CAPÍTULO 5

Aquela situação toda não era exatamente nova para o Doutor, ele já estava acostumado a ter que lidar com monstros nojentos e estranhos e até mesmo com a TARDIS dando defeito. Mas tinha algo nas novas amizades dele que o preocupava um pouco.

Ele e Xena andavam pelos corredores escuros e silenciosos da nave. Boa parte deles estava tão engosmeado que era impossível saber para que lado o monstro tinha ido. Mas o Doutor tinha certeza de que o bicho o seguiria, era o que ele estava fazendo desde Limus 268 e não ia parar agora.

– Então, Xena, quem é você exatamente?

– O que você quer dizer? – Xena respondeu, o mal humor transparecendo em sua resposta. Desde de que tinha entrado naquele navio já tinha matado seu filho/neto de consideração e lutado mais algumas lutas que a deixaram pouco receptiva.

– Eu não faço ideia de quem é você, mas a sua amiga me deu a entender que você é alguém importante. – Ele disse levantando um cano grande que estava no caminho para que Xena passasse por baixo.

– Eu não sou importante.

– … Saquei… – Ele disse pensativo – Olha, chegamos.

Eles pararam diante de uma estrutura gigante, com muitos cabos e canos correndo de uma ponta a outra da sala. E uma infinidade de botões e alavancas que nem em seus sonhos Xena poderia imaginar ser capaz de entender para o que serviam.

O homem puxou um teclado de um dos consoles e começou a digitar. Xena passou a andar por entre os corredores das máquinas, aquela sala parecia estar especialmente suja de gosma e, agora que as máquinas estavam paradas era possível ver a forma como a gosma interagia com todos os outros fluidos estranhos do ambiente, e acabava sendo transportada de um lado ao outro pelo encanamento da sala.

– Como vamos limpar isso?

– Não vamos, pelo menos não agora. – Ele respondeu colocando o teclado de volta.

– O que viemos fazer aqui então?

– Eu deixei tudo pronto, assim que eu apertar esse botão. – Ele disse mostrando o botão de um controle remoto. – Rose vai receber o sinal para ligar a nave de novo os protocolos vão ser acionados e a TARDIS vai lançar milhares de nanorobôs para limpar essa sujeira.

– Mas não adianta nada limpar isso se o monstro continuar pelo navio.

– Isso. A gente tem que dar um jeito na criatura.

Não era necessário muito esforço para que eles encontrassem o monstro. Assim que o homem terminou de falar uma gota de gosma enorme caiu entre eles. Os dois olharam para cima e viram o bicho que urrou para eles e se jogou para o chão.

– Cuidado Xena, a gosma tem um toxina anestésica para vocês humanos, vai te fazer apagar se encostar em você!

Xena não pareceu se importar com o que o outro disse, e assim que pode tentou cortar a gosma. Cortou-a várias vezes e em diversas direções mas isso não parecia desestabilizar o monstro. Ele tentava revidar as investida de Xena com seus punhos gigantes e gosmentos, desferindo socos pesados no chão, que a guerreira desviava pulando para trás.

– Como que mata isso?

O Doutor puxou sua chave de fendas – Deve ter algum núcleo…

Xena estava começando a ficar sem espaço para desviar do monstro.

– Doutor!

– Sim! É ali! Na bolha da esquerda! – O Doutor apontou para uma das protuberâncias do bicho.

Assim que o monstro ouviu o homem ele se virou bruscamente e, com os braço derrubou o magricela para o outro lado da sala.

CLICK

– Ah não… – ele disse ao perceber que o impacto o fez apertar o botão.

As máquinas começaram a se mexer, as luzes acenderam. Era possível ver a gosma se desprendendo do monstro e sendo sugada direto para alimentação do encanamento da TARDIS. 

xxx

 

A ponte de comando da TARDIS estava uma bagunça. Todo tipo de fiação, eletrônicos e móveis que antes estavam arrumados lá, agora voavam de um canto ao outro, enquanto uma mulher nua coberta por um resíduo branco parecia arremessá-los, com a mente, contra Rose e Gabrielle.

– Esperança! Para! – Gabrielle disse, desviando de uma cadeira.

– Quem é essa pessoa?? – Rose perguntou se protegendo atrás do console da ponte.

– É minha filha!

Esperança levitou Gabrielle pelo pescoço, a loira esperneava enquanto tentava se soltar e puxar para os pulmões o máximo de ar que conseguia.

– Qual é o problema com os filhos de vocês??? – Rose perguntou acertando uma cadeirada em Esperança.

A semi deusa caiu no chão, liberando a mãe do sufoco.

– Rose, sai daí!

Esperança virou bruscamente para a inglesa e a jogou para longe, então se levitou para o alto e começou a levitar todo móvel que não estivesse preso para perto dela.

Gabrielle correu para Rose e a ajudou a levantar.

– A gente tem que desligar a nave, o Doutor ainda não limpou a sala de máquinas! – Gabrielle disse.

Cada uma das garotas teve que pular para uma lado, quando Esperança jogou uma tela na direção delas.

– Não dá, a gente vai ter que derrubar ela!

Esperança desconectou um pedaço muito grande dos comandos da nave, e então o arremessou em direção à mãe. Gabrielle tentou pular, mas não conseguiu desviar completamente e caiu desacordada no chão.

– Gabrielle!

Esperança sorriu pelo canto da boca e então se virou para Rose.

Uma chuva de objetos foram arremessados contra a garota, mas ela conseguia se desviar, ora se escondendo atrás de algo maior, ora se jogando no chão. Foi indo assim até chegar em Gabrielle que ainda estava caída. Pegou seu cajado, e olhou de volta para a mulher no ar.

O caminho não era claro, mas Rose começou a escalar os objetos maiores que Esperança levitava, e de pulo em pulo foi se aproximando, sempre tendo que desviar de alguma coisa que a mulher jogava.

Esperança afastou a plataforma em que Rose estava para longe de si. Mas não contava que a loira pularia de lá, com o cajado em riste.

Com um único movimento, Rose abaixou o cajado com o máximo de força que pode, Esperança despencou no ar e bateu no chão, assim como Rose e tudo o que estava sendo levitado até então.

xxx

 

O Doutor ainda estava vendo tudo dobrado, não tinha conseguido se levantar mas conseguia ver o borrão do bicho se aproximando e se preparando para acerta-lo com um soco.

WHOOSH

O chakram voo pela sala e cortou a bolha esquerda, ricocheteou nas máquinas e ainda acertou a criatura mais algumas vezes antes de voltar para as mão de Xena. Toda a gosma que antes estava agrupada para formar a criatura se desprendeu e caiu, se espalhando pelo chão numa enorme poça de meleca.

– Ai, graças a deus, eu ia ficar melecado pro resto da vida! – O homem disse aliviado enquanto Xena o ajudava a levantar.

– Acabou agora?

– Ah, sim! Os nanobôs não tavam dando conta de limpar as tubulações com a criatura secretando tanta gosma de uma vez, agora eles devem conseguir limpar as coisas agora. E a TARDIS vai parar de fazer os backups de emergências bugados.

Quando Xena e o Doutor voltaram para a ponte, viram que tudo estava revirado. Rose colocava uma bolsinha de gelo na cabeça de Gabrielle que estava sentada em meio aos destroços.

– Gabrielle!

O Doutor examinou-a com a chave de fendas e assegurou que ela ficaria bem. Um alívio generalizado passou pelos quatro, agora que finalmente as ameaças tinham acabado.

xxx

 

O dia amanheceu perfeitamente normal em Atenas, nem parecia que a noite anterior o céu estava caindo em chuva. Já era cedo o suficiente para os lojistas começarem a arrumar suas barracas para um novo dia de trabalho. Existia um sentimento feliz no ar, já que daqui algumas horas um popular morador celebraria seu casamento, dando início a um feriado prolongado.

Imersos em seus afazeres antes da festa, a maior parte dos atenienses que estavam na praça central da cidade nem se deu conta quando uma enorme cabine azul começou a se materializar.

Xena e Gabrielle saíram de dentro da caixa e agradeceram pela carona para então partir de encontro a seu amigo.

A nave grasnou e desapareceu.

Nota