Capítulo 4
por Officer Kiramman“A ideia parece excelente, tirando um mísero detalhe que você está… corporalmente indisponível?” disse a Doutora
“Morta, você pode dizer com todas as letras. Isso já foi superado”.
“O motivo de eu estar voltando para o Japão era para tentarmos reverter isso” disse Gabrielle. “Eu perdi essa chance no passado…” disse olhando para Xena com tristeza “Mas tinha esperança de que pudesse encontrar respostas no alto do monte Fuji. A água da fonte dele tem grande poder e…”
“Você ia tomar banho na fonte? Fantasmas tomam banho?” perguntou a Doutora fazendo uma careta em direção à Xena.
“Não! Talvez tomar a água…”
“Esperávamos encontrar algo a ser feito com as cinzas de Xena… Como na primeira vez em que tivemos essa chance. No entanto, perdemos essa oportunidade quando o sol se pôs. Eu iria atrás de uma alternativa, quem sabe negociar com as deidades locais…”
“Tomar a água…Você consegue tomar a água?” perguntou a Doutora ainda um pouco incrédula.
“Não seria a primeira vez. Mas isso apenas fortalece o meu chi. Não me reviveria”
“Porque você não tem um corpo material, claro. Então tudo se resume a acharmos um corpo. Ou criarmos um.”
“Energia regenerativa?” perguntou Yaz erguendo uma sobrancelha, entendendo para onde aquilo iria.
“Exatamente, minha pequena mente fantástica” disse a Doutora segurando o rosto de Yaz e lhe dando um beijo na testa para depois sair correndo em volta do painel da Tardis como se verificasse meia dúzia de controles.
“Você me contou sobre o que a energia regenerativa fez com Donna Noble, Doutora. Xena poderia acabar igual”.
“Donna Noble já dispunha de um corpo. E ela foi exposta a uma quantidade absurda de energia sem controle algum que eu havia depositado naquela…bom, isso não importa, o que importa é que aqui precisaríamos de uma quantidade muito pequena de energia comparado ao que geralmente é necessário para um senhor do tempo regenerar e talvez, apenas talvez…digo, Xena, tire-me uma dúvida, você costumava ter apenas um coração como a maioria dos humanos, certo?”
“Sim?” respondeu Xena erguendo uma sobrancelha diante da pergunta tão inusitada.
“Perfeito, existe zero chances de ela ser algo mais do que puramente humana, Yaz, logo com uma dose controlada de energia, o que não chegaria nem perto de gastar um de meus ciclos, então tire já essa cara de preocupação, poderíamos recriar o corpo biológico de Xena, então tudo que nos resta aqui são dois problemas… Primeiro, sem corporalidade, não temos como canalizar a energia em Xena, e segundo, se o plano também envolve reviver essa…Alti, precisaríamos de algum modo atingi-la com a mesma energia”.
Gabrielle levantou-se de onde estava sentada e olhou para as três.
“Vamos resolver uma coisa de cada vez. Se existe uma chance de trazer você de volta, Xena…Por favor não…”
“Eu não vou. Eu não vou desperdiçar” disse segurando a mão de Gabrielle no ar e entrelaçando os dedos com ela. “Eu prometo”. O seu olhar era sério e profundo. Ela podia sentir a respiração de Gabrielle pesar diante da promessa e sabia naquele momento que a promessa havia se tornado sagrada. Machucar Gabrielle novamente era algo que lhe destruiria, mesmo não existindo muito de si para ser destruído no momento.
Yaz se concentrou por alguns segundos na imagem das mãos entrelaçadas e arregalou os olhos
“Você consegue tocar em Xena!”
“Sim, Xena e eu somos almas gêmeas. Mesmo a morte não consegue nos separar, por isso eu posso vê-la e tocá-la. Mas até então eu era a única que conseguia fazer isso. Não entendo como vocês também podem enxergá-la” afirmou Gabrielle.
“A matriz de tradução da Tardis traduz automaticamente todas as linguagens do universo, escritas ou não. Quando você olha para algo ou é visto por algo, você comunica uma mensagem. É linguagem em sua forma mais básica, logo, traduzível e por isso podemos vê-la”. Explicou a Doutora casualmente. “Mas Yaz tem razão. Você tem um elo físico com Xena. Podemos usar seu corpo como um conduíte para a energia chegar em Xena”.
“Gabrielle está carregando um bebê…” disse Xena entre os dentes “Qualquer coisa potencialmente perigosa está fora de questão”
“A energia não é destrutiva. É regeneração” disse a Doutora.
“Como posso confiar em você?”
“Você não pode. Você acabou de me conhecer.”
“A Doutora colocaria a própria vida em risco antes de permitir que alguém se machucasse” disse Yaz.
“Xena, se esse é o único modo, a gente precisa tentar” suplicou Gabrielle “Existe uma razão para Alti não ter conseguido me atingir diretamente como fez com você quando gestava Eve. A tatuagem me protege da ação direta dela, por isso ela usou aqueles homens. Se a tatuagem conseguiu me proteger de Yodoshi e de Alti… Também me protegerá caso a energia tente me fazer mal. Além disso essas duas me salvaram.”
“Eu não sei… Gabrielle…você tem certeza disso?”
“A gente sempre lidou com o desconhecido. Desde o primeiro dia quando te segui, a minha vida tem sido uma sucessão de saltos de fé. Eu estou disposta a dar mais esse”.
Sabendo que não seria justo discutir com Gabrielle quando a escolha era verdadeiramente dela, Xena assentiu. Não tinha certeza sobre o que fariam a respeito de Alti, mas sentia que tudo que importava agora era estar ao lado de Gabrielle fisicamente para poder protegê-la e proteger o bebê que carregava agora. Devia isso a ela e a si mesma e embora não entendesse completamente como isso havia acontecido, sentia que em uma das poucas ocasiões em que isso ocorria, Afrodite havia acertado. Esse bebê era uma chance de redenção para ambas.
“Faça o que precisa ser feito” disse Gabrielle para a Doutora. Ela abraçou Xena encostando a cabeça em seu colo. A Doutora chacoalhou as mãos rapidamente, arregaçou as mangas e encostou nas costas de Gabrielle, em cima da tatuagem de dragão. Sua mão começou a brilhar com uma energia dourada.
“Você já fez isso antes?” perguntou Yaz.
“Não desse jeito. Mas você não está doida para saber se dará certo?”
Yaz balançou a cabeça e observou um brilho dourado fluir da mão da Doutora em direção à Gabrielle. A tatuagem de dragão brilhou em resposta, com uma leve luz prateada, mas logo apagou-se, como se permitisse que a energia regenerativa seguisse seu curso. Ela seguiu. Todo o corpo etéreo de Xena começou a brilhar em dourado por alguns minutos. Gabrielle tirou a cabeça de seu peito e olhou para ela assustada.
“O que foi?” perguntou Xena, preocupada. “Você está bem?”
“Calor. Você está emanando calor.”
A Doutora soltou Gabrielle e as observou com curiosidade.
“Deu certo então?” perguntou Xena. “Eu me sinto…estranha.” ela esticou o corpo ainda abraçado por Gabrielle como se as coisas se ajustassem em seu lugar. Gabrielle afastou-se um pouco, tirou o chakram do próprio cinto e o estendeu para Xena. A lembrança da última vez que havia feito isso e visto a mão de Xena atravessar direto o metal lhe assombrou por alguns segundos. A guerreira suspirou hesitante e aproximou sua mão, fechando-a ao redor do objeto. Imediatamente sentiu o frio do metal em sua pele. O segurou firme, sentindo novamente seu peso.
“Xena…” o olhar de Gabrielle se iluminou. Ela atirou-se novamente ao colo de Xena, jogando suas pernas ao redor da cintura da guerreira que deixou o chakram cair e a segurou num abraço apertado. Xena prendeu-se por alguns segundos à sensação do seu próprio coração batendo junto ao de Gabrielle e fechou os olhos se entregando à sensação de seu corpo reagindo ao sentir o abraço apertado da pessoa que mais amava.