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Warning Notes

⚠️ : Este trecho contém cenas que fazem menção a tortura e punições severas que violam os direitos humanos. Leitores sensíveis podem se sentir desconfortáveis ou ofendidos.

O dia da morte de Octavios finalmente chegou, Xena estava no palácio com um ânimo peculiar. Mau podia esperar para encontrar o traidor e fazê-lo gritar. 

A imperatriz desceu as escadas e caminhou até o pátio do palácio onde sua carruagem estava esperando. Quando chegou lá, se deparou com todos que compunham seu conselho e falou:

-Estão prontos?- Olhou a sua volta e encontrou Gabrielle entre eles. Seu cenho contraiu e perguntou. – O que faz aqui?

-Majestade, gostaria de pedir sua permissão para ficar.- Disse Delia antes da jovem responder.- A imperatriz olhou para a senhora, que possuía uma feição de desagrado e entendeu que Delia já havia se cansado dos banhos de sangue que aquelas execuções eram. Olhou novamente para Gabrielle que estava ao lado dela e concordou. 

-Tudo bem. Gabrielle ficará fazendo companhia para você.

-Eu pensei que quisesse minha presença, majestade.- Respondeu Gabrielle incerta e Xena se aproximou.

-O que eu mais adoraria é sua presença, Gabrielle, mas eu não quero que fuja de mim ao perceber do que sou capaz.- Disse preocupada e a jovem assentiu um tanto preocupada.

-Como desejar, majestade.- Gabrielle olhou a volta e avaliou o semblante de preocupação com mistura de desespero dos demais nobres.  Descobriu que Xena não mentira sobre seu lado negro e pensou ser mais prudente ficar no palácio com a duquesa.

-Te encontro mais tarde, pequena.- Xena beijou a mão da menina, que ruborizou no mesmo instante e entrou na carruagem, em poucos minutos desceu até a cidade e parou na praça.

O cenário era assustador. O tipo de visão que dava pesadelo a qualquer um, menos a Xena. Aquele momento era sua demonstração de força de poder. 

A praça estava tomada pela multidão, homens, mulheres, velhos e crianças. Ainda ali, estavam os nobres crucificados, formando um círculo em volta do picadeiro onde Octavios seria punido. Alguns já se encontravam machucados, outros desacordados, mas mesmo assim, a população não parava de atirar objetos neles enquanto gritavam ofensas. Somente pararam, quando a conquistadora parou no centro, onde haviam duas estacas de madeira médias cravadas no chão e Octavios se encontrava de joelhos, nu e com os braços amarrados. Logo atrás dele, quase em formato de cruz, estavam os outros duques na mesma situação.

A imperatriz estava com uma de suas armaduras mais épicas. Peitoral em aço temperado no tom preto com detalhes dourados. As botas e manoplas combinavam e em sua cabeça, uma coroa enorme e diferente de qualquer outra que já usou em público. O foco de seu visual era exatamente para a coroa. Um recado para todos que ELA era a imperatriz. 

-Veja só Octavios, às pessoas vieram aqui para te ver morrer. – Xena falou baixo no ouvido do homem e gargalhou.- As pessoas me julgam como impetuosa, mas elas adoram ver sangue escorrer. Tudo o que elas esperam é um ser humano corajoso o suficiente para matar e dar um espetáculo a elas.- Xena retirou a faixa que prendia a boca do homem e ele começou a falar com dificuldade.

-Você pode fazer o que quiser comigo essa noite, sua vadia. Mas não vai me ouvir gritar. Esse prazer não vou te dar. 

Xena riu em uma gargalhada alta e monstruosa. Pronto, a mulher ali já não era mais a imperatriz. 

-Sabe o que eu mais gosto sobre esse ritual, Octavios? É que os povos nórdicos acreditam que se você gritar, Odin não te receberá em Valhalla.- Ela riu de novo. – Mas com você, não importa se vai gritar ou não, seu único destino é o colo de Hades. 

O capitão ia falar algo, mas foi interrompido por uma faca descendo de sua nuca até o fim da coluna vertebral. O homem soltou um grito e Xena riu.

-Olhem só o que um traidor recebe.-  A imperatriz falou para a multidão que começou a disparar ofensas para Octavios. 

Como se a humilhação não fosse o bastante, Xena pegou no pênis do capitão e com um corte liso de sua adaga, cortou ele fora e mostrou para a multidão enquanto o homem urrava.

-Eram com essa miséria que queria fazer filhos em mim?- Xena não parava de gargalhar. – Era por causa dessa miséria que você teve que estuprar mulheres, né? Essa coisa minúscula não fazia você se sentir homem.- Num impulso de fúria a imperatriz enfiou o pênis de Octavios na boca dele e abafou o grito que saia dela.

Os nobres que estavam pregados na cruz tremiam e alguns começaram a vomitar. Os que iriam receber o ritual da águia de sangue estavam assustados. O duque de Argos que estava amarrado desmaiou e o de Tebas chorava como nunca foi visto.

A multidão gritava e pedia por mais. Xena deixou mais profundo o corte da coluna do capitão até conseguir puxar a pele uma de cada lado, deixando os ossos da costela e da coluna expostos. Octavios gritava e a imperatriz sorria. 

-Sabe por que o nome é águia de sangue, Octavios? porque eu vou quebrar os ossos da sua costela para trás até conseguir arrancar seus pulmões e pendurar eles no seu pescoço para parecerem asas. E você vai voar, vai VOAR DIRETO PRO TÁRTAROS. 

Xena quebrou uma costela com um puxão e a poça de sangue que se formava em volta do homem era assombrosa. O rosto da imperatriz estava com sangue assim como sua coroa. Costela por costela foi quebrada e a multidão parou de gritar para contemplar o maior horror já visto até então. Depois de tudo aquilo, qualquer ser humano pensaria mil vezes antes de trair a conquistadora.

O cheiro de vômito na praça começava a ficar evidente. Muitas pessoas deixaram o local e outras simplesmente ficaram grudadas no chão, assistindo. Chegou num ponto, em que Octavios ficou inconsciente e quando seu pulmão foi arrancado e enfim pendurado em seus ombros, já não estava mais vivo. O homem foi pendurado na entrada da cidade e sua imagem ficou marcada por uma águia ensanguentada. 

A imperatriz encarregou três carrascos de fazerem o mesmo com os outros duques e se retirou da praça com os olhos vermelhos. Olhos típicos do monstro que carregava dentro de si.

A partir daquele dia, Octavios foi lembrado como o homem que traiu a imperatriz do reino conhecido. O homem que foi humilhado e sangrou até a morte. O homem que se provou um covarde na morte e o homem no qual ninguém mais  ousaria em pensar ou pronunciar.

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A única coisa que se falava por todo palácio era a forma que a imperatriz puniu Octavios e seus lacaios. Desde que a conquistadora voltou para o castelo, não teve uma pessoa sequer que ousou olhá-la nos olhos. Todos estavam com medo de tanta brutalidade e violência. 

Xena levou um tempo para se acalmar depois do show de horrores na praça. Estava agitada e foi até sua sala de treino descarregar energia. Ficou lá por um tempo e quando finalmente se acalmou, o típico vazio depois de um massacre caiu sobre ela.  

A imperatriz estava sentada no chão suada e com uma espada na mão. A morte de Octavios não saia de sua cabeça. Quando era mais jovem conseguia matar com mais facilidade e não se importar depois, mas agora com os verões passando, parecia entrar em um tipo de melancolia.

Estava estranha. Não estava se sentindo orgulhosa do que fez. Depois de tanto tempo tentando se abrandar, vem essa onda de fúria e leva o pouco de confiança que ganhou das pessoas. Mas por que a confiança das pessoas importava agora? Por que nessa altura do campeonato da vida, o julgamento dos outros começaram a incomodar?

Xena queria sumir. Sair de Corinto e nunca mais voltar. Queria desaparecer e não existir. Nesse instante, as memórias mais escuras da sua vida vieram à sua cabeça. Lyceus morto, sua mãe a expulsando de Amphipolis, Ares a manipulando, as primeiras mortes que performou, seu filho órfão, impunidade e lares que destruiu… Até quando iria respirar na terra? Até quando? 

Se sentindo mole e devastada, a imperatriz levantou do chão, jogou a espada em um canto qualquer e saiu da sala. Descobriu que estava mais escuro do que quando entrou. Anoitecera e todos pareciam ter se retirado para seus aposentos. Que inveja. Eles podiam dormir sem culpa e peso na consciência.

Caminhou até seu aposento e quando estava no quinto andar, trombou com alguém. 

-Me perdoe, majestade.- Disse Gabrielle.

-O que está fazendo aqui essa hora?- Perguntou a imperatriz sem vontade.

-Eu ouvi passos e pensei que pudesse ser sua majestade.- A garota estava com um roupão de seda branco e uma trança no cabelo.

-Precisa de algo, Gabrielle?

-Estava…pensando…. que talvez…. sua majestade gostasse de conversar um pouco. 

Hein?

-Gabrielle, você ouviu o que aconteceu na praça mais cedo?- Xena perguntou incrédula.

Ah ela tinha ouvido. Ouviu sobre o sangue tomando o chão de areia, o vômito de paúra das pessoas que assistiam, os gritos de Octavios abafados pelas gargalhadas da imperatriz e no fim um cadáver pendurado na entrada da cidade com asas de pele na forma de um anjo da morte.

-Ouvi, majestade. 

-E ainda sim quer conversar?- Xena só podia pensar se por um acaso a garota tinha algum sentimento suicida.

Gabrielle então, balançou a cabeça num movimento de sim e a imperatriz abriu a porta do seu aposento. As duas entraram em silêncio e Xena caminhou até a câmara de banho enquanto tirava a roupa. Ainda havia sangue em seu corpo. Gabi a seguiu, caminhando logo atrás e notava como a Xena estava abatida.

-Sabe em que posição a lua está?- A morena perguntou.

-Bem no alto do céu, majestade. Ainda vai levar um tempo até o sol nascer. 

Xena entrou na banheira e Gabrielle se sentou no chão logo ao lado com as pernas cruzadas.

-O que ficou fazendo aqui enquanto eu estava fora?-  Perguntou a imperatriz enquanto vidrava o olhar cansado na água. 

-Fiquei na biblioteca lendo suas histórias, majestade.

Xena não esboçou nenhuma reação, mas a olhou. 

-Com tantas coisas melhores para ler, você escolheu os pergaminhos que falam sobre minha vida? 

-Sim, minha senhora.

-E de todas as coisas cruéis que eu já fiz, qual julga ser a pior?

-Eu não tenho direito de te julgar, majestade.- A jovem sentiu que naquele momento, tudo o que a morena parecia querer, era seu próprio carrasco. Receber um julgamento, uma pena e talvez assim, pudesse se sentir melhor. 

Xena olhou a jovem e aproximou seu corpo da borda da banheira.

-Mas ainda sim tem uma cabeça cheia de opiniões.- Bom, aquilo era verdade, Gabi pensou.

-Eu acho que de todas, a mais cruel foi não ter voltado para Amphipolis e tentado conversar com sua mãe, majestade. 

Ai…Por essa a imperatriz não esperava.

-Por que acha que eu tinha que ter voltado?- Xena já não encarava mais a menina. -Ela me expulsou. Disse que naquele dia todos os filhos haviam morrido.

 Xena se referia ao dia em que comandou jovens e homens da sua cidade para tentar proteger Amphipolis de um senhor da Guerra. Xena tinha 15 verões e tudo o que queria era proteger sua casa. Naquele dia, muitos jovens morreram e quem levou a culpa foi ela. Ninguém queria apoiar de início a ideia e preferiam fugir, mas ela conseguiu ganhar os aldeões e no fim, deu tudo errado. No dia em questão, seu irmão Lyceus de 13 verões morreu e seu irmão mais velho fugiu prometendo se vingar do senhor da guerra. A mãe de Xena entrou em pânico quando viu sua casa e vida destruída. Olhando para os olhos da morena, disse que naquele dia todos seus filhos haviam morrido. Xena foi expulsa da cidade destruída pelos aldeões e sua mãe não fez nada. Foi quando, ainda menina, se jogou no mundo e se transformou para sempre. 

-Foi por isso que eu disse que não tinha o direito de te julgar, majestade.- Depois de uma pausa longa, continuou. -Como é ter que matar pessoas e não ter ninguém para conversar?

Xena ouviu a pergunta e se encolheu na água. Em seguida olhou para Gabrielle e perguntou:

-Como é ser abusada quase todos os dias e não ter com quem conversar?- Xena não queria ser rude. A menina olhou para o chão e a imperatriz voltou a se aproximar da borda da banheira. – Eu acho que é parecido com o que você sentiu, Gabi. Solitário e sem amparo. – Gabrielle olhou aqueles olhos azuis tristes e continuou.

-As vezes eu me pergunto como teria sido se eu não estivesse no local errado e na hora errada. Talvez eu não teria sido levada pelos traficantes e teria crescido feliz em Potedia.- A jovem falou e a imperatriz prestava atenção. -Já se imaginou dessa forma? Se o senhor da guerra não tivesse atacado Amphipolis talvez não fosse imperatriz da Grécia hoje.

-Eu não sei dizer ao certo o que teria acontecido, mas a única coisa que sinto é que de qualquer maneira o destino me levaria até você, Gabrielle.- As duas se olharam por um tempo em silêncio e por um instante, Xena sentiu que sua alma estava sendo acariciada por aqueles olhos verdes.

-Você está com sono?- Xena perguntou  e se levantando da banheira. 

-Um pouco, majestade.- Gabi se levantou e ajudou sua imperatriz com a toalha. Colocou o pano nas costas de Xena e por um instante a imperatriz se assemelhou a uma criança.  

-Se importa de dormir aqui essa noite?

-Não, majestade.- E de fato Gabrielle não se importava. Queria muito estar por perto.

A imperatriz colocou seu roupão de seda preto e foi até a cama. Gabrielle se deitou e as duas ficaram assim por um tempo, se acariciando com o olhar. Em um movimento surpreendente, a imperatriz colocou o braço em volta de Gabrielle e se aproximou. As duas fecharam os olhos e dormiram no calor uma da outra até o meio da tarde do dia seguinte.

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Os dias passaram rápidos depois da execução de Octavios. A imperatriz parecia mais aliviada e tinha as rédeas de sua vida nas mãos mais uma vez. Ela e Gabrielle começaram a passar mais tempo juntas e conversarem com mais frequência. Quase todas as noites Gabi ia até o aposento real e conversava sobre os mais amplos assuntos. Descobriu o porquê Xena era a imperatriz da Grécia, uma mente brilhante daquela nunca estaria destinada a ficar em Amphipolis para o resto da vida e cuidar de uma fazenda. Elas se aproximaram e pareciam depender da companhia uma da outra sempre. Quem quisesse procurar a imperatriz, era só encontrar Gabrielle e vice versa. 

Muitos nobres estavam incomodados com a aproximação das duas e a própria imperatriz alertou a jovem dizendo que ela estava em uma posição muito arriscada. Qualquer sinal de perigo, a ordem era correr de imediato para ela ou algum guarda.

Gabrielle não parecia acreditar que estava em risco, mas ainda sim disse que prestaria atenção a sua volta.

Aparentemente nem todo mundo estava incomodado com a suposta amizade de Xena e Gabrielle. Delia estava mais que satisfeita e pediu autorização para passar uns dias em seu casarão de frente ao mar. A imperatriz concedeu porque tinha Gabrielle para suprir a ausência da duquesa e assim os dias passaram num total de duas semanas.

A imperatriz estava calma novamente e passou a interagir com os soldados nas docas. Estava frequentando os treinos e ensinando os jovens. As pessoas podiam ver mais sua pessoa e curiosamente podiam falar com ela com mais frequência. No entanto, essa paz foi balançada quando um dos mensageiros avisou a imperatriz na noite anterior que seu herdeiro estava a um dia da cidade e a qualquer momento podia aparecer.

Xena se tornou agitada e quando finalmente a notícia de que o garoto e Kaleipus estavam indo em direção ao castelo, a imperatriz ficou apreensiva.

-Está tudo bem, majestade?- Gabrielle perguntou.

-Não.- Vidrada em um ponto fixo de seu gabinete, Xena respondeu.

-Vamos fazer algo de especial, majestade?- Perguntou Mioll.

-Nesse primeiro momento não. Vou receber Kaleipus com um jantar mais pessoal e ver o que esse garoto tem a oferecer. Se tudo der certo, eu irei reconhecê-lo como meu herdeiro legítimo.

-Os nobres estão esperando para que isso aconteça, majestade.- Mioll afirmou.

-Eu sei, mas eu nem sequer sei se o menino tem capacidade para ser rei um dia. Eu nem sequer sei se ele vai querer olhar na minha cara.- Todos ficaram em silêncio.

-Qualquer um gostaria de ser herdeiro do trono, majestade.- Disse Gabrielle.

-Se eu fosse abandonada pela minha mãe, eu tentaria fazer com que ela se sentisse culpada por isso todos os dias.- Disse a imperatriz. -Quero todos do conselho para o jantar essa noite. prepare um aposento para Kaleipus no quinto andar com o garoto. 

-Sim, majestade.- Mioll se levantou e saiu da sala deixando Gabrielle e Xena sozinhas.

-Precisa de algo específico, majestade.- perguntou Gabi.

-Preciso só que não saia do meu lado, Gabrielle.  

-Não vou, majestade.- As duas trocaram olhares e então sorriram. Desde que se tornou livre, Gabrielle e Xena não voltaram a se beijar. Pareciam estar levando as coisas com mais calma e a loira conseguia sentir um doce sabor em ver o interesse de sua majestade, mas ser respeitada. Era óbvio que Gabrielle pensara naquele beijo e o quanto havia gostado e agora, torcia para que outro pudesse acontecer no momento mais oportuno.

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Quando um sentinela se aproximou para avisar da chegada dos convidados, Xena ficou nervosa e Gabrielle que estava logo ao seu lado pode perceber. Desceram até a sala do trono e ali esperaram até Xena realmente se sentir pronta. A porta que a separava de seu filho estava fechada e ela a encarava de punhos cerrados e olhos apreensivos.

-Alguma vez já o viu, majestade?- Perguntou a garota.

-Nunca.- respondeu a imperatriz vidrada.

-Como pensa que ele é?

-Não faço ideia.- As únicas informações que Xena tinha sobre a aparência do menino, era o que recebia nas cartas de Kaleipus. Segundo ele, o garoto era a versão masculina da conquistadora. 

Xena deu sinal para a porta se abrir e depois que o sentinela anunciou os convidados, Kaleipus surgiu ao lado de Solan. Assim que entraram, a imperatriz quase perdeu o fôlego. Diante dos seus olhos havia um rapaz de 17 verões, forte, alto, cabelos negros como a noite e dois olhos azuis frios como o gelo. O garoto olhou para a imperatriz de cima a baixo e depois para seu pai adotivo.

-Xena. Quanto tempo.- O centauro estendeu a mão e a imperatriz o cumprimentou.

-17 verões para ser exato.-  Xena e o centauro não eram amigos, mas ao longo dos verões a imperatriz fez as pazes com ele e seu povo e trocava correspondências com Kaleipus sobre o menino.

-Este aqui é Solan. 

-Prazer em conhecê-lo, Solan- Kaleipus havia mantido o nome que Xena o deu. Ela estendeu a mão para o jovem e esperou ser correspondida. 

-Infelizmente não posso dizer o mesmo.- Ele simplesmente olhou para a imperatriz e respondeu. 

-Não seja assim, Solan. Ela é sua imperatriz.- Kaleipus disse com uma voz forte.

-Ela matou meu pai. Não a considero minha rainha.- O jovem não tinha medo de falar, talvez soubesse que a imperatriz não o puniria por isso.

-Sabe com quem você se parece? Com meu irmão Lyceus.- Xena disse.

-Ainda bem que não é com você.- A resposta a atrevassou, mas a experiência a vez disfarçar que não a atingirá.

-Ainda bem, Solan.- Ela concordou e ficou nítido que ele não esperava por aquilo. 

Gabrielle estava ao lado da imperatriz e quase foi esquecida quando Xena a apresentou aos dois.

-Essa é Gabrielle, minha escrivã e também amiga. 

Gabrielle cumprimentou o centauro com olhos maravilhados e logo depois Solan. No entanto, o jovem parecia desdenhar de tudo que a imperatriz falava e mostrava e Gabi se sentiu mal por sua senhora.

-Espero que tenha sido tudo bem na viagem, Kaleipus.- Disse a imperatriz.

-Foi tudo no mais perfeito estado, Xena.-  O centauro não reconhecia Xena como imperatriz e desde o princípio informou que não a trataria dessa forma, apenas como a dona do palácio. Não querendo brigar por causa de um status, Xena disse que não havia problema.

-Fico feliz em ouvir isso. Vocês devem estar cansados. Eu pedi para que preparasse seus aposentos no quinto andar. Vou pedir para que um guarda acompanhe vocês até lá para repousarem.

-Não será necessário. Solan quer ver a cidade e eu prometi que mostraria. 

-Tudo bem, fique à vontade em Corinto. Meus sentinelas vão acompanhá-los.

-Não precisamos dos seus guardas.- Solan respondeu com grosseria.

-Isso não é você que decide, garoto.- Xena o respondeu no mesmo tom e se retirou. Ela não podia ver, mas sua frieza primeiro magoou o jovem e depois reafirmou o ódio que ele já sentia.

Como um trovão, a imperatriz subiu as escadas e entrou em seu aposento. Gabrielle estava logo atrás vendo o estado da mulher e já imaginou o pior, mas quando a encontrou no quarto, ouviu:

-Você viu aqueles olhos? São meus olhos. E pelos deuses, ele parece ser forte. Você viu aqueles ombros? Eu aposto que ele sabe lutar bem… -Gabrielle sorria enquanto a imperatriz falava.  Parecia orgulhosa.

-Ele parece com você, majestade.

-Você acha?- Xena se sentou na cama e Gabi se aproximou. 

-Claro. Eu só consigo ver semelhanças.

Por um momento a imperatriz pareceu pensativa.

-Ele me lembra muito Lyceus.

-Eu aposto que sim, majestade. Seu irmão devia ser sua cara. 

-Ele realmente era.- Xena encarava o chão. Gabrielle se aproximou e sentou ao lado dela. -Ele sabe que é meu filho. Viu o jeito que me respondia com raiva? 

-Acho que todos esperavam isso dele, majestade.

-E se ele não quiser ser meu herdeiro, Gabrielle? 

-Está preocupada com isso ou com o fato dele não te aceitar de forma alguma?- Gabi contemplou o rosto pensativo da imperatriz.

Sem responder nada, Xena tirou suas botas e se deitou na cama. Em seguida ergueu a mão e convidou sua escrivã para se deitar junto. Gabrielle tirou os sapatos e se aconchegou nas almofadas. As duas estavam próximas novamente e pareciam muito querer se tocar. Sem dizer nada Gabrielle abraçou a imperatriz e a apertou. Era o máximo de conforto que poderia dar naquele momento e também, satisfez o desejo de seu coração.

-Vai ficar tudo bem, majestade.- Disse enquanto a imperatriz olhava para o vazio.