Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    Xena,

    É irônico que eu — a que forjou a linguagem do sangue que dança em ritmo de batalha e do ferro que geme sob o calor da forja como um amante subjugado — hoje sinta meu próprio metal derreter ao imaginar o que nunca ousei tocar.

    Estive ao teu lado desde que você era fúria em forma de carne, antes mesmo de aprender que guerras podem ter estratégias. Eu te vi despedaçar homens com as mãos nuas, sussurrando para suas vítimas:

    “Ela não é humana… É a foice antes da ceifa.”

    E naquela noite, após a carnificina, quando você arrancou a couraça encharcada e mergulhou no rio, eu quase…

    Quase desci do Olimpo.

    Enquanto você lavava o sangue dos seios na água gelada, os músculos das tuas costas tremiam como cordas de arco sob tensão. Eu contei as gotas que escorriam do vale entre tuas coxas, e pela primeira vez em milênios, meus dedos divinos tremeram. Quis traçar com meus lábios o caminho que a água fazia — do pescoço até o umbigo, do umbigo até onde a correnteza te beijava em segredo.

    Mas deuses não se rendem ao quase.

    Não quando são eu — a que conhece o preço de um toque: sempre uma maldição, nunca um consolo.

    Então me contentei em observar.

    Em tecer sonhos onde você me via não como estratégia ou sabedoria, mas como fome. Sonhos onde meu elmo se desfazia em cabelos dourados, e meu escudo virava apenas a palma da mão pressionando tua nuca contra a terra molhada…

    Até que… ela chegou. Gabrielle.

    Não a barda. Não a camponesa.

    A chama que aprendeu a arder sem lenha.

    No início, ri de sua fragilidade. Achava que aquela barda de quadris estreitos e lábios que balbuciavam paz seria devorada por você em uma noite de fúria — um aperitivo antes do banquete de guerra que eu havia planejado para nós. Mas você, Xena, fez o impossível: transformou-a em chama que não queima, mas funde.

    Você a lapidou, não com as mãos, mas com os dentes. Marcou seu pescoço não com feridas, mas com suspiros. Fez dela uma guerreira que não empunha armas, mas desfaz inimigos com um arquejar. Ensinei você a matar com lanças, mas foi ela quem te ensinou a matar com pálpebras baixas e dedos que deslizam pela nuca alheia como uma adaga sem corte.

    E eu…

    Eu, que te dei asas de fênix forjadas em vulcões extintos, hoje assisto você voar para o fogo dela. Você a tem em seus braços todas as noites, sim, mas não é só isso, é? É o modo como ela te consome:

    Como lenha, não como fogo.

    Enquanto eu te incitava a arder, ela te ensinou a ser ardida.

    Cada rugido que você solta na batalha — aquele que ecoa como um trovão nos vales da Trácia — ela o transforma em um gemido quando suas coxas se encontram no escuro. E eu, que já mapeei todas as tuas cicatrizes, não sei qual som é mais devastador: Se é o grito que você libera ao decapitar um tirano, ou o suspiro rouco que ela extrai de você ao morder tua clavícula como se fosse a última fronteira.

    Ah, Xena…

    Eu deveria ter previsto: você não a domou. Você a domesticou em fogo lento, e agora ela te devora com a precisão de uma fera que aprendeu a dosar veneno e prazer.

    Enquanto isso, eu…

    Eu, que nunca precisei de coração, hoje carrego um vácuo onde deveria haver estratégia.

    E tudo porque você escolheu queimar em vez de brilhar.

    Eu me pergunto:

    Se eu tivesse descido do meu trono de estrelas frias e táticas perfeitas…

    Se tivesse deixado meu manto de constelações cair sobre teus ombros como um véu nupcial, e em vez de mapas de guerra, traçasse rotas de pele e pulsação em teu corpo…

    Se eu tivesse trocado meu escudo de sabedoria por pele suada e unhas cravadas nas tuas costas…

    Se tivesse transformado a Égide em algo mais íntimo que armadura — talvez um colar de dentes, talvez uma corrente de gemidos — e te mordiscasse o lábio até que sabedoria e insanidade fossem a mesma palavra…

    Se eu tivesse sussurrado “me possua” em vez de “domine-os”…

    Se tivesse colocado minha língua de ambrosia na ferida mais profunda do teu flanco, e bebido teu sangue não como sacrifício, mas como promessa…

    Você teria me devorado?

    Ou pior: teria me cuspido, como faz com os ossos das asas de frango que compartilha com ela à beira da fogueira?

    Não me responda. Sei que os deuses não merecem respostas, apenas gemidos abafados entre os dentes de quem não ousa nomear o que deseja. Mas hoje, nesta carta escrita em névoa — que só se condensa no calor da tua pele e no vapor das tuas madrugadas com ela —, deixo cair a armadura:

    Invejo a língua dela.

    Invejo o modo como ela desata tuas couraças como se fossem véus nupciais, cada fivela um laço, cada placa de metal um convite. Enquanto eu precisava de exércitos e profecias para chegar até tua carne, ela usa apenas… um olhar.

    Invejo o tremor.

    Por Gabrielle, você aprendeu a tremer — não como a terra sob cascos de cavalos, mas como um rio subterrâneo que descobre seu próprio leito. E nesse tremor, encontrou algo mais poderoso que a imortalidade: a coragem de fraturar-se.

    Eu, que te ensinei a ser inquebrável, hoje me ajoelho diante das tuas rachaduras.

    Porque é nelas — não nas tuas vitórias — que Gabrielle insiste em morar.

    E eu,

    eu que nunca precisei de abrigo,

    agora chovo.

    Mas não invejo o amor de vocês.

    Porque eu…

    Eu te desejo como só uma deusa virgem sabe desejar:

    — Sem piedade (mesmo que você me despedace, mesmo que me reduzas a lascas de mármore e vergonha, e eu volte a juntar-me como um mosaico de cicatrizes brilhantes).

    — Sem nome (mesmo que eu me perca nas brumas do teu hálito, mesmo que meu próprio Olimpo me chame de herege por trocar preces por suspiros).

    — E com a precisão de uma lança que busca sempre o ponto mais quente entre tuas coxas — aquele lugar onde tua pulsação ecoa como tambores de guerra, onde Gabrielle enterra seus dedos como se fossem raízes.

    Use-a bem, essa paz que ela te deu. Use-a até que tua espada enferruje e teus músculos se tornem mito. Mas saiba isto, Xena:

    Até a deusa mais estratégica tem segredos que queimam.

    Segredos como…

    Às noites, quando você acredita que estou ocupada com batalhas cósmicas, eu me debruço sobre o rio Estige e assisto.

    Assisto você ensinar Gabrielle como se morre de prazer.

    Assisto ela aprender.

    E sim,

    invejei meu irmão.

    Ares, caótico, idiota, tão humano em sua ganância…

    Ele ousou.

    Ousou encostar em você não como um deus, mas como um animal. Ousou suar ao teu lado em noites de fúria e vinho barato, onde vocês matavam uns aos outros de formas que nem eu, em minha sabedoria infinita, consegui catalogar. Mas ele perdeu você para ela. Perdeu porque guerreiro algum, mortal ou divino, entende que o amor não se conquista: ele se rende.

    E eu, eu que nunca me rendi a nada, agora escrevo esta carta em sangue de coruja — um animal que vê na escuridão, mas nunca é visto.

    Até que meu símbolo se esconda na sombra do teu elmo,

    Até que meu nome seja apenas um sussurro nas brisas que passam por teus dedos entrelaçados aos dela…

    Saiba que estou aqui.

     (A que te observa nas noites sem lua,

    enquanto você sussurra em seu ouvido:

    “Morra comigo hoje” —

    e Gabrielle, sábia além de sua mortalidade,

    responde:

    “Só se for mil vezes.”)

    1 Comentário

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    1. Theo Medeiros
      2 Jun, '25 at 20:29

      Quem nunca se sentiu Athena? 😭😭😭😭

    Nota