Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Capítulo 8

    Rose mantinha o telefone contra seu peito, debatendo-se pela quarta vez em uma hora se deveria ou não ligar para Ronnie. A executiva sempre lhe ligava as duas e já eram quatro horas. Quando o telefone tocou, Rose se assustou tanto que quase o deixa o aparelho cair. “Residência Carwright”.

    “Rose?”.

    “Ronnie?”. Um sorriso imediatamente cruzou o rosto da jovem mulher. O som do fundo de alguém sendo chamado à radiologia foi suficiente para desfazer o sorriso. “Onde você está?”.

    “Estou em Albany Medical”. A mulher de cabelo escuro percebeu que estava parada exatamente no telefone público que havia utilizado na noite do acidente de Rose para ligar para Frank. Sacudiu o pensamento quando ouviu a voz de sua amiga chegar através do telefone. “Oh desculpe, há muito barulho aqui. Estou bem, Tommy teve um acidente de carro”.

    “Oh, não”. As pernas de Rose palpitaram com a lembrança. “Está muito ferido?”.

    “Não sei ainda. Os médicos ainda estão com ele e não nos disseram muito. Perdeu ao que parece o controle do carro ao chegar a uma curva e se chocou com um poste telefônico. Hei, tenho que ir. A polícia está falando com mamãe”.

    “Ok, me dê noticias, Ok?”.

    “Ligo mais tarde”.

    Uma vez que se despediram, Ronnie desligou e parou ao lado de sua mãe, impacientemente escutando as palavras do oficial. “Excesso de velocidade…”.

    “Todo mundo passa os limites de velocidade nesta zona”, Beatrice soltou. “Talvez se o estado se ocupasse em melhorar as rodovias algo assim não teria acontecido”, disse indignada.

    “As melhores rodovias do mundo não vão ajudar quando o motorista está embriagado, madame”. O policial tirou uma caderneta de anotações do bolso do peito e passou as páginas até um escrito. “Encontraram uma dezena de latas vazias de cerveja no chão do assento dianteiro. Um teste com o bafômetro feito na cena do acidente mostrou que o nível de álcool em seu sangue era duas vezes o limite permitido. A senhora ainda quer culpar as rodovias?”.

    Incapaz de protestar e numa perda de palavras, Beatrice se virou até sua filha mais velha. A silenciosa petição foi entendida. Era a vez da guardiã da família. “Sargento Mitchell”, Ronnie disse, se colocando entre o oficial e sua mãe. “O que vai acontecer agora com Tommy?”.

    “Depois que lhe derem os pontos será levado para a cadeia do condado e detido. Se chegar lá bem cedo, o juiz Turner ditará a liberdade sob fiança hoje, do contrário isso só acontecerá amanhã”. Balançou sua cabeça. “Vou lhe dizer isto, Srta., se a senhorita não conseguir alguma ajuda para esse homem logo, seria melhor ele planejar passar muito tempo aqui”. Guardou a caderneta e deu um passo atrás. “Ele teve sorte desta vez. Algo que se pode dizer graças ao cinto de segurança e do airbag. Poderíamos estar vendo algo muito pior aqui que alguns cortes e contusões”.

    “Sim, muita sorte”. Pelo rabo de olho, Ronnie viu Susan passar um braço ao redor de sua mãe, que parecia destroçada entre a repreensão do oficial e o romper de chorar. Entendia a luta de sua mãe. Isto era um problema para o nome Cartwright e o dinheiro não podia consertar. “Oh”. Olhou o oficial. “E sobre seu carro?”.

    “Este foi retido. Saberão quando podem recolhê-lo. No entanto, está destroçado”.

    “Quero ver meu filho”, anunciou Beatrice.

    “Quando terminarem, ele será levado para a cadeia. A senhora poderá vê-lo lá depois que for registrado”.

    “Sargento”, Ronnie lhe deu um suave sorriso, esperando dissipar a tensão no ar. “Faria algum mal se ela o visse só por um minuto?” O viu duvidar e entrou, baixando sua voz para que sua mãe não pudesse ouvir por acaso. “Creio que ela precisa vê-lo agora, não depois que o tenham limpado, não acredita?”. Ele baixou o olhar ao chão por um segundo antes de dar uma pequena balançada de cabeça.

    “Ele é uma desgraça, Srta., vocês tem que lhe conseguir ajuda”.

    “Eu o farei”, prometeu.

    “Só um minuto e terei que estar com vocês”.

    “Obrigada”. Virou-se para estar de frente a sua mãe e Susan. “Vai nos deixar vê-lo por um minuto”. Enquanto se moviam para seguir o policial, Ronnie sentiu a mão de sua irmã em seu braço.

    “Tem certeza de que é uma boa idéia?”.

    “Não” Ronnie admitiu. “Mas não penso que lhe esconder a verdade seja a melhor coisa também. Talvez seja preciso agora, para ver o que ele está fazendo a si mesmo”.

    Em seus trinta e três anos, Ronnie podia lembrar-se unicamente de apenas algumas poucas vezes que sua mãe havia chorado. Não importava quanto algo lhe aborrecesse, Beatrice Cartwright guardava para si, uma lembrança que passou diante de sua filha mais velha. Porém ao olhar seu filho em uma cama de hospital, com o rosto ensangüentado e contundido, isso foi o suficiente para trazer as lágrimas aos olhos da matriarca. Ele abriu os olhos com o grito de assombro e olhou sua mãe, seus olhos demoraram um pouco para enfocar antes que deixasse sua cabeça cair sobre o travesseiro. “O que lhe disseram?”. Perguntou cautelosamente.

    “Que você teve um acidente, querido”. Beatrice se aproximou da cama e pegou sua mão entre as suas.

    “Não sei o que aconteceu, mamãe…”. Lambia os lábios como se estivesse morto de sede. “Estive trabalhando até tarde da noite e acho que devo ter estado cansado. Saí para conseguir algo para o desjejum e devo ter dormido ao volante”. Levantou o olhar através de seus enegrecidos olhos e deu a sua mãe uma olhada de desculpas. “Desculpe ter lhe feito sair para vir até aqui”.

    Beatrice bateu suavemente na mão dele e usou sua mão livre para limpar suas lágrimas. “Não se preocupe, querido. Estou aqui agora. Ligaremos para o senhor Jenkins e lhe pediremos que nos encontre na delegacia. Estou certa de que ele pode cuidar disso tudo”.

    “Acho que não devo dirigir cansado, não é mesmo?”. Brincou, seu rosto se torceu com dor quando tentou incorporar-se. “Oh, dói”. Suas irmãs intercambiaram duvidosas olhadas pelo exagerado gemido. O sargento Mitchell educadamente tossiu e olhou no seu relógio.

    “Mamãe, acho que agora é hora de irmos”, Ronnie disse, colocando as mãos nos ombros da mulher menor. “Por que você e Susan não me esperam lá fora na sala de emergências? Quero falar com Tommy um minuto”.

    Beatrice assentiu e se dirigiu a sua filha mais nova, quem rapidamente a tirou do quarto. Ronnie escutou a voz apagada de sua mãe enquanto desapareciam pelo corredor. “… e ele é um rapaz tão lindo, Susan. Espero que não termine com nenhuma cicatriz”.

    “E o que foi, irmã?”. Tommy lhe sorriu, seu aspecto de Cheshire de marca registrada não funcionava muito bem com um nariz quebrado e o lábio ensangüentado. Seu sorriso desbotou quando Ronnie se aproximou mais, seu rosto mostrava não raiva, senão preocupação.

    “Tommy você precisa de ajuda. As coisas só estão ficando piores”. Apesar de tudo o que havia acontecido entre eles durante o último par de meses, seguia sendo seu irmão. “Se receber tratamento talvez retirem as acusações”.

    “Tratamento?”, zombou. “Você faz com que eu pareça um desses vagabundos que vivem na sarjeta”.

    “Muita gente que tem dinheiro e posição fazem tratamento, Tommy. Poderia ir a clínica Betty Ford se você quiser. Ouvir dizer que é um lugar maravilhoso”.

    “Se é tão fodidamente maravilhoso então vá você para lá”.

    “Desta vez foi um poste, da próxima vez pode ser um outro carro ou coisa pior. Isto tem que acabar”. Passou seus dedos através de seu cabelo, frustração que se fez presente ao deixar sair uma longa respiração. “Obviamente tem um problema com a bebida e provavelmente com as drogas também”.

    “Pode dizer tudo isso em só uma olhada? Correto, doutora Cartwright?”. Disse com desprezo.

    “Você roubou as pílulas de Rose em minha casa, Tommy! Tentou forçar a caixa forte no escritório e falsificou minha assinatura em um empréstimo bancário. Se não são drogas, então é o que? Diga-me, porque não posso entender por que está fazendo estas coisas”.

    “Então é isso? Sua amiga não pode encontrar suas estúpidas pílulas e por isso já que estive em sua casa uma vez nestes últimos três anos decide que tinha que ser eu?”.

    “Duas vezes”, corrigiu, sua queixada mostrava ira. “Ou não se lembra da noite que virou minha mesa de café?”.

    “Vá embora daqui, Ronnie”, grunhiu. “Dormi ao volante, nada mais. Está só tentando colocar a culpa de todo o mundo contra mim”.

    “Estou tentando lhe ajudar, Tommy. Precisa de reabilitação antes que mate alguém”.

    “O que preciso é de uma limpeza algo que não consigo com você ao redor. Oh poderosa Verônica, Rainha dos Cartwrights”.

    “Tommy…”.

    “Vá a merda, Ronnie!”.

    “Srta. Cartwright”, ficou surpresa de que o sargento ainda se encontrasse no quarto, havia se esquecido totalmente dele. “Não pode fazer mais nada aqui. Por que não vai cuidar de sua mãe e deixe que eles se encarregam dele?”.

    “Isso, Ronnie, vá cuidar de mamãe e demonstre a filha boa que você é”, Tommy grunhiu. “Talvez até ela se esqueça de que seu orgulho e alegria é uma sapatão”.

    Um silêncio mortal caiu sobre o quarto. O cérebro de Ronnie tentou desesperadamente reescrever o que havia ouvido, mas foi em vão. Sua cabeça baixou, a longa cabeleira ocultava seu rosto da vista do oficial. Suas emoções se misturaram e respirou várias vezes antes que encontrasse sua voz. “Realmente espero que consiga ajuda, Tommy”. Saiu do quarto e foi na direção oposta a área de espera, incapaz de enfrentar ainda sua família.

    Do lado de fora a neve estava caindo suavemente, criando uma suave neblina branca contra o céu cinza, Ronnie encostou-se contra a fria parede de azulejos do edifício. Com seu casaco ainda lá em cima na sala de espera, a blusa de seda era uma pequena defesa contra o vento frio. De qualquer maneira a cansada executiva permaneceu onde estava, esperando que o amargo frio congelasse algo de sua dor. Ronnie estava se dilacerando entre estar irritada com seu irmão e a preocupação de que ele estava rumo a destruir-se com só dois possíveis finais: cadeia ou morte. Suas cruéis palavras se repetiam em sua mente e não desejava nada mais do que estar em casa, aconchegada contra Rose. Rose… Os olhos azuis se fecharam e deixou sua mente se encher com a visão da jovem mulher. Ronnie se perdeu momentaneamente na imaginária comodidade dos braços de Rose quando sentiu uma mão muito real em seu braço.

    “Está frio aqui fora. Vamos entrar”, Susan disse, dando a sua irmã o casaco.

    Ronnie pegou o casaco e o abraçou sobre seu peito. “Obrigada. Logo vou lá para cima. Só preciso de um pouco de ar”. O calor da pele impregnada através da seda, fez com que sentisse que realmente estava frio.

    “Sei o que ele lhe disse”, Susan confessou, pegando o casaco e sustentando-o para que Ronnie deslizasse os braços dentro dele. “O sargento Mitchell me levou até um canto e me disse”.

    “Maravilhoso. Talvez poderiam colocar em uma manchete também”. Endireito-se o suficiente para conseguir colocar o casaco, então se reclinou de novo contra a parede.

    “Prometeu-me que não diria nada. Só estava preocupado que você estivesse mal”. A ruiva colocou sua mão no ombro de sua irmã. “Por que não vai descansar? Vá para casa e fique com Rose. Estarei aqui com mamãe e esperarei o senhor Jenkins”.

    O primeiro pensamento de Ronnie foi aceitar a oferta de sua irmã e escapar até a única pessoa que a fazia se sentir confortável afastar-se deste problema que não desejava enfrentar e voltar a seu santuário. Mas ser a mais velha significava estar a cargo, e também levava com isto muita responsabilidade. Suspirou. “Não, sabe que não posso ir embora até que isto acabe”.

    “Eu sei, só pensei que pelo menos poderia lhe oferecer”. Susan olhava a neve caindo e tremeu. “Sabia que estou congelando aqui fora”.

    “Por que não vai para casa para estar com Jack e as crianças? Posso cuidar de mamãe”.

    “Não. Se você tem que estar aqui, então devo estar aqui também. Vamos, a miserável ama lhe acompanha”. Susan e Ronnie voltaram para dentro e se dirigiram à sala de espera. “Eu hum… disse à mamãe que concordo com você sobre a coisa das drogas”.

    “Você lhe disse?”.

    A ruiva assentiu. “Pensei que talvez pudesse fazê-la acreditar mais se também lhe dissesse que pensava que ele estava tomando drogas”.

    “O que ela disse?” Ronnie viu sua resposta na abatida cara de Susan.

    “Não acredita que seja tão mal quanto lhe disse, e inclusive mencionei o que você me disse sobre as pílulas desaparecidas de sua casa e do empréstimo do banco”. Levantou o olhar a Ronnie e dividiu uma silenciosa, mas triste compreensão. Nada do que dissessem mudaria a opinião de sua mãe. Alcançaram as portas externas da sala de emergências.

    “Bem… acho que em tudo isso há uma coisa boa, suponho…” Ronnie começou. Na expectante olhada, sorriu. “É agradável saber que você está do meu lado nisto. Faz com que fique mais fácil”.

    “Hei, podemos não ser a melhor classe de amigas irmãs, mas ainda somos irmãs”. Disse Susan. “Além disso, estou esperando que faça o churrasco de inverno este fim de semana”.

    “Trato feito”. Juntas voltaram a enfrentar a longa tarde de espera enquanto as rodas e o papel da justiça giravam lentamente.

    ********

    O som da porta do carro despertou Rose de seu sono. Bocejou e esfregou seus olhos, observando pelos números vermelhos do relógio que era já passava da meia noite. “Ronnie? Estou acordada”, chamou quando ouviu a porta de correr ser fechada.

    “Oh”. Um minuto depois a executiva apareceu na porta. “Desculpe, acordei você?”.

    “Não”, mentiu e acendeu a lâmpada. “Queria estar acordada de qualquer maneira quando você chegasse”. Acariciando ao espaço vazio na cama a seu lado, perguntou. “E o que aconteceu?”.

    Ronnie suspirou e se deixou cair na cama, sua cabeça agradeceu poder afundar-se nos grossos travesseiros. Ambos sapatos bateram na madeira dura do chão e os dedos do pé cobertos com as meias se mexeram com alívio. “Ah, muito melhor”. Seu relógio de pulso foi o seguinte, o deixando na pequena mesinha lateral. “Tommy estava bêbedo e carregado com heroína. Espatifou seu carro contra um poste telefônico”.

    “Houve alguém mais ferido?”.

    “Graças a Deus não. Só quebrou o nariz e teve algumas contusões. Encontraram um pouco de cocaína quando o registraram na delegacia”.

    “Cocaína? Oh, Ronnie, isso é ruim”.

    “Deveria ter visto a cara de mamãe quando acrescentaram a posse na lista de acusações”. Balançou sua cabeça. “Ainda não posso acreditar que lhe deram liberdade sob fiança”. Esfregou seu rosto vigorosamente com ambas as mãos. “Não sei, Rose”, suspirou. “Sabia que algo estava acontecendo, mas imaginei que era erva, não coca”. Respirou profundamente. “Essa coisa vai matá-lo e ele não se importa. Tentei lhe falar sobre ir a reabilitação, mas nem me escutou”. Um breve olhar de dor cruzou o rosto de Ronnie ao lembrar das odiosas palavras de seu irmão. “Acho que o que lhe digo não lhe importa”.

    Rose ouviu a tristeza na voz de sua amiga e sabia que ali havia acontecido mais do que ela estava lhe dizendo. Moveu-se na cama, girando para que a parte superior de seu corpo estivesse de frente a sua companheira. “Ele sempre teve rancor de você?”.

    “Não”. Ronnie olhou fixamente acima no teto. “Quando éramos mais jovens, Tommy era minha sombra. Qualquer coisa que fazia, ele queria fazer também. Se eu estava interessada em algo, ele se interessava nisto também”.

    “O que aconteceu?”.

    Ronnie encolheu os ombros. “Realmente não sei. Começamos a ficar mais velhos e as coisas mudaram. Acho que sempre pensou que ele sendo o único filho seria ele quem assumiria o controle quando nosso pai saísse. Acho que ele está ressentido comigo devido a isso”.

    “No entanto, ainda assim você tenta ajudá-lo”.

    “É meu irmão. O que posso fazer?”. Entrelaçou seus dedos atrás de sua cabeça. “Tinha tanto potencial, Rose. Odeio ver o que essas drogas estão lhe fazendo”.

    “Talvez ainda haja esperança se buscar um tratamento”.

    “Talvez”. Ronnie concordou. “Acho que tudo é possível. Deus, só me irrita tanto às vezes. Poderia ter feito com que o prendessem pelo desfalque e não o fiz. Acha que ele se importa? Não, tentei lhe ajudar e ele se vira e me chama de s…”. Parou a palavra antes que esta saísse de sua garganta. “… uma maldita cadela”, emendou. “Ah, não importa, suponho”.

    “Importa sim”. Rose estendeu o braço e colocou sua mão no ombro de Ronnie. “Talvez sua família não se importe, mas eu sim. Não tem nenhum direito de lhe ferir assim. Não merece isso. Você, Verônica Cartwright, é uma das pessoas mais carinhosas e mais ternas que eu já conheci e qualquer um que não veja o quanto você é especial é um cego”.

    Ronnie esticou a mão e revirou o cabelo da mulher mais jovem. “Isso vai de ambas maneiras, minha amiga”. Havia mais, muito mais que queria lhe dizer, mas o medo a conteve. Parte dela desejou puxar Rose para dentro de seus braços e mantê-la ali por toda a eternidade e a outra parte desejava gritar a verdade que as manteria separadas para sempre. Seu bom humor desapareceu quando a última parte ganhou. “Hei, acho melhor irmos dormir”.

    “Oh… okay”. Rose estava surpresa pela repentina mudança, mas percebeu que talvez fosse melhor esperar para falar novamente sobre o assunto. Havia ainda partes de Ronnie que estavam fechadas a ela e não desejou fazer algo que fizesse sua amiga se incomodar. Recostou-se em seu próprio lado e esperou pela companhia debaixo dos lençóis.

    Ronnie olhou a mulher que a esperava e as palavras de Tommy ecoaram em sua mente. “Talvez seja melhor eu ir para meu quarto. Você está dormindo durante a noite sem dor e provavelmente gostaria de ter a cama toda para você sozinha outra vez”.

    “Hum… suponho… se for isso que você quer”, Rose disse somente, mordendo seu lábio inferior. “Acho que você provavelmente estará mais confortável em sua cama de qualquer maneira”.

    “Sim, acho que sim”. Ronnie notou que a voz de sua companheira levava o mesmo tom de pesar que a sua própria, no entanto de qualquer maneira se incorporou e recolheu seus sapatos. “Vejo você amanhã”. Levantou-se e caminhou até a porta. Sua mão estava sobre a maçaneta quando ouviu um pequeno soluço. Virou-se para ver os tristes olhos verdes olhando-a. “Hei, o que foi?”. Perguntou suavemente.

    “N-nada, desculpe. Vejo você amanhã, Ronnie”. Rose virou sua cabeça, mas não antes que Ronnie pudesse ver uma lágrima deslizar livre. Um segundo depois que a cama se moveu quando acrescentou seu peso. Longos dedos levantaram o queixo de Rose, a forçando a levantar e encontrar-se com o preocupado olhar de Ronnie.

    “O que foi?” Sem pensar seu polegar começou a acariciar a sua pele debaixo dele. “Diga-me, Rose”.

    “Você está ainda contente em me ter aqui? Sei que isto foi uma inconveniência e…”. Foi interrompida pelo dedo de Ronnie sobre seus lábios.

    “Escute-me. Você não é uma inconveniência para mim. E sim, estou ainda contente com você aqui. O que provocou isto?”. Havia ter chutado a si mesma quando imediatamente se deu conta da resposta a sua própria pergunta. “Só pensei que estaria mais confortável sem mim em sua cama. Não é que não lhe queira aqui, juro”.

    “Tem certeza?”.

    “Tenho certeza”.

    “Acho que só estou sendo boba. Inquietando-me só porque você deseja dormir em sua própria cama”. Rose limpou seus olhos com a palma de sua mão. “Pode só imaginar o que sua família diria se descobrisse que está dormindo comigo. Eles provavelmente pensariam que eu estou lhe convertendo em uma lésbica ou algo assim. Não podemos fazer isso, não é?”.

    Ronnie soltou uma profunda respiração e balançou sua cabeça. “Não, não podemos fazer isso”. Levantou-se e reuniu seus travesseiros. Não, não podemos tê-los pensando que Verônica Cartwright é lésbica, podemos? Não queremos arruinar a imagem perfeita da família. Tudo bem que Tommy saia e destroce carros nos postes e arrombe lugares, mas o céu me proíbe de meter uma mulher em minha cama. “Verei você amanhã, Rose”.

    “Por favor, poderia deixar a porta aberta para que Tabitha possa entrar?”.

    “Claro. Boa noite, querida”.

    “Boa noite, Ronnie. Bons sonhos”.

    “Para você também”. Apagou a luz e saiu do quarto, uma pesada manta de solidão pousou sobre ela.

    Abrindo a porta de seu quarto, Ronnie foi golpeada pela estranha sensação de dormir sem Rose. A blusa e a saia de seda aterrissaram empilhando-se ao pé da cama, seguidas rapidamente pela calcinha e meias. Puxou a manta para trás e se sentou nos frios lençóis. Os segundos fizeram tic tac quando a solidão deu lugar a raiva. Raiva que cresceu até que dormir não foi mais uma opção. Poucos minutos depois havia se vestido com calças compridas e se dirigiu ao sótão para extravasar um pouco da agressividade.

    Thwap! Thwap! Uma e outra vez o saco de treino segurava a fúria e a raiva de uma mulher destroçada entre o que necessitava e desejava e o que era esperado dela. “Droga! Por que não podem entender?”. Ronnie gritou ao ginásio vazio. “Não estou machucando ninguém!”. Seus enluvados punhos golpeavam o saco uma e outra vez. Thwap, thwap, thwap. “Por que isto é tão incorreto? Por que?”. Sua única resposta foi o rangido das dobradiças de seu saco de treino quando seus golpes provocavam desequilíbrio.

    No andar de cima, Rose deixada na escuridão, escutava os amortecidos sons que chegavam do sótão. Oh Ronnie, o que ele lhe disse que a machucou tanto? Abraçou o travesseiro fortemente contra si mesma, desejando que fosse sua amiga a que estivesse confortando. De repente os sons em baixo pararam, seguidos poucos minutos depois pelo som da porta do sótão se abrindo. “Ronnie?”. Gritou.

    “Você está bem?” A alta figura apareceu na porta, sua silhueta invisível contra a escuridão da noite.

    “Eu, hum… eu… não se importaria de passar mais uma noite comigo?”.

    “Está tudo bem?”. Ronnie cruzou o quarto e colocou seu joelho sobre a beira da cama.

    “Eu só… tive um sonho ruim e não consigo voltar a dormir”. Mentiu. Houve um silêncio por um momento antes que Rose sentisse que a manta era puxada para trás e o suave calor do corpo de Ronnie se acomodasse contra o seu.

    “Melhor?”. A voz em seu pescoço perguntou.

    “Humm”, Rose se encostou mais próximo, apoiando sua nuca contra a suave curva do oferecido ombro. “Está confortável?”.

    “Muito”, viu o murmúrio sonolento. “Boa noite, Rose”.

    “Boa noite, Ronnie”. Fechou os olhos e sorriu quando a respiração da mulher mais velha chegou a ser profunda e uniforme. “Tudo vai ficar bem. Descanse bem”. Sussurrou antes de permitir que o sono a reclamasse também.

    *********

    “Srta. Cartwright, posso falar com a senhorita um minuto?” Laura perguntou, com sua cabeça surgindo na porta.

    “Claro, entre”. Ronnie deixou sua caneta na mesa e levantou o olhar, observando o sorriso no rosto da jovem secretária.

    “Quero lhe contar as boas notícias eu mesma antes que todos no escritório as ouçam”.

    “Está grávida”, a executiva adivinhou. A jovem mulher assentiu alegremente. “Parabéns. Sei que você e Mike estavam tentando. Quanto tempo?”.

    “Obrigada, já faz três meses. Tenho certeza de que Mike fez esse Quarterback que ele sempre desejou. Estou ganhando claramente bastante peso”. Olhou no sofá e logo a sua chefa.

    “Por favor, sente-se. Vai sair de licença a maternidade justamente no verão”.

    “É sobre isso que eu quero falar com a senhorita. Mike não quer que eu trabalhe uma vez que o bebê nasça. Acaba de ser promovido e pensa que podemos fazer isto com só uma renda”.

    “Então vai se demitir quando se aproxime de ganhar o bebê?”.

    “Na verdade… Mike não quer que eu espere até lá. Não quer que tenha nenhum excesso de estresse”. Laura esfregou seu ventre distraidamente. “Vou sair, antes que meu segundo trimestre comece”.

    Ronnie fez rapidamente os cálculos e percebeu que só teria três meses para encontrar uma nova secretária. A idéia de atravessar os intermináveis currículos e as entrevistas ameaçou lhe causar uma dor de cabeça. “Bem… lhe agradeço que fique durante um tempo. Será agradável ter uma transmissão sem problemas entre você e sua substituta”.

    “Colocarei um anúncio no jornal e notificarei as agências de empregos”, Laura ofereceu. “Assegurar-me-ei de ser clara sobre seus requisitos”. Levantou-se. “Bem, melhor sair daqui. Aposto que o telefone está tocando descontroladamente e, além disso, já são quase duas horas”.

    “Já são?”. Ronnie olhou seu relógio, sobressaltada pela quantidade de tempo que havia passado. “Ok, Laura. Prepare um rascunho do anúncio e me entregue pela manhã, sim? Gostaria de ter alguém aqui dentro e estabelecido antes que você saia”.

    Uma vez só, a executiva pegou o telefone e marcou o já familiar número. Dois toques depois a voz mais doce que já havia ouvido respondeu. “Residência Cartwright”.

    “Por que sempre atende ao telefone assim? Sabe que sou eu”, brincou.

    “É só costume, suponho”. Rose respondeu. “Como vai tudo?”.

    “Realmente hoje o dia está voando. Pode ser que eu chegue em casa cedo. O que tem para o jantar?”. Recostou-se, dando um pontapé a seus sapatos e subindo os pés na beira de sua mesa.

    “Não tenho certeza. Ela normalmente não começa o jantar até ao redor das quatro ou algo assim”.

    “Por que não lhe diz que não se incomode esta noite? Comprarei algo de comida chinesa para nós”.

    “Oh, isso soa delicioso”.

    “Há algo bom na TV esta noite ou quer que pare e compre um filme?”.

    “Não há muito acontecendo exceto as novas revistas”.

    “Nós sempre olhamos isso. Que lhe parece um filme esta noite?”.

    “Com certeza, parece bem. Hei, minha velocidade já está acima de cinqüenta palavras por minutos”.

    “Ah é? Maravilhoso”. Um minúsculo pensamento se formou no fundo de sua mente. “Você está estudando essas cartas e formulários de negócios?”.

    “Claro. Inclusive já digitei novamente algumas velhas cartas que você tinha na sua mesa só para praticar”.

    “Muito bem”. Ronnie sorriu amplamente com o esforço extra por parte de Rose. “Hei, Laura me disse hoje que está grávida”.

    “Oh, sim? Isso é maravilhoso”.

    “Maravilhoso para ela, terrível para mim. Agora tenho que encontrar outra secretária. Odeio procurar uma secretária. Estou pior que Murphy Brown quando chegou a isso”.

    “Oh, por favor!”, Rose ria. “Estive assistindo isso essa manhã. Ela tinha uma que falava com o diabo”.

    “Tive duas que acreditavam que Satanás desceria e assumiria o poder a qualquer momento. Não preciso dizer que não duraram muito tempo. Tenho uma sorte terrível com elas. Laura é a melhor que já tive e, no entanto levei seis meses para atravessar os objetos flutuantes do mundo secretarial para consegui-la”. Um zumbido no telefone desviou a atenção de Ronnie na luz que piscava na linha dois. “Querida, tenho que ir. Diga a Maria que não se incomode com o jantar e logo estarei em casa”.

    “Ok, Ronnie, vejo você logo”.

    “Adeus”.

    “Adeus”.

    Ronnie olhou para sua querida caneta durante alguns segundos antes de contra a vontade pressionar o botão do telefone. “Verônica Cartwright”.

    ********

    “Prepare-se para encontrar a trituradora, arg, arg, arg”, Ricky o filho mais velho de Susan disse. “Ele vai lhe pulverizar”.

    “Pior que o encarregado de uma funerária?”, Rose perguntou.

    “Oh, ele não é nada comparado a trituradora”. Viu sua tia passando. “Hei, tia Ronnie, venha me ver pulverizar Rose”.

    “Não pôde encontrar algo mais agradável para jogar? Pode-se saber o que aconteceu com o Pac-Man?”. Disse quando entrou na sala de estar.

    “Pac-Man?”. O de doze anos riu e pressionou vários botões em uma rápida sucessão, expulsando o homem de Rose do quadrilátero e de cima da esteira. “Vi esse jogo nas galerias comerciais. Muito chato. Tem que se atualizar, tia Ronnie. É Virtual Fighter e Wrestiemania agora”. Diminuiu sua voz para que só Rose pudesse ouvi-lo. “A coisa seguinte que deveria jogar fora era esses discos dos anos oitenta”.

    “Hei eu gosto da música dos anos oitenta”, protestou.

    “Nesse caso você é tão velha como a tia Ronnie e minha mãe”.

    “Velha? Odeio lhe dizer, Ricky, mas ter vinte e seis não é ser velha”.

    “Vinte e seis? Oh homem, isso é ser velho. Vamos, volte o seu homem para dentro do quadrilátero antes que o ele seja eliminado”.

    “Para que? Cada vez que o devolvo você o expulsa outra vez”.

    “Esse é o objetivo”, o garoto respondeu, movendo seu personagem para dentro da posição. Rose olhou para Ronnie e rodou seus olhos, fazendo a mulher mais velha rir antes de sair da sala.

    Ronnie encontrou Susan do lado de fora na varanda, supervisionando os bifes e os hambúrgueres que estavam assando sobre a churrasqueira. O último degelo de janeiro fez com que a temperatura baixasse a dez graus, praticamente balsâmico para Albany. Os outros filhos de Susan, Timmy e John, estavam desfrutando do brilhante sol, montando uma bicicleta que haviam encontrado na garagem. “Ricky com certeza desfruta desses jogos de vídeo, não é verdade?”. A Cartwright mais velha disse quando se aproximou e cheirou a carne que assava.

    “Não consigo afastá-lo deles”, Susan respondeu. “Acha que nós já deveríamos começar a fritar os cogumelos?”.

    “Não, não, vamos esperar mais uns dez minutos”. Foram interrompidas pelo menino de seis anos John montado sobre uma das bicicletas violeta, as lágrimas saiam de seus olhos.

    “O que aconteceu, querido? Você caiu?” Susan entrou com seu instinto materno, levantando seu filho nos braços para procurar algum arranhão. Ele balançou sua cabeça, ainda chorando barulhentamente.

    “Timmy não pára de zombar de mim porque eu estou montando uma bicicleta de uma menina”, gemeu apontando com o dedo a florida cesta na frente.

    “Deixa que eu cuide disso”, Ronnie disse, estendendo sua mão para pegar a mão menor. “Vamos John. Há algumas ferramentas na garage. Tiraremos essa cesta. Isso vai melhor”. Recebeu um fraco balanço de cabeça como resposta. Com seu sobrinho a reboque, Ronnie se dirigiu até a garagem.

    Satisfeita que a carne pudesse assar sem sua supervisão, Susan entrou na casa quente por um momento e foi verificar o que seu filho mais velho estava fazendo. O encontrou ainda jogando o jogo de luta livre com Rose, quem somente fazia esforços simbólicos de lutar novamente quando seu personagem era retirado uma e outra vez. “Divertindo-se?”.

    “Oh, sim, mamãe. Rose é um desafiante melhor que a tia Ronnie”, respondeu, seus olhos não deixavam de olhar para tela.

    “Ricky, por que não vai jogar bilhar com seu pai? Quero falar com Rose alguns minutos”.

    “Mas estou me divertindo”, choramingou.

    “Richard…” disse nesse tom da idade de ‘mamãe’. Os controles do jogo aterrissaram no chão e um garoto fazendo beicinhos se dirigiu até a sala de jogos. Rose deixou seu controle no sofá ao lado dela, o nervosismo se estabeleceu igual a quando Susan se encontrou com ela na festa de Natal.

    “Onde está Ronnie?”. Perguntou.

    “Lá fora, ajudando John com a bicicleta”, a ruiva disse quando se sentou na almofada previamente ocupada por seu filho. “Então suas pernas estão melhorando?”.

    “A doutora Barnes disse que minha perna direita está curando-se perfeitamente”. Desceu o olhar ao branco brilhante de seus novos moldes, a perna esquerda ainda estava coberta até os quadris, mas a outra só tinha um molde até o joelho.

    “E sobre a esquerda?”.

    Rose suspirou, lembrando da radiografia de seu tornozelo que parecia um mapa de uma rodovia. “Essa levará mais tempo. Quebrei muito o tornozelo”.

    “Oh isso é ruim”. Houve um torpe silêncio antes que Susan falasse novamente. “Aquele jogo de canetas e lapiseiras que você deu a Ronnie é muito bonito”.

    “Obrigada”, a loira respondeu. “Ela se queixava de que nunca podia encontrar uma caneta quando precisava e pensei que gostaria disso”.

    “Ela amou este. Nunca a vejo usando nada mais, e nunca pensei que a veria parar de morder seus lápis”. Susan olhou nos gráficos lampejando na televisão, pedindo que pressionassem o botão de começar e introduzissem outra partida de vídeos de luta livre. “Sabe amo muito a minha irmã. Não gostaria de vê-la magoada”.

    “Ela é uma pessoa muito especial”, Rose concordou, insegura de onde ia esta conversa.

    “Espero que entenda o quanto está se colocando no limite só por lhe ter aqui”. A voz de Susan não mostrava nenhuma reprovação, só preocupação por sua irmã. Colocou-se de lado sobre o sofá, olhando com cuidado a jovem mulher que estava no outro lado. “Foi magoada muito seriamente por Chris. Só espero que não aconteça outra vez”.

    “O que ele fez?”. Rose perguntou. As sobrancelhas de Susan se levantaram. Lembrando-se de que sua irmã negava repetidamente uma relação, agora se questionava quanto suas anteriores suposições.

    “Hum… oh… bem, acho que talvez devesse, perguntar a Ronnie sobre isso. Preciso vigiar os bifes. Com licença”. Levantou-se rapidamente e saiu, deixando uma confusa Rose olhando a maneira como se retirava.

    Sem um garoto para mantê-la ocupada com os jogos de vídeo, a jovem mulher decidiu se arriscar a sair e procurar Ronnie. Com uma perna em um molde curto, era mais fácil manobrar-se dentro e fora da cadeira de rodas. A rampa temporária feita de madeira a permitia entrar e sair da parte de desnível da sala de estar por si só. Encontrou a beleza de cabelos escuros na varanda, falando com sua irmã.

    “Olá”, Ronnie disse com um sorriso quando viu Rose na varanda. “Quer um casaco? Está mais quente, mas não tanto”.

    “Não, este suéter é bastante quente”, assegurou. “Ricky está jogando bilhar com seu pai assim pensei em sair e ver como vai tudo”. Cheirou o ar apreciando o aroma. “Cheira maravilhoso”.

    “Humm, sim”. Ronnie levantou a tampa e olhou faminta aos bifes.

    “Nem sequer pense nisso”, Susan admoestou. “Achei que ia fazer os champignons e os pimentões”.

    A executiva riu e assentiu. “Está bem. Vamos, Rose. Pode me ajudar a cortar os pimentões”. Abriu a porta de correr e indicou para que sua companheira passasse primeiro. “Susan, lembre-se que queremos os nossos feitos bem ao ponto, não queimados”.

    “Continue assim e terá os pucks do hockey”, Susan disse, alcançando o controle da chama em uma falsa ameaça.

    “Então com certeza saberei que foi você quem cozinhou”, Ronnie respondeu com um sorriso brincalhão, sentindo-se muito mais relaxada ao redor de sua irmã do que esteve há semanas. Havia uma familiaridade sobre ter sua família ao redor isso era agradável, mas era a presença de Rose que a fazia de verdade desfrutar do dia.

    ********

     Depois do jantar os dois garotos mais velhos se reuniram com Ronnie e Jack na sala de jogos para jogarem bilhar enquanto que Rose se ofereceu voluntariamente para jogar vídeo com John. Para sua surpresa, este não tinha interesse nenhum no jogo de luta livre, ao invés disso preferiu um jogo de corrida de carros em uma rodovia onde os carros competiam um contra o outro. Diferente de seu agressivo irmão mais velho, John estava contente de permanecer em sua própria pista e não tentava tirar Rose de seu caminho, apesar da bonificação dos pontos permitidos para fazer isso também. Claro que o deixou ganhar, moderando no botão de velocidade não último minuto para permitir que ele tomasse a vantagem.

    Quando Susan se aproximou, deu uma olhada neles por um tempo, surpresa quando viu John sentado no colo de Rose enquanto embalavam em outra corrida. Olhou por vários minutos, notando a forma carinhosa com que a jovem mulher era com seu filho, mostrando-lhe como fazer para que seu carro fosse mais rápido e não batesse enquanto se movia ao redor das esquinas. Não ouviu sua irmã mais velha chegar por trás. “Há algo mais que tenha que entrar no lava-louças?”.

    Susan assustou-se. “Oh Deus, Ronnie, não sabia que estava aí”, disse. “Estava só verificando para ver o que John estava fazendo”, juntas observaram o par por alguns minutos. “Parece uma pessoa agradável”.

    “É uma pessoa agradável”, Ronnie corrigiu. “Não acho que Rose tenha um só ponto ruim em seu corpo”.

    “Bem, eles estão bem. Vamos ver o que Jack e os garotos estão fazendo”.

    “Ainda estão jogando bilhar. Saí para verificar se tudo havia sido recolhido e se estava no lava-louças”. Seguiu sua irmã mais jovem a sala de jogos, voltando no último momento para dar uma última olhada em Rose.

    ********

    Eram depois das seis quando o carro de Susan saiu do caminho da entrada. Ronnie colocou o detergente no lava-louças e depois se reuniu com Rose na sala de estar. “Então, filme ou televisão esta noite?” Perguntou quando se deixou cair na almofada do sofá.

    “Qualquer uma das duas está bom para mim, mas nós já não vimos todos os filmes?”.

    “Há sempre HBO ou pago por evento. Acho que o novo filme de Whoopi Goldberg está passando esta noite”. Ronnie deu uma olhada, mas não viu o que estava procurando. “Onde está o guia da TV?”.

    “Aqui”. Rose a recolheu do extremo da mesa e lhe passou. Quando lhe deu, notou a cor bege do esmalte nas perfeitamente manicuradas unhas de Ronnie. “Essa é uma bonita cor”. Pegou a mão maior com a sua para obter uma visão melhor.

    “Sabe, aposto que esta cor ficaria bonita em você também”. Percorreu com seu polegar sobre as beiras das unhas de Rose e uma idéia lhe ocorreu. “Ao que parece você pode usar uma lixa de unhas”.

    A loira retirou a mão e sorriu. “Sim, acho que não tenho prestado muita atenção a elas ultimamente”.

    “Por que não as fazemos esta noite?”. Ronnie ofereceu. “Tenho toneladas de esmaltes para unhas em quase qualquer tonalidade que você possa imaginar”. Na vacilação de Rose, ela acrescentou. “Vamos, tenho que fazer as minhas de qualquer maneira. É da marca de secagem rápida. Será divertido, será como uma festa do pijama”. Ronnie fez um pequeno grunhido junto com olhos de filhote de cachorro, e ficou muito satisfeita quando a jovem mulher sorriu e assentiu. “Genial. Trarei tudo e você pode se dirigir ao dormitório. A luz é melhor ali de qualquer maneira”.

    Logo já se encontravam na cama, Rose apoiada acima contra a cabeceira e sua companheira sentada com as pernas cruzadas a seu lado. Rodeadas por bolas de algodão, lixa de unhas, um frasco de acetona, e vários frascos de esmalte para unhas de secagem rápida. Ronnie pegou a mão menor com a sua e começou a formar as pontas planas das abandonadas unhas. “Ok, também tenhamos uma conversa de garotas”.

    “Ok”, disse Rose com um sorriso. “Vamos ver, sobre o que ainda não falamos”. Usou sua mão livre para dar golpezinhos com o dedo contra seu queixo. “Não falamos sobre sexo”.

    “Algo que não saiba?” Ronnie zombou. “Acho que tenho alguns livros lá fora…”.

    “Oh, engraçadinha…” Rose lhe deu um tapinha de brincadeira. “Isso não é o que eu quero dizer e você sabe”. Intercambiaram sorrisos amigos enquanto a lixa se movia sobre a outra unha. “Quero dizer por que alguém como você não tem um marido e crianças correndo ao redor? Não pode me dizer que não teve propostas”.

    “Recebo propostas todo o tempo, só que as ignoro. A mão, por favor”. Ronnie voltou a lixa e reassumiu sua tarefa. “A maioria deles são só oportunistas que procuram um impulso com meu dinheiro”.

    “E os outros?”.

    “Os outros são justos os quais não estou interessada. Talvez me estabeleça algum dia, mas não agora”. Soltou a mão que estava sustentando e moveu os vários frascos. “Então que cor?” Procurou um e escolheu uma cor rosa. “Acho que este ficará bom. O vermelho brilhante seria muito escuro com seu tom de pele”.

    “Com certeza, vá em frente”. Rose estendeu a mão de maneira obediente. Ronnie se aproximou mais e lhe deu um frasco aberto para que segurasse.

    “E sobre você?” Ronnie perguntou enquanto passava a pequena brocha ao longo da unha.

    “Não tive muitos encontros. Hoje em dia a maior parte dos homens esperam que a mulher o ajude com os gastos e você sabe que não posso proporcionar isso”. Desceu o olhar a unha que estava quase terminada.

    “Oh, esse é bonito”.

    “Disse que você gostaria”, a mulher mais velha disse. “Mas nem todos os homens esperam que a mulher lhe ajude com os gastos”.

    “Os que conheço esperam, se não esperam por algo mais. Tive que lutar para sair dos carros mais de uma vez”.

    Ronnie riu levemente. “Acho que é um costume. Você não é mulher a menos que tenha tocado a Horny Harry pelo menos uma vez. É realmente espantoso ver quantos deles pensam com a cabeça errada”. Virou a mão de Rose para pegar o polegar. “Não perco tempo com isso”.

    “Você alguma vez foi surpreendida?”.

    “Surpreendida com que? Fazendo isso?”. A mulher mais velha balançou sua cabeça. “A outra mão. Você foi?”. A resposta enrubescida incrementou sua curiosidade. “O que aconteceu?”. Tampou o esmalte e se inclinou na expectativa.

    “Deus, isso é embaraçoso. Como chegamos a este assunto?”.

    “Você o sugeriu”, Ronnie respondeu, mexendo suas sobrancelhas.

    “Oh, sim”. Ainda sorrindo, Rose baixou o olhar a seu colo. “Tinha dezesseis anos e vivia com Delores. Saí em um encontro com um garoto da escola. Ele ficou comigo do lado de fora e estávamos em seu carro que estava estacionado na entrada”. Ruborizou-se com a lembrança. “Não a ouvi sair”.

    “Estava ocupada com outra coisa?” Ronnie não pôde evitar sorrir com o incômodo de sua amiga. “Isso tinha que ter sido tremendo”.

    Rose assentiu. “Nós não estávamos fazendo exatamente isso, mas estávamos bastante perto. E foi tremendo. Ela me castigou pelo resto do ano escolar e tive tarefas extras desde então”.

    “Caramba, espero que seu encontro seguinte tenha sido melhor”. Ronnie abriu um frasco de esmalte e reassumiu sua tarefa.

    “Ele não saiu comigo outra vez depois da maneira em que ela gritou com ele. Ela ligou para os pais dele também. Fui humilhada. Ele inclusive não falou mais comigo na escola porque se meteu em sérios problemas também”.

    “Todos temos nossos momentos embaraçosos”, Ronnie disse suavemente, dando a mão dentro da sua um pequeno apertão.

    “Sua vez. Conte-me sobre Chris”. A brocha parou no meio da unha e a expressão na cara da mulher mais velha era que parecia que tinha dificuldade para engolir de maneira correta.

    “Hum. Chris?” Sua voz chiou e teve que limpar a garganta. “Quem lhe falou de Chris?”.

    “Susan disse que Chris lhe magoou muito seriamente. O que ele lhe fez?”.

    Ronnie sentiu que seu coração batia a toda velocidade e lambeu os lábios de maneira nervosa. “O que Susan lhe disse?”.

    “Só que Chris a magoou seriamente. Não disse mais nada. Desculpe, se não quer fal…”.

    “Não, tudo bem”, voltou sua atenção a mão que segurava. O quanto lhe digo? Levantou o olhar no agradável rosto, tentando calcular sua reação. “Hum… conheci Chris enquanto estava em Stanford”.

    “Quanto tempo vocês saíram juntos?”.

    “Estivemos juntos por três meses e meio. Eu era jovem, estava apaixonada e acho… que Chris não estava”.

    “O que aconteceu com ele?”.

    “Me traiu”. Havia um tom de uma velha dor em sua voz. “Depois que terminamos, Chris ligou para meus pais e pediu dinheiro”. Mentalmente se maldisse por deixar Rose acreditar que sua ex-amante era um homem, mas pensou que ainda não podia dizer-lhe toda a verdade. “Ameaçou fazer pública nossa relação”.

    “Oh, isso é terrível!” Rose ofegou. “Não me surpreende que você não tenha muitos encontros”.

    “Muitos?” Ronnie deu um curto riso. “Não tenho tido um encontro sério com alguém há anos. Tenho um serviço de acompanhante que uso para assuntos formais”.

    “Não vale a pena o aborrecimento, não é?”.

    “Absolutamente não vale”, a mulher de cabelo escuro disse enfaticamente. “Ok, está feita”. Soltou a mão menor, deliberadamente passou seu polegar ao longo do polegar de Rose quando se separaram. “Esse é de secagem rápida. Dê um minuto, então estará pronta. Escolhi sua cor, agora escolha a minha”.

    Verdes olhos examinaram com cuidado as várias tonalidades antes de se decidir por uma. “Já que você é alguém que pode usar os vermelhos intensos. Acho que este ficará bonito em você”. Levantou uma tonalidade escura chamada ‘Coração’. “Sabe que essa blusa vermelha que usou a semana passada ficará perfeita com ela?”. Enfocou-se nas fortes mãos descansando-as no colo de Ronnie. “Você tem mãos fortes. Não são ossudas em absoluto. Deve ser todo esse treinamento”. Decidindo que suas unhas estavam bem secas, Rose pegou a mão da mulher mais velha com a sua.

    Tenho algumas maneiras de liberar minha tensão, Ronnie pensou para si. Compartindo uma cama não lhe permitia a privacidade que tinha normalmente para aliviar-se de outra maneira durante a noite. Tentou dificilmente não pensar sobre o quanto contente se sentia ao manter suas mãos nas mãos de Rose, mesmo que ambas estivessem sendo cuidadosas para não manchar as recém pintadas unhas. O calor, a suavidade… A princípio nem se deu conta de que a jovem mulher estava lhe falando. “Desculpe, o que disse?”.

    “Nada, estava só brincando”.

    “O que você disse?”.

    “Perguntei-lhe se você treina tanto porque está frustrada”. Rose se ruborizou em sua intenção de fazer uma brincadeira audaz. “Por que vai lá embaixo no ginásio tão freqüentemente”.

    Ronnie riu ligeiramente. “Se esse fosse o caso estaria ali todo o tempo. Claro que há outras maneiras de cuidar desse problema”, disse pensando em como gostava da bonita cor que ascendia pelas bochechas da jovem mulher.

    “Hum, sim há”, Rose concordou, baixando o olhar. Finalizou a unha em que estava trabalhando em silêncio. Não era comum que discutisse sobre sexo com alguém e se sentia como uma adolescente, curiosa e envergonhada ao mesmo tempo. “Faz isso?” Praticamente sussurrou quando transferiu a brocha à unha seguinte.

    “Todo mundo faz isso, Rose”.

    “Sim, estou certa que fazem, só não pensei… quero dizer que não posso imaginar…”. A imagem de Ronnie tocando a si mesma se formou em sua mente por um instante antes que forçasse a imagem a se afastar. “Não quero dizer que imaginei que você… bem… você sabe… o que quero dizer…”. Gaguejando parou, estando agora completamente envergonhada. “Oh Deus, este assunto foi idéia minha?” Riu e moveu sua cabeça. “Suponho que teria que ter escolhido algo no qual tivesse um pouco mais de experiência”.

    “Sabe que você fica linda quando se enrubesce”. Ronnie deu um grande sorriso e moveu sua cabeça para trás fingindo passar a brocha de esmalte em seu nariz. “Obviamente ambas temos má sorte quanto chegou a um romance”.

    “Sabe que não significa que não encontrará o amor novamente”. Começou a trabalhar na última unha. “Você é uma mulher muito especial, Ronnie. Qualquer homem será afortunado de lhe ter… oops”. Estendeu uma mão e agarrou a bola de algodão para limpar o erro do esmalte no polegar.

    “Sim, bem talvez algum dia encontre alguém, mas não estou preocupada sobre isso”. Levantou sua mão e sorriu. “Fez um bom trabalho, Rose. Estão maravilhosas”.

    “Obrigada, você também”. Levantou sua própria mão para comparar. “Hei, olha quanto minha mão é menor em relação a sua”. Pressionou juntando suas palmas e soltou uma risada com a diferença.

    “E o que quer fazer agora?”. Ronnie perguntou, não fazendo nenhum movimento para retirar sua mão. Não queria que terminasse. Ainda não. “A noite é ainda uma criança. O que acha se trançarmos o cabelo uma da outra?”.

    “Oh, isso soa bem divertido”, Rose aceitou feliz. “Gosto do seu cabelo. Aposto que você ficaria linda em uma dessas tranças francesas”.

    “O que você quiser fazer. Confio que não me fará parecer a Heidi a pequena Srta. Suíça. Ohh”. A mulher de cabelo loira fez um fingido beicinho. “Mas você vai ficar linda”.

    “É justamente o que pensava em fazer em seu look, quer isso?” Ronnie riu suavemente. “Quer que eu faça seu cabelo primeiro?”.

    “Não, quero fazer o seu primeiro. Você tem um cabelo bonito. Além disso, tem que esperar um ou dois minutos para que suas unhas se sequem”. A mulher mais velha foi obrigada a esperar, então se virou para ficar de costas para Rose. Os olhos azuis se agitaram fechando-se na sensação dos suaves dedos afundando-se em seu cabelo. A suave, melodiosa voz oscilando. “Tão espesso e longo. Não sei como não fica horas escovando-o”.

    “Sou talentosa”, Ronnie disse com um sorriso. “E tenho um bom secador de cabelo”, acrescentou.

    “É muito bonito”, Rose sussurrou, arrastando seus dedos através dos negros fios. “Quando a luz brilha sobre ele, algumas partes parecem quase negras como o azeviche outras parecem mais claras, como um castanho”.

    “Fica um pouco mais claro no verão. Imagino que é o cloro da piscina”.

    “Humm”. Rose começou a torcer o cabelo em uma trança. “Aposto que se sente feliz em estar na piscina durante o verão. Albany é absolutamente abrasador no verão”.

    “O seu fica mais claro? Aposto que sim”.

    “Sim, chega a ser tão claro que é quase açafrão”. Cuidadosos em manter a trança reta, os pequenos dedos continuaram a torcer o cabelo escuro. Elas mantinham uma pequena conversa, mas a concentração de Rose estava no que suas mãos estavam fazendo, não no que estavam falando. Quando terminou a prendeu, seus dedos automaticamente caíram sobre os amplos ombros diante dela. Experimentou apertando suavemente e foi recompensada com um profundo gemido. “Parece que você precisa de uma massagem”.

    “Amaria uma”, Ronnie respondeu, reclinando-se na pressão. “Você tem um agradável toque”.

    “Obrigada”. Deslizou os dedos e os polegares debaixo da gola da camisa e começou a dar uma massagem nos ocultos músculos debaixo da carne quente. Rose se moveu até que a abertura lhe permitisse um suave puxão na camisa.

    “Não precisa fazer isso”.

    “Eu sei, mas quero fazer”. Deu outro puxão. “Não é porque não há ninguém mais aqui para poder fazer isto, mas, além disso, se eu não posso dar a minha melhor amiga uma massagem nas costas, quem pode?” Apertou suas mãos quando a camisa cinza clara foi tirada.

    “Isso é agradável”, Ronnie murmurou.

    “O que é agradável?”.

    “Melhor amiga”. Virou-se para se encontrar com uns suaves olhos verdes. “É recíproco, sabia. Nunca tive alguém com quem eu pudesse falar como falo com você”. Em um impulso puxou Rose para dentro de um abraço.

    A princípio a jovem mulher se assustou, mas depois relaxou contra o calor da pele descoberta. Com seu rosto enterrado no côncavo do pescoço de Ronnie, inalou a mistura de perfume, sabonete, e o próprio cheiro da mulher mais velha. Enquanto o abraço continuava, se deu conta de onde seu antebraço se apoiava. Este se apoiava contra a inflamação dos seios descobertos. Nunca antes havia tocado os seios de outra mulher e se encontrou com curiosidade enfocada na nova sensação. Eles eram suaves, cálidos… Por um breve instante teve o impulso de escavar um em sua mão, para sentir seu peso, mas o corpo de Ronnie sacudiu com um riso baixo e o encanto foi quebrado. “O que foi?”.

    “Sei que disse que sou suave, mas você não pode dormir aí”, a mulher de cabelo escuro brincou.

    “Oh, desculpe, é só… eu hum…”. O rosto de Rose se enrubesceu e sua mente se recusou a oferecer uma desculpa.

    “Senti como se você estivesse flutuando e imaginei que seus travesseiros fossem melhor que meus seios”. Ronnie se virou outra vez e suspirou quando a massagem em suas costas reiniciou.

    “Oh, não estou certa sobre isso”. Rose respondeu, movendo os dedos para baixo na amplitude da coluna vertebral de sua amiga. “Parece que tem suficiente para fazer uma almofada”. Surpreendeu-se com sua audácia e rapidamente tentou rir. “Não é que eu seja particularmente carente nesse departamento”. Seus olhos caíram sobre um pequeno triângulo de pele mais escura que o resto, abaixo dos omoplatas de Ronnie. “Sabia que você tem uma marca de nascença justamente aqui?” Apertou a área de que perguntava.

    “Sim, ouvi falar. Nunca vi eu mesma”. Rose continuou traçando a marca com sua gema do dedo, inconsciente do efeito que seu toque estava fazendo nos sentidos de Ronnie. “Está hum… não está em uma boa posição, inclusive para com os espelhos”.

    “Humm, é muito bonita. É apenas uma pequena marca, não é maior que uma gema do dedo. Está embaixo de seu omoplata”. Seus olhos estudaram a paisagem das costas de sua amiga, observando cada sarda e marcas de beleza. Aonde seus olhos iam, suas mãos seguiam, estendendo-se e correndo de uma parte a outra. “Você tem as costas fortes, Ronnie”. De fato, tudo em você é forte, silenciosamente refletiu. Fortes ombros, fortes braços, inclusive seu queixo é forte. Inclinou-se e viu as grandes mãos apoiadas sobre a coxa de Ronnie. E suas mãos… Fortes e suaves. Quando me sustenta a noite me sinto tão segura. Quando minhas pernas doem tanto que penso que não vou suportar e você me faz me sentir melhor só colocando seus braços ao redor de mim. Não percebeu que sua mão havia se movido e que agora acariciava suavemente para baixo e para cima o bem definido bíceps.

    “Hum… Acho que está bom, Rose”.

    “Humm? Oh”. Rose retirou suas mãos e observou Ronnie colocar sua camisa novamente.

    “Ok, sua vez. Fique de frente”.

    Longos destros dedos se moviam através de seu cabelo, contra seu coro cabeludo, dando massagens enquanto traçavam. Rose não soube quando seus olhos se fecharam ou quando Ronnie começou a cantarolar. Deu-se por vencida em tentar descobrir o que estava sentindo e se perdeu nisto. Pressionou suas costas contra os dedos de sua amiga, suspirando de maneira audível quando Ronnie percebeu a indireta e começou a pressionar os polegares contra a base do crânio. “Ooh, isso é agradável”, murmurou, um preguiçoso sorriso apareceu em seu rosto.

    “Falando em precisar de uma massagem”, a executiva respondeu. “Isso, relaxe contra mim”. Rose fez como a suave voz lhe disse, deixando sua parte superior do corpo sobre Ronnie. A camisa de dormir de Dartmouth era grande para ela, a gola grande permitiu que as mãos chegassem aos ombros sem obstáculo. Suspirou quando os dedos fortes forçaram outra vez seus músculos a relaxar. Afundou mais profundamente contra o marco maior atrás dela. Seus ombros estavam completamente brandos, mas Rose descobriu que outra parte dela estava longe desse estado. Não precisou baixar o olhar para perceber que seus bicos dos seios estavam duros. Enquanto as mãos de Ronnie se moviam debaixo da camisa de dormir, o tecido se esfregava contra a encolhida pele rosada. Rose fechou os olhos e imaginou que essas fortes mãos se moviam para baixo. Seus olhos voaram abrindo-se quando percebeu o que estava sentindo… Excitação.

    “Hei… hum… por que não ligamos a televisão? Tenho certeza que deve ter algo que possamos assistir”. Alcançou o controle remoto, esperando que sua voz não soasse tão nervosa para Ronnie como soou para seus próprios ouvidos.

    Retirada de suas próprias meditações pelo repentino movimento, a mulher de cabelo escuro pode unicamente murmurar uma aprovação. O ruído da televisão encheu o ar. Levou um momento para perceber que Rose não ia mais se recostar contra ela. Desiludida porque a massagem havia terminada, Ronnie voltou à tarefa anterior de trançar o cabelo loiro. Cinco minutos antes havia estado contente, acolhida, e cômoda. Agora seu corpo sentia frio sem o calor da mulher menor contra ela. Soltou um silencioso suspiro e se resignou a contentar-se com só tocar a suave cabeleira.

    Rose estava também sentindo a perda do contato de seu corpo. Teve que se esforçar para não se reclinar nos dedos de Ronnie e começar a massagem outra vez. Por que estou me sentindo assim? O que está acontecendo dentro de mim? É só Ronnie. Tentou imaginar como se sentiria se alguém mais a tivesse tocando, mas um toque acidental de uma mão contra sua clavícula fez com que afastasse esses pensamentos. Oh, o que não daria por uma agradável massagem nas costas dada por você agora mesmo. Começou a reclinar-se com o toque de Ronnie outra vez e teve que parar. Isto é uma loucura. É só que ninguém havia me tocado assim antes, isso é tudo. Repetiu as palavras uma e outra vez em sua cabeça até que o trançado foi feito. Quando Ronnie saiu de detrás dela e se recarregou contra os travesseiros, Rose sentia tudo exceto relaxamento. Seu corpo estava completamente desperto e queimando como um fogo que não havia sentido em anos. De fato, o quarto lhe parecia absolutamente quente nestes momentos. Só esperava que o sono pudesse chegar rapidamente. “Estou cansada”, disse com um falso bocejo.

    “De verdade?” Ronnie olhou o relógio. “Ainda é cedo”.

    “Sim, não sei, acho que sua massagem no pescoço me deu sono. Pode ficar acordada se você quiser, a TV não me incomoda”. Fechou os olhos e esfregou seu nariz mais profundamente em seu travesseiro.

    “Não estou cansada ainda, mas não quero lhe manter acordada. Vou até o andar de baixo e treinarei durante um tempo. Tenho certeza de que isso me cansará”.

    “Oh, não precisa ir”, Rose protestou, embora uma idéia estivesse formando em sua mente.

    “Não, isso não é nenhum problema, de verdade. Preciso treinar”, a tranqüilizou, descendo da cama e apagando a televisão. “Voltarei daqui a meia hora, quarenta e cinco minutos ou algo assim”.

    “Ok” Perfeito.

    ********

    Rose esperou até que ouviu a música flutuando através do tablado antes de dobrar seu joelho direito e separar suas pernas. Dar prazer a si mesma não era algo que fizesse freqüentemente, mas seus dedos não tiveram nenhum problema em deslizarem entres seus lisos lábios e localizar seus excitados nervos. “Ah…”. Seus dedos se sentiam frios rodeando-os pelo líquido quente e a sensação foi intensa quando levou seu dedo através de seu clitóris. Encheu sua mente com eróticas imagens enquanto sua paixão crescia. Sua mão esquerda se meteu embaixo da camisa de dormir e fechou-se no bico de seu seio chegando a ser difícil baixar o rítmico bombeio…

    …Deitada sobre a grossa esteira azul de treino, Ronnie deixou sua mão livre viajar em sua calcinha para escavar seu montículo através desta. “Ohh…”. Os longos dedos empurravam o algodão contra seus úmidos cachos, então mais um pouco até que a entreperna esteve saturada. Moveu-se para acomodar-se, provocou um pouco um afrouxamento na forma da calcinha e utilizou isto para ter completa vantagem, enroscando os dedos debaixo da beira do elástico e entre seus lábios inferiores. Fechou os olhos, seus dedos se converteram nos dedos de Rose. Imaginando a mulher loira lhe tocando tão intimamente provocou com que os quadris de Ronnie saltassem violentamente contra a esteira e sua respiração se acelerasse. Esta era uma fantasia que não havia se permitido considerar até agora e estava surpresa por sua força. Era muito para negar mais. Estava apaixonada por Rose Grayson: nada poderia mudar isso. Na realidade poderia nunca ser, mas aqui, agora, sobre uma esteira em seu ginásio privado, a fantasia poderia ser real. Aqui não havia acidente, nenhum osso quebrado, nenhuma vida destroçada. Aqui estavam só ela e Rose, amando-se uma a outra. Os dedos de Ronnie se moveram através dos negros cachos e os rosados lábios com velha familiaridade, mas os toques eram de alguma maneira diferentes, mais intensos. Estava mais que pronta quando dois longos dedos encontraram sua entrada e deslizaram para dentro em sua primeira articulação…

    … Rose trouxe a outra mão para baixo e se esfregou freneticamente. O molde inteiro era a única coisa que mantinha seus quadris uniformes remotamente na cama. Os músculos de sua coxa ficaram tensos e sentiu uma pontada de dor em sua perna esquerda, mas isto se empalideceu em comparação ao prazer que seus dedos estavam trazendo. Bombeando dentro, retrocedendo, então dentro mais profundo ainda, sua amante de fantasia a trouxe a borda. Rose empurrou tanto como podia, mas havia mais… Mais que não poderia alcançar completamente. Esse lugar especial estava tão perto e ainda tão longe. Dentes apertados fortemente, rosto contraído, empurrou para alcançar o orgasmo. Bombeando tão intensamente que feriu os tecidos entre seus dedos enquanto sua mão esquerda não parava em seus frenéticos esforços. Rose se sentiu balançando-se sobre a borda, mas não podia cair sobre ele. Então sua amante de fantasia lhe falou. “Sim, isso, Rose. Deixe-se ir”. Os tons baixos de Ronnie retumbaram através dela, disparando cargas elétricas que se moveram de seus seios a seu clitóris aonde a explosão final veio com demolidora força…

    “Oh… Rose!”. Ronnie gritou quando os choques de maneira estrepita a atravessaram. Os seguros, deliberados movimentos a arrastaram fora do prazer, lhe permitindo alguns segundos a mais com sua imaginaria amante antes de cair de maneira frouxa novamente na esteira. Fechou os olhos, ficando ali por vários minutos, pouco disposta a deixar a fantasia ir logo. Finalmente sua respiração se acalmou e a realidade voltou. Com ela veio a profunda tristeza. Não importa o que fizesse, nunca desapareceria a verdade sobre o acidente. Nada tiraria a dor de Rose. Ronnie se incorporou e envolveu os braços ao redor de suas pernas, abraçando-se num novelo. Por tanto tempo não precisei de alguém e agora você está aí. Olhava para o teto, então lentamente enterrou sua cabeça contra seus joelhos. O que vou fazer? Preciso de você em minha vida, Rose. Não posso imaginar como era esta vida antes que você viesse e me dá pânico só de pensar que você pode ir embora para sempre. Neste momento não havia nada que Ronnie desejasse fazer mais do que abraçar-se contra a pequena mulher. Respirou fundo e se incorporou, sabendo que quanto mais tempo permanecesse lá embaixo mais tempo passaria antes que pudesse se recostar contra o calor de Rose.

    A toalhinha entre suas pernas limpou qualquer rastro de atividade. Finalizou sua tarefa, deixou esta novamente em um canto sobre o criado-mudo. Rose se recostou embaixo dos lençóis e esperou que Ronnie voltasse. Na escuridão, pensou sobre o que havia acontecido. Nunca em seus remotos sonhos havia pensado em ter sexo com outra mulher. Agora, seu corpo ainda formigando pelo intenso orgasmo, Rose tentou entender seus encontrados sentimentos. Preocupava-se profundamente com Ronnie, mas desta maneira? No entanto, tudo que tomou seu pensamento foi a executiva lhe falando baixo e sedutoramente e Rose começou a se sentir quente novamente. Tentou pensar em duas mulheres tendo sexo. Nada. Não havia interesse em absoluto. As visões em sua mente eram só sexo, corpos e membros misturando-se juntos para prazer físico. Pensou em Ronnie outra vez. Demoradas, jamais terminavam, pernas levadas a uma fácil inchação nos quadris depois apertando sua cintura fina. Seios que nem pareciam muito grandes nem muito pequenos para seu alto tamanho. Um esbelto pescoço levava a uma quadrada queixada e a fortes pômulos, tudo acentuado por lábios cheios e expressivos olhos azuis. Mas a revisão mental não podia permanecer no físico. A rica voz brincou em seu ouvido enquanto a doce fragrância persistindo sobre o travesseiro próximo encheu suas fossas nasais. Rose de repente percebeu que sua mão movia-se contra seu seio. O repentino silêncio quando o estéreo foi desligado sacudiu a jovem mulher tirando-as de sua nova fantasia. Suas mãos foram direto a seus costados e esperou que a porta do sótão se fechasse e que a deste quarto se abrisse.

    “Está acordada?” Ronnie sussurrou quando entrou no quarto escuro. Esperou alguns segundos antes de repetir sua pergunta. Contente de que Rose estivesse dormindo, cuidadosamente se deslizou para dentro da cama. Seus corpos estavam apenas se tocando. Tentou uma vez mais. “Rose?” Esperou vários segundos antes de recostar-se e se cobrir. Seu rosto enterrou-se no dourado cabelo, seu braço descansando através da pequena cintura, Ronnie deu um suspiro satisfeito e flutuou livremente.

    Muito tempo depois que a respiração de Ronnie cedesse a suaves ronquidos, Rose estava acordada, seus dedos ociosos faziam círculos no dorso da mão que se apoiava sobre seu estômago. Foi muita maldade Chris ter lhe magoado tanto, usando seu amor contra você, lhe ameaçando dizer a todos sobre… Seus olhos estalaram abrindo-se quando a pergunta tomou forma. Por que seria tão terrível para você estar envolvida com companheiro de escola? Não é como se estivesse dormindo com um professor ou algo assim. A menos… Seus olhos dilataram. A menos que Chris seja Christine.

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