CAPÍTULO 2

Rose Tyler ainda estava exausta. Quando foi a última vez que ela pode parar e não se preocupar com nada? Já faziam algumas horas que a TARDIS a tinha jogado para fora, no meio da chuva, numa terra de deuses antigos! Ela não entendia cem por cento o motivo da nave a ter ejetado, mas quando ela ouviu o familiar resmungo dos motores, soube na hora que o Doutor a tinha encontrado.

– ROSE! – Gabrielle gritou atrás dela.

Xena e Gabrielle corriam atrás de Rose e a essa altura já a tinham alcançado.

– Droga… – Rose murmurou, ela não achava que daria certo as mulheres verem a TARDIS, dificilmente elas entenderiam. – Oi! É…

– O que é isso? – Gabrielle perguntou passando a mão pela cabine.

– Isso? Não é nada, de verdade… Mas era o que eu tava procurando, então, obrigada! Agora vocês podem ir, eu agradeço muito!

– Isso é o seu amigo? – Xena perguntou um pouco cética.

– É! Bem, mais ou menos.

A TARDIS fez um barulho estranho. Gabrielle foi para perto de Xena e Rose se virou para ver o que poderia ser. O som estava ficando maior e mais encorpado, mas a loira não fazia ideia do que era, nunca o tinha ouvido antes, ele estava começando a soar um pouco ameaçador .

– Talvez seja melhor… – Ela começou a dizer dando uns passos para trás.

Antes que Rose conseguisse terminar seu raciocínio a porta da TARDIS abriu, e uma lufada de vento puxou as três para dentro tão rápido que não permitiu a nenhuma delas qualquer reação contrária. As três estavam caídas na ponte de comando da TARDIS e a porta bateu bruscamente.

– Por Zeus o que foi isso? – Gabrielle exclamou enquanto era ajudada por Xena a se levantar do chão.

A barda começou a andar pela ponte, o salão era enorme, e escuro. A frente dela, no meio da sala, estava o console de comando da TARDIS, cheio de pequenas luzes oscilantes que saiam de seus botões e tubulações, era a única coisa que iluminava o ambiente. Xena parecia particularmente interessada nos botões, enquanto Gabrielle foi para a porta que viu bater ainda há pouco.

– Foi por aqui que a gente entrou? – Ela perguntou tentando abrir a porta de entrada da nave, sem sucesso. – Mas parece que a gente não vai sair por aqui agora.

– Acho que ele puxou a gente pra dentro, mas… – Rose olhou ao redor – Onde ele está?

– Ele? Aonde a gente está exatamente? – Xena disse admirando todos os botões coloridos e brilhantes da ponte, sem conseguir entender exatamente onde estava e como ela poderia não ter visto a construção daquela sala gigante quando estava na estrada.

– Ahn.. Bem é como um.. Navio, e nesse momento eu estou tentando descobrir onde está o capitão. – Rose disse já de pé mexendo nos comandos do console da nave. Tudo aquilo era confuso, por que a TARDIS estava caída e por que elas foram sugadas para dentro dela?

Um sentimento estranho e indecifrável assolou Rose, fazendo seus pelos da nuca arrepiarem. Ela olhou ao redor, e seus olhos só pararam ao ver Gabrielle ainda tentando abrir a porta de saída da TARDIS.

A porta estava limpa.

“Rose! Eu não qu-eria te apre-ssar… Mas a situação tá começando a fi-car um pouco gosmenta aqui!”

Rose olhou novamente ao redor. Não tinha nenhum traço daquela gosma espessa pegajosa e fedida. Mas da última vez que ela viu, a sala toda estava coberta por ela. Talvez aquela não fosse a TARDIS certa? Uma TARDIS do passado? Ou do futuro?

Um rugido alto reverberou pelas paredes.

– O que foi isso? – Gabrielle aproximou seu cajado para o peito.

– Eu preciso achar o Doutor. – Rose voltou para os comandos.

– Doutor? Doutor quem? – Xena perguntou, quando ouviu mais um rugido, apertou sua pegada na espada.

Rose puxou a telinha do comunicador visual, apertou os comandos com uma precisão que não transparecia o fato dela não ter certeza de como o comunicador funcionava. A tela acendeu e o homem magricela sujo de gosma surgiu em meio a estática.

– Doutor!!!

– Ro-s..e! ..e esc…-#*&$ -#&@ rompeu *# tu-bu..lação … es@$-..ço tempo -*#(RDIS vo@#$% – &* até os @&*#&–.. é um backup! – Era impossível entender o que ele dizia em meio aos cortes e a estática da tela.

– É um backup? Doutor! – Rose não tinha entendido o que ele queria dizer com isso.

Os rugidos ficavam mais altos e o chão passou a tremer de leve, parecia que a TARDIS ia decolar, porém isso não aconteceu.

– Xena, a gente tem que sair daqui!

– É um backup…?

– Rose, o que está acontecendo? – Xena disse, pegando a mão de Gabrielle a puxando para perto instintivamente.

Rose tentou levantar voo, abrir a porta, ligar as luzes, mas a nave simplesmente não respondia a nenhum comando. O tremor na ponte começou a ficar mais forte e esporadicamente um solavanco balançava a estrutura inteira tão intensamente que as mulheres passaram a precisar se segurar para não cair.

– ROSE!

Um cheiro podre inundou a sala à medida que uma gosma verde amarelada começou a brotar pelas frestas das chapas de metal das paredes. O rugido animalesco que as mulheres vinham ouvindo estava tão alto que parecia estar sendo gerado por algo imediatamente ao lado delas e os solavancos na ponte ficavam cada vez mais frequentes.

– É um backup! – Rose, ficou ainda mais freneticamente apertando os botões do console. – Sim, ela faz isso! Faz cópias de segurança das salas para o caso um dia ele se arrepender da decoração nova, e por deus, ele sempre se arrepende.

– Por Hera! Do que você tá falando?

Um novo solavanco na nave foi tão forte que derrubou Gabrielle e fez Xena dar uns passos para trás e se segurar.

– Calma! Eu vou tirar a gente daqui eu só preciso descobrir aonde a gente está!

– Quer dizer que você não sabe? – Gabrielle tentava se levantar, mas os tremores estavam cada vez mais fortes e ela não conseguia ainda ficar totalmente de pé. Xena tentava ajudar, mas também precisava se segurar para não cair.

– Mas por que ele trouxe a gente pra cá?

Os tremores pioraram e uma grande rachadura separou a sala em dois, formando um abismo de metal retorcido entre Gabrielle e Xena e Rose.

– XENA! – Gabrielle gritou no momento em que os tremores a derrubaram e a jogaram para o abismo de metal onde ela se agarrou a uma viga e ficou pendurada.

Rose olhou ao redor, não sabia o que estava acontecendo, por quê estavam numa sala backup, por quê a nave estava se desfazendo? Ela reconheceu o brilho azulado da chave de fenda sônica repousando entre as alavancas de controle, pegou a ferramenta e se voltou para trás para ver Xena ajoelhada no chão, braço esticado, tentando alcançar Gabrielle.

– Gabrielle, segura a minha mão!

O coração de Xena batia tão forte que ela achou que talvez fosse desmaiar, ela estava assustada, com medo. Mas não considerava deixar isso a afetar até que tivesse conseguido puxar Gabrielle em segurança para longe daquele buraco. Seu foco na parceira era tanto que, de fato, não percebeu o enorme cano de metal que se desprendeu do teto e balançou fatalmente em sua direção.

Realmente, Xena só o percebeu quando Rose Tyler saltou da onde estava e a agarrou para que ambas caíssem rumo ao abismo juntas. Xena tinha quase certeza que ouviu Rose gritar para ela tomar cuidado. Tudo ficou preto.

Xena não era do tipo sentimental.

Pelo menos não do jeito que normalmente as pessoas esperam de uma mulher. E ela gostava de pensar que isso não importava, se precisasse extravasar qualquer emoção provavelmente o faria de forma violenta, contra algum vagabundo que aparecesse na sua frente. Claro, alguns diriam que os 10 anos de sua vida em que ela destruiu tudo o que via pela frente foram resultados desse gerenciamento torto de suas emoções. Ela não gostava de pensar sobre isso, e por isso mesmo, estava sempre pensando.

Já haviam alguns anos que sua vida mudou completamente. Agora ela andava com essa mulher que a fazia repensar ainda mais sobre esse tipo de coisa, e de lá pra cá ela passou a perceber um novo padrão de comportamento que não tinha antes. Sempre que se sentia particularmente assustada ou preocupada, se lembrava de casa, era o seu lugar seguro, suas lembranças de conforto..

Lembrava de como as folhas farfalhavam nas árvores enquanto seu irmão Lyceus brincava de briga com seu irmão mais velho, Toris, no quintal florido da taverna de sua mãe. Cyrene com certeza estava lá dentro preparando o almoço, torta de peixe talvez? Sim, o cheiro era esse mesmo! E claro, para que tudo parecesse ainda mais calmo e bucólico Solan também aparecia para brincar com seus irmãos. Sim, no mundo ideal ela com certeza teria criado seu filho junto de seus irmãos, na tranquilidade de um lar.

Estava tudo certo, estava tudo bem. Suas memórias de conforto não tinham que ser precisas, elas tinham espaço para todas as pessoas importantes na vida de Xena. Até mesmo para Rose Tyler, que agora apontava uma varinha brilhante azul para Lyceus.

Ah, certo… Isso era estranho.

Desde quando Rose Tyler fazia parte de suas lembranças de conforto?

Nota