CAPÍTULO 3

Xena percebeu que estava de olhos abertos.

Podia ver claramente seu filho morto brincando de espada de madeira com seu irmão morto. Isso quer dizer que ela própria estava morta? Talvez estivesse finalmente naquilo que dizem ser a ilusão de felicidade que os campos Elísios trazem? Bem, ela podia se acostumar com isso! Esboçou um sorriso diante da cena que estava vendo, e uma parte dela esperava que Gabrielle logo apareceria e completaria essa ilusão do paraíso.

Mas sua teoria caiu por terra quando viu a outra mulher loira baixinha apontando uma varinha brilhante para seu irmão Lyceus. A frustração a puxou de volta para a realidade.

– Interessante… – Rose disse analisando a chave de fenda sônica.

– Hey, se afaste dele! – Xena disse tentando separar seu irmão da loira, mas quando sua mão ia encostar no garoto, o atravessou.

– Xena! Você está atrasada! Vamos pescar? – Ele disse, ignorando completamente o fato da mão da irmã tê-lo atravessado de um lado ao outro.

– Você conhece ele? – Rose perguntou para Xena, bem confusa.

Xena atravessava sua mão pelo irmão, de um lado para o outro. Sem saber muito o que pensar, ou o que sentir. Começou a desejar que tivessem alguns vagabundos por perto para resolver os sentimentos confusos que surgiam em sua mente.

– É uma miragem?

– É… Acho que dá pra chamar assim… Mas é mais um holograma. – Rose disse examinando a chave de fenda sonica. – A TARDIS deve estar gerando isso. – Rose olhou para os lados, tentando ver qualquer coisa que explicasse o por quê dela estar num quintal antigo. – Mas se você conhece esse lugar e essas pessoas… – Ela ainda estava tentando concatenar as ideias que passavam em sua cabeça.

– Mãe? – A voz de Solan veio por detrás da guerreira.

Xena olhou para o filho, não teve coragem de tentar tocar nele. Sabia que era uma ilusão, mas preferia não quebrá-la. Rose percebeu que a situação era emotiva para a guerreira e pensou que talvez não devesse estar ali, mas ao mesmo tempo sabia que não poderia deixar uma mulher primitiva sozinha na TARDIS.

– Olha Xena, é melhor a gente ir indo.

– Que lugar é esse e cadê a Gabrielle? – A guerreira disse virando para a londrina.

– Eu realmente não sei.

– MÃE! – Solan gritou, fazendo as duas mulheres olharem para ele.

Xena jamais imaginou que a imagem de seu filho poderia lhe assustar, pelo menos não mais do que quando o viu morto ao pé daquele altar quando Esperança o matou. Mas a imagem à sua frente a fez mudar de ideia. Solan estava esticando. Seus braços e pernas alongavam e retorciam, tomando curvas animalescas. Longos pêlos duros como espetos de madeira, saiam de dentro de sua pele, espirrando sangue à medida que cortavam sua carne.

O horror tomou o coração de Xena quando ela viu o rosto de Solan se alongar e retorcer, se animalizando. Ele urrava, enquanto os espetos saiam por todo o seu corpo. Não demorou muito para que a transformação terminasse e o monstro estivesse diante das duas. 

Xena viu horrorizada seu filho virar o Destruidor

Tudo ao redor tinha mudado completamente. O campo florido e arborizado em que o quintal de sua mãe estava agora é uma zona morta de vegetação. As árvores secaram, a taverna de Cyrene estava aos pedaços, o lugar onde seus irmão brincavam mais cedo estava completamente deserto.

Elas deram passos para trás.

– Meu deus o quê que é isso! – Rose exclamou.

– Rose, vem pra trás de mim. – Xena empunhou a espada e se colocou à frente da garota.

– Isso não é real! São hologramas, eles não podem machucar a gente.

O monstro se lançou sobre as duas. Deu um tapa em Xena a fazendo voar para o lado.

– Ou podem!

Rose correu e deslizou por entre as pernas do bicho para então correr em direção à Xena e ajudá-la a levantar.

– Não eram só miragens? – Xena disse se levantando.

O monstro novamente se lançou sobre Xena, mas dessa vez a guerreira conseguiu desviar do golpe dando um passo para trás e então, num piscar de olhos, cortou fora o braço da criatura, que caiu no chão inerte, e se dissolveu na gosma verde amarelada de antes. 

O monstro urrou de dor e se encolheu, segurando o local do corte com a mão que lhe restava.

– É a gosma do monstro! – Rose correu para a poça do resíduo no chão, ajoelhou-se e examinou com a chave de fenda sônica. – É realmente a gosma daquele Limus… Mas isso não faz sentido nenhum!

– Rose, cuidado!

O Destruidor pulou para alcançar Rose e se preparou para atacá-la com o outro braço. Xena aproveitou que a criatura estava distraída com a loira e fincou sua espada onde ela supunha ser o coração da mesma. O monstro soltou mais um urro de dor. A guerreira reuniu toda a força que tinha para deslizar a espada para baixo, cortando o bicho de dentro pra fora. Espirrando sangue e gosma o bicho caiu no chão, e não durou muito até se dissolver completamente em gosma.

Xena ajudou Rose a se levantar.

– Por quê ele conseguia acertar a gente? – Rose perguntou usando a mão de Xena como apoio para se levantar.

– Eu acho que a gente vai ter que deixar pra descobrir isso depois. – Xena disse muito séria olhando para além de Rose.

A viajante do tempo olhou para trás e viu o que a princípio julgou ser uma revoada de pássaros, mas quando viu melhor entendeu que eram esqueletos. Esqueletos voadores? Bem, era o que era.

– Corre.

 

xxx

 

Quando Gabrielle abriu os olhos demorou para entender as coisas ao seu redor. Tinha certeza que estava de cabeça para baixo, não estava tendo muito controle sobre seus braços e eles às vezes esbarravam na sua cara. Não sabia há quanto tempo estava de cabeça para baixo mas sentia que sua cabeça ia explodir a qualquer momento. Conseguiu olhar para cima e ver que seu pé estava preso à alguma coisa que a mantinha nessa posição e que impediu que ela caísse de cara no chão.

Ela estava num corredor estreito de metal, seu cajado estava bem adiante dela, no chão. Não parecia ter nada na sala, exceto uma caixa, uma caixa grande de metal, mais larga na base do que no topo e com diversas bolinhas coladas em sua extensão. A barda estreitou os olhos pra tentar entender o que estava olhando, mas aquilo não parecia nada que ela já tivesse visto antes. Ela começou a tentar soltar o pé que estava preso, mas aparentemente ele tinha se enroscado em cordas muito grossas e coloridas.

– Ótimo! – Ela disse frustrada.

A sua voz pareceu chamar atenção da caixa de metal à sua frente, que passou a rodar sua cabeça em várias direções como se procurasse algo. Tudo aquilo era bem estranho para ela.

– Olá?

Luzes começaram a piscar na caixa e um som metálico estranho começou a sair de lá. A caixa parecia olhar diretamente para Gabrielle agora.

EX-TER-MI-NAR. – A caixa disse e começou a carregar energia num de seus bracinhos.

Os olhos de Gabrielle se arregalaram, ela tentou alcançar seus pés para se livrar dos cabos, mas não teve força o suficiente para isso e acabou caindo de volta para a posição que estava.

A caixa atirou, mas Gabrielle conseguiu balançar a tempo do tiro bater na parede, derretendo o metal e expondo a fiação da nave. “EX-TER-MI-NAR” A caixa começava a se preparar para atirar novamente. Mas antes que isso acontecesse, explodiu e a energia se dissipou em várias faíscas. Por trás da explosão estava um homem magricela apontando uma vareta brilhante. Ele rodou a varinha na mão e a guardou no bolso interno de seu paletó.

– É assim que se trata um dalek. – Ele disse com um sorriso bobo.

Nota