Capítulo VI
– Ajuda-me, para que eu possa ajudar-te, para que juntos possamos subir a montanha.

Xena estava em cima de Argo. Arremetia a espada com ira. Cortava pescoços, chutava faces, seus olhos eram puro fogo. Mais um tentava tirá-la do cavalo, ela fincava a espada no peito e chutava o corpo para o lado. As catapultas continuavam a arremessar as bolas de fogo contra a muralha.

“Vamos Gabrielle, se demorar muito Corinto estará destruída.”

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A passagem para o estábulo particular de Xena era no extremo oeste das muralhas, já não havia mais soldados naquela parte do rio. Ninguém conseguiria passar pelas rochas para escalar a muralha. “Ninguém?!!!”

– Vamos é por aqui.
– Gabrielle, tem certeza? – Sussurrava Hypcéa. – Essa mata acabará na união da muralha com os rochedos.
– Tenho, mas temos que ficar caladas, senão os soldados das muralhas nos verão. – disse Gabrielle sussurrando também.

Quando chegaram à muralha, Gabrielle começou a tatear as rochas. Por fim encontrou uma fenda com uma abertura que só uma mão passava.

“É verdade que a mão que entra aqui deve ser uma mão grande!” – Pensou Gabrielle sorrindo consigo mesma. Puxou o cordão que Xena havia falado. Ouviram um barulho de trava soltando. Gabrielle empurrou a rocha. Era uma porta falsa. Entraram. Gabrielle empurrou de volta a rocha e travou-a por dentro. Estava escuro. Tecla tateou a parede e encontrou uma tocha. Tirou duas pedras da bolsa que carregava consigo e começou a friccioná-las, faíscas saíram e a tocha foi acesa. Caminharam em silêncio. Tecla acendeu mais duas tochas ao longo do caminho.

– E agora Gabrielle? Estamos dentro, mas para onde vamos?
– Xena falou para subirmos a escada. Dará diretamente no seu quarto. O problema é que não sabemos se há alguém lá dentro.
– Muito difícil, Gabrielle. Provavelmente quem está no quarto de Xena agora é Anaxágoras e com a guerra lá fora, ele deverá estar nas muralhas.
– Concordo Hypcéa, mas iremos com cuidado. Nunca se sabe o que um covarde pensa! – Disse Tecla.
– Depois que subirmos, Xena disse para eu e você ficarmos no quarto ou voltarmos para o estábulo particular dela e Tecla deverá ir até os portões para abri-los. No entanto acho muito arriscado, se acontecer algo a Tecla, nunca saberemos o que aconteceu e provavelmente Xena não conseguirá.
– Não acho que Xena gostaria de expor você Gabrielle.
– Também acho que ela não gostaria de não conseguir entrar e nos deixar trancadas aqui!
– Gabrielle, se Tecla não conseguir, ainda podemos sair.
– E Xena não vai conseguir entrar! – Gabrielle olhava desafiadoramente para Tecla e Hypcéa.
– Não olhe para mim, você está no comando e a decisão é sua. – Tecla falou com um meio sorriso no rosto.
– Sabia que uma hora ou outra você me deixaria mal! – Hypcéa resmungou bufando. – Você já lutou com ela. O que faria?

Um sorriso se delineou no rosto de Tecla. Percebeu o quanto era difícil para Hypcéa se curvar a uma opinião dela, mas gostava de provocá-la, desde quando chegou nutriu um interesse especial pela garota. Mas ela estava sempre desconfiada.

– Bom… Xena está arriscando tudo. Colocou Gabrielle para nos conduzir, acho que ela não gostaria de ficar do lado de fora…
– Está bem, vamos! Mas Gabrielle permanecerá ao meu lado, se acontecer algo com você, – Hypcéa olhou diretamente para Gabrielle – Xena me estripa!
– Hypcéa, será melhor se passarmos por soldados do castelo. Podemos ir ao corredor pegar três soldados para tirarmos suas roupas.
– Que soldado tem o tamanho de Gabrielle? – Riu Hypcéa e Tecla a acompanhou.
– Pelo visto sou um estorvo mesmo!
– Calma Gabrielle! Hypcéa só estava brincando com você. É lógico que tem soldados do seu tamanho, mesmo que sejam os meninos mensageiros…

Tecla entrou na brincadeira de Hypcéa e essa riu.

– Vamos logo!

Tecla entreabriu a porta com cuidado e viu os dois guardas da segurança do castelo. Fez um gesto para Hypcéa e esta avançou pela passagem da porta para que pudessem pegá-los juntos. Agarraram-nos por trás e quebraram os seus pescoços. Arrastaram para dentro do quarto.

– Não seria melhor se estivéssemos vestidas como soldados comuns para irmos aos portões? – Perguntou Gabrielle
– Mas primeiro teremos que sair do quarto, isso nos dará a vantagem de pegarmos alguém no corredor sem sermos notadas.

Vestiram-se, apenas Gabrielle estava com as roupas comuns, mas andavam como se a estivessem escoltando. Acharam um grupo de soldados conversando no corredor de acesso as escadas para o pátio. Havia uma pequena porta em que Gabrielle disse ser a sala onde eram guardadas as utilidades de limpeza dos aposentos dos nobres. Se aproximaram enquanto Gabrielle abria a porta, Hypcéa e Tecla desferiam golpes desacordando os quatro soldados que se encontravam ali. Arrastaram-nos para a pequena sala. Trocaram novamente de roupa. Tecla pediu para esperarem lá fora.

– O que vai fazer?
– Vamos espera-la lá fora Gabrielle. – A voz de Hypcéa era grave. Puxou Gabrielle pelo braço.

Pouco tempo depois Tecla saía do quarto.

– Por que teve que matá-los? – Indagou Gabrielle nervosa.
– Porque se despertassem, tocariam o alarme e provavelmente seríamos presas. – Tecla explicou calmamente. – Vamos, não poderemos perder muito tempo. Por onde seguimos Gabrielle?
– Por aqui! – Gabrielle apontou e andava ao lado de Hypcéa.

“Sei que ela está certa, mas como isso é ruim!” – Lamentava Gabrielle pelos soldados.

Chegaram ao pátio, mas andavam pelas sombras através dos corredores que circundavam as muralhas e eram o suporte do passadiço. Ouviam muitos gritos tanto no lado de fora como dentro das muralhas. Começaram a se aproximar do núcleo da batalha. Os barulhos de espadas e das bolas de fogo que atingiam o muro começavam a ficar tão alto que era ensurdecedor. A agitação tomava conta de todos. De repente havia soldados correndo de um lado para o outro. Tinham que saber o que estava acontecendo. Tecla segurou um soldado com vestimentas das cores da casa de Eudóxio, assim corriam menos risco de desconfiar.

– O que está acontecendo? – Perguntou.
– Não sei ao certo, mas dizem que Xena ordenou a derrubada do muro. Dizem que ela não quer saber se destruirá Corinto, mas não quer deixá-lo para ninguém. Quase todas as nossas catapultas foram destruídas pelo ataque das catapultas de Xena, as catapultas dela têm grande precisão. Agora Anaxágoras e Eudóxio mandaram alguns soldados reforçar a guarda dos portões, apesar dela não estar nos atacando por ali. Isso também fez com que a maioria dos soldados pensassem na hipótese dela querer massacrar Corinto através das muralhas. Todos estão falando da luta com os persas, e como ela os colocou para correr. – O soldado se virou e foi.
– Que tártaro! Agora temos um contingente maior de soldados para nos preocupar.
– É. E parece que Eudóxio e Anaxágoras estão com medo de verdade.
– Tecla consegue chegar ao primeiro andar do passadiço para ver se conseguimos entrar no baluarte dos portões por ali?

Tecla olhou para Gabrielle, pensou um pouco…

– É, acho que pode dar certo. Já tinha entendido porque Xena tinha se interessado em você, mas agora consigo perceber outras qualidades. – Sorriu e saiu.
– Gabrielle, assim que Tecla chegar, mesmo que consigamos abrir os portões eu quero que você não teime comigo e venha comigo até o estábulo particular de Xena, entendeu?
– Tá! Tá!
– Gabrielle, por favor!
– Eu só quero ver se Xena está bem, Hypcéa!
– UUUR! Gabrielle, você vai acabar fazendo com que ela me mate e eu colocarei toda a culpa em você para que se sinta muito mal por eu ter morrido!
– Prometo que depois que eu vê-la eu vou com você de volta.

Tecla chegou.

– Tem uma escada um pouco mais a frente que dá para o primeiro andar do passadiço. Não tem muitos soldados lá, pois a maioria está na parte mais alta fazendo a proteção da muralha, mais o baluarte em que estão as engrenagens dos portões está muito bem vigiado. A nossa oportunidade é pelo primeiro passadiço mesmo.
– Não vamos mais perder tempo então, pois Xena é capaz de ficar furiosa e derrubar Corinto mesmo!

Tecla achava graça da reverência e admiração que Hypcéa tinha por Xena. Sabia que era o primeiro combate da guerreira e devia estar com o sangue nas orelhas. Compreendeu a confiança que Xena depositou na menina, faria qualquer coisa para proteger Gabrielle e conseguir um lugar no exército ao lado de Xena.

Aproximou-se de Hypcéa e perguntou em tom baixo enquanto caminhavam.

– Amou Xena durante muito tempo?

Hypcéa fechou o semblante.

– O que ela te falou?
– Ela a mim não disse nada. Mas vejo a sua admiração e devoção a ela. Já vi isso acontecer várias vezes quando cavalgava com ela, inclusive de mim mesma.

Sorriu ao ver o espanto tomar o rosto de Hypcéa.

– Não me leve a mal. Hoje tenho Xena como uma boa amiga. Ensinou-me muitas coisas ao longo dos anos cavalgando juntas e uma das coisas que admiro nela, além da garra, coragem e maestria militar é que nunca se aproveitou da situação para aplacar seus desejos. Na época não entendia, pois Xena dormia com quem desejava. Achava que não me julgava digna de seus desejos. Hoje vejo que ela não queria fazer comigo, o que faria com qualquer um e isso por me considerar muito.
– Vejo então que compartilhamos a mesma sina. Também já passou, tenho admiração por ela sim, mas compreendo hoje que não passou de coisa de criança. O que tenho agora é vontade de aprender e ser competente nas artes da luta.
– Meninas! Acho que devemos fazer mais silêncio enquanto subimos.

As duas olharam para Gabrielle, mas esta se encontrava com o rosto tranquilo. Silenciaram e subiram as escadas. Encontraram alguns soldados no meio do caminho que perguntaram por que não estavam indo para o pátio como o ordenado. Tecla se adiantou.

– Recebemos ordens diretas para montarmos guarda no balaústre dos portões.

Acenaram com a cabeça e desceram as escadas.

– Vamos depressa, estamos demorando demais!

Chegaram ao balaústre e passaram sem dificuldade. Olharam pelas frestas e viram que os exércitos de Xena, Galen, Icer e Hiero estavam tentando colocar escadas nos muros.

– Eles passaram pelo bloqueio. Xena tenta distrai-los com a tentativa de invadir com escadas. – Falou Tecla.
– Por isso estão todos concentrados no passadiço superior e no pátio.

Desceram até as engrenagens dos portões.

– Como faremos para abrir o portão tão rápido sem sermos pegas? – Perguntou Gabrielle.
– Não faremos. – Disse Tecla. – Vocês manipularão as engrenagens do portão principal e eu tentarei impedi-los de entrar aqui.

Gabrielle e Hypcéa olharam para Tecla incredulamente.

– Ora, é a única forma e depois, a entrada daqui é estreita e quando os exércitos avançarem pelo portão, eles terão muito trabalho a fazer.

Hypcéa acenou com a cabeça. Tecla trancou a porta e se prostrou a frente com a espada em punho.

– Podem abrir!

Gabrielle e Hypcéa destravaram a grande catraca e começaram a girar. O portão se abria lentamente. Ouviram vários berros do lado de fora do baluarte. Começaram a forçar a porta para entrar. Gabrielle e Hypcéa sentiram as engrenagens mais leves.

– Os homens estão foçando os portões, por isso está leve.

A porta do baluarte foi derrubada. Vários homens entraram e Tecla os combatia ferozmente. Gabrielle olhou pela fresta e viu que os homens de Xena já passavam pelos portões.

– Vá ajudar Tecla, daqui por diante eu consigo abrir sozinha.

Hypcéa desembainhou a espada e começou a combater ao lado de Tecla. Gabrielle conseguiu terminar de abrir os portões. Pegou uma lança no chão, arremeteu-a contra a parede e quebrou a ponta.

“Isso deve servir!”

Foi ao encontro das duas e começou a lutar com o cajado improvisado para ajudar a impedir a entrada dos soldados no baluarte. Cada vez menos soldados passavam pela porta até que mais nenhum entrou.

– Vamos, agora vamos voltar ao estábulo de Xena!
– Quero ver Xena, Hypcéa. Quero saber se ela está viva!
– Poderá ver do passadiço, agora vamos!
– Concordo com Hypcéa, Gabrielle. Ainda não está preparada para uma guerra destas. Vamos e conseguirá vê-la lá de cima.

Subiram para o primeiro passadiço. E resolveram seguir mais a frente. Viram os homens de Xena combatendo no pátio e Gabrielle conseguiu divisar Xena. Ela abria caminho com facilidade matando sem piedade os soldados de Eudóxio.

“Ela quer chegar até ele!”

Gabrielle também viu Eudóxio combatendo próximo as escadarias. Xena cada vez mais se aproximava.

– Vamos Gabrielle! Não facilitaremos em nada a vida de Xena se ficarmos aqui. – Hypcéa segurou o braço de Gabrielle e foi conduzindo-a.

Desceram as escadas até os corredores e se depararam com os soldados lutando. Estavam vestidas com as cores de Anaxágoras. Era perigoso ficar ali. Homens de Xena as abordaram, Tecla interviu falando alto.

– Não veem que estamos com vocês! – Abriu caminho para que vissem Gabrielle e Hypcéa, certamente as reconheceriam. – Fomos nós que abrimos os portões!

Nesse momento homens de Eudóxio investiram contra elas. Hypcéa puxou Gabrielle para trás e interceptou a espada de um dos homens, começou a combater e Tecla se juntou a ela. Os homens de Xena se voltaram contra os homens de Eudóxio também. Hypcéa combatia quatro homens enquanto Tecla combatia três. Em um dado momento Tecla viu Hypcéa ser cortada na perna por um deles e cair. Tecla arremeteu com mais vigor para se desvencilhar dos que estavam com ela.

Transpassou um, girou com a espada transversalmente, cortou o pescoço de outro, girou novamente e enfiou a espada no peito do terceiro. Quando se virou para ajudar Hypcéa, Gabrielle combatia com a lança para impedir que matassem Hypcéa. Segurava o movimento de dois homens. Hypcéa se levantou tentando voltar ao combate quando um dos soldados de Eudóxio chegou por trás rasgando o ar com a espada para arrancar-lhe a cabeça. Tecla interceptou o movimento com a espada e chutou-o no peito. Hypcéa olhou-a por um breve segundo em agradecimento. Avançou para ajudar Gabrielle. Ao longe Xena chegava junto a Eudóxio. Começaram a combater.

– Como conseguiu, Xena? Como conseguiu que abrissem os portões?

Xena ria sarcasticamente e girava a espada no ar.

– Isso nem morto saberá, Eudóxio. Os meus segredos são segredos porque são apenas meus! Onde está agora o seu assecla? Onde foi parar o rato? Ahhh! Certamente deve estar no “calabouço” que é seu lugar!
– Ainda não me venceu, Xena!
– Então vamos parar de falar, pois temos muito a fazer ainda.

Xena desferiu um golpe e começaram a lutar. Eudóxio era um bom guerreiro, mas Xena conseguia decifrar todos os seus golpes e estava cansando-o. Deixava que ele a atacasse para drenar suas energias enquanto apenas se defendia. Ele achava que estava em vantagem e arremetia mais golpes. Foi quando Xena viu Hypcéa sangrando e lutando contra um grupo, Tecla combatia a seu lado também e Gabrielle logo atrás com um cajado auxiliando na retaguarda.

“O que elas estão fazendo no meio disso tudo? Não falei para retornarem ao estábulo?”

– Muito bem Eudóxio! Acho que está na hora de acabarmos com isso aqui.

Xena deu um salto passando por cima de Eudóxio e parando atrás dele. Ela havia ficado de costas quando Eudóxio se virou e partiu para cima de dela. Xena girou a espada arremetendo-a para trás por baixo do braço atravessando-o com um só golpe. Quando Xena elevou a cabeça para ver onde Gabrielle, Hypcéa e Tecla estavam, não conseguiu mais vê-las.

“Espero que pelo menos agora elas tenham ido para onde eu mandei!”

Xena andava em direção ao castelo atravessando pelo meio da batalha como se esta não existisse. Quando soldados se aproximavam para interceptá-la ela desferia um ou dois golpes matando-os e tirando-os do caminho. Queria chegar ao quarto para se certificar que estava tudo bem com Gabrielle. Para ela, Corinto já era dela novamente. Os poucos soldados que sobraram de Eudóxio e de Anaxágoras brevemente se renderiam. Subiu as escadas a passos firmes e entrou no corredor de seus aposentos. Colocou a mão na porta e quando abriu se deparou com uma cena que em nada parecia com um final feliz. Tecla e Hypcéa estavam rendidas com as espadas no chão e Anaxágoras segurava Gabrielle com uma faca em seu pescoço.

Quando viu Xena ele ficou mais nervoso, tremia e começou a falar descontroladamente.

– Não se aproxime Xena, eu não hesitarei em matá-la!

Os olhos de Xena estavam cheios de ira e fogo. Mas falou com tons de ironia e calma na voz.

– Percebe agora o que lhe falei Gabrielle! Se tivesse me deixado matar esse filho de uma bacante na época, não estaria nessa situação! E agora? O que acha que eu farei? Acha que o deixarei sair sem mais? Não… Acho que não! Acho que deixarei cortar sua garganta para sangrar como um porco e sangrarei a dele também!

Tecla e Hypcéa olharam Xena incrédulas. Não acreditavam que Xena sacrificaria a vida de Gabrielle só para pegá-lo!

Gabrielle olhou para Xena e esta a olhou diretamente com intensidade. Por fim Gabrielle falou.

– Acho que você não foi feliz na sua decisão, Anaxágoras. Achou mesmo que Xena deixaria você ir só por estar me tomando como proteção? Você já viu Xena fazer isso com alguém alguma vez na vida?

Anaxágoras estava tremendo e não sabia mais o que fazer, não conseguia mais segurar direito nem a faca. Num breve lapso de segundo em que Anaxágoras afrouxou a pegada da faca, Gabrielle colocou uma das mãos entre o pescoço e a mão de Anaxágoras para impedir o corte e deu uma cotovelada nas suas costelas se desvencilhando do seu abraço mortal. Xena avançou com um olhar em fogo, tão rápido que Anaxágoras nem conseguiu articular qualquer som. Desferiu um golpe no meio do abdômen afundando sua espada até a metade. Segurou por uns segundos a espada e falou olhando dentro dos olhos já exorbitados.

– Vou te contar um segredo, Anaxágoras! Você tinha razão. Eu não faria nada para machucá-la!

Xena afundou mais a espada dentro do abdômen de Anaxágoras e quando ele ia caindo, colocou o pé em seu tronco e o empurrou para retirar a espada antes que caísse.

Voltou-se para Gabrielle e viu o sangue escorrendo de sua mão. Largou a espada e correu para ver o seu ferimento.

– Que Tártaro, Gabrielle! Não disse para ficar no estábulo? Por que nunca me ouve? Por que nunca faz o que peço? – Pegou na mão de Gabrielle ainda sangrando.

Gabrielle pressionava a mão com um pano.

– Mas eu fiz o que pediu, só que se eu e Hypcéa ficássemos no estábulo a essa hora ainda estaria do lado de fora das muralhas. Tecla sozinha não conseguiria abrir os portões!
– Gabrielle tem razão Xena. Foi preciso que elas movessem as engrenagens para que eu pudesse defender a porta do baluarte. Sem elas eu não teria conseguido.
– Lembre-me para da próxima vez deixá-la amarrada ao pé da cama.

Gabrielle sorriu e Xena a abraçou ternamente.

– Sabe que me assustou, Xena! – Disse Hypcéa sentando no chão para ver o corte de sua perna.
– Hypcéa, acha mesmo que faria qualquer coisa que pudesse causar a morte de Gabrielle?

As três olharam juntas para Xena.

– Ei gente, meus tempos de selvagem já passou!

As três olharam para o corpo de Anaxágora e voltaram a olhar Xena novamente.

– Ôu, ôu, ôu! Ele mereceu! – Xena falava com uma cara contrariada.

As três se juntaram numa grande gargalhada deixando Xena encabulada. Por fim, se juntou a elas.
Xena passou o braço pelos ombros de Gabrielle.

– Vamos, temos que reconstruir um reino!
– Primeiro vamos tirar essa maldita vestimenta. Não quero que nenhum desavisado idiota me mate agora que já está tudo acertado. – Disse Hypcéa procurando suas roupas.

Saíram do quarto e observaram que os soldados que circulavam pelos corredores tinham as cores de Xena, Galen, Icer e Hiero. Chegaram à sacada principal que dava a visão para o pátio. Todos os soldados que restaram de Anaxágoras e Eudóxio estavam sendo amarrados e postos sentados no meio do pátio.

– O que vai fazer com eles? – Perguntou Gabrielle.
– Bom, já que não vai permitir que eu os execute, acho que os mandarei para alguma prisão de mina para trabalhos forçados. Pelo menos terão algum tempo para remoer o que fizeram antes de morrer.
– Sim Xena! Você realmente está muito benevolente! – Gabrielle sorriu.

Xena olhou Gabrielle por cima da cabeça e elevou a sobrancelha. Por fim disse.

– Obrigada. Sabia que gostaria da decisão!

Tecla mais afastada não conseguiu se conter a respeito do humor negro de Xena e riu a valer.

– Bom Tecla, parece que terá que ir a Epidaurus trazer de volta meus três tenentes e meu capitão. Espero que os efeitos da influência de Discórdia já tenham desaparecido deles.
– Então foi você que sumiu com os tenentes?
– É claro. Eu tinha que me manter afastada para observar quem mais estava com Tarcílio, Hypcéa.
– Discórdia nunca age sozinha, precisa de três ou quatro para lançar a sua semente. – Falou Xena.
– E por que eu não poderia saber disso?
– Não é que não poderia, simplesmente você já tinha incumbências demais para sua primeira batalha. – Xena estreitou mais Gabrielle em seu braço. – E é assim que eu luto.

Tecla passou o braço por cima dos ombros de Hypcéa abraçando-a. Era um pouco maior que Hypcéa, mais ou menos da altura de Xena.

– Quer cavalgar comigo até Epidaurus?
– Ei! Hypcéa precisa de cuidados! – Gabrielle falou se voltando para elas.

Quando viu a intensidade com que Tecla olhava para Hypcéa, sorriu e olhou para Xena. Esta estava olhando para o pátio com um leve sorriso no rosto.

– Me dê alguns medicamentos, uma agulha e linha, que eu cuidarei dela. – Disse Tecla deixando Hypcéa mais constrangida do que já se encontrava. – Quer ou não quer cavalgar comigo? – Perguntou novamente.

Hypcéa olhou ruborizada para Tecla.

– Creio que tenho que terminar o que comecei, não é, afinal de contas Tarcílio é minha responsabilidade! – Lhe sorriu.

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– Não acha que estamos cavalgando muito devagar? Nesse passo iremos varar a noite cavalgando, Tecla!
– O que você quer?
– Como assim o que eu quero?
– Você prefere apertar o passo, chegar o mais rápido possível em Epidaurus e voltar no mesmo passo para Corinto? Corinto ainda está sendo reestruturado. Por acaso não preferiria passar a noite acampando no lago antes das fronteiras comigo, tomar um bom banho, fazer um peixe que pescaremos para comer e nos conhecermos melhor? O que você quer? O que você prefere? – Os olhos de Tecla eram pura diversão ante a reação de surpresa da menina.

Hypcéa era mais nova que Tecla seguramente uns dez verões, mas ao longo de tantos anos na estrada, pela primeira vez encontrara alguém que a atraía, não só pelas habilidades, não só pela beleza. Atraía pela simplicidade e pela honra que trazia dentro de si.

– Quando Xena me chamou para essa guerra, me ofereceu um lugar em Corinto para que eu pudesse pousar e quem sabe acalmar meus dias de estrada. Um lar que eu não conheço há muito tempo. Já estava começando a ficar cansada da vida errante, mas não acreditava que pudesse realmente querer me assentar. Mas depois que entrei nessa guerra, comecei a desconfiar que a percepção de Xena a meu respeito é melhor que a minha própria.

Hypcéa não sabia o que pensar, estava verdadeiramente aturdida. Tinha sentido um pouco de ciúmes de Tecla no início, mas era unicamente por achar que Xena não confiava nela. Depois percebeu que Xena tinha uma visão militar muito mais ampla que simplesmente confiança. A guerreira era realmente muito bonita e a atraía, mas nunca achou possível despertar o mesmo sentimento na guerreira…

– Bom… Aceito sua proposta de acampar, até porque acho que devemos dar um tempo a mais para os tenentes e Tarcílio se recuperarem, mas com uma condição!

Nesse momento era Tecla quem não entendia e franzia o cenho como que questionando.

– Terá que tirar esse lenço da cabeça para que possa vê-la por inteiro. Nem conheço a cor de seus cabelos… Quando trocou de roupa para colocar as “cores” de Anaxágoras, as duas vezes você se resguardou e colocou o elmo. Não pude ver seus cabelos, depois você trocou de roupa e colocou novamente seu lenço. Como posso acampar com alguém que nem conheço os cabelos? – Abriu um largo sorriso.

Tecla sorriu também, se divertiu ao ver que a garota havia reparado em algo tão sutil, mas tão importante para si mesma!

– Muito bem, então prepare seus olhos, pois só verá quando estivermos a sós!

Ainda em cima do cavalo, Tecla começou a desenrolar o lenço que deixava seus cabelos sempre ocultos. Quando terminou de retirar, viu que Hypcéa contemplava com admiração.

– Por isso os deixo ocultos. Se andasse com eles assim, qualquer um em qualquer lugar me reconheceria e isso não seria bom para minha profissão.

Era de um tom ruivo pendendo para o dourado. Hypcéa nunca tinha visto nada igual.

“É lindo!” – Pensou.

Os cabelos chegavam abaixo da escápula e tinham alguns cachos que emolduravam o rosto também dourado e os olhos verdes de Tecla.

“É maravilhosa!”

– Ei! Ainda está aí?
– Você é linda!

Tecla achou graça e gargalhou.

– E então? Vamos acampar?
– Agora mesmo se quiser!

Hypcéa arrancou mais risos de Tecla.

– Acho que não! É melhor acamparmos no lago. – Falou Tecla enrolando novamente os cabelos no lenço.

XGXGXG

Haviam se passado quatro dias, Corinto já estava mais ou menos apresentável. Todos se empenhavam para a reestruturação do que havia sido danificado e Gabrielle se encontrava no herbário. Xena como sempre entrava sem fazer o menor barulho. Passava pela sala de medicamentos quando estancou de repente.

– Ares quando você chega é para tirar o meu sossego. Por que não me esquece?!!
– Esquecer você? Nunca! Eu fiz quem você é. Sabe que me deixou em uma posição delicada, não sabe?!! Eu sou o Deus da Guerra. Athenas e Afrodite não podem medir forças comigo nessa área!
– Sabe qual é o seu problema? Você acha que tudo se refere a você. Não fiz isso por Afrodite ou por Athenas, fiz isso por mim, por quem amo e por quem me é leal.
– Não importa o que você acha. O que importa é o que eu acho para mim. Você ganhou a batalha Xena, mas ainda não ganhou a guerra. Até a próxima! – dizendo isso desapareceu.
– Que tártaro! Ele nunca vai me deixar mesmo, né?!
– Está falando sozinha, Xena? – Gabrielle se aproximou com um largo sorriso vindo em direção a Xena para abraçá-la.

Xena se voltou para Gabrielle abraçando-a e dando-lhe um beijo na cabeça.

– Hoje teremos uma festa no salão principal. Hypcéa e Tecla já chegaram com Tarcílio, Calina, Icrá, Ganimedes, Alexein e esposa e os tenentes. Aabhran e Dionira devem estar chegando também. Quero que você esteja mais maravilhosa do que é para esta noite. Tenho declarações importantes a fazer.
– Hummm… Gostei do estar mais maravilhosa do que é, mas o que está planejando, cara guerreira? Anda muito misteriosa por esses dias…
– Você verá! Mas antes quero levá-la para o quarto para poder ver se ainda quer estar ao lado de uma assassina, sanguinária e prepotente como eu.
– Uau! Predicados que se certamente não a conhecesse como conheço hoje, me fariam correr léguas! Você está sempre tentando me encantar com suas qualidades, hein? – Gabrielle falou sorrindo.
– É que eu gosto de ser muito transparente… – Arrematou Xena.

Seguiram abraçadas para o quarto.

Chegaram ao quarto e este estava adornado com inúmeros ramos de flores, velas espalhadas dando um tom romântico ao ambiente e um vestido de seda negro com bordados dourados ao estilo das terras distantes de Chin em cima da cama.

– Quero que vista este vestido hoje à noite. Me lembra um tempo em que eu poderia ter sido melhor, mas na época não me encontrei, não entendi o que representava. Consegui entender o significado daquele tempo apenas com você!

Gabrielle olhava maravilhada.

– É lindo, Xena!
– Gostou? – perguntou um tanto encabulada.
– Claro que gostei! É maravilhoso!

Ao lado havia outro vestido com o mesmo bordado, mas na cor branca.

– Você vai vestir o branco? Nunca te vi de branco!
– Hoje eu quero representar com minhas vestes a transparência em minha alma que você propiciou! Mas não se anime, é só hoje, viu?!!

Gabrielle sorriu sabendo o quanto isso representava para Xena. O quanto era importante, porém difícil para a guerreira assumir. Aproximou-se e a beijou com ternura a princípio, porém os beijos entre as duas sempre se tornavam uma aventura de emoções. Tornavam-se mais intensos e seus corpos clamavam por mais. Deixaram-se cair no tapete próximo à lareira saboreando o gosto que emanava da boca da outra. As mãos passeavam pelos corpos sedentos retirando todos os empecilhos indesejáveis.

Xena não mais respondia por suas ações. Estava completamente excitada. Ainda não haviam estado sozinhas e descansadas desde a batalha. Trabalhavam para reconstruir Corinto e chegavam ao quarto só para dormir. Estava sedenta, queria Gabrielle entregue.

– Deixa eu te sentir… Deixa eu te ter…

Era uma súplica coberta de emoção.

– Vem… Me ame, me tome como nunca tomou ninguém…
Xena passou sua língua por seu pescoço, virou-a de costas. Saboreava cada parte de seu dorso. As mãos tatearam as curvas de Gabrielle, descobrindo a macia tez de sua pele. Colocou seu corpo em contato com o corpo de Gabrielle. Seu sexo encostou nos glúteos da menina que era só dela, de ninguém mais.

– Ahhh! Você é deliciosa!
– Me sinta Xena… O que você quer? Hein? O que você quer?!!! Faça… – A voz de Gabrielle já embargada.

Xena enlouqueceu. Passou uma das mãos por baixo da pelve para sentir o ponto intumescido de Gabrielle. Ela estava toda molhada, toda aberta para o amor de Xena… Deslizou a outra mão por trás, pelas nádegas alcançando sua pequena abertura seguramente nunca tocada.

– É isso que quer, Xena?!! Faça!!! Me tenha só para você…

A voz rouca e permeada de excitação de Gabrielle, estimulava, levava Xena a loucura. Colheu a umidade da própria amada, e em um leve pressionar começou a penetrá-la na abertura ainda intocada.

– Isso Xena, me ame, me tome para si!

Xena deslizou seu dedo todo para dentro de Gabrielle. Não conseguiu segurar seu desejo.

– Ahgarrrr!!!

Enquanto penetrava Gabrielle, se encaixava em uma de suas pernas. Deixava que sua umidade lubrificasse e friccionava seu centro na perna de Gabrielle em movimentos cadenciados. Quase chegando ao seu orgasmo reuniu todas as suas forças para manipular o centro da pequena com a outra mão. Queria que atingissem juntas o clímax. Os tremores se acercavam de ambos os corpos. Desabaram num esvair de energias. Gemeram juntas, suplicaram juntas, transbordaram de amor juntas…

Estavam deitadas lado a lado no tapete.

– O que foi isso?!! – Exclamou Gabrielle.
– Não sei… Mas espero ter mais vezes. – respondeu Xena sorrindo.

Gabrielle se voltou para Xena abraçando-a. Beijou seu rosto ternamente.

– Sabe, às vezes eu penso que você me condenou…

Xena a olhou assustada.

– Sinto que quando eu era escrava, eu podia qualquer coisa. Meu maior castigo seria a morte. Hoje mesmo sendo livre, meu maior castigo seria sua morte e isso me dói muito mais…

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Todos já estavam no salão à espera de Xena e Gabrielle quando o guarda se perfilou ao Xena atravessar o corredor em direção à porta do salão com Gabrielle ao seu lado.

Xena parou ao lado do guarda e sussurrou algo em seu ouvido. O guarda abriu as portas para o salão. Bateu seu bastão três vezes e todos do salão pararam para ouvir a anunciação.

– Senhoras e senhores: a governante legal de Corinto Xena e sua pretendente Gabrielle.

Todos as olharam sorrindo. Tecla estava ao lado de Hypcéa e em um sutil movimento enlaçou a mão da outra sorrindo. Hypcéa devolveu o sorriso encantada com a atitude da guerreira. Nunca imaginou que em tão pouco tempo pudesse descobrir-se apaixonada.
Todos se curvaram quando Xena entrou no salão acompanhada de Gabrielle que se encontrava ruborizada pela anunciação inesperada dada pelo guarda.

Gabrielle sussurrou no ouvido de Xena.

– Foi você que disse para ele falar aquilo?
– Claro! E por acaso é alguma mentira? – Xena sorriu ao ver o efeito que provocou em Gabrielle.

Havia duas grandes cadeiras na cabeceira da mesa. Xena caminhou elegantemente até o patamar onde se encontravam e segurou Gabrielle pela mão conduzindo-a até a cadeira da direita. Gabrielle se sentou ainda envergonhada. Xena também se sentou na cadeira destinada a ela. Fez um gesto para que os mais se sentassem.

Olhou todos os seus companheiros e nobres que estiveram ao seu favor.

Tarcílio não se sentou, caminhou até Xena e se prostrou de joelhos com a cabeça baixa.

– Permita-me minha senhora. Não fui digno de sua confiança…
– Tarcílio! – interrompeu Xena. – Vá para o seu lugar. Eu sei e todos aqui sabem de sua honestidade e honra para comigo. O que aconteceu com você, poderia acontecer com qualquer um. Eu e todos aqui temos consciência disto. Não se desculpe, pois eu posso perder minha paciência e rachar o seu crâneo.

Tarcílio elevou o olhar e Xena estava sorrindo. Maneou a cabeça e voltou para o lado de Calina.

Xena ficou de pé e disse:

– Antes de começarmos as comemorações, tenho dois anúncios a fazer: o primeiro é que depois de tudo que aconteceu nesses últimos dias, declarei a ilegalidade do comércio de escravos no reino. Assinei o decreto esta manhã. O segundo anúncio é que terei uma companheira legal para dividir o trono e esta se encontra ao meu lado. Chamasse Gabrielle. – Olhou para Gabrielle e falou num tom mais baixo. – Se você aceitar é claro.

Gabrielle sorriu.

– Aceito e estarei ao seu lado em todos os momentos de sua vida, sejam eles dias fáceis e cheios de vida e luz, sejam em momentos difíceis em que precisará de um esteio a lhe amparar. – Sorriu novamente.

Todos se uniram em uníssono para aclamá-las.

– EEEEEEEEEHHHH!!

Xena estreitou a distância entre as duas.

– Gabrielle, farei uma coisa da qual não gostará por esses dias. Gostaria que fosse a Atenas com Hypcéa e Tecla para assistirem uma peça.
– Se está se referindo a Sileno e Altineu, sei que chegaram junto com Hypcéa e os outros. Sei que deve fazê-los exemplo. Ficarei aqui e esperarei você para me levar a Atenas. Assistiremos a uma peça juntas.
– Gabrielle, por que tem sempre que me confrontar? Sabe que não gostará do que farei! – Xena falava baixo mais em um tom irritado.
– Xena, se o que disse é verdade, estarei ao seu lado governando Corinto. Não posso me ausentar cada vez que precisar fazer algo que não me agrade!
– Arrrrr! Você é que está pedindo.
– Algum problema Xena? – Tecla e Hypcéa se aproximaram já intuindo o que ocorria.
– Só uma esposa cabeça dura que tenho. Conseguem dar um jeito nisso?
– Ah, nem pensar, não consigo nem quando treina comigo. – Todas riram.
– E você Tecla, ficará conosco?

Tecla olhou para Hypcéa sorrindo.

– É Gabrielle, parece que Corinto será um bom lugar para começar outra fase de minha vida.

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