I

A essência de um verdadeiro guerreiro é marcada pela presença da bravura, coragem, determinação, lealdade, justiça e, sobretudo, humanidade. Essas características Ares via em Xena, ela realmente as possuía como ninguém jamais. Porém isso não era tudo o que Ares buscava naquela sua versão. Ele tinha uma sede insaciável de combate, luta, conflito… Sangue de pessoas inocentes na maioria das vezes, tudo isso por prazer e diversão.

Quando Ares viu Xena e Gabrielle caídas naquela areia da praia, junto de todos os outros deuses com cara de satisfeitos, o seu mundo havia praticamente acabado, pois ele nunca havia conquistado Xena por inteiro, ela não concordava com seus ideais violentos e desumanos.

As colocando naquela caverna no gelo, Ares prometeu a si mesmo que dali em diante tudo seria diferente. Ele havia percebido que estava a fazer mal o seu papel de Deus da Guerra, talvez a sua essência estivesse sendo distorcida e usada da maneira errada. A luta e discórdia não eram a única maneira de alcançar seus objetivos e ser feliz por completo. Infelizmente Ares percebeu isso tarde demais, quando se deu conta já havia a perdido, Xena estava morta. Foi assim, da pior maneira, que ele reconheceu que a amou da maneira errada.

II

                Em sua missão de reparar os “erros do passado”, Xena inspirou e modificou a vida de muitas pessoas, fazendo assim grandes bons amigos e aliados na luta pelo bem.

                Joxer foi o melhor companheiro que Xena e Gabrielle tiveram. Depois da morte das duas, Joxer decidiu que continuaria na missão pelo bem, levando os valores e ideais que aprendeu. Tudo isso seria espetacular se não fosse um problema… As pessoas não o levarem a sério pelo seu jeito de ser.

                Joxer era bondoso e leal, ele provou com a própria vida o valor da amizade e companheirismo. Joxer sabia ser corajoso e em sua essência ele era um bravo e destemido guerreiro. Porém na prática, bom, talvez ele fosse só um pouco atrapalhado, mas era o parceiro ideal para alguém que desejava um pouco de leveza em meio ao caos.

                Quando Xena e Gabi partiram, Joxer sentiu a falta das duas como ninguém. Antes de seguir com o caminho do bem ele passou por um período de sofrimento e até culpa por não ter evitado, de alguma maneira, a morte das duas.

                Diante de toda a tristeza de Joxer podemos ver que ele, como um bravo guerreiro, levantou a cabeça e seguiu em frente em seus objetivos, com destreza e determinação.

                Enquanto isso no Olimpo, não se via mais o rosto de Ares e os outros deuses já estavam sentindo falta da sua presença. Ares não estava mais buscando treinar novos guerreiros e apoiá-los em suas batalhas e conquistas… Não, ele estava lá, em seu salão de guerra, muitas vezes passeando e andando por aí, repensando toda a sua eternidade e planejando novos feitos.

III

                Por cada vilarejo que Joxer passava, era possível ouvir as gargalhadas das crianças quando ele tropeçava em uma raíz e caia sobre uma tenda de algum vendedor local. As enrascadas que ele se metia ainda eram as mesmas. Quantas donzelas ele tentou salvar e, muitas vezes, acabava salvo por elas. Mas ele não deixava se abalar, era um grande guerreiro e provaria isso ao mundo de alguma maneira.

                Certo dia, andando por um vilarejo, Joxer se deparou com uma cena que partiu coração em pedaços. Um jovem rapaz estava sendo literalmente amassado por meia dúzia de brutamontes. O motivo daquela discussão ele não sabia, porém era visto que o rapaz não tinha condições de revidar.

                Não havia o que pensar naquele momento, Joxer correu e ficou no meio de toda aquela bagunça, se jogando na frente do jovem que já se encontrava caído. Era meia dúzia de valentões de um lado e do outro o poderoso Joxer. Pois bem, ele acertou alguns socos, mas o resultado foi esse aí que pensamos, ele também foi amassado.

                Durante toda aquela cena, o que Joxer não imaginava, era que estava sendo observado por alguém que estava adorando ver todos aqueles ideais sendo colocados em prática. Eram os ideais de Xena. Não era a força de Xena, a destreza de sua espada e nem o seu chakram cortando aqueles ares, mas era a sua bravura e coragem estampadas no rosto daquele desajeitado guerreiro. Quem observava e tirava as suas próprias conclusões era o até então desaparecido Deus da Guerra, Ares. Um indignado Ares que não se conformava como nunca havia reparado em tanta bravura que existia em Joxer.

                Os dias se passavam e Joxer vinha tendo a sensação de que estava sendo seguido, observado, examinado.

IV

                Ares pensava em Joxer dia após dia, a maneira como estava preocupado em proteger as pessoas. Quando o seguia tinha a certeza da bravura que Joxer possuía em seu coração. Ares via nele toda a vontade de fazer o bem e agir com justiça, aquilo estava mexendo drasticamente com o seu coração.

                Porém Ares sabia que Joxer já havia visto com seus próprios olhos muitos feitos negativos por sua parte. Joxer já havia sofrido muito na vida e Ares sabia que essa poderia ser a pior parte para se aproximar do guerreiro. Ares precisava da confiança de Joxer, mostrar a ele quais suas intenções.

                Ares encontrou maneiras de agir, começou aparecer e ajudar as pessoas também, sabendo que assim teria a atenção de quem tanto queria. Quando menos se deu conta Ares já estava agindo como um bobo apaixonado. Achava linda a forma desajeitada do Joxer, era formoso olhar cada tropeço ou vezes que ele tinha que fugir por ter feito algo errado. E sim, Joxer também passou a reparar nas atitudes do renovado Ares, ele sentiu que as coisas estavam diferentes.

                Ambos estavam sentindo algo que não admitiam ainda um ao outro pois sequer se olhavam ou esbarravam nas ruas. Havia um grande medo por parte de ambos, cada qual com seus empecilhos impostos por si mesmos. Havia um Joxer que não se achava digno de impressionar o Deus da Guerra, ele sabia o quanto era bravo e corajoso, mas na prática era difícil provar isso. E havia também um Ares que gostaria de mostrar que o que vale é o que está no coração e que não se pode esperar o pior para demonstrar isso aos outros.

V

                O tempo ia se passando, Ares e Joxer viviam a se observar. Joxer já havia aprendido a sentir a sua presença, assim como Xena sabia.

                Ares estava buscando ser o suporte não solicitado de Joxer, estava, mesmo que indiretamente, lutando a favor dele e ajudando a proteger os vilarejos dos que necessitavam de suporte.

                Joxer estava gostando daquela presença destemida ao seu lado, mesmo que ainda não houvessem se falado diretamente, no máximo se esbarrado algumas vezes quando Joxer tropeçada durante o combate e Ares se jogava na frente para defender.

                Ambos se sentiam próximos, sentiam confiança um no outro, porém ambas as presenças juntas ainda eram, de certa forma, impactantes. Causava aquele frio na barriga, aquela sensação de medo, mas ao mesmo tempo de satisfação em viver cada segundo. Ares sabia o que tudo aquilo significava, porém Joxer ainda se encontrava perdido em seus sentimentos, apesar de toda aquela proximidade que estava começando a acontecer.

VI

                Um momento de grande tensão se encontrava nos vilarejos, a maioria das cidades estava sendo sitiadas por inimigos na conquista por novos territórios.

                Joxer sabia que esse era um sinal de que haveria de lutar e estava se preparando, principalmente emocionalmente, para isso. Ares também já sabia que esse era o momento perfeito para poder se declarar ao seu guerreiro.

                Em prazo de poucos dias a cidade já se encontrava o caos. Em determinado momento ela foi invadida e tudo aquilo que havia sido preparado deveria ser posto em prática para lutar.

                Toda a situação era desafiadora para Joxer. Ele corria e tentava esconder as crianças e desprotegidos. O sol brilhava forte no céu, marcando assim um dia longo e cheio de emoções.

                Toda a luta que acontecia era evidente e os inimigos possuíam enorme vantagem. Eram invasores brutais e impiedosos que vinham em direção dos defensores do vilarejo.

                Joxer empunhava sua espada, estava na linha de trás da defesa, estava com medo e realmente perdido, a derrota era eminente.  Foi quando seus olhares se cruzaram pela primeira vez naquele dia. Ares, cheio de destreza com sua espada, ganhou destaque em meio aquele caos. Sua presença divina inspirava os aliados e reprimia seus inimigos.

                A presença de Ares foi crucial para que Joxer tomasse a coragem que precisava e, apesar da falta de habilidade e precisão com sua espada, comparada a outros guerreiros, pudesse mostrar a sua bravura e coragem, lutando com tudo o que tinha para proteger os indefesos.

                Foi em meio a intensas trocas de olhares que Joxer e Ares sentiam a conexão especial que estava acontecendo. Com muita determinação eles combatiam o vilarejo, eram aliados em meio as suas diferenças e isso os tornava infalíveis.

                Depois de longas horas e golpes deferidos, o vilarejo estava livre. Os soldados naquele dia viram a derrota e a vitória sobre seus olhos. Realmente uma grande cumplicidade passou por ali naquele dia. Todos mostraram a sua força e tiraram vontade de viver e lutar em meio ao ápice da batalha, isso os fez vitoriosos.

VII

                Quando toda a poeira baixou e os feridos já haviam sido socorridos o coração de Joxer parou por mais um momento, quando percebeu que Ares caminhava confiante em sua direção e ele percebe que está cativado por aqueles movimentos.

                Naquele momento Ares tocou o ombro de Joxer compartilhando seus sentimentos e contando que eles iam além de respeito e admiração. Joxer entendeu que o que sentia era atração por Ares, que para ele não era apenas um Deus poderoso, mas um homem corajoso, capaz de o proteger e o amar verdadeiramente.

                Os sentimentos são correspondidos por ambos, Ares e Joxer confessam que a presença um do outro foi o motivo de superar suas próprias dúvidas e medos naquele momento difícil e que a esperança de algo é o que sempre mantém a chama viva.

Em meio a essa vulnerabilidade e honestidade, eles se entregam um ao outro, selando seu amor com um beijo apaixonado, percebendo que juntos podem alcançar a felicidade que tanto almejam.

                Assim o amor transformou suas vidas, os fazendo reconhecer a força que possuem um sobre o outro. Eles sabiam que a missão agora era partirem juntos, lado a lado enfrentando o futuro que os aguarda, unidos pelo amor e coragem que compartilham.