Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Capítulo 3

    Tanto quanto Ronnie queria viajar na ambulância com Rose para lhe proporcionar mais conforto, estava o Jeep para considerar e a idéia de deixá-lo a noite em Albany era um desagradável pensamento. Não havia se aproximado do Porsche desde o acidente, embora tivesse visto que Hans havia estado em sua casa no dia anterior durante o dia para começar os reparos. Isso a deixaria sem nenhum dos veículos próprios para a neve ou então teria que usar seu precioso Mustang 1967 e este nunca veria o infeliz inverno das ruas de Albany se pudesse evitar. Com reticências escolheu deixar Rose viajar sozinha na ambulância enquanto os seguia atrás no Jeep.

    A distância de Albany a Loudonville, onde a casa de Ronnie se encontrava, normalmente levava menos de quinze minutos. A mulher de cabelo escuro advertiu o motorista da ambulância de que ele não estava em uma chamada de vida ou morte, então este teria que fazer o possível para não passar em nenhum buraco na saída de Albany, mesmo que isto significasse tomar o dobro do tempo para chegar a casa. Loudonville era uma área cheia de antigas e velhas casas que datavam dos séculos XVI e XVII. Era considerado um subúrbio rico de Albany embora fosse uma entidade completamente separada. A única relação que Loudonville tinha com a capital era que estavam dentro do mesmo condado. As pessoas que viviam na prestigiosa vila deixavam bem claro que não eram residentes de Albany de nenhuma maneira ou modo. A viagem a sua casa foi o mais angustiante passeio da vida de Ronnie. As ruas eram as típicas de princípios de dezembro, os flocos de neve e o gelo faziam a viagem bastante agitada, mais o fato dos buracos do asfalto, faziam com que a ambulância pulasse muito mais do que o de costume. Sabendo que cada baque significava dor para Rose, Verônica grunhiu quando a ambulância passou em um buraco particularmente grande justo quando estava saindo de Albany e cruzou para entrar em Loudonville. A ambulância verde e branca pulou e sacudiu sobre a irregular rua, fazendo com que Ronnie quase tivesse um ataque de nervos antes que finalmente chegassem às ruas lisas de sua cidade natal e virassem sobre a entrada Carwright.

    Maria abriu a porta e saiu justo quando a ambulância subiu pelo caminho de entrada, seguido de perto pelo Jeep azul brilhante. Ronnie normalmente utilizava seu controle remoto para abrir as apropriadas portas da garagem e guardar seu veículo, mas tinha algo mais importante a fazer. Colocou-se na área do grande estacionamento em frente às garagens e esperou que as portas traseiras da ambulância se abrissem. Fez o possível para se manter afastada quando tiraram Rose, observando que a pior coisa que parecia ter era umas poucas lágrimas. “Eu acho que comentei que o hospital era frio”, a jovem mulher falou. A manta e o lençol não faziam nada para parar o penetrante vento que as havia levantado.

    “Não se preocupe, logo está lá dentro e logo vai se esquentar”, disse Ronnie, notando pelo rabo de olho que Maria tinha as portas duplas abertas dando o espaço máximo para atravessar a maca e sua preciosa carga.

    O andar térreo, em suas costas, foi à primeira coisa que Rose notou quando entraram na grande estrutura que tinha altos tetos, vigas escuras contra uma cor creme ao fundo. Virou sua cabeça e seus olhos se arregalaram. A sala era enorme, comparando com o que havia sido seu apartamento, facilmente podia-se dizer que era maior. Quando sentiu a mudança de altura percebeu que uma parte da sala estava mais baixa, algo que havia visto em revistas na biblioteca, mas nunca havia visto realmente no lar de alguém. O tapete de uma parede a outra era da mesma cor creme do teto, espesso e luxuoso sem uma amostra de descoloração ou desgaste. Grandes armários de madeiras escuras alinhavam uma parede; Rose pensou que seriam de cerejeira ou mogno. Um conjunto de escadas ocupava outra parede. A faziam recordar das escadas do programa da televisão The Bray Bunch, exceto que em vez de ter um reduzido patamar, estas escadas curvavam ao redor no fundo. O gradil era também da mesma intensa cor que os armários e as vigas do teto. Escutou Ronnie maldizendo em alguma parte no fundo, mas não podia localizá-la, não importava como virasse a cabeça. Então a viu sair de uma sala no extremo e correr para cima das escadas. Maria caminhou em sua linha de visão e Rose conseguiu a primeira visão real da governanta. “Olá”.

    “Olá ai, pobrezinha!” A governanta respondeu. “Ronnie teve que ir lá em cima para trazer alguns lençóis. Voltará logo”.

    “Meu nome é Rose”. Estendeu sua mão.

    “Sou Maria, criança”, respondeu tomando a mão oferecida e a cumprimentando. “Uma vez que esteja instalada farei algo delicioso de comer. Estou certa que está farta dessa horrível comida de hospital”.

    “A senhora é muito amável, mas não quero que tenha nenhum trabalho”.

    “Oh, não é nenhum trabalho, em absoluto. Oh, aí vem Ronnie. É melhor colocar esses lençóis na cama para que você possa ficar mais cômoda”.

    Maria pegou os lençóis de linho das mãos de Ronnie e desapareceu dentro do afastado quarto enquanto a alta mulher foi até o lado de Rose. “Desculpe por isso”, disse.

    “Ronnie, pode me fazer um favor?”.

    “Claro, o que você quer?”.

    “Pode cobrir meus pés? Estão congelando”. Um segundo depois sentiu as grandes mãos quentes fechando-se ao redor de seus gelados dedos dos pés, a única parte de suas extremidades inferiores não embutidas em molde de gesso.

    “Por que não disse nada?” Ronnie deu uma olhada furiosa aos assistentes da ambulância enquanto ajustava o lençol e a manta para cobrir os expostos pés. Maria saiu do quarto alguns minutos mais tarde, anunciando que tudo estava disposto. “Lhe colocaremos na cama e então irei lá em cima e lhe conseguirei um par de agradáveis meias quentes”, Ronnie disse antes de se afastar do caminho quando os assistentes agarraram cada extremo da maca.

    Só uma rápida olhada ao redor permitiu a Rose ver que o quarto no qual a estavam colocando era o escritório de Ronnie. Dois altos arquivos estavam pressionados contra a parede, ao que parece para dar espaço a cama queen sized situada no meio do quarto. Uma mesa para o computador com o maior monitor que já havia visto estava contra uma parede próxima e uma imensa televisão ocupava a parede restante onde poderia vê-la comodamente.

    “OK, Milke, pronto?” Um dos assistentes perguntou, alçando o lençol debaixo de Rose em suas mãos. “No três”, Milke respondeu. “Um… dois… três”. Facilmente a levantaram, mas no processo de colocá-la de novo abaixo, uma ponta se escorregou de suas mãos, provocando que o pesado molde da perna direita caísse sobre a cama. A sacudida enviou rajadas de dor através de Rose e o posterior grito trouxe Ronnie para seu lado. “Srta, me desculpe”, disse Milke. “Agora precisamos rodá-la sobre seu costado para que possamos tirar o lençol que está debaixo dela”.

    “Não”, Ronnie disse. “Eu o tirarei”. Havia uma clara cólera em seu tom assim como a preocupação de que Rose não fosse machucada mais ainda. Com imenso cuidado puxou o lençol de debaixo da jovem mulher até que finalmente o liberou. O lançou ao companheiro de Milke. “Há algo mais que eu precise assinar?”.

    “Não Madame. A senhora receberá a nossa fatura em alguns dias”.

    “Bem, então há algo mais?” Sem esperar uma resposta fez um sinal com a cabeça a Maria que estava parada na porta. “Maria os acompanhará até a porta”.

    “Foi um acidente”, disse Rose assim que os assistentes se foram. Ronnie repassava atarefada as instruções de como operar a cama nova.

    “Foi um estúpido acidente. Ele deveria ter mais cuidado. O que teria acontecido se você não estivesse sobre a cama?”. Baixou seus braços e envolveu sua mão nos frios dedos dos pés de Rose. “Deixe-me conseguir algumas meias para você. Volto logo. Quer alguma coisa da cozinha?”.

    “Não, obrigada. Posso esperar até o jantar”.

    “Hum, hum. Admito que preciso de uma xícara de café. Quer algo quente ou frio para beber?”.

    “Hum…” O olhar nos intensos olhos azuis dizia que era melhor escolher um ou outro. “Quente, por favor”.

    “Aqui está o controle da cama”. Deu o aparelho plástico a Rose junto com o folheto de instruções. “Isto vem com calor e massagem. Só pressione estes botões se quiser ligar. Estes controlam os pés e a cabeceira da cama”. Observou como a jovem mulher experimentava levantando a cabeça até que esteve em um ângulo de quarenta e cinco graus. “Vou lhe deixar para que consiga usar isto e estarei de volta com suas meias”.

    Ronnie voltou em poucos minutos com um par de meias brancas grossas e um ronronante monte de pelúcia alaranjada e branca. “Veja quem encontrei escondida na área de serviço”, disse, deixando Tabitha na cama e sorrindo quando viu os braços de Rose se envolver ao redor de sua preciosa gatinha.

    “Olá doçura… senti sua falta”, a jovem mulher sussurrou a sua satisfeita gata. “Você engordou”.

    “Mrrow?”.

    “Sentiu minha falta?” Abraçou Tabitha outra vez, sem pensar nas lágrimas que derramavam saindo de seus olhos. “Obrigada” sussurrou a Ronnie. “Obrigada por tomar conta dela para mim. Não posso lhe dizer o quanto…”. Sua voz se interrompeu e se deu por vencida para tentar falar.

    “Eu sei”, a mulher de cabelo escuro disse suavemente. “E de nada”. Há uma semana não teria acreditado no que poderia significar tanto ter alguém que cuidasse de sua mascote, mas agora Ronnie entendia o quanto importante o felino era para Rose.

    “Hei, vamos colocar estas meias em você”. Foi até o extremo da cama, todavia ainda olhando emocionada a reunião entre Rose e Tabitha. “Estas foram as mais quentes que eu pude encontrar”, disse enquanto afastava a manta. Reuniu o tecido de algodão em seus dedos e deslizou cuidadosamente sobre os dedos do pequeno pé de Rose, depois sobre a pele e o tornozelo coberto pelo molde. Com o calcanhar no lugar, parte da ponta das meias caia, mostrando claramente a diferença no tamanho dos pés das duas mulheres. “Lamento isto. Conseguirei para você algumas de seu tamanho amanhã”.

    “Não tem que fazer isso, Ronnie. Estas estão boas, se não se importar que eu use suas meias. Além disso, elas têm que serem grandes ou então não vão caber sobre os moldes”. O calor que emanava da cama não só tranqüilizou Rose como também diminuiu a dor em suas pernas e a relaxou fazendo com que suas pálpebras se sentiam muito pesadas e não pôde sufocar um bocejo. “Você se importaria seu eu descansasse um pouco?”.

    “Claro que não, Rose, quando estiver cansada, é só me dizer”. Ronnie olhou para o computador e gemeu interiormente com o pensamento no trabalho que havia se acumulado durante toda a semana a espera dela. “Incomodaria se eu trabalhasse um pouco?”.

    “Oh, não. Vá em frente. Não me incomoda em absoluto”. Rose não sabia se incomodaria ou não, mas não ia dizer a Ronnie que não poderia fazer seu trabalho em seu próprio escritório em sua casa. Tabitha parecia muito satisfeita deitada na cama quente e logo adormeceu.

    No entanto, o sono não chegou tão facilmente para Rose. O tamborilar do teclado atraiu sua atenção a Ronnie que trabalhava duro a alguns metros dela. Havia computadores na biblioteca pública e sabia como usá-los para localizar livros ou pouco mais. Inclusive desta distância podia ver que Ronnie estava revisando algum tipo de folha com cálculos. Embora não pudesse ver bem a cara dela, Rose não tinha dúvida de que a cabeça da Cartwright Corporation franzia o cenho. Um lápis com o extremo bem mordido encontrou seu caminho dentro da boca de Ronnie uma e outra vez. Quando este não estava sendo ruído, estava sendo empurrado para cima e para baixo na mesa, um evidente inquieto hábito. Assim como freqüentemente uma incompreensível explicação saía da boca da culta mulher e da tela do computador assim também eram as mudanças de uma folha de cálculo a outra.

    Ronnie se levantou e se aproximou dos arquivos, tirando um feixe de relatórios gerados no computador. “Tommy, que diabos está fazendo?”. Perguntou alto antes de voltar a seu assento e comparar a informação do papel com o que dizia a tela do computador. Através de suas meio fechadas pálpebras Rose continuava olhando sua nova amiga lutando para encontrar sentido no que estava observando. Várias vezes Ronnie se reclinou em sua cadeira de pele deixando sair frustrados suspiros. Eram nessas ocasiões que Rose podia ver seu rosto, testa sulcada com o pensamento, lábios franzidos, queijada apertada. A jovem finalmente dormiu desejando poder fazer algo para diminuir os problemas de Ronnie da mesma maneira em que a compassiva mulher havia diminuído os seus.

    ********

    Ronnie desligou o monitor e girou em seu assento para encontrar Rose dormindo e Tabitha justo a seu lado. O alaranjado e branco felino estava ocupado limpando suas patas e nem se incomodou em levantar o olhar quando a executiva saiu do quarto.

    “Como está a pobrezinha, querida?”. Maria perguntou quando Ronnie entrou na cozinha.

    “Ela está dormindo agora. Vou acordá-la quando o jantar estiver pronto”. Alcançou um copo do armário antes de tirar uma cerveja da geladeira. “De verdade agradeço que tenha ficado até tarde hoje para fazer isto”.

    “Não tem problema, Ronnie, você sabe disso”, a mulher mais velha disse. “O que aconteceu?”.

    “Foi atropelada por um carro. Não tem família e ninguém mais para cuidar dela. Vai permanecer aqui até que esteja curada e não preciso que minha mãe e irmã saibam sobre isto”. Ronnie avisou, desejando evitar qualquer discussão familiar.

    “Suponho que é a mãe de Tabitha?”.

    “Sim”. Tomou um gole de cerveja e deu uma cheirada no forno. “Cheira delicioso”.

    “Estará delicioso logo que estiver pronto. Inclusive nem pense em se aproximar e beliscar algo”. Maria lembrou que muitas vezes quando os garfos para o jantar desapareciam os encontrava no momento em que tirava o jantar do forno. “Você não me disse do que ela gostava, então fiz uma caçarola de assado”.

    “Oooh. Soa delicioso”. Os olhos de Ronnie se iluminaram. “Espero que tenha feito suficiente”. Tomou outro gole de cerveja e deu uma olhada nas fileiras de gabinetes. “Sabe onde está aquela bandeja que utilizamos quando mamãe esteve doente?”.

    “Claro que sei. Diferente de você conheço as coisas ao redor da cozinha”.

    “Hei, sei onde estão as coisas. Encontrei a cerveja sem problemas”. Ronnie sorriu.

    “Sempre dando uma de espertinha, não é, Verônica Louise?”.

    “Só com você, Maria”, a alta mulher respondeu, inclinando-se e dando a sua querida governanta um beijo na bochecha e lhe remexendo o cabelo. “Jantarei no escritório com Rose. Se precisar de ajuda é só me gritar”.

    “Considerando que servi a sua família inteira quando viviam todos aqui penso que levar dois jantares ao escritório não será um problema”. Abriu a porta do forno e furou a carne e as batatas com um garfo grande. “Agora vá se ocupar de sua hóspede. O jantar demorará pelo menos mais meia hora”.

    Uma vez que ficou novamente sozinha na cozinha, o sorriso sumiu da cara de Maria. Aproximou-se das portas de correr e olhou atentamente para fora na noite. A grande lâmpada de sódio iluminava a garagem e o destroçado Porsche dentro do interior desta. “Oh Verônica…” sussurrou. “O que você fez?”.

    *********

    “Estava delicioso”, disse Rose pela milésima vez, colocando seu garfo para baixo no prato vazio. “Nunca me interessei muito pelas cenouras, mas estas estavam deliciosas”.

    “Acho que Maria coloca um pouco de açúcar nelas enquanto elas cozinham”. Ronnie respondeu, tirando a bandeja do colo da loira e deixando-a sobre a mesa. “Você está pronta para a sobremesa?”.

    “Sobremesa?” Olhos verdes se iluminaram.

    “Sobremesa. Sei que ela fez recentemente torta de chocolate e nozes e se eu procurar sei que encontrarei um pouco de sorvete para acompanhá-la”. O olhar de completo prazer na cara de Rose trouxe um sorriso à cara da morena. “Se mantenha assim e Maria lhe fará ficar tão grande como uma casa. Nada lhe dar mais prazer do que ver as pessoas desfrutando do que ela cozinha”. Deu uma olhada na jovem mulher ainda em sua bata azul e branca de hospital. “Claro que a você pode ser útil um pouco de carne nos seus ossos. De modo que não seria tão mal assim. Por falar nisso, vou lhe trazer algo mais cômodo para vestir do que essa coisa”.

    “Oh, acho que é um pouco estranho”, Rose respondeu, levantando o tecido sobre seus ombros.

    “Acho que não tenho uma calça que seja bastante grande para passar essas pernas, mas tenho certeza que uma camisa de dormir devo ter em alguma parte. Já volto”. Recolheu os pratos vazios e saiu do quarto.

    “Carnes em ossos?” Rose perguntou a Tabitha quando Rose saiu. “Acho que ganhei dez libras de tudo por tudo que comi nos últimos dias”.

    “Mrrow?”.

    “Sim, parece que você também tem desfrutado de algo do que Maria cozinha”, balbuciou quando o alaranjado e branco gato subiu sobre sua coxa para deitar sobre seu colo. “Não entendo isto”. Coçava distraída atrás das orelhas de Tabitha enquanto expressava seus pensamentos. “Ela me encontra na rua, me leva ao hospital, e deveria fazer até ai. Mas ao invés disso cuida de ambos como se fossemos a coisa mais importante do mundo para ela”.

    “Mrrow?”.

    “Oh, por céus é proibido deixar de coçar a você, sua majestade”. Reassumiu seu suave coçar. “Acredita que posso entender”. Levantou Tabitha sobre seu peito e esfregou seu nariz na suave pele. “Você é tão adorável, qualquer pessoa que lhe vê se apaixona por você”. Escutou o suave ronronar por um minuto, se acomodando para sustentar seu precioso gatinho. “Não, não, absolutamente não entendo. Estou agradecida, mas não entendo”.

    “Aqui estamos”, Ronnie disse quando entrou no quarto. Em cada mão sustentava um prato de sobremesa com um grande pedaço de torta de chocolate e nozes e uma taça de sorvete de baunilha perfurado com uma colherinha enquanto que uma camisa de dormir café claro se encontrava pendurada sobre seu ombro. Deixou os pratos na mesa e deu a camisa de dormir a Rose.

    “Dartmouth?” A mulher mais jovem perguntou, sustentando a camisa na frente dela.

    “Sim. Me formei ali e fiz mestrado em Stanford”, Ronnie disse enquanto dava um prato a Rose. “Está velha e descorada, mas ainda a amo”.

    “Quais são suas faculdades?”.

    “Humm, bem menina curiosa. Vejamos… Tenho uma faculdade em Administração de Empresas com um secundário Marketing e meu Mestrado é em Direção de Negócios”.

    “Não me surpreende que seja a presidenta de sua companhia”.

    “Bom, isso é porque sou a mais velha”, Ronnie sorriu. “Quando se fala de Cartwright Corp. o nepotismo está em todas as partes”.

    “Estou certa que você fez mais que isso para chegar onde você está”, Rose respondeu, colocando uma colherada da saborosa sobremesa em sua boca.

    “Isso é, mas se estivesse em qualquer outra companhia só estaria na gerência média. Meu pai morreu em menos de três anos após eu me formar e então tomei o controle das rédeas”.

    “Oh. Você era próxima a seu pai?”.

    “Suponho que sim”. Empurrou o último pedaço de torta de chocolate e nozes em sua boca. “Era a mais velha e por muito tempo o pomo de seus olhos. Sabe, é curioso, não importava o quanto ocupado estivesse, sempre encontrava tempo para assistir a cada reunião de pais e professores, a cada jogo, inclusive assistiu a todos os jogos de minha pequena liga. Nem todos os homens em sua posição fariam isso”.

    “Parece que ele te amava muito”.

    “Amava. Foi um inferno me criar e sempre estava tentando me manter fora dos problemas”. Ronnie deixou seu prato na mesa e se sentou em sua cadeira de pele. “Lembro que em mais de uma vez quebrei os vasos antigos de minha mãe e ele sempre se culpava em meu lugar”. Sorriu diante da lembrança. “Só uma vez quando eu me feri ele não conseguiu tomar a culpa por mim. Escorreguei daquela varanda ali de fora e cai. Fraturei o braço. Mamãe me castigou todo o verão”.

    “Se você cresceu aqui, por que sua mãe não vive aqui?”.

    “Depois que papai morreu, ela viveu aqui durante um tempo. Eventualmente começou a passar mais e mais tempo com suas amigas de canastra. Todas elas vivem em uma comunidade de retiro próximo. Pensou que se estava todo o tempo lá por que não vivia ali, então lhe compramos um imóvel em um condomínio e assumi o controle da casa da família. Faz sentido, não é mesmo. Está rondando os sessenta e não precisa de um lugar tão grande de qualquer maneira”.

    “Seus irmãos não quiseram a casa?”.

    “Não tiveram opção. Sou a mais velha. É como funciona em nossa família. Terminou com isso?”.

    “Oh, sim, obrigada”. Rose entregou o agora prato vazio.

    “Além disso”, continuou Ronnie. “Susan e Jack tem uma agradável casa a uns poucos quilômetros daqui e Tommy parece preferir apartamentos. Se não a tivesse tomado, provavelmente teríamos colocado o lugar a venda”. Empilhou os dois pratos e se virou ao outro lado em sua cadeira para estar de frente a grande tela de televisão. “São quase dez horas. Está cansada ou quer ver o que está passando?”.

    “Estou bem acordada. O cochilo me ajudou”. Rose se moveu e inspirou profundamente. “No entanto, acho que está na hora de outro Percocet”.

    “Vou buscar. Ache algo para assistirmos”.

    ********

    Tabitha estava satisfeitíssima dormindo junto a Rose, que continuava olhando fixamente acima no teto. Ronnie havia ido para a cama a meia hora atrás, deixando a jovem mulher sozinha com seus pensamentos. Rose ficou surpresa ao perceber o quanto havia ficado decepcionada quando sua amiga anunciou que ia para a cama. Havia desfrutado de verdade da noite e da atenção constante da mulher mais velha. Também parecia que quando Ronnie estava ao redor, suas pernas e tornozelo não doíam tanto nem chorava freqüentemente. Pensou novamente no que havia acontecido depois que começaram a ver as últimas notícias.

    Um movimento incorreto enviou a cruel dor através dela e imediatamente Ronnie estava ali. A alta mulher lhe sustentou fortemente, sussurrando palavras de consolo, que carinhosamente a ninou. Rose desejou que o abraço não terminasse nunca. Queria continuar sentindo a cálida pele contra a sua, aspirar a fragrância do perfume de Ronnie, sentir a subida e a caída do peito da forte mulher contra seu rosto. Quando Rose finalmente a soltou, foi com grande reticência e um sentimento de perda. Ajeitou o travesseiro atrás de sua cabeça e forçou seus olhos para fecharem-se, mas não fez nada para apagar a sensação de conforto dada por Ronnie.

    Lá em cima, Ronnie estava olhando fixamente seu próprio teto. Não queria deixar Rose, mas não lhe parecia correto manter a mulher que ainda se recuperava acordada até muito tarde. Escutou os sons da noite, os ocasionais caminhões que desciam pela rua principal, as corujas ululando a distância. Nada disso lhe interessou. O que estava escutando era o suave som melódico da voz de Rose a chamando.

    “Droga, deveria ter conseguido um sistema de intercomunicação”, murmurou na escuridão. E se Rose precisasse de ajuda para se acomodar? E se acordasse e precisasse de mais Percocet? Será que era seguro deixar Tabitha com ela? E se caminhasse através das pernas de Rose? E se sentisse dor outra vez e precisasse ser sustentada? Esses e uma dezena de perguntas a mais passaram por sua mente, todas a convencendo de que lá em cima não era o lugar correto para ela estar. Com a porta do escritório aberta permitindo a Tabitha entrar e sair no caso de precisar ir a caixa de areia, certamente não haveria maneira que passasse desapercebido ouvir Rose. Mas e se ela não ouvisse? Se Rose precisasse dela e ela não a ouvisse chamá-la? Sim, era por isso que tinha que estar perto dela… Só para o caso dela precisar de algo. Agarrando os travesseiros e a manta, Ronnie saiu de seu dormitório e se dirigiu para baixo.

    Acomodando a roupa de cama no sofá, silenciosamente cruzou o quarto e deu uma olhada na mulher que dormia. Depois de se convencer de que Rose estava bem, Ronnie voltou ao sofá e se acomodou, o sono tomou o controle dela em poucos minutos.

    *********

    Ronnie se levantou em torno das seis. Devolveu as roupas de cama a seu quarto e se trocou por suas roupas de treinamento antes de entrar no escritório para checar Rose. A jovem mulher estava ainda dormindo profundamente, então assim se sentiu segura para se dirigir abaixo e introduzir-se em seu treinamento. No entanto, aquilo que normalmente significava paredes sacudidas pelos decibéis da música dos anos 80 foi trocado pelo absoluto silêncio a fim de que não desapercebesse de Rose chamando-a. O que eram normalmente vinte repetições com cada máquina se tornou dez e a máquina de deslizamento foi ignorada completamente. Voltou à cima e revisou a adormecida mulher uma vez mais antes de ir tomar uma muito necessária ducha. Era sábado. Não haveria sinais de Maria que tinha os finais de semana livre. Isso fez com que Ronnie tivesse que resolver o que ia fazer para ela e Rose de café da manhã.

    Quando o vapor de água enxaguou o xampu de seu cabelo e o suor de seu corpo, os olhos de Ronnie se fecharam e sua mente vagou de novo a mulher de cabelo loiro dormindo no andar de baixo. Havia tido um quase culpado prazer em sustentá-la à noite, sabendo que era a única responsável pela dor, no entanto, também a única que lhe proporcionava consolo a essa dor. Havia desfrutado em dar apoio a Rose, enterrando seu nariz no cabelo de fios dourados, envolvendo os braços ao redor do suave corpo, sentindo a cálida respiração contra seu pescoço…

    Os olhos de Ronnie voltaram a se abrirem e desceu o olhar para descobrir sua ensaboada mão acariciando seu próprio seio esquerdo. Rapidamente se enxaguou, se repreendendo mentalmente por fantasiar quando tinha tantas coisas mais importantes para fazer.

    Rose acordou com o som de Ronnie entrando no quarto, um prato cheio de hot cakes e bacon em cada mão. “Não sou uma boa cozinheira como Maria, mas pelo menos não queimei nada”.

    “Tenho certeza que deve estar maravilhoso”.

    “Você quer café ou chá?”.

    “Café seria maravilhoso”, Rose disse feliz.

    “Há uma jarra recém feita. Creme ou açúcar?”.

    “Só creme, por favor”.

    “Café, creme, nada de açúcar saindo imediatamente”. Deixou seu prato na mesa e o prato de Rose na bandeja antes de colocá-lo no colo da jovem mulher. “Tomaremos café juntas e depois lhe ajudo a se banhar. A enfermeira só começará na segunda, mas acho que posso lhe ajudar”.

    “Sabe, de verdade, odeio me sentir assim impotente”, disse Rose. “Quero dizer, eu não posso nem me inclinar sem que doam minhas pernas. Se não penso e mexo os dedos dos pés é ainda pior, sem mencionar o resto”. Suas bochechas se ruborizaram levemente com vergonha.

    Ronnie não sabia o que dizer sobre esse comentário, sabendo que se os papéis fossem invertidos não estaria provavelmente tão bem com a situação. “Volto em seguida com o café e depois do desjejum verei se posso encontrar aquele jogo Trivial Pursult”. Dirigiu-se a porta se encontrou com Tabitha.

    “Mrrow?”.

    “E você também quer seu café?”. Recebeu sua resposta na maneira felina, ou seja, sendo esfregada pela felina nas pernas contra seu jeans. “Vamos, se estiver comendo não incomodará sua mãe lhe pedindo do seu”.

    ********

    Embora Ronnie tivesse ajudado Rose ontem à noite a se sentir mais à vontade, a jovem mulher estava ainda mais tímida em pensar que a rica e poderosa mulher ia lhe ajudar. Nem uma palavra foi dita quando a tigela foi deslizada por baixo dela, fez seu dever, e Ronnie a levou ao banheiro anexo. Bem pelo menos não estava em seu ciclo menstrual, Rose pensou para si mesma, temendo o fato de que era só em uma semana ou algo assim. Não tinha idéia de como ia manejar isso quando acontecesse.

    “Acho que devemos lhe dar um banho. Quer um Percocet agora ou depois?”, perguntou Ronnie quando voltou do banheiro com um recipiente cheio de água quente com sabão e um pano.

    “Depois. Me fazem dormir facilmente. Acha que poderíamos cortar os comprimidos ao meio? Quero dizer, eu sei que a doutora Barnes quer que as tome para a dor, mas odeio me sentir tão tonta todo o tempo”.

    “Não vejo nenhuma razão para que não”, respondeu Ronnie, deixando o recipiente na mesa. “Vamos lhe lavar. Serei o mais gentil que possa”, prometeu.

    A mulher de cabelo escuro era de fato extremamente gentil, como se estivesse com medo de lhe causar a menor dor. “Se lhe lavar as costas você pode fazer o resto?”.

    “Sim”. Rose se inclinou e tirou a camisa de dormir de Dartmouth e a colocou sobre seus seios. Firmes dedos sob a toalha ensaboada trabalharam de um lado a outro de suas costas, tirando um inesperado gemido de seus lábios.

    “Machuquei-lhe?”.

    “Não. Desculpe. Acho que minhas costas estão doloridas por passar tanto tempo deitada”.

    “Acostumei-me a ter os piores torcicolos em minhas costas depois de estudar todas as noites durante os exames finais. Minha companheira de quarto era maravilhosa nas massagens”. A mente de Ronnie pensou brevemente de novo em algumas outras coisas que Christine era boa. “De qualquer maneira”, disse apagando a imagem de sua mente. “Ela me ensinou o que fazer. Pode inclinar um pouco mais?”. A jovem mulher obedeceu e Ronnie colocou o pano de lado. Moveu-se um pouco para obter uma posição melhor e começou a massagear os apertados músculos com seus longos dedos.

    “Oh, isto é bom”, murmurou relaxando Rose, se inclinando novamente dentro da suave massagem. Parecia que cada dor, cada nó em suas costas desaparecia debaixo do tato de Ronnie. A água fez com que os dedos deslizassem mais facilmente através de sua pele. “Está no trabalho errado, Ronnie. Deveria ser uma massagista”.

    “Pensa assim?” Murmurou, sua atenção enfocada na suave pele debaixo de suas mãos.

    “Totalmente”, Rose gemeu quando a firme pressão foi feita em um ponto particularmente dolorido. “Vai me fazer dormir novamente se continuar fazendo isso”.

    “Nós não queremos que isso aconteça agora, não é?”, pegou o pano novamente e limpou o resto das costas de Rose. “OK, vou sair para que você termine enquanto pego o Trivial Pursuit”.

    Depois que Ronnie saiu do banheiro, Rose colocou a camisa sobre seu colo e lavou o resto de seu corpo e áreas íntimas. Havia terminado e acabava de puxar sua camisa por sobre sua cabeça quando a mulher de olhos azuis voltou. “Eu encontrei… oh desculpe”. Ronnie fechou a porta rapidamente. “Diga quando estiver pronta”, disse através da porta fechada, a visão dos firmes seios de Rose tomava conta de sua mente. Essa foi uma das coisas que sentia falta desde que fez seu ginásio particular. Quando ia ao ginásio local, havia muitas mulheres lindas que andavam pelo vestiário com várias partes nuas. Era fácil para ela olhar secretamente seus corpos e gozar da visão sem ser notada. Ronnie deixou um suspiro de desilusão sair ao pensar no que nunca poderia ter novamente. Sua experiência em Stanford havia lhe assegurado isso.

    “OK”, a voz de Rose chamou. Entrou para encontrar a parte superior do corpo da mulher coberta pela camisa de dormir de Dartmouth e a parte inferior oculta debaixo das mantas. “Encontrou?”.

    “Sim, desculpe ter entrado sem bater. Não pensei”.

    “Tudo bem. Tenho certeza que você já viu mulheres meio nuas antes”.

    “Mesmo assim teria que ter batido”. Ronnie olhava a pequena bandeja. “Humm… isto não vai ser bastante grande para jogarmos”.

    “Sabe? Se usar essa cadeira de rodas e colocar a perna apoiada para cima, estou certa de que poderia jogar com você em uma mesa”.

    “Acha que está pronta para isso?”.

    “Me colocaram em uma para trocar os lençóis de minha cama no hospital. Estou certa de que se tivermos cuidado nós poderemos fazer”.

    “Não sei, Rose. Não quero lhe machucar”, disse Ronnie com indecisão.

    “Sinto dor a maior parte do tempo de qualquer maneira. Não acho que faria muita diferença”. Levantou o olhar nos penetrantes olhos azuis e sorriu. “Realmente quero jogar com você”.

    “Está realmente certa sobre isto?”.

    “Estou. Além disso, dessa maneira posso dar um passeio”.

    Ronnie duvidou por um momento, pensando nos perigos de mover Rose e confiar que a jovem mulher saiba quais eram seus limites. “De acordo, mas se se sentir cansada ou quiser se deitar de novo me diga imediatamente, OK?”.

    “OK”.

    *********

    Precisaram trazer a cadeira próxima da cama para colocar Rose nela, mas puderam fazê-lo com uma pequena quantidade de mal-estar. Felizmente, as renovações que Ronnie havia feito quando tomou posse da casa incluíam uma porta bastante ampla. Com exceção da parte do desnível da sala, não havia lugar ao que Rose não pudesse ir no primeiro andar. “Está pronta para o passeio?”, perguntou Ronnie depois de comprovar minuciosamente para se assegurar que a manta colocada debaixo das frágeis pernas não interferiria nas rodas.

    “Totalmente”, Rose respondeu, alcançando as rodas só para constatar que já se dirigiam para fora do quarto, com as mãos de Ronnie nas empunhaduras. O escritório estava afastado da sala e agora verticalmente, Rose via melhor a magnífica área. As clássicas pinturas a óleo penduradas sobre as paredes. Um antigo cabide situado próximo à porta junto com um suporte para guarda-chuvas que parecia muito elegante para sustentar um guarda-chuva. Cada peça do mobiliário combinava, decorado desde o sofá de pele as mesas do extremo aos móveis que alinhados as paredes. “É lindo”, sussurrou de maneira reverente Rose.

    “É pomposo”, replicou Ronnie. “Só o deixei desta maneira porque não queria escutar o que diria minha família se os trocasse. Às vezes temos que fazer reuniões aqui e estou certa de que o Monet é examinado muito mais do que um Witherspoon”. Observou a falta de resposta da jovem mulher. “Witherspoon é um artista abstrato. Tenho alguns de seus trabalhos pendurados em minha sala de jogos”.

    “Tem uma sala só para jogos?”.

    “É como retroceder aos tempos de meu pai. Ele costumava se divertir com alguns de seus amigos mais íntimos ali. Tem uma mesa de bilhar, um bar, tiro ao alvo, esse tipo de coisas. É aqui. Vou lhe mostrar”.

    Entre o escritório e a cozinha estava uma porta, escondida debaixo da escada. “É aqui. Não entrava aqui há muito tempo, até que hoje vim buscar o jogo Trivial Pursuit. Maria inclusive nem se incomoda em limpar aqui, porque nunca o uso, assim não repare na poeira que possivelmente tenha”. Ronnie parou de empurrar a cadeira, caminhou mais à frente, e abriu a porta.

    Havia apenas algumas partículas de poeira na sala, apesar da advertência. Rose ouviu um click detrás dela e a sala se iluminou com uma série de luzes penduradas, todas proclamavam uma marca ou outra de cerveja como sendo a melhor. Na afastada parede a esquerda estava situado um bar completamente abastecido. No centro da sala de diversão uma mesa de bilhar com o verde feltro e ao extremo direito da sala havia algumas pequenas mesas com cinzeiros. “É igual a um bar”.

    “Quase. Papai costumava se retirar para cá com seus amigos quando ele precisava de um descanso do congestionado mundo de negócios. Aprendi a jogar bilhar justo nesta mesa”. Passou seus dedos sobre o feltro diante da lembrança. “Durante a lei seca, meu bisavô dirigia uma improvisada taberna clandestina fora daqui, só para importantes clientes, claro”. Caminhou até a parede que estava mais longe e apontou um pequeno sino. “Este era o sino de aviso. O vovô costumava utilizá-lo para avisar quando minha avó vinha e anos mais tarde meu pai fez a mesma coisa”.

    “Wow”, disse Rose, realmente surpresa com a historia da sala. Esticou sua mão e passou as gemas de seus dedos pelo longo e suave costado da madeira da mesa de bilhar. “Estou surpresa de você não passar algum tempo aqui. Parece uma sala maravilhosa”.

    “É sim, mas estou realmente muito ocupada a maior parte do tempo para trazer amigos”. Ronnie agarrou as empunhaduras outra vez. “Pronta para ver o resto?”.

    “Com certeza”.

    Saíram da sala de jogos e se aventuraram por mais, Ronnie mostrou a área de serviço que conduzia ao caminho de entrada, ao vestiário, e ao segundo banheiro no primeiro andar. Entraram em uma elegante sala de jantar com a mais comprida mesa que Rose já havia visto. “Poderia se sentar aqui umas vinte pessoas”, disse a jovem mulher.

    “Na verdade, é para dezoito pessoas, se esticar a tábua de dentro, mas parece muito grande, não é mesmo?”.

    “É linda”. A mesa combinava com os armários de porcelana chinesa construído em cada canto assim como o carro de serviço, uma mesa de madeira com rodas e alças dobráveis sobre os lados.

    “Acho que sim. Nunca a utilizo, com exceção quando a família consegue se reunir. Eu como geralmente na cozinha ou diante do computador. Vamos, você não viu tudo ainda”.

    Sua seguinte parada foi na cozinha. Ronnie empurrou Rose para o centro do cômodo para que pudesse ver tudo em uma só olhada. “Quando tomei posse da casa, esta tinha nada mais que dois balcões e alguns poucos gabinetes. Maria e eu trabalhamos com um dos melhores desenhistas de cozinhas da área para fazer isto”.

    “É linda. É igual às cozinhas que se vê nas revistas”, disse Rose. O colossal refrigerador luzia painéis de carvalho claro na frente, combinando com o resto da decoração da cozinha. Uma divisão de luxuosas artes de cozinha que estava completada justo no centro do cômodo com um fogão e uma pia assim como um espaço para o lixo construído em recortes xadrez. Sobre suas cabeças estava uma barra de ferro forjada sustentando brilhantes panelas e caçarolas de cobre. No extremo oposto do cômodo havia uma porta de correr grande de vidro que dava para o caminho de entrada e para a garagem mais atrás. Toda a cozinha estava acabada em carvalho, cobre e aço com muita luminosidade, dando uma sensação de uma área bem ventilada. “O que é esta porta?”.

    “Esta conduz a lavanderia. Não é nada excitante, nunca vou aí”.

    “Um cômodo só para lavar? Posso vê-lo? Quer dizer, se não for muito problema”.

    “Em absoluto, Rose. Não é problema algum”, disse Ronnie, sorrindo na obvia aprovação do olhar e voz da jovem mulher. Elas se dirigiram ao cômodo de tamanho mediano. Chamá-lo de lavanderia era subestimá-lo. Além da indispensável lavadora e secadora, também havia a tábua de passar, várias estantes para armazenar a roupa fora de época, um armário com tudo, desde amaciantes de roupas e detergentes para tirar manchas e as lâminas para secadora, em uma prateleira para roupas em uso.

    “Esta casa é assombrosa. Se vivesse aqui, jamais desejaria ir embora”. Seus olhos se dilataram ao pensar na maneira em que sua declaração poderia ser tomada. “Eu… quero dizer, é realmente um lugar agradável, não que eu…”.

    “Relaxe, Rose, sei o que você quis dizer”, a alta executiva disse. “Não gostaria de sair daqui tampouco. Por isso tudo está desenhado para minha comodidade, e de Maria é claro”. Esticou o braço e desligou a luz. “Bem, isso é tudo”, disse quando empurrou Rose novamente para a cozinha. “O resto do lugar está lá em cima ou no sótão e não vamos nos aventurarmos ali hoje”.

    “É realmente uma linda casa, Ronnie”.

    “Obrigada. Fico feliz que você goste”, respondeu, considerando seriamente a aprovação de Rose sobre seu lar mais do que havia considerado antes de qualquer pessoa. “Então lhe levanto para jogo de Trivial Porsuit ou o que?”.

    “Oh, essa mesa na sala de jantar é muito alta para esta cadeira”, Rose disse se desculpando.

    “Não há problema. Acha que uma das que estão na sala de jogos seria mais adequada?”.

    O resto da manhã foi passada na sala de jogos onde completaram quatro partidas de Trivial Pursuit, terminando com um empate de dois a dois para cada uma. Então voltaram para o escritório onde assistiram a muitos vídeos da Juíza Judy que Ronnie havia guardado, mas que havia estado muito ocupada para assisti-los. Tabitha lhes fez companhia, alterando-se em dormir na cama com Rose e saltar para o colo de Ronnie na cadeira.

    Pouco depois de comer Rose tomou a metade de um Percocet e se acomodou para cochilar um pouco, as atividades da manhã cobraram seu preço em suas ainda cicatrizantes pernas. Ronnie fingiu trabalhar no computador, mas na verdade estava só esperando que a jovem mulher dormisse. Quando olhou os suaves, tranqüilos roncos, se afastou da mesa do computador e se ajoelhou junto à cama. Observou a regular subida e descida do peito de Rose alguns minutos antes de meter a manta ao redor dela e sair do lugar, assegurando-se que a porta ficasse entreaberta.

    *********

    Rose sacudiu sua cabeça grogue e abriu os olhos. Estava escuro do lado de fora, mas com os curtos dias do inverno, não poderia dizer se era cinco ou oito horas. Uma olhada aos números vermelhos do relógio lhe disse que eram quatro para as seis. Sua bexiga dizia que era tempo para algo completamente mais. Suspirou diante do pensamento de ter que pedir a Ronnie que lhe ajudasse novamente com essa tarefa. Seus olhos caíram no assento, colocada na pequena mesa junto à cama. Estava dentro do alcance de sua mão… Talvez…

    Ronnie estava cortando champignon quando ouviu o grito pungente. A faca bateu no chão quando ela saiu correndo da cozinha para o escritório enquanto os gritos continuavam.

    “Oh Deus… ahhh…”. Rose ainda gritava em angustiante dor quando Ronnie entrou. A jovem mulher havia conseguido rodar sobre seu costado tentando colocar o assento debaixo de si mesma, mas no processo sua perna esquerda caiu sobre a direita e a torceu, enviando intensas dores através de seu tornozelo. “Oh Deus isto doe!”.

    Ronnie não perdeu tempo, agarrou o pé esquerdo e levantou a perna a afastando da direita que estava por baixo da outra. Rapidamente conseguiu colocar Rose de costas novamente. “O que aconteceu?”.

    “Eu… eu queria só”. Suas palavras foram interrompidas por soluços quando começou a chorar desamparadamente.

    “Está tudo bem agora, está tudo bem”.Ronnie a levantou sobre a cama e puxou Rose contra si com um braço enquanto alcançava com o outro o frasco de Percocet. “Tudo bem Rose… Agora está tudo bem”. O tampão do frasco saiu voando sob a força de seu polegar. “Aqui, agora, tome isto”.

    Rose colocou o comprimido inteiro na boca, seguido de alguns goles de água para engolir. Os soluços diminuíram um pouco, mas seus braços seguiam envoltos do pescoço de Ronnie. “O que aconteceu?”.

    “Eu… eu tive que ir… e… e…”.

    “Por que não me pediu? Deixei a porta aberta para poder lhe ouvir”. Qualquer coisa que Rose tentava dar como resposta se perdiam em seus soluços, as únicas palavras que Ronnie podia recuperar eram “desculpe” e “preocupe”. “Okay… entendo”, a ninou. “Entendo, tudo está bem”.

    Passaram-se uns dez minutos antes que conseguisse que Rose se acalmasse para conseguir colocar o assento em baixo de seus quadris. “Acho bom irmos ao hospital para que possam assegurar que os ossos ainda estejam alinhados”.

    “Não bati este com muita força…”.

    “Não sabe isso, Rose. Se mover uma mínima parte, você terá problemas para andar outra vez, você sabe”.

    “Não quero voltar para lá”, disse temerosa. “Desculpe, por favor, não me faça voltar”.

    “Shriii… não estou querendo que volte. Só quero me assegurar de que não haja nenhum dano, é tudo”. Abraçou Rose outra vez. “Prometo que unicamente iremos para que lhes tirem umas radiografias de suas pernas e então nós voltamos para casa”.

    Eram quase duas da manhã quando retornaram da sala de emergências. Ronnie ficou bastante irritada pela demora que a ambulância levou para chegar, mas ficou ainda mais irritada pela hora e meia que teve que esperar para voltar para casa. O pensamento de comprar uma camionete para assim não ter que depender de outros para lhe ajudar a levar Rose de um lado a outro passou por sua mente mais uma vez, mas para seu alivio, nada estava fora do lugar. O jantar terminou não sendo o elegante banquete que havia planejado e então só esquentou as sobras no microondas devido o tarde da hora.

    Ronnie conseguiu colocar Rose novamente em sua cama e lhe deu uma severa advertência sobre tentar algo assim outra vez antes de cobri-la. “Vou ficar aqui no sofá para no caso de precisar de ajuda”, disse antes de apagar a luz e se dirigir à porta.

    “Ronnie?”.

    “Sim?”.

    “Desculpe”.

    Essas palavras trouxeram a mulher de cabelo escuro para novamente a cabeceira. “Eu sei, querida, e sei que é difícil para você, mas, por favor, só peça ajuda da próxima vez, OK?”.

    “OK”. Houve mais uma pausa. “Ronnie?”.

    “Sim?”.

    “Preciso de ajuda”.

    **********

    Ronnie esvaziou a última xícara de café e se debruçou na janela ao sol da manhã que empurrava a recém caída neve. Atrás dela, Rose continuava dormindo profundamente, não sendo em absoluto perturbada pelas atividades matinais da executiva no computador. Ronnie deixou a xícara vazia sobre a mesa e suspirou. Três horas emitindo declarações e folhas de cálculos haviam fracassado, não podendo encontrar nada sobre Propriedades Imobiliárias Cartwright. Os empreiteiros foram pagos, os recibos foram apresentados, tudo parecia um negócio normal. Então por que sentia que algo estava terrivelmente errado? Caiu novamente em sua cadeira e pegou o relatório outra vez. A resposta tinha que estar ali. Mas ao invés de voltar ao mundo dos livros mais antigos e entradas, os olhos de Ronnie vagaram a cama, onde o brilhante sol projetava um resplendor ao redor da adormecida forma. “Igual a luz do sol”, sussurrou para si mesma.

    O tempo começou a fazer tic tac enquanto continuava estudando silenciosamente Rose. Seus olhos azuis começaram pela parte superior, observando o suave cabelo cor mel que marcava o rosto de anjo. As sobrancelhas levemente vermelhas acentuavam as fechadas pálpebras com as naturais pestanas ondeadas. Um pequeno, arrebitado nariz se assentava justo por cima dos mais suaves preciosos lábios. O olhar fixo de Ronnie continuou descendo, passando pela camisa de dormir de grande tamanho e abaixo onde as curvas pararam. Seus olhos permaneceram cravados nos ossos quebrados, ocultos pelos moldes, recordando-se apenas por que a linda jovem mulher estava ali. Com uma mistura de culpa e pesar, Ronnie virou sua cadeira de novo a mesa e se concentrou em seu trabalho.

    O ruído da colcha acompanhado por um gemido de dor anunciou que a jovem mulher estava acordando. “Bom dia”, Rose murmurou, tentando enfocar os verdes olhos.

    “Quase tarde, na verdade”, disse Ronnie, deixando seu trabalho por um momento e virando para ficar de frente a sua companheira. “Não tenho muito para lhe oferecer entre o café e a comida, mas se quiser, saiu e vejo se posso conseguir um pouco de comida chinesa”.

    “Ooh, isso soa maravilhoso”. Os olhos de Rose se iluminaram como se fosse receber o maior presente de Natal do mundo. “Quero lhe agradecer outra vez por me levar ao hospital”.

    “Não se precisa de muito para lhe fazer feliz, não é mesmo?”.

    A jovem mulher ergueu sua cabeça de lado a lado pensando antes de responder. “Não, não realmente. Nunca havia muito, assim que extras como pedir comida para levar era impossível”.

    “Quanto tempo está sozinha, Rose?”.

    “Oh”, ela se ruborizou. “Você não vai querer ouvir sobre mim”.

    “Claro que quero”. Ronnie moveu sua cadeira para mais próximo e colocou os pés na beira da cama. “Vamos, será como partir em um sonho”.

    “Não sei…

    “Vamos, sunshine”, persuadiu, percebendo que havia utilizado o carinho nome somente depois que o havia dito. Moveu-se e deu uma olhada na janela. “Faz frio lá fora. Vou ligar para que entreguem e então você pode me contar tudo sobre Rose Grayson”.

    “Não há muito que dizer. Certamente nada particularmente interessante”.

    “Deixe que isso eu decido”, Ronnei rogou, seus olhos suplicavam para que a jovem mulher se abrisse.

    Rose baixou o olhar a manta por um momento, pesando suas opções e medos. Sentia-se tão segura, tão cuidada aqui. E se algo que dissesse, fizesse com que sua nova amiga pensasse algo diferente dela? Mas… Não havia nada nos olhos de Ronnie que sugerissem que julgaria algo que fosse dito. Talvez se relatasse levemente os detalhes…

    “Bem, como disse, realmente não há muito para contar. Tinha quase dois anos de idade quando meus pais morreram em um acidente automobilístico. Depois vivi com minha avó até que ela ficou muito doente para cuidar de mim”. Encolheu os ombros. “Depois vivi em diferentes lugares até que fiquei mais velha para ficar sozinha. Isso é tudo”.

    “Que idade tinha quando sua avó ficou doente?”.

    “Dez”.

    “Ela era sua única parente?”.

    “Sim”.

    “Sabe que isto parece mais como uma entrevista que uma conversa”, disse Ronnie, tirando um sorriso tímido da jovem mulher. “Conte-me uma história sobre você. Conte-me algo agradável que tenha acontecido com você quando você era criança”.

    “Algo agradável que me aconteceu?”. Rose ponderou o pensamento por um momento antes de sair com a apropriada história. “De acordo, mas primeiro ligue por essa comida que prometeu”.

    “Trato feito”, respondeu.

    **********

    Uns poucos minutos mais tarde a comida havia sido encomendada e agora era a hora para Rose contar sua história. “OK, esta foi quando tinha seis ou sete anos. Minha avó me chamou cedo em uma manhã e me disse que iríamos a um lugar especial. Empacotamos nosso almoço e pegamos um ônibus e parecia que andamos por horas. Tivemos que trocar de ônibus um par de ocasiões antes que pudéssemos chegar ali”. Os olhos de Rose brilharam diante da lembrança e seu olhar estava a muitos anos de distância do escritório na casa de Ronnie.

    “Ela me levou ao zoológico. Não nos pequenos zoológicos de animais que podemos ir nas férias de vez em quando, mas a um verdadeiro zoológico. Ali havia muitos animais… tigres, ursos, focas… era incrível. Passamos o dia inteiro ali e comemos o almoço próximo à jaula com os filhotes de ursos”. Colocou sua mão no tornozelo da mulher mais velha e se inclinou. “Minha avó me disse para não dar comida aos animais, mas quando ela não estava olhando lancei o resto de meu sanduíche em seu fosso”.

    “Soa como um dia realmente agradável”, disse Ronnie.

    “E foi. Foi um desses dias perfeitos em que não estava muito quente ou com muito vento ou algo assim. Vovó inclusive tinha moedas de dez centavos para colocar nas máquinas dessas bolinhas que usamos para alimentar as cabras”. Rose se recostou contra seu travesseiro e sorriu para o teto. “Dormi no caminho de volta, assim não me lembro muito bem disso, só me lembro o quanto feliz estava ao caminhar de volta para casa com ela desde a parada o ônibus”.

    “Parece que ela te amava muitíssimo”.

    “Ela amava”, a jovem mulher respondeu. “Vovó sempre encontrou maneiras de tornar nosso tempo juntas agradável. Depois que as tarefas estavam feitas, sempre jogávamos Monopólio, cartas ou algo”. Os olhos de Rose se nublaram e piscou para deixar a dor que chegou com a lembrança.

    “Minhas avós sempre estavam brigando uma com a outra”, disse Ronnie, esperando que uma história sua pudesse ajudar sua amiga a esquecer pensamentos tristes da época em que estava crescendo. “Ambas eram as típicas sogras. A vovó Cartwright nunca pensou que minha mãe era bastante boa e a vovó Mitchell pensava igual de meu pai. Tinha que vê-las nos dias de festa”.

    “Sempre teve muita gente ao seu redor nos dias de festas?”.

    “Sim, sempre aqui, também, bem, até que tomei posse. Agora as festa são realizadas na casa de Susan ou na casa de algum primo. Mas antes, tínhamos normalmente tinhas trinta ou quarenta pessoas aqui quando a família conseguia se reunir”.

    “Wow, dever ter sido um caos”. Rose pressionou o botão do controle remoto para a unidade de calefação construída na cama, esperando que ajudasse a diminuir o continuo incremento de dor em suas pernas.

    “Caos é uma suave forma de colocar. A tradição é uma coisa grande em ambas famílias e por certo o que era uma tradição para os Carwright não era uma para os Mitchell. Em alguns dias de festa aí estavam eles brigando dez minutos antes dos outros chegarem”.

    “Brigas?”.

    “Oh, não físicas… as habituais”, Ronnie sorriu. “No Natal normalmente podia começar com o que tínhamos para o jantar, depois até a maneira de como a árvore havia sido enfeitada”.

    “Está brincando!”.

    “Não, juro por Deus”. Levantou sua mão em solene juramento. “A família de minha mãe sempre esperava até a noite de Natal para colocar a estrela na ponta, mas a do lado de meu pai a colocava em cima muito antes, quando armavam a árvore”.

    “Isso parece uma bobeira para que as pessoas discutam, especialmente num momento em que só deveriam estar felizes de ver uns aos outros”, disse Rose, percebendo que talvez a família de Ronnie não era tão perfeita como havia pensado.

    “Talvez seja porque minha família se vê muito. Todos trabalham para Carwright Corp. De uma maneira ou outra”.

    “Acha que poderiam ficar mais próximos”.

    “Às vezes estão muito próximos”, respondeu Ronnie. “É como uma telenovela às vezes. Todos sabemos o que está acontecendo na vida de cada um todo o tempo. Não há verdadeira privacidade”.

    “Nunca pensei que pudesse ser tão difícil. Penso não tendo uma família, não consigo me colocar desse lado, ter muita gente ao redor”, Rose admitiu.

    “Nunca pensei em como solitário poderia ser um filho único”. As duas mulheres olharam uma para a outra pensativas quando velhas idéias se misturaram com novas estabelecidas verdades.

    “Quando estava em Dartmouth”, Ronnie começou, “amava a liberdade que estar longe de casa me dava. Nenhum toque de queda, nenhuma olhada de reprovação. Me sentia tão bem ao não ter que responder a ninguém ou me preocupar com minha imagem”.

    “Aposto que você era uma das que terminavam passando todo o tempo estudando e obtendo boas notas”, a jovem mulher se arriscou.

    “Pois sim, me formei com honra e fui um membro da Sociedade de Honra, mas também fui uma assídua em todas as boas festas”, lembrou. “Mais pelas aparências e pelos contatos que por algo mais, mas ainda, se algo divertido acontecia, eu estava ali. Isso não quer dizer que não tive minha parte de problemas. Em minha irmandade, esta foi minha maior travessura, nós compramos um carro que havia sido roubado por ladrões de cara em um ferro velho e o levamos clandestinamente para a casa do reitor no meio da noite e o trocamos por seu carro. Estacionamos o seu no quarteirão em uma pequena rua, mas o olhar em sua cara não teve preço quando ele saiu de manhã para pegar seu jornal e viu aquela sucata colocada na sua entrada”.

    “Deus, aposto que estava pronto para lhe matar quando descobriu”, Rose disse, tentando nao rir com a imagem do reitor olhando o que ele pensou que era seu carro desmontado.

    “Tenho um vídeo dele em alguma parte, quer ver?”.

    “Aposto que será divertido”.

    “Vou trazer”. Ronnie se levantou e se dirigiu a porta. “Sabe, tenho uma coleção de vídeos. Você gosta de comédias?”.

    “Adoro”, respondeu com entusiasmo.

    “Tenho um monte dessas ‘A vingança dos Nerds’ e ‘Porky’ esse tipo de filmes”.

    “Soa genial”. Olhou ao redor. “Hum, mas onde vamos assistir?”.

    Ronnie olhou ao redor, só agora que em sua pressa por conseguir um quarto pronto para Rose, não pensou em mandar colocar aqui um VCR. “Hum… bem… acho que teremos de assistir na sala. Há uma TV tão grande quanto esta e pelo menos tem um VCR. Então, quer levantar para isso?”.

    Ignorando a crescente dor em suas pernas, sorriu e assentiu. “Certo, mas não lembro de ter visto uma televisão lá”.

    “Você verá”. Ronnie sorriu com o pensamento de luzir seu apreciado sistema de entretenimento. Quando havia sido instalado, sua mãe e irmã haviam vindo para vê-lo. Susan pensou que era ‘uma peça grande’, e sua mãe pensou que era ‘bonita’, mas Ronnie sabia que era algo para estar orgulhosa. Depois de tudo, havia selecionado cada componente, igualando justo o equalizador apropriado com a melhor série de alto-falantes Bose de ‘som surround’. Inclusive foi ao melhor depósito de aparelhos eletrônicos da área para escolher pessoalmente sua televisão. Seu sistema de entretenimento era um tributo à alta tecnologia eletrônica e Ronnie se agitava com esta oportunidade de luzir.

    *********

    “Ficará bem aqui por um minuto?” Ronnie perguntou, Rose estava sentada em sua cadeira de rodas, na beira da escada que conduzia ao desnível da sala de estar.

    “Com certeza”.

    “Preciso mover o sofá para que você possa ver melhor”. A primeira coisa que teve que fazer foi mover a mesinha de café de sólido mogno para fora do caminho. Esta tinha uma gaveta cheia de controles remotos, cada um etiquetado claramente com o nome do artigo que operava. Também tinha todos os manuais dobrados nos cantos à medida que eram usados.

    O seguinte foi o sofá. Com uma facilidade que mostrava claramente sua força, Ronnie levantou o extremo direito para levantar um pouco o tapete e utilizou suas pernas para movê-lo até que este esteve de frente ao armário no centro da parede. “OK, tudo preparado”. Antes que Rose pudesse grunhir um protesto, a mulher de cabelo escuro caminhou para trás dela, agarrando a cadeira de rodas e levantou a ambas para fora do tapete. Ronnie suavemente desceu a cadeira de rodas no nível inferior. “Deixe-me trazer as almofadas para sua cabeça e então lhe ajudarei a sentar no sofá. Neste você vai poder se deitar e desfrutar do filme”.

    “Mas onde você vai sentar?”.

    Ronnie só sorriu. “Dê uma boa olhada neste sofá, Rose”. A mulher loira guiou a cadeira de rodas para frente do sofá. “Parece um sofá muito bonito, mas…”. Ronnie foi até o outro lado e se sentou, alcançando o almofadão e uma alavanca que estava escondida ao lado.

    “É um desses reclináveis!”.

    “Sim… veja isto”. Ziguezagueou sua mão entre uma dobra na suave pele e puxou, revelando uma bandeja escondida para aperitivos dentro do centro do almofadão.

    “Oh, isso é agradável!”.

    “O que posso dizer? Sou uma criatura que gosta de conforto”. Ronnie disse com um sorriso. “Aqui, vamos lhe acomodar. Vai amar a suavidade disto”.

    “Ooh! É agradável”, a jovem mulher disse arrastando a voz depois de afundar no maravilhoso sofá.

    “Não poderia lhe dizer quantas vezes acabei dormindo nele”, a orgulhosa dona disse quando se aproximou ao armário e ficou de frente ao centro. As portas duplas se abriram para revelar uma grande tela de televisão e as estantes sobre esta, cheias com um equipamento de estéreo tendo na parte superior da fileira um VCR de seis cabeças. Deslizou as portas dentro de seus espaços ocos antes de se virar para fazer frente ao olhar de Rose que estava confortavelmente relaxada sobre seu sofá. “Vou trazer o filme e algo para bebermos”. Voltou poucos minutos depois com refrescos para ambas e uma caixa preta com vídeos. “Espero que ‘A vingança dos Nerds’, seja boa porque é uma das que peguei”.

    “Parece bem para mim. A vi só uma vez, na televisão”.

    “Oh, tem que ver esta. Cortaram algumas das melhores cenas, quando passaram na TV”. Ronnie alcançou na gaveta da mesa de café vários controles remotos antes de decidir-se por três deles. “Vamos ver agora, tenho uma lista aqui em alguma parte…”. Revirou os manuais de um lado a outro até que encontrou um em que havia escrito. “Aqui vamos”.

    Alguns segundos depois a televisão estava ligada, o vídeo rodando e o forte som chegava a cada canto da sala. Ronnie havia passado um mês ajustando os ângulos dos alto-falantes fazendo a melhor combinação com a natural acústica do arqueado teto. Um satélite que nutria dava imagens digitais perfeitas na tela de cinqüenta polegadas da enorme televisão. Havia comprado originalmente um projetor de televisão, mas este agora residia no ginásio. Foi substituído por a mais viva imagem e a mais alta qualidade de um transmissor. Os créditos estavam justamente começando quando ouviram um carro vir sobre a entrada principal. “A comida chegou”, disseram ao mesmo tempo, atraindo mútuos risos afogados e sorrisos que poderiam continuar ao longo dessa preguiçosa tarde de domingo.

    *********

    A segunda-feira chegou como fazia sempre, forçando atenções para as coisas de importância, além das outras. Este particular dia também trazia com ele, altas temperaturas e o derretimento da neve. Maria chegou as 7:30am, meia hora atrasada. Segunda-feira era o dia que parava no supermercado, primeiro para comprar leite fresco e pão para repor o que quer que seja que Ronnie tivesse esgotado no final de semana. Normalmente não era problema, mas um acidente próximo na rota 378 e 9, havia parado o tráfego durante quase uma hora. Ronnie já estava na ducha após seus exercícios da manhã. Quando Maria andou pelo vestíbulo, a governanta deu uma olhada curiosa nos móveis da sala que haviam sido movidos, observando a enrugada manta e a almofada. “Não acha que você não deveria estar aí?”. Perguntou ao alaranjado e branco gato que dormia nelas.

    “Mrrow?” Tabitha levantou sua cabeça ao ouvir a voz e seguiu rapidamente a Maria a cozinha. Esta era a mulher de cabelos escuros que lhe dava todo o tempo pequenos pedaços de carne, lembrou o felino.

    “Vejo que assumiu o controle enquanto estive fora, eh?”. Deixou as bolsas sobre o balcão antes de deixar seu porta-níqueis na gaveta reservada para esse propósito. Sua molhada jaqueta entrou na lavanderia junto com seu cachecol. “Bem, vamos ver se podemos tentar preparar algo rápido antes que Ronnie desça”.

    “As coisas estão bem ruins lá fora”, a mulher de cabelo escuro disse quando entrou na cozinha minutos depois. “Acho que talvez possa tomar o dia livre e permanecer em casa”.

    “Teve um bom fim de semana? Vejo claramente que deixou bastantes pratos para mim”.

    “Realmente tive um bom fim de semana”, Ronnie respondeu quando cruzou a cozinha procurando uma xícara do recém coado café. “As ruas estão horríveis, correto?”.

    “Não são as melhores, porém estão transitáveis”.

    “Podem ficar piores”, disse, fazendo com que a declaração soasse mais como uma pergunta.

    “Acho que sim, podem, Ronnie. Não vi a previsão do tempo esta manhã”.

    “Então poderia ficar pior lá fora”. A executiva parecia contente com seu raciocínio. “Acho melhor trabalhar em casa hoje. Não quero correr riscos”.

    “Claro que não, além disso, você está a quantos quilômetros, oito ao algo assim, do trabalho?”. Maria abriu a geladeira para examinar os danos do fim de semana. Omelete?

    “Soa delicioso. Vou ver Rose enquanto você prepara isso”.

    “Acho que champignon e pimentões verdes… oh, e queijo, claro”. Ronnie pegou sua xícara de café e se dirigiu ao escritório, deixando Maria com suas tarefas e com Tabitha que seguia a governanta na esperança de um convite.

    Rose ainda estava dormindo quando Ronnie entrou no escritório e enviou um e-mail a sua secretária e a Susan anunciando que ia trabalhar em casa esse dia. Rose dormia apesar do som da televisão que havia sido ligada e que constantemente tinha seus canais mudados de um a outro. A única coisa que a trouxe de seu mundo dos sonhos foi o cheiro de omelete e molletes¹ recém feitos quando Maria lhes levou o desjejum.

    “Sabia que algo tinha que lhe despertar”, Ronnie brincou.

    “Hummm? Oh, bom dia Ronnie”, disse, limpando o sono de seus olhos. “Bom dia Maria, como foi seu fim de semana?”.

    “Esteve bem, Rose. Como foi o seu?”.

    “Bem”. Cheirou o ar. “Oh, isso cheira maravilhoso”.

    “A comida de Maria sempre é maravilhosa. Por isso a mantenho ao redor”, Ronnie brincou.

    “Sabia que havia alguma razão”, a governanta devolveu a brincadeira. Virou sua atenção de novo à lastimada mulher. “Como está sentindo as pernas?”.

    “Doem muito, mas o calor parece ajudar”.

    “Faça o que lhe diz a doutora e estou certa de que levantará e andará logo”.

    “Sim, enquanto não tentar fazer tudo sozinha”, Ronnie concordou. “Tivemos que fazer uma viagem a ER”.

    “Vocês tiveram que ir até lá? Oh, meu Deus!”. Maria olhava de uma a outra. “O que aconteceu?”.

    Ronnie colocou a governanta a par do incidente enquanto Rose tentava sem êxito entre as garfadas trocar de assunto. A chefa da casa estava justo terminando seu desjejum quando a campainha tocou. “Essa deve ser sua enfermeira”, disse a jovem mulher.

    “Vou atendê-la, pendurarei sua jaqueta e depois a trarei aqui”, Maria disse.

    Poucos minutos depois a enfermeira entrou no quarto. “Olá. Meu nome é Karen Brown e serei sua enfermeira”, disse a Rose.

    “Olá. Sou Rose Grayson”. Estendeu sua mão a enfermeira.

    “Ronnie”, também estendeu a mão à executiva.

    “Suponho que a primeira coisa a se fazer é lavá-la e dar uma olhada nesses pontos em sua bochecha”. Karen deu uma olhada para Ronnie. “Quanto tempo está em casa?”.

    Ronnie optou por não corrigir a enfermeira sobre o estado de residência de Rose. “Recebeu alta na sexta à tarde”.

    “Fez alguma terapia passiva?”.

    “Não, mas esteve na cadeira de rodas um pouco”.

    “Isso não é terapia passiva”, a enfermeira Brown corrigiu. “Bem, então, acho que limparemos os ferimentos e podemos começar”. Deu uma olhada na bochecha de Rose e nos pontos que corriam através dela. “Não há mostras de infecção aí. Quanto se supõe que voltará para retirar os pontos?”.

    “Sexta-feira. Com um pouco de sorte me levantarei e andarei outra vez”.

    Karen empurrou seus óculos acima sobre seu nariz. “Não teria tantas esperanças, Srta. Grayson. Suas pernas atravessaram um enorme trauma. Vai levar tempo e muito esforço antes que a senhorita possa sair sozinha. Não vamos nos preocupar em caminhar ainda e só nos concentremos em conseguir que se curem”.

    Ronnie se levantou e pegou sua xícara vazia. “Vou pegar mais café. Quer um pouco, Rose?”.

    “Sim, por favor, obrigada”. Devolveu-lhe sua xícara.

    “E quanto a você, srta. Brown?”.

    “Oh, nada, obrigada. Não bebo cafeína”.

    “Volto em um minuto”. Dirigiu-se a porta, mas foi parada pela melódica voz.

    “Ronnie?”.

    “Sim?”.

    “Poderia me dar alguns minutos?”. Rose deu um envergonhado sorriso.”Tenho um par de coisas as quais preciso fazer”. Olhou mostrando o assento na pequena mesa.

    “Oh, uh, OK. Vou estar na sala se precisar de mim”.

    Mas Ronnie não entrou na sala de estar. Em vez disso, esteve com Maria enquanto a mulher mais velha tentava fazer suas tarefas diárias. “Então, você a viu. O que acha dela?”.

    “Ela não é minha enfermeira. Deveria perguntar a Rose”.

    “Acha que é boa? Quero dizer, a agência disse que era uma enfermeira qualificada. Eu deveria ter pedido mais informação sobre ela? Posso ligar para Susan e pedir a ela que investigue sua carreira com o Conselho de Estado”.

    “Se acha que deveria fazer, Ronnie”. Maria respondeu, o espanador em sua mão voava sobre as antiguidades. “Disse ou fez algo que você não aprove?”.

    “Bem… não, não realmente”.

    “Então, qual é o problema?”.

    “Não há problema. Só perguntava se deveria ou não, é tudo”, a executiva respondeu, com um tom um pouco irritado. Ficou parada ali um minuto, silenciosa, a tensão se erigia dentro dela. “Tenho muito trabalho para fazer e meu computador que está lá dentro”.

    “Tem outro lá em cima em seu quarto que poderia usar se tiver que fazer”.

    “Só que os dados que preciso estão neste”, mentiu, sabendo bem que ambos computadores estavam conectados com a rede nos escritórios corporativos.

    “Ronnie, se precisa entrar ali estou certa de que Rose entenderá”. O tom na voz de Maria fez com que a alta mulher se desse conta justo como estava soando. “Não, vou usar o de lá de cima. Avise-me quando o almoço estiver pronto”. Deu a volta e subiu as escadas.

    (¹) Molletes: é uma espécie de pãozinho ovulado esponjoso e pouco cozido.

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