Capitulo I

Gabrielle mantinha os dedos contra o próprio pulso fazendo o enjôo desaparecer, enquanto isso Xena conversava com o capitão do barco. O tempo era bom e o sol brilhava no alto, a viagem não seria longa e o mar estava calmo.

– Gabrielle como você esta?

-Depois que você me ensinou os pontos de pressão para enjôo estou bem melhor.

– Conversei com o capitão, ele disse que nós podemos ficar com a cabine dele. É o único quarto que fica no meio do barco, você nem vai perceber que não esta em terra firme.

– Obrigada Xena.

– Sempre o melhor para a minha rainha amazona. Vou ver o que vai ter para o almoço, tenho certeza que você já deve estar com fome.

Desde que Xena tinha voltado dos mortos com a ajuda da ambrósia ela estava exageradamente preocupada com Gabrielle, não apenas quando estavam em uma luta, mas se a Barda estava se alimentando bem ou dormindo bem. Depois do beijo que aconteceu quando Xena estava no corpo de Autólicus às coisas estavam diferentes e elas ainda não tinham falado sobre o tão inesperado beijo. Mesmo que ambos os corações ansiassem por esse momento.

O dia passou rápido e depois de cearem foram direto para o quarto tomar um banho e descansar um pouco. Sempre que ficavam sozinhas um silencio constrangedor pairava entre elas, e sempre que Gabrielle podia tentava puxar algum assunto.

– Será que aquela tina esta com a água quente Xena?

– Eu pedi que a deixassem quente porque eu sei que você não gosta de tomar banho na água fria.

– Hum… È meu aniversário e eu esqueci?

-Não Gabrielle, achei que você iria gostar.

– Eu adorei. Obrigada.

A tina era maior do que o normal e com certeza caberiam duas pessoas confortavelmente. Xena já estava tirando a sua armadura quando sentiu mãos delicadas soltando as fivelas e as tiras de couro da parte de trás de sua armadura.

– Eu te ajudo.

Xena se vira e fica de frente para ela seus olhos estavam brilhantes, o azul cintilava quase iluminando o quarto.

– Gabrielle eu preciso conversar com você.

– Pode falar Xena.

– Eu precisei morrer para descobrir que…

– Descobrir o que?

– Que você é mais importante do que eu imaginava.

A guerreira não falava muito sobre seus próprios sentimentos, mas não iria correr o risco de morrer de novo sem dizer o que há muito tempo estava guardado dentro do mais profundo do seu ser. E quanto mais Xena demorava a falar mais Gabrielle ficava ansiosa para saber onde aquela conversa iria chegar.

 – Não consegui deixar você, quando eu me dei conta que jamais iria te ver de novo percebi o quanto eu fui covarde com os meus próprios sentimentos. Não sei se você esta entendendo…

Gabrielle coloca os dedos sobre a boca de Xena fazendo a guerreira parar de falar.

– Eu te entendo mais do que você imagina, porque quando você morreu parte de mim foi junto com você, só não sabia que essa parte era o que eu tinha de mais bonito.

Elas se olhavam, seus corpos estavam pertos e imagens de quando a guerreira beijou Gabrielle passeavam em suas mentes. E como se seus corpos fossem grandes imãs seus lábios se tocaram e dessa vez foi muito mais mágico do que da primeira vez, agora as duas estavam vivas e o beijo não tinha limites de tempo ou restrição e quando Gabrielle abriu os olhos encontrou os olhos azuis mais lindos que ela já tinha visto e não como da ultima vez que se deparou com o olhar confuso de Autólicus.

Os lábios se tocaram de novo e dessa vez com mais intensidade, as línguas se acariciavam explorando cada pedacinho uma da boca do outra. Xena se afasta um pouco prestando atenção apurando seus olvidos, de repente uma luz forte e um barulho de água chamam atenção das duas.

– Depois a gente continua de onde parou._Gabrielle fala com um rubor no rosto.

– Pode apostar que sim…

 Elas saem da cabine e todos os homens tinham sumido e apenas uma mulher com um vestido verde cintilante estava no convés. Xena pega sua espada e aponta para a mulher com raiva.

– Quem é você? O que fez com a tripulação?

– Te procurei por toda a parte, gostaria de não precisar fazer isso, mas não existe outra pessoa a não ser você.

– Do que você esta falando?

– Eu sou a guardiã do poder da fúria dos titans.

– Não estou entendendo

 Xena continua apontando a sua espada para a misteriosa mulher, sempre protegendo Gabrielle mantendo seu próprio corpo na frente do dela.

– Eu procurei Hercules, mas creio que ele não tenha o que é preciso para conter esse poder, só em você consegui ver os dois lados antagônicos de cada ser._ A mulher viu que as duas não estavam entendendo nada: – Deixe-me explicar melhor, seu lado sombrio e seu lado iluminado estão divididos nitidamente, como se você fosse duas pessoas. Apenas alguém assim conseguiria conter esse tipo de poder.

– Mas que tipo de poder você esta falando? O que ele faz?

– Um dos deuses me invocou, não sei dizer qual, e se um imortal possuir a fúria dos titans ele dominaria todos os outros deuses e nem os raios de Zeus conseguiriam deter esse poder.

Gabrielle sai de trás de Xena e se dirigi a mulher.

– E você acha que Xena conseguiria controlar essa coisa?

– Ela é minha única esperança, quando o sol nascer o meu poder ira direto para o deus que o invocou e isso pode ser o fim de toda a existência que vocês conhecem.

Xena guarda sua espada e caminha para mais perto da mulher, agora ela percebe que os olhos dela são puro fogo e sua pele mais branca que a neve.

– O que esse poder pode fazer comigo se eu não conseguir controlá-lo?

– Você pode fazer o mundo inteiro se curvar aos seus pés ou simplesmente destruir toda e qualquer vida. Preciso te advertir que esse não é qualquer poder, é a origem de todo o poder dos deuses. E esse poder será ligado ao seu sangue. Se você sentir raiva ou desejo ele será liberado.

Gabrielle se aproxima de Xena e segura seu braço olhando direto para a mulher.

– Você quer dizer que toda a vez que Xena estiver em uma batalha ela pode liberar o poder?

– Não apenas se ela estiver em uma batalha, assim como ela o poder será dividido em duas partes. A fúria e a submissão.

Xena não sabia exatamente o que o tão grandioso poder fazia e parte dela tinha medo de perguntar e quando tomou coragem Gabrielle antecipou sua pergunta.

– O que esses dois poderes fazem? Como eles funcionam? E o que isso fará em Xena?

A mulher de verde se aproxima colocando suas mãos sobre as de Gabrielle.

– Quando Xena sentir raiva ela pode apenas com seu olhar queimar qualquer pessoa…

A mulher acaricia o rosto de Gabrielle

 – E se ela estiver em um momento de prazer e amor apenas com um toque ela pode fazer qualquer pessoa virar seu escravo para sempre. Mas a fúria e a submissão se confundem, na hora da raiva ela pode fazer seu oponente se ajoelhar aos seus pés e na hora do amor… Matar.

Xena puxa Gabrielle das mãos da mulher e segura sua Barda contra o seu corpo.

– Se eu aceitar esse poder existe um jeito de fazê-lo desaparecer depois.

– Não sei. Seria preciso algo mais forte que a própria fúria, e eu não conheço nada que se compare a ela.

– Acho que não tenho escolha Gabrielle.

– Você sabe o que significa se você aceitar?

Xena se aproxima e deslizando seus dedos sobre o rosto do seu verdadeiro amor.

– Sei sim. Que eu jamais vou saber como seria acordar com você nos meus braços, sentir nossos corpos juntos. Mas se eu não fizer isso esse poder pode cair nas mãos de alguém que pode destruir o nosso mundo e isso inclui você.

– Eu sei Xena. Mais independente do que o destino reservou para nós eu sempre vou estar do seu lado. Mesmo nunca podendo ouvir de seus lábios…

– Ouvir o que?

– Esquece…

– Pena que nós tivemos tão pouco tempo para ficarmos juntas, pena que eu tive tão pouco tempo para saborear o gosto da vida em seus lábios.

A guerreira toma Gabrielle em seus braços e a beija como se ela fosse o ar que te desse vida. E depois vira para a mulher com o olhar baixo e triste.

– Eu estou pronta.

A mulher ergue as mãos e raios cortam o céu o mar fica agitado e nuvens com um tom avermelhado tomam conta de todo o céu. Ela começa a fazer um ritual em um idioma já esquecido e uma nevoa púrpura rodeia Xena e quando a nevoa some junto com ela a mulher misteriosa some também. Gabrielle corre ate Xena esperando para ver se sua guerreira estava bem. Quando Xena abre os olhos, o azul oceânico havia sumido dando lugar para um preto ofuscante e sem brilho.

– Xena… Você esta bem?

– Acho que sim Gabrielle. Só me sinto meio tonta e meus olhos estão ardendo um pouco.

– Eles mudaram de cor. Agora estão pretos.

 – Espero que essa seja a única mudança, precisamos dar um jeito de chegarmos a terra firme agora que estamos sem marinheiros._ Xena vai ate a proa do barco e olha para o mar e suas águas começam a se agitarem e o barco é lançado ate o seu destino.

 – Como isso aconteceu?

– Não faço idéia, mais acho que pode ser algum efeito que o seu poder tem.

Elas chegaram à terra firme com o sol começando a aparecer no céu, arrumaram as suas coisas e ao saírem do barco se depararam com vários homens que esperavam o resto da tripulação. Um homem alto de meia idade com a cara fechada se aproxima da guerreira.

– Onde esta toda a tripulação sua bruxa do mar?

– Olha como fala comigo. Eu não sei ainda o que aconteceu com eles._ Enquanto Xena tentava explicar o que havia acontecido outro homem surpreende Gabrielle por trás segurando uma adaga contra o seu pescoço.

– XENA!!!

– Eu a soltaria agora se eu fosse você.

– O que você fez com a tripulação? Anda… começa a falar.

– Eu já falei que não sei o que aconteceu com eles, se estão vivos ou mortos. Escutei um barulho de água… Eles provavelmente devem ter pulado.

– E você acha que somos idiotas ao ponto de acreditarmos nisso?

– Que você é um idiota eu sei, você ainda não soltou minha amiga e provavelmente vai acabar se machucando por isso.

– Isso é uma ameaça?

– Não. Isso é um aviso. Solte-a.

– Acho que a vida dela pela a da tripulação é uma troca justa.

Quando o homem se preparava para afundar a adaga na garganta da barda Xena começa a ver tudo vermelho, as coisas se movem lentamente o rosto aterrorizado de Gabrielle, a adaga fazendo um ainda pequeno corte em seu pescoço, foi quando sentiu seu corpo inteiro tremer e como se estivesse pegando fogo estendeu sua mão direita para o homem, os seus olhos eram uma mistura de vermelho e laranja brilhante e em poucos segundos restavam apenas cinzas e uma adaga no chão. Quando ela se virou viu o resto de homens que ainda lentamente corriam com as suas armas na sua direção, estendeu sua mão segurando o pescoço do homem que comandava o ataque e dessa vez seus olhos tomaram uma cor roxa e verde e em poucos segundos o homem estava ajoelhado aos seus pés.

– Ordene-me. Minha Deusa.

– Eu quero que você detenha os outros._O home levanta e ergue sua espada fazendo todos os outros pararem: – Agora eu quero que você saia daqui com todos eles e não volte mais.

– Sim minha deusa eu vou fazer o que me pede. Qualquer coisa por você.

Xena vira para Gabrielle ainda com os olhos numa mistura de roxo e verde que desaparece assim que eles focalizam um risco de sangue no pescoço de sua poetisa. Ela corre ate ela examinando o lugar do corte delicadamente.

– Gabrielle… Você esta bem? Esta doendo?_ A barda não conseguia falar nada, ela tinha visto e entendido o quanto a fúria e a submissão eram poderosas:- Gabrielle, fala comigo. Você esta bem?

– Desculpe Xena, estou sim, foi apenas um arranhão._ Ela desvia o olhar vendo as cinzas do homem no chão: – Como você fez isso?

– Não sei, apenas vi o que ele iria fazer e o resto aconteceu sozinho.

– E o que aconteceu com o outro homem? Ele simplesmente parou de lutar e se ajoelhou na sua frente.

– Eu não sei direito, mas quando o toquei senti um poder invadir meu corpo e passar para o dele e sabia que de alguma forma ele estava sobre o meu comando. Como algum tipo de escravo ou coisa parecida. Mas o pior é que…

– O que Xena? Você esta se sentindo mal?

– Não… È que eu não controlo o poder, ele me controla de certa forma.

– Mais você não vai mais precisar usá-lo. E em pouco tempo vai parecer que ele não existe.

– Espero que você esteja certa.

 Ela segura o rosto de Gabrielle com as duas mãos e logo seus lábios se tocam, uma emoção muito forte toma conta delas, como uma corrente elétrica, Xena sente todo o seu controle escapando por entre seus dedos, o beijo estava ficando mais intenso quando a guerreira empurra Gabrielle que quase cai.

– O que aconteceu Xena. Você esta bem?

Xena estava com os olhos fechados tentando se concentrar respirando pesadamente como se sentisse dor. Gabrielle ameaçou caminhar em sua direção mais parou assim que Xena abriu os olhos que estavam oscilando em tons roxos e verdes.

– Gabrielle! Não se aproxime. Fique exatamente onde esta e não se mexa._ Xena começou ver tudo em câmera lenta de novo. Seus olhos queimavam como se o poder a controlasse por completo querendo dominar tudo e todos, principalmente Gabrielle que quase nem respirava. A guerreira deu um passo na direção dela e em seguida caiu de joelhos com as mãos na cabeça se contorcendo de dor: – Gabrielle eu quase tentei te mat… Eu quase não consegui me controlar.

Nota