Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Capitulo V
– “A Loucura não vai às montanhas”

A deferência e lealdade de Aahbran nessa hora, não serviam para aplacar o espectro de angústia que Xena sentia por ter lhe dado tal incumbência. Podia ter dito simplesmente, capture-os ou mate-os. Mesmo que suas informações fossem interessantes, se não as obtivesse por eles, haveria outro jeito. Sempre existem opções.

“Mas não! Eu queria acabar com eles com minhas próprias mãos. Agora perco um valoroso guerreiro e um bom amigo! Que ironia… no fundo, no fundo Gabrielle não está de todo errada!”

Pensou na pequena e nas suas ideias pacifistas.

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Gabrielle já terminava seu segundo dia de treinamento. Estava arrasada. Tudo lhe doía. Mas não iria desistir, Icrá e Hypcéa lhe teciam elogios pelo empenho e perseverança. Hypcéa chegou a lhe dizer que achava que desistiria no primeiro dia, pois não via perfil de uma combatente em Gabrielle. Mas passou a incentivar Gabrielle quando viu sua determinação e garra. Tinha que seguir, sentia que o clima em Tropea em relação a ela não mudara muito. Pediu a um dos soldados da porta que chamasse Dionira.

Ouviu quando bateram na porta.

– Pode entrar.

Dionira entrou.

– Precisa de algo, Gabrielle?
– Dionira, sabe que não tenho luxos, mas hoje está demais. Preciso de um banho quente para aliviar as dores do corpo. Poderia pedir para que trouxessem água quente para a banheira? Deuses! Como as pessoas podem querer isso a vida inteira?

Dionira riu.

– Acho que não se sentirá assim a vida toda! Aahbran diz que quando fica muito tempo sem fazer nada, o corpo enferruja tal qual uma porta que não é usada. Leva um tempo para que ela volte a abrir delicadamente. Não se preocupe, mandarei trazer a sua água agora mesmo.
– Como estão as coisas no castelo? O que as pessoas estão falando de mim? Está muito ruim ainda?
– Bem Gabrielle… Não espere que tudo irá se acalmar de uma hora para outra. As pessoas têm que se acostumar… Os soldados que tem tratado, mesmo os soldados que eram de Tropea já falam de você com certa deferência.
– Não quero deferência. Só quero ser alguém normal! Quero transitar pelo castelo sem precisar me preocupar tanto.
– Gabrielle, você nunca será uma pessoa normal para essas pessoas. Você é a mulher de Xena. Mesmo que não tivesse sido escrava, você continuaria sendo a mulher escolhida por Xena. Ou as pessoas te tratam com deferência ou com inveja! É assim que é. Ou pensa que muitos não gostariam de ter a sua posição? De agora em diante, se ama Xena, terá que lidar com isso. Alguns seguem Xena porque a admiram, alguns porque ela conquistou. Alguns que foram conquistados passam a admirar outros não… É isso que ela tem sempre suportado.
– As pessoas não conseguem ver o governo que ela faz?
– Alguns conseguem outros não alcançam essa dimensão.
– De qualquer forma, eu tenho me esforçado na enfermaria, mas não gostaria que soubessem que tenho treinado.
– Não disse nada a ninguém. O tempo que tem ficado na sala das armas, acham que está no quarto. O que falo é que você não se sente bem com a reação das pessoas e para não haver constrangimentos você se recolhe. Assim as pessoas se sentem um pouco culpadas e pensam melhor no fato. Vou pedir a água. Não se preocupe tanto, isso passará.

Dionira fez um breve carinho na cabeça de Gabrielle que se encontrava sentada na beira da cama de cabeça baixa. Gabrielle lhe sorriu e Dionira se encaminhou para a porta.

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Xena havia se inteirado de que os seus batedores tinham chegado e avisado Tarcílio. Tarcílio se pôs em alerta na muralha e pediu atenção para as tropas dos flancos. Por isso foi possível tomar tão facilmente o exército persa. Havia pensado com perfeição a estratégia.

“Ou não?”

Xena já tinha feito um torniquete e disse para dois homens se revezarem pressionando o ferimento na esperança de estancar o sangue. A hemorragia já havia diminuído, mas olhava Aahbran inconformada com a ordem que havia dado. Em toda sua vida, nunca tinha se importado com qualquer de seu homens se morressem em batalha. Morriam por que era uma consequência da incompetência ou imperícia para lutarem, mas depois de tantos anos, sabia que não se tratava só de incompetência. Tratava-se também de estratégia. Sua arrogância e sede de sangue havia levado um bom homem a se ferir gravemente.

Tomou a decisão de ir a Tropea e trazer Gabrielle. Se existia alguém que poderia fazer algo por ele e consertar a burrada que fez, esse alguém era Gabrielle. Pediu a Tarcílio para formar uma escolta com dez homens mais descansados, que não estiveram em marcha para poder seguir com ela até Tropea. Disse que teriam que ser fortes, pois não parariam efetivamente, apenas dariam tempo dos animais descansarem. Tarcílio apenas assentiu, pois sabia que qualquer coisa que falasse não demoveria a decisão de Xena. Entendia sua rainha e até se gratificava ao ver sua preocupação pelos homens. Isso fazia dela mais especial para ele. Apenas disse para deixar Argo, pois a égua estava muito cansada. Xena concordou. Partiram em menos de uma marca.

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Mais um dia de treinamento e Gabrielle já não sentia tanto o esforço. Já passava do anoitecer quando Hypcéa terminou o treinamento. Haviam ficado mais de quatro marcas treinando. Revisaram os movimentos anteriores e já haviam treinado novos movimentos com os sais.

– Realmente estou impressionada com a sua evolução. Meu pai disse que se metade dos homens que chegam para se alistar tivessem um terço de seu empenho, teríamos um exército de invejar até os romanos.
– Não tenho muito que fazer e não me sinto muito a vontade em outras dependências do castelo, além de não querer ficar pensando em Epidaurus. Assim que acho que é o melhor para fazer; quem sabe na próxima incursão Xena não me leva?
– Talvez a leve mais cedo do que espera.
– Xena!

Gabrielle saiu correndo deixando cair os Sais de sua mão e se pendurou no pescoço de Xena beijando-a intensamente!

Xena queria muito retribuir toda essa demonstração de afeto, mas se perguntava o que Gabrielle fazia na sala de armas com Hypcéa? Havia escutado apenas a última frase de Gabrielle e não estava entendendo o contesto. Hypcéa era uma guerreira e já havia demonstrado interesse em Xena em outras épocas. Está certo que quando isso ocorreu Hypcéa era quase uma criança e seu mestre de armas era um homem digno. Não dera bola para a admiração da menina. Mas não gostou de ver nesse momento a cena. Hypcéa era agora uma mulher e uma guerreira.

“O que Gabrielle estaria fazendo ali e vestida daquela maneira? Um top, uma calça de algodão larga com as pernas da calça amarradas no tornozelo e botas de campanha! Seu abdômen estava todo à mostra!”

– Pode me explicar o que está acontecendo aqui? – Xena falou elevando as sobrancelhas e olhando diretamente para Hypcéa.

Gabrille olhou para Xena enrugando e testa, não entendendo a preocupação. Observou aonde ia a direção de seu olhar e de repente entendeu a situação. Começou a rir.

Hypcéa sabia exatamente o que Xena estava pensando e viu que Gabrielle “pescou” também. A cena de Gabrielle rindo estava deixando Hypcéa em apuros, pois queria se juntar ao riso da garota. Mas se o fizesse talvez acabasse com uma adaga na garganta. O melhor seria se ajoelhar e baixar a cabeça e deixar que Gabrielle se resolvesse com Xena, e foi o que fez. Mas estava a ponto de explodir em uma gargalhada, pois nunca imaginou que Xena pudesse um dia se meter em uma situação tão constrangedora.

– Senhora Conquistadora! – Reverenciou Hypcéa de joelhos.

Agora quem não entendia era Xena. Gabrielle passou seu braço esquerdo pela cintura de Xena e disse que contaria tudo, mas já se encaminhava para a porta da sala de armas conduzindo Xena antes que ela fizesse algo pelo qual depois poderia se arrepender.

– Como foi em Epidaurus? A campanha foi rápida! Não que eu esteja reclamando, estava agoniada para saber o que estaria acontecendo…
– Gabrieeelle! – Xena falou pausadamente. – Ainda não me respondeu o que fazia na sala de armas com Hypcéa!

Gabrielle parou e olhou diretamente para Xena com um sorriso leve e divertido.

– Sabe! Nunca imaginei em minha existência que poderia ser tão divertido ver o ciúme estampado nas atitudes de quem se ama!
– Não estou com ciúmes Gabrielle, mas quero saber o que fazia lá. – Xena falou com ar de indignação e certo constrangimento. – “Droga, nesse momento as Parcas estão se borrando de rir mesmo!”
– Bom. Primeiro tenho que contar que quando saiu, as coisas não ficaram muitos boas por aqui… – Gabrielle contou tudo e chegou ao momento em que pediu ao mestre de armas para ensiná-la a se defender e a proposta dele de ensiná-la o bastão de manhã e sua filha ensiná-la os sais à tarde. Disse que ficara muito dolorida no começo, mas que agora as dores estavam suportáveis. Fazia sentido debaixo de toda aquela tensão e Xena compreendeu que sua atitude na sala de armas deve ter dado muito gosto a Hypcéa de ver. Mas que mesmo assim se manteve segura e digna no comportamento, fosse por respeito ou por receio de acabar sob as mãos de Xena.

“É… Tenho que aprender a lidar com esse sentimento novo, se não acabarei taxada como uma velha guerreira tola e decrépita.”

– Gabrielle, não temos muito tempo a perder. Vim porque preciso de você. Aahbran está muito ferido. Teve um corte profundo no braço e sangrava muito quando saí de Epidaurus. É um bom homem e um bom amigo, me desespera saber que o perderia por lutar ao meu lado ou que perca seu braço e não possa mais lutar. Para um guerreiro isso é a morte lenta…

Gabrielle estancou sob o peso do choro de Dionira ajoelhada à sua frente segurando-lhe a mão e pedindo para ajudá-lo. Havia chegado ao corredor para falar com Xena quando escutou a conversa dela com Gabrielle. Gabrielle se compadeceu da amiga recém-descoberta. Levantou-a com brandura e disse:

– Farei tudo ao meu alcance Dionira. Diante do quadro teremos que partir logo, mas tudo acabará bem.
– Leve-me com vocês, Xena. Não posso ficar aqui sabendo que ele está em sofrimento… – A voz de Dionira minguava.
– Não podemos nos atrasar, Dionira! Você não está acostumada a cavalgar…

Gabrielle intercedeu, pois sabia o quanto custaria para ela saber que Xena pudesse estar ferida em algum lugar e não poder estar com ela.

– Xena, já não há mais perigo em relação aos persas.
– Pode ser que sim pode ser que não. Acabamos com seu exército, mas sabe-se lá se ainda existem tropas de batedores?
– Muito bem, Xena. Faremos o seguinte. Eu vou à frente com você. Você sabe que se estivermos só eu e você cavalgaremos com mais rapidez. Talvez consigamos chegar até mesmo antes do amanhecer. E deixe que a tropa escolte Dionira. Se ela estiver ao seu lado, ele terá mais forças para lutar.

A contragosto Xena concordou, pois sabia que Gabrielle tinha razão.

– Então vamos. Não quero perder tempo. Dionira, chame Icrá.

Dionira saiu correndo para chamar o mestre de armas.

– Icrá, preciso dos melhores que está treinando para levar Dionira a Epidaurus e quero que vá também. Preciso de um mestre de armas lá.
– Posso levar minha filha, Xena? Estou ficando velho e muitas vezes ela assume minha lida, quando minha coluna reclama.
– Pode. – Xena falou seca e virou-se entrando no quarto e puxando Gabrielle. Ainda não conseguira digerir a imagem de Gabrielle na sala de armas com Hypcéa.
– Vamos pegar as coisas rápido Gabrielle. Não podemos perder tempo.

Arrumaram-se e saíram, Xena pegou um cavalo descansado e Gabrielle pegou Aglaio, antes do amanhecer já estavam em Epidaurus. Abriram os portões para entrarem. Desmontaram e Tarcílio não acreditava no que via. Xena possivelmente estava a mais de 36 marcas acordada e ainda se mantinha íntegra, mesmo após uma batalha.

– Xena, está louca! Ainda não dormiu? – perguntou seu capitão.

Gabrielle a olhou com desaprovação.

– Há quantas marcas está acordada?

Tarcílio respondeu por Xena. Sabia que Gabrielle a repreenderia sem consequências para a pequena.

– Há mais de 36 marcas.
– Vá para o quarto agora e durma. Deixe que desse trabalho eu me inteiro.
– Mas Gabrielle…
– Não tem mas, Xena. Fez o seu trabalho. Agora deixe que faça o meu.

Xena se sentiu como uma garotinha pirracenta sendo repreendida. Virou-se ainda com ar de imponente e se foi. Não deixaria que os homens percebessem o seu desconforto.

Tarcílio era o único no pátio que poderia sorrir sem sofrer qualquer sequela. Bem, pelo menos uma que fosse grave.

– Vamos Tarcílio, me leve até Aahbram.

Foi o que fez. Chegando a enfermaria improvisada para receber os feridos, Gabrielle avistou logo Aahbran. Aproximou-se. Queimava em febre e seu braço apesar de não mais sangrar tinha um aspecto horrível. A ferida estava purgando e muito inflamada.

– Deuses! Se eu estivesse aqui, talvez não estivesse tão grave! Por que não fiquei… – Nesse exato momento Gabrielle balançou a cabeça negativamente e Tarcílio, colocou a mão em seu ombro.
– Porque se Xena não a tivesse levado a Tropea, não teria trazido um contingente tão grande de homens e não teria mais ninguém vivo para ser cuidado, Gabrielle. É assim que é…
– Bem, vamos começar. Preciso ir a sala de medicamentos. Deixei algumas infusões preparando e talvez já tenham poder suficiente para tratarmos os feridos. Calina está acordada?
– Está sim. Quando saí do quarto ela já se arrumava para os afazeres.
– Avise-a que Xena chegou. Peça para prepararem um banho e levar comida para ela. É bem capaz de não ter se alimentado adequadamente. Depois que ela der as ordens, peça para ela me encontrar aqui. Precisarei de muita ajuda. Terei que drenar o braço dele como fiz com a perna de Xena e o dele está muito pior.
– Virei também para ajudar.

Gabrielle se dirigiu a sala de medicamentos. Destapou algumas vidrarias. Cheirou seu aroma.

– Bem, acho que servirá.

Foi a uma estante e pegou alguns pergaminhos embrulhados em forma de pacote. Desembrulhou-os, observou seu aspecto e sentiu o aroma.

– É talvez não estejam tão curados, mas contêm as propriedades que preciso. Virou-se e voltou à enfermaria. Calina já se encontrava lá. Auxiliou Gabrielle com os conteúdos de sua mão. Colocou-os em uma estante, se virou e abraçou Gabrielle.
– Como está Dionira, pobrezinha!!!
– Está abalada. Mas vamos começar logo a tratá-lo. Quem sabe não estará melhor quando ela chegue.
– Ela virá para cá?
– Sim, está a caminho. Como está Xena?
– Resmungando por tê-la enviado para o quarto, mas quando a deixei já havia comido algo e tomaria um banho para dormir.
– Ótimo! Pegue umas ataduras limpas e traga água quente. Tentarei acordá-lo para que tome uma infusão para que a febre passe. Mas será mais fácil drenar essa porcaria quando estiver ainda febril. Talvez não perceba a dor por completo. Tarcílio, terá que segurá-lo como fez com Xena.
– Pode deixar, se consegui segurá-la, consigo com qualquer um…
– Muito bem, vamos trabalhar.

Os outros soldados não se encontravam em tão precário estado e observavam a “mulher de Xena” trabalhar. Estavam felizes por ter alguém que cuidasse do seu capitão e começavam o olhar Gabrielle com respeito e satisfação por Xena tê-la buscado.

Gabrielle destapou uma garrafa pequena e foi até Aahbran. Segurou por baixo de seus ombros o elevando um pouco. Começou a falar com ele, seus olhos entreabriram, mas não a reconhecia, estava muito fraco.

– Tome. Beba. – Aproximou a garrafa de sua boca e ele sedento engoliu o conteúdo, mas engasgou um pouco tossindo.
– Isso já é o suficiente. Agora tome um pouco de água. – Aproximou um odre de sua boca. Era preciso que ele tomasse muita água com a quantidade de sangue que Tarcílio falou que perdeu.

Prepararam tudo. Gabrielle esquentou uma lâmina afiada e pediu a Tarcílio para segurá-lo. Seus berros eram ouvidos do lado de fora da enfermaria. Gabrielle não se abalava. Sabia que se não drenasse toda a sujeira ele não melhoraria. Quando limpou o ferimento com o último pano limpo e viu só sangue vivo e um líquido claro, pegou um pergaminho em que havia um pó claro pediu para Tarcílio segurá-lo com mais força, pois sabia que arderia muito.

– Doerá mais? – Perguntou espantado.
– Você aguentaria se soubesse que permaneceria com seu braço no lugar?

Tarcílio apertou-o mais contra si segurando-lhe o braço ferido. Quando Gabrielle jogou o pó, parecia que a ferida efervescia. Escutou-se um berro quase ao pátio interno. Aahbran desmaiou perante a dor.

– Não se preocupe Tarcílio ele só desmaiou. Agora não doerá mais. Porém quando ele acordar, teremos que ver uma forma dele se alimentar e com algo muito forte. Ele precisará recuperar o sangue que perdeu. Calina, você pode pedir para fazerem uma sopa com legumes e verduras tenras? Terá que colocar fígado de porco também, mas só depois da sopa pronta, ele não poderá cozinhar muito. Só o suficiente para desmanchar quando a sopa for amassada. A sopa terá que ficar pastosa para facilitar enquanto come.
– Verei agora mesmo, Gabrielle.
– Obrigada.
– Não precisa ficar aqui Gabrielle. Já passa da metade da metade do dia e você também terá que dormir um pouco. Quando ele acordar a chamarei.
– Ok! Mas a qualquer hora que ele acorde ou se algo diferente ocorrer, não hesite em me chamar.
– Pode deixar.

Gabrielle foi para o quarto. Quando entrou viu que Xena ainda dormia. Devia estar muito cansada. Foi ao quarto de banho e já haviam trocado a água. Agradeceu por ter um bom banho pronto.

Tomou banho e quando deu por si, Xena estava à porta a observando.

– Como ele está.
– O ferimento não trará mais problemas, mas ele está muito fraco e perdeu muito sangue. Agora dependerá dele e de sua força de vontade de viver.
– Isso é ótimo, pois força de vontade de viver eu sei que tem de sobra. E como você está?
– Acabada! Vou precisar dormir um pouco.
– Estou feliz que esteja aqui, Gabrielle.
– Eu também, eu também… – Respondeu Gabrielle sorrindo.

Quando Gabrielle saiu da banheira Xena se encontrava com uma toalha aberta para enxugá-la.

– Não deveria ser eu quem a fazer isso?
– Porque se você é minha esposa? E depois demonstrou muito bem isso hoje no pátio.
– Ainda está chateada comigo?
– Se estivesse estaria te enxugando? Gabrielle por vezes posso ser impulsiva, mas se deixar passar admito os meu erros.
– Não acho que isso seja totalmente verdade. Admite seus erros Xena?
– Está certo. Você ganhou. Admito às vezes e só para você, mas se contar a alguém eu nego. Porque nunca erro. – Falou rindo e fazendo Gabrielle rir a valer.

Seguiram para o quarto e Xena deu uma bata para ela se vestir e dormir.

Xena se acomodou na cama e disse para Gabrielle apoiar sua cabeça em seu ombro e a estreitou em um abraço.

– Durma pequena, eu velarei seu sono.

Xena estranhava a si mesma, pois havia ansiado por essa oportunidade de ter Gabrielle apenas dormindo em seus braços. Era uma sensação acalentadora, nunca sentira isso por ninguém. Decidiu que pensar muito sobre isso não a levaria a nada. Deixou que Morpheu se apoderasse do seu sono e do sono de Gabrielle.

Seis marcas haviam se passado. Bateram a porta do quarto, Xena acomodou Gabrielle agarrada ao travesseiro e foi atender. Era Tarcílio.

– Boa tarde, senhora! Dionira chegou e Aahbran acordou. A pequena… Hummm, quer dizer, a senhora Gabrielle pediu para que a chamassem assim que ele estivesse acordado.

Xena achou graça de Tarcílio se referir a Gabrielle tão carinhosamente. Mas nada falou. Antes que Xena pudesse falar algo Gabrielle já surgia terminando de amarrar os cordões da camisa que vestira. Já estava toda arrumada.

– Vejo que já não dorme tão pesadamente como antes!
– Nunca durmo pesadamente quando tenho feridos graves.
– Deixe-me colocar uma roupa, pois quero ver Aahbran.

Xena vestiu-se com rapidez e desceram para a enfermaria. Dionira já se encontrava ao lado de Aahbran e Calina já trazia a sopa para alimentá-lo.

– Gabrielle, fizemos a mesma sopa para os outros homens.
– Ótimo, todos precisam se fortalecer. Como vai Aahbran? Sente-se melhor?

Aahbran assentiu com a cabeça. Ainda estava muito fraco.

– Dizem que gritei qual uma criança pirracenta arrastada pelo mercado? – Falou com voz baixa.
– Não me parece que uma criança pirracenta aguentaria a dor que aguentou! Desculpe-me, mas tive que fazer aquilo para livrar seu braço da infecção.
– Não se desculpe. Tarcílio disse que fez de tudo para que eu não perca meu braço. Mas não deveria estar com uma atadura?
– Só se estivesse exposto ao tempo. O ferimento não foi tapado para poder respirar. Deixe-me ver o ferimento. – Gabrielle observou atentamente.

Dionira, Aahbran, Xena, Tarcílio e Calina a olhavam para ver o que diria.

– Tem uma cicatrização muito boa Aahbran. Estou surpresa, a coloração está ótima e já vejo sinais de melhora. Mas terá que descansar muito durante pelo menos três dias. Alimentar-se com comida forte para recuperar o sangue que perdeu e temos que acompanhar se a febre voltar. Febre é sinal que a doença no ferimento retornou. Por isso deve ficar deitado quietinho e não ter atitudes de uma criança pirracenta mesmo. – Gabrielle falou e sorriu.
– Ah! Mas ele não vai sair daqui enquanto você não disser para sair. – Disse Dionira segurando a mão de Aahbran.
– Agora estou sendo tratado como uma criança pirracenta mesmo!
– E você é! Conheço-o há muitos verões senhor Aahbran, para saber que ao primeiro sinal de melhora já quer pegar na espada para se divertir! – Dionira dera uma entonação de indignação ao falar o que provocou risos pela enfermaria toda.
– Xena, agradeço por trazer Gabrielle, mas isso não vai atrapalhar os planos?
– O que me atrapalharia seria saber que se arriscou por mim e não fizesse nada para ajudá-lo. – Xena sorriu. Estava feliz que sua arrogância não fez de Aahbran uma vítima.

Dionira se virou para Gabrielle.

– Obrigada Gabrielle! Se não fosse por você talvez meu marido não estivesse mais aqui comigo.
– Não precisa me agradecer, Dionira. Fico feliz em ver que meus conhecimentos podem salvar vidas e isso para mim já é uma honra e uma benção dos Deuses. – Falou um pouco sem-graça, pois não estava muito acostumada a receber esse tipo de consideração.

Xena estava impassível, mas por dentro se sentia orgulhosa por Gabrielle.

– Deixarei vocês, pois passarei para ver os outros feridos.

Xena a observava de longe. Gabrielle contava histórias para os soldados enquanto trocava os curativos. Os homens prestavam atenção e quando o curativo estava pronto, parecia que ela nem tinha mexido tanto na ferida. Ficavam agradecidos e a chamavam de senhora. Xena estava orgulhosa. Tinha motivos mais do que suficientes para voltar a Corinto e fazer de Gabrielle sua rainha. Pediu a Calina para buscar o documento que dava liberdade a Gabrielle. Não tinha mais dúvidas do que queria.

– Você quer guardá-lo com você, Senhora? – Calina perguntou tentando averiguar a intenção da conquistadora.
– Sabe que não, Calina. Vou dá-lo a Gabrielle, não há motivos para mantê-la nessa condição. Depois só teremos que registrá-lo em Corinto, mas ele já tem validade por estarmos em guerra. Calina mande levar o jantar no quarto enquanto Gabrielle cuida dos soldados. Depois iremos jantar e nos recolher. Foram dias muito cansativos. Quando arrumar a mesa do jantar, coloque o documento ao lado do prato.
– Pode deixar Senhora, farei agora mesmo.

Quando já iam saindo da enfermaria Hypcéa chegou e pediu permissão para falar com a Xena. Xena a olhou ainda não muito confortável com sua presença diante de Gabrielle. Gabrielle cumprimentou Hypcéa com um largo sorriso.

Xena fechou o semblante.

– Adiante, pode falar. – Disse Xena seca.
– Meu pai pede uma audiência com a senhora amanhã cedo.
– Diga-lhe para ir ao salão, eu estarei reunida com os meus homens de confiança.
– Sim senhora. – Falando isso fez uma reverência.

Xena já ia dispensá-la quando Gabrielle falou:
– Quando poderemos continuar os treinamentos, Hypcéa?

Gabrielle estava entusiasmada. Xena olhou Gabrielle com incredulidade.

“Por que treinar com Hypcéa? Eu posso treiná-la. Por acaso eu não disse que o faria?”

– Hypcéa tem muitos afazeres aqui, Gabrielle. Eu posso treiná-la enquanto não preparamos a investida a Corinto. Não iremos em campanha por agora, pois pretendo que Aahbran se recupere um pouco.

Xena falava séria e Gabrielle decidiu que seria melhor conversar com ela depois. Hypcéa fez uma reverência e se retirou.

– Xena não pode ficar por minha conta! Eu treinava pelo menos oito marcas por dia Xena. Treinava três marcas com Icrá, três marcas com Hypcéa e duas marcas sozinha!
– Então treinará três marcas com Icrá, três marcas comigo, mas não quero ver você treinando com Hypcéa! – Disse categórica.
– Do que se trata, Xena? Tem ciúmes de Hypcéa? – Disse Gabrielle divertida. – Por acaso não confia em mim?
– Claro que confio em você Gabrielle. Não confio em Hypcéa, é uma mulher nova, bonita e além de tudo é guerreira…
– Não, não confia. Se confiasse saberia o quanto te amo e para mim esses atributos dos quais falou, nada me atraem. Conquistou-me por quem você é. Te amo por quem é, e amo a você e a mais ninguém. – Gabrielle estava indignada com a insinuação de que Xena pensasse que qualquer um que lhe desse atenção pudesse despertar algo em Gabrielle.
– Não é isso Gabrielle! – Xena não sabia como se portar. Tinha agido como uma tola e estava constrangida.
– Então o que é Xena?
– Você disse que me ama? – Emoções rondavam Xena que ela nunca tinha experimentado.
– Não consegue sentir isso em mim? Xena me aflijo quando não está comigo e está em algum lugar que traga perigo. Minhas entranhas queimam e meu coração cavalga quando me abraça, quando se aproxima de mim, meus olhos não param de pousar em você mesmo que tenha milhões pessoas em volta. Não vejo mais ninguém… E seus olhos me desnudam a alma a ponto de querer me entregar a você por completo. Não sinto isso por mais ninguém. Se isso não é amor então não sei o que é.

Xena estava emocionada com as palavras de Gabrielle. Pegou-a nos braços e beijou-­a ternamente. Nunca alguém falara tantas coisas que a tocaram tão fundo. Como poderia ter duvidado de algo tão claro! Mas só vira agora.

– Está bem. Eu sou uma tola guerreira senil… Me desculpe, não duvidava de você é que é um sentimento novo para mim!

Beijou Gabrielle novamente. Passou pelos guardas da porta de seus aposentos com Gabrielle no colo sem se importar com o que pensariam. Quando chegou ao vestíbulo, pediu que Gabrielle ficasse ali. Queria ver se Calina já havia aprontado tudo. Olhou a mesa e estava magnífica. Tinha alguns assados, uma garrafa de vinho, flores para enfeitar e o pergaminho estava ao lado de um dos pratos. Foi até o vestíbulo e mandou que Gabrielle fechasse os olhos. Entrou no quarto guiando-a. Disse que poderia abri-los. Quando Gabrielle os abriu, sua boca se afrouxou e ficou entreaberta.

“Acho que a impressão foi boa”. – Pensou Xena. Segurou Gabrielle pela mão e conduziu-a a mesa. Afastou uma cadeira e pediu para que Gabrielle sentasse. Gabrielle sentou maravilhada com a surpresa.

– Xena é lindo!
– Gostaria de ter feito pessoalmente, mas tinha que te distrair. Foi Calina quem arrumou tudo. – Xena esperou que Gabrielle reparasse o pergaminho.

Gabrielle observou tudo atentamente, foi quando seus olhos pararam em cima do pergaminho ao lado do prato. Tinha uma atração especial por escritos fossem eles quais fossem. Lia tudo que caía um suas mãos, desde escritos médicos até histórias, contos, poesias, peças, tudo.

– O que é isso?
– Abra e veja por você mesmo!

Gabrielle pegou o pergaminho quase com reverência. Desenrolou-o e quando seus olhos chegaram às letras bem formadas, mas que já havia visto em outra ocasião percebeu do que se tratava. Leu-o com incredulidade. Depois de tantos anos havia conquistado a liberdade, mas antes havia conhecido o amor. E que ironia, se apaixonara por alguém que teoricamente pensava o oposto de si. No entanto conseguia ver uma luz dentro da alma de sua amada.

Enrolou novamente o pergaminho sem nada dizer, mas um sorriso estampava seu rosto. Xena não aguentava mais de tanta ansiedade, pois a jovem nada falara. Gabrielle levantou-se de sua cadeira, caminhou até Xena e sentou em seu colo enlaçando-a.

– Não digo que esse pedaço escrito não tenha me dado felicidade, mas a minha felicidade maior é saber que sou escrava do meu amor por você. – Disse Gabrielle beijando Xena ternamente. Entreabriu os lábios convidando Xena a invadir com sua língua.

Xena a abraçou circundando sua cintura. Jogou o corpo para trás para acomodar a pequena em seu colo e movia sua língua brandamente para alcançar todos os sabores que podia extrair dessa macia boca que a invitava a tantos prazeres. O peito de Xena parecia explodir em emoção. Nunca antes houvera imaginado, mesmo em seus dias mais obscuros, que poderia alcançar tamanha felicidade. Era uma felicidade da alma, não um prazer fortuito a que costumava se dar quando estava em necessidade. Era algo que não conseguia definir. Preenchia cada espaço dentro de si e isso nunca mais deixaria escapar.

Os beijos se tornavam mais intensos, as mãos de Gabrielle começaram a soltar o laço da blusa de Xena com determinação. Xena sorria entre os beijos, Gabrielle afastou as abas da camisa para dar passagem à visão dos seios de Xena. Afastou seu rosto interrompendo o contato para contemplar a visão de Xena com a camisa aberta na frente. Podia admirar o colo, o abdômen e a copa dos seios, já que Xena mantinha-os cobertos por um pequeno corpete íntimo.

– Você é maravilhosa! – Exclamou passando de leve a língua pelos lábios, Xena sorriu novamente e esperou para ver que surpresas sua pequena curadora estaria lhe reservando.

Gabrielle se levantou e se encaixou no colo de Xena de frente como se tivesse montado na sela de um cavalo. Começou a desfazer os laços do corpete de Xena devagar, apreciando cada momento em que desnudava seus seios. Os olhos de Xena se inundavam em fogo ao vê-la tão empenhada na tarefa de desvendar a sua nudez. Obrigou-se a apenas observar, queria tomar Gabrielle ali em cima da mesa mesmo, mas também queria ver até onde ela iria com a sua recente revelada luxúria.

Gabrielle desatou por completo o corpete, abriu-o e ficou parada olhando os seios de Xena até que com um suave movimento e nítida timidez levou as mãos para acariciá-los. Xena deixou que um gemido rouco escapasse de sua boca. Estava a ponto de perder a cabeça quando Gabrielle beijou bem de leve o bico de seus seios, Um, depois outro. Começou a passar a língua debilmente extraindo mais gemidos de Xena. Incentivou-se e sugou um dos mamilos acariciando o outro com a mão.

Xena perdeu o controle da respiração, ofegava, suspirava e incitou Gabrielle com palavras.

– Não seja tímida, não tenha medo de me tocar. Me tome toda Gabrielle.

Gabrielle não resistiu ao apelo de Xena entre suspiros e gemidos. Abocanhava um dos seios enquanto segurava a cintura de Xena para diminuir a distância de seu sexo contra o ventre dela. Desejou que estivessem nuas para poder senti-la melhor. Subiu seus lábios entre beijos, primeiro passando pelo pescoço até chegar a orelha, sussurrou em seu ouvido gemendo.

– Quero que fique sem roupa, quero tirar minha roupa.

Xena a segurou com força, se levantou e carregou-a até a cama. Colocou-a com carinho, tirou sua calça e suas botas. Gabrielle olhava sem perder um único detalhe do corpo que estava certa em ser o mais belo do mundo conhecido.

Depois de se despir, Xena se dedicou a tirar as peças de roupa que ainda a impediam de ver seu amor por completo. Quando Xena se aproximou para cobrir Gabrielle com seu corpo, ela estendeu o dedo indicador e fez um gesto em negativa se levantando e dizendo:

– Não senhora Conquistadora. Hoje eu quero conhecer você inteira.

Com um movimento derrubou Xena na cama e pulou em cima fazendo cosquinhas.

– Não quer realmente brincar disso, quer? Eu não sinto cócegas, mas pelo pouco que te conheço, sou capaz de apostar que você sim. – Iniciou uma sessão de cócegas em Gabrielle e esta não conseguia conter as gargalhadas.
– Pelos deuses Xena, por favor… ahahahaha, não aguento… ahahahahaha, mais… ahahahaha.

Xena se divertia ao vê-la rindo. Era uma gargalhada gostosa, mas queria outro tipo de divertimento para sua noite.

Estava deitada com Gabrielle apoiada em seu corpo, quase não fazia força para mantê-la presa em seus braços. Afrouxou a pegada. Gabrielle deixou seu corpo cair sobre Xena tentando acalmar as ondas de riso que ainda a afligiam.

– Você é má! – falava ainda rindo.
– Isso eu nunca escondi.

Gabrielle tomava consciência do corpo de Xena sob o seu, acariciou seu rosto tentando alcançar o que tanto dessa mulher lhe atraía. Não era apenas uma coisa, era tudo. Beijou-a. Provocou-a. Deslizou seus dedos pelas formas de Xena admirando cada bocadinho de pele sob suas mãos. Pediu para que Xena virasse de bruços. Continuou sua averiguação minuciosa, passava os dedos ao longo das costas de Xena observando suas cicatrizes, seus traços, seus músculos bem trabalhados. Era encantadora! Um fogo cada vez mais premente acendia, impulsionava Gabrielle a extrair o prazer desta que tanto a deleitava com seu amor.

Beijou primeiro a nuca de Xena tirando um longo suspiro, continuou beijando o pescoço até alcançar o lóbulo da orelha segurando com os dentes e passando-lhe a língua. Viu a pele se eriçar em um arrepio e ouviu um som abafado ser emitido entre os travesseiros. As mãos de Xena se cerravam e cada ato provocado por Gabrielle era uma gostosa tortura que queria que continuasse.

Gabrielle queria sentir o sabor de Xena em cada parte. Passou a língua ao longo da coluna até chegar à base do cóccix. Xena gemeu sem muito controle, pensava que nesse momento a menina estava começando a fazer coisas perigosas, contudo ela queria ceder completamente a esse prazer, pura e simplesmente. Era fácil demais com Gabrielle.

Gabrielle em sua exploração beijou toda a extensão das nádegas de Xena e viu seu trabalho sendo recompensado, notou que o sexo de Xena estava molhado. Afastou mais as suas pernas e tocou o clitóris com o dedo médio, sentiu-o rijo, gemeu, ouviu Xena gemer em respostas. Deslizou dois dedos até a entrada lubrificada e forçou levemente. Um som rouco e alto brotou do peito de Xena. Xena começou a mover o quadril estimulando Gabrielle a penetrá-la. Gabrielle recuou voltando a acariciar seu clitóris. Tinha necessidade de escutar mais desses sons que sua amada articulava, faziam-na sentir uma força pulsante entre suas pernas, “gosto disso”, pensou.

Apertou o clitóris de Xena e o massageou. O corpo de Xena estremeceu e ela soltou outro grito abafado pelos travesseiros, Gabrielle voltou a beijá-la onde conseguia alcançar enquanto continuava a tocá-la ali. Xena movimentou mais forte o quadril gemendo e ofegando descompassadamente. Queria fazer mais intenso o contato.

– Você é que é má, Gabrielle! – A voz de Xena nada mais era que um grosso suspiro. – Não vai achar isso depois… Eu garanto!

Apesar de estar gostando das sensações que estava descobrindo, Gabrielle queria sentir Xena por completo, colocou seus dedos em contato com a entrada de Xena novamente ouvindo os muitos sons que vinham dela. Sentia seu próprio sexo responder com uma dor prazerosa e sem controle. Penetrou-a bem devagar a princípio, quando já tinha dois dedos dentro, a própria Xena movimentou o quadril violentamente como se quisesse engoli-la. Gabrielle seguiu seu ritmo e as estocadas tornaram-se vigorosas. No início se assustou, pois não queria machucá-la, mas o poder de ter aquele corpo sob seu comando ditou um dos maiores prazeres que ela já havia experimentado.

“Quem diria que eu sentiria tanto prazer ao dar prazer a alguém!”

Xena já ia descontrolada, urrava e agitava seu corpo sentindo Gabrielle a preenchendo. O gozo se avizinhava e de repente explodiu em êxtase deixando seu corpo cair sobre a cama. Gabrielle a acalmava, abraçando-a e beijando-a.

– Calma! Shiii, calma! Eu estou aqui. – Sussurrava.

Xena virou de frente e aconchegou Gabrielle em seus braços, ainda arfava. Gabrielle a beijou nos lábios, primeiro devagar, mas seu estado de excitação a levou a beijos mais intensos, mais abrasadores. Sorvia a boca de Xena como degustando uma doce sidra, se ajeitou novamente sobre Xena e a beijava com loucura. Estava tomada de desejo. Xena ria se divertindo com as descobertas da sua pequena. Deixou que conduzisse as carícias para que pudesse explorar as possibilidades de seus anseios. Gabrielle beijava todos os cantos que encontrava do corpo de Xena, chegou aos seios, lambeu-os, sugou-os. Desceu até o abdômen, beijou em todas as partes. Xena já se encontrava em grande agitação novamente. Gabrielle subiu e beijou-a nos lábios novamente. Falou rouca, com a voz embargada:

– Quero gozar com você!

Xena já se excitava novamente e encaixou sua coxa no mesmo momento entre as coxas de Gabrielle.

Elevou um pouco o corpo colocou sua mão entre as coxas de Gabrielle e esperou até que ela fizesse o mesmo. Penetrou-a.

– Me preencha agora com seus dedos Gabrielle! – Sua voz era de comando e súplica ao mesmo tempo.
– AAAAHHHH, Xena! – A voz saiu com um longo suspiro.

Sentindo que Gabrielle estava totalmente entregue e sentindo os dedos da pequena a penetrando, começou a mover cadenciadamente sua coxa no mesmo ritmo que movia os dedos. A pequena acometia com fúria tanto contra os dedos de Xena como empurrava os dedos dentro dela.

– Vamos, Gabrielle! Mostra o quanto me quer…
– Xena eu vou gozar!!!!

Tremores fortes tomaram o corpo de Gabrielle e Xena aumentou o movimento de seu quadril para que chegasse ao clímax antes de Gabrielle sucumbir ao poderoso orgasmo. Xena mais uma vez deixou fluir seu deleite.

-AGRRRR!

Retirou os dedos deixando que Gabrielle desabasse ao seu lado.

– Tem certeza que nunca havia feito isso antes?
– Hahahahaha! Tenho!

O sorriso de Xena era pura felicidade.

– Acho que teremos que comer alguma coisa, senão acordaremos fracas demais amanhã…
– Concordo, vamos!

XGXGXG

Gabrielle acordou bem cedo na manhã seguinte para treinar com Icrá. Xena se espantou com a sua disposição.

– Vejo que está mesmo disposta a aprender as artes da luta.
– Não quero ficar para trás na próxima vez que partir. Você não poderá mais me impedir de seguir com seu exército.

Xena elevou uma de suas sobrancelhas, olhou-a com desaprovação.

– Não acha mesmo que levarei você comigo à nossa campanha de Corinto, não é?
– Acho. Por dois grandes motivos: O primeiro é que deverá entrar em Corinto comigo e o segundo é que aqui sou uma presa mais fácil. Tarcílio deverá ir com você, pois Aahbran não terá condições de lutar ainda, logo o mais sensato é enviá-lo de volta a Tropea antes que as coisas desandem por lá. Sei que sua intenção é deixar Icrá aqui para a segurança da fortaleza, porque se não, não o teria trazido. Ele é um excelente mestre de armas, mais nunca foi um capitão, logo acha que o melhor para Tropea é Aahbran, apesar de suas limitações é um ótimo capitão e Tropea é um local estratégico, mas Epidaurus nem tanto, portanto poderá ficar sob o comando de Icrá.
– Você era mesmo escrava ou queria me enganar para me conquistar? Porque se for isso, bastaria falar todas as suas ideias estratégicas que já me conquistaria, não precisaria se dar tanto ao trabalho!

Gabrielle riu alto.

– De qualquer forma Gabrielle, a guerra vai ser dura e sangrenta e se souberem que você está lá, não sei se conseguirei protegê-la. Mesmo se empenhando, ainda não estará pronta.
– Destaque alguém para ficar comigo se esse é seu medo. Me limitarei a tenda dos feridos, não me exporei.
– E quem eu destacaria para ficar com você que eu tenha confiança?
– Acharemos alguém. De qualquer jeito, não vamos pensar nisso agora. Ainda tem que pensar como chegará a Corinto e eu tenho que me dedicar para que Aahbran possa estar em condições de viajar, de voltar para Tropea.

Gabrielle seguiu para a sala de armas e encontrou Icrá já a sua espera.

– Pensei que já havia desistido.
– Não desisto tão fácil, mestre Icrá. Principalmente quando enfio na cabeça. Meu pai costumava dizer que minha cabeça era mais dura que a de um carneiro.
– Já lhe disse que gostaria que pelo menos um terço dos homens que se alistam fossem iguais a você? Hoje em dia são todos uns frouxos!
– Disse para Hypcéa, mas ela me contou. – Falou Gabrielle sorrindo.
– Essa minha filha está se saindo uma bela fofoqueira… Vamos começar, hoje tenho alguns assuntos a tratar com a Senhora Conquistadora e não poderei me demorar.

Terminaram de treinar. Gabrielle foi se banhar para fazer visita à enfermaria e Icrá foi ao salão da fortaleza para se encontrar com Xena e os outros.

Gabrielle passou primeiro pelos outros leitos para que por último pudesse se dedicar mais a Aahbran, já que este fora o mais grave. Dionira estava ao lado de seu esposo e quando Gabrielle chegou, Calina reclamou com ela.

– Gabrielle, fale com Dionira. Ela chegou ontem de viagem e está aqui até agora sem querer ir dormir. Disse que revezaria com ela para que descansasse, mas ela está irredutível!

Gabrielle se aproximou. Aahbran ainda estava muito fraco, mas estava acordado.

– Como se sente hoje, meu amigo?
– Parece que uma biga passou por cima de mim.
– Pelo que passou, foi quase isso Aahbran… Foi quase isso! Deixe me ver o ferimento.

O ferimento estava limpo, e a coloração era boa. Gabrielle podia ver o tecido se formando de dentro para fora.

“Que ótimo!” – Pensou.

– Pelo visto não demorará muito a brincar com a espada novamente, Aahbran. Duas luas de repouso e estará inteiro.
– Duas luas? Eu não posso ficar tanto tempo assim sem fazer nada?
– Não disse que parecia uma criança malcriada! – Falou Dionira.
– Calma Aahbran. Eu não disse que não poderia fazer nada, o que eu quis dizer é que não poderia segurar uma espada. Seu ferimento foi muito profundo e quase perdeu o braço! E você Dionira, vá dormir que eu e Calina nos revezaremos para vigiar o menino aqui.
– Mas Gabrielle…
– Sem mas, Dionira. Não quero ter que tratar de você também! Quando anoitecer, poderá dormir aqui com ele. Arranjarei algo para que possa deitar ao seu lado, mas agora vá para o quarto e durma até a noite. Descanse que poderemos precisar de você para ajudar a dar-lhes as refeições.

Dionira baixou a cabeça.

– Está certo, senhora… – falou com um sussurro de voz.
– Não sou sua senhora, Dionira. Se falar dessa forma comigo, me entristecerei. Se disse o que disse, é porque me considero sua amiga e quero que as coisas transcorram bem, não só para Aahbran, como para você também!

Dionira sorriu.

– Me desculpe, Gabrielle. É que estou cansada e nervosa com tudo isso. Mas a noite eu passarei com ele!
– E terá sua cama ao lado dele. Pode deixar!

As duas sorriram. Dionira beijou Aahbran e se retirou para se deitar. Gabrielle se virou para Aahbran.

– Muito bem menino malcriado, agora está sem sua Dionira para te defender…
– Defender? Se você disser para ela que tenho que ficar um ano deitado nessa joça, ela não deixará nem que eu faça minhas necessidades!!!

Todos da enfermaria riram.

– Ela quer o melhor para você Aahbran e seus filhos ainda estão em Tropea. Terá que se recuperar rápido se quer vê-los logo.
– Quer dizer que não vou à campanha de Corinto?
– Não sei o que Xena te reserva – mentiu Gabrielle – mas se depender de tempo, talvez ele esteja contra você.

Aahbran entendeu o que Gabrielle falava. Xena não poderia esperar tanto para fazer a investida. Certamente as notícias da derrota dos persas em Epidaurus já estariam correndo. Aahbran baixou a cabeça e assentiu.

– Gabrielle, não precisa ficar aqui comigo. Se tiver que fazer algo, eu peço para uma das moças da cozinha revezar comigo até Dionira voltar.
– Mas tem que ser alguém com disposição e interesse. Não gostaria de ter ninguém aqui obrigado. Até por que, algo acontecendo, quero ser avisada.
– Pode deixar, já sei até quem eu posso chamar.
– Realmente eu preciso ir à sala de medicamentos e ao jardim colher algumas ervas. Tenho que preparar algumas infusões e alguns pós para os curativos. Queria também um pouco do antídoto do veneno dos persas. Se teremos que lidar com eles, gostaria de saber prepará-los.
– Como saberá que fará o antídoto correto?
– Tenho algumas receitas que aprendi contra alguns venenos e elas não são muito diferentes entre si. Só preciso de algumas flechas envenenadas para sentir o cheiro e alguns pequenos animais para experimentar. Espero conseguir.

XGXGXG

Xena estava reunida com Tarcílio, Alexein, Ganimedes e alguns outros homens mais próximos quando Icrá chegou.

– Está atrasado Icrá!
– Treinava a pequena Gabrielle, Senhora Conquistadora. Ela me falou que a senhora havia autorizado!

“Porque todos resolveram chamá-la de pequena? Que tanto carinho é esse?! Esse adjetivo é meu!”

– Sim autorizei. – Disse secamente. – Venha até aqui que tenho um papel especial para você.

Icrá se aproximou. Xena começou a falar aparentando indiferença, mas no fundo estava extremamente nervosa com o que estava sugerindo.

– Como está Gabrielle nos treinamentos?
– Ela é uma menina determinada e aprende rápido. Em pouco tempo terá uma ótima companheira de armas, Senhora. Tem se destacado muito no bastão e minha filha Hypcéa diz, que parece que os sais foram feitos sob medida para ela.

Xena não gostou muito da observação feita por Hypcéa, mas gostou de saber que Gabrielle não era uma pessoa completamente desprotegida.

– De qualquer forma, Icrá, ainda não é uma pessoa apta a enfrentar uma batalha, não é?
– Não agora, mas em duas ou três luas já dará muito trabalho a muito marmanjo.
– O problema é que não tenho tempo. Se deixá-la aqui, me arriscarei e se levá-la me arriscarei também. Gabrielle é um alvo contra mim e não permitirei que ninguém faça dela a minha derrota, também não estou com disposição de abrir mão dela a favor de nada. Todos entenderam? – Xena olhou seus homens com severidade.
– Sim senhora! – Um coro se ouviu na sala.
– Muito bem, estou disposta a levá-la, mas tenho que mantê-la em segurança e para isso terei que destacar alguém de minha inteira confiança. Além do mais, Gabrielle será a curadora das tropas, manterei uma tenda para atendimento dos feridos na retaguarda. Não quero perder bons homens para essa corja de safados. Quero entrar em Corinto com o exército que a mim foi leal.

Os homens se entreolharam aprovando a proposta.

– Icrá, quero que seja o guarda-costas de Gabrielle.
– Senhora, muito me aprecia a vossa confiança. Gosto muito da senhora Gabrielle e sabe que sou eternamente grato a Senhora também, mas creio que não sou digno dessa confiança, pelo menos nesse caso. Estou velho e tenho uma lesão grande no ombro que nunca se curou e outra na coluna. Temo que não consiga protegê-la a contento. E nesse caso a senhora Gabrielle estaria praticamente desamparada.

Xena não contava com essa adversidade. Nesse momento Tarcílio sugeriu.

– E sua filha, Hypcéa?

Xena olhou Tarcílio, olhou Icrá e não acreditava no que estava ouvindo. Parecia que estava vendo a conversa de longe como uma mera observadora.

– Hypcéa nutre um grande apreço pela senhora conquistadora, tem uma habilidade invejável, posso até dizer que hoje é melhor que eu com as armas. Tem muito vigor físico e é também extremamente estrategista em um combate. Talvez fosse a pessoa acertada para esse papel. Sempre teve vontade de ir também a uma batalha, mas como ela me ajuda no treinamento dos aspirantes, nunca se prontificou.
– O que acha Xena? – Perguntou Tarcílio certo de que era a melhor solução. – Xena, Xena!
– Ãh?
– Eu perguntei o que acha? Parece ser a melhor solução!
– É. Está bom assim. Icrá, deixe que falarei com sua filha pessoalmente. – Disse taxativa.
– Certo, minha Senhora.

Terminaram as discussões a respeito da investida. Xena dispensou todos. Já era quase o entardecer e foi procurar Gabrielle na enfermaria. Estava cansada e com fome. Haviam apenas comido frutas secas e bebido sidra durante a reunião. Quando chegou a enfermaria, Calina estava só e Gabrielle não se encontrava.

– Onde está Gabrielle, Calina?
– Está na sala de armas treinando.

O rosto de Xena se endureceu, pois como Icrá estava na reunião, sabia que deveria estar treinando com Hypcéa. Calina viu o vinco formado em sua testa e se adiantou para falar o que Gabrielle fizera durante o dia para apaziguar um pouco Xena.

– Esteve aqui pela manhã. Depois se dedicou a fazer mais infusões e pós cicatrizantes para os feridos e disse que se dedicaria a descobrir um antídoto para o veneno das flechas dos persas, pois se os enfrentassem em Corinto, o exército precisaria e agora há pouco foi para o seu treinamento.

O rosto de Xena abrandou um pouco.

“Que Hades! Ela me ama, por que tenho tanto ciúmes? Porque Hypcéa é mais jovem, é bonita, é guerreira e passa mais tempo com ela do que você, sua idiota! Mas ela me ama!” – Sua consciência a atormentava.

– Obrigada Calina.

Xena se dirigiu à sala de armas. Escutou o som de metal e os urros proferidos por duas vozes diferentes. Entrou em silêncio, queria ficar só observando, parou na entrada da sala e viu Gabrielle com um top, calça larga e botas de campanha. Olhou Hypcéa proferindo golpes, se vestia com traje de guerreira, calça de couro, botas, um corpete de couro e uma armadura que emoldurava os seios e protegiam as costas; tinha braceletes de metal também. Ela lembrava a si mesma quando mais nova.

“Por isso tenho ciúmes!”

Continuou ali, parada só para ver como Gabrielle se saía.

Hypcéa avançou sobre Gabrielle com um golpe na diagonal de cima para baixo para atingi-la no rosto. Gabrielle interceptou com o sai da mão esquerda e arremeteu um golpe no abdômen de Hypcéa que também o interceptou. Hypcéa agachou e jogou uma das pernas dando uma rasteira, Gabrielle pulou e virou em um chute de costas para atingi-la no rosto. Hypcéa esquivou e Gabrielle continuou o ataque de cima para baixo com os sais. Hypcéa segurou o golpe em cima da cabeça e se levantou chutando Gabrielle no meio do peito. Gabrielle caiu no chão com os sais levantados para interceptar um possível golpe de Hypcéa, mas Hypcéa pisou em sua garganta acabando com o combate.

“Gabrielle está ficando boa mesmo nisso.” – Pensou Xena.

– Que Hades! Me antecipei ao seu golpe mas esqueci do resto do corpo.

Hypcéa lhe estendeu a mão para levantá-la.

– Gabrielle, você treina há menos de duas luas e está muito melhor que muitos que treinam há mais de três estações. Por que se cobra tanto?
– Porque tenho. Não posso ser um alvo fácil. Xena não pode se preocupar comigo quando estiver em campanha!
– E não será um alvo fácil, mas tudo tem seu tempo! Tenho certeza que Xena achará um jeito de protegê-la dessa vez sem precisar se preocupar. Eu a conheço desde pequena para saber que ela sempre acha um jeito. E da próxima vez você já estará ao seu lado!

Ao ouvir as palavras de Hypcéa, Xena percebeu o quão tola fora. Ela havia sido um espelho para Hypcéa e sendo criada sozinha por tão honrado pai, não tinha como ser diferente.

“Uma fruta não cai tão longe da árvore.”

– Vejo que estão se divertindo.
– Senhora. – Hypcéa prestou uma reverência.
– Não seja tão formal, Hypcéa. Não gosto de bajuladores. – falou Xena com um leve sorriso.

Hypcéa devolveu o sorriso discretamente.

– Está há muito tempo aí? – Perguntou Gabrielle.
– Tempo suficiente para ver que está progredindo rápido e que Icrá e Hypcéa estão fazendo um bom trabalho com você. Gabrielle, gostaria de conversar algumas coisas com Hypcéa, poderia nos deixar a sós?

Gabrielle a olhou desconfiada por alguns instantes.

– Vamos Gabrielle, me dê alguns créditos! – falou Xena sorrindo e abraçando Gabrielle.

Gabrielle a beijou e se retirou.

Hypcéa estava desconfiada. Sabia que havia despertado o ciúme de Xena.

“Bom pelo menos alguma vez na vida eu despertei algo em Xena, nem que seja ira!” – Pensou Hypcéa.

Tinha sido apaixonada por Xena, embora essa fase já tivesse passado, tinha a necessidade de reconhecimento e por ficar ajudando seu pai, que dera tudo de si para criá-la depois que sua mãe morreu, não teve a sorte de acompanhar o exército de Xena para que pudesse mostrar suas habilidades e sua lealdade. Agora com Gabrielle, a companheira de Xena, estava dando tudo se si para auxiliá-la em seu intento.

“Mas será que Xena entenderá isto?”

– Hypcéa, quero lhe pedir algo. Entenderei se por acaso você não achar que é capaz ou que é uma responsabilidade muito grande. Devo levar Gabrielle na campanha a Corinto. Ela está sendo vigiada e almejada por meus inimigos, pois hoje detém o meu amor incondicional. Você a ouviu dizer que é um peso para mim. Pois eu digo que ela é minha força, minha luz. Se hoje quero voltar a Corinto, quero voltar por causa dela, porque se permitir que tomem Corinto, estarei praticamente dizendo que não tenho mais forças para conquistar ou governar e abrirei brecha para que em qualquer lugar que vá, tenha sempre quem queira me afrontar. Por isso lhe peço que seja a guarda pessoal de Gabrielle enquanto essa história não acabar, seja aqui ou em campanha. Como eu disse, não é uma obrigação. Só se você realmente quiser e achar que tem condições.

Ao ouvir as palavras de Xena, Hypcéa não podia acreditar que depois de tantos anos os seus sonhos se realizariam. Ajoelhou perante Xena, colocou a mão no peito e disse:

– Senhora, não sabe o quanto me agracia com essa honra. Defenderei a Senhora Gabrielle com minha espada e minha vida. Se alguém passar por mim sem que eu morra antes, minha vontade é morrer sob o peso de sua espada. – Derramou uma lágrima.

Xena estava desconsertada.

“Como não vi que essa menina me seguiria ate o tártaro?”

Segurou Hypcéa pelos ombros e a fez levantar.

– Não precisará morrer sob minha espada Hypcéa. Sei que conseguirá executar sua tarefa, mas lembre-se de duas coisas: a primeira é que Gabrielle é uma pessoa resoluta e como tal, você deverá mantê-la sob as cordas da sensatez quando em batalha ou em perigo e a segunda é que eu sou uma guerreira, uma conquistadora e uma governante, não uma rainha. Isso é coisa de afetado. Não precisa se ajoelhar perante mim, basta ser leal e sincera. – Xena sorriu.

Hypcéa se sentiu constrangida pelo impulso que teve. Mas seu coração pulava de satisfação. Devolveu com um largo sorriso.

Xena deixou a sala de armas e seguiu para o quarto. Estava cansada de tantas discursões sobre estratégias e as descobertas sobre lealdades encontradas sob seu próprio teto as quais nunca imaginara. Queria um banho, comer, pois estava sem almoço e dormir junto aos braços da alma que a completava. Quando chegou, ouviu barulhos na sala contígua ao quarto. Entrou. Viu Gabrielle treinando.

– Gabrielle. Que tal tomarmos banho e comermos?
– Preciso treinar mais meia marca Xena.
– Gabrielle, terá tempo suficiente para treinar.

Gabrielle estancou com olhos furiosos.

– Xena, não venha me dizer que não vou para Corinto!
– E poderia? Seria capaz de me matar antes dos bastardos!
– Está me dizendo que vou seguir com o exército?
– Com duas condições minha cara… Com duas condições…

Gabrielle largou os sais e se pendurou no pescoço de Xena a beijando.

– Hei! Ainda não falei as condições.
– Não me… Sssmck! Importa… Sssmck! Estarei com você! Sssmck!
– Gabrielle, não quer saber o que falei com Hypcéa?
– Sei que… Sssmck! Não… Sssmck a matou… Sssmck!
– Hummmm, Como… humm Sssmck… sabe?
– Você… Sssmck! Não está… Sssmck! Alterada… Sssmck!
– Ok, Ok! Já chega! Para a banheira que eu preciso lhe contar uma coisa. – Disse Xena afastando Gabrielle.
– Mas Xena…
– Agoraaaa.
– Está bem, oh mau humor!

Xena riu do dissimulado aborrecimento de Gabrielle enquanto Gabrielle saía cantarolando para o quarto de banho.
Xena tirou sua roupa e se meteu na banheira com Gabrielle. Pegou o sabão de suas mãos e começou a esfregar suas costas.

– Bom como sabe a notícia boa é que irá conosco a Corinto. Só que terá duas condições para isso.
– Vai, fala logo!
– A primeira é que não poderá sair da tenda dos feridos À toa. E a segunda é que em hipótese nenhuma deverá andar sem sua escolta.
– Minha escolta? Quem será minha escolta?
– Não tem nem a mais leve ideia?
– Bom se fosse possível você mudar a opinião a respeito de alguém, diria que poderia ser Hypcéa, já que pediu para falar com ela… Mas… ao mesmo tempo, acho que você é muito teimosa.
– Teimosa, eu? Que tal você ver que não está preparada para me acompanhar e mesmo assim me pressiona! E eu que sou a teimosa?! Bom de qualquer forma você acertou, vai ser Hypcéa.

Gabrielle olhava Xena com incredulidade.

– O que foi? Não gostou da escolha?
– O que você está aprontando Xena?
– Como o que eu estou aprontando? Primeiro você diz para eu não ter ciúmes e agora diz que eu estou aprontando. Quem não está entendendo sou eu!
– Xena, sua personalidade sempre me avisou que é uma mulher que não muda de opinião facilmente… O que houve?
– O que você ainda não viu, minha amiguinha, é que minha personalidade me leva a ser uma pessoa prática e racional.
– Eu já havia lhe dito isso. Mas mesmo assim não muda de opinião tão facilmente.
– Observei vocês mais cedo na sala de armas e o fato é que vi que estava sendo uma tola. Mas já lhe disse que se falar isso a alguém eu nego!

Gabrielle abraçou Xena carinhosamente.

– Não se preocupe, não mancharei sua reputação.

Na manhã seguinte, após se reunir com os homens, Xena foi visitar Aahbran e falar com Gabrielle.

– Como vai bom amigo? Vejo que já pode sentar!
– É! Gabrielle disse que estou me recuperando mais rápido do que ela imaginava! Quando vai marchar para Corinto?
– Amanhã. Já mandamos batedores e provavelmente estarão de volta hoje à noite. Mas tenho algo especial para você Aahbran. Tenho que manter a base de Tropea e se não tiver ninguém de minha confiança lá, provavelmente a perderei. Gabrielle me disse que poderá montar amanhã mesmo, então quero que volte com pelo menos trinta homens. Assim poderá defender as muralhas.
– Pode deixar Conquistadora, amanhã sairei daqui cedo.
– Saia somente depois que Gabrielle olhar seu braço e deixar as coordenadas para Dionira cuidar do ferimento.
– Cadê Gabrielle, Dionira?
– Esteve aqui mais cedo, cuidou dos homens e foi para a sala de armas. Disse que quer continuar treinando todos os dias.

Xena estava impressionada com o empenho da pequena para aprender a se defender. Pensou que no fundo isso era o que deveria ser mesmo.

Foi à sala de armas e viu Gabrielle treinando com o bastão sozinha.

– Icrá não está com você Gabrielle? – Perguntou se aproximando.

Gabrielle parou o treinamento e olhou para Xena.

– Já treinou de manhã comigo e está treinando agora os rapazes. Estou só repassando os novos golpes.

Xena pegou um bastão na mão.

– Então deixa eu treinar um pouco com você.

Gabrielle sorriu. Ficou na guarda. Xena começou a arremeter alguns golpes básicos que Gabrielle prontamente defendeu. Então começou a se movimentar mais e aumentou a dificuldade. Gabrielle defendia com precisão e começou a contra-­atacar. De repente Xena se viu em um combate acirrado com a pequena e apesar de superá-la e derrubá-la algumas vezes, Gabrielle mantinha a concentração e sempre retomava a posição. O barulho das estocadas chamou a atenção de Icrá, Hypcéa e dos soldados que treinavam no salão ao lado. Vieram à porta para ver o que estava acontecendo. Pararam para ver Xena e Gabrielle treinando e Xena orientando quanto a seus erros. Xena falou para que duelassem até uma cair. Começou a arremeter golpes e mais golpes que eram defendidos com perfeição. Aumentava a intensidade do ataque até que Gabrielle defendeu uma estocada por cima e se virou contra-atacando com um golpe rasteiro que Xena defendeu saltando para trás. Gabrielle avançou com outro golpe em diagonal de cima para baixo defendido por Xena em desequilíbrio, mas Gabrielle girou sobre o calcanhar desferindo um terceiro golpe horizontalmente e quando Xena o defendeu contra-atacou colocando o bastão entre os pés de Gabrielle elevando o bastão para tirar um dos pés do chão aplicando logo a seguir uma rasteira na outra perna. Gabrielle caiu com as costas no chão. Foram aplaudidas por todos. Xena estendeu a mão para levantar Gabrielle.

– Você não falou que valia rasteira!
– Gabrielle, você não vai falar isso a seu oponente quando estiver em um combate de verdade, vai?

Todos riram.

– Está bem você me pegou, mas saiba que não acontecerá novamente.
– É isso que espero Gabrielle, é isso que espero!

Xena passou o braço por cima do ombro de Gabrielle.

– Ok! O espetáculo acabou, voltem a treinar.

Os homens se retiraram comentando a agilidade de Xena e o quanto a “Senhora Gabrielle” tinha aguentado. A maioria dos homens que treinavam ali eram os soldados que haviam se recuperado dos ferimentos e haviam sido cuidados por Gabrielle. Gabrielle havia conquistado o respeito deles na enfermaria. Nesse momento teve consciência que falavam da curadora e não da companheira de Xena. Sentiu-se orgulhosa por isso. Icrá e Hypcéa se aproximaram.

– Um belo combate, Senhoras! – Falou Icrá.
– Não acredita que eu tenha lutado o meu melhor, não é Icrá? – Disse Xena e os três riram deixando Gabrielle amuada.

Gabrielle bateu no ombro de Xena.

– Deixa de ser metida!
– Gabrielle apesar de saber que está indo muito bem, pelo que conheço Xena, ela está falando a verdade. – Hypcéa falou rindo.
– Será que vocês poderiam mentir um pouco só para eu me sentir melhor?

Todos riram novamente.

– Bom minha pequena se isso fizer se sentir mais motivada, farei de tudo para cair da próxima vez.
– Não precisa. Dê o melhor de você das próximas vezes que quando eu a derrubar, saberei que posso me defender de qualquer um. – Disse para Xena com um olhar desafiador.
– Então que assim seja, você é que está pedindo…
– Só não me bata para me deixar marcas, pois se acontecer não olhará meu corpo até que elas desapareçam!
– Então como espera que eu faça?
– Não é a melhor? Então tem que me ganhar sem me machucar!

Hypcéa e Icrá olharam para Xena rindo.

– Senhora Conquistadora, esse é um verdadeiro desafio para a senhora. Essa vamos querer ver. – Disse Icrá.

Gabrielle seguiu para a saída sorrindo, quando viu que Xena estava a olhando, parou e disse.

– Vai ficar aí treinando para me ganhar da próxima vez ou quer almoçar comigo?

Xena balançou a cabeça dizendo:

– Eu mereci isso! – E saiu caminhando em direção a Gabrielle deixando Icrá e Hypcéa rindo a valer.
– Muito bem, minha desafiadora. Está preparada para partir amanhã?

Chegaram à porta do quarto, os sentinela se perfilaram. Entraram na antessala e ouviram um barulho dentro dos aposentos. Xena pegou a espada, mandou Gabrielle ficar atrás. Abriu cuidadosamente a porta e viu as duas Deusas em pé as esperando. Sabia que eram notícias e não eram boas. Fez um gesto para que Gabrielle entrasse. Xena parou de frente encarando-as taciturna. Gabrielle entrou e as olhou sorridente.

– Xena… Xena… Sempre atenta, sempre desconfiada!
– Acho que se estivessem na minha posição a reação de vocês seria a mesma Athena. Pelo menos a sua…

Afrodite olhava Gabrielle sorrindo e Gabrielle devolvia o sorriso.

– Se fosse você não sorria tanto Gabrielle. Normalmente quando Deuses nos visitam significa problemas.
– Não discutirei com você, Xena, pois nesse caso está coberta de razão.
– O que Ares está aprontando agora?
– Se aliou à Discórdia.
– O que? E não poderão fazer nada?
– Zeus foi claro. A punição é para Ares pelo que fez, contanto que Discórdia não chegue até vocês para passar os planos para os seus inimigos, ela poderá intervir se aliando a quem quiser para orientar, assim como nós fazemos com vocês. Viemos para avisar e para entregar isto. – Athena olhou para Afrodite que estendeu a mão para Xena com dois cordões com um pingente de duas faces. Uma de Athenas e a outra de Afrodite.
– O que é isso?
– São dois amuletos e vocês deverão dar a quem vocês achem que poderão ser assediados por Discórdia para desestabilizar o exército ou contribuir de alguma forma para a derrota. Quando estiverem no campo de batalha ela poderá se aproximar, pois estarão no mesmo terreno. Estaremos lá também.

Gabrielle pegou os pingentes da mão de Afrodite. Xena olhou para Afrodite e disse:

– Agradeço o que fizeram por mim. – Parou e olhou com ternura para Gabrielle. – No entanto, sei que sou uma peça na disputa de Deuses, se alguma coisa acontecer a Gabrielle essa disputa terminará mal.

Athenas olhou para Xena com severidade.

– Escute apenas uma só vez o que te digo, Xena. Essa disputa não é apenas de Deuses. Se você perder, não somos nós que perdemos ou Ares que ganha. O que ocorrerá é o desequilíbrio. Ares se cega não só pela derrota quando você se aliou a nós para conquistar Corinto. Se cega por ter perdido você para uma mortal. O que não é correto, pois lança mão de coisas que não são próprias dos Deuses para conquistar o que não devem ter. Ele não enxerga, que se ganhar só para tê-la, desestabilizará as forças que regem o equilíbrio do mundo. Afrodite é o contraponto de Ares. Os dois existem para o mundo permanecer em equilíbrio. Se só as forças de Ares existissem, o mundo entraria em uma era de sombras e desgraças e se só as forças de Afrodite existissem as pessoas se perderiam num mundo de ilusão e devaneios. Assim que não se trata só de nós e de vocês. Trata-se de equilíbrio para que o mundo viva em paz.
– Mas mesmo que ele ganhe, eu o odiaria por fazer algo com quem eu amo.

Foi a vez de Afrodite falar.

– Mas Xena, minha querida, não vê que se você perder o que ama, se tomaria de ódio e cederia às forças das quais ele tanto quer ver em você?

Xena se surpreendia com tamanha responsabilidade e entendimento do que se tornara essa batalha.

– Mas por que Zeus permite então? – Perguntou Gabrielle.
– Gabrielle, para que o mundo não entre em caos é preciso que todas as forças que são regidas por todos os Deuses estejam em equilíbrio.

Xena assentiu com a cabeça. Entendia, pois se não estivesse disposta a compreender que só sua sede de sangue não a levaria a nada, nunca teria se aliado tempos atrás com Athenas e Afrodite, provavelmente estaria ainda errante e em uma vida sem propósito.

– Tenho que saber quem são meus aliados no reino.
– Não podemos dizer diretamente, mas podemos dizer que existem três grandes exércitos marchando até Corinto para se juntar a vocês. São nobres que prosperaram muito sob o seu governo. Eles sabem que você voltará para entrar em Corinto novamente e se adiantam para se juntar ao seu exército.
– Tenho que falar com Sileno.
– Agora nós vamos e as encontraremos depois, só em Corinto. – Falou Athena.
– Gabrielle e Xena, lembrem que o amor de vocês as completam. Não há sabedoria sem o amor, não há amor sem a suavidade, não há suavidade sem a razão, não há razão sem a força e não há força sem a sabedoria. Assim o ciclo se fecha. – Falou Afrodite.

As duas Deusas desapareceram.

– Teremos que marchar logo.
– A quem daremos os pingentes? – Gabrielle estendeu a mão com os colares a Xena.
– Aos dois principais pilares.

Xena falou e já se encaminhava para a porta para sair. Seu rosto se convertia em uma espécie de capa de gelo e rocha. Gabrielle a seguia de perto. Foi até Tarcílio e disse para ele as acompanhar até o cárcere.

Era uma entrada escura e não muito cuidada. Chegaram à cela em que se encontravam Sileno e Altineu. Encontraram os dois sentados no fundo da cela e estavam um pouco sujos. Xena falou de frente.

– Isso era o que vocês esperavam de Ares?

Sileno levantou a cabeça e seus olhos estavam cobertos de ira. Altineu era um nobre mais polido e estava visivelmente abatido com a situação.

– Muito bem. Não perderei meu tempo aqui. Tarcílio traga Altineu para a câmara de tortura.

Gabrielle arregalava os olhos e Xena já partia para a outra sala.

– Xena, o que vai fazer?
– Gabrielle, confie em mim. Altineu falará e não precisarei lançar mão de muitos recursos. É um homem acostumado a coisas da corte, não é um guerreiro. Já Sileno foi um general. Eu sei que não poderia contar com ele se não o torturasse. Mas mesmo assim quando isso terminar, darei cabo dos dois e não será uma coisa bonita de se ver. Não poderei deixar passar porque senão, logo haverá outros para se levantarem contra mim.

Gabrielle baixou a cabeça, porém agora compreendia o que Xena dizia. Deixou para conversar com ela no tempo certo.

Tarcílio trouxe Altineu preso por correntes. Xena mandou que sentasse em uma cadeira em frente a uma cama de tortura.

– Altineu… Altineu. Sabe que reaverei Corinto. Tenho o exército de Epidaurus e mais três exércitos aliados, sabe?

Altineu mantinha a cabeça baixa. Gabrielle observava de longe. Xena rodeava Altineu calmamente.

– Não quero saber por que se aliou a Sileno. Quero saber quem está dentro dos portões de Corinto e quem poderá chegar para ajudá-los?

Altineu mantinha a cabeça baixa e começou a chorar.

– É fácil, é só falar que voltará para a cela. Se quiser manterei você em outra cela distante de Sileno.

Nesse momento Altineu levantou a cabeça e seus olhos eram puro medo, mas nada falou.

– Não tenho tempo a perder com você Altineu, meu tempo é precioso.

Xena se lançou sobre Altineu pressionando dois pontos no seu pescoço.

– Cortei o fluxo do seu sangue para o cérebro. Você tem apenas 30 segundos para falar ou morre.
– Anaxágoras lidera em Corinto, tem metade do seu exército dentro dos muros. Quem está com ele é Abadir de Tegea, Eudóxio de Sikion e Garrido de Nemea. Xena tirou o golpe de Altineu.
– Ótimo! Então estamos nos entendendo. Eles estão em Corinto ou estão fora do Castelo?
– Apenas Eudóxio está com seu exército dentro dos muros. Abadir e Garrido acampam fora.
– Foi como pensei! Tarcílio leve Altineu para a cela ao lado de Sileno.

Quando Tarcílio saiu, Gabrielle se aproximou e perguntou.

– Por que não perguntou quem está com você?
– Porque não quero que saiba que eu sei. Eu sei quem está comigo, Gabrielle. Galen, Hiero e Icer, os outros se mantêm neutros. Quando eu conquistei Corinto, esses nobres tinham pequenas terras e não tinham tanta expressão no reino. Dei-lhes mais terras e investimentos para a agricultura e o comércio pesqueiro. Hoje Voria, Tripoli e Assini prosperam e têm peso no conselho. Os outros não se importam, pois nunca dependeram de Corinto para sua economia, então quem estiver no poder, também não importa. Vamos comer alguma coisa porque daqui a pouco os batedores devem chegar e temos que nos preparar para a partida amanhã.

Chegaram ao quarto e já passavam das três marcas após a metade do dia. Comeram em silêncio. Xena estava taciturna e Gabrielle não queria atrapalhar seus pensamentos. Após algum tempo Gabrielle rompeu o silêncio.

– Dará os amuletos a Hypcéa e a Tarcílio?
– Sim.
– Como encontrará os exércitos de Galen, Hiero e Icer?
– Não será difícil, o rio corre em volta de Corinto. Provavelmente Abadir e Garrido estarão acampados próximo às muralhas após o rio. Julgam que é a melhor defesa para Corinto e realmente o é. Os nossos aliados acamparão antes, dentro da floresta para poderem observar e se manterem mais resguardados. Chegaremos pelo sul que é a mais ou menos a rota de Assini e Voria. Tripoli chegará pelo oeste, mas deverá descer para nos encontrar, pois não quererão chegar desguardados. Assim que, nós sabemos as suas posições e eles sabem as nossas. Estamos empatados. Ninguém quer arriscar posições e o confronto dessa vez terá que ser direto. Dedicarão vários sentinelas ao rio, porque quando conquistei a primeira vez Corinto, contaminei as águas para poder deixá-los sem suprimento. Isso fará a diferença, pois sei que serão muitos sentinelas para poderem cobrir toda a extensão do rio e seu exército estará desfalcado. Terei que chegar lá para ver como faremos para eliminá-los, sei que o flanco norte tem rochedos e é difícil para avançar, por isso Corinto é tão protegido. Falei para Tarcílio descansar e nós descansaremos também, os batedores só devem chegar mais tarde e teremos uma caminhada mais devagar até lá por conta das carroças com as catapultas e os aríetes.
– E se Discórdia lançar seus sortilégios por todo o seu exército?
– Ela não tem esse poder. Só consegue se aproximar de três ou quatro pessoas por vez para lançar a discórdia, então precisaria de muito tempo para poder fazer um exército inteiro se desentender. Tentará lançar seus atributos em pessoas chaves. Logo terá dificuldades para nos atingir diretamente. Não posso perder Tarcílio e não posso deixar que Hypcéa seja afetada. Ela estará diretamente com você.
– Mas ela poderá se aproximar de Galen, Hiero e Icer.
– Galen e Hiero são devotos de Athenas e provavelmente já contam com sua proteção, e isso Discórdia já deve saber, mas terei que me preocupar com Icer.
– Então estamos escolhendo errado. Tarcílio estará ao seu lado, por mais que ela tente inflamá-lo, você terá o controle do exército. Já Icer controla todo o exército de Assini.
– Não poderia deixar Tarcílio a mercê de Discórdia, Gabrielle. Ele poderá fazer algo que depois se arrependerá e eu poderei fazer algo contra ele do qual me arrependerei também!
– Sabe que não. Você tem conhecimento de causa. Poderá protegê-lo se algo assim acontecer. Mas Icer você não terá como intervir e ele poderá ser seu ponto fraco!

Xena se calou pensando na colocação de Gabrielle.

– Talvez tenha razão. Seria mais fácil controlar Tarcílio do que um exército inteiro. Xena caminhou até a porta e chamou um dos guardas.
– Vá chamar Hypcéa, diga que preciso falar com ela urgente.

Hypcéa bateu à porta.

– Entre.

Xena estava apoiada na sacada com Gabrielle ao seu lado. Hypcéa se aproximou.

– Estou às suas ordens Senhora!

Xena se manteve de costas observando além das muralhas da fortaleza. Gabrielle se dirigiu a Hypcéa e estendeu sua mão com um cordão.

– Isto é para você Hypcéa. – Disse Gabrielle.

Xena se virou e caminhou até ela.

– Hypcéa, essa guerra não é só nossa e se tornou muito perigosa. Essa guerra pertence também aos Deuses. Muitas coisas estarão em jogo e não é só Corinto. Athenas e Afrodite estiveram conosco, deram-nos esses cordões para entregar a duas pessoas de extrema importância para a batalha e julgamos que uma delas é você.
– Eu? Mas por que eu? Estarei na retaguarda junto a Gabrielle.
– Exatamente! Ela é uma das peças eleita por Ares para essa guerra. Por quê? Porque me apaixonei por ela e não é só por isso, eu me tornei algo do qual ele não queria. Ele sabe que com Gabrielle ao meu lado, nunca mais me renderei aos seus poderes.
– Então é verdade a história de que Ares nunca se conformou por tê-lo renegado, senhora?
– É verdade, mas não me chame mais de senhora. A partir de hoje teremos uma relação mais estreita e confiarei a você o que hoje é o mais precioso para mim. Como eu disse que não confio em bajuladores, também não confio em pessoas que não têm a coragem de me enfrentar cara a cara.
– É apenas uma reverência Xena. E não é que não tenho coragem de enfrentá-la, apenas não a enfrentaria por considerá-la muito.

Xena sorriu, era exatamente a resposta que queria ouvir e exatamente o brilho nos olhos que queria ver.

– Temos apenas dois amuletos e a Deusa Discórdia é a enviada de Ares para essa guerra. Os comandantes de Voria e Trípoli são devotos de Athenas e estarão protegidos, mas Icer de Assini estará desprotegido, logo daremos o outro amuleto para ele. – Falou Gabrielle.
– Porém ela poderá se aproximar de Tarcílio, assim que se algo acontecer fora do normal e Tarcílio se portar estranhamente, não quero que o machuque, quero que utilize de inteligência para anulá-lo sem que aconteça algo mais grave.
– Mas Xena, não contará para ele?
– Não Hypcéa, qualquer coisa que conte para ele, nesse momento ele poderá usar como arma para atingir o propósito de Discórdia e de Ares.

Hypcéa assentiu com a cabeça.

– Posso então traçar um plano para a proteção de Gabrielle?

Xena elevou uma sobrancelha e olhou para Gabrielle.

– Esteja a vontade, mas quero estar a par de todos os passos.
– Pode deixar, Xena. Se me permite, gostaria que Gabrielle viesse comigo a sala de armas para falar com meu pai, acredito que posso incluí-lo no plano já que ele permanecerá aqui!

Xena olhou novamente para Gabrielle que lhe sorriu.

– Pode sim e hoje mais do que nunca, confio no discernimento de Gabrielle para questões estratégicas. Ela está me superando. – Dizendo isso, depositou um beijo na testa de Gabrielle e fez um gesto para que fossem.

Ficou só no quarto. Voltou ao beiral e olhava as nuvens se acumulando para o norte.

“Por um lado é ruim termos chuvas, pois é horrível avançar com o exército, mas por outro lado, nos dá a vantagem das sombras quando se olha pelos muros de um castelo.” – Pensou.

XGXGXG

– Os batedores chegaram Xena.
– Vamos ao salão Tarcílio.

Dirigiram-se ao salão apressados.

– Então Gabrielle irá realmente conosco?
– Irá. Não a quero aqui desprotegida.
– Não seria melhor então chamar Hypcéa para participar da reunião?
– Não. Gabrielle ficará confinada a tenda dos feridos e Hypcéa estará à disposição dela com uma guarda que ela designará. Estão fazendo os preparativos para partir.

Já falei com Calina para preparar todos os mantimentos. Tem sorte meu amigo! Pelo menos sua mulher ficará longe disso tudo.

Tarcílio acenou com a cabeça concordando. Sabia o quanto Xena deveria estar sofrendo com a ida da pequena a batalha. Chegaram ao salão.

– Muito bem, como andam as coisas por lá? – Perguntou Xena para um dos batedores.
– Os exércitos de Abadir e Garrido estão acampados próximo às muralhas após o rio. Icer e Galen estão conosco, já chegaram e estão acampados dentro da floresta para poderem observar, dizem que Hiero de Tripoli chegará também para nos ajudar.
– Que grande novidade! – Xena balançou a cabeça. Estava cansada desses jogos. Tantos exércitos e tão incompetentes.

“Nãaao! Eles não poderiam fazer diferente né! Por que me surpreendo? Por acaso, Xena não sabe que a verdadeira guerra acontecerá dos meandros do que se delineia o combate e da garra dos guerreiros que nos cercam?”

– E os persas?
– Depois da derrota aqui, parece que não se interessaram pelos conflitos internos. Retiraram-se.
– Ótimo! Esperarão para ver o que acontece. São abutres!

XGXGXG

O exército já caminhava a várias marcas, Tarcílio apertou o passo e foi galopar ao lado de Xena.

– Deixará Gabrielle na carroça de mantimentos e das tendas o tempo todo?
– Claro que não Tarcílio! Estão lá apenas por serem responsáveis pelos suprimentos. – Xena olhou para trás e observou o andamento do exército.
– Nesse passo demoraremos muito para chegar. Não gosto disso.
– Não tem jeito, Xena. Temos as catapultas, os aríetes e todas as cargas de armamentos, além das tendas e suprimentos para carregar. Tínhamos que trazer tudo isso, pois é uma guerra que não sabemos quanto durará!
– Para mim, durará pouco. – Falou e puxou Argo para voltar para perto da carroça de suprimentos.
– Tudo certo, Hypcéa?
– Tudo bem, mais gostaria de saber por que destacou aquela garota para acompanhar a carroça? – Apontou com a cabeça uma guerreira a cavalo que estava o tempo todo acompanhando o passo delas na retaguarda.
– É mais perspicaz do que imaginava, Hypcéa! Não se incomode com ela, é apenas mais uma ajuda para vocês. Seu nome é Tecla, cavalgou comigo há alguns anos e embora não seja do exército é uma guerreira de honra. Confio nela e não é ninguém que tem uma relação estreita com meu governo, logo não será uma pessoa assediada. Você ainda está no comando e ela obedecerá ao que disser. Ninguém aqui a conhece e quando mandei chamá-la não passou de mais uma “excentricidade da Senhora Conquistadora”. – Xena piscou um olho para Hypcéa.

Hypcéa apenas assentiu olhando a guerreira desconfiada. Xena contornou a carroça e se aproximou de Gabrielle.

– Está tudo certo, pequena?
– Está tudo bem comigo, Xena. Não se preocupe, já tem coisas demais para pensar e pode deixar que eu me virarei por aqui.
– Está certo. Irei me adiantar. – Xena deu mais uma olhada em Hypcéa que tinha as feições fechadas.

“Ah! Criança… Ainda não sabe o quanto ela poderá ser útil para você…”

A noite já caía e Xena pediu a Tarcílio para as tropas acamparem. Algumas tendas foram montadas. Hypcéa e Gabrielle estavam acomodadas em volta de uma fogueira.

– Olá! Estão confortáveis? – Xena chegou e se sentou ao lado de Gabrielle, mas percebeu que Hypcéa estava amuada.
– Ainda está irritada por causa de Tecla?
– Acreditava que confiasse em mim!
– E confio Hypcéa, porém você deve entender que se puder fazer qualquer coisa a meu alcance para que essa história termine bem eu o farei. Não se trata só de mim ou de você, trata-se de Gabrielle, a mulher que eu amo e que está nessa confusão por minha causa.
– Não estou nessa confusão por sua causa, Xena. Aceitei as consequências por mim mesma. Não quero que se sinta culpada por tudo isso. – Xena olhava Gabrielle com afeição.
– Hypcéa, Tecla estará sob suas ordens, só pedi para ela se distanciar para não levantar suspeitas e poder observar de longe. Será uma boa peça se acaso algo fora do comum acontecer. Cavalgamos juntas há tempos e embora ela seja mais nova do que eu, já livrou as minhas costas algumas vezes. É uma ótima guerreira e acredito que você poderia se utilizar dela se algo sair do controle. Não gosto de surpresas. – Xena falava brandamente, como que querendo convencer Hypcéa a convidar Tecla para a fogueira.
– Muito bem! Então quero conhecê-la.

Xena passou os olhos nas outras rodas para procurar Tecla. Estava muito escuro e não conseguia divisar direito até que a enxergou nas sombras, sentada próximo a uma árvore, amolando sua espada.

Demorou não mais que alguns segundos para Tecla levantar os olhos para passá-los pelo acampamento em vigia. Deparou-se com o olhar de Xena. Xena maneou a cabeça para que ela se aproximasse. Chegou perto da fogueira, fez uma reverência com a cabeça.

– Senhora?
– Sente-se um momento, Tecla.
– Para o seu propósito não seria muito conveniente, Xena.
– Não se preocupe Tecla. Ainda estamos no início da viagem e não se incomodarão muito com sua presença. Depois cairá no esquecimento.

Hypcéa observava com atenção a guerreira. Tinha os cabelos presos por um lenço como uma guerreira das terras do rio Nilo, mas suas roupas eram de uma guerreira vinda da Aeolia. Não dava para saber a cor de seus cabelos ou se eram longos ou curtos. Suas calças eram de couro marrom escuro, sem detalhes, seus braceletes de proteção eram lisos e sem adornos a bata era longa na cor preta e também sem detalhes. Por baixo da bata usava uma proteção como um corpete que se estendia ao longo do tronco, era de um couro mais rígido e tinha uma placa de metal que torneava seus seios e se estendia até o abdômen. Hypcéa não conseguiu ver se tinha a mesma proteção em metal nas costas, mas também se não a visse de perto não conseguiria ver o corpete que se parecia com uma armadura íntima. Seu rosto era de um dourado claro queimado pelo sol, seus olhos eram verdes e expressivos. Não tinha uma só cicatriz no rosto. Tinha uma expressão séria mas serena.

“Para ser guerreira e não ter cicatrizes, ou ela é boa mesmo ou nunca se enfiou em grandes encrencas. Pelo que Xena fala ela é boa.”

Ela se sentou ao lado esquerdo de Xena e ficou de frente para Hypcéa. Olhou nos olhos de Hypcéa e falou:

– Minha vestimenta está adequada para você?

Xena sorriu de lado, pois havia notado a investigação visual que Hypcéa tinha realizado. Hypcéa fechou novamente o semblante.

– Deixe-me apresentar vocês formalmente. Hypcéa esta aqui é Tecla, como disse cavalgou comigo há tempos atrás, irá cuidar da retaguarda um pouco mais distante para poder observar quem se aproxima. Qualquer coisa de diferente que ocorrer ela se reportará a você e qualquer coisa, se precisar que ela a apoie, é só chamá-la. Ela estará a sua disposição e comando. Tecla, Hypcéa está aqui para garantir a segurança de Gabrielle e é a ela que deverá se dirigir em primeiro lugar.

Tecla olhou diretamente nos olhos de Hypcéa e fez uma reverência com a cabeça.

– Você vem de Aeolia? – Perguntou Hypcéa.
– Sim. Vejo que não só é observadora como também tem conhecimento de outros costumes.
– Gosto de estudar outros povos no que concerne a coisas relacionadas à tradição militar.
– Bom, não devo ficar muito tempo com vocês. Não quero que percebam uma relação mais estreita.

Levantou-se, cumprimentou Hypcéa e Xena com um aceno de cabeça se voltou para Gabrielle e deu-lhe um sorriso. Era discreto mais deixou seu rosto com aparência mais jovial. Gabrielle devolveu o sorriso. “Gostei dela”. Pensou Gabrielle. Voltou para as sombras que havia deixado.

– Não gosto de pessoas que não se mostram!
– Ora Hypcéa! Se ela agisse de outra forma, como poderia fazer o trabalho que designei? É apenas uma pessoa discreta e isso é uma de suas qualidades, por isso a chamei!

Hypcéa ainda estava amuada, mas compreendia o que Xena falara.

– Está bem. Mas um deslize dela e não a quererei mais comigo!
– Me pareceu ser uma boa pessoa. – Gabrielle falava pela primeira vez. – Não vi maldade em seus olhos ou sombras em seus gestos.

Hypcéa e Xena olharam para Gabrielle juntas.

– Desculpe-me Gabrielle, mas pelo pouco que te conheço creio que não veria nenhuma dessas coisas nem mesmo a uma alma condenada ao Tártaro pelo próprio Hades!

Xena gargalhou com a afirmativa de Hypcéa.

– É Gabrielle, tenho que concordar com Hypcéa, você não viu maldade nem em mim!

Foi a vez de Hypcéa rir.

– Vocês duas têm um julgamento muito puritano em relação a mim. Primeiro: não é que não tenha visto maldade em você Xena, apenas enxerguei um pouco mais além e depois, acredito que nós temos outra relação que não se encaixa nesse tipo de ponderação.
– Ta, ta certo Gabrielle, mas o fato é que você não se oporia nem a uma mosca.

As três riram juntas.

– Ok! Vocês venceram, mas estou aprendendo, tá bom!
– Vai ficar com a gente, Xena?
– Apenas mais uns minutos, Hypcéa. Tenho que retornar e começar a delinear o nosso ataque. Mais tarde volto e direi a vocês como vamos avançar isso será importante para vocês poderem se localizar no contexto da batalha.
– As coisas estão saindo como planejado?

Xena olhou para Gabrielle com olhos tristes.

– Acho que sim Gabrielle, pelo visto antes até do que nós esperávamos. Ele está se mostrando muito curioso em relação a você e as perguntas além de não serem pertinentes não têm um propósito direcionado à batalha.
– Xena, se isso já está realmente ocorrendo, será que chegaremos tarde para abordar Icer?
– Não sei Hypcéa, veremos apenas quando chegarmos. Espero que não… Espero que não…

Gabrielle viu a tristeza nos olhos de Xena, tinha vontade de abraçá-la para aplacar a sua dor, mas sabia ser inconveniente no meio dos soldados e ainda mais caminhando para uma guerra.

Xena se levantou, passou por trás de Gabrielle, deu um beijo em sua cabeça e se foi.

XGXGXG

– Estão todos prontos?

Tarcílio olhou para trás e falou.

– Parece que sim, Xena. Podemos ir.
– Então dê o comando para a marcha forçada. Quero chegar antes do anoitecer assim poderão comer um pouco e descansar antes da batalha. Se chegarmos tarde, estarão famintos e não poderão comer para não entrarem lentos no campo.
– Avante! – Gritou Tarcílio se colocando a galope ao lado de Xena. – A pequena está bem, Xena? Se quiser coloco três de nossos homens para proteger a tenda!
– Gabrielle está bem Tarcílio. Não precisa designar ninguém, Hypcéa tem tudo sob controle e quero todos os homens conosco. – Xena falou e apertou o galope se distanciando de Tarcílio.

Chegaram às florestas de Corinto no meio da tarde. Foi direto se encontrar com Galen, Hiero e Icer, olhou para o peito de Icer e ele já estava com o amuleto. Havia mandado um batedor ir a Corinto, antes de saírem de Epidaurus, para entregar o amuleto e um pergaminho explicando a situação a Icer. Não disse nada a ninguém.

Para dizer a verdade, não confiava em ninguém realmente. Gostava das coisas do seu modo.

“Isso sempre funcionou e não vai ser agora que vai falhar”.

Xena se aproximava dos três governantes quando escutou Tarcílio chamá-la insistentemente. Retornou para falar com ele para ver o que havia acontecido.

– Xena, três dos nossos melhores tenentes desapareceram!
– E o que quer que eu faça agora Tarcílio?
– Não vamos procurá-los?!
– Acha que desfalcarei homens para uma busca em cima de uma batalha? Você perdeu o juízo Tarcílio?! Se souber que eles deserdaram, eles terão comigo depois, não agora.
– Mas Xena, eu não acredito em deserção. Eles eram bons homens!

Xena elevou uma de suas sobrancelhas.

– Tarcílio, se fossem tão bons assim, não teriam sido pegos por alguém como você está sugerindo e depois, entre em seu juízo e veja que não poderemos perder mais homens agora em uma busca inútil. E sabe por que é uma busca inútil? Porque se foram pegos por alguém, eles estarão do lado de lá, não poderemos salvá-los se não ganharmos a guerra! Está entendendo agora! – Xena falava já sem paciência. – Muito bem Tarcílio, volte e prepare tudo como combinado, certo?!
– Certo, Xena. Me desculpe. Não parei para pensar muito bem.
– Ok! Então volte!

Xena se virou e caminhou até os governantes que a apoiavam.

– Que foi agora, Xena? Andou se desentendendo com Deuses? – Galen estendia a mão para cumprimentá-la.
– É! Parece que me envolvi com o sagrado e nem tão pura assim eu sou! – Estendeu também a mão sorrindo.
– Esse amuleto veio em boa hora, Xena. – Icer se adiantou.
– Por que diz isso?
– Já estava chegando com meu exército, tudo combinado com Galen e Hiero, pois soubemos de sua vitória em Tropea e comecei a pensar se não seria mais fácil me juntar a Anaxágoras. O problema é que você conhece o meu amor por ele, não conhece?! – Falou e riu e todos se juntaram a ele.

Anaxágoras tinha sido um dos que queriam negar o voto de Icer no conselho.

– É meu amigo, não me parece uma guerra só de Deuses afinal. Mas não se preocupe, depois que tudo isso acabar finalmente teremos só os nossos no conselho.

Os três sorriram para Xena. Ela tinha um temperamento do Tártaro, mas todos sabiam que era uma mulher de palavra.

– Então vamos nos reunir e ver como faremos essa investida. – Disse Hiero com uma voz severa.
– O que há Hiero?
– Até agora não entendo porque deixou esses cães sarnentos com Corinto e se retirou?
– E por acaso não sabia das intensões deles?
– É claro que todos sabíamos, Xena! Mas eles se reuniam quando não estávamos presentes. Sempre soubemos de suas intensões como você, mas nunca soubemos dos planos.
– Bem Hiero, não foi uma questão de querer. Eles nos pegaram quando voltávamos de Tropea. Não poderia deixar que os homens que me foram leais perecessem em uma batalha perdida. Me retirei para me fortalecer, e aqui estamos.

Galen se adiantou.

– Não importa agora. Vamos retomar!
– Desculpe-me Xena. Não queria transparecer minha irritação. Mas é que se eles vencerem, o reino será partido novamente. Não questiono sua capacidade estratégica, mas sei que Corinto é difícil de penetrar. Até mesmo você custou a conquistar e agora, não deixarão o rio desguardado!

Xena sorriu.

– Pois tenho uma novidade para você meu amigo. Esse será o nosso ponto a favor.
– Como assim?

Xena passou o braço despreocupadamente por cima do ombro de Hiero.

– Venha, vou mostrar a minha ideia.

Caminhou com os três governantes para a tenda. Após uma hora retornava para o acampamento.

– Tarcílio, venha aqui!
– Sim Xena.
– Já mapeou o quantitativo dos homens de Corinto?
– Estamos em vantagem fora dos muros Xena, mas creio que quando ultrapassarmos as barreiras não teremos tanta sorte. Todo o exército de Eudóxio está dentro das muralhas e aí depois de perdermos homens eu não sei não…
– É, mas eu sei! Prepare as catapultas, as quero em um lugar que possam ultrapassar o rio, os exércitos e cheguem até as muralhas. Não quero ser assolada por nenhuma pedra em minha cabeça! E prepare os homens que farão a frente.
– Entraremos primeiro Xena? Mas como faremos depois que vazarmos as defesas?
– Calma Tarcílio, foi o que consegui negociar. Entraremos com um grupamento para furar o bloqueio, depois virão os exércitos de Hiero, Icer e Galen, por últimos entraremos com a nossa massa. Quero os arqueiros lançando constantemente para além da muralha.
– Pode deixar Xena. Irei agora mesmo.

Xena se retirou e foi para a tenda em que se encontrava Gabrielle. Hypcéa estava na porta e reteve Xena.

– Xena, não estou gostando nada dessa guerreira. Ela se ausentou por algumas marcas e só voltou há pouco. Temo que não esteja conseguindo conduzi-la.
– Hypcéa, relaxe um pouco, sei que é sua primeira incursão e lhe dei muita responsabilidade, mas Tecla estava ao meu serviço, por isso não estava aqui. Não pude avisá-la, pois estava ocupada. Preste bem atenção. Precisaremos dela e esteja preparada para mudar seus planos. Tenho um plano para entrar em Corinto, mas precisarei de vocês e de Gabrielle, mas só contarei a Gabrielle e ela as conduzirá. Terá que ser assim, pois de outro modo, não funcionará. Por favor, confie em mim para eu confiar em vocês, se conseguirmos entrar em Corinto, será por causa de vocês, me entendeu bem?

Hypcéa estava atordoada. Eram muitas informações, mas por tudo que sabia de Xena através dos anos com seu pai, deveria confiar que ela as levaria a vitória. Talvez fosse esse o seu diferencial, arquitetar tudo e conduzir aos poucos com muita cadência como um barqueiro conduz seu barco pelo rio.

– Farei o que pedir, Xena.
– Ótimo. Terá que ter muita coragem e ousadia. Confie em Tecla, ela será uma peça fundamental!
– Tudo bem! Confiarei.

Xena se virou e entrou na tenda. Saiu alguns minutos depois.

– Hypcéa, fique em alerta, pois a batalha irá começar; a primeira etapa de nosso plano está de pé e depois seguirá as instruções de Gabrielle, entendido?
– Assim o farei Xena.

Xena se retirou e Hypcéa olhou para trás para observar Tecla. Essa acenou com a cabeça dando ciência que sabia das orientações de Xena. Hypcéa entrou na tenda. Ouviram os gritos dos guerreiros. A batalha havia começado.

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Três grupos avançavam a cavalo atravessando o rio, formavam blocos compactos. As flechas eram atiradas em direção aos muros e as catapultas eram acionadas. A visão pelos soldados das muralhas era bloqueada pelas bolas de fogo e fumaça que cortavam o ar em direção a Corinto. Os grupos a cavalo lançavam flechas também. Os guerreiros que se encontravam ao longo da margem para proteger o rio contra a contaminação, deixavam suas posições para defender o ataque. Abriram-se brechas em vários pontos da margem.

Abadir avançou com um grupo para interceptar o ataque. Os Exércitos de Galen e Hiero avançaram através dos flancos abertos. Icer entrou pelo centro onde os primeiros homens de Xena estavam combatendo para abrir frente.

Xena deu ordem para Tarcílio entrar pelo flanco direito com metade do contingente, a outra metade ela dirigia pelo flanco esquerdo logo atrás do exército de Galen. Conseguiram atravessar o rio e furar o bloqueio. Os exércitos agora lutavam entre si. Homem a homem como Xena planejara.

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A tenda estava silenciosa, ainda não haviam trazido um só homem para a tenda designada para enfermaria. Tarcílio chegou pé ante pé com uma corda na mão. Existia uma pessoa deitada em uma das camas. Tinha visto Hypcéa conversando com alguém do lado de fora, se certificou que esta não o havia visto. Aproximou-se, e a pessoa se virou.

– Calina, o que faz aqui?
– E você Tarcílio, o que faz com essa corda na mão?

Tarcílio ficou paralisado. Hypcéa e Tecla entraram na tenda e seguraram Tarcílio desarmando-o. Prenderam os seus braços com suas próprias cordas.

– Vamos Tarcílio, para o seu bem. – Falou Calina com calma.
– Não posso Calina, se não entregar Gabrielle, Xena perecerá! Ela me garantiu.
– Quem te garantiu Tarcílio? – Perguntou Gabrielle chegando à tenda.
– A Deusa… A Deusa Athenas!
– Não era Athenas, Tarcílio, era a Deusa Discórdia! – Disse Calina.
– Eu a vi Calina. Athenas apareceu para mim e disse que Gabrielle não era quem pensávamos e que Xena morreria na guerra por causa dela!
– Leve-o Calina. Ele estará sob o efeito de Discórdia por algum tempo. Quando ela perceber que ele foi neutralizado ela o deixará. – Falou Hypcéa.

Do lado de fora Icrá esperava com alguns soldados para escoltar Tarcílio e Calina de volta a fortaleza de Epidaurus.

Quando saíram, Gabrielle se adiantou para falar.

– Agora vamos, não temos muito tempo. Xena não pode perder muitos homens!
– Aonde vamos, Gabrielle?
– Contarei ao longo do caminho. Ela conta comigo e com vocês duas!

Nota