Capítulo Único – Te Exaltar
por Xena's Little BitchTe exaltar
Por Xena’s Little Bitch
“Nós viemos por um longo caminho juntas
Passando por tempos bons e ruins
Eu tenho que celebrar você querida
Eu tenho que exaltar você como eu deveria”
-Fatboy Slim
Esta noite nós sentamos juntas no acampamento como em milhares de noites. Você polindo seus sais, eu polindo minha espada. A lua está cheia e brilhante, e o ar não está nem frio nem quente. Nós partimos da aldeia Amazona depois de Helicon. Eu insisti, você parecia tão cansada de ser uma rainha e eu queria tanto ficar sozinha com você. Agora que estamos sozinhas você não me deixa se aproximar. Mas ao olhar para seu peito, eu sei mais como você se sente do que eu deveria. Eu sempre sei. Eu sei quando você está empolgada com algo, e eu sei quando você está com medo. Eu posso dizer quando você está tentando manter sua paciência e quando está se esforçando pra não me deixar saber como você se sente. Há milhões de pequenas pistas que vem de todo seu corpo, mas nestes dias, quando eu realmente quero saber o que está acontecendo com você, eu apenas observo você respirar. Quando nós nos conhecemos, era diferente. Você compartilhava cada um de seus pequenos pensamentos comigo. Eu não tinha que te procurar. Você usava seu corpo como um pergaminho gigante, expressando tudo tão vibrantemente, grande o bastante para todo mundo ler. Mas esta noite, você está gastando uma grande quantidade de energia para manter seu corpo sob controle. Tem muita coisa acontecendo dentro de você, e aposto que posso adivinhar a maioria dessas coisas. Eu lhe darei tanto espaço, silêncio quanto eu puder aguentar, mas não o quanto mais eu posso te deixar sofrer sozinha.
Naquela noite, antes de Beowulf nos encontrar na taverna e trazer de volta todos os pesadelos da minha história nas terras Nórdicas, eu estava olhando para você. Para o seu cabelo dessa vez e o jeito que a luz refletia nas pontas dele. Era o melhor lutar em que comíamos em eras, o vinho era particularmente bom, a música era amável, e não havia nem uma única luta explodindo em todo o tempo em que estivemos ali. Como usualmente eu faço quando estamos juntas, eu tinha regulado minha respiração até ela estar sincronizada com a sua. Eu não estava pensando em nada, apenas olhando para você enquanto comia e me perdendo em sua beleza.
“O que?” Você soou impaciente e intrigada.
“Você vai terminar isso?” Eu mostrei a comida.
“Toda ela”.
“Eu achei as porções meio pequenas aqui”
“Você não vai pegar a minha”
“Qual é Gabrielle, você está brincando com a comida”
“Não, eu estou apreciando ela”
Se você olhasse para meu prato, veria que ainda tinha comida nele. Eu não lembro quantas vezes eu criava pequenas discussões apenas pra evitar lhe contar a verdade sobre meus sentimentos. Com sorte, Beowulf chegou para nos distrair do incessante questionamento. É o bastante dizer que quando retornei para a mesa depois de falar com ele, nossas respirações não estavam mais sincronizadas.
De volta ao quarto, nós tivemos a mesma discussão que sempre tínhamos. Eu retraí coisas, informações, planos… Amor. (Bem, nós nunca dizemos ‘amor’). E por que eu tinha que ser daquele jeito? Eu não tinha que olhar pra seu peito pra saber que você estava zangada, mas eu fiz isso assim mesmo. Eu odiava quando os quartos tinham duas camas pequenas. Eu olhei para o teto e escutei os sons que você fazia, estando acordada. Meu plano para o dia seguinte era simples e fácil de entender, abandonar a mulher que eu amava e ir lutar contra um monstro. Ali estava, a história de nossas vidas juntas. E ali estava você, ainda acordada. Não é como se eu quisesse te deixar. Eu não tinha escolha. Quando se trata do meu passado, de algum modo tudo no que eu consigo pensar que irá consertar as coisas é numa clara e forte demonstração de impulsos, total destruição física. Eu nunca aprendo…
Mas, naquela noite, deitada na cama eu estava qualquer coisa, menos zangada. Parte de mim estava destacada. ainda na estrada, engajada na caça incansável. E outra parte de mim estava implorando para entrar debaixo das cobertas com você. Eu queria tanto te abraçar e ser confortada por você. Eu saí da cama, tirei minha armadura e parei olhando para você.
“Posso ir aí?” eu perguntei timidamente.
“Claro” Você disse, se afastando para me dar espaço. Você estava deitada do seu lado, e eu enrosquei meu corpo em volta do seu. Seu braço se moveu para cobrir o meu e descansar em meu estômago. Nossos corpos relaxaram um no outro com um suspiro quase inaudível. O alívio que eu experimentei quando te abracei fez o meu corpo inteiro se sentir como meus pés quando eu tiro as botas depois de um longo dia. Tudo parecia bem, como se eu não estivesse prestes a te deixar e provavelmente ser morta num lugar onde se eles deixam seu corpo para fora à noite, o sangue congela em suas veias.
“Eu amo quando você faz isso” você disse.
“O que?”
“Respira comigo”
“Sabe Gabrielle”, eu comecei “Você sabe que você é a pessoa com quem eu quero passar toda minha vida, certo? Não é como se alguém fosse chegar e eu decidiria que quero estar com eles em vez de você”
“Eu sei disso Xena”, você disse. “Você sabe que sinto o mesmo”
“Certo. É um acordo então.”
“Sim, um acordo.”
Eu imaginei que outras pessoas poderiam chamar isso de outra coisa enquanto eu te abraçava mais forte e cheirava seu cabelo. Se você me seguisse para o norte, ou se eu sobrevivesse e retornasse para você, talvez as coisas fossem diferentes, talvez eu pudesse lhe dizer como eu me sentia. Nossos corpos se moveram juntos, gentilmente enquanto respirávamos, e então nós dormimos.
Quatro horas mais tarde, eu estava acordada e vestida, na estrada com Beowulf. Eu poderia dizer imediatamente que ele sentiu algo por você. Eu queria dizer pra ele que você não estava disponível, mas era complicado explicar isso a ele. Nós rumamos para o norte, eu sabia que você estaria na minha trilha assim que a noite caísse. Mentalmente, eu via você acordando sem eu ao seu lado. A primeira coisa que você faria seria olhar na outra cama. Você veria o pergaminho e saberia imediatamente que eu tinha ido. Se repreendendo silenciosamente por não perceber que eu iria fazer aquilo, você cruzaria o quarto, pegaria o pergaminho e sentaria na beirada da cama. Sua postura era perfeita, seu peito ofegando enquanto você tentava controlar o jeito que seu corpo queria reagir. Eu sabia que você não iria gostar do que leria, que eu tinha lhe deixado pra trás mais uma vez. Eu imaginava minha amada, que costumava ter tanto medo de cavalos, cavalgando furiosamente adiante, determinada e vestida em roupas quentes no frio, para me salvar. Minha heroína.
Sentada perto do fogo esta noite, escutando seu silêncio, lendo sua tristeza. Eu penso novamente sobre os velhos tempos, o poder de suas palavras. Sobre as pessoas. Sobre mim. Ou simplesmente descrevendo uma cena, uma emoção. Eu escutei os melhores, e ainda assim ninguém se compara a você. Deuses, como eu costumava odiar isso. Às vezes parecia que eu estava deixando você viajar comigo somente para testar minha força contra tal ataque violento, rebelde e sem fim de palavras. Por quanto tempo eu conseguiria continuar me escondendo de você como me escondi de todos os outros tão facilmente em toda minha vida? Não levou muito tempo para você me ensinar que os bravos são aqueles que se mostram e não aqueles que se mantém escondidos. Tudo que eu tinha que fazer era sentar lá e te observar, escutar para aquela resplandecente cachoeira de palavras para saber como eu desejaria ser.
Uma ou mais luas atrás numa taverna seja lá onde estávamos viajando, você contou uma história sobre nós para uma multidão que estava muito interessada em ouvir que estávamos vivas. Por 25 anos as pessoas leram os pergaminhos, pensando que estávamos mortas, e aqui estávamos, tão boas quanto novas. Bem, talvez, não exatamente, mas não parecia à primeira vista. Sua voz era profunda e rouca, o modo que ela ficava quando você estava cansada ou emocionada, ou quando você falava por horas. A linha seguinte, prendeu minha atenção:
“Ela é Xena, a exterminadora de… bem… vocês não vão nem querer saber as coisas que ela teve que exterminar.”
Eu comecei a rir. As pessoas viraram para me olhar tão subitamente quanto as suas bebedeiras permitiam. Dócil como eu sou, eu sei que pareci formidável. E eu estou, certamente.
Há dias nos quais eu sinto falta do jeito que sua voz costumava ser sempre maravilhada. Agora é cheia de profundidade e compreensão, resignada em aceitação, quase nunca cheia de surpresa como antes. Somente às vezes quando você fala pra mim. Isso faz eu me sentir tão maravilhosa quanto posso. É uma pressão sem fim ser a coisa que você ama Gabrielle, você diz que eu não posso te decepcionar e ainda assim eu faço isso. Novamente… Novamente… Sempre.
“Eu quero tanto ser igual a você,” você disse. Eu disse isso também, ou eu somente pensei isso tantas vezes que pareceu que eu disse? Tome cuidado com o que você deseja, eles sempre dizem. Eu me lembro de estar sentada numa duna de areia no Helicon observando você subir em minha direção, literalmente seguindo meus passos na areia. O que teria acontecido naquele dia se muitos anos atrás nós tivéssemos ido numa direção diferente e você não tivesse tentado salvar Terreis? Talvez você nunca teria aprendido a usar armas. Mas você sempre seria uma lutadora. Eu lembro do jeito que você costumava ser antes de dominar o cajado, me observando na batalha, com os punhos no ar. As coisas que vi você fazer no Helicon, seu desejo de ser como eu se realizou diante de nossos olhos. As imagens me perseguem. Eu aposto que elas te assombram também. Mas você não está me dizendo. Como eu me aproximo de você esta noite, Gabrielle?
E lembro de observar você lutando com Varia no ringue, você teria ganho se você não tivesse desejado que ela desistisse de tanto. É interessante e aterrorizante ver você lutar, recusando-se a tomar vantagem na vaga esperança de que o seu oponente veja a luz e desista. Te observar nestas últimas luas como a brava e sábia Rainha Amazona, me surpreende. Você aprendeu tantas coisas de mim, que eu não queria ter ensinado a você. Se eu não estivesse ali, você continuaria a ser a mais fina rainha que as Amazonas já tiveram.
“Sabe, eu sou a traidora da nação,” você disse de repente, ainda polindo um sai.
“Essa é a coisa mais louca que já ouvi.”
“Eu sempre fui. Eu nunca fui realmente uma Amazona. Minha verdadeira lealdade sempre foi a você.”
Você olhou direto nos meus olhos enquanto diz isso, e eu não posso discordar. A noite está tão quieta, e tudo que posso ouvir é o fogo crepitando e estourando. Mesmo tendo luz o suficiente para ver a floresta em volta de nós, tudo que vejo é você.
“Eu sei”, eu digo. “Você é minha causa, minha pátria, minha tribo e meu Bem Supremo. Você é a única coisa que importa.”
“Eu sei”, eu sussurro. Ambas estamos à beira das lágrimas novamente.
“Você me fez pensar que quando a guerra estivesse acabada, você deixaria eu te confortar, Gabrielle.”
“Vem aqui”, você sussurra e eu vou, sentando no cobertor e abraçando seu corpo. Você deixa seus sais de lado e me deixa abraçá-la.
“Eu nunca quis que nada desse tipo acontecesse a você”, eu sussurro em seu ouvido. Você ri.
“Isso é o que eu consegui por querer ser uma guerreira como a Destruidora de Nações, Xena. Nada é sua culpa.” “Eu só queria acabar com sua dor. Por favor, me deixe tentar, Gabrielle. Você está me matando.” “Certo”, você sussurra. “Por que não começa com minhas costas?” Nós rimos e eu te afasto o bastante para dar espaço para massagear suas costas, mas eu mantenho minhas pernas em volta de você. Seus ombros estão cheios de tensão sob minhas mãos. Eu os toco gentilmente, mas firmemente, e isso me lembra de quando estivemos na África e eu limpei o sangue de suas mãos. Suponho que seja a mesma coisa. Eu querendo te purificar da dor, da culpa, fazer por você o que você faz por mim. Mas talvez, eu seja tola de pensar que posso fazer isso por alguém, você não pode limpar roupas com água suja. Quando eu convenci o Imperador de Roma a tomar sua própria vida, eu era tão má quanto ele mesmo. Talvez sangue seja uma mancha que nunca sai.
“Por favor, não se sinta mal”, você diz.
“Você não é uma feiticeira. Eu fiz minhas próprias escolhas.”
“Eu sei.”
“Isso está bom.”
“Que bom.” Sem perceber, minha massagem se torna mais uma carícia. Eu estou afagando seus braços e você se inclina contra meu peito. Eu aproveito a chance de ir com meus instintos. Talvez esta noite seja realmente o momento certo. Eu enrolo meu braço esquerdo em volta de você, abrindo meus dedos e pressionando minha palma contra a pele quente de sua cintura. Meu braço direito enrola-se em volta de seu peito e minha mão segura seu ombro; meu corpo está tão perto do seu que a área quente entre minhas pernas está pressionada contra suas costas. Eu toco a pele perto de sua orelha gentilmente com o lado de meu rosto. Eu posso sentir a ternura saindo de mim em ondas. Eu nunca estive tão perto, mostrando meu desejo por você. Poderia acontecer de qualquer modo, é a sua escolha, reagir a diferença de meu toque, ou não. A velocidade das batidas de meu coração em meu peito pressionado contra suas costas nuas, faz uma pergunta. Sua mão direita pega a minha, e a coloca em seu seio, acima de seu coração, e ele bate como se pudesse pular em minha mão. Eu cheiro seu cabelo, e me arrepio quando você se arrepia. Eu beijo seu pescoço, você geme meu nome. Eu sussurro o seu em seu ouvido.
“Por que esta noite?”, você sussurra.
“Eu estou desesperada para te alcançar. Você está tão longe.”
“Como você pode me querer, Xena? Eu estou coberta de sangue.”
Eu lhe viro em meus braços até que você olhe em meus olhos. Há uma nova expressão em seu rosto. Se eu não te conhecesse melhor, eu diria que é desespero. Eu tenho que fazer isso sumir. Eu não posso aguentar mais. Eu não sou forte o bastante pra sofrer essa dor. Minha mão toca sua face, e eu sou incapaz de controlar minhas próprias lágrimas.
“Gabrielle”, eu estou sussurrando, surpresa com minhas palavras quando elas saem de minha boca.
“Eu estou apaixonada por você. Eu quero você há anos. Eu fui uma covarde. Eu não queria manchar você com minha escuridão, mas isso aconteceu mesmo assim. Por favor, me deixe te amar.”
“Xena”, você sussurra ardentemente, com suas mãos segurando meu rosto.
“É minha própria escuridão que corre por meu corpo como uma chama. As coisas que fiz, as coisas que pensei em fazer, elas são minhas, não suas. Eu nunca imaginei que pudesse ter esses sentimentos. Nós completamos um ciclo.”
“Não, não até que você deixe eu aliviar a sua dor. Então o ciclo estará completo.”