns galhos de vidreira, agora vamos amarrá-los e colocar o javali preso em cima e Argo poderá puxá-lo até a aldeia.

–         Boa idéia, Xena._ disse Ephiny.

–         Como sempre._ disse Gabrielle a olhando com ternura e admiração.

Depois que terminou de amarrar o javali, Xena percebeu que outros olhos espreitavam-na com rancor. Deu de ombros, disse:

–         Ah, Ephiny, de agora em diante é melhor você ir à frente, pois já vamos entrar em seus territórios. E eu vou atrás levando o javali.

–         E eu vou com você, ao seu lado._ disse Gabrielle.

–         Uma Princesa Amazona em seus domínios deve ir à frente ou ao lado das suas amazonas._ disse Ariadne.

–         Isso se a Princesa Amazona não estiver acompanhada da sua guerreira pessoal, como eu estou e é ao lado dela que eu vou ficar._ retrucou Gabrielle.

–         Você devia ficar ao meu lado que sou sua noiva, é assim que temos que chegar na aldeia._ replicou Ariadne.

–         Além de ser a minha guerreira pessoal, Xena é minha esposa e é ao lado dela que eu quero chegar na aldeia.

Ariadne bufa de raiva, mas nada diz, apenas se afasta indo à direção do seu cavalo.

Xena se aproxima e lhe diz baixinho:

–         Amei cada palavra do que você disse.

–         E olhe que eu não disse o que eu gostaria realmente de falar.

–         Graças a Zeus!_ desabafou Ephiny.

–         Eu não sei se você notou Ephiny, mas ela só começou a me provocar porque estamos entrando nos seus territórios._ disse Xena.

–         Não havia reparado nisso._ ponderou Ephiny.

–         Eu não sei se entendi direito, Xena, você acha que ela está te provocando, querendo briga, porque está em…_ Gabrielle procurou a palavra certa pra concluir a frase.

–         No território dela._ concluiu Xena.

–         Mas é também o meu povo.

–         Eu sei, Gabrielle. Entenda, vocês estão em suas terras, enquanto eu sou uma estranha.

–         Xena tem razão, agora me dei conta disso. Como também sei que de agora em diante qualquer coisa que Xena fizer ou falar, ela irá rebater._ avisou Ephiny.

–         Oh, Xena, ela quer que você perca a cabeça._ disse Gabrielle um pouco aflita.

–         Impossível, só se perde a cabeça uma vez e eu já perdi a minha por você._ disse Xena olhando ternamente para Gabrielle. Neste mesmo instante as duas entreolharam-se espantadas, como vem acontecendo há algum tempo.

–         Isso já está me preocupando._ disse Xena.

–         A mim também._ disse Gabrielle também preocupada.

–         Nem vou perguntar. Já sei que é uma coisa entre vocês. E eu já tenho problemas demais._ disse Ephiny montando em seu cavalo e conclui: Vamos, que a outra já tomou a dianteira.

 Contudo, estranhamente, Ariadne esperava por elas, mais adiante. Ephiny olhou para Xena sem entender, pois elas tinham cavalgado um bom tempo achando que a amazona tinha preferido chegar primeiro. Caminharam em silêncio lado a lado, Ephiny na frente com Ariadne e Xena com Gabrielle atrás.

Assim que adentraram no caminho que as levariam ao território das amazonas, Xena percebeu a movimentação no alto das árvores. As amazonas vigilantes, também chamadas de sentinelas estavam observando-as, todas camufladas tal qual os galhos das árvores em que se escondiam, no entanto não eram invisíveis aos olhos hábeis de Xena que disse para Gabrielle e Ephiny:

–         As camuflagens das suas sentinelas são perfeitas. Só que sugiro que camuflem o rosto quando não estiverem usando a máscara.

–         Por quê?_ perguntaram ao mesmo tempo Gabrielle e Ephiny.

–         Porque, além do sol refletir o brilho do rosto, a pele pálida na sombra se destaca, inclusive na luz do luar. Um guerreiro astuto pode surpreendê-las.

–         Foi bom saber disso, vou tomar providências quando chegarmos na aldeia._ disse Ephiny.

–         Eu não disse, Eph, que a minha guerreira tem muitas habilidades? E esse é um dos motivos porque eu não posso ficar longe dela, entre outros motivos de maiores prioridades, é claro._ disse a princesa olhando para a guerreira, levantando levemente as sobrancelhas enquanto apertava os lábios num sorriso maroto.

–         E nem precisa dizer que motivos são esses… Eu os posso imaginar!_ disse Ephiny antes de voltar a cavalgar ao lado de Ariadne.

–         Não é uma característica da Eph fazer essa espécie de comentário. E já é o segundo hoje.

–         Deve ser falta de sono, a coitada não tem dormido direito._ disse Xena num sorriso malicioso.

–         Xena!_ exclamou Gabrielle, lhe dando um tapinha no braço.

Quando chegaram na aldeia encontraram as amazonas todas a postos esperando e saudaram Gabrielle, curvando-se com as mãos estiradas para frente, dizendo: “Bem-vinda Rainha Gabrielle”.

Surpresa, Gabrielle as saudou com um cumprimento de cabeça por onde passava. Até que chegou em frente às Conselheiras, onde, após desmontar, diz:

–         Eu, Gabrielle, Princesa Amazona, herdeira da Rainha Melosa, coloco-me à disposição para a iniciação de sucessão ao trono. Antes devo prestar os meus sentimentos a Rainha Melosa.

–         Saudações, Princesa Gabrielle, nossa futura Rainha Amazona. Em nome de todas nós devo dizer que sabíamos que você honraria a memória da Rainha Melosa._ disse a Conselheira-Mor.

–         Depois que eu prestar a minha homenagem a Rainha Melosa precisamos conversar._ avisou Gabrielle.

–         Vamos deixar a conversa para mais tarde._ disse a mesma conselheira.

–         Eu tenho urgência para uma audiência. Podem me esperar lá cabana que eu não vou demorar.

–         Como queira, Princesa Gabrielle._ e se dirigindo para Daphne, diz: Leve os pertences da Princesa para a cabana da Rainha.

–         E a minha cabana?_ perguntou Gabrielle.

–         Será usada por Ariadne._ explicou a conselheira.

–         Daphne leva também os pertences de Xena para a minha nova cabana._ pediu Gabrielle.

–         Não, minha Princesa._ disse a conselheira e conclui: Xena ficará na mesma cabana que ocupara antes.

–         Daphne faça o que te pedi._ disse Gabrielle com firmeza e se dirigindo à conselheira, avisa: Eu quero Xena ao meu lado.

–         Talvez você esteja certa, minha Princesa, precisamos conversar. Nós a aguardaremos na cabana de reuniões._ disse a conselheira fazendo um sinal com a mão para que as outras conselheiras a seguissem.

Depois que Gabrielle cumpriu todo o ritual de homenagem à memória da Rainha Melosa junto com Xena, se dirigiram a cabana de reuniões. Na entrada da cabana estava Ephiny, a conselheira e Ariadne.

–         Vocês duas não podem participar da reunião._ disse a conselheira apontando para Xena e Ariadne.

–         Mas… Eu sou uma Amazona!_ bradou Ariadne.

–         Então, você deve saber que cada tribo tem suas próprias leis e essa é uma reunião de casta fechada._ explicou a conselheira.

Gabrielle se aproxima de Xena e lhe diz baixinho:

–         Xena, você confia em mim? Vai ficar aqui esperando por mim?

–         Claro Gabrielle que eu confio em você e que vou esperar o tempo que for preciso._ disse a guerreira lhe pegando a mão.

–         Prometa pra mim que vai se comportar e não vai ligar para as provocações que Ariadne fizer.

–         Prometo.

–         Lembre sempre que eu te amo.

–         E você também não se esqueça que você faz parte do meu coração.

Ephiny pigarreia chamando a atenção de Gabrielle para que entrasse.

E, no momento em que Gabrielle, Ephiny entraram, Xena e Ariadne tiveram que manter distância da cabana para que não ouvissem o que seria conversado ali. Mesmo assim, nenhuma das duas se afastou muito do local.

Para uma guerreira como Xena, era exasperante ficar ali parada, sem nada puder fazer a não ser esperar e ainda por cima ficar frente a frente com a pessoa que ela mais detestava naquele momento. Porém, ela estava determinada a agüentar tudo aquilo por amor a Gabrielle.

Lá dentro a reunião se iniciara com a Conselheira-Mor lembrando todos os deveres e compromissos que a nova Rainha das Amazonas deverá cumprir.

Gabrielle, após ouvir tudo, se levanta e diz:

–         Eu como Princesa herdeira me submeterei às leis e deveres, conforme os costumes e tradição da nossa tribo. Assumirei a sucessão como Rainha das Amazonas e selarei a amizade e compromisso com as Amazonas do Norte._ fez uma pausa ao observar os suspiros de alívio de todas ali presentes e conclui a seguir: Só não assumirei o compromisso matrimonial com a Princesa Ariadne.

Um discreto, porém constrangedor murmúrio se instalara. Gabrielle teve que aumentar o tom de voz para dizer:

–         Não posso me casar, pois já sou casada.

Então um silêncio mais constrangedor se estabeleceu.

–         Minha princesa, você poderia explicar melhor o que acabou de nos revelar?_ perguntou a Conselheira-Mor.

–         Pois bem, eu vou contar a história desde o início para que não ajam dúvidas. Durante a nossa viagem para Poteidaia, para o casamento da minha irmã Lila, Xena e eu nos apaixonamos. Aliás, eu já havia me apaixonado por ela anos atrás, quando ela me salvou. Desde então eu tenho esperado por ela, porque sabia que um dia os nossos caminhos se cruzariam._ Gabrielle fez uma pausa. Caminha para mais perto das conselheiras e continua: No dia do casamento de Lila, a deusa Afrodite apareceu e nos casou. Então fomos até Amphipolis, a cidade de Xena, pois eu queria conhecer Cyrene, a mãe dela, que me tratou como uma filha e aceitou a nossa união. Resolvemos fazer uma pequena viagem antes de regressarmos para Sarmátia. Estávamos em núpcias quando Ephiny e Ariadne nos encontraram. Não foi isso o que aconteceu, Ephiny?

Ephiny pigarreou e confirmou:

–         Foi isso mesmo, minha Rainha.

As conselheiras se unem num fechado círculo, cochichando entre si.

Ephiny se aproxima de Gabrielle e lhe diz ao ouvido:

–         Eu moro nessa aldeia desde que nasci e nunca as vi desse jeito. Menina, você ainda vai virar essa aldeia de cabeça para baixo.

Gabrielle ia retrucar, quando a Conselheira-Mor pediu a sua atenção:

–         Rainha Gabrielle, nós já a chamaremos assim, pois a cerimônia de coroação acontecerá amanhã ao nascer do sol.

–         Mas…_ balbucia Gabrielle.

–         Pela manhã será apenas a coroação._ interrompeu, esclarecendo a conselheira e acrescenta: O último pedido da Rainha Melosa foi que a sua Princesa assumisse o mais rápido possível o trono e honrasse o compromisso matrimonial. A nossa parte em realizar essa cerimônia será comprida, porém… Antes do crepúsculo, a nova Rainha terá que decidir se honrará o compromisso matrimonial.

–         Mas eu…

–         Desculpe em interrompê-la de novo, minha Rainha, é preciso que saibas que, perante o nosso povo você continua solteira. Para que o casamento possa ser reconhecido pela nossa tribo teria que ser realizado aqui conforme o nosso costume.

–         Quero saber quais as conseqüências dos meus atos caso eu não aceite.

Resoluta, a conselheira diz:

–         Se a nova Rainha não assumir tal compromisso, a nossa aldeia será desonrada. Seremos execradas da Nação Amazonas, ou seja, de aliadas nos tornaremos inimigas. E, ninguém da nossa aldeia será aceita em outras aldeias amazonas.

–         Não! Isso não é justo!_ protestou Gabrielle contendo o pranto.

–         É a nossa lei. E cabe, somente, a nossa Rainha o direito de escolher e decidir o destino de todas nós.

–         E se eu desistir de ser rainha?_ perguntou Gabrielle ainda contendo as lágrimas.

Ephiny se engasga com a própria saliva, fazendo com que Gabrielle lhe dê uns tapinhas em suas costas e desanuviando um pouco a sua tensão.

–         Se isso acontecer…_ a conselheira abaixa a cabeça sem conseguir terminar o que ia dizer.

–         O que acontecerá?_ perguntou Gabrielle temendo pela resposta.

–         Seremos banidas desta terra._ disse a conselheira num suspiro.

–         Expulsas? Mas a terra é nossa._ protesta Gabrielle.

–         Esta aldeia, esta terra toda pertence à Nação Amazonas. Se formos banidas, execradas, deixaremos de ser amazonas, por tanto toda esta terra não nos pertencerá mais.

Gabrielle queria replicar, no entanto a voz não lhe saía. Não queria despejar todo o pranto que lhe comprimia o peito, mas a lembrança da sua guerreira, naquele momento, lhe deu forças para dizer:

–         Não tomarei nenhuma decisão agora. Quero rever todos os pergaminhos a respeito das nossas leis e quero conversar com todas as nossas conselheiras mais antigas.

As conselheiras cochicham entre si e, depois, a líder delas comunica:

–         Achamos justa a sua decisão e a acataremos. Como nossa Rainha terás o tempo necessário até a próxima lua cheia, onde então haverá um casamento unindo as duas nações ou o banimento de todas desta tribo.

–         Obrigada._ disse Gabrielle ainda tensa e pediu: Gostaria de começar já. Eu vou ficar aqui e vou ler todos os pergaminhos. Depois irei consultar vocês.

Assim que a última conselheira saiu da cabana, Gabrielle acompanhada por Ephiny param na porta da cabana e a futura Rainha, diz:

–         Xena, preciso da sua ajuda.

Percebendo a gravidade no tom de voz de Gabrielle, Xena nada diz e vai ao seu encontro.

Ariadne também se aproxima, mas Ephiny a puxa para o lado, dizendo:

–         Venha comigo, preciso conversar com você.

–         Mas…

–         É uma ordem, Princesa. Até Gabrielle assumir, sou eu a Rainha Regente.

Depois que Gabrielle explicou toda a conversa que tivera com as conselheiras e a decisão que tomara, sem esconder a sua preocupação, Xena pergunta:

–         E você acha que deve ter alguma cláusula que poderá nos ajudar?

Antes de responder, Gabrielle percebeu que a guerreira estava mais que preocupada, pois tinha o semblante franzido, sinal de que estava tensa. Então se aproximou mais e passando a mão carinhosamente no rosto da amada, diz:

–         Amor, você é a minha vida, sem você…

Gabrielle não conseguiu terminar o que ia dizer, se agarra a Xena num pranto que há muito havia contendo.

Xena a envolve toda em seus braços e afetuosamente lhe beija o topo da cabeça, depois diz:

–         Nada e ninguém vai nos separar, Gabrielle. Agora vamos entrar, temos pouco tempo…

–         E são muitos os pergaminhos que teremos que ler._ conclui Gabrielle enxugando os olhos com as costas das mãos.

Algum tempo depois, em meio às pilhas de pergaminhos, Gabrielle salta um longo suspiro, dizendo:

–         Acho que vamos ficar a noite toda lendo esses pergaminhos…

–          Não vão, não._ disse Ephiny entrando e conclui: Viemos ajudá-las. Entrem meninas!

Surgem: Amoria, Solaris, Ephony, Chilapa e Daphne, cada uma pega um punhado de rolos de pergaminhos e se sentam ali perto delas para ajudar.

Os olhos de Gabrielle se enchem de lágrimas. Notando, Ephiny também com um punhado nos braços, diz:

–         Gabrielle, não vá estragar os pergaminhos com essas pocinhas de água que deságuam dessas duas lagoas verdes.

Xena e Gabrielle se entreolham e a guerreira, colocando as mãos na cintura e levantando uma sobrancelha, diz:

–         Até você, Ephiny se rendendo aos encantos da minha barda?

–         Pois é, quem manda você se casar com a Amazonas mais bonita que conheço?_ e antes de se sentar num canto, acrescenta: Ah, guerreira, depois preciso trocar umas idéias a sós com você.

–         Quando quiser._ respondeu Xena.

Quanto mais o tempo transcorria, mais tensa Gabrielle ficava. Num determinado momento, ao perceber pela luz que se infiltrava da fresta da janela que anunciava que o dia estava surgindo e que restavam poucos pergaminhos, Gabrielle enrolou o pergaminho que acabara de ler e foi até a janela abrindo-a um pouco para espiar o movimento na aldeia, que ainda estava praticamente deserta. Suspirou desesperançada.

–         Ainda é cedo._ disse Xena a abraçando por trás.

–         Oh, Xena… Eu estou começando a me desesperar… Eu não achei nada até agora e, pelo visto, você também não.

Xena a virou de frente e a segurando nos ombros, diz:

–         Eu vou dizer mais uma vez: ninguém vai separar você de mim, Gabrielle. Se for preciso brigar com as duas tribos, eu o farei.

–         Não será preciso, guerreira._ interrompeu Ephiny.

As duas olham para a Regente que exibe um pergaminho aberto, dizendo:

–         Neste pergaminho tem duas cláusulas: a primeira diz que, uma amazona jamais poderá trair a crença da sua casta ou seja reverenciar somente as suas deusas, Artemis, Atena e Afrodite; a segunda diz que em acordos matrimoniais entre aldeias diferentes, de costumes e leis próprias, a união matrimonial poderá ser apenas amigável, ou seja, as cônjuges ficarão desobrigadas do relacionamento íntimo matrimonial e cada uma poderá ter a sua própria parceira.

–         Oh, Ephiny, é verdade mesmo?_ perguntou Gabrielle sem saber se ria ou se chorava.

–         Se quiser conferir…_ disse Ephiny estendendo o pergaminho e conclui: Foi Daphne quem descobriu isso.

–         Oh, Daphne…_ Gabrielle correu para abraçar a amiga e lhe diz: Muito obrigada.

–         Tudo o que eu mais quero é que você seja feliz, Gabrielle… Rainha Gabrielle._ disse Daphne emocionada.

–         Eu já pedi a vocês que, quando estivermos a sós, me chamem pelo meu nome e me tratem como amiga que sempre fomos.

Xena que havia pegado o pergaminho e ao terminar de lê-lo, diz admirada:

–         Essas cláusulas foram criadas e escritas por Cyane. Mas, qual das Rainhas Cyane?

–         A primeira e única, a legendária Cyane, a nossa grande Rainha!_ respondeu Ephiny e curiosa perguntou: Por que, você conhece outra?

Xena olhou pra Gabrielle e percebeu que a sua amada também estava confusa, disse:

–         Não sei nem porque eu disse “qual delas”, se eu conheci apenas uma… eu acho._ respondeu uma guerreira bastante confusa com certas lembranças que lhe viam a mente que ela achava que não viveu.

–         Mas, você conheceu Cyane?_ perguntou Ephiny ainda bastante curiosa.

Xena pensou antes de responder e achou melhor não contar o que ela fizera com a legendária Rainha Cyane. Era uma das coisas do seu passado que ela sentia, não apenas vergonha, mas remorsos. Disse apenas:

–         Conheci sim, mas isso foi há muito tempo.

–         Então, num outro dia, gostaria que você me falasse sobre ela.

Xena balançou a cabeça concordando.

Ainda eufórica, Gabrielle, avisou:

–         Agora mesmo vou convocar uma reunião.

–         Mais tarde, Gabrielle. Estamos todas esgotadas._ avisou Ephiny.

–         Oh, me desculpem, estou tão aliviada e feliz que até esqueci de agradecer a vocês por tudo, que falta a minha!

–         Não precisa se desculpar, Gabrielle._ disseram todas ao mesmo tempo.

–         Acho melhor todas nós dormirmos um pouco._ disse Xena.

–         Sábias palavras, Xena._ disse Ephiny e conclui: Todas para as suas cabanas.

Quando as amazonas saem da cabana, Ephiny pega o pergaminho e avisa:

–         Isto vai ficar comigo. Ah, Gabrielle, não vá se esquecer que hoje a tarde será a cerimônia de sucessão.

–         Mas, hoje ainda é lua nova. Que eu saiba as cerimônias são realizadas nas luas cheias._ disse Xena.

–         Nesse caso, Xena, há a prioridade de termos logo uma rainha, pode ser em qualquer lua, menos a minguante.

–         Entendo._ disse Xena.

–         Vamos Xena, eu não já estou quase desmaiando de tanto sono._ disse Gabrielle bocejando.

Embora cansada, Xena quase não dormiu. Estava deitada com Gabrielle nos braços, que dormira a amanhã toda. Olhou para ela e viu que a sua princesa dormia como um bebê, com tamanha ternura que sentira naquele momento deu um beijo no topo da cabeça da amada e tornou a fechar os olhos.

Instantes depois, uma leve batida na porta e a permissão para que entrasse, Ephiny avisa:

–         Pelo que vejo, você também não dormiu. Xena acorde Gabrielle que estamos esperando vocês para o almoço.

Depois que a Regente saiu, Xena olha para Gabrielle e sorri do modo como ela estava encolhida, praticamente com o corpo todo em cima dela. Beijou-lhe o topo da cabeça, dizendo:

–         Gabrielle acorda minha princesa dorminhoca.

–         Humm… Xena me deixe ficar só um pouquinho mais aqui quentinha em seus braços._ disse num tom bem rouco e manhoso, sem abrir os olhos.

–         Gabrielle, elas estão esperando por nós para o almoço. A Regente já veio avisar, só está faltando você, minha Princesa.

–         Regras e mais regras, preciso mudar certas regras.

–         Está certo, princesa, mas agora temos que levantar.

–         Não vou não. Estou com uma preguiça…_ bocejou Gabrielle ainda sem se mexer.

–         Gabrielle…

–         Ah, Xena, não dormi quase nada e além do mais nem tomamos sequer um banho desde que chegamos. E, você sabe muito bem que eu não iria me sentir à vontade assim.

–         Bem, se é só por causa do banho, posso dar um jeito nisso._ disse Xena se levantando.

–         É mesmo, como?_ perguntou a Princesa ainda sem se mover.

–         Deixa comigo._ disse a guerreira indo até a porta, chama a amazona que fica de sentinela na frente da cabana da princesa e conversa algo com ela.

Pouco tempo depois, adentram no quarto uma dúzia de amazonas enfileiradas todas portando baldes com água quente e fria. Gabrielle ergue a cabeça e fica olhando uma a uma encher a tina enquanto Xena coloca dentro os sais e o óleo de banho. Colocando a cabeça de novo no travesseiro a Princesa fecha os olhos e dá um suave sorriso de satisfação.

Assim que as amazonas se retiram, Xena se aproxima da cama, dizendo:

–         Bem, agora a guerreira da Princesa vai cuidar dela devidamente.

–         Como assim guerreira?_ pergunta a princesa abrindo os olhos.

–         Assim!_ disse Xena já pegando Gabrielle no colo.

–         Vai me ninar?_ Perguntou Gabrielle enlaçando o pescoço da amada e tentando não rir.

–         Ninar não, neném.

–         E o que vai fazer?_ perguntou Gabrielle gostando do joguinho.

–         Eu vou dar um banho em você, neném._ disse caminhando em direção a tina.

–         Hum, isso vai ser muito bom, mas vou gostar mais ainda se você estiver comigo dentro da tina para me dar só um banho._ atiçou Gabrielle.

–         Sei, te dar banho… Se for só isso que você quer…_ disse Xena fomentando o jogo.

–         Não se esqueça que temos um almoço esperando por nós.

Ao colocar a Princesa no chão defronte a tina, Xena suspende a camisa branca que ela estava usando, que outrora fora sua e que ela também usava uma igual, disse se abaixando:

–         Bem, agora o paninho do neném._ ela se referia a calça de Gabrielle e se sentiu estranha por ter dito isso.

–         Eu senti o mesmo, Xena._ disse Gabrielle.

–         Gabrielle quando isso tudo terminar, vou procurar Afrodite, algo me diz que ela sabe o que está acontecendo. Mas agora…_ disse puxando e retirando a última peça que faltava para colocar a princesa dentro da tina e se despe rapidamente a seguir se sentando em frente a ela.

–         Bem, guerreira agora você vai fazer o que prometeu._ disse a princesa dando-lhe as costas para que ela a ensaboasse.

–         Com todo prazer, minha Princesa._ ensaboando com a mão bem vagarosamente e cheia de intenção. Ao terminar diz: Pronto, minha Princesa, dever cumprido.

–         Dever?

–         Sim, é dever de uma guerreira para com a sua Princesa. Mas, agora, esta mesma guerreira quer dar muito prazer pra sua Princesa._ disse puxando Gabrielle e a envolvendo nos braços e colando a sua boca na dela.

Ainda estavam se beijando quando, um forte toque na porta e a voz de Ephiny chamando por Gabrielle, as fez parar, e, imediatamente a Princesa a ordenou que entrasse.

Ephiny abriu a porta, parada ali mesmo e após uma rápida busca com o olhar, ao avistar as duas na tina, diz:

–         Mas vocês não têm jeito mesmo! Esqueceram que lá fora há uma nação inteira quase morrendo de fome?

–         Pelos deuses, Ephiny! Vocês ainda não almoçaram?_ perguntou Gabrielle.

–         Você se esqueceu que é a Princesa e que enquanto você não estiver lá ninguém poderá se servir?_ disse Ephiny colocando as mãos na cintura e com os olhos arregalados.

–         Já estamos indo, Ephiny, já estamos indo._ disse Gabrielle espantada e totalmente sem jeito.

Ephiny saiu balançando a cabeça. Xena que ainda estava com a cara de criança sapeca que fora surpreendida, desata a rir.

–         Tá rindo de quê, guerreira?_ perguntou Gabrielle ainda sem saber o que fazer.

–         Você ainda pergunta? Se não bastasse a carraspana que ela nos deu, ainda por cima com aqueles olhos arregalados e com o rosto todo vermelho, parecia que ia explodir. E a sua cara de menininha pega em flagrante… Além disso, estou na dúvida se Ephiny ficou daquele jeito porque estava com fome ou porque mais uma vez ela nos viu nuas._ e a guerreira solta uma gargalhada.

–         Ah, tá rindo é? Achou engraçado? Quer rir mais?_ Gabrielle se debruça sobre Xena lhe fazendo cócegas.

Xena a imobiliza, dizendo:

–         Gabrielle, se eu ficar mais um pouco assim agarrada com você sabe o que vai acontecer? As suas amigas vão morrer de fome.

–         Tem razão Xena._ disse Gabrielle se levantando e rapidamente saindo da tina. Quando se enrolava no pano de banho e ao perceber que a sua companheira não saíra do lugar, indaga: Vai ficar aí, Princesa Guerreira? Não está com fome?

–         Muita._ respondeu Xena se levantando e saindo da tina.

–         Não parece.

–         É que essa minha fome ainda não foi e nem será saciada lá na mesa. O que me apetece está bem aqui na minha frente._ disse ainda molhada e nua, parada na frente dela.

–         Pelos deuses, Xena. Você bem sabe que assim não lhe resisto.

–         Pronto, já me cobri._ disse Xena já enrolada no pano de banho.

–         Nós ficamos brincando e perdemos um tempo valioso pra fazer amor._ disse chateada.

–         Não fique assim, neném, mas tarde nós duas…

–         Impossível._ interrompeu Gabrielle e conclui: Você esqueceu que eu serei coroada como Rainha hoje?

–         E o que é que tem isso?

–         Não vou poder ter relações até a próxima lua.

–         Você está brincando?_ não soou num tom de pergunta e sim de espanto.

–         Antes estivesse._ disse Gabrielle se afastando de Xena e vestindo a roupa.

–         Mas que mania que vocês amazonas têm com as mudanças da lua!_ disse Xena quase num protesto e vestindo um outro traje de guerreira.

–         Essa é uma das leis que existe antes mesmo que das Amazonas serem Amazonas.

–         É, eu sei. Vem das mulheres primitivas que após perderem todos os homens da tribo nas guerras, resolveram manter a tribo como estava, só com mulheres.

–         Isso mesmo.

–         E passaram a se denominar de Amazonas quando aprenderam a domar e montar os cavalos, que outrora elas caçavam para comer.

–         Como você conhece bem a história do meu povo, Xena. Eu tenho certeza que você seria uma magnífica amazona.

–         Nem pensar, neném. Eu sou uma guerreira e gosto de ser guerreira. Vocês têm muitas leis. E eu faço as minhas leis.

–         Mas você está se submetendo as leis das Amazonas._ disse Gabrielle fechando o cinto.

–         Por você, neném. Só por você, Gabrielle, eu me submeto a isso._ disse já pronta.

Gabrielle ia dizer algo, mas calou ao ver a guerreira vestida numa calça comprida marrom franjada nas laterais e numa camisa branca de mangas compridas.

–         Uau!_ foi o que a princesa conseguiu dizer.

–         Uau digo eu. Você está linda assim nesse traje marrom de princesa, que eu sei que pertenceu a Terreis.

–         Se você gostou do meu traje de princesa, espera só pra ver o que eu vou usar hoje na cerimônia.

–         Hum, mais bonito que esse… Você quer me enlouquecer, neném?

–         Ai, Xena, quando você me chama assim, além de me fazer sentir coisas, eu tenho a nítida impressão que…

–         … que eu já a havia chamado assim antes, num outro lugar, num outro tempo, não é?

–         É isso mesmo. O que será isso que está acontecendo com nós duas, Xena?

–         Não sei do que vocês estão falando, mas… Vocês pretendem matar toda a tribo de fome?_ perguntou Ephiny parada na porta com as mãos nos quadris e com os olhos arregalados.

A princesa e a guerreira nem contestaram, saindo rapidamente da cabana.

Ao se aproximar da mesa, Gabrielle totalmente sem graça e completamente rubra, pede desculpas e se senta no lugar reservado a ela. E, ao perceber que haviam colocado um lugar para Xena longe dela, diz:

–         Xena traga o seu banco e sente aqui ao meu lado.

Imediatamente a guerreira dividiu a cabeceira da mesa com a sua princesa.

Ariadne que estava num dos extremos da mesa, próximo a Gabrielle, faz menção de se levantar, mas é contida por Ephony que atendeu um sinal feito por Ephiny que estava no outro extremo da mesa.

O almoço transcorreu sossegado devido ao estado precário de todas ali presentes, causado pela espera prolongada de iniciá-lo e de ser devidamente degustado.

Para finalizar o almoço, Gabrielle se levanta, dizendo:

–         Queridas irmãs, no crepúsculo deste dia será decidido o destino da nossa aldeia, das nossas terras e das nossas vidas._ e ao ver que as suas palavras provocara um silêncio total, diz: Mas para tranqüilizá-las, podem preparar tudo para a cerimônia de posse.

Enquanto Gabrielle se retira acompanhada por Xena, Ephiny presta atenção na reação das demais amazonas, inclusive em Ariadne que, inconformada, retalhou com a faca uma maçã esmigalhando-a. As outras amazonas entreolharam-se, surgindo a seguir um burburinho.

–         Vão ficar aí tagarelando?_ perguntou Ephiny num tom de voz tão intimista, que fez com que todas levantassem e fossem procurar o quê fazer.

E no meio de toda aquela agitação, Ephiny procura por Ariadne, contudo a princesa amazona havia sumido. Diz para si mesma:

–         E essa agora? Onde será que ela se meteu… Eu não posso e nem devo desgrudar os olhos de cima dela, estou com pressentimento nada bom.

Procurando por Ariadne, Ephiny avista Xena sentada numa pedra ao lado da gruta onde Astéria mora. Pergunta:

–         O que está fazendo aí guerreira?

–         Esperando por Gabrielle que está tendo uma conversa reservada com Astéria.

–         Espero que não seja por motivo de saúde.

–         Não, são apenas conselhos.

–         Astéria é uma ótima curandeira para isso também.

–         Ephiny, outro dia você me disse que queria ter uma conversa comigo. Que tal agora?

Ephiny se senta numa outra pedra ao lado, ficando quase de frente para a guerreira, diz:

–         O que eu quero lhe dizer Xena, para que não haja dúvida nenhuma quanto a isso, é que eu amo Gabrielle como se ela fosse a minha irmã mais nova. Além disso, eu prometi para Terreis que cuidaria de Gabrielle até que ela encontrasse alguém que a merecesse. Entendeu agora? É por isso que eu tenho esse cuidado todo com ela, por causa da promessa que fiz a Terreis.

–         Ephiny você nunca disse a Terreis que a amava?

–         Nunca.

–         Por quê?

–         Porque ela só me amava como uma irmã. Além disso, eu era a sua amiga e confidente. Depois que você trouxe Gabrielle toda machucada, Terreis cuidou dela e acabou por se apaixonar por ela. Mas Gabrielle só falava da guerreira que ela havia sonhado por muito tempo e que de repente havia aparecido e salvara a sua vida.

–         Então, Terreis nunca se declarou para Gabrielle?

–         Não. E, mesmo assim, ela pediu para a sua irmã a Rainha Melosa que, caso acontecesse alguma coisa com ela, queria que Gabrielle recebesse a sua herança, que se tornasse princesa. E foi o que aconteceu.

–         É, a minha barda desperta muitas paixões.

–         E por falar nisso, tenho que vigiar uma certa princesa desprezada. Mas quando tivermos um tempinho quero que você me fale sobre a Rainha Cyane.

Quando Ephiny se afasta, Xena diz pra si mesma:

–         Sinto muito Ephiny, mas a história toda não vou poder lhe contar. E de inimiga já basta essa Ariadne.

Como Gabrielle estava demorando, Xena se levanta e avista uma árvore de eucalipto ao lado daquela caverna, vai até lá. Escolhe e arranca uma folha de eucalipto e quando a estava esfregando nos dentes, limpando-os, escuta um barulho de passos pisando em folhas secas. Resolve se aproximar pra ver quem era e neste instante sente “o cheiro”, se esconde ao sentir que alguém se aproxima e então vê Ariadne. Xena fica confusa, ela havia sentido o cheiro de Ares e no entanto quem ela viu foi Ariadne. Ficou cismada. O que Ariadne tinha a ver com Ares? Ela iria descobrir.

Nisso Gabrielle sai da gruta acompanhada por Astéria que, ao ver Xena, lhe diz:

–         Xena gostaria de ter uma conversa reservada com você, é possível?

–         Claro, Astéria.

–         Então, enquanto vocês conversam vou ver se as vestes da rainha estão prontas._ avisou Gabrielle.

Quando Gabrielle se afasta, Astéria comenta:

–         Ela fala como se a rainha fosse outra.

–         É que Gabrielle ainda não se convenceu disso.

–         É muito jovem a nossa rainha. Mas, venha Xena que eu tenho algo muito sério para lhe contar._ disse a curandeira entrando na caverna.

Xena dá um profundo suspiro e entra. Percebe logo que a curandeira conservava a caverna no seu estado natural. Um veio de água escorria da parede até formar no chão uma enorme poça. Do outro lado estava a cama da curandeira e ao centro uma mesa improvisada por uma pedra achatada com vários potes e vasilhas com ervas e óleos para curas.

–         Você vive só?_ perguntou Xena após se sentar num banco oferecido por Astéria.

–         Vivo.

–         Vou te confessar uma coisa: eu acho que agora não conseguiria viver sem Gabrielle.

–         Eu também já tive alguém. Ela se chamava Melissa, como a flor da erva. Nós éramos da mesma tribo e éramos aprendizes de curandeiras. Íamos de tribo em tribo para aprender com as mais diversas curandeiras. Descobrimos que nos amavam aos poucos, a cada dia na nossa jornada. Até que viemos morar aqui onde não havia curandeiras e a tribo era bem maior. Vivíamos muito felizes aqui, fazíamos planos, quando de repente fomos chamadas para ajudar a uma tribo que estava tendo um problema com uma estranha febre. Fomos para lá com o conhecimento que tínhamos, mas isso não foi o suficiente, Melissa adoeceu e eu não pude fazer nada. Via-a a cada dia sucumbir naquela febre. E, a cada momento em que ela recobrava a consciência, ela fazia com que eu renovasse a promessa que eu fizera a ela, que era de continuar com o meu trabalho. Ela se foi, mas as palavras dela ficaram dentro de mim. Por isso que nunca deixei de ser curandeira. Trago comigo as cinzas dela, porque quando eu morrer quero que as minhas cinzas sejam misturadas com as dela e enterradas aqui ao lado da gruta no meio da plantação de melissas.

Xena que ouvira tudo emocionada, agora estava preocupada por causa disso. Algo, realmente, muito sério aquela mulher iria lhe dizer, pois a prepara para isso.

–         Pode falar, Astéria. O que vai acontecer?

–         Desde o momento em que te vi, percebi que você não é uma guerreira qualquer. Você possui uma áurea que a destaca das outras pessoas. Gabrielle também tem essa áurea.

–         Nós somos almas gêmeas.

–         São sim. Porém, vocês despertaram a ira de um poderoso deus.

–         Eu sei: Ares. Como você soube?

–         A deusa Artemis me avisou. Ela a pouco o expulsou daqui.

–         Eu senti a presença dele, fui atrás, mas ao invés de Ares quem vi foi Ariadne.

–         E você conclui o quê?

–         Que ela está recebendo a ajuda dele.

–         Artemis não disse nada quanto a isso, mas é bem possível.

–         Astéria não seria melhor você avisar a essa princesa presunçosa que Ares sempre foi inimigo das Amazonas, que ele as atraíam para os guerreiros dele? E que por causa disso, ele foi responsável pela exterminação de várias aldeias amazonas.

–         Você tem razão Xena. Daqui a pouco eu vou ter uma conversa a sós com ela, vou alertá-la para isso. Direi também que a deusa Artemis está descontente com ela_ eu realmente acho que seria isso que a deusa diria.

Saindo dali, a intenção da guerreira, era ir atrás da sua princesa. Contudo não foi preciso, pois Gabrielle que estava ali mesmo ao lado da caverna, na parte que dava para a floresta, a chamou baixinho.

–         Gabrielle o que está fazendo aí?_ perguntou Xena se aproximando.

–         Xiii… fale baixo, Xena, ninguém pode nos ver._ disse puxando a guerreira pelo braço.

–         E aonde vamos?

–         Para detrás da caverna de Astéria, tem um cantinho escavado pela própria natureza, onde poderemos ficar sem que sejamos interrompidas.

–         Interrompidas? Quais as suas intenções para comigo, minha Princesa?

–         As melhores possíveis, guerreira._ respondeu Gabrielle entrando no jogo.

–         E se nos pegarem?_ perguntou Xena sendo conduzida, de braços dados, pela princesa.

–         Quem vai te pegar sou eu._ disse Gabrielle puxando a guerreira para o esconderijo.

Xena constatou que não era uma gruta e sim um buraco que dava para duas ou três pessoas ficarem confortavelmente protegidas da chuva. Reparou que havia ali cobertores forrando o chão.

–         Hum… mas isso é uma alcova!

–         Xena!_ exclamou a princesa fingindo indignação.

–         Princesa você está saindo melhor do que eu esperava.

–         Xena!_ tornou a dizer no mesmo tom.

A guerreira a olhou daquela maneira que a fazia estremecer e sentir fraqueza nas pernas. Num repente, foi envolvida pelos braços longos e fortes, enquanto a sua boca foi invadida por lábios cheios de ansiedade. Gabrielle murmurou o nome de Xena durante os minúsculos intervalos dos beijos, fazendo com que a guerreira ficasse ávida por mais carícias. Quando Xena começou a despi-la, Gabrielle também fez o mesmo com ela. Já estavam nuas quando deitaram. A guerreira queria possui-la, mas a princesa queria também. Foi quase um jogo de empurra, de uma enrolando por cima da outra que quase saíram de cima dos cobertores. Então, Xena, mais uma vez, resolveu ceder, pois amou ver e sentir que a sua princesa desejava-a tanto assim.

As duas se amaram como se fosse a última vez. Queriam perpetuar todos os gestos, todos os toques, todos os gostos, se exauriram de tanto gozo. Deixando-se cair exaustas, uma ao lado da outra, abraçadas, caladas, completamente extenuadas, sem fôlego, apenas ouvindo a respiração descompassada. Por fim, quando consegui se recuperar, a guerreira, rosto a rosto com a sua princesa, lhe diz numa voz ainda rouca:

–         Eu te amo Gabrielle.

–         Você é a minha vida, Xena._ disse Gabrielle acariciando a face da amada.

Xena a beija com ternura e diz:

–         Devem estar nos procurando.

–         Não estão não. Astéria já deve ter avisado que eu estou em retiro e que ela ia ter uma longa conversa contigo.

–         Pensei que as sacerdotisas não mentissem.

–         Eu não diria que se trata de uma mentira e sim uma maneira para proteger duas pessoas que se amam.

–         Você tem razão. Não é uma mentira, principalmente dita por uma pessoa tão sofrida e que sabe dá valor ao amor como Astéria. Ela sabe que um amor como o nosso não pode ser castigado por regras absurdas.

–         Meu amor, nenhuma lei vai me separar de você._ disse Gabrielle deslizando os dedos naqueles lábios tão amados.

–         Tampouco eu iria permitir que me afastem de você. Se for preciso eu lutarei com a aldeia toda. Você é minha Gabrielle.

O entardecer chegou e com ele o momento da confirmação de Gabrielle como Rainha Amazona e, também, da decisão dela em confirmar a união das duas tribos.

Todas as amazonas trajavam as suas vestes de festa. Porém, estranhamente, nenhuma delas parecia feliz.

Xena trajando a sua roupa de guerreira, andava de um lado para o outro em frente da caverna de Astéria, onde Gabrielle fora se preparar. Lá dentro se encontrava, além das duas, a Regente Ephiny.

Ariadne já estava ao lado das suas representantes de sua tribo mais a sua Regente Laís, do lado esquerdo e em frente ao trono que a rainha ocupará.

Finalmente chegara o momento, Astéria sai primeiro e com um aceno indica o início da cerimônia. Os tambores rufam ao cântico das amazonas, que saúdam a sua nova Rainha. Neste momento, Ephiny sai e apresenta Gabrielle.

Xena fica encantada ao ver a sua amada em vestes de Rainha, que realçou ainda mais a sua beleza. Gabrielle usava na cabeça uma fita dourada trançada prendendo o cabelo e separando a franja; no pescoço usava um colar com penas de uma ave rara, que só a Rainha podia usar; usava no braço esquerdo a braçadeira e munhequeira marrom com enfeites dourados, e no braço direito usava a braçadeira real que se estendia até o ombro por um ornamento de metal banhado em ouro e que também era ligada na munhequeira, esta diferente da outra, pois era maior, também de couro com ornamentos no mesmo metal banhado a ouro e cobria a palma da mão, deixando os dedos descobertos; o top marrom aveludado tinha enfeites iguais aos das braçadeiras,  munhequeiras e do largo cinto marrom que usava abaixo do umbigo, ele era ornamentado na frente com as mesmas penas de ave rara; embaixo do cinto, usava uma espécie de tanga marrom e por baixo dela uma saia lilás que ia um pouco abaixo do joelho com aberturas laterais, deixando a mostra as coxas; calçava as mesmas botas marrons.

Gabrielle parou ao lado da guerreira e lhe estendeu a mão. Xena sabia que esse gesto iria causar constrangimento em algumas pessoas, mas imediatamente segurou a mão dela e seguiu com ela lado a lado. Nada tinha importância além de agradar Gabrielle.

Ao chegar ao altar, Gabrielle subiu sozinha os três degraus de madeira e olhando para a cadeira toda ornamentada de flores, plumas e penas, na qual ela iria sentar, observou que ao lado também tinha duas cadeiras simples sem enfeitas e ela sabia que teria que escolher quem ela queria ao seu lado naquele momento. Parou na frente da sua cadeira e antes de se sentar anunciou:

–         Queridas irmãs, antes que eu me sente na cadeira da Rainha e que comece a cerimônia, quero chamar para se sentar a minha esquerda a minha Regente Ephiny.

Ephiny subiu os degraus e beijou as mãos de Gabrielle em sinal de respeito e se sentando ao lado dela.

–         E para ocupar o lugar ao meu lado direito, a minha guerreira pessoal Xena.

Imediatamente Xena sobe os degraus e beija as mãos de Gabrielle, demonstrando todo o seu sentimento.

Ariadne tinha sido contida por Daphne que, ainda encostava um punhal na cintura dela, e que havia lhe dito quando ela tentou protestar:

–         Fique quieta, não vá estragar a cerimônia. Eu posso até ser banida da tribo por isso, mas se você der um passo, eu te furo.

Ariadne engoliu em seco e despejou um olhar de ódio para Daphne. Mas também percebeu que atrás de si estava Solaris olhando-a enfezada. Sem alternativa, ficou quieta.

Começa a cerimônia. Fora como Xena previu, uma longa cerimônia. Já estava ficando entediada quando chega o momento da coroação e do juramento.

Ephiny se levanta e ao entregar a máscara da Rainha, diz para Gabrielle:

–         Eu, Ephiny, Rainha Regente desta tribo, entrego o maior símbolo amazona, a Máscara da Rainha para a sua legítima e única sucessora a Princesa Gabrielle. Doravante não mais Princesa e sim, Rainha Gabrielle.

Gabrielle se levanta e ao colocar a máscara é saudada por toda a tribo que se sentam por sobre as pernas, de cabeça baixa e com os braços estendidos no chão.

–         Queridas irmãs, por favor se levantem. Vocês todas me conhecem e sabem que eu não gosto de muita cerimônia. Hoje fui eleita Rainha desta tribo de Sarmátia. Não pretendo governar sozinha, conto com o apóio de todas vocês para mantermos essa nação sempre forte. Aqui terei ao meu lado a minha amiga e Regente Ephiny, que é mais do que o meu braço direito, é a minha mestra, é nela que eu me espelho para poder governar e manter essa aldeia unida e cada vez mais forte. Saudemos a nossa nação!

Todas as amazonas bradam vivas a Nação Amazona e a Rainha Gabrielle.

Gabrielle, já sem a máscara, com um gesto de mão pede silêncio e fala:

–         Para terminar, quero dizer que lá em Gargarência a tribo continuará ser governada pela Regente Laís e por Ariadne quando se tornar Rainha.

 Houve um momento de silêncio. Gabrielle se surpreendeu por Ariadne ainda não ter se manifestado_ o que Gabrielle não sabia era que um punhal impedia Ariadne de qualquer movimento. A Rainha tomou fôlego e continuou:

–         Como vocês devem ter percebido, eu aceito a cerimônia de casamento para unir as duas tribos. O que acontecerá em sete dias. Como reza a tradição, na lua cheia. Agora, chega de conversa e vamos a comemoração.

Depois dos calorosos aplausos e saudação a sua nova Rainha, as amazonas entoam cânticos enquanto comem e bebem.

–         Como eu me saí?_ perguntou Gabrielle.

–         Muito bem._ respondeu Ephiny.

–         Como sempre._ disse Xena.

–         Ainda bem que tudo transcorreu sem nenhum aborrecimento._ disse Gabrielle aliviada.

–         Eu tomei as devidas providências para que isso acontecesse._ revelou Ephiny.

–         E quais foram?_ perguntou Xena.

–         Mandei Solaris e Daphne ficarem grudadas em Ariadne. Se por acaso ela tentasse fazer alguma coisa, era para as duas impedi-la  de qualquer maneira.

–         Não quero nem saber como._ disse a Rainha.

Nisso, Ariadne se aproxima e se dirigindo a Gabrielle, diz:

–         Fiquei feliz por você ter aceitado se casar comigo, Gabrielle.

–         Eu não aceitei me casar com você._ respondeu Gabrielle.

–         Mas você acabou de dizer…

–         Eu disse que aceitava a cerimônia de casamento para unir as nossas tribos, só isso.

–         Você não está falando sério._ disse Ariadne com ironia.

–         Uma Rainha sempre fala sério num assunto como esse. E eu já expus a minha condição, e esta foi aceita pelas minhas conselheiras, as representantes da sua tribo e pela sua Regente Laís._ avisou Gabrielle.

–         Eu não aceito essa condição e isso não vai ficar assim._ disse Ariadne aumentando o tom de voz e olhando para Xena com ódio, diz antes de se afastar: Você não tarda por esperar!

–         Ela realmente me odeia!_ disse Xena.

–         E é tudo por minha causa._ disse Gabrielle.

–         E ela também me odeia._ revelou Ephiny.

–         Ela também disse isso a pouco para Daphne._ contou Solaris ao se aproximar.

–         Que ela me odeia, a gente sabe o motivo. Mas por que ela a odeia Daphne?_ perguntou Xena.

–         O principal motivo deve ter sido que agora a pouco eu a ter impedido de se manifestar durante a cerimônia._ disse Daphne que acabara de chegar.

–         E como você a impediu?_ perguntou Xena.

–         Bem, tive que colocar o meu punhal nas costelas dela e de lhe dizer umas verdades.

–         Pelos deuses, Daphne!_ exclamou Gabrielle.

–         Como foi isso?_ ainda Xena.

–         Solaris e eu tínhamos ordens de Ephiny para que não deixássemos que ela tentasse estragar a cerimônia. E aquela foi a única maneira de segurá-la ali. E o que falei foi em resposta aos insultos que recebemos.

Xena se aproxima de Daphne e segurando com as duas mãos os ombros dela, diz;

–         Daphne você cresceu no meu conceito e lhe garanto que Gabrielle está orgulhosa de você.

–         E temerosa também._ disse Gabrielle afagando a mão da amiga e acrescenta: Ariadne é vingativa e já mostrou que joga sujo, que não tem nenhum escrúpulo. Daphne, eu já perdi Terreis, não quero perder você também, minha amiga.

–         Pode deixar eu estou atenta, não se preocupe, minha Rainha.

–         Daphne quando estivermos em momentos íntimos como esse me chame como sempre me chamou de Gabrielle.

Em resposta Daphne lhe beijou a mão.

Num lugar afastado dali.

–         ARES!_ gritou Ariadne.

–         Não grite! Quer que alguém escute?_ disse o deus se materializando.

–         Nada do que planejamos deu certo.

–         E a culpa é de quem? Sua incompetente!

–         Você bem que podia me ajudar.

–         Mas do que eu estou ajudando?! Vejo que me enganei quando achei que você poderia ser páreo para Xena.

–         Eu sou melhor que ela.

–         Está longe de ser.

–         Se você não se intrometer, posso provar isso.

–         Há pouco você pediu a minha ajuda e agora pede pra eu me afastar?!

–         O que eu quero é que você não se intrometa a favor de Xena, é essa a ajuda que eu quero.

–         O que você está pretendendo?_ perguntou Ares coçando o cavanhaque.

–         Você sabe, ficar com Gabrielle.

–         Eu sei que não é só isso o que você pretende, mocinha. Mas deixe-me refrescar a sua memória: quando fizemos o acordo e eu a fiz ver a imagem de Gabrielle, por quem você imediatamente se apaixonou, combinamos que você ficaria com ela e eu com Xena. Não tente quebrar esse acordo fazendo alguma coisa contra a minha guerreira ou então você vai conhecer a minha fúria.

Ariadne segura o braço dele, dizendo:

–         E você tinha que mandar aquele enorme javali para a grande caçadora se exibir?

–         Não sei do quê você está falando?

–         Se não foi você, foi quem?

–         Garota você está começando a me cansar. Eu acho que escolhi mal a oponente para Xena. O tempo que você pediu já está quase acabando, então será do meu modo.

–         Mas o meu tempo ainda não terminou. E eu consegui que Gabrielle aceitasse se casar comigo.

–         Espero até a próxima lua.

–         Ainda bem que a próxima lua é cheia.

–         E eu com isso?

–         Você nada. Mas nós, amazonas, só nos casamos na lua cheia. E aí, quando eu me casar com Gabrielle, ela será minha. E o nosso acordo será cumprido.

–         Está bem. Estou mesmo curioso para ver como isso vai acontecer. Mas passando o prazo vai ser do meu jeito._ diz o deus antes de sumir.

–         O seu jeito é que você quer separar Gabrielle de Xena, nem que para isso tem que matá-la  e isso eu não vou permitir._ disse entre os dentes a amazona.

Quando Ariadne se dirigia para a aldeia se depara com Xena que estava esperando por ela.

–         Então é isso._ disse Xena.

–         Isso o quê?_ perguntou Ariadne um pouco escabreada.

–         Você e Ares.

–         Não sei do que é que você está falando._ tentou desconversar a Princesa.

–         Desde quando você está recebendo ajuda de Ares?

–         Ainda continuo não entendendo…

–         Não se faça de sonsa. Essa espada que você está usando, eu já usei um dia. Ares só dá essa espada que trás a marca dele para a sua discípula predileta.

–         Pois bem, Ares me treinou contra você, a melhor de suas discípulas, palavras dele, para que eu pudesse e tivesse uma chance contra você.

–         Contra mim?! Ele te treinou contra mim?

–         Está com medo?

–         Eu? Medo de você?

–         É o que parece.

–         Você está ansiosa para lutar comigo, não é mesmo?

–         Quero provar que sou melhor que você. Há muito espero por isso.

–         Então você ainda vai ter que esperar mais um pouco.

–         A grande guerreira refugou!_ disse com deboche.

–         E a grande paspalha está tentando me provocar._ debochou também.

–         Eu não estou só te provocando, eu estou te desafiando!_ disse Ariadne puxando a espada.

–         Coloque-a no lugar em que estava, Princesa!_ ordenou Ephiny com aspereza.

–         Não se meta, Ephiny, isso é entre mim e Xena.

–         Não envergonhe a sua tribo, Ariadne, obedeça-me!_ disse com firmeza Ephiny, agora entre as duas guerreiras e finaliza: Sem discussão, vocês duas me sigam.

As três adentraram a aldeia em silêncio.

Gabrielle que estava na sua varanda conversando com Daphne e Ephony, ao ver os semblantes das três, fica apreensiva.

–         Rainha Gabrielle…_ disse Ephiny antes mesmo de se aproximar e completa ao chegar: Precisamos conversar. A sós!_ disse olhando para as demais amazonas.

–         Venha Ephiny, vamos entrar._ disse Gabrielle e antes de fechar a porta olhou pra Xena que fez um gesto levantando as sobrancelhas e o ombro direito demonstrando assim não saber do que se tratava.

Dentro do quarto, Gabrielle pergunta:

–         Do quê se trata, Ephiny?

–         Gabrielle se eu disser que o vulcão já entrou em erupção, você sabe o que eu quero dizer?

–         Você está se referindo a Ariadne?

–         Estou me referindo as suas duas pretendentes. Há pouco cheguei bem a tempo de evitar o confronto entre as duas.

–         Pelos deuses!_ deixou escapar Gabrielle antes de se sentar na cadeira

–         Gabrielle, eu temo pelo que possa acontecer daqui pra frente.

–         Ephiny, eu posso lhe garantir que Xena não…

–         Eu sei._ disse Ephiny a interrompendo e conclui: É Ariadne que está provocando Xena. Ela está se sentindo desprezada e despeitada por você ter escolhido Xena.

–         Não foi uma escolha, eu já amava Xena antes mesmo de conhecê-la, os nossos destinos estavam cruzados.

–         Pra ela isso não tem importância, Ariadne quer você e vai fazer valer o direito das nossas leis para isso. E é isso o que conta para ela.

–         Pois eu vou botar um ponto final nisso agora mesmo._ disse Gabrielle se levantando.

Ephiny a retêm a segurando pelo braço e dizendo:

–         Você vai querer estragar tudo, logo agora, Gabrielle? Esse não é o momento certo, você sabe disso.

–         Você está certa Ephiny.

–         Pois bem, eu quero te fazer um pedido.

–         Faça.

–         Antes devo explicar que só vou lhe pedir isso porque a situação se tornou insuportável. Inclusive, as amazonas que vieram com Ariadne, foram me pedir uma definição do triângulo formado por você, Xena e Ariadne.

–         Não vá me pedir para me afastar de Xena, Ephiny.

–         Se afastar não, mas evitar que vocês fiquem… namorando na frente de Ariadne e das outras.

Vendo que Gabrielle ficou calada e cabisbaixa, Ephiny afaga o ombro dela, dizendo:

–         Agüenta mais um pouco, minha amiga.

–         Eu estou pensando em Xena, Eph. Ela tem se submetido a tudo por minha causa, não é justo.

–         Eu sei. E nem amazona ela é. Mas Xena te ama e vai aceitar isso.

–         Tomara, porque ficar contra Xena eu não fico.

Ephiny suspira fundo e diz:

–         Agora vamos, Gabrielle, eu não confio muito nas duas se encarando lá fora.

Nisso, as duas guerreiras se entreolhavam sem nada dizer. Entretanto, Xena sentia todo o ódio que o olhar de Ariadne lhe transmitia e aquilo a estava incomodando. Quando estava a ponto de cometer um desatino ao perceber que a amazona a media de cima a baixo com deboche estampado no rosto, surgem Gabrielle e Ephiny, saltou um suspiro de alívio.

–         Vocês duas, venham!_ ordenou Ephiny andando ao lado de Gabrielle.

Xena, rapidamente, se coloca ao lado de Gabrielle. Restando a Ariadne ficar ao lado de Ephiny.

–         Aonde vamos, Ephiny?_ perguntou Xena.

–         Falar com as Conselheiras.

–         Não fazemos outra coisa desde que chegamos._ resmungou Ariadne.

–         Odeio ter que admitir isso, mas ela tem razão._ disse Xena.

–         Só que desta vez vocês só vão ouvir o que elas decidirem e acatarem._ avisou Ephiny antes de entrarem na cabana de reunião.

Na cabana de reunião estavam todas sentadas em volta da imensa mesa retangular que comportava vinte e seis cadeiras. Gabrielle se sentou a cabeceira e Ephiny na outra; ladeando Gabrielle estavam Xena e Ariadne; de um lado da mesa estavam as conselheiras da tribo de Sarmátia e do outro lado da tribo de Gargarência, inclusive a Regente Laís.

–         Podemos começar._ declarou Gabrielle.

–         Conforme conversa que tivemos com a Regente Ephiny esta reunião é somente para comunicar às regras que serão impostas até o dia da cerimônia de casamento._ avisou a Conselheira-Mor.

–         E essa agora?!_ protestou baixinho Xena no ouvido de Gabrielle.

–         Depois eu lhe explico._ sussurrou Gabrielle.

–         Vá direto ao assunto… por favor._ resmungou Ariadne.

A Conselheira pigarreou olhando feio para Ariadne e anunciou:

–         Bem, conforme a nossa lei e o nosso costume e, devido ao impasse de nossa Rainha já ter se casado com Xena, a Princesa Guerreira,_ torna a pigarrear e continua: E de ter herdado o compromisso nupcial com a Princesa Ariadne, herdeira das Amazonas do Norte…_ desta vez tossiu forte, bebeu um pouco d`água e prosseguiu: Sendo assim, as duas pretendentes deverão se submeter às tarefas que lhes serão dadas durante essas duas semanas anteriores a cerimônia de casamento.

–         Mas isso é uma afronta!_ esbravejou Ariadne se levantando.

–         Princesa Ariadne contenha-se!_ a repreendeu a Conselheira-Mor.

A Conselheira-Mor das Amazonas do Norte diz alguma coisa ao ouvido da sua Princesa e esta, então, acata ficando em silêncio.

A Conselheira-Mor de Sarmátia se levanta e encerrando a reunião, avisa:

–         As tarefas serão distribuídas amanhã pela manhã. Agora todas podem se retirar, ficando apenas aqui comigo a Rainha Gabrielle e a Regente Ephiny.

Antes de sair Xena lança um olhar para Gabrielle tranqüilizando-a.

O que foi conversado entre a Conselheira-Mor, a Rainha e a Regente, só Astéria teve o conhecimento.

No dia seguinte.

As tarefas dadas às duas guerreiras foram as seguintes: Xena, Daphne, Amoria e mais um grupo de amazonas iriam para a parte sul de Sarmátia; enquanto Ariadne, Ephony, Solaris e outro grupo de amazonas iriam para o norte dali. E, todas teriam que explorar o território mandado e só regressando no último dia da lua crescente. Na verdade, essa foi a saída sábia que Astéria encontrou de manter Xena e Ariadne longe uma da outra e dali também.

Gabrielle se despediu de Xena, apreensiva e um tanto aflita. A guerreira a confortou, dizendo:

–         Astéria sabe o que faz, se eu ficasse aqui a qualquer momento ao esbarrar nessa tal de princesa safada, não sei o que poderia acontecer.

–         Promete que você vai se cuidar?

–         Prometo.

Gabrielle, então,tira do pescoço um cordão fino de couro marrom com um pingente de metal em forma de coração e, ao entregá-lo para Xena, diz:

–         Leve-o contigo, Xena. É como se fosse o meu coração, uma parte de mim que vai estar contigo.

–         E eu deixei pra você se lembrar de mim, a minha camisa de dormir ao lado da sua na nossa cama.

Xena e Ariadne tiveram uma árdua e produtiva tarefa. Ao retornarem trouxeram sementes, plantas, ervas e frutas. Cada grupo fez um mapa do território explorado. O grupo de Xena foi o primeiro a regressar, chegando pela manhã e recebido com muita festa, principalmente pela Rainha que se atirou nos braços de sua Princesa Guerreira que, mais tarde, quando ficaram a sós lhe devolveu o cordão em meios a muitos beijos.

O grupo de Ariadne chegou no meio da tarde e foi recebido com menos alarde. Ariadne ficou visivelmente contrariada ao ver Gabrielle de braços dados com Xena. E ao ver que Xena se afastara por uns instantes, se aproxima de Gabrielle e lhe diz ao ouvido:

–         Amanhã será o nosso grande dia, minha Rainha. Estou ansiosa para ficar a sós contigo.

Gabrielle olhou para Ephiny que também havia se aproximado e escutara tudo, depois olhou pra Xena e ficou aliviada ao ver que a guerreira conversava distraída com Ephony.

–         Sabe, Eph, eu estou no meu limite. Passei hoje o dia inteiro tentando evitar ficar a sós com a minha guerreira e agora vou ter que evitar também as investidas de Ariadne?

–         Fique sossegada, minha amiga, tente relaxar. É por isso que vou ficar ao seu lado o tempo todo.

A noite chegara e com ela o momento de dormir. Xena ficou muito aborrecida por não poder dormir com Gabrielle, mesmo sabendo que era essa uma das normas a ser cumprida. A guerreira, então, preferiu dormir na cabana de Ephony que se tornara uma grande amiga. Enquanto Ephiny, por exigência da Conselheira-Mor, foi dormir na cabana da Rainha. Porém, tanto Xena quanto Gabrielle custaram a dormir.

Nem bem o dia clareou, Xena já estava de pé, parada na porta da cabana, olhando fixo para a cabana da Rainha. Contudo, não esperou muito para vê-la, Gabrielle apareceu na janela, ainda com o camisão de dormir e com os olhos inchados . Xena adorava vê-la assim ao acordar. Ao ver a sua guerreira, Gabrielle sorrir pra ela. Xena, unindo os lábios, enviá-lhe um beijo e Gabrielle estende os seus lábios para apará-lo.

Ephiny chega na janela e puxa Gabrielle para dentro, revirando os olhos para cima enquanto balançava a cabeça negativamente.

Xena não pode conter um leve riso, principalmente quando Ephony, que estava na janela, lhe disse:

–         Vocês duas estão deixando Ephiny maluca. Ela anda fazendo coisas que nunca fez antes.

Quando Gabrielle e Ephiny foram fazer o desjejum com as demais amazonas, escutaram a amazona Laís, Regente das Amazonas do Norte, dizer para uma outra amazona:

–         Depois que Ariadne se unir a Rainha Gabrielle, eu vou me aproximar da guerreira Xena.

Gabrielle levou um choque e ficou mais abalada ao ouvir a resposta que Laís deu a amazona que lhe perguntara por quê.

–         Ora por quê? Porque ela é linda!

Ephiny precisou conter Gabrielle que queria se aproximar da amazona.

–         Minha Rainha, nunca se esqueça da sua posição, da sua casta, da sua realeza.

–         Eu só queria deixar claro pra ela que aquela guerreira tem dona.

–         Gabrielle você sentiu ciúmes._ disse Ephiny rindo.

–         Você está certa, Eph, é ciúme sim, mas também é zelo.

–         Foi essa a mesma resposta que Xena me deu outro dia.

–         Você está vendo só como fomos feitas uma para a outra?

–         O que eu sei é que vocês são duas malucas que ainda vão acabar com os meus nervos, com todo respeito minha Rainha._ acabou de falar fazendo uma reverência.

Gabrielle não contestou, como também prendeu o riso em consideração àquela amiga que, realmente, deveria estar no seu limite devido aos acontecimentos, apenas a seguiu até a mesa.

De repente, todas as amazonas se levantaram e saudaram a sua Rainha. Gabrielle ainda não estava acostumada a isso, acenou timidamente de volta e, ao avistar Xena, foi ao seu encontro. Ephiny a acompanhou.

–         Bom dia, minha Rainha._ disse Xena fazendo uma reverência e perguntando: Dormiu bem?

–         Bom dia, minha guerreira. Dormiria melhor se você estivesse comigo.

–         Por Zeus, não vão começar!_ protestou em voz baixa Ephiny.

–         Pode ficar sossegada, Eph. Estou morrendo de fome._ disse Gabrielle já se servindo.

–         E quando Gabrielle está com fome…_ Xena não terminou de falar porque Ariadne havia se aproximado.

–         Vim convidá-la para fazer o desjejum comigo, minha noiva._ disse essas últimas palavras olhando pra Xena.

–         Fica pra um outro dia, pois já aceitei um outro convite._ disse Gabrielle polidamente.

–         Convite de quem? Da sua ex-amante?_ perguntou com acinte, Ariadne.

–         Princesa Ariadne, eu devo lembrar-lhe que você está falando com a Rainha, meça as suas palavras!_ avisou Ephiny.

Ao perceber o mal-estar que criara, Ariadne fez uma pequena reverência com a cabeça e se afastou.

–         Obrigada, Eph._ disse Gabrielle fazendo uma carícia no braço da amiga.

–         E eu estou lhe devendo essa._disse Xena.

–         Foi exatamente por isso que eu me antecipei a tempo de evitar um bate boca.

–         Ephiny, me esclareça uma coisa: Ariadne ainda não é uma rainha, por quê?_ perguntou Xena servindo chá pra Gabrielle.

–         Segundo as leis das Amazonas do Norte, a princesa herdeira só se tornará rainha depois de se casar._ explicou Ephiny.

–         Então, só depois do casamento que essa princesa presunçosa vai se tornar rainha. Agora, se ela quiser me dar ordens…_ ainda Xena.

–         Não precisa se preocupar que isso não vai acontecer. Aqui ela continua sendo uma Princesa, só quando regressar para a sua tribo, casada, vai ter que esperar até a lua cheia para a cerimônia de coroação.

–         Gabrielle vai ter que ir com ela para Gargarência?

–         Terá, essas são as regras das nossas tribos._ respondeu Ephiny.

–         Vocês vão ter que me matar primeiro._ disse Xena franzindo as sobrancelhas e colocando a caneca vazia com muita força na mesa.

Gabrielle continuou a comer sem se manifestar. Estranhando a falta de atitude da sua Rainha, Ephiny lhe pergunta:

–         Não vai dizer nada, Gabrielle?

–         Pra quê? Pra você depois reclamar que nós duas vamos acabar por enlouquecê-la?_ respondeu Gabrielle, depois voltou a comer.

Ephiny olhou para Xena que coçava o queixo disfarçando a vontade de rir, e avisou antes de começar a se servir:

–         Só espero que vocês duas não se esqueçam do que combinamos.

Após o desjejum, Gabrielle foi para a sua cabana. Xena e Ephony se reuniram com Ephiny na cabana dela. Ariadne também se isolou na sua cabana. Parecia que a paz reinava naquele momento. Todavia, fora uma tarde atípica onde o silêncio substituiu a alegria, a cantoria que era o cotidiano daquela aldeia, principalmente, num dia de festa como aquele. A realidade era que, as amazonas, sabiam que a sua Rainha iria se casar contra a sua vontade.

Enfim, o anoitecer chegara e já estava tudo pronto para a cerimônia.

Ariadne já estava pronta, em pé no lugar reservado a ela ao lado do altar. Percorria com olhar de satisfação a ornamentação ao redor: vários tipos de flores, plantas, plumas enfeitavam aquele espaço. Fixou o olhar na mesa nupcial, suspirou ao imaginar o seu sangue ser unido ao sangue de Gabrielle naquela bacia sagrada. Aí então, Gabrielle seria sua esposa, seria sua. Um riso de satisfação se estampou no seu rosto. Mas logo se lembrou de Xena. Imediatamente a procurou com o olhar. Com estranheza e alívio não avistou a guerreira.

Nesse instante a porta da cabana da Rainha se abre. Ephiny se aproxima no exato momento em que Gabrielle sai da cabana. A Rainha trajava a sua veste real que a deixava reluzente de tão linda. Ephiny a saúda lhe fazendo uma reverência, a seguir lhe estende a mão e a conduz até ao altar.

Os olhos de Ariadne percorreram com uma indiscreta e indisfarçável voluptuosidade o corpo da sua futura esposa, fazendo Gabrielle corar. Ariadne se precipitou e tomou a mão de Gabrielle antes que Ephiny lhe oferecesse, tamanha a ansiedade e pressa para que a cerimônia começasse logo.

Astéria subiu ao altar por trás, trazendo nas mãos um pano branco que desembrulhou ao ser depositado na mesa nupcial. Ao retirar a adaga de dentro do pano, ela a eleva até a fronte onde faz uma oração e a coloca na borda da bacia sagrada.

Ariadne completamente excitada, não se controlando, aperta a mão de Gabrielle, dizendo:

–         Você vai ver como eu vou te fazer feliz, Gabrielle.

Gabrielle arregalou os olhos para Astéria como se pedisse ajuda. A curandeira e também sacerdotisa, diz:

–         Irmãs amazonas, hoje se concretizará a união das tribos de Sarmátia e Gargarência. A nossa Rainha Gabrielle e a Princesa Ariadne estão aqui para selar essa união. Aproximem-se as noivas.

Ariadne quase arrastou Gabrielle que parecia que estava pregada ao chão. A sacerdotisa chama as duas para onde ela estava e se coloca entre as duas. Pega a adaga e a encosta entre as suas sobrancelhas e numa muda meditação fica por uns instantes. Depois abre os olhos e coloca a adaga na borda da bacia sagrada. Vira-se para Ariadne e pergunta:

–         Princesa Ariadne, futura Rainha herdeira das Amazonas do Norte, é de seu agrado e desejo unir-se a nossa Rainha Gabrielle…

–         É sim._ Ariadne, novamente se precipita em responder, interrompendo a sacerdotisa.

Astéria pigarreia antes de prosseguir. Vira-se para Gabrielle e pergunta:

–         Rainha Gabrielle é de sua vontade unir-se a Princesa Ariadne?

Gabrielle treme os lábios antes de responder com voz trêmula:

–         A-Aceito.

Imediatamente, Ariadne colocou a mão direita estendida por sobre a bacia.

–         Princesa Ariadne quer fazer o obséquio de não me interromper novamente!_ avisou Astéria e prosseguiu: Há alguém aqui que possa se manifestar e provar que essa união não possa se realizar?

–         SIM, EU!_ gritou Xena parada na frente do altar.

Gabrielle não conseguiu esconder o alívio e o riso de satisfação que aflorou nos seus lábios.

–         Mas o que é isso? Ela não pode se manifestar!_ disse Ariadne em voz alta após se recuperar do susto.

–         Xena, eu espero que você tenha realmente um bom motivo para interromper uma cerimônia de uma casta a qual você não pertence._ disse Astéria.

Xena sobe ao altar e de frente para Astéria, pergunta:

–         Vocês, amazonas, reverenciam a quem?

–         As três deusas irmãs: Artemis, Atenas e Afrodite._ respondeu a sacerdotisa.

–         E ao Deus da Guerra?

–         Mas que despropósito é esse? Isso é uma afronta! Exijo que expulsem essa guerreira daqui!_ disse Ariadne quase gritando.

–         Princesa Ariadne, o direito de falar foi concedido a Xena. Continue guerreira.

–         Eu fiz uma pergunta: e o Deus da Guerra, vocês o reverenciam?

–         As nossas ancestrais, as primeiras amazonas o reverenciavam, mas ele as atraiu e tornou-se o nosso maior inimigo._ respondeu a sacerdotisa.

–         Então, nenhuma amazona pode reverenciá-lo e nem se aliar a ele, não é mesmo?

–         Sim, é verdade.

–         Então por que a Princesa Ariadne carrega na cintura a espada de Ares?

Depois de um rápido silêncio, se instala um balburdio.

Ariadne tenta tampar o cabo da espada com as mãos, mas em vão, todos os olhares lhe eram dirigidos.

–         Princesa Ariadne, traga-me aqui a sua espada._ ordenou a sacerdotisa.

–         Vocês vão acreditar nela!_ disse Ariadne apontando para Xena e quase gritando: Eu sou uma amazona! Eu sou uma de vocês! Ela é uma guerreira que já foi uma facínora! Em quem vocês vão acreditar?

Astéria que havia se aproximado de Ariadne, sem nenhuma cerimônia e lhe puxa a espada da bainha. Examinou minuciosamente cada detalhe daquela arma e mostrou o sinal de Ares cravado nela para as conselheiras que haviam se aproximado. Depois diz para que todas pudessem ouvir:

–         Todas nós sabemos que Ares costuma presentear seu guerreiro ou sua guerreira favorita com uma espada dele, feita pelo seu irmão, o deus Hefesto. Xena já usou essa espada por um tempo. Agora quem a está usando é você Ariadne!

As amazonas murmuram indignadas.

–         Princesa Ariadne, nós exigimos uma explicação!_ disse Ephiny se aproximando.

Ariadne parecia que nem escutara, estava completamente confusa, desnorteada.

–         Regente Laís você tinha conhecimento disso?_ perguntou Ephiny mostrando a espada.

–         Não, nenhuma de nós sabia disso, nem sei o que falar._ disse Laís olhando com censura para Ariadne.

–         Você sabe a conseqüência disso? Você tem conhecimento das nossas leis sobre isso?

–         Sim, eu sei._ respondeu Laís.

–         Então, eu peço para que fale para que todas possam ouvir.

Laís tornou a olhar severamente para Ariadne que estava assustada e disse:

–         A nossa lei diz que: uma amazona jamais poderá se aliar a um inimigo. Se isso ocorrer ela deverá ser banida.

–         Banida! Mas eu não fiz nada de mal, não houve nenhuma traição!_ brandiu Ariadne.

–         Você é uma discípula de Ares, isso você não pode negar._ disse Astéria.

–         Ares se ofereceu a me ensinar a lutar para que eu tivesse uma chance contra aquela que foi a sua melhor guerreira._ confessou Ariadne.

–         Você e Ares estavam armando uma maneira para que você lutasse comigo?_ perguntou Xena curiosa e surpresa.

–         Era esse o plano dele, que eu vencesse você e a expulsasse da aldeia e da vida de Gabrielle.

–         Mas isso não justifica você se aliar a ele._ retrucou Astéria.

–         Eu não me aliei a ele, apenas aceitei ser treinada por ele.

–         Princesa Ariadne, você infringiu as nossas leis e por tanto, não é digna ainda de assumir como Rainha. Como herdeira legítima terá que passar por um longo aprendizado e amadurecimento._ se pronunciou a Conselheira-Mor que até então estava calada.

–         Isso quer dizer o quê?_ perguntou Ariadne que já não conseguia raciocinar direito.

–         Se você não tivesse o costume de nos interromper já saberia do que se trata._ disse Astéria lhe chamando a atenção. E se dirigindo para a Conselheira-Mor, diz: Por favor, continue.

–         Princesa Ariadne você não está apta a assumir qualquer compromisso.

–         Isso quer dizer que não vai haver a minha união com a Rainha Gabrielle?_ perguntou Ariadne um pouco transtornada.

–         O propósito dessa cerimônia era unir as duas tribos numa aliança entre as duas Rainhas, mas você tão cedo poderá obter a sucessão. Por tanto, não vai haver união, casamento.

Nem bem a Conselheira-Mor acabara de falar, Ariadne toma-lhe a espada da mão e agarra Gabrielle a imobilizando com o braço envolta do pescoço, dizendo:

–         Eu não aceito isso! Astéria, eu quero que você faça a nossa união agora!

–         Largue ela!_ gritou Xena se aproximando.

–         Não se aproxime!_ disse quase gritando.

Ephiny e Ephony agarram Xena. Ephiny lhe diz baixinho:

–         Não se precipita Xena, Gabrielle está correndo perigo.

Xena sabia que Ephiny tinha razão, mas era difícil para ela ver Gabrielle em poder daquela maluca.

Após passar o espanto, as amazonas empunham as suas armas. Com receio que pudesse ocorrer algum acidente que, de alguma forma, afetasse Gabrielle, Ephiny faz um sinal para que todas abaixem suas armas.

–         Ariadne não faça isso! Solte a Rainha Gabrielle!_ disse quase gritando a Regente Laís.

–         NÃO!_ gritou Ariadne.

–         Ariadne você é a Princesa Herdeira das Amazonas do Norte… Por favor, não nos envergonhe_ suplicou Laís.

–         Isso tudo foi armado para que eu não me casasse com Gabrielle._ disse Ariadne completamente nervosa, a ponto de encostar a lâmina da espada no pescoço de Gabrielle. E tornou a exigir: Case a gente agora se não…

–         Se não o quê?_ perguntou Xena tentando com muito custo manter a calma.

–         Se não eu a mato e me mato depois._ disse Ariadne totalmente transtornada e acrescenta: Se eu não posso tê-la, você não a terá também.

Xena olhou para Gabrielle e viu não só nas feições dela, mas em seus olhos o pavor que sentia. Devido a isso e mesmo contra a sua vontade, disse:

–         Realiza a cerimônia, Astéria.

–         Não posso, Xena. Eu estaria infringindo as nossas leis.

–         Por Gabrielle…_ implorou Xena.

Em resposta a sacerdotisa abaixou a cabeça.

Desesperada, Xena olha para Gabrielle, que em nenhum momento deixou de olhá-la, e viu o olhar mais triste e cheio de lágrimas que a fez se afligir mais.

Ariadne estava hesitante, olhava para todos os lados, parecia que procurava algo, porém mantinha firme a espada no pescoço de Gabrielle.

–         Agora chega! Basta! Isso já passou do limite. Ariadne, eu ordeno que você tire a espada do pescoço  e salte a Rainha Gabrielle._ disse Laís se aproximando e conclui: Não nos envergonhe, Ariadne.

–         Pare! Não se aproxime mais!_ gritou Ariadne completamente nervosa.

Porém, Laís não parou e continuou se aproximando devagar, dizendo:

–         A sua mãe, a nossa inesquecível Rainha, se estivesse viva iria morrer de desgosto e vergonha de você.

–         Você nunca vai me entender, Laís. Se eu estou fazendo isso é porque sou apaixonada por Gabrielle,  eu a amo, eu a quero.

–         Mas ela não a ama Ariadne!

–         Mas eu vou fazê-la me amar.

–         Desta maneira a maltratando, a ameaçando de morte?

–         Eu nunca machucaria Gabrielle. Ares, sim, queria matá-la pra ficar com Xena. Eu salvei Gabrielle propondo afastá-la de Xena.

Nisso, Gabrielle geme e ao olhá-la, Ariadne vê o sangue dela escorrer em seus próprios dedos.

Completamente alucinada pelo que vira e aproveitando o vacilo de Ariadne, Xena salta em cima dela, arrancando a espada da sua mão. Gabrielle aproveitou para se saltar e sair dali.

–         Agora é comigo. Eu tenho uma conta a acertar contigo princesa safada!_ disse Xena dando um soco com toda a força que lhe surgiu da raiva.

Enquanto Gabrielle foi socorrida por Ephiny e Daphne, Ephony se juntou a Xena e disse:

–         Vai ver Gabrielle que eu fico aqui esperando essa safada acordar.

Xena correu para ver como a sua amada estava.

–         Como você está Gabrielle?

–         Estou bem, amor.

–         E o pescoço?_ perguntou Xena já examinando.

–         Parou de sangrar.

–         E a safada disse que nunca a machucaria…

–         Ela não me machucou, fui eu que forcei o corte.

–         Gabrielle!_ retrucou Xena.

–         Xena, eu tinha que fazer alguma coisa.

–         Mas não se ferindo!

Nisso, Ariadne que havia sido socorrida por Laís e suas amazonas, acordou e precisou ser amparada para se levantar. Ao ver que Xena estava de costas cuidando de Gabrielle, pega a espada do chão e a atira na direção da guerreira.

Neste instante, em meio aos gritos desesperados, de um outro soco em Ariadne dado por Ephony, de Daphne se postar na frente de Xena e de Astéria tomar-lhe a frente. Todas gritavam agora o nome da sacerdotisa. Somente Xena, Gabrielle e Ephiny foram as últimas a perceber o porquê. A sacerdotisa havia sido atingida, mas ainda estava em pé, segurando a espada na altura do estômago.

Xena quis retirar a espada, mas Astéria a impede, dizendo:

–         Não, Xena, antes eu preciso fazer uma coisa.

–         Por que você fez isso, Astéria?_ perguntou Xena penalizada.

–         Pelo amor que eu tive e que você e Gabrielle merecem ter.

–         Astéria, eu…_ Xena não encontrou palavras para dizer o que sentia.

Também muito emocionada por ter ouvido o que a sacerdotisa dissera, Gabrielle lhe faz uma carícia no rosto, dizendo:

–         Eu quero que você saiba que eu te amo. Xena e eu teremos uma dívida eterna com você.

–         Eu só quero que vocês sejam felizes e assim essa dívida será paga._ disse Astéria, logo a seguir gemendo de dor.

–         Pelos deuses, Astéria, você precisa ser tratada._ disse Gabrielle.

–         Não. Minha Rainha, me permita um último desejo.

–         Não fale assim, Astéria.

–         Tragam até aqui a bacia sagrada e a adaga.

Imediatamente Ephiny as leva até lá.

–         Segura a bacia Ephiny. Agora… vocês duas estendam as suas mãos direitas…_ disse com dificuldade a sacerdotisa.

Segurando as mãos das duas com a mão esquerda, diz:

–         Como a sacerdotisa das três deusas irmãs e em nome de Afrodite, a Deusa do Amor, pergunto a vocês… Xena e Gabrielle se vocês querem se unir?

–         Sim._ responderam ao mesmo tempo Xena e Gabrielle.

Astéria dá um corte na palma das mãos de cada uma, unindo as duas mãos, dizendo:

–         Xena e Gabrielle, os sangues de vocês agora se misturam unindo a essência dos corpos e o que antes já fora unido pelas suas almas que agora se reencontraram. Xena e Gabrielle vocês estão unidas hoje e para sempre.

E a sacerdotisa desaba, porém é amparada por Xena.

–         Astéria, minha amiga, o que posso fazer por você?_ perguntou Xena desolada.

–         Xena… você deve se lembrar da minha história… Eu quero te fazer um pedido…

–         Peça.

–         Coloque as minhas cinzas… naquela urna… onde estão as cinzas de Melissa… meu grande amor… e enterre a urna no meio da plantação de melissas… Promete?

–         Nós duas prometemos, Astéria._ disse Gabrielle que só agora conseguira controlar o pranto.

–         Nós faremos isso._ confirmou Xena também com lágrimas nos olhos.

Astéria dá um sorriso e sussurra um nome “Melissa” e fecha os olhos.

Tanto Xena quanto Gabrielle perceberam o que havia acontecido. Então, a guerreira retira a espada do tórax da sacerdotisa, depois a carrega nos braços para a gruta dela.

–         Xena você não sabe que velamos a nossa gente na cabana de reunião?_ perguntou Ephiny, segurando o braço da guerreira a impedindo de seguir em frente.

–         Não, Ephiny, não me esqueci. Tenho certeza que Astéria gostaria que isso fosse feito na sua própria gruta, com a urna da amiga dela ao lado e perto da plantação de melissas.

–         Ephiny, Xena e eu fizemos uma promessa a Astéria.

–         Compreendo. Sinto muito ter que falar nisso num momento como esse, Gabrielle. Mas, temos um grande problema para resolvermos.

Xena, antes de entrar na gruta, sussurra algo no ouvido de Gabrielle.

–         Ephiny, a minha prioridade agora é prestar homenagem a uma grande amiga. Quanto a Ariadne, coloque-a presa na sua própria cabana com vigias ao redor da cabana.

–         Já providenciei isso, minha Rainha._ disse Ephiny esfregando a mão direita como a massageá-la.

–         O que foi Ephiny, machucou a mão?_ perguntou Xena ao se aproximar.

–         Foi, eu a machuquei na cara de uma certa pessoa.

–         E como ficou a cara dela?

–         Espero que esteja doendo mais do que a minha mão.

–         Pode estar certa disso._ afirmou Ephony chegando e acrescenta: um soco seu, um meu e mais um sossega leão de Xena, não sei como a cara dela não virou pelo avesso.

–         Só você mesma Ephony, pra descontrair um pouco essa tensão._ disse Xena colocando a mão no ombro da amiga.

–         Mas eu não fiz nada, só disse o que realmente aconteceu._ disse Ephony parecendo não ter entendido o que Xena insinuara.

–         Quem vai preparar Astéria?_ perguntou Gabrielle tornando a ficar triste.

–         As discípulas dela.

–         Elas já chegaram de Atenas?

–         Há poucos instantes e era isso que eu vim avisar._ disse Ephiny.

–         Então Astéria estava preparando garotas para substituí-la?_ perguntou Xena.

–         Há dez anos, Xena._ respondeu Ephiny e acrescenta: Íria e Jena foram praticamente criadas por Astéria. Elas estão terminando de arrumar a pira para a cerimônia fúnebre. E elas também sabem do último desejo de Astéria.

–         É sempre bom ter ajuda num momento como esse._ disse Xena.

No dia seguinte, pela manhã, depois da cerimônia de cremação, Xena, Gabrielle, Ephiny, Daphne, Ephony, Solaris e Amoria se reuniram na cabana da Rainha.

–         Então Ariadne estava certa, foi mesmo armação?_ perguntou Ephony.

–         Eu não diria que foi uma armação. Existe, realmente, um item na nossa lei que diz que, se houver traição na nossa crença, contra as nossas deusas, a amazona que o cometer deverá ser punida com o banimento, até mesmo as princesas e rainhas._ respondeu Ephiny.

–         Essa lei surgiu depois que Cyane soube que Hypolita, a primeira Rainha de Gargarência, reverenciou Hera, a Rainha dos Deuses._ revelou Xena e continuou: Hera a traiu e Artemis defendeu as amazonas não deixando que fossem dizimadas. Mas, Ephiny, acabe de contar como foi resolvemos usar a lei a nosso favor para que não houvesse esse casamento.

–         Somente Xena, Gabrielle, Astéria e eu, sabíamos da ligação de Ariadne com Ares. E foi graças a essa lei que Daphne encontrou que vimos que seria a única chance de impedir o casamento.

–         Se houvesse traição nos preceitos das leis e na crença das nossas deusas._ repetiu Daphne.

–         Essa era a única lei que impediria a realização dessa união._ disse Xena.

–         Sim, porque a outra cláusula, seria a realização do casamento, mas a com desobrigação do relacionamento íntimo e essa seria na nossa última cartada._ disse Ephiny.

–         Eu não sei o que poderia ter acontecido se não tivesse a primeira alternativa._ disse Xena.

–         Então, a Rainha Cyane criou leis que sempre tinham, de alguma forma, alternativas._ disse com muita admiração Ephiny e lamenta: Cyane teria sido a maior de todas as rainhas se não tivesse morrido tão cedo.

–         Como foi que ela morreu?_ perguntou Daphne.

–         Não sei ao certo. O que sei é que ela foi traída. Por quem, não sei.

Xena que a tudo escutara e, esse era um assunto que mexia profundamente com ela, por se sentir culpada e arrependida pelo que fizera, ficou cabisbaixa.

–         O que foi?_ perguntou Gabrielle.

–         Eu estava pensando nos meus pecados do passado e de como a gente tem que errar para aprender.

–         Xena você já se arrependeu, não pense mais nisso. Aliás, se você não os tivesse cometido, será que a gente teria se conhecido?

–         Você tem razão, Gabrielle. Conhecer você foi a minha salvação e redenção.

–         Nós duas temos muito que aprender uma com a outra.

Xena não disse nada, apenas a puxou para si a abraçando e beijando o topo daquela cabeça dourada.

Mais tarde, quando todas as conselheiras se reuniram para decidirem o que fazer com Ariadne, Gabrielle pediu a Ephiny que a representasse. Explicou que talvez não conseguisse ser imparcial, pois ainda estava muito abalada. Na verdade, ela também não queria mais ver Ariadne.

Terminada a reunião, foi decidido que Ariadne voltaria para Gargarência, onde ficaria sob a guarda da sua Regente Laís que governaria em seu lugar até que ela fosse declarada apta para governar. A união entre as duas tribos foi selada assim mesmo. E Gabrielle seria a maior autoridade, por ser a única Rainha.

No dia seguinte, bem cedo, a comitiva das Amazonas do Norte, juntamente com a sua Regente Laís e a Princesa Ariadne partiram para Gargarência. Nem Gabrielle e nem Xena foram se despedir, elas acharam que não tinha cabimento.

Quando estavam na cabana da Rainha na companhia de Daphne, Solaris e Ephony, Xena sentiu “o cheiro”. Disse pra Gabrielle que ia ver Argo e saiu.

Foi ao mesmo lugar onde antes sentira a presença dele.

–         Apareça Ares!_ disse quase gritando.

Não só Ares apareceu como também apareceram o rodeando as irmãs dele.

–         Mas o que é isso? Uma reunião dos irmãos da letra “A”? Acho que não, pois ainda falta Apolo._ disse Xena com certo cinismo, após superar o espanto.

–         Oi, Xena!_ saudou Afrodite e explicou: Graças a você conseguimos pegar esse fujão pela segunda vez.

–         Não entendi._ disse Xena.

–         Não é para entender._ disse Atena e concluiu: Agora vamos levar Ares para o Olímpo.

–         Mas o que está acontecendo?_ perguntou Xena.

–         Nada que você possa entender, Xena._ disse Artemis.

–         Engano seu, Artemis. Gabrielle e eu tivemos certos sentidos, lembranças que tenho certeza que vocês têm alguma coisa com isso.

–         Fique tranqüila Xena, que tudo voltará ao normal._ avisou Artemis.

–         Se aquela idiota não tivesse se apaixonado pela lourinha irritante…_ balbuciou Ares.

–         “Lourinha irritante”… Já ouvi isso antes._ disse perplexa.

–         Vamos embora!_ ordenou Atena.

–         Não esperem!_ disse Xena quase gritando.

–         Vamos ouvir Xena._ disse Afrodite.

–         O que Ares tem a ver com o que está acontecendo? Se alguma coisa saiu do normal, tenho o direito a uma explicação do que seja.

Atena se impacientou, demonstrando contrariedade. Então Afrodite se adiantou e disse:

–         Xena por você e por Gabrielle serem as minhas garotas prediletas, é que acho melhor não tomarem conhecimentos das mudanças…

–         Afrodite! Você fala demais!_ ralhou Atena e ordenou: Agora chega, nós temos que tomar algumas providências. Vamos!

E antes que Xena pudesse retrucar, os quatro deuses desaparecem.

–         O que será que Ares fez?_ Xena perguntou a si mesma e depois voltou para a cabana.

Na manhã seguinte, ao receber a urna com as cinzas de Astéria das mãos de Íria, Xena abre a urna com as cinzas de Melissa e despeja nela as cinzas de Astéria, como a sacerdotisa havia lhe pedido. E, junto com Gabrielle, foram para a plantação de melissas. Enquanto Gabrielle segurava a urna, Xena cavou uma cova bem no meio das melissas e depois colocou a urna dentro e antes de cobrir de terra, disse:

–         Adeus amiga, enfim você se reencontrou com a sua alma gêmea. Sejam felizes.

Gabrielle não conseguiu conter as lágrimas, como também não conseguiu dizer nada, pois estava muito emocionada.

Ao voltarem abraçadas para o centro da aldeia foram saudadas por toda a tribo que as esperavam. Pegas de surpresa e ainda abaladas as duas não tiveram palavras para agradecer a homenagem. Ephiny percebendo, diz:

–         Sei que vocês devem estar achando estranho esta demonstração de alegria depois de uma cerimônia tão triste, mas foi pelo casamento de vocês e pela felicidade da nossa Rainha. Vamos ter uma festa para comemorar um novo tempo, um novo reinado cheio de prosperidade.

Xena olhou para Gabrielle e disse:

–         Pois não é que Ephiny tem razão! Nós estamos duplamente casadas, por Afrodite e por Astéria.

–         Não acredito que, finalmente, podemos ficar juntas sem ninguém para atrapalhar._ desabafou Gabrielle se aconchegando no colo de Xena, a enlaçando pela cintura.

–         Enfim, teremos as nossas núpcias._ disse Xena a olhando com intenção.

Ephiny pigarreia e diz:

–         Com licença, antes que vocês comecem com o joguinho de vocês… Então, posso começar com preparação para a festa?

–         Que comece a festa!_ incentivou Gabrielle completamente envolvida nos braços de sua guerreira e esposa.

Enquanto isso lá no Olímpo…

–         Mas será possível que foi só eu me afastar um pouco para vocês deixarem ele escapar de novo!_ gritou Atena enfurecida.

–         Nós não deixamos, ele nos enganou._ tentou explicar Afrodite.

–         Sabe o que isso significa?_ perguntou Atena.

–         Que vai começar tudo de novo!_ responderam juntas Afrodite e Artemis.