Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

– “Começar, já é metade de toda a ação”

Xena e Tarsílio averiguavam o caminho e retornavam para a retaguarda para apagar os seus rastros. Mantiveram-se atentos até que cerca de três marcas e meia depois avistaram a fortaleza de Epidaurus. Levariam mais três quartos de marca para chegarem, mas a esperança de uma boa noite de sono os esperava.

Xena mandou os empregados que tomavam conta de sua fortaleza abrir os portões. O seu guardião havia lutado com Xena há muitos anos, e perdeu um olho em batalha. Quando Xena conquistou Corinto e depois expandiu seus domínios, encontrou essa fortaleza quase abandonada. Pertencia a um contrabandista de escravos que não queria se juntar a Xena e abandonar seu antigo negócio. Fugiu deixando a fortaleza quase habitável, Xena só precisou ajeitar algumas coisas e deixou alguns de seus soldados que haviam sacrificado algo para tomarem conta. Queria dar-lhes alguma compensação por terem lutado tão bravamente ao seu lado, mas já não poderiam ter mais tantas expectativas.

– Alexein, veja um alojamento decente para os soldados e quero que aloje meu capitão e sua esposa perto de minhas habitações. Essa é Gabrielle e é minha curadora pessoal, ela ficará por enquanto comigo até arrumarmos um local em que possa fazer a sala de medicamentos e a alojarmos próximo.

Gabrielle corou ao menor pensamento de passar a noite no mesmo quarto que Xena. Sabia que havia certa tensão e interesse por parte de Xena. Não sabia se era só uma vontade física ou havia algum sentimento e isso começou a dar certo receio em Gabrielle. Xena notou seu estado de tensão e reparou no rubor da lourinha ao seu lado, notou também os olhares desconfiados de Calina e os olhares de divertimento de Tarsílio.

– Ora, vamos! Não acham que depois de perder meu castelo, dois dias em uma caverna e uma flechada na perna ainda teria ânimo para certos divertimentos, não é?!

Gabrielle corou mais e Tarcílio soltou uma grande gargalhada que foi reprimida por uma cotovelada de Calina. Xena deu um sorriso escamoteado e disse:
– Vamos entrar, preciso urgente de um bom banho.

Entraram e foram direto para os aposentos de Xena.

– Venha Gabrielle, preciso tirar essa roupa. Você também. Pedi para Calina trazer uma bata para você. E pedi para trazerem água quente para o banho.

Xena ia tirando a roupa sem o menor pudor. Gabrielle ficou paralisada.

“O que acontecerá agora?”

Gabrielle começou a ficar nervosa, desviava o olhar, não queria que Xena visse a curiosidade em seus olhos. Xena novamente viu o desconforto de Gabrielle.

– Já falei que não tenho disposição para esse divertimento que você está imaginando.
– Não estou imaginando nada, senhora.
– Está com tanto medo que não pode me chamar de Xena?
– NÃO! Quer dizer… não Xena é queee… é queee…
– Vamos, fale mulher! Vai ficar aí gaguejando como uma criança que acabou de aprender a falar.
– Desculpe, fiquei um pouco constrangida; nunca tomei banho a sós com alguém. Quer dizer, apenas com minha irmã quando era menor.
– Quando você conseguiu ser menor?! – Xena sorriu descontraidamente.

Gabrielle não aguentou e começou a rir também.

– Está bem, quando eu era criança!
– Vamos Gabrielle, não há com que se constranger, você lava minhas costas e eu lavo as suas. Assim tomamos um bom banho antes de dormir.

Xena pegou Gabrielle pelo braço e se dirigiu ao quarto de banho. Chegando lá, Gabrielle viu numa imensa banheira que dava seguramente para três pessoas confortavelmente. Estava cheia e a água parecia convidativa. Xena entrou na banheira e disse para Gabrielle tirar a roupa para entrar. Gabrielle deixou a túnica cair pelos ombros, mas seus olhos estavam fixos no chão. Xena não conseguiu disfarçar o espanto ao ver o corpo nu da garota. Tinha formas perfeitas, seios médios e rígidos e um abdômen de fazer inveja a qualquer guerreira treinada, pernas bem torneadas… era linda demais.

– Venha Gabrielle! Tire os panos íntimos e entre ou quer ficar fedendo o resto de seus dias?!

Gabrielle retirou com velocidade os panos íntimos e quase se jogou na água o que causou muitos risos em Xena.

– Deuses! Que vergonha é essa menina?! Ou alguém já lhe fez algum mal?
– Não senhora, quer dizer… Xena, ainda sou virgem.

Foi a vez de Xena se chocar.

“Como assim virgem? Ela é escrava e é linda, como conseguiu?”

Xena tinha a expressão tão assombrada que foi a vez de Gabrielle sorrir. Gabrielle sabia o que devia estar passando pela cabeça de Xena e resolveu explicar-lhe.

– Xena, você lembra quando me conheceu? Você lembra como eu estava quando me encontrou? Pois bem, meu primeiro senhor não queria uma escrava para saciar seu apetite sexual, ele era um homem dos estudos e muito velho, queria alguém que só o auxiliasse em seus afazeres. Meu segundo senhor apesar de ser um homem dado à lassidão, nunca me encontrava limpa, eu estava sempre fazendo trabalhos nos estábulos para que me deixassem em paz, assim não se importavam comigo e muito menos nutriam qualquer tipo de interesse sexual, então tive a sorte de me manter intacta até hoje.
– Menina esperta, mas o que fará agora que é minha e sei que você é uma das mulheres mais belas que já vi?

Gabrielle corou.

– Não sei o que farei se me quiser, mas sei que não será uma pessoa bruta, pelo menos não pareceu quando me beijou.

As duas estavam se ensaboando e estavam mais relaxadas.

– Poderia querer só causar uma boa impressão.
– Para uma escrava? Por que quereria fazer isso?

Novamente Gabrielle tocara no assunto que tanto incomodava Xena. Era tão natural o jeito de Gabrielle falar, que parecia a Xena que não mais a incomodava. No entanto, surgia aquele embaraço e novamente o nó na garganta de Xena por mantê­-la nessa condição já que não tinha mais escravos sob seu teto há muitos anos.

“Mas não estava fazendo nada de mais. O que fazia não era errado já que ela era uma escrava legítima, ou estava?”

– Gabrielle, como você se tornou escrava?
– Um grupo de guerreiros surgiu em minha aldeia quando eu tinha catorze anos, capturou quase todas as jovens para vendê-las no mercado de Megara. Minha irmã e eu fomos capturadas, mas fomos vendidas para senhores diferentes, acho que tive sorte de ser comprada pelo Senhor Onésio. Não sei o que aconteceu com minha irmã, mas sei que tempos mais tarde um conflito ocorreu próximo de Potedia, minha terra natal, e me contaram que ela foi praticamente destruída. Assim que não tenho mais nenhuma esperança de encontrar minha família. – A voz de Gabrielle minguava.

Pela primeira vez Xena sentiu como doía na menina, não a escravidão, mas o fato de a terem afastado da família.

– Venha cá, Gabrielle. Vire de costas e deixe eu te ensaboar.
– Não era para eu estar fazendo isso em você?
– E fará, aliás, terá que esfregar muito bem. Ainda estou me sentindo suja.
– Quanto a isso não precisa se preocupar. Depois do banho quero ver também seu ferimento, não deveria estar molhando-o tanto.
– Não acha que ficaria com aquela imundície toda em cima, acha?
– Não, creio que não.

Xena apenas parecia descontraída, mas estava se rasgando por dentro por saber que a sua pequena escrava, se tornara escrava de forma ilegal. Por esse motivo não gostava de alimentar esse comércio que sabia que nunca tinham escravos obtidos de formas legais, como condenados pela justiça, nascidos escravos e pessoas que se vendiam em troca de suas dívidas. Quando conquistava um castelo, tratava de se desfazer de todos os escravos vendendo-os. Mas agora não parecia mais a coisa correta a se fazer.

“Tenho que achar outra forma de combater isso!”

– O que foi Xena? Falei algo que te chateou?
– Não, Gabrielle. Você não falou nada de mais. Estava apenas pensando em uma estratégia para retomar Corinto.
– Você acha que conseguiremos mais gente para o exército?
– Estou gostando de ver! Então já se considera parte do exército?
– Bem… Sou a sua curadora, não sou? Tenho que trabalhar para que os homens fiquem bem, não é?
– Não gosto quando você se aproxima demais dos homens. – Xena falou de forma categórica. O ciúme brotava e Xena não conseguia controlar.

Gabrielle virou de frente e sorriu.

– Tem ciúmes senhora conquistadora? – Gabrielle se mostrava mais relaxada e se divertia com a reação de Xena.
– Tenho ciúmes de tudo que pertence a mim. Se saí de Corinto, foi por pura estratégia não por não ligar para o que aqueles vagabundos estavam fazendo. Os empregados do meu castelo trabalham para mim e assim pertencem a mim. Então se alguém mexer com você ou quiser se aproveitar de sua situação, sim terei ciúmes e ele terá o coração arrancado com minhas próprias mãos. – A voz de Xena era grave e pesada e começou a forçar mais a esponja nas costas de Gabrielle.

Gabrielle estremeceu, se virou novamente e retirou delicadamente a esponja das mãos de Xena olhando-a com muita ternura.

– Vire-se que agora eu lavarei suas costas – Gabrielle falou suavemente e viu os olhos de Xena perderem a dureza em que estavam envoltos.

Xena deixou que Gabrielle tirasse a esponja de suas mãos, parecia hipnotizada, virou de costas e deixou que Gabrielle se ocupasse de si.

Gabrielle massageava suavemente as costas de Xena com a esponja, mas deixou que a esponja caísse e passou a massagear as costas de Xena com as próprias mãos. Estava causando arrepios em sua pele e Xena estava em um estado que ela própria não compreendia. Gabrielle admirava e percebia cada detalhe das costas de sua senhora. Tinha a pele macia e algumas cicatrizes, mas eram quase imperceptíveis, um fiozinho apenas. Os curadores que cuidavam dela deviam ter tomado muito cuidado quando fizeram os pontos. Não deveriam querer desagradá-la. Gabrielle se preocupou com o ferimento de Xena. Se ela ficasse muito tempo na água poderia abrir novamente.

– Xena, acho melhor sairmos, pois seu ferimento ainda não está completamente cicatrizado.

Xena soltou um bocado de ar como se estivesse soltando sua respiração após um longo tempo. Virou-se para Gabrielle de chofre. Gabrielle tomou um susto, porém Xena não a deixou recuperar. Começou a tatear seu rosto querendo perceber cada detalhe como havia feito a primeira vez que esteve a sós com Gabrielle.

– Você não sabe a beleza que tem, não é?! – Olhava Gabrielle intensamente como se sorvesse cada pedaço de pele da curadora e perdia-se nessa exploração.

Gabrielle começou a sentir novamente aquele formigamento estranho que desconhecia e aquele calor em suas entranhas, mas que agora preenchia todo seu interior. Ficou nervosa, pois sua vontade era que Xena a tomasse ali mesmo. Estranhava esse afã que sentia. Sua Senhora era alguém para se temer e se afastar. Tinha um temperamento difícil, pelo menos era o que todos diziam, mas consigo era carinhosa e atenciosa e não conseguia vê-la como alguém que pudesse lhe fazer mal. Estava completamente mole sob seu toque.

Xena reparou que a pequena começava a se entregar, mas não estragaria a sua conquista se arremetendo sobre ela como uma leoa se lançando em cima de sua caça. Queria que Gabrielle a quisesse e faria com que Gabrielle a quisesse. Adoraria ser a primeira pessoa a tê­-la, mas queria sobretudo que Gabrielle gostasse da primeira vez que estivesse com alguém. É obvio que esse alguém teria que ser ela, Xena, e com certo cuidado conseguiria fazer com que Gabrielle realmente a quisesse.

– Muito bem, vamos sair. Já estou ficando enrugada. – Gabrielle acordou de seu devaneio com essas palavras; estava praticamente sonhando com as mãos de Xena a envolvendo.

Xena percebeu a decepção nos olhos de Gabrielle.

“Ótimo, ela está começando a me sentir.”

– Aconteceu algo, Gabrielle?!
– Não, não… – Falou de forma introspectiva e ficou um pouco na defensiva.

Xena notou que a pequena se retraiu. Tinha pedido para Calina preparar algo para comerem e por na mesa que havia no quarto. Enxugou-se e estendeu uma toalha para que Gabrielle saísse da banheira, quando Gabrielle saiu, Xena a envolveu praticamente abraçando-a, sentiu que a pequena se enrijecia sob seu abraço. Soltou-a, virou-se para vestir a túnica, mas a observava com a sua visão periférica. Viu Gabrielle se enxugar com a cabeça baixa, depois a viu procurando algo para vestir. Xena saiu do quarto de banho dizendo:

– Venha se vestir no quarto, Gabrielle. Calina já deve ter posto uma túnica para você aqui.

Quando Gabrielle chegou ao quarto, se deparou com uma mesa magnificamente posta. Tinha dois pratos com talheres, duas taças, uma garrafa de vinho e um maravilhoso assado que cheirava muito bem. O estômago de Gabrielle deu sinais de fome. Então Xena se virou e riu ao escutar o tamanho do ronco.

– Então está com fome. Fiz bem ao pedir para Calina trazer algo para comermos antes de dormir.
– Desculpe. Mas esses dois dias na caverna não comi muito bem, estava muito preocupada com vo… com os feridos.

Xena percebeu que ela se referia a si. Sorriu novamente.

– Tem ficado muito preocupada comigo, pequena! Estou começando a gostar muito dessa atenção especial… Por que não coloca logo sua túnica e vem para a mesa?

Xena foi sentar a mesa. Serviu-se de vinho e colocou vinho na taça que estava a frente do prato de Gabrielle.

– Já tomou vinho antes, Gabrielle?
– Sim. Quando estava em Potedia meu pai sempre trocava uma ovelha por um tonel de vinho vindo de Atenas. E depois quando me tornei escrava e cuidava do hospital do senhor Onésio, ele me dava pelo menos dois cálices de vinho por dia. Dizia que era um ótimo elixir e que cuidava da saúde a longo prazo.
– Então não ficará bêbada se tomar um cálice comigo.
– Talvez um pouco alta, pois há muito tempo não bebo e estou desacostumada, mas não acredito que me faça muito mal.
– Ótimo, então brindemos!
– A quê vamos brindar? Acho que depois de Corinto não teria muitos motivos para brindar…
– Você é que pensa minha amiguinha. Creio que a partir de agora quando retornar para Corinto, poderei fazer a minha própria administração sem aqueles bastardos. Pode ter certeza, não sobrará um só vivo para me atrapalhar.

Gabrielle se sentiu desconfortável com a afirmativa de Xena.

– O que há Gabrielle? Não me diga que sente pena deles?!
– É que… não acho que a morte seja a melhor maneira de cuidar das coisas.
– Ah pequena, gosto da sua ingenuidade e sei que é uma pessoa pura de coração. Sei que não nutre ódio, conhece-o, mas não faz parte de você. Percebi isso ao longo desses poucos dias e isso faz com que eu a tenha num patamar alto de consideração. Porém, minha doce amiguinha, lembra-se da conversa que tivemos em meu quarto em Corinto?
– Sim!
– Pois bem, eu conheço a natureza humana. Se deixar esses canalhas vivos eles voltarão e tentarão me aniquilar, pois eles não são como você, eles são como eu. Esse mau eu tenho que cortar pela raiz.
– Não acredito que sejam como você. Você pode ser uma pessoa de temperamento muito intenso e por vezes se tornar um pouco aguerrida, mas é uma pessoa justa. Talvez não concorde com os métodos que utilize por vezes, pois sempre acho que há alternativas, mas sei que eles são maus, não se importam com nada ou com ninguém e passariam por cima de qualquer coisa para alcançarem o que querem. Já vi muitas vezes isso em Tropea.
– Infelizmente você está enganada. Não me conhece pequena, pois eu passaria por cima de qualquer coisa e qualquer um para conseguir meus objetivos. – Xena foi categórica.
– Acredito nisso, mas sei que hoje seus objetivos são mais honrados e nobres que os deles, o que em minha opinião, faz a diferença entre você e eles.
– Gostei dessa sua forma de ver as coisas, pequena. Faz parecer com que eu faça coisas menos bárbaras do que realmente faço. – Xena olhou diretamente para Gabrielle para ver sua reação. Não sabia por que estava tão agressiva e porque estava querendo expor tanto esse lado do qual sabia que a curadora não gostava.

“Xena… Xena… Você quer conquistar essa menina. Por que está a afastando com essa hostilidade?”

– Xena, você pode não perceber essa diferença, mas eu percebo. Sendo escrava e pertencendo a amos como um objeto a ser utilizado, eu vejo como as pessoas
podem ser extremamente cruéis. Acham que podem fazer tudo o que querem como se essas pessoas que se tornaram escravas por uma infelicidade da vida fossem animais. – Havia um pouco de ressentimento na voz de Gabrielle, mas não havia um tom exagerado. Falava calmamente.
– Gabrielle, sei que para você eu pareço alguém confiável, mas eu já fui dada a esse tipo de luxúria.
– Como você disse você foi dada a esse tipo de coisa, não é mais. Pelo menos não vi essa atitude até agora.

Terminaram de comer e Xena se levantou da mesa indo se recostar em um sofá próximo à lareira. Observava Gabrielle, pois queria ver o que a garota faria.

– Xena, preciso ver seu ferimento. Ficou muito tempo cavalgando e depois o molhou por demais. – Dizendo isso Gabrielle se encaminhou para pegar sua sacola onde carregava algumas ervas e alguns panos secos e limpos. Retirou um pequeno pacote e foi até o sofá onde Xena havia recostado. Sentou-se na borda do sofá e sem se importar se Xena queria ou não ser tratada já levantava a túnica de Xena até descobrir completamente a coxa. Olhou o ferimento com atenção e depois passou a mão suavemente por cima dele.

Xena se arrepiou ao toque. Não conseguia se conter sob a suavidade das mãos de Gabrielle. Era tão sedutor! Um toque macio e delicioso, uma umidade lhe inundou entre as pernas.

“Como conseguirei me segurar diante de tão maravilhoso anseio?”

Fechou os olhos apenas para experimentar todas as nuances desse sentimento e não para parecer como uma adolescente idiota que se entrega aos primeiros frissons da juventude. Percebeu que Gabrielle colocava algo em cima da ferida, sentiu uma leve ardência. Abriu os olhos e viu Gabrielle compenetrada em sua função de curadora, mas nesse momento ela já havia posto um pó que repuxava os pontos e passeava com seus dedos distraidamente em volta da ferida. Continuou observando-a e notou que Gabrielle não mais se atinha aos cuidados do ferimento, olhava as suas pernas com intensidade e curiosidade como se estivesse admirando. Gabrielle levou um susto quando elevou os olhos e esbarrou com os de Xena. Xena estava sorrindo para ela. Corou sobejamente. Xena segurou seu queixo e puxou-a para beijar suavemente seus lábios. Gabrielle sentiu o coração disparar, mas a sensação era deliciosa, não conseguia comparar com nada que houvesse sentido antes. Era algo que fazia sua alma se desprender do corpo, sua pele queimar e arder ao toque.

Xena agora abraçava Gabrielle e a trazia para perto de si. Intensificava o contato e invadia a boca de Gabrielle com a língua explorando-a e extraindo suspiros da jovem. Xena também sentia como se nunca tivesse beijado alguém com tanta emoção. Era um beijo diferente, era um gosto diferente. Parecia que sorvia o néctar dos deuses daquela boca delicada e abrasadora. Com muito custo, se afastou, olhou diretamente aqueles olhos verdes que tanto a atraía e sussurrou:

– Vamos parar por aqui senão não conseguirei cumprir o que prometi.

As pupilas de Gabrielle se contraíram em visível decepção.

– Você não me prometeu nada. Apenas disse que não tinha ânimo para tais distrações.
– Gabrielle… Não me provoque, estou tentando ser uma pessoa civilizada, mas não conte que eu possa me manter íntegra se estiver me estimulando. Agora vá deitar.

Xena falou mais seriamente, mas mantinha Gabrielle ainda presa em seus braços. A respiração era intensa assim como as batidas do seu coração. Soltou Gabrielle e disse novamente para ela se levantar e ir dormir.

– Gabrielle, não quero que faça algo que depois venha a se arrepender, pois ficarei muito aborrecida se isso ocorrer. – Disse soltando-a.

Gabrielle se levantou e tinha a cabeça baixa e estava visivelmente confusa com todos os sentimentos que estavam a enredando.

Xena estava cada vez mais encantada com Gabrielle. Ela era inteligente, sensível, uma boa pessoa e pura. Era alguém com quem podia conversar e via coisas em Xena, que ela, Xena começava a gostar. Os elogios eram naturais e não era nada que se parecesse com bajulação.

– Vá se deitar Gabrielle. Aliás, também me deitarei, pois amanhã tenho muito que conversar com meus homens.
– Onde deitarei senhora, pois só vejo uma cama?
– E é exatamente aí que deitará. Junto comigo.

Gabrielle olhou para a cama e retornou o olhar para Xena. Continuava se espantando com as reações de sua Senhora. Xena mais uma vez se divertia com a forma assustada de sua pequena curadora.

– O que é agora Gabrielle? Apesar de todo o seu discurso sobre não acreditar que eu seja uma selvagem acha que preparei tudo para te tomar a força?!
– Não é isso Xena. Achei que dormiria no tapete ou no chão. Afinal é minha Senhora, não seria algo estranho você dormindo ao lado de uma escrava?

Xena sentiu mais uma vez aquele punhal invisível rasgando o seu peito.

– Você está correta. Eu sou a Senhora e eu digo quem pode dormir comigo, quem pode comer comigo e quem pode estar comigo, não interessa a mais ninguém. Por acaso quer dormir no chão duro?! – Xena falou visivelmente irritada, sua voz era áspera e levantou-se repentinamente.

Gabrielle intuiu que de alguma forma havia mexido com seus brios e tinha que consertar o equívoco.

– Claro que não Xena! Gostaria muito de dormir na cama, apenas fico preocupada com o que as pessoas possam pensar…
– Pensar elas até podem contanto que nunca digam, pois se souber que falam algo, terão a língua arrancada! – Xena se dirigiu para a cama, tirou a túnica e se deitou.
– Você vem dormir ou não Gabrielle?
– Vou sim, mas eu tenho que tirar minha túnica?

A pergunta pegou Xena tão distraída que ela não conseguiu conter a gargalhada. Realmente a pequena era a pessoa mais doce e ingênua que já havia conhecido. Xena não conseguia ficar muito tempo com o humor azedo perto da garota. E quanto mais Xena ria mais Gabrielle a olhava com uma cara de que não entendia a situação. Por fim, Xena conteve o riso e falou:

– Não Gabrielle, não precisa tirar a túnica. Eu tirei a minha por reflexo, pois, é assim que sempre durmo. Venha, deite e durma. – Xena abriu espaço na cama e levantou o lençol para Gabrielle entrar e se acomodar.

Gabrielle se deitou ao lado de Xena e virou-se para o lado oposto.

– Boa noite, Xena!
– Boa noite, Gabrielle!

Quando as primeiras rajadas de sol começaram a despontar, Xena abriu os olhos e percebeu algo acomodado sobre ela. Gabrielle estava com a cabeça apoiada em seu braço e tinha uma das pernas sobre as pernas dela. O mais incrível era que a garota rodeava sua cintura com o braço apertando-a comodamente e Xena não percebeu esses movimentos para enlaçá-la durante a noite. Era como se Xena dormisse todos os dias acomodada a alguém, o que era um absurdo, já que odiava compartilhar seu sono, mas essa pequena criatura conseguia quebrar todos os padrões que Xena construíra ao longo da vida.

Xena ficou olhando a pequena escrava abraçada a ela por longo tempo. Tentou perceber a sensação que tinha em relação a esse insignificante gesto. Definitivamente gostava da menina colada ao seu corpo. Trazia certa paz a Xena, era tão gostosa a forma de Gabrielle ali, como se Xena fosse sua posse e não o contrário. Era como se Gabrielle a quisesse por perto por sua própria escolha, como se não fosse obrigada a estar ali.

“Aaah!! Como isso seria bom.” Pensou Xena.

Gabrielle começou a se mexer e abrir os olhos, de repente percebeu que estava completamente apoiada em Xena e sobressaltou-se. Xena deu um sorriso malicioso e disse:

– Parece que gostou de dormir comigo, vi que estava muito à vontade e não quis acordá-la. Aliás, você dorme bem pesado, não sobreviveria sozinha em uma campanha nem um dia…
– Desculpe-me, Senhora. Não queria incomodar, mas não percebo muito o que faço durante o sono.
– Vamos fazer o seguinte. Não quero que me chame de senhora quando estivermos a sós, já lhe falei isso. Me chame de Xena e se dormirmos novamente juntas, pode deixar que não arrancarei sua cabeça por apoiá-la em meu ombro. – Xena deu um largo sorriso para Gabrielle.

Gabrielle erubesceu. Começava a ser comum a forma de Xena fazê-la se sentir envergonhada. Não entendia sua ama. Fazia coisas para agradá-la e parecia que queria algo mais com ela, no entanto depois dava ares de se arrepender da investida. O fato é que Gabrielle estava extremamente atraída por Xena, sabia disso agora, não sabia como nem por quê. Tinha tudo para querer se afastar dela, mas as suas mãos a acariciando, seu olhar de um azul profundo desnudando sua alma… era como se quando Xena a olhasse, um calor provocativo acendesse em seu interior fazendo com que quisesse dar-lhe seu corpo, coração e mente. Tinha tido um sonho com Xena a tomando, preenchendo seu interior vorazmente, beijando cada pedacinho de seu corpo e Gabrielle não sentia medo, só um prazer desmedido e alucinado fazendo-a querer mais e mais. Algo lhe dizia que não era só um sonho e queria sentir essa chama incendiando-a. Teria que fazer alguma coisa para que Xena olhasse além da escrava, olhasse a pessoa que ela era. Não queria se tornar simplesmente uma escrava corporal para Xena. Queria que ela a amasse.

“Mas como faria isso na condição de escrava?”

Uma voz grave e melodiosa tirou Gabrielle de seus devaneios.

– Gabrielle… Gabrielle… O que foi pequena? Parece que não está aqui!
– Não, nada. É que estava me sentindo envergonhada pelo modo como dormi abraçada a você.
– Pois não se envergonhe. Não me incomodou. Você é muito leve e não se mexe muito, além do mais, gostei da sensação do seu corpo colado ao meu. Isso não é uma coisa muito comum em mim, então, aproveite. – Xena sorriu novamente para Gabrielle, deixando-a mais à vontade.
– Agora minha cara curadora, vamos levantar que teremos um dia muito cheio. Eu com minha tropa e você com Calina verificando o que pode ser feito para essa fortaleza ficar mais habitável. Quero que veja se há um jardim onde tenha plantas que sirvam para seus medicamentos. Creio que o exército precisará de seus serviços em breve. E fale para Calina que não precisa procurar um quarto para você, você dormirá exatamente aqui comigo, mas procure uma sala que possa manipular seus medicamentos.

Xena se levantou e foi para o quarto de banho se arrumar, Calina entrou no quarto com o desjejum e colocou sobre a mesa.

– Como está Gabrielle? Foi tudo bem com a Senhora Conquistadora?
– Como assim? Foi tudo bem, sim. Por quê? Não deveria ir?!!

Calina entendeu que realmente nada acontecera entre elas. Que a Conquistadora não usara de sua posição para se aproveitar da menina, mas conhecendo Xena do jeito que Calina conhecia mais cedo ou mais tarde algo aconteceria. Mesmo que soubesse ser diferente dessa vez. Nunca tinha visto Xena se preocupar tanto com a aceitação de outra pessoa em relação a si e muito menos se empenhar em conquistar a confiança e o carinho. Quando queria alguém simplesmente tomava e pronto.

– Claro que deveria, é que pensei que talvez não ficassem tão bem acomodadas.

Uma voz soou atrás das duas.

– Estamos tão bem acomodadas que Gabrielle ficará aqui por uns tempos. Não precisará procurar nenhum quarto para ela. Quero que fique claro para todos que não permitirei nenhum abuso por parte de ninguém pela condição que Gabrielle tem. Quem quer que seja que venha desrespeitar Gabrielle, se verá comigo.
– Sim Senhora. Senhora trouxe algumas mudas de roupas para a senhora, mas creio que não terei mais roupas para Gabrielle. Quer que eu vá ao mercado da cidade para comprar algumas coisas para ela?
– Quero sim, Calina e leve Gabrielle com você. Depois ela olhará no jardim se há alguma coisa da qual possa se utilizar para preparar seus medicamentos. Vejam também uma sala para Gabrielle trabalhar. Já estão todos acomodados?
– Sim, seus homens que aqui estavam deixaram a fortaleza em bom estado. Tarcílio viu que há uma oficina para fabricar armamentos. Parece estar em bom estado também. A cozinha está em ótimas condições e parece que tem boas cozinheiras que são as esposas de seus guardas.
– Ótimo! Então está indo tudo bem. Vamos Gabrielle, vamos tomar o desjejum e depois sairá com Calina. – Calina se retirou do quarto dando instruções para Gabrielle de como achá-la.
– Sente-se Gabrielle. Vejo que seu estômago está reclamando novamente.

Gabrielle riu.

– É! Ele é meio mal educado mesmo.
– Você já foi privada de alimentação, Gabrielle?
– Quando estava em Tropea, sim.
– Enquanto eu estiver por perto isso nunca acontecerá com você, entendido?! – A voz de Xena era grave e compenetrada.

Enquanto comia, Gabrielle olhava para Xena com uma expressão intrigada.

– O que foi? Por que me olha assim?
– Porque você cuida muito bem de mim. E sinceramente não estou muito acostumada e muitas vezes não sei o que pensar ou como agir.

Xena viu que sua reação com a pequena escrava muitas vezes não era clara e deixava a jovem confusa.

– Sabe Gabrielle, você é uma pessoa que me dá vontade de cuidar, só não sei se isso é bom para você. Estar perto de mim, significa estar em perigo constante. Tenho muitos inimigos que adorariam achar um ponto fraco em mim para me derrotar.
– Por isso me quer aqui com você?
– Também.
– E por que eu seria um ponto fraco para você?

Nesse momento Xena notou que havia se exposto demais. Na realidade não admitira ainda para si mesma o que acabara de falar em voz alta para Gabrielle.

“Será que dessa vez Afrodite conseguiu o que sempre quis de mim? Sempre me dizia que um dia, de conquistadora passaria a conquistada, só que em meu coração. Disse também que quem me conquistasse seria sua protegida.”

– Xena! Xena! Por que eu seria um ponto fraco para você? Você não me respondeu…
– Não há uma resposta por agora, Gabrielle, mas eu sei que haverá… Com certeza haverá. Não pergunte mais nada, termine de comer e vá ver Calina. Eu já vou indo falar com Tarcílio.

Gabrielle obedeceu e ficou quieta pensando no que Xena havia falado, mas quando deu por si, Xena retornou a mesa levantou-a da cadeira e a tomou nos braços para um maravilhoso beijo que deixou Gabrielle sem pernas. Explorava sua boca com volúpia não dando espaço nem para a respiração. Quando Xena soltou Gabrielle, olhou-a com intensidade diretamente nos olhos, notou as pupilas de Gabrielle completamente dilatadas. Soube nesse momento que não era só ela, a pequena a queria também. Desejou não ter que sair, mas não havia outro jeito. Tinha que ir. Virou-se e saiu sem nada falar.

Gabrielle ficou ali parada observando Xena sair. Definitivamente não entendia sua ama, mas agora sabia que seu sonho não era realmente um sonho. Algumas vezes Gabrielle sonhava com algo que depois acontecia de verdade. Decididamente esse era o caso, só não conseguia definir em que situação ela estaria inserida na vida de Xena. Seria apenas uma escrava para seu prazer ou Xena realmente a amaria?

Gabrielle saiu e foi procurar Calina. Saíram para o mercado e Gabrielle comprou algumas roupas para usar no trabalho e outras para as horas de folga. Retornaram à fortaleza e Gabrielle foi procurar algum lugar para instalar sua sala de medicamentos. Foi ao encontro de Alexein, provavelmente ele seria a pessoa indicada para orientá-la quanto ao lugar para se instalar.

– Bom dia, Senhor Alexein! Sou a curadora da Senhora Conquistadora e ela me pediu para que arrumasse um local para instalar a sala de medicamentos, o senhor poderia me auxiliar quanto ao local apropriado?
– A Senhora Conquistadora já me falou a seu respeito. Creio que tenho um local para a senhora, não é muito grande, mas é utilizado por nós para manipularmos pequenas infusões. – Gabrielle estranhou um pouco a forma cordial e o título que Alexein lhe honrou, mas pensou que pudesse ser algo que Xena tenha lhe falado.
– Não é preciso me chamar de senhora, Alexein, chame-me apenas Gabrielle. Não preciso tampouco de grande espaço, basta uma bancada e alguns recipientes para as misturas.
– Muito bem, a levarei até lá e depois ao jardim, também cultivamos algumas ervas aqui. Talvez não tenhamos tantas quanto você necessite, mas acredito que alguma coisa poderá ser utilizada. Precisamos nos apressar, pois a Senhora Conquistadora quer que eu a encontre.
– Então vamos.

Chegando a sala, Gabrielle observou que era bem menor que a de Corinto, mas tinha uma pequena bancada, alguns maceradores, alguns recipientes e uns poucos vidros. Poderia trabalhar confortavelmente sem nenhum problema. Foram também ao jardim e Gabrielle viu que havia as ervas principais e que também não teria problema nenhum para manipular alguns medicamentos. Agradeceu a Alexein e começou a colher algumas ervas para manipular unguentos contra dor e alguns cicatrizantes.

Xena se reuniu com seus principais homens para montar uma estratégia de retomada.

– Tarcílio, o que temos na oficina de armas?
– Alexein deixou tudo funcionando muito bem, temos material para forjar espadas, flechas, balestras e até escudos.
– Temos como construir pequenas catapultas? Nada muito grande para não nos atrasar.
– Creio que poderíamos sim, senhora.
– Tarcílio, quero que envie o seu melhor batedor para Tropea. Temos que saber a posição dos persas e saber o que ocorre na cidade. Quero saber de tudo que está acontecendo lá.
– Verei o que posso fazer senhora. Apesar de termos ficado com homens fiéis, alguns ainda são muito jovens…
– Alexein, a aposentadoria dos homens aqui de Epidaurus está suspensa. Precisaremos de todo o contingente para contra-atacar mesmo que os homens de Epidaurus façam trabalhos estratégicos.
– Poderá contar com todos, senhora. Essa vida muito pacata que levávamos já estava muito maçante e dando nos nossos nervos. – Falou com orgulho.
– Então você ficará responsável por agrupar homens que possam fazer as armas. Quero boas armas, precisam ser resistentes e as balestras e flechas equilibradas e precisas. Tarcílio mande o batedor e um espião, quero um mapa de Tropea com o posicionamento de tudo. Alexein, Adalberon ainda vive?
– Sim senhora. E ele gostaria de vir cumprimentá-la. Sabe que tem grande apreço pela senhora e ainda não pode vir lhe falar.
– Então o mande chamar, acredito que se ele ainda tem metade da força e inteligência que tinha, poderá ser nosso espião.
– Sim senhora. Mandarei trazê-lo aqui agora mesmo.

Após quase um dia de definições de papéis e estratégias, Xena dispensou seu homens e foi até a pequena sala de remédios que Alexein deixara Gabrielle.

Quando chegou, abriu a porta com cuidado só para observar a curadora sem que ela pudesse notá-la. Gabrielle estava maravilhosa. Xena ficou encantada com a simples, mas bela roupa que Gabrielle vestia. Usava uma calça larga de pano fino e leve e uma blusa de mangas largas que transpassava na cintura torneando o abdômen. Também usava uma sandália de tiras que amarravam no tornozelo. Realmente estava parecida com uma curadora, estava linda. Xena ficou admirando-a durante alguns minutos em silêncio. A jovem cantarolava algo e macerava algumas coisas em um pote. Por fim, Xena resolveu se apresentar.

– Está contente com a sua função e sua nova sala?

Gabrielle estava tão distraída que se sobressaltou.

– Deuses!!!! Você ainda me matará de susto!
– Desculpe, não tinha a intenção, mas você terá que aprender a ficar alerta. Poderia não ser eu, poderia ser alguém de assalto. Ainda demorará aí?
– Não muito. Estou terminando essa última mistura e depois terá que ficar em um pote aberto na beirada da janela para pegar vento e secar.
– Quando terminar quer me acompanhar em uma refeição? Não comi nada o dia todo e estou com fome e cansada. Pedirei para Calina mandar alguma coisa para comermos no quarto.
– Claro. Termino logo e vou para lá. – Gabrielle sorriu, pois dessa vez Xena parecia uma criança pedindo doce para a mãe. Estava engraçada, parecia que até estava encabulada.

Xena se virou sem nada dizer e se foi.
Um quarto de marca mais tarde Gabrielle já havia terminado e se encaminhava para o quarto. Encontrou Calina se equilibrando com uma bandeja e tentando abrir a porta do quarto.

– Deixe-me ajudá-la Calina. – Gabrielle abriu a porta para que Calina passasse.
– Parece que está dando muito boa impressão a nossa Conquistadora.
– Por que diz isso?
– Ela estava sorrindo quando me pediu para fazer a comida. Disse o que queria comer, o que não é muito comum. Normalmente come o que todos comem, mas hoje de manhã antes de se reunir com seus homens já estava fazendo a lista do que deveria ter sua refeição hoje. Pediu também para comprar no mercado o melhor vinho que eu achasse. E mesmo com todo esse problema para reconquistar Corinto e seu reino, não está nervosa e está tratando todos com muito mais tranquilidade. Até Alexein reparou, disse que não é a Xena selvagem que conheceu.
– Isso é bom ou é ruim? – Perguntou Gabrielle sorrindo.
– Acho muito bom. Tarcílio diz que já não era sem tempo. Nossa conquistadora merece achar sua própria serenidade.

Gabrielle apenas sorriu, mas no íntimo, seu coração aqueceu. Será que seu sonho se realizaria? Há muitos anos atrás sonhara com alguém que a amava muito e que ela era feliz ao seu lado. Quando virou escrava achava que havia se enganado na interpretação desse sonho, porém há pouco tempo começou a sonhar diversas vezes com Xena fazendo amor com ela e uma intensidade de sentimentos maravilhosos a inundava. Voltou também a ter aquele sonho, mas no sonho aquela pessoa ainda não tinha um rosto definido. Entrou no quarto com Calina.

A mesa já estava posta e arrumada de forma primorosa. O quarto tinha uma iluminação acolhedora. Alguns candelabros espalhados e acesos davam um clima muito aconchegante. A lareira também estava acesa. Calina arrumou na mesa, o restante do que estava na bandeja. Gabrielle não parava de olhar o quarto. Estava encantada. Calina se despediu.

– Boa noite, Gabrielle. Creio que sua conquistadora deve estar se preparando para o jantar. – disse sorrindo e saiu.
– Boa noite, Calina. Obrigada por tudo. – Gabrielle devolveu-lhe o sorriso.

Quando Calina saiu, Xena já estava na porta do quarto de banho olhando para Gabrielle.

– Não acredite em tudo que Calina diz. Ela é uma alcoviteira e vive me arrumando alguma história… – Xena estava apoiada no beiral. Já tinha tomado banho e vestia o roupão.

Gabrielle olhou para Xena com uma intensidade que faria até o Deus Dionísio corar.

– Não me olhe desse jeito Gabrielle. Posso perder o pouco de civilidade que tenho e esquecer que ainda é uma jovem virgem que precisa ser resguardada.

Gabrielle baixou o olhar, mas sua vontade era pedir para que Xena não a respeitasse tanto. No entanto, ainda não tinha tanta certeza de que se pedisse isso, depois de tudo, Xena quereria estar com ela.

– Vai ficar aí parada, Gabrielle?! Tem um bom banho esperando por você. Vá se banhar e depois jantaremos e conversaremos sobre o que fez durante o dia.

Gabrielle não falou nada. Foi até o baú onde guardara as roupas que comprara mais cedo com Calina, pegou uma túnica branca, um cinto e roupas de baixo e seguiu para o banho.

Xena a observava para ver as reações da pequena curadora ao seu galanteio. Quando Gabrielle entrou no quarto de banho viu a banheira coberta de pétalas de flores e velas espalhadas deixando o ambiente magnificamente decorado. Gabrielle não conseguia manter a boca fechada. Xena sorriu ao ver a reação da garota e se retirou para o quarto para se vestir. Quando Gabrielle voltou do banho, foi a vez de Xena se abismar. Gabrielle estava vestida com uma túnica branca de algodão com um corte ateniense e um cinto prendia a sua cintura. Os cabelos estavam presos em uma trança e usava uma tiara feita com flores naturais. Estava maravilhosa. Xena não conseguia tirar os olhos dela e tão pouco conseguia articular uma palavra sequer. Gabrielle se aproximou e Xena a pegou pela mão conduzindo-a até a mesa. Puxou a cadeira para que Gabrielle sentasse e depois foi sentar-se a sua frente.

Gabrielle estava fascinada. Parecia que o que estava vivendo era um de seus sonhos, porém tinha mais encanto.

Xena reparava as reações de Gabrielle nos mínimos detalhes. Via que sua pequena curadora era não só atraente como também inteligente e sedutora. Não conseguiria segurar além dessa noite. Estava nervosa como uma virgem na lua de mel. Estranhava a si mesma, mas queria a aceitação de Gabrielle e isso não parava de martelar em sua cabeça.

– Como vai tudo até agora? Está tudo a seu gosto? – Perguntou Xena.
– Está maravilhoso! Mas não creio que mereça tudo isso.
– Se engana minha amiguinha, merece isso e muito mais. Não acha que faria tudo isso se não a considerasse, acha? – Xena já enchia o seu cálice e o de Gabrielle de vinho.
– Mas não entendo o porquê!
– Quero proporcionar uma noite agradável para nós duas. Quero que goste de estar comigo, quero que se sinta a vontade comigo.
– Mas já me sinto a vontade com você. Não entende que uma das coisas que eu mais queria na vida, você já me deu?!
– Então brindemos ao entendimento. – Xena estendeu sua taça para Gabrielle e ela brindou com Xena sorrindo.
– Você está linda. Vejo que comprou roupas de muito bom gosto. Ainda bem que não deixou que Calina escolhesse. Ela a vestiria como uma virgem de Héstia.

Gabrielle riu com gosto.

– Realmente nossos gostos não casavam.
– Gabrielle, o que você espera para sua vida?
– Não tenho muito que esperar Xena. Sou escrava há muitos anos e como tal, aprendia a ter pequenos sonhos, mas muito pequenos mesmo; hoje tenho um sonho realizado que nem pensava mais ser possível e você o proporcionou. Não tenho como agradecer e tampouco o que oferecer… – Nesse momento Gabrielle tinha um brilho em seu rosto que parecia resplandecer todo o quarto.
– Não deve nada a mim, tudo o que fiz foi por que quis e por acreditar ser o certo, mas isso se deve ao fato de você ser como você é. Mas vamos comer, pois logo a comida esfria e quero passar um tempo mais com você antes de dormirmos.

Xena tomou um bom gole de vinho. Estava tensa e ansiosa para perceber quais sentimentos rondavam o coração da jovem.

Gabrielle serviu Xena de um bom pedaço de peixe assado e alguns legumes. Serviu-se também e boa parte do jantar fizeram caladas entre olhares. As duas estavam com os pensamentos em um turbilhão.

“Será que Xena pretende algo mais comigo essa noite? E se eu não for aquilo que ela deseja, amanhã serei descartada como uma qualquer.”

“Será que Gabrielle entende o que faz comigo? Conseguirei atingir seu coração?”

– Vocêee…. – As duas falaram ao mesmo tempo e riram juntas.
– Diga Gabrielle, o que quer saber.
– O que vem agora?!
– Não sei. Talvez seja melhor irmos com calma, conversarmos e nos conhecermos. Você tem medo de mim e eu tenho um interesse muito particular em você. Mas vejo que não está segura e não confia em mim totalmente a ponto de deixar que algo mais aconteça… – Xena disse essas palavras para observar o que Gabrielle estaria pensando, era uma exímia estrategista e como tal queria saber em que terreno estaria se metendo.
– Não tenho medo de você. Tenho medo do que pode acontecer depois, afinal de contas, não tenho muita experiência a nível sentimental, tenho medo de ser um erro e depois ser rejeitada. Sou escrava, mas nunca fui escrava corporal e se me perguntar se gostaria que isso ocorresse, posso afirmar que nunca quis essa experiência, mas na minha condição sei que não posso escolher nada. Sei também que se quiser você pode me tomar quando e como quiser. Como disse, não tenho em absoluto medo de você, sinto que não faria nada brusco ou me tomaria de forma hedionda, pois se assim o quisesse já teria feito. Mas o que acontece depois?

Xena apenas olhava Gabrielle com uma expressão impassível, mas no íntimo estava surpresa com a resposta da menina. Via que Gabrielle era diferente de todos com quem já convivera, fossem escravos, empregados, soldados ou estadistas. Este fato a fascinava mais ainda. O que responderia para alguém tão distinto, inteligente e que com toda certeza estava coberta de razão?!!

– Não tenho pretensões de te tomar a qualquer custo, realmente você está certa. Verdadeiramente poderia fazê-lo como já fiz em outras épocas e você tem razão
sobre isso também, e eu também não sei a resposta para sua pergunta. Não sei o que vem depois, mas sei que não quero e não vou fazê-la uma escrava corporal. Apenas sei que o que tenho por você é algo que nunca senti por qualquer outra pessoa. E se quer saber a verdade, tenho medo também.
– Medo?!! Você?!!

Gabrielle se surpreendeu e Xena gostou do sentimento que provocou na jovem com suas palavras.

– Vamos para o sofá Gabrielle poderemos conversar mais cômodas lá.

Xena se levantou, afastou a cadeira de Gabrielle e pegou-a pela mão.

– Pegue sua taça de vinho e me acompanhe.
– Por que tem medo? De mim não pode ser!

Xena se sentou no sofá cruzando uma das pernas sob a coxa e acomodou Gabrielle ao seu lado. Bebeu um pequeno gole de vinho e olhou intensamente para a pequena criatura sentada comportadamente ao seu lado.

– De você exatamente não, mas se me rejeitar, sinto que não conseguiria fazer com você o que normalmente faria a alguém que tivesse essa reação. Numa situação dessas, no mínimo colocaria a pessoa em um calabouço para apodrecer e não me importaria se ela morresse de fome, sede ou roída por ratos. Com você eu sinto que ficaria abatida e não saberia o que fazer. Como vê, temos um impasse e ambas estamos na mesma situação por motivos diferentes. Tanto você como eu, temos medo do que pode acontecer, com uma diferença, eu pagaria para ver.

Xena olhou para a taça de vinho calmamente rodeando-a com a mão. Gabrielle não sabia o que pensar, estava atordoada com a declaração de Xena. Tomou também mais um gole de vinho pensando na situação. Tudo que aconteceria dali por diante praticamente dependeria do que ela decidisse.

– Sempre que decisões dependiam de mim, segui meu coração sabendo que deveria suportar as consequências. Mas eram decisões mais fáceis, pois as únicas consequências possíveis eram o castigo ou a morte. Mas com o coração eu não sei como lidar.
– Você quer me dizer que a morte e o castigo são mais fáceis?
– Claro que sim. A morte pode ser o fim do sofrimento e o castigo o prenúncio da longevidade e o que se faz com o coração quando se parte? Eu não sei.

Cada vez que Gabrielle falava, mais Xena se impressionava, no entanto queria ter aquela pequena em seus braços. Queria protegê-la, queria fazer amor com ela, queria dar-lhe alento. Entendeu que era ela quem resolveria esse impasse. Colocou a taça de vinho de lado, retirou a taça de vinho das mãos de Gabrielle e disse:

– Então eu vou decidir por nós duas. – Puxou delicadamente Gabrielle para si e beijou-a. A princípio um beijo terno e cheio de carinho. Aos poucos o contato se tornou mais sólido, não obstante sensível.

A língua de Xena passeava pela boca de Gabrielle tentando sorver todos os gostos que ali se hospedavam. Era a boca mais saborosa que Xena havia provado em sua vida. Sentia o coração de Gabrielle acelerar e deixou que a excitação tomasse conta de si.

Gabrielle não mais controlava sua vontade, queria que Xena a conduzisse aos Campos Elíseos e sabia que ela o faria. Sentiu o corpo se aquecendo a ponto de querer se desnudar. Xena segurava Gabrielle pela cintura e deixou que o gostoso estímulo de ter Gabrielle a sua mercê a governasse. Começou a subir as mãos até os seios de Gabrielle. “Que delícia!” Pensou. Gabrielle deu um gemido descontrolado e soltou o ar preso em seus pulmões. Xena sorriu e passou a língua suavemente riscando uma linha da base do pescoço de Gabrielle até o lóbulo da orelha. O gemido tomou forma, Gabrielle chamava o nome de Xena ofegante. Num impulso Xena desatou o cinto de Gabrielle. Queria vê-la, queria toda para si. Como era bom ouvi-la chamar seu nome. Já estava completamente tomada, molhada, queria sentir o corpo de Gabrielle sobre o seu.

– Vem comigo Gabrielle. – Se levantou com dificuldade de romper o contato, mas queria-a na cama. Conduziu Gabrielle já completamente entregue até sua cama. Tirou sua túnica e puxou suavemente as alças da túnica de Gabrielle para que deslizasse ao chão.

Os olhos de Gabrielle contemplavam o corpo de Xena com paixão. Xena se admirou com a intensidade com que Gabrielle a desejava, sua íris era de um verde vivo embriagador.

– O dia em que estiver a beira da morte, quero me lembrar de seus olhos, pois aí saberei que encontrei minha paz. – Disse Xena.

Gabrielle se deitou na cama.

– Toma-me por completo, pois se um dia estiver à beira da morte me lembrarei desse momento e saberei que encontrei minha felicidade. – Gabrielle não tinha mais dúvidas. Permitiu que Xena apossasse de si. Não tinha mais medo ou restrições.

Xena segurou os pés de Gabrielle e começou a beijar com pequeninos e suaves beijos, subindo, trilhando um caminho ao longo das pernas. Lambeu a parte interna da coxa extraindo mais e mais gemidos e suspiros. Gabrielle agarrava os cabelos de Xena com impaciência lamuriando um desejo não atendido. Xena traçou uma linha no abdômen, passando pelo umbigo e subindo até a curva dos seios de Gabrielle acariciando todas as partes do corpo de Gabrielle que pudesse alcançar. Beijou um e outro mamilo, voltou ao primeiro e o segurou com os dentes, sugou, lambeu. Gabrielle urrou, era uma deliciosa tortura, parecia que iria explodir.

– Xena… Xena… Por favor….

Xena estava em êxtase. Sugou o outro seio.

– Xena, não aguento mais… Por favor…
Trilhou o caminho de volta pelo abdômen de Gabrielle com beijos aguados rumo ao seu prazer. Chegou ao vão molhado entre as pernas de Gabrielle e lambeu o ponto rijo com gosto. Escutou o som maravilhoso que era Gabrielle chamar seu nome com delírio. Circundou o clitóris várias vezes e sentiu Gabrielle se debater e agarrar-se a ela com loucura. Xena estava alucinada não tinha mais controle sobre si. Sentia Gabrielle encharcada, não resistiu e penetrou Gabrielle com dois dedos eliminando a pequena sentença da castidade, mas aplacando seu próprio desejo. Gabrielle murmurou um pequeno lamento de dor, Xena segurou o movimento dos dedos dentro de Gabrielle e continuou a burilar brandamente o clitóris até sentir que Gabrielle retornava de seu estado de arrebatamento. Gabrielle encheu os pulmões de ar e sussurrou:
– Não para Xena! Agora estou viva!

Xena enlouqueceu. Arremetia os dedos e chupava Gabrielle querendo vê-la gozar a qualquer preço. O coração de Gabrielle acelerava mais e mais, segurou a cabeça de Xena pedindo, implorando até que um tremor, uma explosão de sensações eclodiu deixando seu corpo lasso, inerte. Parecia que estava em outro mundo; que todos os deuses a tinham arrebatado.

Xena retirou os dedos de seu interior, galgou até o espaço ao lado de Gabrielle, deitou-se acariciando seus cabelos, mas ela mesma ainda estava em um estado de excitação que não compreendia. Sempre se satisfizera extraindo o prazer alheio. Era para ela o maior prazer ouvir o outro clamar por seu desejo, fazer o outro suplicar pelo prazer que ela poderia proporcionar, mas não agora. Imaginou inúmeras noites esse momento e nunca se satisfazia consigo mesma. Começou a beijar Gabrielle na testa, no rosto, na boca, Gabrielle correspondeu com ardor. Estava excitadíssima e viu que Gabrielle correspondia. Sabia que a inexperiência da jovem faria com que Gabrielle se acanhasse. Começou a conduzi-la em seu desejo. Pegou suas mãos e colocou em contato com seus seios. Gemeu instruída pela leve carícia de sua amante. O toque de Gabrielle era delicado e apaixonado. Subiu em Gabrielle encaixando seu quadril no quadril dela. Começou um movimento de vai e vem aumentando o contato de seus corpos, Gabrielle começou a seguir seus movimentos. Gemeu enlouquecendo Xena que estava enlevada pela sensação de excitar novamente sua amante com sua própria excitação. Gabrielle começou a acariciar a princípio timidamente, mas seu entusiasmo por tocar e a admiração daquele belo corpo a empolgou, seus olhos se acenderam e Xena notou que poderia continuar que a menina a levaria com facilidade, curvou-se e beijou Gabrielle com vontade, Gabrielle correspondeu. Começou a tocar Xena com timidez, mas os beijos estavam se tornando poderosos. Xena pegou a mão de Gabrielle e a deslizou por entre as suas coxas. Gabrielle encontrou um centro úmido, úmido não, extremamente molhado.

– ISSSSS!!! Deuses como é gostoso!!!

Xena sorriu ao ver que sua pequena se excitava ao se deparar com seu estado.

Gabrielle não sabia muito bem o que fazer, mas sabia que desejava sentir Xena, desejava a própria Xena, desejava devorá-la…

– Toque-me dentro Gabrielle… Entre em mim… – Xena falava com a voz grave e rouca, não como uma súplica, era quase uma ordem.

Gabrielle penetrou com seu dedo médio, sentiu Xena se dilatar ao seu toque; era maravilhoso, entorpecedor. Um calor abrasador subia novamente por entre suas pernas.

– AAAHHH! Que delícia!!! Mais Gabrielle, me penetre mais e com fúria, me preencha inteira – A voz de Xena se tornava mais rouca, mais embargada…

Gabrielle retirou seu dedo e acrescentou mais um. Não conseguia mais dominar sua vontade; entrou em Xena com força, queria extrair dela mais súplicas mais palavras…

– GRRRUU! Isso Gabrielle quero gozar para você!!!!

Gabrielle apoiou a mão na própria perna entrando em Xena com vontade. Xena perdeu todo o tino e cavalgou alucinadamente na mão de Gabrielle ditando o próprio ritmo. Estava já em um estado tal de excitação que não demorou muito a atingir o clímax. Seu líquido escorreu sobre a mão de Gabrielle e Xena desabou, consumida por todas as emoções que ditaram o compasso da noite. Estava inerte, completamente sem sentidos sobre Gabrielle. Gabrielle a abraçou, acariciando seus cabelos. Eram lindos! Como havia desejado tocá-los e Xena se encontrava entregue a ela. Começou a beijá-la na testa em beijos miúdos.

O peito de Xena explodia em uma emoção que nunca antes tinha experimentado. Sempre fez seus companheiros de cama suplicarem por seu prazer. Nunca havia ocorrido o contrário, nunca tinha tido essa necessidade premente. Não tinha forças para levantar tamanha a magnitude do orgasmo atingido. Pensou que estava agora fadada a proteger essa mulher que não só a havia domado como dava forças a ela a reconquistar seu reino para partilhar, oferecer e dar sentido a sua conquista.

Estava ainda debruçada sobre o corpo da pequena mulher que havia tomado sua alma. Rolou para o lado e estreitou Gabrielle nos braços, deixou que a jovem apoiasse a cabeça em seu ombro.

Gabrielle estava fascinada, nunca pensou que em sua curta, porém densa vida chegaria a encontrar tamanha felicidade. Encontrava-se em um estado de êxtase completo.

– Xena você é mesmo essa pessoa que todos dizem ser? Temível e terrível? Porque a minha Xena não é.
– Então eu sou sua, Gabrielle? – Xena brincou sorrindo, mas no fundo sabia que era a mais pura verdade. Não era Gabrielle que pertencia a ela, era Xena que tinha a alma, corpo e coração a total disposição da pequena. Era como se uma luz tivesse invadido sua vida e começasse a controlar sua escuridão. “É Afrodite, você realmente conseguiu”. Sorriu consigo mesma.
– Se me permite. Hoje você me fez sua. Não como propriedade, mas em meu coração e espero que eu tenha ficado em seu coração também.
– Com certeza, pequena… Com toda certeza… – Xena estreitou mais Gabrielle em seus braços como se quisesse ter certeza que a pequena não fugiria quando adormecesse.

Dormiram abraçadas em um sono calmo e profundo.

Xena acordou mais uma vez sob o peso de Gabrielle. O sol já havia nascido e Calina já havia posto seu desjejum.

“Pronto agora a fofoca vai se instalar na fortaleza. Como eu pude dormir até essa hora?”

Xena olhou Gabrielle em seus braços, completamente nua, agarrada a ela como um bichinho. Lembrou-se da noite anterior. Sorriu pensando que era muito boa a sensação de tê-la ali, relaxada, confiante e protegida por ela e o mais estranho é que gostaria que isso se repetisse sempre. Era como se pela primeira vez se sentisse viva e com paz. Sentia-se viva sempre que saía de uma batalha, uma boa briga. Mas era diferente. Quando em batalha sua força ficava renovada, mas quando dormia, sentia um nada. Caía em um sono sem sonhos, pois aprendera a distanciar-se dos fatos, aprendera a não responder ao sangue que derramava. Agora era como se de seu espírito fluísse a própria existência. Havia sonhado pela primeira vez em anos. Havia sonhado que entrava em Corinto com seu exército sendo aplaudido e Gabrielle cavalgava a seu lado. Começou a acariciar os cabelos de Gabrielle para tentar acordá-la. Gabrielle abriu os olhos verdes e mirou Xena que lhe sorria. Sorriu também.

– Não gostaria de estragar seu sono, mas dormimos algumas marcas a mais e creio que a partir de hoje você não terá uma reputação das melhores. – Xena apontou a mesa de desjejum posta.

Gabrielle escondeu o rosto no travesseiro, envergonhada pelo estado em que se encontrava, pensando como encararia Calina.

Xena riu dizendo:

– Não acredito que se importa com o que os outros pensam?
– Não é que me importe precisamente com o que os outros pensam, é que não pretendia exatamente dormir assim! – Falou mostrando seu estado de nudez.
– Pois eu pretendia, já que muito me agrada tê-la nesse estado. – Riu e beijou-a ardentemente.

Seus corpos se colaram e já começavam a dar sinais de excitação. Xena se soltou a muito custo do abraço sensual de sua amante que começava a arfar tirando-lhe a razão.

– Não senhorita! Tenho muito a fazer hoje e se ficar aqui com você, acabo perdendo meu reino!

Gabrielle riu com gosto.

“Ah! Como gosto do som desse riso”. Pensou Xena já se levantando.

– Vamos mocinha, acha que ficará remoendo na cama hoje? Pode se levantar e ir para o quarto de banho que quero minhas costas muito bem limpas. – Falou Xena se dirigindo para o quarto de banho com Gabrielle logo atrás.

Tomaram banho rápido e se sentaram para o desjejum. Gabrielle agora estava mais taciturna.

– O que há pequena? Falei algo que não devia?
– Não, só queee…
– Só o que?
– Só que disse que prepararia uma investida em Tropea. E que os persas provavelmente estariam lá. Acho que não são guerreiros comuns. Ouvi dizer que são organizados, estrategistas e muito selvagens. Dizem que se quisessem poderiam até acabar com o exército espartano…
– E?
– E é que não gostaria de estar aqui sabendo que o exército está lá enfrentando dificuldades sem poder ajudar!
– Está preocupada com o exército ou comigo, pequena?
– Com os dois… – A voz de Gabrielle foi minguando. – Não gosto de pensar que possa se ferir e não ter ninguém habilitado para cuidar de você. Quer dizer, dos homens…

Xena apesar de sentir uma emoção forte em seu coração, por saber que Gabrielle se preocupava com ela, não admitiria levá-la em uma campanha como essa. Gabrielle não saberia se defender e ela não poderia entrar em uma batalha preocupada com ela. A pequena significava hoje, algo que não poderia pensar em perder.

– Nem pense. Não a levarei. – Falou se levantando, dando o caso por encerrado. – Mas Xena…
– Não tem mas! Esse assunto encerrou.

Xena saiu do quarto deixando Gabrielle atônita e sem opção.

Xena se dirigia à sala em que se reuniria com os homens.

“O que Gabrielle estava achando? Que ao primeiro pedido que me fizesse eu cairia e me derreteria para atendê-la? Onde já se viu levá-la a uma campanha! Nem à própria Athenas se aparecesse para mim eu conceberia tal loucura!”

Nesse exato momento Xena parou no corredor.

– O que você quer dessa vez? Já está começando a me irritar Ares!
– Eu te avisei Xena.
– Sobre o que você está falando?
– Eu disse que essa garota irritante te traria problemas.
– Sabe de uma coisa? Quanto mais você fala mais eu tenho certeza do que faço. Já te falei isso antes, não falei?
– Você já perdeu Corinto, Xena!
– Ah, então é culpa de Gabrielle eu ter perdido Corinto. Acho que as coisas estão começando a fazer sentido para mim, Ares. Com quem você se aliou agora? Com Sileno? Com os persas? Não. Com os persas você não poderia se aliar, eles não lhe bateriam continência… Você é muito vaidoso para isso. Talvez Aahbran!

Nesse instante Ares simplesmente desapareceu.

“Que tártaro! O dia está começando do avesso pelo visto”.

Xena entrou na sala irritada.

– Bom dia! Como passou a noite Xena? Correu tudo bem?
– Vamos ao que interessa Tarcílio. Tem alguma notícia dos homens que enviamos a Tropea? E a produção das armas, como anda?

Tarcílio se encolheu em seu entusiasmo.

– Bem os homens ainda não chegaram, os enviamos ontem ainda. E as armas estão sendo feitas como pediu. Disse que não queria peças sem valor, que não queria colocar os homens em risco e que lhes déssemos o melhor. Assim que está um pouco mais lenta a produção por conta do cuidado com a fabricação.
– Quanto tempo acha que levaremos para ter uma resposta dos homens que enviamos a Tropea?
– No mínimo quatro dias. Um dia e meio para chegar, um dia para ver a situação e um dia e meio para retornarem.
– Não teremos tanto tempo. Eles já estarão nos esperando prontos com uma estratégia montada. Quero pegá-los de assalto. Vamos partir amanhã cedo e encontraremos nossos batedores no caminho. Montaremos acampamento próximo a Olímpia para nos inteirarmos da situação e atacarmos. Também quero visitar a oficina para ver nossos armamentos. Alexein cuide para que tudo esteja pronto para partirmos amanhã antes dos primeiros raios de sol, mantimentos, cavalos, carroças para cargas e as catapultas que já estiverem prontas. Veja também os homens que poderão de alguma forma lutar, mesmo que seja para operar as catapultas ou aquecer óleo e montar trincheiras.
– SIM SENHORA CONQUISTADORA!! – Tarcílio e Alexein se perfilaram em um cumprimento e Xena se virou seguindo para a oficina.
– Venha Tarcílio. Quero ver os trabalhos na oficina.
– Há algo que possa fazer para melhorar seu dia, Xena? – Perguntou Tarcílio brandamente para não irritá-la. Ele a conhecia há muitos anos para saber que seu dia não tinha começado muito bem.
– Se você puder matar o Deus da Guerra para que não me perturbe logo cedo agradeceria.
– Ares a procurou?
– Está me acompanhando desde o último dia em Corinto e acho que tem muito a ver com o nosso contratempo.
– O que tem lhe falado?
– Tem me advertido com relação à Gabrielle. Diz que ela ocasionará minha derrota e chama-a de garotinha irritante.
– Então você está no caminho certo, Xena. Ele não se incomodaria com alguém se essa pessoa não a colocasse mais distante dele.
– É o que penso e Calina já me falou o mesmo, mas nem por isso deixa de tirar o meu humor. E, além disso, Gabrielle veio com uma conversa de querer nos acompanhar em campanha dizendo que preciso de alguém habilitado para se acaso eu me ferir poder me tratar. Veja se eu a deixaria vir conosco sabendo que não pode se defender?

Agora Tarcílio entendia a irritação de Xena. O pedido da pequena havia desestabilizado a Conquistadora. Sentia isso em relação à Calina. Compreendia o desespero em relação a alguém que se ama, mas sabia que Xena nunca havia experimentado tal sensação, sabia também que a pequena deveria estar sentindo o mesmo.

– Xena, se você pensa e sente assim, entenda que ela deve sentir o mesmo com relação a você.
– Você está louco! Está querendo dizer que devo levá-la?
– Não foi o que disse. Disse que ela deve se sentir desesperada por saber que você segue em uma campanha e ela não saberá o que estará acontecendo com você. Por
isso quer te seguir. Quando vou a uma campanha, Calina se diz com o coração apertado e não dorme enquanto não retorno. Não tenho muito tempo de pensar, pois o calor da batalha nos amortece, mas quando termina, sinto vontade de voar até ela para lhe tranquilizar, para lhe dizer que estou bem, para amá-la.
– E o que acha que devo fazer? Não tenho tempo para essas bobagens sentimentais. Se pensar muito não serei racional e possivelmente perecerei.
– É o que realmente pensa Xena? O amor não nos enfraquece; nos deixa mais forte para retornarmos. Dá-nos alento e vontade de vivermos, pois sabemos que tem alguém que nos ama e zela por nós, que precisa de nós e a sua Gabrielle deve saber disso.

Xena nunca imaginou que seu capitão, seu mais duro homem, se sentiria assim. Nunca o imaginara como um sentimental. Era um homem rude, mas muito honesto e íntegro. Deveria ter percebido sua sabedoria quando quis casar com Calina. Ela era uma mulher de princípios e sempre fora sensata.
Entraram na oficina.

– Vejamos as armas. – Disse Xena.

Tarcílio sabia que tinha a atingido, se não tivesse, não pararia a conversa.
Xena pegou uma espada, a experimentou. Seguiu para ver a fabricação das flechas e balestras. Olhou algumas e depois viu três catapultas de porte pequeno já construídas, analisou-as.

– Quem é o chefe de oficina?

Um homem velho se aproximou e se apresentou.

– Sou eu, senhora. Chamo-me Faon.
– Lembro-me de você. Preparava minha espada quando em campanha antes de Corinto.
– Eu mesmo, Senhora.
– Lembre-me de quando voltar a Corinto levá-lo comigo.
– Agradeço Senhora. Já estava enferrujado, pois nada mais fazia por aqui. No entanto, tenho alguns ajudantes que me são muito caros, eles fazem o que não posso mais fazer e fazem do jeito que quero.
– Pode levá-los consigo. Não suporto mais incompetentes e traidores ao meu lado.

“Nunca deveria ter me afastado de meu verdadeiro exército”. – Pensou.

O velho fez uma reverência e retornou ao trabalho. Tarcílio sorriu por dentro, percebeu que a velha Xena voltara, valorizava os seus, mas agora tinha um verdadeiro propósito e estava mais centrada, só deixaria a selvagem voltar no campo de batalha.

– Muito bem, Tarcílio. Acabou a moleza, fiquei muito frouxa com esses nobres esnobes. Vamos dar a eles o que eles merecem.
– Agora falou a minha língua.

Xena sorriu e dispensou Tarcílio para os preparativos da campanha.

Já passava da metade do dia e Xena queria encontrar Gabrielle, necessitava falar com ela. Pegou o corredor que dava para a sala onde Gabrielle estabelecera seu pequeno quartel. Abriu a porta e se decepcionou ao não encontrá-la.

“Onde estará a pequena?” – Pensou.

Desceu a cozinha para perguntar para Calina. Encontrou Calina ajudando as cozinheiras. Há muito tempo que não tinham tanto trabalho. Havia um exército acomodado na fortaleza e não tinham tanta experiência. Quando Xena chegou as cozinheiras olharam e pararam seus afazeres para reverenciá-la. Xena fez um gesto para que continuassem e pediu para Calina acompanhá-la.

– Sabe onde está Gabrielle, Calina?
– Disse que iria para o jardim colher algumas ervas que necessitava para preparar alguns medicamentos. Aconteceu alguma coisa, Xena?
– Por que pergunta? Gabrielle se queixou de algo?
– Não, Xena. Gabrielle é muito discreta, mas percebi que estava um pouco abatida mais cedo. Pensei que estava tudo bem hoje de manhã, mas quando saiu do quarto, não falou quase nada e se dirigiu para o jardim.
– Obrigada, Calina. – Xena se virou e saiu em direção ao jardim.

Calina sabia que Xena estava se condenando por algo que havia feito, mas não daria o braço a torcer. Balançou a cabeça negativamente e voltou para a cozinha.

Chegando ao jardim, Xena procurou Gabrielle. Não estava no canteiro de ervas. Caminhou até as macieiras que ficavam mais ao fundo e viu Gabrielle sentada em um pequeno banco com algumas flores na mão. Aproximou-se e sentou ao seu lado sem nada dizer.

Gabrielle olhou para Xena e lhe estendeu a mão lhe oferecendo as flores.

– O que é isso?
– São flores.
– Eu sei que são flores Gabrielle, mas por que quer me dar?
– Porque são bonitas!
Xena não sabia o que dizer e agora não sabia como se portar. Começou a rir descontroladamente. Compreendeu o que Tarcílio havia lhe falado. Gabrielle a acompanharia até ao julgamento de Hades.

Gabrielle a olhou sem entender.

– O que fiz de engraçado?

Ainda rindo, Xena passou um braço por cima do ombro de Gabrielle e pegou as flores de sua mão.

– Nada, Gabrielle, realmente você não fez nada…

Gabrielle apoiou a cabeça no ombro de Xena e não falou mais nada.

– Vamos Gabrielle, quero almoçar com você e temos muito a conversar.

Enlaçou a sua pequena curadora pela cintura e se levantou conduzindo-a de volta ao quarto.

Quando passaram pelo corredor, Calina saía do quarto, pois havia deixado o almoço para Xena e Gabrielle.

– Obrigada, Calina. – Disse Xena.
– Vejo que se entenderam! – Falou Calina.
– Não seja bisbilhoteira, Calina. Vá cuidar da sua vida e de Tarcílio.

Gabrielle riu com a falsa irritação de Xena.

– Xena, você sabe bem que cuido de Tarcílio, mas espero que esteja cuidando bem do que lhe pertence agora. – Falou e saiu rindo.
– Mas que empregada mais abusada essa que tenho. Resolveu que pode me afrontar! – Disse Xena que nesse momento se aborrecia realmente.
– Não foi a sua intenção, Xena. Apenas se preocupa com você, ela lhe tem muito carinho e consideração. – Contemporizou Gabrielle sorrindo com a inesperada resposta de Calina.
– Tem consideração e carinho a mim ou a você? Vejo que vocês duas já se juntaram contra mim.
– Xena, não me juntei com ninguém contra você. Juntei-me a você. Queria que entendesse isso.
– Gabrielle, entendo isso e muito mais. Mas o que eu quero que você entenda é que não atenderei seu pedido em hipótese alguma. Não irá a Tropea conosco. Você não sabe se defender e não posso me preocupar com você enquanto estivermos enfrentando qualquer exército. Não posso lutar e te proteger ao mesmo tempo. Isso está fora de cogitação.
– Então daqui por diante, terá que me ensinar a me defender, pois sou de pouca valia como curadora se não posso estar no lugar onde precisam de mim.
– O que está falando! Quer aprender a lutar?
– Não. Quero aprender a me defender. Se me juntei a você, como você mesma disse antes, agora sou um alvo estando aqui ou em campanha. À medida que se souber me defender, poderei não só ser útil, como também não terá que se preocupar comigo estando aqui ou em qualquer outro lugar. Ou você acha que conseguirá esconder nosso envolvimento de seus inimigos?

Xena não queria pensar nessa possibilidade, mas em verdade, Gabrielle estava coberta de razão. Ela mesma tinha dito à pequena que dali por diante seria um alvo de seus inimigos.

Xena se sentou a mesa sem nada dizer. Gabrielle também não disse mais nada. Começava a entender como a mente de sua amada funcionava. Se lhe desse um tempo para pensar, suas respostas seriam mais sensatas sem tanta ira.

Gabrielle serviu o prato de Xena em silêncio, colocou vinho em sua taça, serviu-se e sentou na cadeira a sua frente. Começou a comer.

– Você conseguiria matar alguém, Gabrielle? – Xena perguntou, mas sabia que pelas reações de Gabrielle até então, que seria algo muito difícil para ela. Estava curiosa para saber o que responderia.

Gabrielle parou diante da pergunta de Xena. Abominava a violência.

“Como poderia lutar sem causar nenhum mal a alguém? Será que Xena tinha razão, então? Mas e se visse Xena sendo atacada ou se a atacassem para matá-la?”

– Compreendo aonde quer chegar. No entanto, não disse que gostaria de aprender a lutar, ou aprender a matar, disse que queria saber me defender e depois, se estivesse com a vida em perigo, se visse sua vida em risco ou de qualquer outra pessoa pela qual tenho apreço não sei se minha reação seria de não fazer nada. Acredito que não e acabaria me colocando num risco maior. Quando invadiram a minha aldeia e fomos levadas, vi minha irmã Lila sendo arrastada como um saco de esterco, me lancei sobre nossos agressores desesperada por vê-la sendo degradada, humilhada e agredida. Não tinha força suficiente e eram muitos homens então acabei subjugada e levei uma bela surra.

Gabrielle se levantou e abriu sua blusa, se virou de costas e mostrou pequenas cicatrizes, quase imperceptíveis na base da coluna.

– Bem, eles não queriam estragar a mercadoria, como eles mesmos disseram. Bateram-me na parte baixa das costas para que não ficasse com as costas toda marcada, isso suposto se me vendessem como escrava sexual. O resto da história praticamente você já sabe. Como foi o velho curador que me comprou, tratou de mim e por isso não fiquei com cicatrizes muito grandes. Como vê, não poderia deliberadamente matar alguém, mas certamente tentaria me defender ou a alguém por quem tivesse apreço e estivesse em perigo.

Xena passava as mãos pelas finas cicatrizes que Gabrielle trazia. O sangue subia a sua cabeça, agora mais do que nunca queria acabar com o tráfico de escravos.

– Quem invadiu Potedia, Gabrielle? Quem era o traficante de escravos?
– Ouvi dizer que era um tal de Plutarco, mas nunca o vimos. Ele nunca se apresentou pessoalmente.

Xena segurou Gabrielle pela cintura e sentou-a em seu colo. Abraçou-a fortemente. Estava visivelmente abalada… Desnorteada…

– O que foi, Xena? Há algo errado?
– Tudo está errado Gabrielle! Como pude deixar isso acontecer debaixo de meu nariz?!!!
– O que quer dizer? Você não poderia saber, Xena!
– Gabrielle, Plutarco era o dono dessa fortaleza. Quando conquistei Corinto e ele não quis se juntar ao reino por não querer atender minhas exigências, simplesmente deixei que se fosse para não desgastar mais o meu exército na época.
– Mas você não sabia o que aconteceria. Não é responsável pelas ações dele!
– Sabia que era traficante de escravos, apenas não queria desgastar mais meus homens! Nunca conquistei qualquer lugar para fazer escravos. Nasci e fui criada em uma vila que era assaltada por traficantes. Sempre achei a pior espécie de gente. Não tem a honra de um guerreiro… não são guerreiros, são sanguessugas…

Pela primeira vez, Gabrielle via Xena deixar que sua voz minguasse e via sua amada abatida com algo.

– Xena, não vê que fez o melhor? Não percebe que se você se confrontasse com ele naquela época, poderia ter perdido tudo e hoje não poderia mais lutar contra isso que te desgosta!
– Mas talvez você não tivesse passado por tudo isso que passou.
– E então não teria te conhecido e não teria a felicidade que está me dando.

Xena a olhou, espantada.

“Então ela é feliz comigo”!!

– Mas teria sua família e não teria que ver sua irmã arrastada.
– Talvez por Plutarco, mas quantas outras coisas poderiam acontecer nos deixando à sorte dos Destinos? Talvez coisas ruins acontecessem de qualquer forma e não encontraria você!
– Aprendi durante esses anos que nós fazemos o destino, Gabrielle.
– Sim, e é isso que digo. Poderia mudar tanto que não nos encontraríamos e eu poderia ter morrido ou estar sob o jugo de um senhor que não se apiedasse de mim, me usando, me maltratando. Fez o que é certo por causa de um bem maior, o de seus homens. A racionalidade lhe deu essa percepção. A única diferença que temos é que você é prática e eu sou emocional. Mas a racionalidade que nos baliza é a mesma. Então eu pendo para o emocional que nem sempre é o melhor e você pende para o prático que nem sempre é o melhor também. Como vê, agora podemos fazer mais do que outrora.

Xena não esperava estar aprendendo mais da vida com uma escrava do que com suas próprias batalhas, fossem elas internas ou batalhas reais. Gabrielle estava se mostrando mais coerente do que em qualquer época de sua vida a própria Xena fora.

“Que ironia… Isso é coisa de Afrodite mesmo… Tenho que congratulá-la. Superou Athenas com toda sua sabedoria”.

Há muito tempo Athenas havia dado a Xena o legado da conquista de Corinto em troca de sua lealdade renegando a Ares por seus arroubos guerreiros de destruição. Athenas queria mostrar a Ares que mais valia a estratégia medida do que o sangue derramado e sabia que poderia fazer isso através de Xena. Não era ela, Xena, que se interporia entre a disputa de Deuses. Xena era destemida, mas muito inteligente também e não mediria esforços. Xena se convenceu que lucraria mais ao lado de Athenas. Havia aprendido que não poderia agir mais como Ares queria. Mataria a sua essência e essa era a única coisa que a mantinha dentro da humanidade. Mas Athenas lhe disse que não poderia agir sozinha, tinha que se equilibrar com Ares e a única forma de equilíbrio do mundo eram as forças de Ares e Afrodite juntas. Não entendeu na época, estava muito focada em Corinto para pensar. Afrodite apareceu para Xena tempos mais tarde dizendo que cobraria seu tributo e que Xena se surpreenderia por saber o que era o amor. Xena riu. Sabia que Afrodite era dada a luxúria e vaidade e isso, Xena tinha de sobra. Porém, Afrodite lhe disse que quando os Destinos requeriam, ela poderia ser a mãe mais zelosa que Eros já tivera. E se fosse o caso, era assim que deveria acontecer. Xena não se importou muito. Conhecia bem os jogos dos Deuses e sua guerra interna. Agora com Gabrielle em seu colo, sabendo de tudo o que acontecera com a pequena e o que estava sentindo por ela, só pode dar uma reverência mental a Afrodite e rir.

– Gabrielle. Sou obrigada a concordar com você. Irei a Tropea e quando souber como ficarão as coisas, quando voltar, aprenderá a se defender e quem sabe entraremos em Corinto juntas. – Sentenciou.

Sentada ainda no colo de Xena, Gabrielle se virou para olhá-la, sorriu e a beijou.

– Esse é o lado da razão que disse que nos baliza.
– Eu sei Gabrielle… Eu sei…

Xena continuou a beijá-la, acariciava suas costas nuas. Gabrielle começou a arfar sob as carícias de Xena. Era desesperadora a necessidade que Gabrielle tinha de tê-la novamente e parece que Xena sentia o mesmo, pois entre um beijo e outro gemia roucamente entre os lábios de Gabrielle. O contato se fazia mais intenso, Xena se levantou com a pequena no colo, encaixou-a em sua cintura e andou até o beiral do quarto de banho. Encostou as costas de Gabrielle no beiral e comprimia seu corpo contra o dela, começou a movimentar o quadril fazendo seus m. Gabrielle acompanhou os movimentos de Xena e começava a ficar agoniada pelo estímulo crescente. Tentou abrir o colete de couro que Xena usava, mas suas mãos não alcançavam o cadarço do colete.

– Tira Xena… Tira… – falava com a voz embargada pela excitação entre os lábios de Xena. Xena sorriu. Deixou que o corpo de Gabrielle escorregasse até por os pés no chão.
– Eu tiro minha roupa para você se você tirar o resto da sua para mim. – Disse com um sorriso malicioso nos lábios e começou a soltar os cordões de seu colete.

Gabrielle deu um risinho envergonhado.

– Antes de qualquer coisa, minha amada conquistadora, vou trancar a porta por dentro, pois não quero ser surpreendida novamente por Calina quando vier pegar os pratos.

Caminhou devagar, mas caminhava sensualmente. Chegou à porta e travou-a. Virou­-se e caminhou de volta bem mais devagar desatando o laço que prendia sua calça.

– Vejo que está disposta a me seduzir e me deixar a sua mercê…
– Se engana minha cara estrategista. Desejo te seduzir sim, mas quero mais ainda ficar a sua mercê. – Dizendo isso, parou no meio do quarto para deixar a calça escorregar até o chão ficando só com a calça íntima.

Os olhos de Xena se inflamaram. Xena caminhou até Gabrielle retirando suas roupas bem devagar também e deixava-as cair no chão vendo em seu amor despertar os sinais de excitação. Isso era o verdadeiro Elísios na terra para Xena. Abraçou-a beijando sua boca com furor. Pegou-a no colo e se encaminhou até o quarto de banho. Queria mostrar-lhe outra forma de fazer amor, queria fazer amor com Gabrielle em todos os lugares que pudesse achar, de todas as formas para lhe dar prazer. Entrou na banheira com Gabrielle nos braços e ainda a beijando. A água de banho tinha uma leve fragrância amadeirada-floral.

“Calina está realmente empenhada em fazer-nos nos entendermos, aquela alcoviteira.” – pensou Xena.

Pousou Gabrielle na banheira beijando intermitentemente, seus corpos estavam tão unidos que pareciam uma só. Xena perdia a razão completamente, não queria assustar Gabrielle com sua fúria lasciva, mas não conseguia se conter, em um só movimento colocou Gabrielle encaixada sobre seu abdômen e a penetrou sem floreios. Urrou ao sentir a pequena toda dilatada, aberta para ela e sem pudores. Gabrielle também queria aquele entusiasmo que a preenchia. Perdeu o tino. Gritou…

– XENA! SOU SUA, ME AME… EU TE AMOOOO!!!!

Movimentou o quadril violentamente, tomada por uma força que nunca achou que teria ou sentiria. Não deixou que Xena controlasse seus movimentos, queria muito gozar sob aquele êxtase. Parecia estar possuída por desejos insondáveis que vinham de dentro de sua alma. Debateu-se, urrou e gritou, pois o ápice se avizinhava…

– XENAAA! XENAAA!

Desabou derrotada por sua própria luxúria.

Xena se encontrava arrebatada pelo vigor advindo de sua pequena, não parecia sua Gabrielle. Mas não a afligira em nada, pelo contrário, queria ver essa energia muitas e muitas vezes.

Gabrielle não se movia, parecia desacordada, Xena a segurou sobre seu peito para que Gabrielle não escorregasse para dentro da água.

– Xen…
– Shiiii, shiii. Aprecia esse momento ele não é só seu é meu também…

Ficaram assim abraçadas na banheira por algum tempo até que Gabrielle se moveu.

– Como está seu ferimento? Parece que não tenho contribuído muito para a sua melhora. – Gabrielle falou com um pequeno sorriso no rosto, mas mantinha os olhos fechados e se mantinha apoiada sobre Xena.
– É. Acho que devo reclamar com a Conquistadora sobre seus préstimos como curadora – Disse Xena rindo.

Gabrielle elevou a cabeça olhando Xena com olhos brilhantes.

– Então a Conquistadora deverá me castigar por meu desleixo como curadora e talvez adicionar um castigo por ser uma péssima escrava corporal, afinal cuidei só de meu prazer.

Xena se incomodou com a insinuação de Gabrielle, mas não queria estragar aquele momento, então entrou na sua brincadeira, pois sabia que Gabrielle não se considerava assim, principalmente depois daquele momento.

– Errou apenas em uma coisa minha amiguinha, pois se escrava corporal significa dar prazer ao seu amo, você desempenhou muito bem o trabalho. Mas mesmo assim a Conquistadora deve lhe dar um castigo por sua negligência como curadora. Assim que agora mesmo você terá que banhar sua ama e depois dar-lhe um carinho todo especial em sua cama, mesmo que ainda não esteja com todas as suas forças de volta. – riu.
– Ah, não. Agora mesmo?
– É seu castigo cara curadora!

Gabrielle bufou, mas se ergueu sorrindo.

– Ok! Vire-se para eu lavar seus cabelos. Anda! Agora mesmo. – Deu um tapinha no ombro de Xena para que ela virasse.

Xena se virou. Estava em um estado de felicidade tal que começou a pensar no que seria dali por diante se perdesse Gabrielle. Esse pensamento a aterrorizou. Como poderia dar a Gabrielle a liberdade, que já estava pretendendo, se sentia essa necessidade quase sobrenatural de tê-la por perto? E se a pequena achasse que era melhor ir embora e ficar longe de toda aquela confusão e sangue que tanto detestava?

“Não, não posso fazer isso.” – Afastou o pensamento e deixou que Gabrielle tomasse seus cuidados no banho. Terminaram de se banhar e foram para o quarto.

– Muito bem, Senhora Conquistadora. Poderia deitar-se de bruços para eu lhe fazer uma massagem e continuar o meu castigo? – Falou puxando Xena para a cama e a empurrando para que deitasse de bruços.

Assim que Xena se deitou, Gabrielle passou uma das pernas por cima de Xena e se sentou sobre seu glúteo. Esfregou um óleo aromático que achara no quarto de banho em suas mãos e começou uma massagem nos ombros de Xena.

– Como consegue andar com esses músculos todos tensos?
– Está muito ruim curadora?
– Péssimo! E agora falo a sério. Não sente dor?!
– A dor é algo que me acompanha desde cedo, Gabrielle. Se me importasse cada vez que sinto algo não sairia da cama.
– Pois eu me preocupo e me importo. Vamos ver se consigo desfazer todos esses nós que estou encontrando por aqui.
– Não acha que temos coisas melhores para fazer agora? – Disse Xena se levantando para olhar Gabrielle.

Gabrielle a empurrou de volta a posição.

– Fique quieta ou eu amassarei tanto suas costas que não poderá levantar durante uma semana.
– Já não está fazendo isso? – Xena falou com uma ironia divertida.
– Quieta! Relaxe e aproveite.

Gabrielle começou a aplicar uma massagem em Xena tentando encontrar e desfazer todos os nós das costas da guerreira. Havia se passado mais de uma marca quando Gabrielle terminou. Estava exausta e Xena dormindo. Olhou Xena, estava ressonando, nunca a vira tão relaxada, parecia que estava sempre em alerta. “Talvez fosse isso”, pensou, “nunca tem tranquilidade para dormir”. Deitou ao seu lado para zelar seu sono. Sabia que no jantar se juntaria com seu exército. Amanhã partiriam cedo e queria jantar com eles.

O sol já estava se pondo quando Xena acordou. Estava zonza.

“O que é isso? Nunca deixo isso acontecer!”

Gabrielle se sentou na cama para saudá-la. Sabia que se assustaria dado à desconfiança que sempre a acompanhava.

– Dormiu bem?! Creio que me redimi como curadora. Veja se sente algo em suas costas.

Xena se sentou ainda um pouco mole pelo sono profundo que teve. Moveu os braços e ombros. Não sentia uma só dor. Seus músculos estavam soltos. Movia-­se com leveza. Sentia-se revigorada como há muito não se sentia.

– Menina… Não sei se devo agradecer ou amaldiçoá-la.
– Amaldiçoar-me por quê?
– Quem cuidará de mim assim quando estiver lutando amanhã?
– Nã na ni na não! Quando estiver lutando Princesa Guerreira, não poderá ficar relaxada desse jeito. Terá que estar atenta. Então me agradeça, pois estarei aqui quando voltar para fazer sua vida ficar menos dolorosa.

Xena abraçou Gabrielle e beijou-a. Suas surpresas com a jovem não cessavam.

– Temos que nos aprontar Gabrielle. Já está anoitecendo e quero que jantemos com os homens.
– Nós?
– Nós. Por quê? Por acaso não é a curadora desse reino?! E por acaso não é minha companheira?!
– Sou sua companheira, Xena? – Perguntou Gabrielle sorrindo.
– Não quero que os homens pensem em tomar qualquer liberdade com você. Quero que saibam que tem que te respeitar acima de tudo. E você deverá ver as condições do exército antes de partirmos. Deverei saber o que esperar de cada um. Não quero ter surpresas, além do que, se precisarem quando chegar aqui, quero que eles a vejam como alguém que pode ajudá-los. Vamos, levante e se vista.

Gabrielle se levantou, foi até seu baú e começou a ver o que tinha para vestir.

“Se vou acompanhar Xena como sua curadora tenho que ver algo condizente com minha posição, porém discreto.”

Pegou uma bata branca de mangas largas e com bordados prateados nas beiras e no colarinho. Pegou uma calça de tecido leve com igual bordado e sandálias trançadas com tiras para amarrar no tornozelo. Foi ao quarto de banho para se trocar e se pentear. Fez pequenas tranças nas laterais da fronte e as uniu na parte de trás da cabeça. Olhou-se no espelho. “É. Acho que assim está bem! Discreto, mas elegante.” Foi para o quarto para se apresentar para Xena.

Xena andou em volta de Gabrielle como que a avaliando.

– Gabri… Gabrielle! Você está linda!
– Gostou? Por um momento achei que não havia escolhido bem a roupa para a ocasião.
– Está simplesmente maravilhosa! Acho que terei muito trabalho hoje para manter os olhos cobiçosos dos homens longe de você. – Xena estava orgulhosa por ter Gabrielle ao seu lado quando entrasse no salão. Apesar de saber que muitos ainda a consideravam uma escrava, entraria ao lado de Xena com dignidade suficiente para fazê-los entender que Gabrielle tinha um lugar muito especial ao lado da Conquistadora.

Ao contrário de Gabrielle, Xena vestia um negro. Uma jaqueta sem manga, mas com várias taxas metálicas ao longo do tórax, usava também uma calça ajustada ao corpo em couro negro liso e botas negras com detalhes em metal. Os cabelos estavam soltos com uma fina tira negra prendendo apenas as mechas laterais do seu cabelo para trás.

“Como uma linda guerreira”. Pensou Gabrielle

– Vamos Gabrielle. Eles já devem estar esperando.

Gabrielle acompanhava Xena um passo atrás, mas Xena a puxou para seu lado um pouco antes de entrar no salão. Os soldados que guardavam a porta fizeram uma reverência e abriram o salão para que as duas entrassem.

Xena pousava a mão no ombro de Gabrielle para que ela a acompanhasse até a cadeira com o espaldar mais alto na cabeceira da mesa onde Xena se sentaria.

Todos os seus capitães e seus soldados de mais confiança estavam presentes. Xena pediu que colocassem uma cadeira ao seu lado direito para que Gabrielle sentasse. Essa era a forma que Xena tinha para dizer a todos que Gabrielle deveria ser respeitada como qualquer outro que estivesse ali. Xena começou a falar ainda de pé com Gabrielle a seu lado.

– Meus amigos, há muito não nos encontramos em uma situação como essa. Parte dessa culpa, devo admitir, foi minha. Dei corda demais a sujeitos que viviam rondando as partes pútridas de Corinto. Amanhã começaremos a colocar as coisas do jeito que sempre deveriam estar. Vocês estão comigo? VOCÊS ESTÃO COMIGO? – Xena elevou a taça para que todos se juntassem a ela. Seus soldados gritaram em uníssono.
– SIIIMMM!!! EEEEEEEEE!!!!!!
– Quero lhes apresentar Gabrielle. Dessa vez ela não nos seguirá em campanha, mas é a nova curadora desse novo reino. Olhará as condições da tropa e quando retornarmos cuidará daqueles que precisarem. Quando estiver totalmente apta, nos acompanhará. Talvez já seja capaz de nos seguir para entrada em Corinto.

Xena se virou para Gabrielle estendendo-lhe a taça. Todos no salão prestaram reverência. Alguns lhe sorrindo e completamente à vontade, outros ainda desconfiados, porém corteses.

– Vamos sentar Gabrielle. Fique a vontade para conversar com eles, assim vão se acostumar mais rápido e você conhecerá os que me cercam mais intimamente.

A mesa era farta, porém saudável, frutas, assados, vinho e água. Não poderiam fazer nenhuma extravagância, uma vez que, não poderiam acordar pesados ou com alguma indisposição.

– Então você é a garota que cuidou de todos lá na caverna, os homens me falaram e disseram que você tirou a Conquistadora de um sufoco também.

Gabrielle olhou com atenção para o homem que se sentava ao seu lado direito, estranhou, pois se sentava mais próximo de Xena do que Tarcílio e o próprio Alexein. Era muito velho, tinha um semblante sereno e olhos vivos e um sorriso calmo.

– Desculpe se não me apresentei, a idade está fazendo de mim, um velho tolo. Como falar com uma garota tão doce e nem falar meu nome? Chamo-me Ganimedes. – O velho estendeu a mão para Gabrielle.

Gabrielle sorriu e apertou sua mão.

– Muito prazer, me chamo Gabrielle.
– Isso já sei, a fortaleza toda fala a sua história. Não sabe como tem empolgado os rapazes. Dizem que a conquistadora agora achou alguém que a amansasse, mas que estaria lhe dando a vivacidade de quando chegou por aqui. Queria ver de perto quem era essa pessoa que estaria lhe fazendo tão bem.

Gabrielle corou. Não sabia que sua presença era tão comentada.

– Não faço milagre nenhum. A Conquistadora só faz o que lhe apraz.
– Não é verdade cara jovem. Conheço a conquistadora há muitos anos… Quando conheci Xena, minha aldeia estava em chamas por uma disputa com uma aldeia vizinha. Todos estavam mortos, homens, mulheres, crianças e velhos. Só eu sobrevivi nos escombros. Ela nunca disse nada, mas sei que se apiedou de mim. Disse que se eu quisesse sobreviver deveria acompanhar seu exército. Não me restava mais nada. Vi muita coisa que Xena fez e sei que hoje possivelmente faria diferente. Nunca foi dada a demonstrações abertas de carinho, mas trata os seus como se fosse sua família. Andei muitos anos com seu exército e acabei sendo seu amigo e conselheiro. Quando conquistou Corinto sua intenção era aposentar os seus cavaleiros mais velhos e seguidores mais fiéis que haviam perdido algo em troca de sua conquista. Fez isso para que tivéssemos paz. No entanto eu lhe avisei que não se cercasse só de engomados, como costumamos dizer. Mas ela queria a paz para si, pois estava cansada de perambular por aí… E queria nos dar a paz também. Só que sua paz nunca chegou, sempre teve alguém a se contrapor. Também é uma guerreira, seu espírito é guerreiro, só tem que aprender a canalizar isso. O caminho de um guerreiro é a batalha, mas tem que aprender qual é a batalha correta. Se um dia batalhar por um bem maior seu espírito encontrará a plenitude. E hoje vejo que está começando a enxergar isso. Então minha jovem pelo que percebo em seus olhos, pelo amor que vejo dentro de você e pelo carinho que sinto emanar de nossa conquistadora, sei que os homens estão comentando o correto.

Gabrielle não sabia o que falar. Era uma faceta de Xena que não conhecia. Então sua paixão pela conquistadora não era tão desmedida assim como pensava. Sabia que tinha visto algo em Xena, além da violência, além do sangue e agora se confirmava. Era nobre, era honrada.

– Diga-me, ela já amou alguém antes?
– Ah sim! Mas não conheci. Xena era muito jovem e muito perdida também, mas sempre se atraiu pela luz. O nome de quem amou e foi sua mentora era Lao ma, de uma terra distante chamada Chin. Xena não soube assimilar seus ensinamentos na época, mas creio que agora ela começa a entender o seu significado.

Xena estava descontraída e o fato de Ganimedes estar retendo Gabrielle por muito tempo, não a desagradava. Sabia que o velho conselheiro só faria elogiá-la perante a pequena, mas gostava de mexer com o velho amigo.

– Ganimedes, não acha que você vai esquentar demais as orelhas de Gabrielle com velhas histórias?
– Ah! Minha amiga… É só o que tenho para fazer hoje em dia… – Falou sorrindo.
– Pois não fique contando coisas das quais fariam Gabrielle correr desse salão.
– E que histórias seriam essas que não conheço?

Xena sorriu descontraidamente. Estava feliz com Gabrielle e seus homens ao seu lado aceitando-a. Estava ansiosa para ir a Tropea e resolver essa questão logo, sabia que não seria fácil, mais tinha homens muito competentes e tinha uma visão estratégica muito boa apesar de ter ficado acomodada durante muito tempo. A noite não seguiu até muito tarde.

Xena e Gabrielle se encaminhavam para o quarto. Quando abriram a porta levaram um grande susto. Bem no meio do quarto as duas Deusas responsáveis por sua conquista em Corinto.

Gabrielle se prostrou no chão e Xena as olhava com visível irritação.

– Vamos Gabrielle. Levante-se. Nossas queridas Deusas não quererão ver você com os joelhos esfolados.
Gabrielle elevou os olhos até olhá-las e ver que as duas Deusas assentiam. Afrodite caminhou sorrindo e disse segurando o rosto de Gabrielle.

– Dessa vez eu me superei.
– Por que essa pequena convenção com a Deusa da sabedoria e a Deusa do amor em meu quarto antes de uma guerra estourar?
– Sempre desconfiada Xena! Estamos aqui para ajudar.
– Se fosse mortal e tivesse tantas visitas de Deuses como tive por esses dias também desconfiaria.
– O fato é que você está prestes a perder essa guerra, pois nosso querido irmão resolveu que não quer a sua paz. Sabe que pode perder você para sempre. – Disse Athenas olhando para Gabrielle com carinho. – Ele está acompanhando de perto todos os seus passos e está antecipando ao exército persa através de Sileno. Está avisando cada movimento que você faz. Já interceptaram seus batedores e estão vindo em direção a Epidauros para interceptar o seu exército no meio do caminho.
– Então é verdade o que pensei, que isso estava me cheirando a coisa de Ares. Mas se ele não quer me perder porque me confrontar dessa forma?
– Ele não te quer pacífica e serena, ele quer a guerreira que fora outrora, selvagem, intempestiva. Sabe que com Gabrielle a seu lado, isso nunca mais aconteceria. Pretende fazer com que se afaste daqui para capturá-la, assim poderá controlá-la, ou melhor, fará com que você perca o controle.

Xena olhou agora para Gabrielle assustada.

“Que tártaro Ares estaria pensando? Se fizesse isso eu procuraria um jeito de acabar com sua pobre vida imortal.”

– Calma Xena, não vê que é esse descontrole que ele quer? – Falou Athenas sabendo a linha de pensamento de Xena. – Nós pusemos Ares de molho um pouco. Ele não poderá interferir diretamente nos atos das pessoas. A partir do momento em que Ares passou a falar abertamente toda sua estratégia para o exército persa, nos possibilitou intervir para que ele não possa mais chegar perto de você e também saber o que você planeja.
– Xena, você tem que tomar muito cuidado com Gabrielle. Ele insinuou para Sileno que você estaria apaixonada e faria qualquer coisa para recuperar a menina. Dizendo isso ele incentivou Sileno a montar uma tática para raptar Gabrielle. – Disse Afrodite.
– Estamos ao seu lado Xena.
– Em troca de que Athenas? Toda a vez que aceito um favor de um Deus, depois sou cobrada de alguma forma.
– Em troca de voltar para Corinto e defender a minha e a vaidade de Afrodite. Quando entrou em Corinto, disse ao povo que havia conseguido vencer com a astúcia de duas Deusas mulheres e não a brutalidade do Deus da guerra. – falou Athenas.
– Algumas pessoas já propagam por aí que você teria corrido com o rabo entre as pernas juntamente com a astúcia de Athenas e Afrodite. – Disse Afrodite.
– Nosso irmão realmente passou dos limites. Ele além de interferir, está incitando pessoalmente fofocas pela Grécia e denegrindo a imagem de suas duas irmãs deliberadamente.

Xena começou a gargalhar e Afrodite, Athenas e Gabrielle se entreolharam e olharam para Xena sem entender a graça.

– Me desculpem! Hahahahaha. Mas, convenhamos que dessa vez ele foi audacioso. Hahahaha. Vamos! Não me olhem assim, não disse que concordava com ele, apenas não entendo por que tanto desespero. Ele já havia me perdido, vocês são Deuses, não conseguem enxergar isso?
– Xena, você mudou e isso é uma conquista sua, mas dependendo de como as coisas vierem a acontecer, não acha que seu lado, digamos negro, poderia retornar? Olhe pelo prisma dele. Sileno rapta Gabrielle, você se transtorna segue os persas e devasta tudo a sua frente até achá-la, aí ele ganha o que quer. A sua fúria, cega e sedenta. Não é o que ele procura desde que você assentou em Corinto? – Disse Athenas.

Nesse momento Xena olhou para Gabrielle e a imaginou nas mãos de Sileno. O sangue de Xena ferveu e seu rosto desfigurou.

– Certamente ele tem razão e você também. Muito bem, vamos ao que interessa. Ele abriu a porta. Vocês disseram que ele está proibido de se aproximar de mim e de ver o que estou planejando. Por quanto tempo? E quero saber também a respeito de Aahbran. Ele está comigo ou não?
– Ares estará proibido de chegar próximo a vocês até essa disputa acabar, seja você ganhando ou eles. – Foi a vez de Afrodite falar.
– Aahbran está com você Xena. Tudo que escutou de Sileno na noite em que foi a Megara, foi armado por Ares e Sileno para que pensasse que estaria só com os soldados de Corinto que ainda te seguiam.
– Sim eu escutei Sileno dizer que tinha Aahbran junto de si, apenas fiquei intrigada porque Sileno falou que já tinha fincado sua bandeira em Tropea com Aahbran no comando. Quando Sileno saiu de Corinto, eu ainda não tinha designado Aahbran para Tropea então isso não saiu de minha cabeça, pois ele não poderia saber ainda a não ser que Aahbran já estivesse dentro desse esquema da rota do tráfico de armas e escravos. Mesmo assim fiquei com um pé atrás.
– Ok, Xena, já terminamos por aqui, agora está em suas mãos.
– Só mais duas coisas. O exército persa caminha para cá pela estrada principal? E quero saber se deixaram muitos sitiando Tropea.
– A maior parte do exército está vindo pela estrada principal, mas enviaram batedores pelas montanhas e deixaram um pequeno contingente em Tropea para assegurar que Aahbran não saia de lá. Acham que ele tem poucos homens.
– E por acaso Ares não averiguou?
– Ah! Xena, no final das contas a astúcia está superando a brutalidade. Quando ele começou a sondar essa história para te reaver foi quando você conquistou Tropea e conheceu Gabrielle, nesse momento ele viu que te perderia para sempre. Foi se acercar de Sileno e os outros nobres de Corinto e não viu que você tinha deixado a metade de seu exército lá. Só viu você enviando Aahbran com a família e um punhado de soldados de volta. – Riu Athenas.
– Então ele acha que tenho só um saco de gatos em Tropea… Muito interessante. – Falou Xena sorrindo. – Muito Interessante…
– Temos que ir e assegurar que Ares está se comportando com as novas condições impostas.

Xena fez uma reverência bem pequena com a cabeça. Gabrielle que esteve calada todo o tempo fez uma reverência maior e quando olhou, as Deusas já tinham desaparecido.

– Vamos Gabrielle, não poderemos perder mais tempo. Irei a Tropea agora por uma rota um pouco mais longa que conheço. Teremos que entrar em Tropea para poder vir com o Exército que deixei lá e surpreendê-los por trás. Os nossos homens aqui vão montar três frentes de ataque. Vá colocar uma roupa de montaria e tem que ser escura, não quero chamar atenção à noite pela floresta.
– Você quer que eu vá com você?
– Você não acha que te deixarei aqui depois do que Afrodite e Athenas contaram, acha? Não confio que ninguém vá zelar por você mais do que eu. Depois que tudo acabar atenderei seu pedido. Irá aprender a se defender e terá que ser uma aprendiz dedicada, pois sou uma professora exigente. Vá se vestir, o que está esperando?

Xena falava ao mesmo tempo em que trocava de camisa e colocava uma armadura. Tirou as botas que usara no jantar, colocou suas botas de campanha e manteve a calça de couro negro. Pegou a bainha da espada e prendeu nas costas e colocou o chakram preso em um gancho no cinto. Gabrielle do mesmo modo, colocou uma calça de couro, uma blusa de algodão confortável e botas de montaria. Xena a olhou e disse:
– Você precisará de um acessório. Espere-me aqui.

Xena saiu e pediu algo para um dos soldados que estavam na porta. Pouco depois Xena retornou com algo na mão.

– Ponha isso. É feito de couro com tramas de aço e apesar de ser um pouco pesado, te dá mobilidade e protegerá seu tórax contra flechas ou alguma outra arma mais frágil.

Ajudou Gabrielle a vestir a proteção de tronco. Gabrielle apesar de sentir o peso que devia ser da ordem de 3 a 4 kg se sentiu importante. Pela primeira vez na vida, alguém cuidava dela e não a considerava uma idiota sem valor.

– Agora vamos acordar esses preguiçosos da fortaleza.

Xena bateu à porta de Tarcílio. Tarcílio abriu a porta um pouco surpreso. Xena estava vestida com roupas para campanha com Gabrielle ao seu lado também vestida para batalha.

– O que é isso Xena? – Falou assustado.
– Não posso perder tempo, Tarcílio. Reúna os homens no salão que explicarei para todos ao mesmo tempo. Recebi informações e teremos que mudar de tática agora. Virou-se e já se encaminhava para o salão com Gabrielle em seu encalço deixando Tarcílio atônito.

Chegou ao salão e se sentou em sua cadeira calada.

– Xena! Como iremos para Tropea?
– Só você e eu. Temos que deixar os melhores capitães aqui para que consigam segurar os persas até eu chegar com o exército de Tropea. Se for com mais gente, me atrasarei.
– Foi o que pensei… Mas não seria melhor eu ficar?
– Nem pense nisso! Não darei chances para eles conseguirem o intento. Com apenas nós duas, conseguirei entrar em Tropea sem sermos percebidas deixarei você segura até derrotá-los aqui.
– Está fazendo isso por minha causa? Não quero ser um peso, Xena!
– Não estou fazendo isso só por você. Tenho que aniquilar o esquadrão que está vigiando Tropea e caminhar com meu exército pelo último flanco. Quem ficar aqui terá que montar os flancos laterais fora das muralhas e um contingente nas muralhas para segurá-los. Eu chegarei com força por trás para terminar o serviço. Apenas te deixarei lá enquanto isso não acabar. Além do mais acharão que você está aqui e isso diminuirá as forças dos persas tentando invadir a fortaleza. Você não cairá nas mãos desses canalhas. Tenho informações a meu favor e não deixarei que me tirem a concentração.

Os capitães de Xena chegaram ao salão assustados e ainda sonolentos. Xena posicionou-os quanto ao que havia ocorrido com as Deusas e orientou-os com relação ao que faria. Pediu para que preparassem sua égua para a viagem e um cavalo forte para Gabrielle. Xena partiu em direção a Tropea com Gabrielle pela floresta. Um caminho difícil, mas que ela já havia trilhado.

Nota