Poucos dias depois, centro comercial de Salem…

Elizabeth estava parada à sombra perto da barraca de um velho mercador observando de longe a correria das pessoas no largo da praça. Ele embrulhava alguns produtos zunindo alguma canção velha, concentrado. Os olhos de Lizzie se voltaram para a sede da igreja e ela soltou um suspiro frustrado.

A canção foi interrompida pela voz rouca do velho homem.

-Eles estão destruindo essa cidade, é o que estão fazendo.  – Resmungou.

-O reverendo? – perguntou a jovem, voltando o olhar para o senhor de barbas brancas.

-Ele e o resto dos puritanos que compactuam com ele. Que Deus me castigue se eu não falo a verdade quando digo que vi eles arrastando uma criança que não devia ter mais de 8 anos para o tribunal. Eles começaram pegando gente fraca, que não tinham ninguém para a defesa, mas agora isso virou uma praga. Qualquer um pode ser acusado. Qualquer um pode ser um bode expiatório, uma confissão falsa em potencial.

-E a irmã do reverendo? Pegaram a moça que acusam de ter feito bruxaria com ela? – perguntou Elizabeth se fazendo de desentendida.

-É bem evidente que a “bruxaria” feita com ela não foi obra de nenhuma moça, se é que me entende, minha jovem. Demorou para que o reverendo aceitasse isso, mas agora ele está convencido de que a criança é um rebento do mau. Uma confissão, ou mesmo a cabeça do suposto culpado seria bem oportuno para ele restaurar a honra da família dele agora, ainda mais quando falta tão pouco tempo pra essa criança nascer.

-Você tem alguma idéia de o que eles farão com a criança?

-Que Deus proteja esse pequeno. Não me espantaria se afogassem o pobrezinho em algum ritual purificador. Mas eu te digo uma coisa, minha jovem… – disse o velho, colocando o pacote nas mãos de Elizabeth – Você deveria tomar cuidado e ficar longe por algum tempo. Um homem com a honra ferida pode tomar atitudes inesperadas. Sede de vingança não é algo que desaparece tão rápido.

-D- do que o senhor está falando? – perguntou Elizabeth surpresa, percebendo que aquele velho sabia mais do que poderia saber.

– Eu não estou falando nada. Não afirmo nada. Apenas escuto o que os maiores afirmam. E posso lhe dizer que escutei o braço direito do reverendo clamando que nem que lhe custasse a vida, os mestiços da costa metidos a heróis iriam ser castigados. Mas o que sei eu, um velho “tremedor” intruso numa comunidade puritana, minha filha?

Elizabeth colocou algumas moedas na mão do velho pelo embrulho.

-O senhor tem um bom coração.

-Bom coração tem você, minha jovem. Eu tenho apenas dois olhos quacres cansados de ver tantas vidas roubadas em vão naquela forca. Eu espero que isso possa acabar um dia.

A filha do vento…

O sol já assumia seu formato de meia lua na linha do horizonte tingindo o mar azul de laranja. Bandos de pássaros chegavam para se abrigar nas árvores da costa enquanto uma calma brisa agitava as folhas verde-amareladas e um silêncio tranqüilo imperava, sendo ele quebrado apenas pelo gorjear sossegado e pelas ondas quebrando violentamente contra as rochas.

John Mabe estava ao lado da casa, sentado de pernas cruzadas numa esteira de palha ao chão, moldando com suas mãos hábeis uma de suas peças de cerâmica, quando um pequeno batalhão de cerca de 15 homens armados com espadas e flechas chegou causando um trovejar leve com o trote dos cavalos.

No bosque detrás da casa, Aeleen e Lizzie estavam deitadas na relva descansando. A cabeça loira aconchegada no colo da mulher maior que lhe distribuía beijos pelo rosto e pelos lábios.

-Você sabe que eles enforcariam a nós duas só por isso – comentou Aeleen depois de um beijo mais prolongado.

-Essa é a pena pelo crime do amor?

-Pelo crime e pelo pecado.

-E você acredita nesse pecado?

-Sou pagã. – Riu a loira – druidas não acreditam nesse tipo de pecado.

-Ótimo, nem os nativos. Então suponho que não haja um inferno para eles nos mandarem.

-O inferno seria uma vida sem alegria. E esse eu decidi que quero evitar.

Os sentidos de Lizzie se aguçaram e seu corpo enrijeceu tenso. Aeleen percebeu e se levantou.

-Algo errado?

-Sim, cavalos. Nós precisamos voltar para a casa.

John levantou-se rapidamente e correu até a lateral da casa onde um suporte sustentava alguns aparatos. Retirou deles uma aljava que prendeu nas costas e um arco que transpassou pelos ombros. Além disso, pegou uma das melhores lanças.

Elizabeth apareceu no local portando sua espada, seguida de Aeleen que ignorara seu pedido de que ficasse dentro da casa, e carregava o arco que havia ganhado de Lizzie.

John levantou a lança tomando a dianteira e olhando firmemente para o homem que comandava o batalhão.

-Não queremos problemas com você, velho mestiço – disse o comandante, um homem branco, faces vermelhas pelo sol e cabelo loiro na altura dos ombros. Sua barba que não via uma navalha há semanas e seus olhos estreitos lhe davam uma aparência engraçada, apesar de seu tom de voz ser claramente ameaçador.

-Então por que os senhores não vão embora e deixam minha família em paz?

Aeleen naquele momento sentiu algo diferente dentro de si. A palavra família, usada por John claramente se estendia a ela e isso causou em seu coração uma explosão de um sentimento que não sabia definir muito bem, mas tinha certeza que era bom. “Minha família.”. Aeleen apertou a parte de madeira do arco em sua mão até branquear os nós dos dedos. Ela se entregaria de bom grado para salvar John e Elizabeth, mas sabia que isso não seria o suficiente. Os homens do magistrado os matariam em seguida por terem lhe protegido. E ela não podia permitir que aqueles homens fizessem algum mal às pessoas que fizeram ela sentir que fazia parte de algo em muito tempo.

Um homem que portava uma balestra a disparou em direção a Aeleen, mas os sentidos aguçados de Lizzie a fizeram empurrar a loira para o lado, fazendo-a cair e desviar da flecha. A morena se colocou na frente dela de maneira protetora.

Outro homem portando uma balestra a levantou, preparando-se para atirar, mas John foi mais rápido, e lhe jogou a lança que cravou no antebraço do sujeito, fazendo-o se prostrar ao chão urrando de dor.

-Essa luta não é sua, índio velho. Fique fora disso.

-Essa luta é minha sim. Essa luta tem sido minha há muito tempo. – disse John tirando uma flecha da aljava e preparando o arco.

Aeleen levantou-se e preparou seu arco, enquanto Elizabeth avançava se movendo quase como um predador. E talvez fosse até certo dizer que todo seu instinto predador estava sendo liberado agora. Ela saltava, tomando impulso em rochas e troncos e acertava os oponentes, ora com a mão fechada sobre o cabo da espada, ora com a lâmina.

John atirava suas flechas com agilidade, mas não podia dizer que era um grande lutador numa briga de perto. A perna danificada e a idade mais avançada lhe deixavam em certa desvantagem. Aeleen mirava nos homens que estavam mais à retaguarda e conseguiu acertar alguns com sua habilidade de aprendiz. No entanto, a multidão se aglomerava em volta de Elizabeth, como se soubessem que dentre os três ela era quem representava mais perigo, e devia ser detida primeiramente. Um dos homens avançou para cima de John, e levou um golpe no rosto com a madeira do arco. Outro desviava dos demais, avançando em direção à Aeleen, para ser detido por uma flecha vinda do arco de John. Quando a tropa de homens tinha caído pela metade, e a situação começou a ficar mais controlada, aconteceu o inesperado. John mirava sua flecha no líder, sabendo que se o derrubasse, seria mais fácil acabar com os outros. O tinha em sua mira, um tiro certeiro e seria o fim daquele homem. Nesse momento um estrondo ecoou nos ares. Os pássaros levantaram-se fugindo assustados, Lizzie empurrou um homem que havia acabado de atravessar com a espada e olhou para trás.

            Lá estava John, com as mãos ensopadas de sangue, caindo de joelhos.

            -Nãoo – a voz rouca de Elizabeth ecoou gutural.

            -Ele tem um mosquete – foram as últimas palavras que ele disse antes de cair desacordado.

            Os olhos verdes de Aeleen viajaram procurando o agressor e avistaram Wilhelm na retaguarda recarregando a arma de fogo. Sem pensar em mais nada deixou a flecha de seu arco voar, acertando o peito do homem que foi ao chão antes que conseguisse recarregar a arma.

Elizabeth, com sua concentração tirada ao ver o tio no chão, levou uma flecha no ombro, mas a dor que sentiu não importava. Apenas quebrou o projétil, e continuou avançando para o local onde John estava. Aeleen tentou avançar também, mas levou uma braçada de um dos homens, e foi ao chão. O mesmo homem virou-se, partindo para cima de Elizabeth que agora estava ajoelhada ao lado do corpo de John. Ela bloqueou seu golpe com a espada, mas todos os homens restantes partiam pra cima dela agora.

            Aeleen estava atordoada pela bofetada que levou, mas rastejava no chão áspero procurando seu arco. O avistou a alguns metros dali, mas estava partido, muito provável que propositalmente. Ela se levantou, olhando para Elizabeth que se defendia como podia, mas a situação era sem esperanças. As chances estavam todas contra ela.

            Seus olhos estavam cheios de lágrimas e então ela se lembrou de sua avó… Lembrou de Pavati… Lembrou de todas as jovens que estavam morrendo na cidade, e lembrou-se principalmente de Lizzie dizendo que às vezes a gente só tem uma escolha. Ela queria ter sido a garotinha dos seus pais… Queria ter sido apenas a aprendiz da sua avó lá na velha Irlanda… Queria ter sido apenas a neta de coração de Pavati…, mas nada disso era mais possível. Ela queria poder escolher viver junto de Lizzie e John, levar uma vida normal, sem ser julgada por malucos religiosos… Sem estar olhando nos olhos da morte o tempo todo. Mas a escolha que ela tinha agora não era essa. Ela virou-se de costas para a confusão, encarando o mar, encarando a beirada do abismo, e caminhou até lá. Fechou os olhos, escutando o barulho das ondas quebrando nas rochas lá embaixo, escutando o gorjear assustado dos pássaros. Ela precisava achar a serenidade dentro de si, e para isso ela precisava esquecer muitas coisas e renunciar a muitas outras. Não podia mais pensar no ódio que sentia de Marguerite ou de Joseph. Ela precisava se libertar de tudo.

Ela virou-se novamente encarando a luta. Lizzie resistia, tentando evitar que os homens chegassem perto do corpo de John. Ela sangrava por um corte no braço, e pelo ferimento da flecha. Também escorria sangue de seu lábio, provavelmente partido por algum murro.

Aeleen respirou fundo, sentindo a brisa fluindo, agitando seus cabelos e passando pelo seu corpo. Ela podia ouvir vozes abafadas sussurrando, chamando-a. Com os braços soltos ao longo do corpo, começou a fazer um movimento sutil com os dedos das mãos. As folhas do chão onde ela pisava começavam a se agitar conforme o movimento que ela executava. A intensidade do movimento ia aumentando gradualmente, e ao mesmo tempo, a vegetação a sua volta começava a se agitar mais forte.

Ela lembrava constantemente de esvaziar a sua mente e pensar unicamente na sua escolha. Pensar em Lizzie dizendo que às vezes o coração nos mostra como agir em nossos instintos. Ela não podia agir no ódio ou na vingança que queria. Eles não ajudariam em nada agora. Lizzie iria morrer, e tudo que importava era evitar isso. Era nisso que precisava pensar.

Ela levantou os braços num movimento brusco e os jogou no ar como um maestro comandando uma orquestra. Mas a orquestra que ela comandava não era de músicos. Seguindo seu movimento, uma rajada de vento se apressou em direção aos homens que atacavam Lizzie. O vento levava folhas, pedaços de vegetação, terra e pequenas pedras, atingindo aquelas pessoas a sua frente. Lizzie jogou-se ao chão, deitando e baixando a cabeça contra o peito de John para se proteger, mas os homens, desprevenidos foram pegos por aquela corrente de ar. A vegetação e as pedras os atingiam, lhes confundindo e fazendo-os recuar. Outro movimento de Aeleen mandou outra rajada de vento, dessa vez mais violenta, que acabou tirando o equilíbrio deles. Ela movimentava a mão circularmente, puxando o ar e moldando-o com sua vontade, amplificando o vento, e fazendo com ele um redemoinho. Com gestos decididos o mandou para cima dos homens, que desesperados tentavam se levantar para fugir, mas o ar, leve como era, tinha muito mais rapidez do que eles.

            Aeleen fechou então as mãos, subitamente e os movimentos pararam. O ar era quente e seco, e nem mais a brisa anterior podia ser sentida. Ela apertava os dedos contra as palmas das mãos, olhos fechados, cenho franzido. Os homens confusos e levemente atordoados, sem entender o que acontecia tentavam levantar, procurando suas armas. Foi então que ela abriu as mãos estendendo as palmas em direção a eles que foram dessa vez atingidos por uma explosão de ar violenta. Dois deles escorregaram caindo do penhasco, e os demais caíram ao chão, um deles encontrando seu fim ao chocar a cabeça contra um pedregulho e os outros dois ficando desacordados.

            Elizabeth ainda ofegava debruçada sobre John. A expressão de Aeleen era gelada como uma pedra. Ela olhou para um dos homens desacordados e o acordou com uma bofetada na cara. Atordoado, o soldado abriu os olhos e encontrou dois olhos verdes cheios de fúria lhe fitando. Ela lhe segurava o pescoço com tal força que era difícil acreditar que uma garota do porte dela tivesse.

            – Eis o que você vai dizer ao reverendo Stokes: Ele queria uma bruxa, então agora ele terá uma bruxa. Que a caçada comece agora. Mas a caça dessa vez será ele.

Tendo se livrado dos dois restantes…

Aeleen agora voltou sua concentração ao que precisava ser feito. Correu para junto de Lizzie e lhe puxou pelo ombro.Acariciou de leve o rosto machucado da morena, sentindo seus olhos se encherem de lágrimas novamente, pela dor que ela devia sentir. Olhou para John e colocou os dedos no pescoço do homem.

            -Ele está vivo, mas a pulsação está enfraquecendo. A gente precisa fazer parar de sangrar.

Rapidamente Lizzie cortou a manga da roupa que usava, pressionando o tecido contra o peito de John. Depois disso ambas com grande dificuldade o transportaram para dentro da cabana Aeleen rapidamente revirou seus frascos de ervas e soluções, procurando algo que servisse. Derramou um líquido na boca de John e apoiou a cabeça do velho num travesseiro.

            Do meio das porções retirou outro frasco menor e estendeu para Lizzie.

-Tome isso.

-O que é isso?

-Um antídoto, pro veneno da flecha. Se você não tomar, o veneno começará a agir e você logo ficará inconsciente.

Elizabeth fez o que ela pediu.

-Acenda o fogo, rápido – disse para a morena.

Enquanto o fogo revivia, a loira trabalhava limpando a ferida de John. Levantou-se em seguida pegando uma faca e levando às chamas.

            -Eu preciso que você segure os braços dele. Eu lhe dei um líquido que vai diminuir a sensação de dor, mas se ele acordar, ele pode gritar e reagir. Eu preciso tirar a bala do corpo dele, o metal dela é tóxico e vai matá-lo antes do sangramento se eu não fizer isso. Lizzie fez o que ela pedia, sem contestar e observou a jovem fazendo o menor corte possível no ferimento do tiro. Em seguida, com a própria mão ela puxou o projétil de chumbo para fora. Saiu apressadamente para fora da cabana, voltando poucos segundos depois com um seixo liso e alongado, que segurou em cima do fogo com um aparador. Depois de a pedra esquentar o suficiente, voltou-se para John e aplicou o seixo quente em seu ferimento, de modo que o sangramento parasse.

            -Eu sei que isso pode parecer loucura Lizzie, mas é a única chance de fazê-lo melhorar. Ele não vai agüentar até chegar no centro de Salem para ser atendido pelo boticário.

            -Eu confio na sua sabedoria, faça o que você tiver de fazer – disse Lizzie sentando ao chão se recostando contra a parede perto do catre onde John repousava.

Aeleen pegou então outra de suas infusões e levou aos lábios do homem, o fazendo beber alguns goles. Depois disso tirou algumas folhas de um pote e as esmagou, misturando com um pouco de água e aplicou no ferimento de John.

-É tudo que posso fazer por ele no momento… Ele não está mais sangrando e a infusão tentará evitar alguma infecção. O cataplasma vai aliviar a dor. Agora ele precisa descansar, é o único modo de melhorar.

-Ele corre risco de morte ainda?

Aeleen suspirou cansada.

-Não pelo sangramento, mas se a ferida infeccionar ele vai ter febre. E ela vai precisar ser detida.

Elizabeth entendeu que aquilo era um sim.

-Venha – tomou a morena pela mão, lhe dirigindo até a cozinha e lhe fazendo sentar-se numa cadeira de frente pra ela. Cuidadosamente começou a limpar os ferimentos do rosto de Elizabeth, passando um ungüento que aliviava a dor.

Após terminar essa primeira etapa fez o mesmo com o braço cortado e por fim partiu para o ferimento da flecha. Ainda havia um pedaço dela cravado no ferimento e Aeleen teve que tirá-lo, embora a idéia de fazer Elizabeth passar por mais dor lhe fizesse sofrer tanto quanto ela sofria agora.

-Eu preciso fazer parar de sangrar. – disse após terminar de limpá-lo

-Faça isso. – disse Lizzie, enrijecendo o maxilar, a espera da pedra queimando se ombro. Mas em seguida percebeu que a dor que a eminência de perder seu tio lhe causava era maior do que a dor do ombro ferido.

Após terminar os cuidados, Aeleen lavou seu próprio rosto que estava sujo de terra, suor e sangue. Não tinha maiores machucados a não ser o que se originou da pancada que levou. De repente se sentiu culpada, por aquelas duas pessoas terem dado tudo de si para protegê-la, e saírem tão mais machucados do que ela própria. Sentada perto do fogo, fitou as próprias mãos, lembrando-se do que tinha feito e engoliu seco. Estava exausta, o que tinha feito lhe drenou quase todas as forças e seu corpo doía. Não entendia exatamente como tinha feito aquilo, mas sentia que agora não importava tanto. Só queria descansar.

-Você precisa descansar Lizzie. Você sofreu alguns ferimentos feios também, e precisa se recuperar.

-Preciso – respondeu a morena, com uma voz inexpressiva. Aeleen notou que ela estava estranha e um temor começou a surgir dentro de si. De repente lhe ocorreu algo que não havia ocorrido antes. Elizabeth presenciara o que ela tinha feito. Devia estar assustada, receosa, achando que ela era de fato algum tipo de feiticeira e que tinha mentido para ela. Mas não tinha forças agora para tentar explicar, mesmo porque não tinha certeza do que explicar.

-Eu dormirei no quarto do seu tio essa noite. Fique com a sua rede ao lado do catre.

-Pegue a rede dele e traga até nosso quarto. É mais seguro que fiquemos perto, em caso de alguém aparecer pela madrugada.

Aeleen fez o que Elizabeth disse e então se acomodaram.  Mas dormir era algo que ninguém conseguiria naquela noite.

[1] “Tremedor” : Modo pejorativo como a sociedade puritana chamava os Quakers ou “Quacres”. Chamada também de Sociedade dos Amigos, foi um grupo que reagiu contra abusos da Igreja Anglicana, rejeitando qualquer organização clerical para viver no recolhimento, na pureza moral e na prática ativa do pacifismo, da solidariedade e da filantropia.