Avisos Específicos da História:

Violência – há uma leve violência aqui. Xena fica entediada caso contrário e começa a lançar aquele chakram por aí, e você sabe o quão perigoso isso fica. Além disso, há alguma referência, mas não uma representação gráfica, de um relacionamento parental abusivo. Se isso te incomoda, por favor, esteja avisado.

Subtexto – Esta história é baseada na premissa de duas mulheres muito apaixonadas uma pela outra. Embora não haja cenas gráficas envolvidas, o tema perpassa a história, e se isso te incomoda, clique em VOLTAR e vá ler algo diferente. Além disso, vou dizer novamente, se o amor te ofende, por favor, me envie uma linha com seu endereço postal, decidi enviar brownies desta vez, porque realmente me sinto mal. Eu até colocarei gotas de chocolate neles, mas se você mora na Flórida e é verão, apenas venha me visitar. Será menos complicado.
Esta é uma sequência direta de “At A Distance/À Distância”, e começa diretamente após a ação daquela história terminar.

Xena estudou o rosto de Gabrielle intensamente, notando a frieza ao redor de sua expressão normalmente aberta e confiante. “Vamos conversar sobre isso depois.” A guerreira disse, quietamente, enquanto se virava e caminhava até os destroços do cocho de feno, ajoelhando-se em um joelho. “Parece que os suportes foram cortados.” Ela murmurou, levantando a ponta de um deles e examinando-o.

Lennat se juntou a ela, assentindo. “Sim – olhe só isso.” Ele concordou, passando um dedo longo sobre a madeira cortada de forma irregular. “Feito às pressas, também.” Um rápido olhar de lado para o rosto concentrado de Xena. “Você está… quero dizer…”

Seus olhos se encontraram com os dele, e uma sobrancelha se ergueu levemente. “O que?” Ela perguntou.

O rapaz lhe deu um meio sorriso. “Bem, quero dizer, você obviamente está bem… certo?”

Xena virou a cabeça completamente para olhá-lo. “Estou bem.” Ela repetiu. O que está acontecendo aqui? “Deve ter feito algum barulho, não é?” Ela indicou o cocho de metal.

Um momento de silêncio prolongado. “Não… bem, eu não sei.” Ele respondeu. “Não ouvimos.” Não foi um barulho que nos fez correr, Xena… Mas não faço ideia de como explicar o que aconteceu.

“Oh.” Veio a resposta tranquila, e um leve sorriso, e um olhar por cima do ombro para Gabrielle, que perdeu sua expressão dura quando seus olhos se encontraram e ela se aproximou, agachando-se ao lado de Xena, se apoiando com uma mão nas costas da guerreira. “Você… ” Xena hesitou, curiosa. “O que fez..?”

Um sorriso curioso surgiu no rosto da barda. “Bem.. eu…” Ela respondeu reflexivamente. “Foi… realmente estranho.” De repente, estou sentada lá conversando, no minuto seguinte… eu tive que estar… aqui. “Então.. eu acho que funciona dos dois lados.” Eu me perguntava se funcionaria… eu esperava que sim.

“Vocês duas se importariam de me explicar o que está acontecendo?” Lila finalmente falou, a agitação evidente em sua voz. “Tudo o que sei é que Bree de repente pula como se algo a tivesse mordido, e sai pela porta.” Ela fez um gesto para a bagunça. “E nós entramos e encontramos isso. E vocês… e…”

“Depois.” Xena a dispensou com um gesto de mão, e voltou a estudar os destroços. “Lennat, me ajude com isso.” Ela se levantou, pegando o cocho de metal, e esperou que ele fizesse o mesmo. “Precisa ir para lá.” Ela indicou a parede dos fundos. “Pronto?”

“Uhh… sim…” Lennat fez uma careta, tentando mover o metal. “Claro. mas eu não…” Acho que temos uma chance no Tártaro de levantar isso… ai, ai…

“Vamos.” Xena disse, endireitando as costas, assumindo o peso do cocho sobre as pernas e os ombros, e se movendo com ele em direção à parede. Oh… céus. Agora não posso deixar cair, ou parecerei uma idiota. Xena… às vezes… Mas seus músculos aguentaram, para sua surpresa. Um mês daqueles treinos em casa fez algum bem, vejo.

Lennat sentiu a pressão nos braços que ameaçava arrancá-los de suas articulações, e rezou para não deixar cair sua parte antes que fosse movida. Zeus… sua mente praguejou, enquanto observava Xena assumir sua parte sem muito esforço evidente. Como ela faz isso????

“Aqui.. deixe-me ajudar.” Gabrielle sorriu e pegou parte da sua ponta, vendo os músculos destacados no pescoço dele. Eles conseguiram mover o enorme objeto, e ficaram quietos enquanto Xena atravessava a palha e se abaixava para examinar o chão novamente.

“Imaginei.” Ela murmurou, e segurou um pequeno objeto. Eles se reuniram ao redor dela ansiosamente, e encararam. Era uma moeda de ouro. “Bom saber o quanto valho.” A voz de Xena estava seca.

“Ei!” Veio uma voz pequena, de trás deles. “O que aconteceu?” Alain entrou no espaço aberto ao redor das baias com olhos arregalados.

“Olá, Alain.” A voz de Xena cortou todos. “Houve um pequeno acidente.. que bom que você não estava aqui para ver.”

O menino caminhou até ela e ficou ao seu lado. “Eu também.” Ele olhou para baixo. “Ohh… você está sangrando!” Sua voz ficou ansiosa.

“Apenas um arranhão.” Xena o tranquilizou. “Então.. onde você foi esta tarde?”

Alain estava observando duvidosamente o que Xena estava caracterizando como um arranhão, e agora Gabrielle se juntou a ele, olhando mais de perto e fechando os olhos em reação. “Xena, você precisa cuidar disso.” Sua voz era gentil, mas inflexível. “Você e seus simples arranhões.”

“Depois.” Xena rosnou. “Alain?”

“Oh.. um… eu fui para casa.” O estábulo disse, agachando-se ao lado dela e encontrando seus olhos. “Alguém me disse que meu pai estava me procurando, então fui lá. Mas ele não estava.” O garoto loiro deu de ombros. “Deve ter sido outra brincadeira, eu acho.”

Lennat inclinou a cabeça para Alain. “Quem disse para você ir para casa?”

Alain deu de ombros. “Um deles… sabe. Estavam passando e gritou.” Ele virou os olhos cinzentos de volta para o rosto de Xena. “Ei.. posso levar Argo para dar uma volta? Ela gosta de mim…” Sua voz estava um pouco ofegante. “Por favor?”

Xena o estudou e deixou um pequeno sorriso surgir em seus lábios. “Claro.. ela gostaria disso.” Seus olhos se ergueram e observaram a égua. “Ela pode precisar disso, também. Vá em frente.”

Alain sorriu e se endireitou, mancando até onde Argo os observava, e acariciou a égua em seu ombro alto. “Vamos lá garota.. eu vou te mostrar os bezerros novos.. talvez vejamos patos..” Ele conversou com a égua, enquanto colocava a brida sobre sua cabeça.

Gabrielle abafou um pequeno riso e olhou para cima para encontrar os olhos de Xena. “Quem fez isso?” a barda perguntou, deixando seu humor cair. “Quiseram realmente…”

Xena deu de ombros. “Acho que foi mais para tentar me assustar – afinal…” Seus olhos cintilaram. “Você fez questão de garantir que todo mundo na vila estivesse bem ciente de que sou capaz de pegar flechas no ar quando realmente preciso.” Ela olhou ao redor. “Mas não preciso dizer que estou começando a ficar bastante irritada com toda essa situação.”

“Eu também.” Veio a resposta inesperada de Gabrielle. “Agora, vamos cuidar desses… er… arranhões seus, OK?”

É… Xena refletiu. Eles são mais do que arranhões, e ela provavelmente está certa, porque doem como o Hades. “Tudo bem.” Ela concordou relutantemente, então parou. “Ei.” Quando viu o olhar disperso nos olhos de Gabrielle… “Gabrielle?”

Uma daquelas vigas deve ter caído bem em cima dela… a mente da barda estremeceu. Se meu pai… orquestrou… isso… ela parou e pensou sobre isso. Mãe. Lila. Eu… sinto uma… espécie de raiva opaca… tristeza… Sua mente se concentrou clara e afiada. Mas agora ele tentou machucar algo que significa… mais do que a vida para mim. E agora? Por que isso é tão diferente, de repente? Eu posso sentir… é mais do que raiva… uma espécie de fúria com isso. Assustador. “Sim.” A barda respondeu, balançando a cabeça um pouco. “Desculpe.. eu estava apenas pensando.” Ela suspirou. “Acho que eu deveria resolver minha discussão com ele de uma vez por todas.”

Lennat balançou a cabeça lentamente. “Não hoje à noite, Bree.” Todos olharam para ele. “Ele e Metrus estavam na estalagem antes… Acho que você não os notou, Bree. Eles estavam bem longe.” Ele deu de ombros em sinal de desculpas.

Lila assentiu. “Então ficará por lá toda a noite. Eu tenho uma ideia…” Ela olhou de Xena para Gabrielle. “Venham para nossa casa para o jantar. Eu sei…” Seus olhos brilharam levemente “que você adora a comida da estalagem, mas…” Ela estendeu a mão e tocou o braço de Gabrielle. “Por favor, Bree? Mamãe ficará feliz… Eu sei que ela quer te ver.”

“É uma boa ideia.” Xena disse quietamente. Gabrielle olhou para cima para ela com leve surpresa, mas assentiu em concordância em silêncio. “Obrigada… eu teria que sair para caçar o jantar, caso contrário.” A guerreira comentou, com um sorriso irônico, e arrancou uma risada dos outros três. “Talvez Gabrielle possa ser convencida a fazer uma apresentação particular também.”

A barda bufou. “Ah, sim… tenho certeza de que eles querem ouvir mais histórias.” Mas seus olhos e sorriso para Xena brilhavam com apreciação tranquila. “E se prepare porque vou contar as suas histórias mais selvagens”

Lila riu. “Isso deve render uma noite divertida… tudo bem. Deixe-me ir e começar as coisas… depois do pôr do sol, então?” Ela se virou para Lennat. “Você também vai, é claro.”

O homem loiro riu. “Como se eu fosse perder isso. Claro.” Ele piscou para Gabrielle. “Além disso, eu perdi as histórias na noite passada… eu estava um pouco…” Um grande sorriso “ocupado.” Ele pegou o braço de Lila e a conduziu para fora da porta, acenando na direção deles. “Até mais..” ele chamou por cima do ombro.

O silêncio caiu, e elas se olharam.

“Então… o que realmente aconteceu?” Gabrielle perguntou, se inclinando para perto e cercando seus braços ao redor da guerreira, como ela queria fazer desde que entrou pela porta. “Deuses… isso foi tão estranho… foi como se eu estivesse sendo puxada para cá.”

Xena não respondeu por um tempo, apenas ficou em silêncio retornando o abraço de Gabrielle. Então ela suspirou, e deslizou o braço em volta dos ombros da barda, e caminhou até onde o cocho havia estado. “Eu estava ao lado de Argo… verificando seus cascos.” Ela pigarreou. “Eu ouvi… quem quer que fosse puxando o arco. Então… fiz o de sempre.” Isso com um encolher de ombros depreciativo. “Depois tentei alcançar a pessoa – quando cheguei lá…” Seu braço apontou. “Os suportes desabaram e caíram em cima de mim.” Uma careta. “Eu tive apenas tempo de levantar os braços sobre a cabeça e rolar para trás. Apenas os pedaços menores me atingiram nos ombros.”

“Por pouco.” Gabrielle sussurrou, contendo sua raiva repentina. “Eu não acho que posso perdoá-lo por isso.”

Xena a encarou. “Vamos lá, Gabrielle – não sabemos se foi ele quem fez isso, em primeiro lugar… e… foi um ataque bastante leve, considerando tudo.”

“Você poderia ter se machucado gravemente, Xena.” A barda cuspiu as palavras, sentindo uma pitada de raiva incomum crescendo dentro dela. “Eu não consigo… você nunca fez nada para ele, Xena!”

“Você também não.” Veio a resposta baixa e controlada, enquanto Xena se virava e capturava seu olhar.

“É diferente.” Gabrielle respondeu, sua voz aumentando. “Ele não tem motivo…”

“Ele tem.” Xena a interrompeu.

Uma longa pausa. “O que você quer dizer?” a barda respondeu, procurando em seu rosto. “Você não fez nada…”

O rosto de Xena estava na sombra, a luz diminuía lá fora, mas foi o suficiente para Gabrielle ver a raiva estampada lá. “Foi assim, Gabrielle…” Xena disse, lentamente. “Eu gritei com ele pelo que ele fez com sua mãe.”

Nenhuma resposta de Gabrielle, apenas um olhar atento e vigilante que parecia perfurar direto através dela.

“Ele disse que não era da minha conta.” A guerreira continuou.

“Ele disse, huh?” Veio a resposta sussurrada.

“Sim. E eu disse a ele que você… era da minha conta.” Os olhos de Gabrielle se fecharam, e um leve sorriso surgiu em seus lábios. “E então eu disse a ele que se ele… te tocasse… de novo…” Xena pronunciou as palavras lentamente, em um rosnado baixo e controlado. “Que eu o machucaria tanto que ele só desejaria que eu o tivesse matado.” Ela deu à barda um olhar intenso. “É melhor ele pensar que sou uma ameaça, Gabrielle… Eu preferiria ter tentativas fracas como essa do que ter algo vindo em sua direção.”

Inesperadamente, Gabrielle sorriu, sentindo a raiva se esvair dentro dela. “Bom… isso deve tê-lo irritado.” Sua voz estava voltando a um tom mais normal. “Acho que ele provavelmente apreciou mais a abordagem de Lennat, mas…” Eu odeio admitir… até para mim mesma… mas ela está certa.

Xena pausou e considerou o que tinha dito. Droga… quase reivindiquei ela. Aos olhos dele, de qualquer maneira. Ela riu. “Acho que ele poderia ter visto dessa maneira…” Ela olhou para baixo para Gabrielle. “Você se importa se eu falar por você?” Ela perguntou, observando a barda ponderar a pergunta.

“Deuses, não…” Gabrielle riu. “Quer dizer…” Ela corou e olhou para baixo. E sentiu a mão de Xena em seu queixo, levantando seu olhar para encontrá-la. “Eu realmente não me importo.” Tanto para me deixar lutar minhas próprias batalhas, não se envolver nos meus problemas e me deixar lidar com minha família do meu jeito. E sabe de uma coisa? Estou adorando cada minuto disso. Eu deveria estar totalmente envergonhada de mim mesma. Mas… há algo dentro de mim agora que quer apenas… se render… dar tudo a ela. Eu tenho que lutar contra isso… não está certo. Mas algumas coisas… algumas coisas eu acho que podem estar tudo bem em apenas… deixar ir…

“Olha, eu sei que deveria ter te contado…” Xena começou hesitante “Mas aconteceu antes de irmos para o rio e…” Um encolher de ombros leve. “Nós meio que nos desviamos do assunto.”

“Não… tudo bem.” Gabrielle sorriu. “Estou feliz que você tenha feito isso… me faz sentir… realmente bem.”

“De verdade?” Xena questionou. Isso foi uma mudança… ela geralmente odeia quando eu faço isso.

“Sim, de verdade.” Veio a resposta. “Vamos lá… vamos te limpar e depois ir para o jantar. Estou faminta.” Ela pegou o braço de Xena e começou a sair do celeiro. “Ei… você tem certeza de que Alain está bem com Argo? Eu pensei que ela odiasse outros cavaleiros.”

Xena riu. “Ela está bem – ela gosta dele. Assim como ela gosta de você, minha barda.” Ela deu um empurrão em Gabrielle com o cotovelo. “E vai fazer bem o exercício. Eu tenho sido muito negligente quanto a isso ultimamente.” Ela fez uma pausa. “Na verdade, acho que depois do jantar eu vou me permitir algumas práticas muito necessárias com a espada.”

Gabrielle olhou para ela. “No bosque?”

“Não.” O rosto de Xena se iluminou com um sorriso astuto. “Aqui no pátio.” Seus olhos azuis brilharam. “Só para o caso de alguém ter qualquer ideia de se aproximar… eu gostaria que soubessem no que estão se metendo.”

“Ohhh…” A barda respirou. “Eu vou poder te ver dar um show então.”

Xena apenas riu.

“Se segura aí, vai?” Gabrielle revirou os olhos e abafou um suspiro. “Não posso fazer nada se metade do celeiro está encravada nas suas costas. Estou sendo o mais gentil possível.” Ela puxou mais um pedaço de madeira lascada da pele bronzeada entre as omoplatas de Xena.

“Desculpe.” Xena murmurou, flexionando ambas as mãos contra a dor. Se esforçando para ficar imóvel sob as mãos, admitidamente gentis, da barda, ela se apoiou nos joelhos e fechou os olhos, esperando Gabrielle terminar sua tarefa.

Gabrielle fez uma careta ao ver o próximo pedaço, facilmente com dois centímetros de comprimento, e metade disso debaixo da pele. “Oh… Xena, este vai doer.” Ela avisou, colocando uma mão de apoio no ombro tenso ao lado dela. “Mas é o último. Aguente firme.”

A guerreira assentiu um pouco e estendeu a mão para agarrar dois dos suportes do encosto da cadeira ao seu lado. “Vai em frente.” Ela disse, com firmeza.

A barda respirou fundo e segurou firmemente o pedaço de madeira lascada, então puxou com um puxão constante e uniforme. Não houve nenhum som vindo de Xena, mas um estalo alto a assustou e quase fez com que ela deixasse cair o pedaço de madeira e as pinças que segurava. Ela olhou para baixo, vendo Xena com uma expressão ligeiramente envergonhada examinando os suportes da cadeira, que ela havia partido na mão como se fossem pedaços de lenha. “Uau. Você tem um aperto e tanto.”

Xena soltou um pequeno riso. “É, às vezes eu me surpreendo.” Ela admitiu, sacudindo a cabeça.

Gabrielle deu um tapinha no ombro nu dela. “Só deixa eu aplicar um pouco de limpador nesses cortes. Nada é profundo, só tem muitos deles… e um grande hematoma aqui.” Seus dedos traçaram uma linha pela omoplata esquerda de Xena, que se movia enquanto a guerreira flexionava o braço experimentalmente. A barda sorriu silenciosamente ao sentir os músculos se moverem sob sua mão. “Isso não está facilitando.” Ela provocou, capturando o brilho de um sorriso de resposta no rosto meio virado de Xena. “Isso é melhor.” Quando o movimento parou, e ela conseguiu terminar seu trabalho em paz, limpando os ferimentos com o limpador e aplicando uma mistura calmante de babosa neles.

Xena recostou-se quando terminaram e respirou fundo. Toda sua parte de trás parecia estar pegando fogo, e ela suspirou enquanto começava seu truque mental de se convencer a simplesmente ignorar a dor, concentrando-se até que a dor se dissipasse para segundo plano em sua consciência, e ela pudesse pensar em outras coisas. “Obrigada.” Ela deu um sorriso rápido para Gabrielle, enquanto se levantava e puxava a nova túnica que havia desembalado, e a prendia.

 Gabrielle fez uma careta. “Eu diria que quando precisar, mas prefiro não ter que fazer isso. Você não se cansa disso?” Ela balançou a cabeça e guardou os itens médicos na bolsa de Xena, sem perceber as mãos da guerreira pararem e seu rosto ficar quieto.

“Às vezes.” Xena respondeu com um suspiro sincero. “Eu me canso de doer o tempo todo, sim.” Ei, ei, ela disse isso de forma despretensiosa, Xena… não dê esse tipo de resposta a ela. Vendo a expressão repentina de preocupação no rosto da barda. “Mas eu supero isso.” Ela corrigiu, deixando um sorriso se formar. E deu uma piscadela e um tapinha no ombro de Gabrielle, que foi recompensado com um olhar aliviado de sua parceira. Isso é melhor. Além disso, idiota, você escolheu essa vida, lembra? Você sabia como seria – lembra dos hematomas do treinamento? Deuses… isso parece tão distante agora. “Quase não dói mais.” E, para seu espanto, era verdade… seja pelas mãos da barda, seja pelo trabalho ágil de sua mente, a dor havia se transformado em algo que era apenas um leve formigamento em sua consciência.

“Roo!” Ares puxou sua bota com entusiasmo. “Grr!” ele acrescentou, enquanto ela ria e se sentava de pernas cruzadas na frente dele. “Tudo bem… tudo bem.” Ela olhou para cima para Gabrielle, que a observava silenciosamente, as mãos descansando na bolsa médica, iluminada pelo sol do final da tarde que dourava seus cabelos com uma riqueza flamejante e fazia seus olhos quase brilharem de dentro para fora. “Você está interessada em um pouco de prática de bastão hoje à noite, a propósito?” Seus olhos assumiram um olhar travesso. “Você tem relaxado ultimamente, eu notei.”

“Você vai estar bem para isso?” Gabrielle perguntou, observando e conseguindo o olhar de sobrancelha erguida esperado. “Não quero te sobrecarregar, ou algo assim.” Vendo o inconfundível brilho competitivo aparecer, o que acalmou seu coração um pouco. Oh oh… acho que acabei de me meter em encrenca… e ela está certa. Tenho relaxado ultimamente… e aposto que vou sentir isso hoje à noite. Ela riu de si mesma. Eu só tenho estado um pouco… distraída… acho.

“Bem… bem… vamos ter que ver, não é?” Veio a resposta arrastada, enquanto Xena brincava com Ares, esfregando a barriga do filhote e usando um pedaço extra de couro como brinquedo de puxar. “Vamos lá, Ares… você pode fazer melhor que isso.”

Gabrielle sorriu para si mesma e vestiu uma nova túnica, dando uma respiração profunda experimental. “Ei… quase não dói mais.” Ela observou, com uma expressão satisfeita. “Talvez eu até consiga te dar um desafio hoje à noite.” Ela esperou um pouco, para que Xena olhasse para cima. “Por mais do que… oh… três rounds, de qualquer maneira.” Com um olhar travesso.

“Pode ser.” Xena respondeu, dando um último puxão no pedaço de couro e se levantando, se sacudindo e cruzando até onde a barda estava dando uma rápida escovada nos cabelos. “Ahh… é por isso que você me deixou deitada o dia todo sendo alimentada com guloseimas? Tudo parte de um plano, vejo eu… para ter a vantagem no combate.”

Gabrielle riu. “Oh… absolutamente… eu tenho que conseguir algum tipo de vantagem.” Ela se levantou e deu um empurrão brincalhão em Xena. “Vamos lá… vamos jantar. Estou faminta.”

“Tudo está pronto para o casamento”, disse Hécuba, enquanto ela e Lila trabalhavam lado a lado na pequena cozinha. “Só queria…”

Lila suspirou. “Eu sei… queria que não fosse tão tenso… queria que papai não estivesse tão…” Ela olhou para cima para sua mãe. “Mas, neste ponto… estou apenas feliz que esteja acontecendo afinal.” Ela deu um suspiro trêmulo. “Nunca pensei… eu…”

Hécuba deu a ela um abraço desajeitado de um braço. “Vou sentir sua falta, Lila”, admitiu a mulher mais velha, com um suspiro. “Queria…” É melhor nem dizer isso. “Estou feliz que tudo tenha se resolvido. Estranho como tudo parecia se encaixar… deve ser a influência das luas.” Ela deu uma risada leve. “Agora, se conseguirmos apenas acertar as coisas para sua irmã. Eu sei que ela gosta de sua vida de viagens, mas…”

Lila cortou os legumes que tinha à sua frente e os colocou casualmente no prato. Talvez ela pudesse retribuir a Gabrielle um favor… ela tinha certeza de que sua irmã mais velha não queria ouvir essa palestra pelos próximos anos quando era óbvio para Lila que Gabrielle estava exatamente onde queria estar. “Bem, na verdade, mãe…” Lila começou. “Não foi apenas… uma coincidência.”

Hécuba parou de brigar com um grande queijo que estava tentando cortar com uma mão e deu a Lila um olhar confuso. “Como assim?”

Lila começou em outro monte de legumes e os adicionou a um ensopado que borbulhava na lareira. “Na primeira noite que Gabrielle esteve aqui… assim que descobriu o que estava reservado para ela, ela contou a Xena sobre isso. E…” Seus olhos observaram o perfil de Hécuba atentamente. “ela disse, depois, que Xena encontraria uma maneira… de fazer tudo dar certo.” Agora ela virou a cabeça para sua mãe e parou de cortar. “E ela fez, mãe. Eu não sei como ela fez, mas fez.”

Hécuba respirou fundo e sentou-se em um canto da mesa de preparação. “Ela veio… aqui. Esta manhã, e me ajudou.” Ela brincou distraída com a faca de queijo em sua mão. “Ela é uma pessoa muito estranha, muito violenta. Tenho medo por Gabrielle, viajando com ela. Apesar do que ela fez por mim… e do cuidado que parece ter com sua irmã.” Ela balançou a cabeça grisalha. “Ainda quero ela em casa, Lila – me recuso a acreditar que não podemos encontrar uma maneira de fazê-la feliz aqui.”

“Elas se amam, mamãe”, disse Lila, sem olhar para ela.

“Certamente não, Lila”, repreendeu Hécuba. “Não deixe sua própria imaginação romântica te levar. Isso é bobagem. Eu sei que Gabrielle está preocupada com a segurança de Xena, e sei que Xena tenta garantir que Gabrielle fique bem, mas isso é esperado. Elas têm viajado juntos por um bom tempo agora. Certamente, elas se tornaram… amigas… por mais difícil que seja para mim acreditar.”

“Mãe.” Lila parou seu trabalho e encarou Hécuba, colocando as mãos nos ombros da mãe. “Elas se amam. Assim como Lennat e eu.” Observando o rosto descrente de sua mãe. “Eu tive a chance de passar um tempo com elas nos últimos dias, você não.”

A mulher mais velha apenas a encarou, depois abraçou a si mesma e abaixou os olhos. “Eu não posso acreditar nisso”, ela disse olhando para cima. “Eu não quero acreditar nisso. Desculpe, Lila… isso não é algo que posso aceitar tão facilmente quanto você supõe.”

Ela limpou a garganta. “Vou pedir a ela para ficar aqui, desta vez.”

Lila fechou os olhos. “Mãe, não. Por favor.” Ela sussurrou, estendendo uma mão para a mulher mais velha. “Escute, eu pensava como você… alguns dias atrás.” Ela virou e brincou com as mãos. “Eu a odiava… por levar Gabrielle embora. Por mantê-la lá fora… com todo esse perigo… eu pensava que Xena simplesmente não se importava com o que acontecia com ela.”

“E você não acha isso agora?” Hecuba perguntou, cética.

“Não.” Lila respondeu, com um sorriso. “Ela se importa.”

Sua mãe a estudou com uma expressão fria. “Acho que você está errada, Lila. Acho que Gabrielle é uma boa companheira de viagem. Ela é bastante engraçada, conta histórias e faz tarefas… e acho que ela pode fazer melhor.”

Lila voltou a cortar os legumes. Bem, eu tentei. Deuses… como se não fosse difícil o suficiente. “Talvez… mas não acho que ela ache isso.”

O crepúsculo havia caído sobre a vila, trazendo uma névoa roxa que lançava sombras sob as beiradas das pequenas cabanas e transformava as cores em tons acinzentados. A fumaça das fogueiras noturnas se misturava com uma suave névoa fresca, cheirando a madeira queimada e ao rico aroma de pinheiro molhado, enquanto Xena e Gabrielle caminhavam em direção à casa da família dela. Era um momento tranquilo, e nenhuma delas falou muito até estarem quase lá.

“Belíssima noite”, comentou Xena, lançando os olhos para a esfera emergente mal vista surgindo sobre as árvores. “Lua cheia.”

Gabrielle assentiu e se aproximou, entrelaçando o braço com o de Xena e sorrindo para ela.

“Sua mãe ainda não confia em mim, sabia”, acrescentou Xena, com um sorriso irônico, estendendo a mão e segurando a de Gabrielle.

A barda inclinou a cabeça. “Eu sei”, suspirou. “Vou tentar conversar com ela.”

“Talvez eu devesse”, brincou Xena, dando um meio sorriso. “Tenho me saído muito bem nessa área ultimamente.”

Gabrielle bufou quando chegaram ao alpendre e subiram os degraus, seus passos de botas ecoando em uníssono. “Você pode estar certa.” Ela empurrou a porta. “Muito melhor do que eu, na verdade.” Murmurou para si mesma.

Hécuba olhou quando entraram e sorriu para elas. “Entrem… entrem.” Ela fez um gesto e observou enquanto Xena se aproximava diretamente dela, movendo-se com aquela força sobrenatural que deixava a mulher mais velha nervosa. Ela respirou fundo quando a guerreira parou a um passo de distância dela e ergueu uma sobrancelha.

“Como está o braço?” Veio a pergunta, naquela voz profunda que parecia atravessá-la.

Hécuba estendeu o membro em questão. “Dói. Como você disse que doeria. Mas… vai ficar bem.” Ela indicou a mesa, onde Lila e Lennat estavam sentados, cabeças inclinadas juntas. “Por favor… sentem-se.” Ela abraçou Gabrielle. “Estou feliz que você esteja aqui.” Ela disse para sua filha, com um sorriso. “Talvez possamos conseguir mais uma ou duas histórias de você.”

O jantar foi bastante tranquilo, principalmente com as muitas e variadas perguntas de Hécuba sobre as histórias que ela ouvira na noite anterior. “Mas querida, você estava realmente lá naquela aldeia dos Centauros? Isso foi muito perigoso para você – você não poderia apenas ter conseguido descrições de… alguém?” Sua voz não deixava dúvidas sobre quem era esse alguém.

Xena recostou-se e observou sua companheira, decidindo que já havia chegado ao limite. “Bem, Hécuba…” Ela falou pausadamente. “A questão é que… eu posso ser uma guerreira louca. Mas…” seus dentes brilharam em um sorriso selvagem. “Não são muitas pessoas por quem eu jogaria meu corpo na frente de uma flecha de bom grado. Ela pausou e viu o olhar resignado de Gabrielle, e sorriu secretamente. “A rainha das Amazonas que minha barda descreve tão bem é ela mesma. Ela foi a heroína dessa história.”

Silêncio total na sala, enquanto todos olhavam para Gabrielle, que deu a Xena um olhar carinhosamente exasperado. “Vou te pegar por isso…”

“Gabrielle…” Sua mãe sussurrou. “Isso é verdade? Isso foi você?”

“Sim”, respondeu a barda, sem se importar. “Com certeza. E, caramba, eu estava muito feliz em ver a Xena, deixe-me te dizer…” Eu estava. Feliz o suficiente para beijá-la na frente de uma tribo inteira de Centauros e metade da Nação das Amazonas, e nos levar a ambas para águas desconhecidas. Sorte que nadar é uma habilidade que ambas compartilhamos. Seus lábios se curvaram em um sorriso.

“Deuses”, Lila respirou. “Eu não fazia ideia… deve ter sido aterrorizante… é isso o pior que você já enfrentou?”

“Não”, respondeu Gabrielle, com voz calma. “Mas aquela outra coisa… deu certo.” Sentiu os dedos se entrelaçarem com os dela sob a mesa. E retribuiu o aperto gratamente.

“Deu certo…” Hécuba repetiu. “Gabrielle, você poderia ter morrido lá.”

“Eu poderia” concordou a barda. “Mas eu não morri.” Ela viu a raiva nos olhos de sua mãe. “As Amazonas são minha responsabilidade, mãe. E eu me meti em encrenca lá… mas, felizmente, como sempre, pude contar com a Xena para me tirar dessa.” Ela deu à sua parceira um olhar apreciativo. “Não há com o que se preocupar.”

Hécuba levantou-se e dirigiu-se à cozinha, seus movimentos rígidos e furiosos. Ela virou-se na porta e olhou diretamente para Xena. “E você acha que é tudo bem, deixar minha filha arriscar a vida assim? É criminoso…”

Gabrielle levantou-se, sentindo uma raiva que raramente sentia crescendo dentro dela. “Você não…” Sua voz explodiu com uma borda audível, mas uma mão fechou-se em seu braço, puxando-a para baixo, fazendo-a parar no meio da frase. Ela virou-se e encarou Xena, que encontrou seu olhar com compreensão gentil. Levantou uma sobrancelha e deu-lhe um pequeno sorriso irônico, e sua raiva foi contida, acalmada para uma compreensão irônica. Ah sim… acho que ela pode se cuidar. Certo? Certo.

Xena voltou seu olhar para Hécuba, ainda parada na entrada da cozinha. “Não. Eu não acho que está tudo bem.” ela disse, com um suspiro. “Mas é o que ela escolhe fazer.” E eu sou a pessoa que ela escolhe para fazer isso. Mesmo eu achando isso impossível. “A vida é perigosa, Hécuba.” Ela lançou um olhar significativo para o braço da mulher. “Aqui, lá fora… quem está realmente seguro?”

Um longo silêncio, e Hécuba caminhou lentamente de volta para a mesa e sentou-se, colocando as mãos na frente dela. “Estou com medo por ela.” Ela disse, como se Gabrielle nem estivesse na sala. Para essa pessoa muito estranha, desconhecida, que, parece, assumiu a responsabilidade por sua filha. Que, incrível como ela achava, era inequivocamente uma amiga, até mesmo Hécuba podia ver isso entre elas.

Xena inclinou-se para a frente e deu-lhe um sorriso melancólico. “Eu também estou.” Olhou para Gabrielle, que estava mantendo silêncio por enquanto. “Mas acredite quando eu digo que a segurança dela é minha maior prioridade” Uma prioridade muito maior do que a minha… Eu me pergunto se ela já percebeu isso.

“Hey!” Gabrielle repentinamente latiu. “Espera aí. Você pensaria que sou eu quem se mete em todas as encrencas por aqui.” Ela esperou que todos se concentrassem nela. Preciso baixar essa tensão… deveríamos estar nos divertindo “Um par de Amazonas? Hah.. deixe-me contar algumas das encrencas em que a Xena se mete.”

E ela começou a contar suas aventuras, e depois de três ou quatro histórias, conseguiu fazer com que todos se concentrassem no que estava dizendo. E finalmente os deixou todos rindo, então saíram da mesa para a pequena área de lareira e se sentaram nos tapetes coloridos para ouvir mais. Lennat recuou contra a parede e deu tapinhas no chão ao lado dele, onde Lila prontamente se acomodou e encostou-se no ombro dele.

Xena se esticou perto da lareira, cruzando os braços e apoiando a cabeça contra a pedra. Observando o rosto de Gabrielle enquanto ela falava. Como a luz da fogueira destacava os reflexos em seu cabelo, e delineava suas mãos graciosas enquanto ela as usava para descrever a ação na história. Xena sentiu seus olhos irresistivelmente atraídos para o perfil da barda e um sorriso gentil cruzou seus lábios enquanto deixava as palavras da história fluírem sobre ela sem serem ouvidas.

Hécuba finalmente conseguiu apenas se deixar levar pela voz de sua filha e parou de se angustiar com a vida que era descrita nas histórias às vezes engraçadas, às vezes graves. Depois de um tempo, ela percebeu que Xena não estava realmente prestando atenção às histórias, então apenas a observou, de soslaio. Bem, certamente, ela já as ouviu antes… viveu elas… e ao ouvir Gabrielle falar sobre ela, você pensaria que ela era uma espécie de… heroína.

A mulher mais velha suspirou. Então viu a expressão nos olhos pálidos e ferozes mudar enquanto ela observava, tornando-se muito mais suave, e um sorriso correspondente transformou seu rosto de uma atenção rígida para uma adoração repentina e surpreendente. E Hécuba percebeu onde aqueles olhos estavam fixados e fechou os próprios olhos diante da verdade que encontrou ali. Não… ela estava enganada, ela deve estar. Abriu os olhos a tempo de ver sua filha meio virar-se, sentindo o olhar da guerreira, e devolver o sorriso com um calor aberto que deixou pouco para confortar suas sensibilidades. Oh, Hera. Hécuba gemeu para si mesma. Como pude perder isso antes? Tenho medo… Lila estava certa. Oh querida.

Sua mente se ajustou lentamente, e agora ela observava Xena secretamente, com olhos recém-entendidos. E viu, pela primeira vez, qualidades que de alguma forma… escaparam dela antes. Como o humor caloroso em seu sorriso. E o brilho amigável em seu olhar quando trocava olhares com Lennat e Lila. E o revirar exasperado de seus olhos quando Gabrielle elaborava exageradamente em alguma coisa que ela tinha feito.

Hécuba sorriu relutantemente. Então. Ainda não gosto disso… é muito perigoso. Ela suspirou resignadamente para si mesma. Mas vejo que não vou convencê-la disso.

Xena estendeu a mão e fez Gabrielle parar quando ouviu a aspereza na voz de sua parceira. “Ei… você vai ficar sem voz amanhã se continuar assim.” Foi seu comentário preguiçoso, notando o pequeno aceno de aprovação de Hécuba. Bem, bem… a mãe aprova isso… interessante…

“Hah.” Gabrielle sorriu. “Você só está dizendo isso porque sabe que história vou contar a seguir.” O que lhe rendeu um sorriso relaxado. “Peguei você…” Mas ela podia sentir a tensão e sabia que Xena provavelmente estava certa. “Mas entendi seu ponto…” Ela reprimiu um bocejo. “Foi um dia longo.” Ela deu de ombros com um pedido de desculpas. “Obrigada pelo convite.”

“Fiquei feliz de tê-las aqui.” Hécuba respondeu, com um sorriso irônico. “As duas.” Ela acrescentou, recebendo uma sobrancelha levantada e um leve sorriso de Xena.

Pergunto-me o que fiz para ganhar esse pequeno selo de aprovação. Xena pensou consigo mesma, levantando-se e estendendo a mão para a ainda sentada Gabrielle, que alegremente a segurou e permitiu-se ser puxada para cima.

Elas desejaram boa noite à família de Gabrielle e saíram para o ar fresco da noite, que ainda carregava mais do que uma dica de fumaça de madeira e comida, e era escovado com um frescor bem-vindo após o calor fechado da fazenda.

“Mmmm…” Gabrielle bocejou. “Isso é muito bom. Estava meio abafado lá dentro.” Ela olhou para sua parceira. “Correu tudo bem… depois daquele primeiro momento. E pelo menos o jantar foi decente.” Uma risadinha suave. “Não tão bom quanto o da sua mãe, porém.”

“Uh uh.” Xena respondeu, observando o caminho à frente delas pensativamente. “Não tão ruim.” Um rápido olhar para Gabrielle, que ainda bocejava. “Ei… você prometeu que teríamos um pouco de prática com o bastão, dorminhoca.”

Gabrielle gemeu e lançou um olhar para Xena. “Deuses… eu fiz isso? Que bobagem da minha parte.” Um olhar de lado para determinar o temperamento do olhar que estava recebendo. “OK…OK…Vamos lá… estava brincando.” Deuses… a mulher tinha um nível de energia que simplesmente não acabava… como ela faz isso? É interminável… ela me deixa cansada só de olhar para ela às vezes.

Gabrielle se aproximou de onde Xena estava em pé, no meio de tirar sua túnica. “Deixe-me passar um pouco de babosa nisso enquanto você está assim.” Ela puxou o cotovelo de Xena. “Sente-se um minuto.”

Com um olhar levemente divertido, Xena concordou. “Claro… claro.” ela suspirou, deixando o tecido deslizar de seus ombros e relaxando enquanto a barda reaplicava a pomada calmante em suas costas laceradas. “Obrigada… isso está realmente bom.” ela admitiu, dando a Gabrielle um meio sorriso. Embora ela não estivesse certa do que se sentia melhor, a pomada em suas costas, ou o fato de Gabrielle ter pensado em fazer isso. Mm… difícil dizer. Ela decidiu com um sorriso discreto, fechando os olhos e sentindo as mãos da barda contra sua pele com um senso de prazer suave.

“Essas parecem bem cruas…” A barda aconselhou. “Você tem certeza que quer… quero dizer, não é como se eu estivesse tentando escapar de treinar com você… mas…” Ela fez uma careta enquanto examinava as piores feridas. “Pular uma noite não seria uma má ideia… estou doendo por você só de olhar para elas.” Sentindo a tensão nos ombros da guerreira, ela massageou suavemente os músculos ao redor do pescoço de Xena, e sentiu-os relaxar enquanto a guerreira se inclinava contra ela. “Mmm? Você tem certeza de que quer fazer isso?”

“Não… não tenho certeza.” Xena respondeu, com um sorriso irônico. “Mas vou fazer mesmo assim. Você não precisa, porém. Você teve um dia bem longo.” Ela deu um tapinha na perna de Gabrielle e inclinou a cabeça para trás, observando as emoções conflitantes cruzarem o rosto da barda. “De verdade. Eu estava só brincando com você antes.”

Gabrielle suspirou. “Não… se você for, eu vou.” Seus lábios se curvaram. “Além disso, você estava certa. Tenho sido uma preguiçosa ultimamente quando se trata disso… e vou pagar por isso de uma maneira ou de outra.” Ela se inclinou e tocou seu nariz ao de Xena, e riu quando a guerreira beliscou seu cabelo, prendendo-o nos dentes. “Ei! Ai! Ok… ok… vamos lá e começar isso.” Ela libertou o cabelo do aperto de Xena e foi até sua bolsa para pegar seu equipamento de viagem usual e vesti-lo. “Talvez eu possa convencê-la a se juntar a mim para um banho quente depois, hmm?” Olhando para cima quando ouviu a risada de resposta. “Soa como um plano?”

“Oh, com certeza.” Xena concordou, ajustando as fivelas no gambesão acolchoado que usava para a prática de espada. “Você não precisa esperar, no entanto. Vou ficar nisso por um tempo.” Ela alcançou acima da cabeça e prendeu sua bainha às alças na peça de roupa. Sabendo muito bem que a barda insistiria em esperar de qualquer maneira.

Gabrielle deu de ombros e pegou seu estojo de pergaminho. “Nah… vou apenas trabalhar em algumas coisas até você terminar… Tenho duas histórias que preciso escrever.” Jogando o estojo sobre o ombro, ela se aproximou da porta e a segurou para Xena, seguindo-a para fora e descendo as escadas.

“Seu estômago ainda está incomodando?” Xena perguntou, interrompendo seu ataque e estudando o rosto de sua parceira com um toque de preocupação.

“Um pouco”, Gabrielle admitiu, dando um passo para trás para recuperar o fôlego. “É por isso que eu não tenho praticado tanto ultimamente, eu acho.” Ela fez uma careta apologética. “Nunca entendi seu ponto sobre prática constante até agora.. não percebi o quão rápido você perde se não praticar.” Ela pausou e afastou o cabelo da testa, e se posicionou. “Ok.. Vamos lá.” Movendo-se para frente e levantando seu bastão para uma posição defensiva, bloqueando o próximo golpe de Xena. “Para de me mimar, Xena..” Ela rosnou, sentindo a falta de impacto no contato.

Risadas da guerreira. “Talvez eu esteja me mimando… Sinto nas costas toda vez que você me atinge.”

“Aposto que sim”, veio a resposta cáustica, enquanto Gabrielle ia trotando e recuperava o bastão. “Ensinou-me a ficar de boca fechada.”

“Jamais”, comentou Xena, alegremente, enquanto enfrentava um ataque determinado da barda. “Isso, está melhor.” Aprovadoramente, quando a borda do bastão de Gabrielle deslizou além de suas defesas e pegou um pedaço de seu antebraço. “Boa. Você quer tentar tirar esse braço de combate – porque torna muito mais difícil para mim fazer isso.” Pancada. “Viu?”

Gabrielle acenou com a cabeça e respirou satisfeita. Ela não atingia Xena com frequência. Eles haviam estado nisso por um bom tempo, tempo suficiente para as tochas se apagarem um pouco do lado de fora do celeiro, e ela estava ficando cansada. “Ok..” Vamos tentar isso.. ela reuniu suas forças, avançou e mordeu o lábio em concentração, usando um movimento reverso que terminava em uma varredura em um ângulo baixo, o que geralmente funcionava com Xena por causa da diferença de altura entre elas.

E funcionou, dessa vez – passando pelo bloqueio de Xena e atingindo a guerreira com toda força na coxa. Ambas fizeram careta, Xena pelo golpe, Gabrielle pela dor quando seu bastão ricocheteou e a desequilibrou.

“Droga, Xena”, a barda sibilou, largando o bastão e sacudindo as mãos. “Acho que preferia ter errado você… teria sido menos doloroso.”

“Para mim também”, respondeu Xena, sacudindo a perna e examinando a marca vermelha onde o bastão de Gabrielle atingiu. “Mas foi boa.”

Gabrielle bufou. “Sim, foi como bater em uma árvore.” Ela pegou seu bastão e apoiou-se nele, sentindo-se agradavelmente cansada. “Chega para mim, acho.”

Xena olhou para ela, então assentiu. “Sim, faça uma pausa. Vou pegar uma bebida e fazer um pouco de treino com a espada.”

Gabrielle pegou sua bolsa de pergaminhos e se acomodou confortavelmente em um fardo de feno que havia sido descartado do lado de fora do celeiro. Ela espalhou seus pergaminhos e pegou uma pena, afiando-a distraída enquanto observava Xena fazer alguns de seus pequenos exercícios de aquecimento. Não assistia a Xena fazer isso há muito tempo.. geralmente trabalhava em suas histórias enquanto ela estava lá fora.. Oh uau.. conforme Xena terminava sua rotina preliminar e mergulhava em um conjunto de exercícios de alta velocidade, sua espada borrava o ar na frente de seu corpo.

Então ela se movia em círculo e começava a combinar os golpes ofensivos e defensivos com piruetas, e Gabrielle apenas ficava, encantada, sua pena esquecida. À medida que as tochas diminuíam e as sombras aumentavam pelo pátio, a luz incerta capturava vislumbres de prata da espada de Xena. Oh uau…uau.. eu tinha esquecido o quão fantástica ela é nisso. O talento da barda começou a puxar palavras para descrevê-la.. um poema, talvez?

Bem.. Xena refletiu, enquanto girava outro conjunto de piruetas. Pelo menos tenho uma plateia apreciativa… Vendo os rostos colados contra a janela da estalagem, indistintos na penumbra que preenchia o pátio, e que escondia os observadores silenciosos também, do lado de fora do prédio. Ela se agachou completamente, depois se desenrolou e saltou para o alto, se surpreendendo com a altura do salto, e girou preguiçosamente de lado enquanto arremessava e pegava sua espada no ar. Agora.. isso é se exibir. Ela se repreendeu, lançando um olhar de relance para trás e pegando a fascinação de olhos arregalados de Gabrielle. Por outro lado… ela disse que queria ver um espetáculo.. Um sorriso cruzou seu rosto. Vamos ver se ela gosta disso.. E ela lançou sua espada para o alto e jogou seu corpo na outra direção, depois deu um mortal para trás para o centro do pátio, sem usar as mãos. No topo do último mortal para trás, ela pegou a espada e aterrissou, dando um pulo, e girou a espada sobre o topo de seu braço e de volta para baixo.

Espreitou a expressão atônita de Gabrielle e riu consigo mesma. Não é ruim… nem um pouco. Ela testou suas reservas e encontrou seu corpo relaxado e pronto para mais. É uma boa sensação… Eu sei que perdi isso por um tempo… fico feliz de tê-lo de volta... Ela começou a praticar chutes saltados, eventualmente progredindo até atingir marcas acima de sua própria cabeça. Finalmente, ela deu um pequeno impulso e pulou para um galho saliente na grande árvore fora da estalagem, segurando-se e pressionando seu corpo para cima e sobre o galho. Embainhando sua espada, ela ficou, pulando levemente para cima e para baixo, observando o chão a uma certa distância abaixo.

Gabrielle olhou para cima, balançando a cabeça levemente, então seus olhos se arregalaram ao ver Xena saltar do galho, pegar outro galho mais flexível, balançar para cima e simplesmente saltar, indo em direção ao chão a uma velocidade assustadora. Uau! Sua mente gritou, quando a guerreira atingiu o chão com uma força impressionante, rolou duas vezes e depois deu um salto para o ar, e se sentou ao lado dela no fardo.

“Oi”, veio a saudação alegre, completa com um sorriso presunçoso. “Gostou do show?”

“Você é boba”, declarou Gabrielle, cruzando os braços. “Você nem está ofegante.” Um leve balançar de cabeça. “Sim, eu gostei do show… acho que todos também.” Ela sorriu. “É só porque eu não te via fazer isso há muito tempo, ou… você foi incrível… não que você não soubesse disso, mas… eu não me lembro de você ganhar altura nesses saltos assim antes. Sou só eu?”

Xena suspirou e recostou-se, fazendo uma careta quando seus cortes pressionaram contra a madeira áspera. “Não… percebi…”, deu de ombros e olhou para suas mãos. “… que eu tinha perdido alguns passos ultimamente. Não sei… talvez tenha sido a última vez que fui machucada.” Morta, na verdade. Mas ela nunca disse isso na frente de Gabrielle. Era… muito cru. Ainda. “Mas depois disso, simplesmente não me senti bem. Sentia que estava cansada o tempo todo.” Ela olhou para o pátio. “Eu tive que me esforçar muito… fazendo coisas que costumavam ser fáceis.” Era uma admissão difícil… sabendo o quanto a barda dependia dela para proteção.

“Você realmente não teve a chance de descansar depois disso”, Gabrielle respondeu, pensativamente. “Pensei que deveríamos tirar alguns dias de folga… mas aconteceram coisas.” Coisas sempre aconteciam com elas. Era parte integrante de suas vidas juntas. “Eu estava… um pouco preocupada com você.” Mais do que um pouco preocupada? Mas eu estava tão malditamente feliz apenas por te ver sorrindo para mim toda manhã que eu só…

“Sim… eu sei”, Xena riu um pouco. “Notei que você ficou bem perto por um tempo depois disso.” Viu os olhos de Gabrielle baixarem, e um leve rubor cobriu seu rosto. “Não… eu apreciei isso. Fiquei feliz que você fez isso.” Ela suspirou. “Mas de qualquer forma, durante o mês que fiquei em casa, tive a chance de dormir bastante pela primeira vez em… deuses… para sempre… e foi… maravilhoso.” Ela deu à barda um sorriso envergonhado. “E é claro que a mãe estava me alimentando como um porco premiado… então entre os dois, comecei a me sentir muito melhor e saía à noite e simplesmente reconstruía muitas coisas. Me sinto ótima agora.” Uma pausa. “Melhor do que me senti em muito tempo.”

“Isso mostra”, Gabrielle sorriu. “Você parece muito mais relaxada.” E muito mais propensa a dizer… coisas assim para mim. Acho que realmente gosto disso.

“Mmm”, concordou Xena, com um leve sorriso. “Embora eu não tenha certeza se isso tem algo a ver com eu conseguir fazer saltos mortais.” Ela virou a cabeça e olhou intensamente para Gabrielle, que corou.

“Conseguiu terminar suas histórias?”, perguntou Xena, dando um cutucão nas costelas de Gabrielle.

“Nem… uma única palavra, e você sabe disso”, ela deu de ombros. “Com esse tipo de espetáculo acontecendo? Que tipo de barda eu seria se apenas ficasse sentada aqui como um pedaço de madeira e fizesse cópias?” Seus olhos brilharam um pouco. “Não direi que não estive ocupada compondo… ah… um poema… talvez.”

“Ah, é mesmo?”, perguntou Xena, dando-lhe um olhar inquisitivo. “Sobre o quê???”

Um sorriso diabólico de Gabrielle. “Meu assunto favorito, e a impossibilidade do que acabei de ver, e o pátio escuro iluminado por tochas aqui, e os reflexos de fogo e luz da lua refletindo em sua espada, e você…”

Xena bufou. “Gabrielle, como diabos você consegue tornar um exercício de espada poético?”

A barda balançou a cabeça lentamente e estendeu uma mão, passando os dedos pelos cabelos escuros como a meia-noite no ombro de Xena. “Eu não consigo… mas você consegue. Você se move, e é poesia.” Observando com diversão o piscar surpreso dos olhos azuis pálidos. “Você já percebeu o quão mágica você é, Xena… Eu poderia passar o resto da minha vida tentando descrever isso e não te fazer justiça.”

Silêncio… e então um suspiro. “Não… você é quem tem a magia, minha barda. Eu sou apenas uma lutadora velha e surrada.” Xena deu a ela um sorriso irônico. “Dúzia de centavos, nós somos.”

O rosto de Gabrielle ficou sério, e a mão descansando no ombro de Xena se apertou. “O que você é… para mim… não tem preço.” Uma pausa. “E a luz dourada que você preenche minha alma vale mais para mim do que todas as riquezas do Monte Olimpo.”

Xena não respondeu, apenas ficou ali em silêncio, olhando para ela por uma eternidade, ali na luz da lua enevoada, nas sombras de uma tocha tremeluzente. Com o cheiro úmido da terra subindo ao redor delas, e o leve aroma das doces flores de jasmim no ar.

Finalmente, ela balançou a cabeça e deixou os dedos roçarem o rosto de Gabrielle. “Sabe…”, em voz muito suave. “Você é a única coisa em toda a minha vida da qual não tenho arrependimentos.” Observando enquanto os olhos da barda se fechavam e lágrimas suaves e silenciosas umedeciam o macio rosto dela. “Ei…” Ela envolveu um braço em torno dos ombros de Gabrielle e acariciou sua manga acolchoada. “Aqui… tecido macio e confortável.”

A barda se aconchegou feliz, enrolando-se em torno da forma relaxada de Xena e enterrando a cabeça no ombro quente da guerreira.

“Sabe, todo mundo provavelmente está nos observando”, comentou Xena, deixando o queixo descansar na cabeça de Gabrielle e fechando os olhos.

“Deixe-os”, murmurou a barda. “Eu não me importo.”

Uma sobrancelha arqueada de Xena, que considerou por um momento, então deu de ombros levemente. “OK.” Ela riu suavemente. “Lembro-me de você mencionar algo sobre um banho quente…?” Ela esfregou levemente as costas de Gabrielle com a ponta dos dedos. “Hmm?”

“Significa que tenho que me mexer”, protestou Gabrielle, apertando mais sua posição.

A guerreira sorriu silenciosamente para si mesma. “Não”, sussurrou, então mordeu o lábio para conter um riso e envolveu os braços ao redor da barda, levantando-se e segurando-a.

“Awn”, protestou Gabrielle. “Xena… o que você está fazendo?”

“Apenas se segure”, veio a resposta. “Você disse que não queria se mexer, certo? Então…” Ela recuou e estudou o entorno. Estou louca por tentar isso. É oficial. Ex-senhora da guerra perde a cabeça, tenta acrobacias estúpidas sem motivo… ah. Ela avistou uma pilha de caixas do lado de fora da estalagem e se aproximou delas, aumentando a velocidade conforme se aproximava e saltou, pousando na primeira com um pequeno pulo.

“Ei!”, sussurrou Gabrielle, agarrando-se firmemente ao pescoço de Xena. “O que diabos você está fazendo?”

Xena sorriu. “Bem, navegar aquelas escadas estreitas lá dentro simplesmente não vai funcionar… então pensei em tentar a janela…” Ela olhou para a abertura do segundo andar. “Se segure firme.”

“Xena… me coloque no chão… eu posso andar… eu estava apenas brincando”, observou a barda, começando a afrouxar seu aperto.

A guerreira a olhou. “Não confia em mim?” Em um tom brincalhão, e sem soltá-la.

Os olhos verdes a buscaram. “Não seja boba. Você sabe que confio… mas não há necessidade de você…”

“Então segure firme”, interrompeu Xena. “E fique quieta por um minuto.” Ela planejou sua rota e se moveu suavemente de uma caixa para outra. Se eu perder o equilíbrio e cair, isso vai ser registrado como a coisa mais estúpida que já tentei. Ela pulou da pilha de caixas para o alpendre baixo e sentiu a madeira resistente flexionar sob seus pés. O telhado superior que levava à janela estava a uma distância de um comprimento de seu corpo, e cerca de metade disso mais alto. Uma ideia completamente insana se apresentou, nascida da sensação elástica da madeira sob suas botas.

“O que você está pensando?” Gabrielle perguntou, afrouxando uma mão e alcançando para escovar seu cabelo escuro para trás dos olhos. “Você tem uma expressão realmente estranha no rosto.”

Xena sentiu um sorriso selvagem se formando. “Agora… um último salto, minha barda… segure firme.” E sentiu as mãos de Gabrielle apertarem nela. “Bom.”

Deu dois passos largos e então saltou para cima, aterrissando e deixando seu agachamento aprofundar, liberando toda a energia de flexão da madeira. Então ela se lançou para fora da beira do alpendre, e os lançou para frente e para cima com toda a força de suas pernas muito fortes.

“Whoa!” Gabrielle ofegou, os olhos se arregalando quando sentiu o corpo de Xena se encolher e rolar, virando-os em um giro preguiçoso no ar. Uma risada borbulhante escapou de seus lábios enquanto assistia ao mundo girar sob ela em um borrão, e então ela estava de cabeça para cima novamente quando as botas de Xena atingiram o telhado e ela se endireitou. “Uau!” Ela respirou. “Isso foi incrível!!”

Xena sorriu e deu um passo à frente, atravessando a abertura da janela e descendo para o quarto. “Você gostou disso, né?” Irracionalmente satisfeita consigo mesma, ela pulou na cama, ainda segurando a barda e meio que caiu, meio que se esparramou para trás, finalmente afrouxando sua aderência.

“Oh, sim”, Gabrielle riu de deleite. “Eu nunca soube que era assim… não é de admirar que você goste de praticar isso.” Ela fez uma pausa. “Mas foi uma coisa meio maluca para você fazer, não foi?”

“Sim”, Xena admitiu, dando-lhe um sorriso envergonhado. “Eu… eu não sei o que deu em mim.” E sentiu uma calorosa e inesperada exultação. Bom, eu sei… é essa coisa completamente impossível, maravilhosa, ridícula, completamente entorpecente de estar apaixonada. Deuses. Não posso acreditar que me sinto assim… como uma criança. E estou agindo assim também.

Gabrielle deu-lhe um sorriso lento e repousou a cabeça na barriga da guerreira, deixando seus dedos brincarem com as fivelas costuradas no tecido. “Eu adorei.” Ela fechou os olhos e sorriu. “Eu te amo.” Ela sentiu um bocejo chegando e relaxou nele, esticando-se e envolvendo os braços de forma segura ao redor de Xena.

A leve risada escapou da guerreira observadora. “Também te amo”, suspirou Xena, enrolando os dedos nos suaves cabelos avermelhados derramados sobre seu peito. “Quer se juntar a mim em um bom banho quente?”

Gabrielle sentiu o sono puxando-a e debateu brevemente. “Só se você não deixar eu dormir lá dentro…” Ela sorriu. “Estou um pouco cansada.” Outro bocejo. “Hmm… travesseiro agradável”, ela balançou a cabeça gentilmente na superfície plana. “Um pouco duro, porém.”

Xena riu. “Vamos lá… ou eu tenho que te carregar até lá também?” Seu rosto se relaxou em um sorriso fácil.

“Estou indo…” suspirou a barda, levantando-se e passando a mão pelos cabelos enquanto caminhava até onde estavam suas roupas e tirava duas toalhas de linho. Ela se virou e entregou uma para Xena, que havia se aproximado por trás e estava apoiando os antebraços nos ombros de Gabrielle. “Vamos…”

Elas caminharam pelo corredor, tentando ser silenciosas na hora tardia, quando apenas os sons mais sutis vinham do andar de baixo da estalagem, um rangido de madeira enquanto uma mesa se acomodava; o correr de ratos; e o leve tilintar de louça sendo lavada enquanto os serviçais limpavam após uma longa noite de trabalho.

“Shh.” Xena advertiu, enquanto levantava o cabo do balde e içava dois baldes cheios de água quente do reservatório, que corria contra a lareira, mantendo a água aquecida. Ela os carregou e Gabrielle silenciosamente os despejou na banheira. Elas repetiram isso várias vezes, até que o nível estivesse alto o suficiente para cobri-las.

Gabrielle sorriu, enquanto descartava sua saia e blusa e se aproximava da água, só para ser interrompida por uma Xena preguiçosamente sorridente. “Ah… temos que ter cuidado. Não queremos que você escorregue.” Veio o comentário risonho, enquanto ela levantava a barda e a abaixava gentilmente na água, parando no meio do caminho para encontrar seus lábios em um longo beijo.

“Ah, garota…” murmurou Gabrielle, enquanto se separavam, e Xena recuava para tirar suas roupas acolchoadas. Um sorriso se espalhou em seu rosto ao ver a guerreira casualmente colocar as mãos na borda da banheira e pressionar seu corpo para cima e sobre ela, se abaixando na água logo atrás de onde Gabrielle estava sentada. “Você gosta de se exibir, não é?” Ela riu.

“Quem, eu?” veio a resposta confusa. “Do que você está falando?” E o fresco e afiado cheiro de sabão herbal flutuou sobre o ombro de Gabrielle enquanto sentia as mãos de Xena deslizando por suas costas. “Eu só estava entrando na água, Gabrielle – você preferiria se eu mergulhasse de cabeça?”

A barda soltou uma risada. “Isso teria doído.” Ela sorriu e simplesmente se deixou relaxar sob os efeitos da água morna, o cheiro limpo das ervas e a presença de Xena. Sentiu o suave traçar de um dedo subindo pela parte de trás do pescoço da barda, o que lhe causou arrepios. Ela fechou os olhos e recostou-se contra o corpo quente de Xena, rindo das suaves cócegas que a guerreira lhe proporcionava ao envolvê-la mais perto. “Hmm…” ela murmurou, inclinando a cabeça para trás e sentindo os lábios de Xena nos seus.

Elas alternaram rapidamente entre brigas de respingos abafadas e longos períodos de exploração, então demorou uma eternidade, mas ambas finalmente estavam limpas. Xena se levantou, pulando sobre a borda da banheira, e se sacudiu com entusiasmo, então se virou para encarar a barda, colocando as mãos nos quadris. “E então? Você quer tentar pular para aquele lado, ou quer que eu continue me exibindo mais um pouco?”

Gabrielle se levantou e colocou as mãos levemente na borda da banheira, observando sua parceira com franca admiração. “Oh, mostra tudo, por favor”, respondeu animadamente. Sair desta banheira quando você tem minha altura seria embaraçoso, no mínimo, e ela sabe disso.

“Uh huh.” Xena concordou ironicamente. “Pensei que sim.” Ela se aproximou e esperou até que Gabrielle levantasse os braços e os deixasse descansar nos ombros largos da guerreira. Então ela estendeu a mão e segurou a cintura da barda, dando um passo para trás e levantando em um movimento suave, girando-a por cima da parede alta e a colocando gentilmente no chão. “Aqui está.” Ela entregou-lhe uma toalha de linho. “Aqui…” Pegando a ponta dela e secando cuidadosamente as orelhas e a cabeça da barda. “Não quero que você pegue um resfriado.”

Então.. Gabrielle pensou sonhadoramente consigo mesma Se fosse qualquer outra pessoa me falando dessa maneira condescendente, eu… é, então por que isso simplesmente me derrete vindo dela? Costumava me chatear quando ela me tratava como uma criança.. agora.. oh deuses.. é possível sentir-se tão fortemente por algo.. alguém.. e sobreviver a isso? Espero que sim. “Obrigada, mãe”, ela provocou, seus olhos verdes cintilando. E recebeu uma sobrancelha erguida e um beliscão na barriga. Ela riu.

“Cuidado, barda”, veio o rosnado de advertência. Com um leve estalo da toalha para enfatizar. Ambas riram e, enrolando o linho em volta de si mesmas, voltaram silenciosamente para o quarto.

“Roo.” Ares bufou assim que as viu, se aproximando e agarrando a ponta do manto de linho de Gabrielle e dando-lhe um puxão vigoroso. “Ei!” A barda protestou, rindo. “Este negócio já é pequeno o suficiente, Ares, para com isso!”

Xena observou com um sorriso enquanto trocava seu manto por uma camisa macia e se aproximava ociosamente da janela, olhando para fora. Ela avistou duas figuras sombrias observando a janela e ficou muito quieta, percebendo como estava delineada pela fraca luz de dentro do quarto. Droga… Seus olhos se esforçaram contra a escuridão que se estabelecia, tentando distinguir detalhes das duas testemunhas silenciosas. Homens, sim.. de altura média, pelo porte de seus corpos, mais velhos.. um deles era Metrus, ela percebeu, comparando sua silhueta robusta com sua memória. O outro… seus olhos se estreitaram. Heródoto.

“O quê?” A voz de Gabrielle veio de trás dela, e Xena automaticamente estendeu um braço para impedir que a barda se aproximasse da janela. “Xena?”

“Fique para trás”, murmurou Xena, em um tom baixo. “Temos alguns espectadores interessados.” Ela se endireitou e colocou uma mão negligente contra a beirada da janela, encarando-os sem constrangimento. “Metrus e seu pai”, informou à barda. Sentiu uma leve mão contra suas costas enquanto Gabrielle ignorava o braço de aviso e se juntava a ela na abertura da janela, acomodando-se ao lado de Xena e envolvendo um braço ao redor dela. Xena hesitou, então deixou seus lábios formarem um sorriso e circulou os ombros de Gabrielle, puxando-a para perto. “Era isso que você queria que eles vissem?”, sussurrou, enquanto observavam os dois homens virarem nos calcanhares e se dissolverem na escuridão.

“Sim”, veio a resposta tranquilamente contente de Gabrielle.

“Isso não vai facilitar amanhã”, comentou Xena, uma leve preocupação franzindo sua testa e escurecendo seu rosto.

“Eu sei”, respondeu a barda, brevemente. “Xena.. eu.. eu decidi que não gosto de ter medo.” Ela estudou o rosto sombreado acima dela. “Isso faz algo… urgh.. comigo por dentro que eu simplesmente não quero lidar.”

“Todos nós temos medo às vezes, Gabrielle”, respondeu Xena, olhando de volta.

“Não assim”, veio a resposta séria. “Não desse tipo, que faz você esquecer quem você é e o que você fez. Eu não gosto disso. Eu não quero que isso faça parte de mim. Estou fugindo disso há dois anos, Xena. E agora não vou mais fugir.”

Xena a estudou por um longo momento. Então assentiu lentamente. “Tudo bem. Eu entendo o que você está dizendo, Gabrielle.” Ela deu um sorriso para a barda. “Estarei bem ao seu lado.” Uma pausa. “Sua coragem sempre me surpreende, minha barda.”

Agora Gabrielle sorriu e riu um pouco. “Não deveria… vem de você.” Ela deu um empurrão gentil na surpresa Xena. “Vamos lá… estou prestes a desmaiar de tão cansada.”

Mas levou muito tempo para ela encontrar o sono naquela noite, e por um espaço intemporal ela descansou silenciosamente nos braços de Xena, sentindo o batimento cardíaco constante sob sua orelha e o calor suave de sua respiração contra o topo de sua cabeça. Todos nós temos que dar esse passo final às vezes.. ela refletiu. Quando deixamos de ser crianças e nos tornamos adultos.. as coisas mudam. Eu tive muito tempo para me preparar para isso.. afinal, quando Xena enfrentou isso? Quando ela tinha.. o que… 15 anos? Acho que não poderia ter feito o que ela fez. Não naquela época… porque eu ainda não a tinha conhecido.. e ela não tinha me ensinado a dominar o que há dentro de mim. Agora.. ela fez. E é um presente que ela nunca suspeitaria que me deu. Preguiçosamente, ela deixou seus olhos se abrirem, e estudou os traços esculpidos acima dela. Então ela sorriu, e deixou seus lábios roçarem a linha do maxilar bronzeado. Obrigada, minha amiga. Por tudo o que você é. E tudo o que você me ajudou a me tornar. Então seus olhos se fecharam, e ela respirou fundo, e mergulhou no sono.

Sem ver o brilho da luz fraca da vela contra um par de olhos azuis que observavam sua forma adormecida com gentil compreensão. Então eles se fecharam para dormir também.

Xena abriu um olho e fez uma rápida verificação do quarto. Silêncio. Isso era bom. Escuro. Ainda melhor, porque significava que ela não tinha motivo para se mexer ainda. Quente – pelo menos ela estava, apesar da brisa fresca entrando pela janela aberta, já que tinha Gabrielle aconchegada junto a ela como uma lapinha do mar. No geral, uma boa maneira de acordar. Como se eu realmente achasse que vou me levantar agora… é, claro. Sua mente zombava dela levemente. Ah, não… Eu não conseguiria me desvencilhar dos braços dela nem se houvesse um incêndio na próxima sala. Meu corpo decidiu que gosta disso demais.

Ela esticou um pouco as costas e sentiu Ares se enrolar ainda mais atrás de seus joelhos. Você não está ajudando… rosnou mentalmente para o filhote, que ergueu a cabeça, piscando sonolento para ela, e bocejou, depois se esticou e se enrolou novamente, soltando um suspiro quente que fez cócegas na parte de trás de sua perna e fez a guerreira morder o lábio para não rir.

“O que há de engraçado?” Veio um murmúrio sonolento de justamente sob sua mandíbula.

Xena olhou para baixo e encontrou os olhos verdes meio abertos observando-a. “Oh… oi. Desculpe… nada está engraçado. Eu estava apenas…” Ela pausou quando sentiu a mão de Gabrielle deslizar sob sua camisa e repousar contra sua pele. “Uhmm.”

“Senti você rindo”, comentou a barda, cutucando-a um pouco.

“Ares… fez uma careta. Foi meio fofo.” A guerreira respondeu casualmente.

Ouvindo seu nome, o filhote acordou novamente, erguendo a cabeça e olhando para eles. “Roo?” Ele questionou, depois abaixou novamente, encostando o focinho na perna de Xena.

Ah, deuses... ela apertou firmemente a sensação de cócegas, forçando-se a permanecer relaxada e não reagir. Então ela sentiu ele começar a lamber e suspirou. “Ares, para com isso.”

Gabrielle se ergueu em um cotovelo para ter uma melhor visão do animal. “Aww… isso é tão fofo…” Ela riu, então viu os músculos saltarem na perna de Xena e olhou para o rosto dela. “Ei… ele está te fazendo cócegas, não está!” Um sorriso demoníaco cruzou seu rosto. “Eu sabia…” Ouvindo a praga murmurada sob a respiração de Xena, que era sua própria resposta.

“Hehh…” Gabrielle riu e deslizou a mão pela perna de Xena até estar em posição para substituir a língua diligente de Ares.

“Gabrielle.” Xena ergueu uma sobrancelha de advertência. “Cuidado com o que você começa aqui…”

“Ok… eu vou.” A barda sorriu e começou com um toque suave como uma pluma que arrancou um guincho de sua parceira, e progrediu até que Xena estivesse sacudindo de tanto rir e simplesmente não pudesse mais aguentar, esticando um longo braço para retribuir. “Whoa!” Gabrielle gritou, tentando se esquivar. Acabaram em uma bola sem fôlego, enroscados enquanto cada uma tentava evitar que a outra alcançasse pontos sensíveis.

“Deuses.” Xena finalmente suspirou, virando-se e deitando de costas, braços esticados. “Essa é uma maneira de acordar.” Mas para sua total repugnância, seu corpo estava se rebelando contra o pensamento, preferindo ficar exatamente onde estava e querendo a presença calorosa da barda junto a ele.

“Estamos levantando?” Gabrielle perguntou, inocentemente, enquanto se movia para o lado e colocava a cabeça no ombro de Xena, moldando seu corpo ao lado da guerreira, e começava a traçar padrões reconfortantes em sua barriga. “Ainda está escuro lá fora… não tem realmente nada para ver…” Ela sentiu Xena respirar fundo e soltar o ar, e com isso, os músculos sob suas mãos relaxaram. “Bem quentinho aqui…” Ela espiou para cima, no rosto de sua parceira, encantada ao ver seus olhos quase fechados já. “Ahh… isso é melhor.” Fechando os olhos e mantendo seus traçados suaves. “Isso realmente te faz apagar como um bebê, não é?”

Xena assentiu sonolenta. “Hmm.” Ela murmurou. “Desse jeito…” Sua voz se perdeu enquanto ela cedia e deixava o sono levá-la.

Gabrielle riu baixinho para si mesma, enquanto fechava os olhos novamente.

————-

“Você está pronta?” Xena perguntou, olhando para cima enquanto ajustava sua manopla e estudava o rosto tenso de Gabrielle pensativamente. “Gabrielle?”

“Hmm?” A barda olhou para cima e deu um sorriso rápido para Xena. “Ah… sim. Estou pronta…”

Xena inclinou a cabeça e se aproximou um pouco. “Você está bem?”

“Estou bem… sem problemas.” Gabrielle respondeu, levantando-se da cadeira e respirando fundo.

“Uh huh. Você está mentindo.” Veio a resposta conhecedora, que a irritou.

“Ei… eu disse que estou bem… não se aproveite desse laço, OK?” Dito de brincadeira, mas as palavras saíram, e ela percebeu como soaram tarde demais. “Deuses… Desculpa… Eu não quis dizer isso.”

Xena a observou por um momento e se sentiu um pouco triste. “Na verdade, Gabrielle, eu baseei essa afirmação no fato de que você não tocou no seu café da manhã.” Ela respondeu, quietamente. “Desculpe.”

“Não.” A barda encostou a cabeça no ombro alto de Xena. “Você está certa. Estou com medo até a morte. Não deveria tentar esconder isso de você, de todas as pessoas.” E sentiu Xena beijar o topo de sua cabeça e dar uma esfregada firme em suas costas.

“É muito para se acostumar.” A guerreira admitiu. “Eu realmente quero fazer algumas perguntas para Jessan sobre tudo isso… em vez de descobrir por tentativa e erro.”

Gabrielle assentiu. “Sim… mas enquanto isso, tenho um trabalho para fazer aqui. Então… é melhor eu ir logo fazer isso.” Ela endireitou os ombros e olhou nos olhos de Xena. Olhos… realmente… que, ocorreu-lhe pela milésima vez, eram a cor mais bonita de azul em todo o mundo. Saia dessa, Gabrielle. Meu Deus. Coloque a cabeça no lugar aqui. “Me acompanha?”

Xena ergueu uma sobrancelha muito expressiva. “Vou te acompanhar e ficar bem do lado de fora, minha amiga.” Ela colocou uma mão no ombro de Gabrielle e a guiou em direção à porta.

“Oh…” A barda sorriu. “É por isso que estamos em modo de intimidação total?” Ela lançou um olhar sobre as armaduras e couro de Xena, e o conjunto completo de armas que ela tinha presas. “Sua mãe estava certa… você parece maior com todas essas coisas. Até parece mais alta.”

Conseguiu levantar ambas as sobrancelhas com essa. “Se você diz.”

Eles desceram as escadas e saíram pela porta da estalagem, atravessando o pátio e seguindo pelo caminho em silêncio.

Heródoto encarava sombriamente o pote de cereal à sua frente, enfiando a colher e engolindo mais um bocado com o estômago revoltado. Essa era a pior parte de beber… e por isso ele muitas vezes seguia uma noite longa com um café da manhã líquido. Mas estavam sem bebida prontamente disponível… então ele estava preso com sua dor de cabeça e essa tigela.

A casa estava em silêncio… Hécuba sabia muito bem que não devia fazer barulho quando ele estava assim. Seus lábios se torceram ironicamente. Ela o conhecia muito bem… e especialmente depois da breve visita de Agtes, que devolveu seus dinheiros e disse a ele que de jeito nenhum, de forma alguma, ele iria tentar assustar mais nenhuma maldita mulher que pudesse fazer o que aquela mulher fez. De jeito nenhum.

E depois de apoiar sua cabeça embriagada contra a parede áspera da estalagem e observar pela janela embaçada na noite passada… ele nem conseguia encontrar em seu coração como desprezar Agtes. Droga. E ele tinha perdido sua filha para ela… isso era claramente nojento, mesmo que ele e Metrus não tivessem visto o abraço bastante deliberado que as duas compartilharam, destacado ali na janela. Droga.

Ele a odiava. Odiava o que ela tinha e ele não.

Sua cabeça se ergueu quando ouviu passos do lado de fora. Um par mais leve, outro mais pesado. O mais pesado parou do lado de fora da porta, e apenas o par mais leve continuou subindo os degraus, parando do lado de fora da porta.

Ele esperou e viu a porta se abrir lentamente, deixando um brilho de luz solar na sala, que foi bloqueado por um corpo entrando, e depois desapareceu quando a porta foi fechada. Ele piscou para se livrar da imagem residual em seus olhos e esperou até que a forma indistinta que se movia em sua direção se resolvesse em sua filha mais velha.

Hera… sua mente divagou. Ela cresceu, não é mesmo… Havia uma graça e uma segurança em seus movimentos que não tinham nada de infantil, e seu top e saia breves deixavam muito pouco para a imaginação dele, expondo uma agilidade muscular que o surpreendeu, agora que ele a via de uma nova perspectiva.

Gabrielle atravessou a sala e parou quando chegou à mesa, apoiando os antebraços no encosto da cadeira mais próxima e olhando para baixo para ele.

“Você deixou seu animal de estimação do lado de fora?” Ele perguntou, com uma voz suavemente humorística. Observando sua reação. E isso o surpreendeu.

Ela sorriu e balançou a cabeça. “Ela provavelmente está falando com a mãe.” Uma pausa, então suavemente. “Verificando o braço dela.”

Seus olhos estreitaram ligeiramente. “Pelo seu pequeno espetáculo de ontem à noite, suponho que você tenha decidido nos abandonar. Estou certo?”

Gabrielle puxou a cadeira à sua frente e sentou-se, cruzando os braços sobre a mesa e estudando-o. “Você teve algo a ver com o que aconteceu no estábulo?” Direta e fria, e seus olhos se trancaram nos dele com uma intensidade inquieta.

Heródoto deu de ombros e recostou-se. “Eu queria você livre da influência dela ao tomar sua… decisão.” Ele brincou com sua colher um pouco. “Esforço desperdiçado, vejo.”

“Eu não quero estar livre da influência dela.” Gabrielle respondeu, respirando fundo e olhando para baixo. “Desculpe, pai. Eu não posso mudar quem você é. E eu não vou ficar aqui e ser apenas mais um…” ela pausou por muito tempo “alvo.” Sua voz ficou rouca na palavra. “Você é quem tem que tomar uma decisão… de ser diferente.”

Eles se encararam por um longo tempo, com os sons fracos da casa ao redor deles, em sincronia com as partículas de poeira flutuando na luz filtrada pálida que entrava pelas janelas embaçadas.

“Depois do casamento amanhã.” Heródoto finalmente disse, seu tom frio e breve. “Eu quero você e sua… amiga… fora daqui. Eu não te conheço. Você não é minha filha.” Ele pausou, observando suas palavras atingirem ela como pedras, e apreciando a vista. “Você não é bem-vinda aqui. Não é mais sua casa.” E ele se levantou, empurrando sua cadeira para trás, e saiu da sala.

Gabrielle sentou-se, encarando suas mãos por um tempo que parecia uma eternidade, lutando contra ondas de lágrimas que ameaçavam dominá-la. Determinada a não desmoronar. Foi minha decisão… Eu sabia que isso poderia acontecer, certo? Certo. Oh deuses.

Ela olhou para cima quando sua mãe entrou, com passos hesitantes. “Isso vale para você também?” Ela forçou as palavras para fora, controlando firmemente a voz. Melhor saber o pior agora.

Hécuba suspirou e afundou na cadeira ao lado dela, estendendo a mão e colocando-a sobre os nós rigidamente apertados de sua filha. “É a casa dele, e ele estabelece as regras para ela.” Ela tocou suavemente a bochecha de Gabrielle. “Mas você sempre será minha filha… não importa o que aconteça.”

Gabrielle engoliu em seco. “Obrigada.” Ela sussurrou, sem olhar para cima.

Hécuba ficou em silêncio por um tempo, depois suspirou. Pensando na conversa que acabara de ter lá fora e no que havia visto na noite passada. “Gabrielle, ela realmente vale a pena…”

“Eu não posso viver sem ela.” Veio a resposta tranquila. “Isso me despedaçaria em tantos pedaços que eu nunca…” Seus olhos se fecharam e ela deixou sua cabeça cair nas mãos. “Você não quereria o que restasse.”

Hécuba a observou em contemplação silenciosa. “Eu senti isso uma vez.” Ela comentou, observando suas mãos brincando ociosamente com a colher que Heródoto havia deixado. “Quando eu era muito jovem.” Ela suspirou. “Mas meus pais tinham planos diferentes para mim. E os dele para ele.” Ela pausou pensativamente. “Muitas vezes… a vida nos trata com dureza, Gabrielle… você tem que aproveitar as coisas boas quando as encontra. Você e sua irmã… têm sido coisas boas para mim. O resto…” Ela deu de ombros.

“Você o ama?” Gabrielle apoiou o queixo nas mãos dobradas e encontrou os olhos de Hécuba.

“Sim.” Veio a resposta direta. “Mas não é como seria com Berran. Ou como é para você.” Ela se inclinou para a frente. “Não desista disso, Gabrielle.”

Gabrielle se levantou, apoiando as mãos na mesa. “Nunca.” Além da morte, além do bom senso, além da compreensão. “Eu preciso sair daqui.” Ela tentou ignorar a dolorosa pulsação em sua cabeça, que estava piorando a cada minuto. “Diga a Lila…”

“Eu vou fazer ela vir conversar com você.” Hécuba a assegurou, dando um tapinha em seu braço. “Vá tomar um pouco de ar fresco… você está branca como um lençol.”

Gabrielle assentiu e atravessou o quarto, abrindo a porta e piscando diante da luz forte depois da penumbra interior. Levou vários momentos de piscar até sua visão se ajustar, e até então uma presença familiar estava ao seu lado.

“Você ouviu?” A barda perguntou.

“Sim.” Respondeu Xena, com um suspiro.

“Tudo?” Veio a resposta suave. Sabendo da aguçada audição dela.

“Sim.” Uma resposta quase inaudível.

“Ótimo.” E Gabrielle deu um suspiro profundo e endireitou os ombros. “Podemos ir… a algum lugar. Minha cabeça está prestes a explodir.”

“Gabrielle…” Xena começou, então parou quando a barda virou e colocou uma mão nos lábios dela.

“Não, tá?” Ela se inclinou para frente e colocou as mãos planas no peitoral blindado de Xena, e olhou nos olhos dela. “Isso deixou de ser minha casa há dois anos.”

Xena respirou fundo e acariciou sua bochecha. “Tudo bem. Vamos lá… deixe-me ver se consigo retribuir o favor que você fez por mim ontem.”

“Shh.. cuidado.” Xena disse, colocando uma mão calmante na cabeça de Gabrielle. “Você está com uma enxaqueca, Gabrielle. É um tipo muito ruim de dor de cabeça.”

Tudo começou com um súbito estreitamento de sua visão, na volta para a estalagem, e náuseas, que rapidamente se transformaram em uma série de vômitos secos que a deixaram tremendo nos braços de Xena. “Oh deuses…” ela gemeu. “Isso é pior do que ficar enjoada.”

“Uhm… sim, na verdade… acho que é.” A guerreira concordou com pesar. “Sorte sua não ter tomado café da manhã afinal.”

“Obrigada.” Veio o murmúrio sarcástico. “Você é tão reconfortante.”

Xena recostou-se na parede e puxou a barda para o colo, embalando-a em um ombro. Ela enxaguou um pano de linho em um balde de água fria, espremeu-o quase seco e então o segurou contra a cabeça de Gabrielle, sentindo a barda relaxar contra ela.

“Eu não quis dizer isso.” Gabrielle murmurou, fechando os olhos.

“Dizer o quê?” Xena perguntou, mudando ligeiramente de posição.

“Que você não é reconfortante.” ela respondeu. “Se eu tiver que me sentir como no Hades, é aqui que eu quero fazer isso.”

A guerreira sorriu e enxaguou o pano novamente. “Prefiro que você não se sinta assim.”

“Ugh.” Gabrielle resmungou. “Você já teve isso?” Mantendo os olhos fechados enquanto levava a xícara que Xena tinha preparado até os lábios e tomava um gole. “Bleh… Xena, isso é horrível.”

“Eu sei que é horrível.” Xena suspirou. “E sim, às vezes eu tenho.”

Gabrielle tomou o restante da mistura com uma careta. “Você nunca disse…” ela inclinou a cabeça para cima e olhou para sua parceira. “Você só segue em frente. Como sempre.”

Xena deu de ombros e colocou o pano fresco no lugar. “É essa coisa de guerreira durona, nunca admitir quando está machucada, eu acho.” E eu tenho o suficiente de bom senso para apenas tomar a mistura maldita sem fazer caretas sobre isso.

Gabrielle fechou os olhos e sentiu um fraco sorriso cruzar seu rosto enquanto a intensa dor diminuía um pouco e ela sentia uma onda de sonolência se aproximar. “Seja lá o que foi, está funcionando…” Ela murmurou, colocando a xícara de lado e sentindo a tensão deixar seu corpo enquanto ficava mole contra o peito de Xena, coberto de armadura.

A guerreira esperou alguns minutos, afastando distraída o cabelo dos olhos fechados da barda, então a pegou e atravessou até a cama, colocando-a gentilmente. E ficou ao lado dela, por um momento intemporal, apenas observando sua respiração constante. Ela disse para sua mãe… que não poderia viver sem mim. Eu pensei… eu sei como me sinto.. mas eu nunca.. eu não mereço isso. Ela tocou suavemente a bochecha macia da barda, e um leve sorriso apareceu no rosto adormecido. O rosto de Xena refletiu o sorriso, então ela suspirou e deu um passo para trás, puxando uma leve coberta sobre o corpo de sua parceira. E por um longo momento, quase se juntou a ela. Xena, pare com isso. Ela tem uma desculpa, você não. Então se mova e faça o que precisa ser feito.

Ela se dirigiu ao estábulo, ignorando os bufos repreensivos de Argo. Levou a égua para um longo e minucioso passeio, atravessando campos aparados e à beira da antiga floresta que cercava Potadeia. Galopou até que Argo suasse, então diminuiu o ritmo enquanto seguia pelo vale do rio, parando numa colina com vista para o curso d’água, relaxando na sela.

Aproveitou a brisa fresca que afastava os cabelos escuros de sua testa e chicoteava a crina de Argo contra seus braços, apoiados no arção da sela. O vento trazia consigo o aroma do rio e das terras férteis banhadas pelo sol em ambos os lados, com um toque distante de fumaça de madeira. ‘Ei, garota’, murmurou para a égua que pastava entusiasticamente, desfrutando da grama fresca do rio após dias de feno seco no estábulo. “Você gosta disso, huh?”

Ela colocou as mãos no arção da sela e saltou, deixando as rédeas de Argo soltas enquanto caminhava pela grama até a beira da água em movimento. Envolveu os braços ao redor dos joelhos e deixou o som tranquilo envolvê-la, acompanhando as ondulações de calor que emanavam de seu interior. Pensava em quanto sua vida tinha mudado em dois curtos anos, em como uma pessoa tinha feito toda a diferença. Posso simplesmente sentar aqui… e apreciar a vista deste vale… e pela primeira vez desde que mal era velha o suficiente para pensar, estou começando a imaginar um… amanhã. Mesmo que todos os meus instintos estejam me dizendo que é uma má ideia… Não consigo evitar… droga… eu quero que haja um amanhã. Sorriu para si mesma e pegou uma pequena pedra perto de sua bota, estudando sua superfície plana por um momento, então a arremessou lateralmente, fazendo-a saltar habilmente pela superfície da água antes de finalmente afundar com um splash. Acho que ainda tenho uma de minhas muitas habilidades, zombou levemente de si mesma. É isso aí, Xena… aprenda a não se levar tão a sério. Um sorriso se formou em seus lábios, e ela estava prestes a pegar outra pedra quando seus ouvidos captaram um passo errante atrás dela.

Ela ficou quieta e focou seus sentidos naquela direção, agora ouvindo o som da respiração ofegante, e mãos quebrando folhas, pés pisoteando arbustos que significavam que quem quer que fosse provavelmente não poderia se aproximar sorrateiramente de um coelho morto, muito menos dela. Ela esperou e observou com interesse enquanto os pelos claros em seus braços se erguiam em resposta à detecção de perigo pelo seu corpo.

Aproximando-se agora, perto da borda das árvores, e agora o seguidor parou e olhou para onde ela estava sentada.

Ouviu o inconfundível rangido de um mecanismo de besta e amaldiçoou-se profundamente, enquanto se levantava e virava em um movimento suave para enfrentar seu atacante, colocando as mãos nos quadris e sua melhor carranca no rosto.

“Heródoto. Que surpresa.” Ela suspirou, observando-o congelar ao vê-la olhando para ele. “Vai em frente. Faça o seu melhor.” Ela abriu os braços largamente e esperou. “Ou só consegue acertar crianças e atirar nas pessoas pelas costas?” Sua voz assumiu um desprezo rosnante.

Heródoto a estudou por um longo momento, então levantou o cano da besta e a segurou nos braços. “Maldita seja você até o Tártaro.” Ele disse, em voz baixa.

“Já estive lá. Risque da lista.” Xena respondeu, abaixando os braços e avançando alguns passos. Até conseguir distinguir seu rosto, nas sombras das árvores. E viu, em um breve instante trêmulo, um lampejo de memória que correspondia à expressão em seus olhos. De uma Gabrielle muito diferente, em uma realidade onde ela não tinha impedido aqueles escravagistas, com uma expressão de ódio ressentido que ela sabia… estava direcionado tanto para dentro quanto para fora. “Você já não fez o suficiente para machucar hoje?”

“O que você sabe disso, maldita seja?” Ele disse, se aproximando. “Você acha que eu gostei disso? Eu não gostei. Mas era a única coisa que eu conseguia pensar que talvez… talvez a fizesse enxergar isso direito e fazer a coisa certa.”

Xena o estudou pensativamente. “O que te faz pensar que ela não fez isso?”

“Você vai acabar matando ela. É isso que você quer?” O homem mais velho disse. “Você sabe que é verdade, Xena. Ela já foi machucada… por que você não pode simplesmente deixá-la em paz? O que seria necessário… você precisa de dinheiro, cavalos, o quê?”

Então. Ele é um tagarela, assim como ela. Agora eu sei de onde ela herdou isso. “E eu supostamente devo acreditar que você está fazendo isso porque se importa com ela, é isso?” Ela sentia a raiva borbulhando e crescendo dentro de si. “Só me explique como. Como você espera que eu acredite que se importa com ela quando tem espancado essa menina desde que ela era uma criança? Me explique porque uma criança brilhante e inocente teve que passar pelo que passou e talvez eu e você possamos conversar sobre os tipos de perigos que ela realmente corre comigo. Seus olhos estavam faiscando e ela sabia disso. Por dias assistiu sua alma gêmea sofrer fez toda a raiva acertar o meio de sua testa.

Heródoto a encarou por um longo período sombrio. “Porque ela tinha algo que eu não podia mais ter. E eu estava condenado a apenas assistir isso.” Ele se surpreendeu com uma resposta honesta.

Xena o olhou com compreensão gradual. “Você é um contador de histórias.”

Olhos verdes sem vida olharam de volta para ela. “Eu sou um fazendeiro.” Veio a resposta direta. “Costumava ver imagens, sim. Como ela fazia. Então descobri que se bebesse o suficiente, elas eventualmente sumiriam.” Ele fez uma pausa. “E elas sumiram.”

“Isso é o que teria acontecido com ela”, respondeu Xena, quietamente. “É isso que você realmente quer?”

O homem riu uma risada sem alegria. “O que eu quero? Eu quero alguém para cuidar de mim, para garantir que minha cabeça não esteja no chão no final da noite, e para me distrair de bater na minha esposa. O que você quer com ela.. ela cozinha bem?”

Xena perdeu as estribeiras e, antes que ele pudesse respirar novamente, ela estava sobre ele, sacudindo-o como um cachorro, fazendo-o soltar a besta com um golpe de seu punho. “Eu vou te ensinar como é ser uma criança, seu desgraçado.” Ela o ergueu pela frente de seu gibão e o segurou contra a árvore. “Você gosta disso?” Sua voz era suavemente sedosa. “E isso?” E o atingiu com as costas da mão como ele havia feito com Gabrielle. “Ou isso.” Levantando-o e jogando-o alguns metros para longe, para colidir com um toco de árvore.

Seus olhos embaçaram e ele permaneceu onde estava, de costas para o toco. “Não… se afaste.” Ele gaguejou, levantando uma mão para proteger o rosto.

“Oh, já teve o suficiente?” A voz de Xena sibilou. “Engraçado como os maiores covardes gostam de bater bastante, mas nunca conseguem aguentar.” Ela se agachou sobre ele e agarrou sua mandíbula, forçando-o a olhá-la nos olhos. “Escute aqui: Sua filha tem mais coragem em uma mão do que toda essa vila junta, entendeu? Ela é gentil, inteligente, é uma grande barda, é forte, e tem o direito de escolher o que vai fazer com a própria vida.” Seus olhos perfuraram Heródoto. “Mesmo que essa vida seja difícil, perigosa e possa levá-la à morte.” Sua voz baixou. “Mas é melhor você entender que eu morreria de bom grado para impedir isso.”

Eles se olharam nos olhos por um tempo que pareceu muito longo, até que Xena finalmente soltou sua mão e se levantou, virando as costas para ele e caminhando em direção a Argo. Sentindo mais do que ouvindo o movimento atrás dela. A vibração do ar contra a barriga, do ar sobre as penas, o estalo sibilante de um tiro de besta voando.

Virando-se em meio passo e deixando seu corpo reagir, enquanto suas mãos se levantavam para pegar os tiros… e então jogou eles no chão com desdém. Permitindo que seus olhos se tornassem frios. Deixando o lobo sair, enquanto ela voltava em direção a ele, apoiado no toco. Encarando-a.

Observando a alta guerreira se aproximar, cruzando da luz do sol para a sombra em um movimento manchado que dispersava brilhos de luz por ela, refletindo em sua armadura, e só parando quando ela se agachou e lhe deu um sorriso selvagem.

“Você deveria agradecer aos deuses por sua filha, Heródoto.” Sua voz o envolveu. “Porque se não fosse por ela, você estaria em muitos e muitos pedaços agora.” E ela pegou a besta, deu uma olhada nela, deu uma olhada nele, e então pegou a arma com ambas as mãos e com um creck a arma se partiu ao meio.

Ficou em silêncio e voltou para a paciente égua dourada, e desta vez montou sem incidentes. Um último olhar para o homem. Bem, eu realmente não o machuquei. Muito. Sua mente suspirou. Então, adeus para um passeio relaxante. “Vamos lá, garota. Vamos embora.” Ela tocou o flanco de Argo com um joelho gentil, e a égua se dirigiu obedientemente de volta pela floresta.

“Lila, que coincidência nos encontrarmos aqui.” Lila sorriu, enquanto ela e Xena cruzaram caminhos pouco tempo depois, em frente à loja de costura e disse: “Como ela está?” Em um tom mais baixo, com preocupação sincera em sua voz.

Xena deu de ombros um pouco. “Ela estava com uma dor de cabeça bem forte quando voltou. Eu dei algo para fazê-la dormir… ela está descansando agora.” Uma pausa. “Ela parece estar bem.”

Lila suspirou. “Maldito seja ele.” Ela empurrou algumas mechas de cabelo castanho escuro para fora dos olhos. “Vou passar mais tarde para vê-la, então.” Ela ergueu um pacote que estava carregando. “Você se importaria de levar isso para ela? É o vestido… ficou realmente bonito.” Seus lábios se curvaram relutantemente. “Melhor do que o meu, de qualquer maneira.”

“Claro.” Xena respondeu, pegando o pacote dela e o colocando gentilmente debaixo do braço. “Como está Lennat?” Ela olhou para a ferraria, onde podia ver as sombras difusas de dois homens altos curvados sobre a forja principal.

Lila deu um grande sorriso. “Ele está adorando.” Ela balançou a cabeça e riu. “Martelando o dia todo em metal quente, eu não sei… mas ele chega em casa e fala sobre isso como se fosse a coisa mais maravilhosa da terra.” Ela olhou para baixo. “Ele disse que vai conversar com Gabrielle mais tarde… você sabe, Metrus fez a mesma coisa com ele que…”

“Eu sei.” Xena respondeu, quietamente.

“Então…” Agora os olhos cor de avelã brevemente se encontraram com os de Xena. “Acho que temos algo em comum.”

“Mmm…” Xena concordou, com um leve sorriso. “Pode ser. Lennat tem algum arrependimento?”

Uma risada. “Deuses, não.” Então Lila ficou séria e a estudou intensamente. “Não mais do que Gabrielle.”

Xena deu de ombros. “Não sei se ela tem algum.”

“Eu sei.” Veio a resposta segura. “Xena, ela é minha irmã. Eu a conheço a vida toda.” Lila deu uma rápida olhada ao redor e baixou a voz. “Ela nunca…” Uma pausa e um suspiro. “Como posso dizer isso… ela nunca deixou ninguém realmente entrar… dentro do seu coração. Você sabe como ela é… fazendo coisas pelos outros, fazendo piadas, contando histórias, tentando consertar as coisas… ela é minha irmã mais velha – sempre tentava me confortar, cuidar de mim… tentar ajudar a mãe, tirar um pouco do peso dela… agora que olho para trás, ela realmente precisava de alguém para simplesmente sentar e fazer isso por ela às vezes. Mas realmente não havia ninguém. Então ela manteve todos à distância.” Outra pausa. “Ela sentia que era responsável por nós.”

“Bem,” comentou Xena ironicamente. “Ela realmente tem essa tendência.”

Lila balançou a cabeça. “Ela tem. Mas… Eu não sei o que pensei quando ela saiu correndo atrás de você dois anos atrás. Eu pensei que ela estava maluca, francamente.”

“Eu também.” Veio a resposta carinhosamente divertida.

“Mmm.. eu aposto que sim.” Lila riu. “Eu ouvi a história da árvore.” Ela ficou quietamente séria novamente. “Mas… desta vez, agora que tive a chance de passar mais tempo com ela… eu vi lampejos de uma parte da minha irmã que eu… nunca tinha visto antes.” Ela olhou para baixo. “Você viu um lado dela que eu nunca vi.. e foi isso que me fez perceber que ela tinha.. encontrado alguém com quem poderia.. e queria.. e fez, deixar entrar completamente.”

Um longo silêncio entre elas. “E eu estou realmente feliz.” Lila continuou. “Sinto muito por termos começado tão mal.”

Uma mão se apoiou em seu ombro. “Você tinha seus motivos.” Respondeu Xena calmamente resignada. “Ela é sua irmã, e eu sou bem assustadora.”

Lila riu. “Mm.. eu não ia dizer isso.” Mas ela olhou para cima para Xena e viu o sorriso. “Mas.. sim. Você é, um pouco.”

Uma sobrancelha levantada. E então uma segunda. “Um pouco??” Isso com um brilho nos olhos.

“Uh.. ok. Muito.” Lila confessou. “Na verdade, você é uma das pessoas mais assustadoras que já conheci. Não que eu tenha conhecido muitas, é claro.”

“Bem, isso é melhor.” Xena respondeu, com um rosto sério. “Eu tenho uma reputação para manter, sabe.”

Elas se olharam e então riram. “Eu melhor voltar.” Xena riu, levantando uma cesta. “Aqui tem o almoço dentro, e você sabe como é a Gabrielle.”

“Eu vou te acompanhar parte do caminho de volta.” Lila ofereceu, enquanto começavam a andar. “Isso me lembra, você não dá comida pra ela? Ela está só pele e ossos.”

Xena resmungou. “Ah, por favor… sua irmã come fácil tanto quanto eu e provavelmente mais. Ela só gasta tudo… provavelmente gasta tudo falando.”

Lila riu. “Fico feliz em ver que algumas coisas não mudaram. Ela sempre foi assim.”

Xena subiu as escadas, ainda rindo baixinho, e abriu a porta suavemente, entrando sem fazer barulho. Ela colocou a cesta na mesa, pousou o pacote na cadeira e ficou em pé silenciosamente aos pés da cama, apenas contemplando a barda que ainda dormia profundamente. Vendo-a de uma perspectiva ligeiramente diferente, graças a Lila. Sempre encarei que era difícil pra mim me abrir com ela… Deuses… devo tê-la deixado completamente louca em mais de uma ocasião… nunca me ocorreu que ela também não se abria. Sempre parecia tão natural para ela…, mas… Sua mente voltou no tempo. Não era. Ela arriscou… assim como eu… Ela refletiu, desprendendo sua armadura, levantando-a sobre a cabeça e colocando-a em uma cadeira.

Tentando ser o mais silenciosa possível, ela cedeu à sua inclinação e se juntou à sua parceira, encolhendo-se às suas costas e deslizando um braço ao redor de sua cintura. Sentiu a leve tensão deixar o corpo da barda, e a mão que se fechou sobre a sua enquanto Gabrielle se acomodava contra ela com um suspiro suave. E deixou o ritmo constante da respiração da barda embalá-la para um estado crepuscular entre o despertar e o sono, em um nevoeiro cálido e confortável que ela descobriu gostar muito.

Gabrielle manteve os olhos fechados e deixou seus outros sentidos passarem lentamente do sono para a vigília. Ela sentiu o cheiro limpo e herbal do linho, e a mornidão amadeirada dos pisos do quarto. Ouviu o rangido das tábuas do chão se acomodando e sentiu uma presença quente e familiar às suas costas. Um sorriso se desenhou em seu rosto quando sua mão reconheceu o braço poderoso que a envolvia protetoramente, e ela se permitiu afundar desavergonhadamente na maravilhosa sensação de segurança que isso lhe causava.

Ela se deleitou com isso por um tempo, então se esticou e rolou, aconchegando-se sob o queixo de Xena com um murmúrio contente, e piscando para ela com um sorriso preguiçoso. Encontrando um par de olhos azuis divertidos que se aqueceram quando seus olhares se encontraram.

“Como você está se sentindo?” Xena perguntou, apoiando a cabeça em uma mão.

“Muito, muito melhor.” A barda respondeu, tocando a cabeça. “E.. aliviada.” Que acabou… Que a pressão que ela sentia desde que chegara aqui agora estava apenas… foi embora. “E triste.” Uma admissão tranquila e honesta. “Então.. você também ficou cochilando aqui todo esse tempo?” Ela perguntou, com um sorriso brincalhão, incapaz de manter as mãos longe do corpo de couro de Xena, passando as pontas dos dedos sobre as costelas que se moviam constantemente, sentindo sua parceira prender a respiração ao leve toque.

“Não.” Veio a resposta. “Eu fui e exercitei Argo, encontrei sua irmã e trouxe seu vestido de volta para amanhã, fiz alguns reparos em uma peça de arreio e trouxe o almoço para você.” Uma pausa. “Então voltei aqui, e você parecia tão pacífica que decidi me juntar a você por um tempo.”

“Almoço?” A bardo sorriu, focando no essencial. “Estou morrendo de fome.”

“Você deve estar se sentindo melhor.” A guerreira riu.

“Estou.” Gabrielle respondeu. “É estranho.. eu deveria me sentir muito mal.. pelo que aconteceu, pelo que ele disse, e tudo mais.. mas..” Ela inspirou e expirou profundamente. “é tão bom ter essa pressão indo embora.. Eu sei que vou me sentir mal mais tarde, mas agora, estou mais aliviada do que qualquer outra coisa.” Ela pausou. “Agora.. sobre esse almoço?”

“Deuses, Gabrielle.” Xena respondeu, sacudindo a cabeça em fingida admiração. Ela rolou, segurou a lateral da cama e se apoiou nela, depois virou e se pôs de pé e atravessou até a mesa onde uma cesta estava descansando. “Aqui.” Ela se virou e voltou para a cama. “Almoço.”

Gabrielle explorou a cesta e bateu na borda da cama ao seu lado. “Almoça comigo?” Ela ofereceu, com a boca cheia. Então, por mais que tentasse ignorar, a voz de seu pai ecoou em sua mente, e ela parou de comer. Eu não deveria me importar. Ele fez coisas terríveis comigo, com minha mãe e com Lila. Seus olhos se fecharam. Mas eu me importo.

“Claro.” Xena sentou-se e pegou um pedaço de pão da cesta, arrancando um pedaço e olhando para ele por um longo momento, antes de colocá-lo na boca e mastigar lentamente. Então olhou para cima e viu o rosto de Gabrielle, movendo a cesta para o lado. “Ei..” Aproximando-se, ela colocou uma mão no ombro da barda e retirou o sanduíche de seus dedos subitamente nervosos.

“Eu não deveria me sentir mal.” Gabrielle sussurrou, olhando pela janela. “Eu sabia que ele provavelmente faria isso.” Ela respirou fundo. “Eu sei que ele fez.. coisas.. ruins. Conosco.” Ela estudou suas mãos. “Mas ainda dói.” Cegamente, estendeu a mão e enroscou os dedos no couro de Xena, puxando-se para mais perto e enterrando o rosto no familiar cheiro defumado do couro, deixando suas defesas baixarem e as lágrimas virem finalmente.

“Deve ser ruim tirar todas essas manchas d’água desse couro.” Ela finalmente arranhou, um tempo depois, e sentiu a mão de Xena acariciar seus cabelos em resposta. “Acho que depois disso eu vou te dever um conjunto inteiro novo. Fico feliz que você não estava usando armadura… eu estaria para sempre tirando a ferrugem dela.” Ela olhou para cima e soltou um longo suspiro retido. “Obrigada… pela centésima vez desde que cheguei aqui, eu acho. Desculpe por continuar desmoronando em seus braços.”

Devo contar a ela sobre meu pequeno encontro com seu pai? Xena debateu consigo mesma. Ela precisa ouvir isso? Provavelmente não. Preciso contar a ela? Provavelmente não. Mas essa… conexão… está tornando muito difícil para mim esconder coisas dela, e isso pode não ser uma coisa boa. Ela suspirou. “Eu… quando estava cavalgando com Argo, eu… seu pai me seguiu.”

Os olhos de Gabrielle se afiaram, e ela levantou a cabeça do peito de Xena, para estudar seu rosto. “O que aconteceu?”

E ela contou, até a última palavra e o último movimento, em um tom frio e distante. Assistiu enquanto o olhar da barda se voltava para dentro, e esperou por uma resposta que demorou a chegar.

“Acho que acabei de descobrir algo horrível sobre mim mesma, Xena.” Gabrielle finalmente sussurrou, envolvendo os braços ao redor do próprio peito.

A guerreira colocou uma mão hesitante em seu ombro e sentiu o arrepio ao seu toque. Silenciosamente deixou a mão cair, ignorando a pontada aguda em seu coração que isso causou. “O quê…” E teve que parar e limpar a garganta.

“Eu queria que você fizesse isso.” A barda respondeu, com voz distante. “Eu queria ver você lidar com ele e fazê-lo sentir…”

“Como você se sentiu?” A voz de Xena era gentil. “Como sua mãe e Lila se sentiram? Gabrielle, é um sentimento natural.” Deuses… Eu sabia que não deveria ter contado isso para ela.

“Não para mim.” Veio a resposta triste. “Quebrar o ciclo de ódio, lembra, Xena? Agora eu sou apenas uma parte do ciclo.”

“Não.” Um rosnado baixo e profundo, que fez Ares se encolher no canto, piscando para ela. “Você não é, Gabrielle, você me ouve?” Ela se levantou da cama e se ajoelhou, segurando o rosto de Gabrielle entre as mãos e forçando-a a olhar nos olhos dela. “Nunca mais diga isso. Você foi machucada… pelos deuses, por ele, Gabrielle… você tem todo o direito… toda… necessidade… de fazê-lo sentir o que você sentiu.” Sua voz se aprofundou. “Você não sente ódio, Gabrielle – isso não está em você… porque eu conheço isso muito melhor do que você jamais conhecerá… e eu conheceria o mais leve eco disso… e não o encontro em lugar algum em seu coração.” Ela pausou e procurou os olhos verdes fixados em seu rosto. “Eu te conheço… de algumas maneiras melhor do que me conheço. Eu confiaria em seu coração em qualquer coisa… com qualquer pessoa… porque você é a pessoa mais amorosa, perdoadora, mais linda que já conheci.” Uma pausa mais longa. “Nunca duvide disso.”

Quantas vezes você me disse que é minha crença em você que te mantém inteira, Xena? Sua mente rolou as palavras, saboreando-as com intensidade agridoce. E eu meio que sabia disso. Mas nunca pensei que precisaria tanto da sua crença em mim quanto preciso agora. Ela desenrolou os braços do aperto apertado e alcançou, segurando os dedos de Xena e puxando suas mãos para baixo entre elas. Levando-as aos lábios e fechando os olhos enquanto as pressionava ali. E se entregou à fé de Xena, sentindo a culpa escura e pesada se dissipar suavemente sob aquele olhar azul firme.

Um longo silêncio caiu, quebrado apenas quando Xena voltou para a cama, e envolveu os braços ao redor da barda, e então apenas pelo som de uma respiração quase inaudível e o assentamento das tábuas de madeira que os cercavam.

Gabrielle tinha caído em um meio sono com sonhos quando sentiu Xena se enrijecer, e percebeu uma carga quase física percorrendo-a. “O que?” Ela perguntou, levantando a cabeça.

Xena tocou um dedo nos lábios dela e inclinou a cabeça. Ao longe, um ruído fraco e abafado.

“Cavalos.” Ela respondeu, concentrando-se. “Se movendo rápido, vindo nesta direção.” Então ela ouviu os gritos grunhidos e se levantou, indo pegar sua armadura. “Combatentes.. provavelmente uma gangue errante..” E os primeiros gritos periféricos. “Problema.”

Com dois movimentos rápidos, ela prendeu sua armadura, e um terceiro adicionou seu estojo à sua presilha. “Bom momento.” Ela suspirou, dirigindo-se para a janela. “Nos encontramos lá embaixo.”

“Certo.” A barda confirmou, pegando seu cajado, e observando sua parceira saltar pela janela, e pular para o topo do alpendre, então saltar dali e se dirigir para o chão. “Eu não poderia inventar alguém mais incrível do que ela é.” Ela murmurou para Ares, enquanto abria a porta e descia as escadas rapidamente.

Xena alcançou o chão exatamente quando os primeiros cavaleiros investiam na vila, balançando tochas ardentes e avançando em direção aos aldeões com lanças e picaretas de ferro. Eles eram um grupo típico, pensou a guerreira enquanto se dirigia para o primeiro deles em uma corrida frenética, espada em punho.

O primeiro dos invasores balançou sua lança para baixo, quase acertando uma mulher que corria. Ele olhou para cima quando um corpo coberto de couro voou na direção dele e o derrubou do cavalo, fazendo-os ambos caírem no chão. Ele começou a se levantar, balançando a lança que ainda segurava com uma mão, mas Xena bloqueou o golpe e acertou-o no rosto com um rápido e violento chute alto. Ele caiu sem emitir som, e ela saltou para cima do cavalo nervoso e o guiou na direção dos invasores que se aproximavam.

Havia cerca de uma dúzia e meia deles, e três caíram sob sua espada antes que o restante percebesse que aquela pequena vila abrigava algo muito maior do que eles esperavam. Com um grito selvagem, Xena avançou sobre eles, alternando golpes brutais com sua espada e golpes esmagadores que atravessavam sua meia armadura como se fosse pano.

Uma cabana estava em chamas. Xena amaldiçoou, freando seu cavalo e olhando ao redor, avistando Gabrielle já se dirigindo para o prédio. “Eu cuido disso!” A barda berrou, acenando para Xena e girando seu cajado rapidamente para derrubar um invasor desmontado, acertando-o limpidamente na cabeça e derrubando-o sem emitir som.

“Legal…” Xena murmurou para si mesma, então desmontou das costas do cavalo e começou a enfrentar os invasores a pé. O mais alto deles conseguiu colocar a mão nela e acertou o antebraço contra sua cabeça. Ela rolou com o golpe e se levantou imediatamente, avançando e acertando-o no rosto com um cotovelo sólido. Ele a olhou brevemente em choque antes de escorregar pelo corpo dela e cair na terra revolvida do pátio.

Cascos se aproximando, e agora ela olhava para cima para ver um lanceiro montado vindo em sua direção, seus olhos estreitos atrás da viseira de couro rígido. Xena sorriu e esperou até que a ponta estivesse a um fio de seu rosto, então desviou para o lado e agarrou a lança, plantando ambos os pés firmemente no chão e segurando firme.

Puxando o cavaleiro para fora e usando a ponta da lança em um golpe brutal em seu rosto que o matou instantaneamente.

Cascos mais pesados agora, e quando ela olhou para cima desta vez, seu sangue gelou. Um cavaleiro não se dirigia para ela, mas para uma figura solitária parada no caminho em direção a uma propriedade familiar.

O animal era enorme, facilmente meio metro maior que Argo, e o cavaleiro… a mente de Xena gelou. Mais alto que um homem, com cabeça e pescoço de touro. “Minotauro.” Ela respirou fundo, sentindo seu coração começar a bater forte. E Heródoto bem no meio do caminho.

O tempo diminuiu, como sempre fazia para ela em momentos como este. E ela teve um único instante para entender que não podia fazer nada, e deixar este homem, que havia machucado sua família, machucar sua Gabrielle tão gravemente, receber sua justiça. Nas mãos de um inimigo que ela sabia ter poucas chances de derrotar.

“Maldição.” E ela estava se movendo, lançando seu corpo em longas e poderosas passadas que cobriam o terreno com velocidade crescente, enquanto guardava sua espada, e se aproximava do cavalo em movimento, do Minotauro e de Heródoto.

O Minotauro ergueu sua maça para o golpe fatal, soltando um rugido que sacudiu o chão com sua fúria. Seu braço angulou para baixo, mas a maça foi subitamente bloqueada por uma forma aérea que se lançava, que girou no ar e recebeu o golpe pesado em placas de armadura de latão.

Ai. Xena fez uma careta, quando a maça se chocou contra sua armadura, mas isso não a impediu de colocar as mãos no arreio de couro dele, usando seu impulso para continuar indo para o outro lado do cavalo e esperando que seu peso fosse suficiente para levá-lo com ela.

E foi, por pouco, levando-os ambos ao chão e os lançando para se chocarem contra o tronco da árvore contra a qual Heródoto estava apoiado. Xena sentiu seus miolos se sacudirem com o impacto, mas ignorou a sensação desagradável e saltou do tronco para ficar em pé, encarando o Minotauro. Oh… droga. Estou em apuros. “Saia daqui.” Ela rosnou para Heródoto. “Anda logo!” Ele o fez, mas não muito longe, apenas fora do alcance de sua espada, e do Minotauro resfolegante e babão.

“Você vai morrer.” O meio homem, meio besta resmungou, avançando sobre ela.

“Já fiz isso” Xena respondeu, recebendo o golpe em seu bracelete e retribuindo, o que fez o monstro balançar e se assustar. O que Gabrielle estava me dizendo? Eu me convenço de que posso fazer coisas? Tudo bem… vamos ver se consigo me convencer de que posso derrotar… isso.

O Minotauro sacou sua espada e veio para cima dela, e ela respondeu, trocando golpes que faziam faíscas voarem de suas lâminas, e enviavam um sibilar etéreo pelo caminho enquanto as armas deslizavam uma contra a outra.

Ele veio para cima dela novamente, empurrando sua lâmina com força contra a dela, usando seu tamanho maior para tentar prendê-la na árvore, mas Xena deslizou para o lado e desviou a força do golpe, e acertou seus punhos na lateral dele, obtendo um gemido doloroso e um contra-golpe que deixou sua cabeça zunindo como um sino.

Ele sabia que a havia atordoado, e deixou escapar um bufar triunfante enquanto suas mãos se fechavam em torno de sua garganta, e ela não conseguia detê-lo.

E o mundo começou a escurecer sob a pressão de suas mãos nodosas, enquanto ela sentia um zumbido suave encher seus ouvidos. Estava silencioso agora, exceto pelo zumbido, e escurecendo, e seu corpo estava muito cansado para responder aos seus comandos instintivos para lutar.

Não consigo… Sua mente vagueava em um nevoeiro cinzento. Não posso partir… Tenho algo… Preciso fazer. Alguém.. Preciso ver. E uma lança vívida e nítida de terror perfurou a escuridão e dissipou o zumbido, enquanto ela retomava o controle de seu corpo e erguia as mãos, enganchando-as ao redor dos braços dele. Isso vai me salvar ou me matar. Sua mente cantava calmamente.

E ela flexionou o corpo para cima, trazendo os pés calçados contra o peito dele e empurrando com toda a força que suas pernas podiam reunir. Deveria ter quebrado o pescoço dela, mas quebrou a aderência dele, em vez disso, e o enviou se chocando contra a árvore. E a jogou em um salto mortal para trás, que seu corpo de alguma forma conseguiu controlar, deixando-a cair na poeira, seus pulmões absorvendo grandes goles de ar.

Ela o viu se aproximando, braços abertos, tomado pela fúria a ponto de não reconhecer quem ela era ou o que estava segurando. Num movimento ágil, ela se abaixou e se ergueu enquanto ele avançava, sua espada perfurando a armadura e atravessando seu peito robusto. O ímpeto ascendente dela interrompeu seu ataque descendente, lançando-o para trás com a arma de Xena cravada em seu peito até os punhos robustos.

Ambos caíram ao chão, e Xena se afastou dele, levantando-se de joelhos e apoiando-se no outro, enquanto esperava que seu corpo cessasse de tremer e o mundo parasse de girar.

Ouviu passos correndo cujo som lhe era familiar, e cuja presença próxima não acionou nenhum alarme em suas defesas machucadas. Encontrou forças, em algum lugar, para se levantar, apenas a tempo de impedir a investida de Gabrielle em sua direção, e envolver braços ainda trêmulos ao redor da barda. “Shh.. está tudo bem.”

“Deuses.. eu pensei.. ele quase…” A barda ofegou, passando as mãos pelo pescoço machucado de Xena. “Oh.. Xena.”

“Está tudo bem, Gabrielle. Eu estou bem. Você… vá checar sua mãe… Eu estarei bem. Só preciso recuperar o fôlego.” A guerreira a tranquilizou, dando-lhe um aperto para enfatizar o fato. “Vai lá..”

Olhos verdes perfurando os dela por um longo momento. “Eu volto logo.” A barda prometeu. “Depois vou cuidar de você, porque você não parece ‘tudo bem’. Certo?”

Xena deu-lhe um sorriso cansado. “Fechado.”

E ela seguiu pelo caminho, lançando apenas um olhar mínimo para o pai ao passar.

Xena observou seu rosto, observando-a, então encontrou seus olhos quando ele se virou para encará-la. E captou, por apenas um segundo, um vislumbre de um menino de olhos arregalados cujo espírito ecoava uma corda familiar. Que desapareceu, e seus olhos se baixaram novamente.

“Por qual de nós você estava torcendo?” Veio a tranquila pergunta de Xena, enquanto sentia sua energia retornando e sua força se restaurando. Ela se aproximou da forma encolhida do Minotauro e colocou um pé calçado em seu peito, segurando sua espada com ambas as mãos e puxando longamente e com firmeza para libertar a arma de seu peito.

Heródoto olhou para ela por um longo momento. “Eu não sei.” Ele pausou. “Por que você não simplesmente deixou ele me matar? Não ia perder grande coisa.”

Xena olhou para cima enquanto limpava sua lâmina nas calças de pano do Minotauro e o estudou. “Tenho muito sangue em minhas mãos. Não vou ter o seu.” Ela embainhou a espada e se aproximou dele. “Desculpe desapontá-lo.”

“Não teriam sido suas mãos, não é mesmo?” A pergunta foi feita em um tom tranquilo.

“Oh, sim, teriam sido.” A guerreira respondeu. “Eu sabia que poderia impedi-lo de te matar.” Ela pausou e depois balançou a cabeça. “Eu simplesmente não sabia se poderia impedi-lo de me matar.”

“Você não faz sentido.” Heródoto respondeu. “Que motivo possível você teria para arriscar sua vida por mim?”

Xena se aproximou dele, obrigando-o a olhá-la, e permaneceu em silêncio por um tempo. Então ela suspirou. “Porque ela te ama.”

Heródoto a encarou. “É tão simples assim?”

“Tão simples assim.” Veio a resposta. Ela virou-se em um círculo e observou a vila, que estava voltando a alguma semelhança de ordem. Era comum grupos de saqueadores nesta parte do mundo. Ela suspirou novamente e começou a voltar para a estalagem.

“Xena.” A voz de Heródoto a seguiu.

“Pois não?” Ela se virou e olhou para ele.

“Eu estava torcendo por você.” E por um instante mínimo, o menino de olhos arregalados estava de volta. Então ele se foi, e um homem envelhecido e quebrado por muitos anos estava indo de volta pelo caminho em direção à sua casa.

Xena balançou lentamente a cabeça e riu baixinho, depois virou-se e voltou para a estalagem, passando por grupos de aldeões que a observavam com olhos atentos. Bem… pelo menos não é hostilidade aberta… ela pensou. Isso é uma melhoria. Ela diminuiu o passo quando uma das meninas mais jovens se aproximou dela e ofereceu uma cantilena. “Obrigada.” Ela pegou a cantilena e deu um sorriso para a menina em retorno.

Timidamente, a jovem loira sorriu de volta e abaixou a cabeça enquanto voltava para onde sua mãe, presumivelmente, estava esperando. Deuses… eu já fui tão jovem? Xena suspirou, enquanto destampava a cantilena e tomava um longo gole. E continuou caminhando, fazendo um desvio para o celeiro para uma breve visita para se certificar da segurança de Argo. “Você perdeu um bom espetáculo, garota.” Ela informou a égua, que mastigava placidamente feno. “Você odiaria o Minotauro.” Ela apoiou os braços no alto do dorso da égua e deixou sua cabeça repousar no ombro dourado “Aquilo foi mais perto do que eu realmente gosto de ver, Argo.” Ela murmurou no pelo do cavalo. “Foi por isso aqui que quase…” Ela respirou fundo e se endireitou, afastando o pensamento. Isso não aconteceu. Isso é tudo.

Ela virou-se e encostou-se à égua, dando outro longo gole de água, franzindo a testa com o sabor metálico do sangue, e percebeu que o último golpe do Minotauro a fez morder o interior da bochecha. Oh… isso vai doer. Ela suspirou, balançando a cabeça para soltar os músculos do pescoço e ouvindo o estalo das vértebras sobrecarregadas. Ainda assim, uma voz satisfeita e presunçosa dentro dela observou, nada mal considerando que ela havia eliminado a maior parte da força de ataque e matado um Minotauro em combate mano a mano. Seus lábios se curvaram em um sorriso. Acho que ainda não estou pronta para a aposentadoria.

A porta se abriu, e ela olhou para cima quando Gabrielle entrou, fechando a porta atrás dela e atravessando o chão coberto de palha com passos determinados. “Oi.” Ela disse, uma vez ao lado de Argo.

“Oi para você também.” Xena respondeu, oferecendo-lhe a cantilena.

“Obrigada.” Ela pegou e bebeu. Então estudou o rosto de Xena atentamente. “Isso foi bem assustador.” Ela se aproximou e levantou uma mão para as marcas roxas e zangadas na garganta da guerreira. “Eu não… Eu realmente, realmente fiquei assustada por um minuto…”

Xena envolveu os braços compridos em torno dela. “Eu também.” Ela admitiu, fechando os olhos e enterrando o rosto nos cabelos pálidos de Gabrielle por um longo momento. Eu não poderia deixar isso… não agora. Ainda não. “Então eu acho que posso riscar Minotauro da minha lista de desafios, certo?”

Sentiu a barda rir. “Sim, eu acho.” Ela afastou a cabeça e olhou para cima para sua parceira. “Você realmente tem uma lista?”

Xena sorriu. “Claro, todo mundo tem?” Ela apertou a barda. “Ah… e a propósito, faça um favor para mim e conte a Hércules uma pequena história sobre mim e o Minotauro da próxima vez que os encontrarmos, OK?”

Gabrielle se soltou e olhou perplexa para ela. “Espera aí. Você bateu a cabeça? Eu pensei que você tivesse dito… você está me pedindo para contar a alguém uma história sobre você?”

“Uh huh.” Xena confirmou, passando um braço em volta dos ombros de Gabrielle e guiando-a em direção à porta. “Temos uma aposta de 50 dinares de que eu não consigo vencer um Minotauro em combate direto.”

A barda riu. “50 dinares? Vocês estão loucos? O que mais vocês… oh.. espere. Deixa eu mudar essa pergunta. Ele pode vencer um Minotauro?”

“Tenho certeza…” Xena respondeu. “Ele é um semideus, lembra?”

“Mmm.” Gabrielle pensou sobre isso por um minuto. “Vocês já apostaram um contra o outro?” Ela perguntou, curiosa. “Quero dizer, você contra ele?”

“Gabrielle.. ele é filho de Zeus.” A guerreira riu. “E da última vez que eu vi..” Ela tocou a lateral da mandíbula e fez uma careta. “Eu sou mortal. Não é uma competição justa.”

Elas atravessaram o pátio agora vazio, onde os corpos já haviam sido removidos, que estava tingido pelos raios carmesim do sol poente. Estavam quase chegando à porta da estalagem quando Gabrielle falou. “Eu apostaria em você.”

“O quê?” Xena perguntou, quase perdendo a maçaneta da porta enquanto se virava para olhar para sua parceira.

“Eu disse, se fosse você contra ele, eu apostaria em você.” A barda repetiu calmamente. “Agora, você vai me deixar dar uma olhada nesses hematomas?” Ela arqueou as sobrancelhas para Xena, que estava ali segurando a porta aberta com uma leve carranca.

Estou bem, Gabrielle, é realmente…” Vendo o olhar nos olhos verdes “Ok.. ok.. sim, vou deixar.” E conseguiu conter um sorriso com bastante esforço. “Depois de você, sua majestade.”

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Pensando bem… Xena refletiu, não muito tempo depois. Isso não é uma ideia tão ruim afinal. Ela estava estirada na cama, com Gabrielle sentada de pernas cruzadas ao seu lado, e a barda estava aplicando diligentemente um pouco do óleo de cura nos danos causados tanto pelos saqueadores quanto pelo Minotauro.

“Deuses… isso deve doer.” A barda fez uma careta, tocando o local onde ela tinha levado o golpe destinado a Heródoto. Ela espalhou o óleo com dedos gentis, depois olhou para cima e encontrou os olhos azuis suavemente divertidos que a observavam. Sentiu um sorriso cruzando seu rosto ao ver aquilo, o qual foi imediatamente espelhado. “Sabe… quando vi aquela coisa indo em direção a ele… percebi que você estava certa, Xena. Eu não o odeio.”

“Eu sabia disso.” Veio a resposta tranquila.

“Sim… você sabia… Comecei a correr na direção dele… embora só os deuses saibam o que eu pensava que ia fazer quando chegasse lá.” Ela lançou a Xena um olhar irônico. “Então você me ultrapassou como se eu estivesse parada… e eu não sabia se estava mais morta de medo por você, ou aliviada por ele. Estranho.” Ela fez uma pausa, então deixou seu rosto se transformar em um sorriso novamente, e deu um tapinha na coxa de Xena. “Você é bem rápida quando quer.”

“Eu me viro.” Xena respondeu, com um tom depreciativo. “E se serve de consolo, eu realmente não tinha um bom plano sobre o que fazer quando chegasse lá também.”

Gabrielle a encarou e riu. “Sério?”

Xena colocou uma mão despretensiosa em seu joelho. “Sério.. Eu não tenho um plano de contingência para Minotauros.”

“Gostaria de ter feito algo para ajudar.” A barda suspirou, contemplando suas mãos. “Em vez de apenas ficar ali morrendo de medo.”

A mão repousando em seu joelho apertou, e ela olhou para cima, surpresa, nos olhos agora sérios de Xena. “O que? Ah… você sabe o que eu quero dizer, Xena… Eu só estava…”

“Você disse algo para sua mãe esta manhã.” A voz da guerreira era muito tranquila.

Eu disse muita coi… oh. “Sim, eu disse.” Sabendo quase certamente sobre o que ela estava falando. “E é verdade.” Verdade que eu não poderia viver sem você.. sem isso.. mais.. Eu esqueci que ela ouviu isso. Ela sorriu internamente. Mas estou feliz que ela tenha ouvido, mesmo que tenha sido provavelmente um pouco embaraçoso para ela.. quero dizer, primeiro essa coisa de vínculo vital, depois…

Xena assentiu lentamente. “Acho que você sabe que vale tanto pra você quanto pra mim. Certo?”

Gabrielle sentiu um rubor subindo. “Eu.. uhm…” Respire, Gabrielle, respire… “Não, eu não sabia.” Ela terminou, em um sussurro quase inaudível.

“Eu queria… ter certeza de que você soubesse disso.” Xena respirou fundo. “Porque… quando aquele Minotauro estava me sufocando até a morte esta tarde… a única coisa que me manteve viva… ” ela pausou, e estendeu a mão, para segurar os dedos imóveis da barda. “foi saber que havia uma razão para não morrer.” Ela esperou que os olhos verdes se levantassem para os seus próprios, e eles o fizeram. “Eu senti seu medo… e isso me deu a vontade de quebrar aquele controle, Gabrielle. Então… não fique aqui sentada me dizendo que você não fez nada.” Uma breve pausa. “Você fez.”

Gabrielle respirou várias vezes para dizer algo, mas acabou apenas levantando as mãos ligadas delas, e pressionando a bochecha contra os nós dos dedos de Xena, fechando os olhos e sorrindo. E confiando que o vínculo que as unia falaria por ela. Para uma barda, eu tenho essa tendência realmente ruim de deixá-la me deixar sem palavras. Que.. embaraçoso. Mas acho que ela entende a mensagem.

E falou por ela, quando sentiu-se sendo puxada para baixo, e permitiu-se desabar nos braços de Xena, caindo na piscina de luz carmesim que as envolvia.

“Ei.” Gabrielle murmurou, muito tempo depois. “Eu te vi levar um golpe… como está sua cabeça? Você não teve uma concussão, teve?”

“Mmm.” Xena abriu relutantemente os olhos, e considerou a pergunta. “Não… acho que não. Normalmente há uma… espécie de sensação nebulosa logo depois, quando eu tenho. Não tive isso dessa vez.” Ela estendeu preguiçosamente e tocou o lado da cabeça. “Foi bem forte.”

A barda virou a cabeça para olhar para Xena. “Isso acontece com tanta frequência? Você sabe que não é realmente uma coisa boa.” Sua testa se franziu de preocupação. Por que eu não pensei nisso antes? Deuses, Gabrielle, quão cega você é?

“Algumas vezes.” Xena deu de ombros. “Eu tento evitar, amor. Não estou procurando ter minha cabeça embaralhada.” E sorriu tranquilamente quando percebeu o quão naturalmente aquele termo afetuoso escapou. Mesmo com Marcus, ela tinha que conscientemente usar palavras assim. Não com Gabrielle. Elas simplesmente… aconteciam. Sem comentários de Gabrielle, ela notou, mas não pôde esconder aquele pequeno brilho em seu olhar, também.

“Não, eu suponho que não.” Gabrielle respondeu, mais animada. Ela olhou pela janela. “Bonito pôr do sol.” Ela estreitou os olhos e contemplou a luz carmesim, sentindo o calor em seu rosto. “Sinto falta de observá-los lá fora.”

 “É mesmo?” A voz de Xena soou curiosa. “Pensei que preferisse ter um teto sobre sua cabeça.” Diferente de mim, por exemplo.

 A barda balançou a cabeça e rolou para o lado, ficando de frente para o teto manchado de carvão. “Não.. sinto falta de olhar as estrelas com você.” Ela respondeu sonhadoramente. “Ou perseguir nuvens.. ou assistir ao pôr do sol. Ouvir os ruídos dos animais mudando de dia para noite. Escutar as cachoeiras que você é tão boa em encontrar para acamparmos perto.” Ela fez uma pausa. “Estou feliz por estarmos partindo amanhã.”

 Xena considerou isso. “Eu também.” Ela riu. “E temos muito chão pela frente antes de chegarmos a Cirron.”

“Mmm.” Concordou Gabrielle. “Será bom ver Jess novamente.”

“Ah, sim.” Suspirou a guerreira. “Vou levar uma bronca dele.”

A barda inclinou a cabeça. “Por que? Ah..porque..” Seus olhos se alternaram entre elas.

“É.” Um olhar constrangido de Xena.

Gabrielle riu. “É por isso que todos aqueles comentários irônicos?”

Um suspiro foi sua resposta.

“Não se preocupe.” Ela deu um tapinha no ombro de Xena. “Vou te proteger. Vou dizer para ele te deixar em paz ou invento uma história sobre ele e conto para todos os amigos dele.”

Isso arrancou um grande sorriso radiante. “Vem cá.”

“Hã? O que… ah.” Gabrielle fechou os olhos e apenas aproveitou o beijo, deixando o calor dele percorrer seu corpo como vinho quente em uma noite fria. “Já mencionei como você é boa nisso?” ela murmurou, enquanto faziam uma pausa para respirar.

“Uh huh.” Veio a resposta preguiçosa. “Mas nunca é demais praticar.”

“Não..” A barda respondeu. “Além disso..” Ela deslizou a mão pelo tórax de Xena e sentiu os músculos se contraírem sob seus dedos. “Com você levando pancadas na cabeça é melhor ser cuidadosa. Melhor não dormir por um tempo.”

“Oh.. essa foi boa.” Xena riu. “Eu gostei disso.” Ela puxou Gabrielle para uma posição mais confortável e deslizou uma mão pelo corpo dela, sorrindo com o suspiro que escapou dela. “Vou ter que levar mais pancadas na cabeça com mais frequência.” Então parou de falar e apenas reagiu.

“Xena?” Gabrielle ergueu a cabeça de sua posição confortável, esparramada sobre o peito de Xena, para olhar sonolentamente para a guerreira meio adormecida. Muito mais tarde.

“Hmm?” Xena abriu um olho azul e a observou com afeto benigno.

“Está tudo bem que.. quer dizer, isso é confortável para você? Só me deixar.. meio que usar você como um travesseiro grande?” Ela corou. Finalmente perguntou isso, você não acha? “Quero dizer.. sinceramente?” Como, você consegue respirar com tudo isso repousando em sua caixa torácica, por exemplo?

As sobrancelhas de Xena se franziram, e ela riu silenciosamente, uma risada que Gabrielle pôde sentir. “Claro que está, Gabrielle. Você pertence a esse lugar.” Ela bagunçou o cabelo da barda e acariciou suas costas suavemente. “Eu.. gosto disso.”

Palavras simples… Gabrielle pensou, enquanto elas desciam por sua alma e agarravam seu coração com um espasmo agudo. Eu pertenço a esse lugar. Um grito de alegria acendeu dentro dela, e percorreu seu corpo, emergindo em um sorriso deslumbrado e uma grande inspiração. “Estou feliz.” Ela suspirou, recostando a cabeça novamente e relaxando.

Huh.. eu disse algo certo. Xena olhou para a barda interrogativamente, sentindo a reação em seu corpo e através do vínculo que as conectava. Então ela se lembrou.. um lampejo de uma cena de dois anos atrás e mais. “Eu não pertenço a esse lugar.” A jovem aldeã de cabelos claros tinha dito. E Xena havia sentido a verdade disso, mesmo naquela época.. Mas você nunca esperou por isso, não é. Sua mente riu. Ambas estavam procurando por algo… E pensar que encontramos isso uma na outra. Quais eram as chances disso acontecer?

Elas ficaram em silêncio por um tempo, cada uma imersa em pensamentos. Da janela vinham os sons fracos de atividade no pátio, e a brisa entrante carregava o cheiro de fumaça de madeira. “Devem estar se preparando para o casamento amanhã.” Xena comentou, para o que a barda assentiu.

“Sim..” Gabrielle bocejou e ergueu a cabeça, apoiando o queixo no ombro de Xena. “Acho que meu pai não vai dizer nada se você estiver lá, agora.” Seus lábios se curvaram em um sorriso. “Mas você poderia ser gentil e não aparecer de armadura, né.”

Xena ergueu uma sobrancelha para ela. “Veremos.” Ela comentou. “Você não comeu o dia todo. Com fome?”

“Um pouco.” Gabrielle olhou sonhadoramente para ela. “Mas não o suficiente para me mexer ou fazer algo a respeito.” Seus olhos se fixaram na garganta de Xena, a poucos centímetros dela. “Já tá sumindo.” Ela balançou a cabeça e levantou uma mão para traçar suavemente as marcas em seu pescoço. “Incrível.”

De repente, a cabeça de Xena se inclinou para um lado, em uma atitude de escuta. Sons de cascos, novamente, mas dessa vez mais lentos, mais decorosos.

“O que?” Gabrielle perguntou suavemente, sentindo a mudança nela, vendo seus olhos se tornarem distantes enquanto ela focava seus outros sentidos.

“Cavalos, dois deles.” Xena respondeu, um leve sorriso começando em seu rosto, enquanto os cascos paravam no pátio e o murmúrio baixo de vozes flutuava na brisa até elas. “Melhor se vestir.”

“Quem é?” A barda sussurrou, lançando um olhar para a janela, depois estudando o rosto de Xena. Não deve ser tão ruim, ela está sorrindo.

“Mãe e…” Ela concentrou-se, então soltou uma pequena risada. “Toris.”

Gabrielle sorriu feliz. “Incrível!” Ela pausou. “Tudo bem se eu contar para eles sobre o Minotauro?”

Xena deu de ombros. “Não adianta não contar – eles vão ouvir de todo mundo de qualquer maneira.” Ela virou-se, levantou-se e pegou Gabrielle no colo, colocando a barda cuidadosamente de pé. “Pronto.”

“Obrigada.” A barda a acariciou levemente de lado. “Aqui.” Entregando-lhe uma túnica do pacote perto da cama, e pegando uma para si mesma. “Cuidado, Ares.” Ela contornou o filhote agora bem acordado e deslizou na vestimenta, prendendo-a, e pegando uma fruta da cesta na mesa. “Alguma chance de conseguirmos que sua mãe lhes dê algumas dicas de culinária?” Ela brincou, dando uma grande mordida na maçã em sua mão e se virando para encarar Xena.

E encontrou a mordida da maçã sendo tirada de sua boca por dentes brancos delicadamente precisos, e um beijo sendo deixado em seu lugar. “Oo.” Ela gargarejou, mastigando apressadamente o pedaço que restava e engolindo-o. “Podemos fazer isso de novo?”

“Depois.” Xena riu, com um piscar de olhos, enquanto segurava a porta aberta. “Vamos dizer olá primeiro.”

Eles chegaram ao pé das escadas assim que Cyrene e Toris estavam falando em tons baixos com o estalajadeiro. Que olhou para cima com seus passos nas escadas, então piscou, desviando os olhos de Xena para os dois novatos e de volta.

“Bem, bem… que surpresa encontrá-los aqui.” Toris sorriu e contornou o estalajadeiro para agarrar sua irmã em um abraço apertado, que foi retribuído com entusiasmo. Eles se separaram, e ele olhou para Gabrielle por um minuto.

A barda leu sua hesitação e lhe deu um sorriso acolhedor. “Olá, Toris.” E se aproximou dele para um abraço. Ele sorriu em resposta e concordou, muito mais gentilmente do que com sua saudação a Xena.

“Mãe.” Xena disse, enquanto Cyrene a abraçava rapidamente. “Obrigada por vir até aqui.”

Cyrene ergueu uma sobrancelha para ela. “Quando Johan me contou…” Ela balançou a cabeça e olhou para baixo. “Vamos conversar mais tarde.” Ela virou um sorriso radiante para Gabrielle e envolveu a barda em seus braços, então a segurou à distância por um longo momento.

“Oi, mãe.” Gabrielle disse, com um sorriso travesso. “Não esperava te ver novamente tão cedo.”

Xena assistiu a isso por um minuto, então se virou para o estalajadeiro, que estava os encarando. “Problema?” Sua sobrancelha se ergueu para ele.

“Uhm… amigos seus, guerreira?” O homem inquiriu hesitante.

“Família.” Xena respondeu, saboreando a palavra em sua boca, rolando-a e gostando da sensação.

“Vou lhes dar o melhor quarto disponível.” O estalajadeiro prometeu, dando-lhe um sorriso nervoso.

“Está tudo bem, filha?” Cyrene perguntou para Gabrielle em voz baixa, procurando seus olhos ansiosamente.

A barda soltou um suspiro e deu-lhe um aceno. “Está… agora.” Seus olhos foram inconscientemente para a alta forma de Xena, então voltaram. “Eu estava em boas mãos.”

Cyrene acariciou sua bochecha. “Disso eu estava certa.” Ela se virou para Xena. “Podemos sentar e conversar?” Ela fez um gesto para as mesas, que nesta hora tardia estavam apenas meio ocupadas.

“Claro.” Xena disse, colocando uma mão nas costas de Toris e o guiando para frente. “Desde que não comamos nada aqui.” Disse em um sussurro apenas para os ouvidos de Cyrene.

Sua mãe parou e a observou pensativamente. “Vou me juntar a vocês em um minuto.” E caminhou firmemente em direção à cozinha da estalagem.

Xena sorriu e piscou para Toris, que piscou de volta, com entendimento entre irmãos. Eles se sentaram em uma mesa vazia, dando pequenos goles nas canecas de cerveja trazidas pelo estalajadeiro.

“Então..” Toris disse, recostando-se e apoiando um pé enluvado contra o suporte da mesa. “O que está acontecendo?”

Eles ouviram um estrondo vindo da cozinha. “Cyrene, a Guerreira Estalajadeira,” Xena murmurou, e se lançou para cima de sua cadeira, em direção à porta, pulando por cima de duas mesas que estavam em seu caminho.

Toris e Gabrielle se olharam por um longo momento chocado, e então explodiram em risadas.

“Oh deuses…” Gabrielle suspirou. “Eu precisava disso.” Ela deu um longo gole na cerveja à sua frente. Então olhou para cima para ver os olhos preocupados de Toris sobre ela. É tão estranho… sua mente refletiu. Ver seus olhos no rosto dele.

Toris se inclinou para frente, hesitou, então falou. “Escute… não consigo te dizer o quão mal me senti quando Johan nos contou.” Ele olhou ao redor e então voltou para ela. “Você é como uma segunda irmã para mim, Gabrielle…”

Olhos verdes o estudaram gentilmente. “Você não sabe o que isso significa para mim… vocês dois virem até aqui.” Observando o rubor leve aparecer em seu rosto. “Obrigada, Toris. Foi muito gentil.” Ela fez uma pausa, e agora foram seus olhos que baixaram. “Só de saber que eu tinha… ” Sua voz parou, e ela sentiu o calor de sua mão enquanto ele cobria a dela, apoiada na mesa. “E se sua irmã não estivesse aqui… eu não sei… o que teria feito.”

Toris sorriu. “Você é família, sabe disso.” Ele a tranquilizou. “E… eu não tive a chance de te dizer… antes de você ir… mas estou realmente feliz que você seja.” Seus olhos brilharam gentilmente. “Estou feliz por vocês duas.” Ele olhou para cima quando a porta se abriu, e devolveu o olhar curioso do homem alto e loiro que estava ali.

Gabrielle virou-se para ver para quem ele estava olhando e sorriu. “Olá, Lennat.”

Lennat se aproximou, ainda olhando para o homem de cabelos escuros e olhos azuis sentado com ela. “Oi. Uhm…”

“Oh.. desculpe.” A barda percebeu. “Uhm.. Lennat, este é Toris. Ele é irmão de Xena. Toris, este é o noivo da minha irmã, Lennat.”

Os dois homens se olharam, então Toris sorriu facilmente e estendeu um antebraço. “Ótimo conhecer um novo membro da minha família estendida.” Ele brincou.

Lennat aceitou o antebraço oferecido. “Uhm… ” Seus pensamentos eram evidentes em seu rosto… que ele nunca havia considerado tal coisa. “Acho que você está certo…” Com uma nota de surpresa agradável. “Prazer em conhecê-lo também.”

Ele se sentou ao lado de Gabrielle e ficou quieto por alguns minutos, obviamente digerindo essa mudança mais recente em sua vida. “Eu estava só sendo zuado pela maioria dos meus amigos.” Ele disse finalmente, como que para se desculpar por sua presença nesta hora neste lugar.

Todos olharam para cima quando a porta se abriu novamente, e a bocejante Lila colocou a cabeça na sala. “Ah, que bom.” Ela disse, ao avistar a forma familiar de sua irmã. Ela entrou completamente na estalagem, abraçando o xale em volta dela para se aquecer. “Mãe…” Então ela olhou para cima, e percebeu que havia um estranho na mesa. “Oh… desculpe…” Sua testa se franziu enquanto seus olhos se acostumavam à luz, e sua mente tentava colocar a familiaridade estranha do homem de cabelos escuros ao lado de sua irmã.

“Pare de tentar descobrir de onde você me conhece.” Toris suspirou, revirando os olhos. “Meu nome é Toris, você nunca me conheceu, mas conhece minha irmã.”

“Sua irmã?” Lila perguntou, inclinando a cabeça para ele.

Toris levantou uma sobrancelha expressiva para ela.

“Oh!” Lila explodiu em risos. “Eu nunca soube…”

“Ninguém nunca sabe.” Gabrielle e Toris disseram em perfeita harmonia.

A porta da cozinha escolheu aquele momento para se abrir, e Xena conduziu uma Cyrene sorridente em direção a eles, pausando um passo quando viu os novos chegados. Bem… isso se transformou em uma pequena festa… sua mente riu. “Olá Lennat, Lila.” Ela acenou para eles. “Cumprimentem minha mãe, Cyrene.” Ela olhou para a mesa. “Vejo que vocês conheceram Toris.” Ela sentou ao lado dele e recostou-se, colocando um braço sobre o encosto da cadeira dele. “Ele é meu irmão.”

“Jamais teríamos adivinhado.” Lennat e Lila conseguiram dizer ao mesmo tempo, então olharam um para o outro e riram.

“Alguma sorte?” Gabrielle perguntou a Cyrene, que bufou.

“Eu diria…” Xena comentou, dando um longo gole na cerveja. “As chances de ninguém ser envenenado no casamento de sua irmã amanhã aumentaram significativamente.”

“Então… o que foi o barulho?” A barda persistiu, esticando a mão por baixo da mesa e fazendo cócegas na perna de sua parceira. O que lhe rendeu uma sobrancelha erguida e um sorriso selvagem. Ela mordeu o lábio para não rir.

Cyrene suspirou. “Eu estava apenas tentando…”

“Mãe se opôs às técnicas de armazenamento que eles usam aqui.” Xena murmurou, dando um olhar para Toris.

Ele fez uma careta. “Ah.”

“Assustador.” Ela respondeu. “Muito.”

Lila e Lennat se sentaram, e todos ouviram enquanto Gabrielle relatava a história do ataque saqueador daquela tarde. Xena relaxou os ombros enquanto ouvia o relato e observava os outros observarem Gabrielle. Viu a careta de sua família na descrição gráfica da luta contra o Minotauro, e deu uma resposta encolhendo os ombros.

Lila e Lennat se despediram calorosamente quando ela terminou. “Na verdade, mãe me mandou aqui para garantir que tudo estava bem.” Lila murmurou para Gabrielle enquanto se abraçavam.

Gabrielle a olhou estranhamente. “Eu a vi depois que tudo acabou… então…”

Lila sorriu e apertou sua mão. “Ela estava preocupada com Xena.” Em um sussurro conspiratório.

“Oh.” A barda sorriu. “Ela está bem.” Mas seu coração se aqueceu com o pensamento. Até isso está se encaixando… ela refletiu. “Obrigada por perguntar.”

Lennat ficou em silêncio durante a curta caminhada para casa, mas finalmente suspirou, enquanto desciam pelo caminho iluminado pela lua. “Então.. o que você achou?” Ele finalmente perguntou a ela, puxando-a para parar e sentar-se em uma rocha próxima. Bateu na rocha ao seu lado, e ela se sentou, aproximando-se dele para se aquecer.

“O que eu achei sobre o quê?” Lila perguntou, embora tivesse uma boa ideia do que.

“Sobre eles.” Lennat respondeu.

“Eles como na família de Xena, ou eles como na minha irmã e ela, ou…” Lila provocou, gentilmente. “Vamos lá, Lennat, o que você está perguntando aqui?”

“Toris disse que agora fazemos parte de sua família ampliada.” Lennat evitou a pergunta. “Ele considera… eu suponho… Eu não…”

Lila pensou sobre isso. “Ele considera Gabrielle como uma irmã para ele.” Ela ponderou. “Então… eu suponho que isso me inclui também… e você… bem, vai ser meu marido, então…” Ela olhou para cima, para ele. “Isso te incomoda? Me diga a verdade, Lennat. Você sabe que pode.”

“É só que…” Lennat suspirou. “Parece que ele aceita isso tão… como se fosse natural.” Seus olhos buscaram inquietos os dela. “E não é natural, para mim. Você e eu… isso é natural.”

Lila o estudou em silêncio. “Você acha que elas se amam menos do que nós nos amamos?” ela perguntou suavemente.

O homem loiro encarou as sombras das árvores escuras por um longo momento. Finalmente, ele baixou o olhar para as mãos e então voltou a olhá-la. “Não.” Seus lábios se curvaram. “Não, eu não acho.”

“Então??” Lila perguntou. “Olha… me levou um tempo para entender tudo isso… mas uma vez que entendi, Lennat… uma vez que entendi… Deuses… quem somos nós para dizer o que é certo ou errado? Isso não pode estar errado… o amor não pode estar errado, Lennat… não esse tipo… é o que você e eu estamos sentindo agora. Como você poderia negar esse sentimento a alguém?”

Lennat a encarou. “Eu não posso.” Ele soltou um longo suspiro. “Eu não posso, e não vou. e… agora que tive a chance de me acostumar com a ideia, isso vai se tornar natural para mim também.” Seus olhos sorriram. “E elas serão família para nós, para você, para mim e para nossos filhos.” Suas sobrancelhas se arquearam. “E, além disso…” Agora um sorriso começou a aparecer. “No mundo em que vivemos, consigo pensar em pessoas muito piores para serem parentes.”

Lila pousou uma mão amorosa em sua bochecha. “Obrigada, meu amor.” Ela olhou para cima. “Agora, é melhor irmos para casa e descansarmos… Tenho a sensação de que amanhã será… um dia longo.”

Lennat riu. “Acho que você está certa.” Ele se levantou e estendeu um braço. “Minha dama?” Dos jogos de príncipe e princesa que costumavam brincar quando crianças. Lila sorriu e pousou a mão em seu braço. “Meu senhor…” Ela respondeu, e eles seguiram pelo caminho iluminado pela lua.

Sem dormir até tarde hoje, Xena refletiu, observando distraída o céu lá fora ganhar uma leve tonalidade coral. Já podia ouvir os sons de atividade do lado de fora da estalagem – os primeiros ruídos abafados do estoque sendo engatado, o leve tinido do martelo do ferreiro ecoando, o protesto distante de uma cabra… carregados em uma brisa fria e nítida que também lhe trouxe o aroma do carvão queimando e o rico cheiro de uma grelha em pleno funcionamento.

Devíamos nos levantar… há muito a fazer lá fora. Ela olhou para baixo enquanto Gabrielle se mexia, flexionando as mãos e se aconchegando mais, depois relaxando novamente com um suspiro satisfeito. Um sorriso se desenhou no rosto de Xena ao observar sua parceira dormindo. Bem… talvez mais alguns minutos… Ela realmente não tinha coragem de acordá-la… não quando ela parecia tão tranquila. Não quando a proximidade delas claramente causava aquele pequeno sorriso encantado em seu rosto, que tocava o coração de Xena e derretia sua determinação como o gelo do rio numa manhã de primavera. Ela me tem na palma da mão como uma garota apaixonada… Eu deveria ficar chateada com isso. Ela riu de si mesma. Exceto que estou gostando tanto quanto ela.

Agradável, que Gabrielle parecia abandonar seus pesadelos quando dormiam assim, e isso já fazia um tempo. E os meus... Os olhos de Xena se tornaram sombrios. Menos frequentes que os da barda, mas mais sombrios e violentos. Agora ambas dormiam a noite toda… e isso também tornava o relacionamento diurno mais confortável. Ela fica irritadiça quando não dorme. E eu fico irritável. Não é uma boa combinação. Isso… tem sido bom para nós duas. Seus olhos começaram a se fechar contra sua vontade, e ela suspirou, forçando-se a mantê-los abertos. Não, não… Vamos lá, temos mesmo coisas para fazer hoje.

Não devia ter ficado até tarde ontem à noite com mãe e Toris.. isso foi bem idiota. Seus lábios se curvaram. Cyrene tinha sido gentil e solidária enquanto Gabrielle permanecera lá embaixo com eles, mas assim que a barda disse boa noite com pesar e subiu para o quarto, sua mãe passou algum tempo desabafando sua indignação. Com os pais de Gabrielle. Com Potadeia. Com Xena ela mesma, uma vez que percebeu que sua filha havia arriscado sua vida por ‘aquele homem’.

Então a seguiu escada acima, citando a batalha e dizendo-lhe para descansar. Xena apenas balançou a cabeça e trocou olhares significativos com seu irmão, e aceitou a sugestão, se aninhando com prazer ao lado de sua parceira na sala escura.

Seus olhos começaram a se fechar novamente, e ela os deixou por alguns minutos, depois se forçou a ficar acordada novamente. Isso não está funcionando… Ela admitiu para si mesma.

Gabrielle mexeu novamente, e desta vez seus olhos se abriram preguiçosamente, e ela sorriu para Xena. “Bom dia.” Ela se esticou com prazer sensual e apertou a guerreira, abraçando-a entusiasticamente.

“Bom dia para você também.” Xena riu. “Para que foi isso?”

“Porque eu posso.” Veio a resposta travessa, junto com outro aperto. Ela olhou para a janela e depois de volta para os olhos indulgentes de Xena. “Droga. Já está claro lá fora.” Um suspiro fingido de pesar “Acho que temos que ir ajudar, né?” Deixando seus dedos correrem levemente ao longo do lado de Xena, e sorrindo para a sobrancelha levantada que recebeu em resposta.

Xena assentiu, e passou os dedos pelo cabelo de Gabrielle. “É, parece que sim.” Traçando suavemente a borda externa da orelha da barda, e vendo o ponto de pulsação em seu pescoço saltar.

A barda brevemente considerou a ideia de tirar mais algum tempo de Xena, sabendo que poderia… mas reconhecendo que sua mãe provavelmente precisaria de ajuda. E do apoio. Ela riu de repente. “Oh deuses…”

“O que foi?” Xena perguntou, espiando-a.

“Minha mãe vai ficar louca quando conhecer a sua.” Ela rolou de lado, ainda rindo. “Isso vai ser engraçado de ver. Você percebeu Lila olhando ela de canto de olho? Cyrene, Dona da Estalagem. Deuses, Xena… isso quase me matou de rir.”

Xena rolou para um cotovelo e sorriu. “Bom, ela é. Aterrorizou aquele pobre cozinheiro.”

A barda olhou para cima e fez um sorriso irônico. “Acho que você herdou isso honestamente, então, né”

A guerreira a encarou séria, e então riu. “É… acho que sim.” Ela admitiu timidamente.

Gabrielle olhou carinhosamente para as linhas familiares de seu rosto, e traçou os raios de sol que desciam por seu pescoço e sobre a ampla extensão de seus ombros. E suspirou. “Temos que ir ajudar, né?” Com nostalgia. Então, de repente, sua atenção foi distraída pela intensidade dos olhos azuis em frente a ela, que causou um calor sutil a se espalhar de seu estômago. Talvez pudéssemos adiar isso por mais um tempo…

“Parece que sim.” Xena respondeu, mas ela não conseguia desviar os olhos dos de Gabrielle e encontrou sua mão se movendo por conta própria para alcançar e acariciar o rosto dela. Sentiu o choque sensual quando a barda segurou sua mão na dela, beijando sua palma e acelerando sua pulsação. Parece que as tarefas vão esperar mais alguns minutos… Sua mente riu, enquanto se inclinava para frente e sentia as mãos de Gabrielle deslizarem sob o pano de sua camisa e começarem explorações provocantes, enquanto seus lábios se encontravam e o mundo desaparecia por um tempo.

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“Sabe de uma coisa, eu poderia me acostumar com esse negócio de amanhecer.” Gabrielle disse, um pouco mais tarde, percorrendo com mordidinhas a barriga exposta de Xena, acabando encolhida sob seu queixo e se acomodando confortavelmente entre seus braços. “Deveria tentar acordar assim com mais frequência.” E sentiu Xena respirar fundo e soltar lentamente, aquecendo a parte de trás de sua cabeça e enviando um arrepio pelo pescoço. Gabrielle sorriu… era reconfortante. Assim como a risada baixa que se seguiu, enviando pequenas vibrações por toda a sua espinha. Na verdade, aquilo mais que reconfortante. Seus olhos se fecharam em contentamento.

“Vou ter que me lembrar disso.” Xena comentou, dando uma olhada envergonhada na janela agora totalmente iluminada. “Melhor irmos ajudar senão vai sobrar pra nós.”

“Mmm.” Gabrielle suspirou. “Acho que não posso simplesmente dizer que me dane o casamento, certo?”

“Gabrielle…” Um tom de advertência, mas havia risadas nele.

“Você tem que me ajudar a colocar aquele vestido. Há várias dúzias de coisinhas para amarrar. É pior do que a sua armadura.” A barda acrescentou, em um tom lamentoso, enquanto Xena a abraçava e depois a soltava, levantando-se da cama e ficando de pé. “Tudo bem. Tudo bem…” Ela desceu da cama e foi até onde Xena estava revirando suas mochilas, passando as mãos pelas costas nuas da guerreira. “Alguém já te disse que você tem umas costas muito bonitas?”

Xena virou-se e colocou as mãos nos quadris. “Só você, mas em várias ocasiões.” Ela respondeu com um riso irônico. “Vista-se, Gabrielle.” Ela fez uma pausa, deixando os olhos percorrerem o corpo da barda, que sorria imperturbável. “Ou não serei responsável por explicar por que você perdeu o casamento de sua irmã.”

Gabrielle fechou os olhos e respirou fundo. “É melhor você se vestir primeiro, senão não vou me importar de perder o casamento de minha irmã.” Deuses.. o que deu em mim hoje? Deve ter sido alguma coisa naquela cerveja ontem à noite. Ela corou e ouviu Xena rir. “Desculpe.”

Sentiu mãos gentilmente segurando seu rosto, e abriu os olhos para ver o sorriso deslumbrante de Xena olhando para ela. “Nunca peça desculpas por isso, Gabrielle.” E a beijou profundamente.

“Você precisava fazer isso?” A barda gorgolejou, quando se separaram, e Xena lhe entregou uma túnica com uma risada. “Vou te matar.”

“Claro, claro. Ameaças.” A guerreira resmungou, enquanto prendia as tiras em suas vestes de couro. “Estou com medo.” Ela passou um pente pelo cabelo escuro e o prendeu para trás, longe do rosto.

“Ruf!”

Ambos olharam para baixo, vendo Ares sentado sobre as patas traseiras, as dianteiras apoiadas, olhando de uma para a outra. “Oh..” Xena agachou-se e o empurrou de lado, esfregando sua barriga. “Você também quer participar? Tudo bem… você pode vir caçar comigo. O que acha?” Ela se levantou, pegando o filhote e o carregando enquanto desciam as escadas.

Cyrene caminhou do lado de fora do pequeno templo, acenando rapidamente para si mesma. Ela havia passado sua manhã de forma produtiva e tinha todas as razões para se sentir satisfeita consigo mesma. Ela havia descartado o banquete proposto pela estalagem e, quando eles protestaram que não tinham outras opções viáveis, sua filha, os deuses abençoem seus talentos de caça, apareceu alegremente com um veado enorme e o depositou aos pés da estalajadeira com aquele sorriso deliciosamente convencido. Cyrene sorriu só de pensar nisso.

Então, aquilo tinha corrido bem, e ela finalmente tinha acertado sua relação de trabalho com a cozinheira da estalagem – uma vez que a convenceu de que realmente sabia se virar na cozinha. E a deixou provar algumas amostras. Cyrene riu suavemente.

Depois, houve o templo – ela enviou Toris para ajudar a decorá-lo com guirlandas de flores, e agora ela vagueava para dar uma olhada. Ela avistou um grupo de garotas da vila trabalhando no projeto, com Toris ajudando – mas era óbvio que sua atenção estava distraída por uma figura trabalhando silenciosamente a certa distância das outras.

Gabrielle, com uma expressão determinada no rosto. Cyrene ficou um momento observando a barda completar o que estava fazendo, então saiu pela porta dos fundos do templo. Notou os olhares inquietos que a seguiram dos aldeões e o olhar preocupado de seu filho. Toris a viu e se aproximou, segurando seu braço e a conduzindo para fora.

“O que há de errado?” Ela perguntou, em voz baixa.

Toris olhou ao redor e então a encarou. “É a Gabrielle – você sabia o que aconteceu da última vez que ela esteve em casa?”

“Não.” Cyrene respirou. “Mas você vai me contar, não vai, querido?”

E ele contou, tendo ouvido várias versões das garotas da vila que ele tinha ajudado. Perdicus, Callisto e seu próprio casamento. “Deuses.” Cyrene suspirou. “Deixe para Xena não mencionar tudo isso.” Ela afagou o braço dele. “Você fique aqui e ajude. Vou ver se consigo encontrá-la.”

“Tente o cemitério.” Toris respondeu, quietamente, enquanto lhe dava um aceno, e voltou ao templo. As garotas o observaram disfarçadamente enquanto ele atravessava de volta até elas e pegava mais uma guirlanda, e ele riu ironicamente para si mesmo. Hora de uma pequena lição, eu acho.

“Então.” A mais velha delas perguntou, observando-o de soslaio. “Como é ser irmão de Xena?” A mais nova riu. “Ela pode te bater?”

Toris riu. “Claro.” Notando seus olhares surpresos. “Ela pode bater em todo mundo. Realmente útil tê-la por perto, como vocês descobriram ontem.” Ele fez uma pausa. “Desculpe por termos perdido toda a agitação. Mas ficamos realmente felizes por ter a chance de vir aqui e conhecer o restante da família da Gabrielle.” Manter uma expressão séria era difícil. “Agora que ela também é uma irmã para mim.”

A garota mais velha parou e inclinou a cabeça para ele. “Você considera a Gabrielle parte da sua família?” Todas estavam observando-o furtivamente, prestando a mínima atenção às flores que estavam arrumando.

“Claro.” Toris respondeu, pulando em um banco de pedra e jogando uma ponta da guirlanda em suas mãos sobre a viga de madeira acima de sua cabeça. “Todos nós consideramos… e vocês deveriam ter visto a enorme festa de aniversário que fizemos para ela quando ela estava…” Ele hesitou por um momento. “De volta em casa.” E por um breve momento, foi assim. E poderia, um sentimento interior lhe dizia, um dia ser novamente. Ele sorriu. “Nós a amamos. Ela é ótima.”

Elas o olharam quietamente, depois se olharam.

Toris sorriu e continuou a decorar.

Cyrene caminhava pelo caminho solitário, o único som sendo o ruído de suas solas de botas esmagando as pedras espalhadas pelo chão. A mata rala ao seu redor parecia árida, pois o inverno havia se instalado na região, e ela se sentia… gelada. Ela dobrou a última curva antes do cemitério e parou, na sombra de um velho carvalho, uma mão repousando na casca áspera. Diante dela estava o cemitério, e no centro das muitas pedras estava uma figura solitária.

Gabrielle permanecia em silêncio, olhando para baixo o túmulo cuidadosamente mantido aos seus pés. Olá, Perdicus. Ela suspirou. Espero que esteja nos Campos Elísios, em algum lugar. Com muitas pessoas para conversar e coisas para fazer. Ela estudou suas botas por um tempo. Eu sei que pode ouvir meus pensamentos… e sei que sabe o que aconteceu comigo desde que você.. partiu. Uma longa pausa. Sinto muito, Perdicus. Você não sabe o quanto sinto muito. Sinto muito que tenha entrado no caminho dela. Sinto muito que tenhamos seguido com nosso casamento. Sinto muito por não ter podido te dar a única coisa que você me pediu. Seus olhos se encheram de lágrimas. Porque isso já tinha sido dado a outra pessoa antes de nos encontrarmos novamente. E eu acho.. bem no fundo do seu coração.. que você sabia disso. Ela se abraçou. Eu sabia. E segui em frente mesmo assim, e nunca, jamais vou me perdoar por isso. Mesmo que você perdoe. Mesmo que.. mesmo que ela o faça livremente. Eu não. Nunca.

Um olhar para o céu azul sem nuvens. Eles estão certos, Perdicus. Este não é mais o meu lar. Talvez eu seja apenas azarada. Sempre fui culpada pelas más colheitas, lembra? De qualquer forma. Eu sei que está em paz agora. Um dia, nos sentaremos e conversaremos, ok? E não fique bravo com a Xena… nada disso foi culpa dela, Perdicus. Não foi. Callisto nos pegou de surpresa.. pensávamos que iria atrás de mim. Nunca esperávamos que fosse atrás de você. Se Xena pudesse tê-la impedido, teria… embora, agora eu saiba.. que teria sido uma coisa terrível para todos nós. Para todos nós. Porque ela é a outra metade da minha alma, e por mais que saiba que você me amava.. isso teria nos separado.

Ela rezou por mim, Perdicus.. ela nunca pede nada aos deuses, mas se ajoelhou, ofereceu sua espada e rezou por minha alma. E sabe.. é uma imagem que guardo em meu coração.. para sempre. Ela usou a manga para limpar os olhos. Hora de se vestir e assistir minha irmã se casar, velho amigo. Estou rezando para que a vida dela com Lennat seja longa, sem perigos e frutífera. Eles pertencem um ao outro.. fique feliz por eles. Eu estou. Com delicadeza, ela se ajoelhou, pegou um punhado de flores das guirlandas de casamento e as lançou sobre a sepultura. Então ela se levantou, e guardou uma última flor, e a girou entre os dedos. Descanse em paz, velho amigo. Então ela respirou fundo e virou-se, caminhando de volta em direção ao caminho, entre as fileiras dos mortos recentes e antigos.

Ao voltar para o caminho, ela percebeu que Cyrene estava parada nas sombras, observando-a. “Olá, mãe.” Ela disse, suavemente, enquanto se aproximava da mulher mais velha.

Cyrene avançou e a abraçou. “Sinto muito, Gabrielle.” Ela murmurou no ouvido da barda. “Sinto muito que tenha tido que passar por isso. Você não merece coisas tão infelizes.”

Gabrielle retribuiu o abraço, então deu um passo para trás e olhou para Cyrene. “Eu meio que cheguei a uma.. conclusão sobre tudo isso.” Sua boca se mexeu em um meio sorriso fatigado. “Às vezes, as coisas têm que acontecer. E.. parece terrível quando acontecem. Mas você olha para trás mais tarde e vê que… bem, elas tinham que acontecer. É só isso.”

“É assim que você lida com isso, filha?” A mulher mais velha sussurrou, chocada.

“Eu tenho que lidar.” A barda sussurrou de volta. “Porque eu sei… na verdade do meu coração, que se ele tivesse vivido, eu teria sido… Foi um erro, mãe… e eu sabia que era.” Seus olhos se fecharam, e seus ombros se curvaram. “E mesmo assim eu fiz. Então isso tinha que acontecer. ” Ela fez uma pausa. “Porque se não tivesse acontecido… ” Em sua mente, ela pôde de repente imaginar o que poderia ter sido… o lento morrer de seus sonhos e o cruel vazio que ela começou a sentir e que só poderia ser preenchido por uma única pessoa. Esse vazio que ela começou a sentir, até naquela noite em que ela e Perdicus estiveram juntos. Ela disse a si mesma naquela época que isso passaria, depois de um tempo. Mas agora… sabendo o que sabia agora… Um calafrio percorreu seu corpo. “Mas tomei a decisão errada. E todos nós pagamos por isso.”

“Oh, Gabrielle.” Cyrene a abraçou novamente. “É isso que minha filha também pensa?”

A barda fungou e apoiou a cabeça no ombro de Cyrene. “Não… ela diz que o que aconteceu foi culpa da Callisto, e nenhum de nós pode ser responsabilizado por isso.”

“Ela está certa, sabe.” Cyrene disse, acariciando suas costas suavemente. “Imagine, minha filha mostrando bom senso.”

Isso arrancou uma risada fraca de Gabrielle. “Ei…” ela protestou. “ela tem muito bom senso.” Percebendo o que Cyrene estava fazendo e feliz por isso. “Ela vê as coisas muito mais claramente do que eu às vezes.” Defender Xena era um reflexo inconsciente para ela… mesmo contra sua mãe. Mesmo sabendo que Cyrene estava apenas tentando desviar sua mente das coisas.

“Hmm…” Cyrene colocou um braço em volta dela e a conduziu pelo caminho. “Deve ser por causa da altura. Melhor visão.” Mas interiormente, seu coração doía, por essa jovem barda, e por sua filha. “Ela ficou ao seu lado no seu casamento, querida?”

Gabrielle assentiu. E fechou os olhos momentaneamente contra a memória da despedida.

“E abençoou também, eu acho.” A mulher mais velha incentivou.

A barda assentiu novamente. Se ao menos eu pudesse tê-la lido naquela época como posso agora. Eu teria sabido. Aquilo não teria me enganado por um segundo, não com o jeito que seu coração batia. Eu senti, quando ela me abraçou. Então era o meu também.

Cyrene suspirou. “Ela é tão idiota às vezes.”

Gabrielle soltou uma risada surpresa. “Não, ela não é.” Então sua garganta se fechou, e mal conseguia falar. “Ela só fez o que achou melhor para mim.” Ela fez uma pausa. “Ela sempre faz. Mesmo quando realmente não é a melhor coisa para ela.”

Cyrene abraçou seus ombros. “Essa é uma das definições mais honestas de amor que já ouvi, Gabrielle.”

A barda sorriu. “Eu sei.” Elas seguiram em silêncio por um tempo. Então… “Obrigada, mãe.”

“Sempre, querida. E falando nisso, quando vou ser apresentada à sua própria mãe? Eu pediria para Xena fazer isso, mas você sabe como isso geralmente acontece.”

Elas se olharam e riram. “Na verdade, ela tem sido hmm… realmente diplomática durante todo esse tempo.” Gabrielle afirmou, com um sorriso. “Exceto pelas ameaças ocasionais e por jogar alguém na fossa de estrume.” Ela suspirou. “Vamos lá. Farei as honras.”

Oh.. isso foi divertido. Gabrielle contemplou, enquanto subia as escadas para o quarto delas, depois de fazer as apresentações na casa de sua família. Sinto muito que Xena tenha perdido isso. Ela teria gostado. Lila certamente gostou. Ela empurrou a porta aberta e olhou ao redor. Xena não estava em lugar algum, mas ela tinha estado ali.

Gabrielle andou pelo quarto e sorriu. Seu vestido havia sido desembalado do seu embrulho e pendurado cuidadosamente, todos os laços e fechos endireitados e arrumados precisamente. Na mesa, estava o seu pequeno estojo e a bolsa onde guardava suas joias. Ao lado de uma cesta de pão, queijo e frutas, com um bilhete descansando em cima dela. Ela levantou o bilhete, escrito em uma mão firme e familiar.

“Coma algo ou você vai desmaiar durante a cerimônia. Estou falando sério. X.”

Ela levantou o bilhete aos lábios e o pressionou ali. Deuses, eu a amo. Sua mente riu. A ansiedade que a havia atormentado desde que decorara o templo se dissipou enquanto ela obedecia, sentando-se na beira da mesa, escolhendo uma fatia grossa de pão e cobrindo-a com um pedaço cremoso de queijo branco.

Ela estava para começar a comer quando a porta se abriu silenciosamente. Ela olhou para cima para encontrar os olhos de Xena e lhe deu um sorriso caloroso. “Ei.” Sua mão fez um gesto ao redor do quarto. “Obrigada.”

Um sorriso da guerreira e um encolher de ombros depreciativo. “Pensei que você poderia precisar de uma ajuda.”

Gabrielle a olhou e deixou o pão de lado. “A única coisa que eu poderia precisar agora é você.” As palavras saíram antes que ela pudesse detê-las.

Xena deixou o embrulho que estava carregando e se aproximou dela. “Toris disse que você estava chateada… Não que eu precisasse da informação dele. Vem cá.” Ela abriu os braços e envolveu Gabrielle neles, puxando a barda para um contato próximo.

A barda caiu gratamente em seu abraço forte. “Deuses… isso é bom.” Ela murmurou no ombro de Xena, respirando o acolhedor cheiro de sabonete de ervas e couro, e sua alma gêmea. “Eu pensei que tinha tudo sob controle… Esqueci do templo. Tudo voltou.”

“Sim. Para mim também.” Veio a resposta inesperada. “Eu não… tenho boas lembranças daquele lugar.” Ela evitou os olhos tristes de Gabrielle. “Talvez o casamento de hoje apague essas lembranças.” E conseguiu sorrir para sua parceira. “Escuta, se você quiser ficar depois da cerimônia…”

“Não.” Curta e certeira. “Eu já tive o bastante deste lugar. Eu quero passar esta noite sob as estrelas. Sozinha, exceto por um lobo, um cavalo e você.”

Xena deu um sorriso invisível. “Nossas coisas já estão prontas.” Ela respondeu. “Eu também estou ansiosa por isso.” Deuses… ela estava mesmo. Chega de mentes pequenas, vilarejos pequenos e intrigas mesquinhas. “Mamãe está cuidando das coisas aqui – ela vai ficar alguns dias e acertar as coisas com Hécuba.” Seus lábios se retorceram. “Agora, aquilo foi um par para ver juntas.”

Finalmente soltando Gabrielle, que se afastou apenas o suficiente para olhar para cima para ela. “Você é maravilhosa.”

Recebendo um sorriso sarcástico de Xena. “Não.”

Gabrielle envolveu suas mãos no couro macio que a cobria e puxou com força. “Sim.”

“Vá se limpar.” Xena mudou de assunto. “E vamos te colocar neste vestido, para você ir para este casamento.” Ela pausou. “Vá.”

“Ok mãe.” Gabrielle provocou, deslizando-se para mais um abraço.

“Vou te pegar por isso, pimentinha.” Xena ameaçou, envolvendo um braço em torno de sua cintura e a levantando. “Peguei você.”

“Xena!” A barda riu. “Me solta!”

“Ah ah.” A guerreira balançou a cabeça. “Você está presa. Vou te levar para a cerimônia assim mesmo.” Ela começou a andar em direção à porta. “Eu até posso fazer isso.” E começou a fazer cócegas nela, recebendo gritos de indignação da barda, que estava rindo demais para lutar muito.

“Ohh… Ai! Para com isso…” Ela tentou pegar Xena, mas a guerreira ignorou seus esforços e continuou andando, para fora da porta e pelo corredor até o banheiro. “Xena!!!”

“Você ouviu algo?” Xena perguntou para ninguém em particular. “Devo estar imaginando coisas.” Ela empurrou a porta com o pé calçado e a fechou atrás delas, e agarrou os joelhos de Gabrielle, a levantando em uma posição de colo. “Desabotoe sua túnica.”

Gabrielle soltou um suspiro, mas fez o que lhe foi pedido. “O que você está fazendo? Xena, vai estar frio… oh. Uau.” Ao ser abaixada na banheira cheia de água morna e perfumada. “Uau.” Xena removeu sua túnica frouxa e a puxou para fora, deixando-a flutuar. “Uau.” Ela suspirou e respirou profundamente o vapor da água perfumada de jasmim. E olhou para cima para Xena em adoração total. “Você é tão fofa.”

Xena pausou, enquanto dobrava a túnica da barda e a colocava, e colocava ambas as mãos na beirada da banheira, levantando as sobrancelhas e resmungando. “Fofa?”

“É.” Gabrielle prendeu o lábio inferior nos dentes em um esforço para não sorrir. Ela espirrou água em sua parceira. “Não se preocupe, não vou contar a ninguém o quanto você é doce e fofa. E legal. Eu prometo.”

Xena corou. O que fez Gabrielle dar uma risadinha encantada. A guerreira fez uma careta. “Eu só pensei…”

Uma mão escorregou da banheira e cobriu a dela, e o rosto da barda ficou sério. “Eu sei que você pensou. E… deuses… obrigada. Por tudo. Xena, mesmo.”

Xena sentou-se em um banquinho baixo ao lado da banheira e apoiou o queixo em seus braços dobrados em cima da borda. “Você teve um tempo realmente difícil aqui, Gabrielle. Eu… eu teria poupado você disso, se pudesse.” Seus olhos azuis estavam cheios de uma tristeza agonizante.

“Troca justa, Xena.” A barda sussurrou, tocando a ponta dos dedos na bochecha de Xena. “Lila, mãe, Lennat… Tectdus, Alain… valeu a pena.”

“Eu sabia que você diria isso.” Veio a resposta tranquila. “Aqui, deixe-me arrumar seu cabelo… o tempo está ficando curto.”

Gabrielle estava em frente ao espelho, franzindo a testa para o reflexo. “Eu realmente não…”

“Shh.” Xena disse, ajustando sua manga. “Você está linda.” E ela estava, o vestido, em camadas que iam de cinza claro a ardósia, combinava com sua coloração, e fazia sua pele bronzeada e cabelos dourados avermelhados brilharem.

“Não.” Gabrielle virou-se e olhou para ela. “Eu estou adequada. Você, por outro lado, está maravilhosa.” Observando a túnica longa de seda bordada em vinho que Xena estava usando. ‘Mas então, você poderia vestir um pano de prato e ficar assim, então…”

“Opiniões variam.” Xena resmungou, ajustando a gola alta em seu traje e passando as mãos pelo cabelo escuro para ajeitá-lo. A túnica era ajustada, delineando sua forma muscular com precisão elegante, movendo-se com ela conforme ela se movia e se ajustando ao corpo nos lugares certos. Nada mal. Ela admitiu de má vontade para si mesma. Bem… se vão ficar olhando, que olhem mesmo. Ela sorriu para seu reflexo e ajustou as pulseiras trabalhadas ao redor de seus pulsos. “Pelo menos cobre a maioria das cicatrizes.” Mas seus olhos brilhavam.

Gabrielle olhou para o espelho e foi capturada pela imagem delas duas, em pé lado a lado na luz do sol quente que vinha da janela. ‘Na verdade…” ela deu a Xena um pequeno olhar de lado e corou. “Isso é uma bela imagem.” Ela apontou para o reflexo.

“Mmm.” Xena arqueou uma sobrancelha para ela. “Acho que é mesmo.” Ela colocou os braços ao redor da barda e observou os resultados no espelho. Realmente uma bela imagem.

Elas se olharam e sorriram “Ok.. é melhor irmos.” Gabrielle finalmente disse, dando um último ajuste em seu vestido.

“Hmm..” Veio a resposta. “Ah.. uma última coisinha.” Xena casualmente pegou a mão de Gabrielle e deslizou um anel suavemente em seu dedo. Aproveitando completamente a expressão totalmente atordoada no rosto da barda. “Pensei que seria mais fácil carregar isso do que aquela maldita adaga.” Ela tentou parecer indiferente, mas sua voz falhou, e ela corou. Ela estava mais nervosa com isso do que pensara.

Gabrielle abriu a boca para falar, mas nada saiu. Então ela estudou o anel em vez disso – era uma versão menor do próprio sinete de Xena, com seu brasão gravado nele, e ouro serpenteado por baixo. “É… é lindo.” Ela finalmente sussurrou. Oh… deuses. É perfeito… “Mas… quer dizer… você não precisava… eu sei que você…” Uma pequena pausa. “Oh Xena.” Na voz mais suave que ela tinha.

“Uhm.” Xena soou incomumente insegura de si mesma. “Olha.. a cerimônia hoje é.. meio que um contrato legal. E… as Amazonas têm uma cerimônia que… fornece um… contrato social.” Seus olhos se ergueram e encontraram os de Gabrielle. “Eu não acho que nenhum dos dois realmente… cubra… o que você é para mim.”

Vi a mandíbula da barda se apertar e sua garganta engolir em seco.

“Então eu tive que improvisar.” Ela pausou. “Como sempre.. então eu só… bem, eu pensei.. eu queria te dar algo que.” ela deu uma respirada. Deuses.. isso está sendo mais difícil do que eu pensei que seria. “Algo que… bem, meio que indica o quanto você é parte de mim.” Lá. Deuses. Eu lutei batalhas inteiras em menos tempo e com muito menos esforço. E até pratiquei para esta. Ela baixou o olhar e terminou em voz baixa. “Porque você é uma parte vital da minha vida, Gabrielle. E… não consigo te expressar o quão feliz isso me faz..”

Posso congelar este momento? Gabrielle se abraçou. Eu quero que dure para sempre, para que eu possa tirá-lo, nos momentos mais sombrios, e apenas lembrar disso, e isso vai afastar a escuridão e colocar minha alma em paz. Quero memorizar cada som, cada cheiro.. para que o canto dos pássaros lá fora, e o tinir do martelo do ferreiro, e o cheiro de velas de cera de abelha recém-apagadas, e a cor de sua túnica, e o olhar em seus olhos.. tudo.. me lembre deste instante.

“Se houvesse palavras para expressar o que estou sentindo agora.. eu as diria.” A barda disse suavemente. “Mas não há, então vou apenas te dizer que você é minha vida.” Ela pausou, nunca desviando o olhar dos olhos de Xena. “E meu lar. E sempre será.”

Elas ficaram em silêncio, no calor do momento, no sol quente que atravessava suas mãos unidas e dançava no espelho refletido, e deixaram as emoções se acalmarem dentro delas.

Finalmente, Gabrielle sorriu pensativamente. “Já vi escritos que celebram a união de vidas.. de corações.. Xena, mas nenhum deles conta como é estar no centro da união de duas almas…” Ela deu um leve balanço de cabeça. “Eu me pergunto por que não?”

“Eu não sei.” Xena disse, levantando a mão e roçando seus dedos com os lábios. “Provavelmente porque você ainda não escreveu isso.” Seus olhos assumiram um brilho bronzeado. “Agora eu acho que você vai.”

“Eu acho que vou mesmo.” Veio a resposta rindo suavemente. “Vamos lá.. se eu me atrasar para isso, estou ferrada.”

Xena estendeu o braço e levantou as sobrancelhas. Gabrielle envolveu seu braço ao redor da guerreira, e elas seguiram para o templo.

“Tudo pronto?” Cyrene perguntou, colocando uma mão amigável no braço de Hécuba. “Hécuba?”

“Hmm?” A mulher distraída respondeu. “Ah… céus. Sim, me desculpe, Cyrene. Você tem sido como um presente dos deuses. Obrigada.” Ela lançou um olhar para a mulher de cabelos escuros, ainda tentando se acostumar com a ideia da estranhamente incomum e violenta Xena ter… de todas as coisas, uma mãe. E uma muito agradável, por sinal, que havia calmamente assumido o controle de muitos dos detalhes com os quais sua mente exausta realmente não tinha energia para lidar. A mulher era positivamente… competente. E tinha coisas muito boas a dizer sobre sua Gabrielle, que simplesmente entrou na cozinha antes e disse “Mãe, esta é Cyrene.” E ela olhou de suas preparações, bastante surpresa, para ver uma mulher mais velha, de altura mediana, e olhos penetrantes ao lado de sua filha mais velha.

E ela gostou dela, muito. Elas tinham muito o que conversar… sobre viver em vilarejos, colheitas, lidar com mercadores. Seus lábios se curvaram. Filhas. Ela aprendeu muito sobre a pessoa que sua Gabrielle escolheu para viver sua vida… e agora que se resignara a isso, ficou mais fácil para ela ver Xena como algo mais do que uma ex-guerreira. Mas ela ainda temia por sua filha. E descobriu que Cyrene sentia o mesmo.

Agora estavam na igreja, esperando. Hécuba olhou em volta com aprovação. “Eles fizeram um trabalho encantador com as flores, não acha?”

Cyrene assentiu, observando os moradores começarem a se reunir na igreja, agrupando-se em pequenos grupos e conversando entre si. A porta se abriu suavemente, e Gabrielle entrou, avistando sua irmã perto do altar e seguindo em direção a ela.

“Oh meu… ela não parece linda.” Hécuba comentou, com um pequeno sorriso surpreso.

Cyrene deu uma risada apreciativa. “Muito bonita.” Ela concordou. E a loira barda certamente parecia bela… os tons de cinza de seu vestido realçavam seu cabelo, e faziam seus olhos verdes vivos se destacarem nitidamente. Além disso.. ela se portava com uma postura de confiança.. e tinha um brilho interno sobre ela que era muito diferente da tristeza silenciosa que Cyrene havia visto antes. Algo aconteceu… e se eu conheço minha filha, ela estava no cerne disso. previu a estalajadeira.

“Gabrielle!” Hécuba chamou, fazendo um gesto para ela se aproximar. A barda mudou de direção no meio do caminho e foi até elas. “Como você está linda!”

“Obrigada.” Gabrielle sorriu. “Eles fizeram um bom trabalho com o vestido.” Ela olhou para baixo e deu de ombros.

Um assobio soou atrás deles, e então Toris estava enfiando a cabeça entre Gabrielle e Cyrene. “Uau.. você está ótima, Gabrielle.” Ele piscou um olho azul brilhante para ela, e ela lhe deu um sorriso caloroso em resposta.

A barda puxou sua manga e ficou de pé por um minuto para olhá-lo. “Você também está muito bem, Toris. Essa cor fica ótima em você.”

Toris corou, contrastando fortemente com o azul profundo de sua túnica, tons mais escuros do que seus olhos. “Uh… obrigado.”

Hécuba inclinou a cabeça mais perto de sua filha e suspirou. “E que lindo colar.” Ela virou Gabrielle um pouco para a luz. “Cor maravilhosa.”

“Todo mundo diz isso.” Gabrielle respondeu, com um sorriso travesso.

Cyrene riu e, por acaso, olhou para baixo, captando um pequeno movimento no canto do olho. A mão de Gabrielle estava se movendo ligeiramente, seus dedos brincando inconscientemente com um anel desconhecido que adornava seu dedo. Então ela parou por um instante. Tempo suficiente para Cyrene dar uma boa olhada na joia. Essa traquina! Sua mente gargalhou. Não posso acreditar que ela não me disse que ia fazer isso!

“Bem, Lila está me acenando.. tenho que ir.” A barda comentou, dando um abraço em sua mãe. “Nos vemos mais tarde.”

Ela virou e foi até onde Lila estava, e deu um abraço em sua irmã mais nova também. Lila puxou sua manga cinza e disse algo que deve ter sido sarcástico, porque Gabrielle abriu as mãos e deu de ombros.

“Deuses.” A voz de Toris subiu para um guincho, alarmando Cyrene.

“O que??” Ela exigiu, virando-se para ele, e percebendo que seu olhar estava fixo do outro lado da sala. Ela girou e viu o que ele estava olhando, e ergueu as duas sobrancelhas. Meu.. Deus..

Xena havia entrado silenciosamente por uma porta lateral e estava atravessando a igreja em direção a eles, passando dentro e fora de barras de luz solar das janelas que capturavam cada dobra sedosa da rica túnica cor de bordô que ela estava usando e refletiam as reflexões dos braceletes entrelaçados em seus pulsos. Movendo-se com uma força inconsciente que o tecido aderente não conseguia disfarçar.

Certamente… Cyrene pensou. Certamente ela percebe que todos os olhares na sala estão sobre ela. E um rápido movimento de cabeça mostrou que era verdade… e pegou a cutucada de Lila em sua irmã, que sorriu. E ela sentiu um surto de orgulho maternal.

“Oi.” Xena disse, olhando de sua mãe para seu irmão. “Algum problema?”

“Uau.. deixe-me dizer.. se você não fosse minha irmã..” Toris rosnou, aproximando-se dela e passando os dedos sobre o tecido macio.

“Você faria.. o quê? Toris?” Xena respondeu, erguendo uma sobrancelha escura para ele e acrescentando um sorriso selvagem. “Hmm??”

“Mmm… algo que garantisse você me colocar na enfermaria.” Seu irmão respondeu, piscando os olhos para ela. “Você está realmente bem nisso, mana.”

Xena sorriu. “Obrigada. Você também está muito bem.” Ela o acariciou de lado. “Você também, mãe.”

Cyrene resmungou. “Humpf. As duas pessoas mais bonitas da sala, e o que você sabe? Eu sou a mãe delas.”

“Mãe!” Ambos suspiraram em uníssono.

Cyrene sorriu.

“Grande Hera, Gabrielle… você está fantástica. Muito melhor do que eu.” Lila provocou, enquanto sua irmã se aproximava de onde ela estava perto do altar. “Quando você ficou tão linda?”

“Lila!” Sua irmã resmungou. “Se toca.” Ela olhou ao redor, respirou fundo e colocou suas memórias deste lugar firmemente de lado, para outro momento. Este era o dia de Lila, e ela se recusava a pensar em coisas tristes durante ele. “Além disso, você está ótima também.”

“Não, sério…” Lila protestou, virando-a para a luz. “Eu não estou brincando.” Em um tom mais suave. “Você parece… você parece diferente de alguma forma.”

“Não mesmo.” A barda sorriu alegremente. “Apenas eu.” Ela olhou ao redor. “Onde está Lennat?”

Lila revirou os olhos. “Recebendo instruções de última hora do nosso pai e do Tectdus.”

“Hmm… isso é algo bom?” Gabrielle perguntou, cruzando os braços sobre o peito e levantando as sobrancelhas.

“Bem, Lennat é bem decidido…” Ela riu. “E Tectdus é realmente doce, então…” Ela parou de falar e estendeu a mão, pegando a mão de sua irmã e puxando-a para longe do peito. “Gabrielle!!!”

“Ei… o que… ah.” A barda entregou sua mão, tentando não corar. “Sim… uhm…”

“Isso é realmente bonito.” Lila cantarolou, examinando o selo. “Isso é…” Ela olhou para o rosto de Gabrielle. “Deve ser.” Ela sorriu, e pausou, e elas se olharam. “Eu espero… deuses, eu espero que minha vida com Lennat coloque metade da expressão no meu rosto que você tem no seu agora.”

Gabrielle fechou os olhos e deixou o calor rico preencher toda ela novamente. Então ela abriu os olhos e olhou para sua irmã. “Eu também espero.”

“Bem, eu não… deuses, Bree.” Os olhos de Lila se arregalaram, e ela cutucou sua irmã com força nas costelas. “Uau…”

Sim, uau. Gabrielle respirou fundo. Isso é meu. Então os olhos azuis cortaram o templo e encontraram os seus, e deram-lhe um piscar cúmplice. E ela percebeu que estava com aquele sorriso bobo em seu rosto pelo repentino brilho nos olhos de Xena e pelo flash de seu próprio sorriso deslumbrante. “Ela se arruma bem, não é?” ela comentou com Lila, tentando recuperar o controle.

Lila lhe deu um olhar, então riu. “Bem, isso deixou metade da vila atordoada. Entre ela e Toris, você conseguiu cobrir tudo…”

Gabrielle riu e assistiu Xena se juntar à sua família um pouco mais à frente de onde ela estava. “Sim… eles são uma dupla e tanto.” E recebeu outro piscar de sua parceira, que ela retribuiu com um sorriso.

Então a porta se abriu, e Lennat atravessou o chão de pedra áspera, seguido por Tectdus, e Metrus, e Heródoto. Os aldeões se aquietaram e começaram a se reunir ao redor do altar onde o sacerdote estava.

Lennat se aproximou de Lila, pegou sua mão, levou-a aos lábios e a beijou. Eles se viraram e encararam o altar, e o sacerdote se juntou a eles, lançando grinaldas perfumadas de flores sobre suas cabeças e as espalhando com ervas.

Alain, de olhos arregalados, ficou ao lado de Lennat, todo nervoso e com a pele rosa recém-lavada. “Meu irmão!” Ele sussurrou para ninguém em particular, tendo sido informado recentemente… “Uau.” Ele olhou para cima e na direção de onde Xena estava, e lhe deu um sorriso.

Ela piscou para ele. Isso fez o rosto dele ficar todo feliz, e ele suspirou de contentamento. As histórias que ele sempre amou mais eram aquelas que Bree sempre contava e tinham heróis nelas. Ele pulou para cima e para baixo algumas vezes. Agora ele conhecia um herói ele mesmo. Ele tinha uma imagem. agora. uma toda sua.. que ele guardava para se aconchegar à noite e lembrar..

Heródoto era uma presença silenciosa e sombria atrás de sua filha e Lennat. Seu rosto estava imóvel e fechado, e nenhuma reação mostrava ali, mesmo quando seus olhos desviavam do altar e passavam por cima de Gabrielle… E não foram mais longe, porque ele sabia que se fizesse isso… se deixasse seus olhos deslizarem além de sua forma elegante, ele teria que enfrentar um par de olhos azuis gelados cuja intensidade ele havia descoberto ser demais para suportar.

Maldita seja ela. Sua mente rosnou. Eu quero odiá-la. Oh.. como eu quero. Mas sua mente continuava repetindo o dia anterior uma e outra vez.. não lhe dando descanso. Nenhuma consolação, mesmo com bebida suficiente para levá-lo ao esquecimento, ele ainda via aquele maldito rosto com espuma do Minotauro vindo em sua direção. Balançando aquela maldita clava nele… e sabendo que sua morte estava se aproximando.

Então aquela maldita mulher… aquela maldita mulher. Ela havia se jogado na frente daquele Minotauro, e levou o golpe que era para ele. Ele tinha visto… visto a expressão de agonia em seu rosto quando o golpe a atingiu… não importa o quanto ela tentasse minimizar depois. Ele tinha ouvido o horrível som de ossos se quebrando quando ambos haviam batido na árvore ao lado de onde ele estava. Visto ela de alguma forma… de alguma forma… se recompor e simplesmente… Ele nunca imaginou como seria ser um guerreiro… nunca pensou além das espadas brilhantes e dos triunfos… nunca imaginou como seria enfrentar seu corpo dia após dia, vez após vez, contra inimigos que, alguns deles, eram maiores, mais rápidos e mais fortes do que ele. Ela tinha enfrentado aquele monstro sem se importar – sabendo apenas que ela estava entre ele… e ele. Colocou sua vida antes da dela. E sua mente admitiria apenas uma definição para ela agora.

Ele estava furioso. Consigo mesmo. Com ela. Com as malditas imagens que ela havia plantado em sua mente, depois de todos esses anos malditos que estavam despertando algo nele que ele desesperadamente queria manter enterrado. Esquecer. A parte dele que ele via tão agonizantemente em sua filha mais velha. Deuses te amaldiçoem, Xena. Você não despertará aquela voz em mim, não agora. Não de novo.

Mas estava lá, sussurrando para ele. Ele desejava ceder tanto a isso – Hécuba tinha perguntado o que acontecera quando ele chegara em casa mais cedo, e ele quase mordera os lábios até sangrar de desejo. A necessidade de descrever com palavras as imagens agora tão vividamente enraizadas em sua mente. Uma necessidade que eles pensavam ter afastado dele tantos anos atrás, que ele próprio tinha sufocado com amargura e álcool por muito tempo.

Com determinação, ele afastou esses pensamentos e voltou sua atenção para o sacerdote e a cerimônia diante dele. Isso passaria com o tempo. Sempre passava. Mas maldita seja essa mulher.

“Ele não parece que engoliu um estrume de vaca?” Cyrene murmurou quase inaudível, sabendo que Xena a ouviria.

“Mmm.” Veio a resposta um pouco mais alta.

“Não consigo suportá-lo, Xena. Não consigo – posso falar com Hécuba, mas..” Ela continuou, mantendo os olhos na cerimônia em progresso. “Nada mudará com ele.”

Sentiu uma mão repentina em seu ombro, e sentiu o calor enquanto Xena se inclinava perto de seu ouvido. “Qualquer um pode mudar.”

Ela virou a cabeça ligeiramente e encontrou o olhar sério de sua filha. Que era prova viva dessa afirmação. Sua mente tremeu. Ela mudou nos últimos dois anos.. ou apenas reavivou uma parte de si mesma há muito enterrada? Cyrene lembrou-se da criança pequena que insistia em proteger agressivamente os vira-latas da vila e sorriu interiormente. “É impossível, Xena.”

“Faça ele te contar uma história.” Veio a resposta sussurrada. Então Xena se afastou e bateu os ombros com Toris, que estava ouvindo atentamente a troca de votos. Toris olhou para ela e, inesperadamente, passou um braço em volta de seus ombros.

Recebeu uma sobrancelha arqueada.

“Porque eu posso, e não vou quebrar minhas costelas.” Foi a resposta dele, com um olhar presunçoso. Então ele deu um pulo quando sentiu ela se mexer.

“Relaxe.” Ela resmungou, e devolveu o gesto, colocando um braço ao redor de sua cintura. “Eu não vou te jogar no chão no meio de um casamento.”

Eles se olharam, sorriram, e então se viraram para assistir, enquanto Lennat tirava as guirlandas de seus pescoços, e as enrolava em torno das mãos unidas à frente deles, e Xena viu os ombros de Gabrielle se contraírem, e uma pontada de simpatia ecoou através dela. Aguente firme, amor. Está quase acabando.

Viu a barda respirar fundo, e endireitar os ombros, e o levantar de cabeça que Xena conhecia bem. Boa menina. Sua mente sorriu.

Então a cerimônia acabou, e eles estavam cobrindo o novo casal com pétalas de flores, abençoando a união com símbolos da fertilidade da terra. Lennat e Lila levantaram os braços para se proteger do banho, e correram para a porta, rindo.

E ao atravessarem o limiar da porta, acenando, Xena reviveu um de seus próprios pesadelos privados. Mesmo depois de todo esse tempo, e com seu relacionamento com Gabrielle sendo o que era… ainda doía. O sentimento de abandono que havia deixado um vazio tão grande nela que tinha.. por um tempo interminável naquela noite quase.. quase… Ela fechou os olhos, e deixou isso seguir seu curso. Droga.. foi uma noite longa. E eu não chorava assim desde… Lyceus. Ela respirou fundo, e sentiu uma mão preocupada em seu braço.

“Xena?” A voz de Cyrene estava muito baixa, enquanto estudava o olhar perdido no rosto de sua filha. “Querida?”

“Estou bem. Apenas algumas lembranças ruins.” Xena respondeu, deixando o pesadelo desvanecer-se de volta para os recônditos de seus pensamentos. “Cerimônia bonita, não foi?”

Cyrene forçou um sorriso, imaginando quais memórias estavam atormentando Xena. “Adorável.” Ela suspirou. Deveria sondar os pensamentos de sua filha? Não.. aquela imagem não precisava ser arrastada para a luz. “Ei..” Ela cutucou a barriga dela. “Lindo anel que Gabrielle está usando.”

“Oof.” Xena tossiu falsamente ao cutucão, então corou um pouco, e olhou para o chão de pedra. “Sim, bom…”

“Foi meu nome que ouvi?” Veio a voz quieta de Gabrielle enquanto ela se aproximava de Xena, e se encostava em seu ombro. “Pelo que estou sendo culpada desta vez?”

“Você?” Xena resmungou, sentindo seu bom humor retornando lentamente. “Quem sempre culpa você por alguma coisa? Agora… eu, por outro lado…”

Elas sorriram uma para a outra, e Xena sentiu o suave movimento reconfortante da mão da barda contra suas costas. Acho que ela percebeu isso, um minuto atrás. Ela suspirou interiormente. Deixe isso para lá, Xena. Isso é passado. Isso é agora.

“Se vocês duas estão determinadas a ir embora…” Cyrene disse, mas com um tom gentil. “Seria melhor comer algo primeiro.”

“Mãe, gosto das suas prioridades.” Gabrielle respondeu, com um sorriso irreprimível. “Especialmente se você teve algo a ver com a comida.”

Cyrene riu. “Talvez… vamos?” Ela as guiou para fora, e segurou o braço de Toris, puxando-o à frente, deixando Xena e Gabrielle caminharem alguns passos atrás.

Elas se olharam.

“Sutil.” Em uníssono.

Elas caminharam em direção à porta, então Gabrielle diminuiu a velocidade, e puxou Xena no mesmo local onde haviam se despedido da última vez.

Gabrielle pausou, obviamente reunindo seus pensamentos, então respirou fundo para falar. Ela olhou nos olhos de Xena por um longo momento, então suspirou. “Desculpe.” Ela fechou os olhos e abaixou a cabeça. “Desculpe.” Novamente, desta vez sussurrado.

“Não.” Xena ergueu ambas as mãos e cuidadosamente segurou o rosto de Gabrielle em suas mãos, levantando sua cabeça. “Eu deveria ter dito algo naquela hora.”

Os olhos verdes se fundiram com os dela. “Havia algo a dizer?” Espanto tranquilo em sua voz.

Xena assentiu, deixando um leve sorriso tocar seus lábios. “Por muito tempo.”

Gabrielle prendeu a respiração. “Por quanto tempo?”

Agora o sorriso se aprofundou. “Desde o momento em que te vi.”

A barda se inclinou para frente e descansou a cabeça no peito de Xena. “Agora não me sinto tão mal.” Ela suspirou. “Eu também.”

Xena a abraçou, e ficaram em silêncio por um tempo.

Finalmente, Gabrielle puxou a cabeça para trás, e deu a Xena um olhar divertido. “Vamos lá.. vamos pegar alguma comida, beber algo forte, e sair daqui. Eu já tive o suficiente.”

Xena riu, e elas saíram de braços dados.

“Agora, vocês duas se cuidem.” Cyrene disse à elas mais tarde, enquanto colocava uma bolsa extra sobre o selim de Argo. “Isso é jantar.”

“Mãe..” Xena riu, então balançou a cabeça. “Obrigada.” Ela deu um abraço em Cyrene. “Vamos tentar. Queremos passar nas Amazonas depois de uma viagem pela costa… talvez passemos em casa.”

Cyrene colocou as mãos nos quadris. “Talvez??”

Toris riu e deu um soco no ombro dela. “Estarei esperando.” E recebeu um abraço de sua irmã, o que o surpreendeu um pouco. “Ei… você está ficando toda sentimental comigo?” O abraço se transformou em um aperto, que o levantou completamente do chão. “Ugh. Desculpa. Esquece isso.” Ele tossiu, enquanto ela cedia e o colocava no chão.

Xena suspirou. “Cuide-se, Toris. Tenha cuidado na volta para casa… não gosto da ideia desses grupos de saqueadores perambulando por aí.”

Toris sorriu. “Acho que você terá que ficar por perto para garantir que estamos todos bem, então, né?”

“Toris…” Um rosnado de advertência.

Ele deu um tapinha na bochecha dela. “Só estou brincando.”

Xena revirou os olhos e terminou de prender as bolsas extras em Argo. Ela se abaixou e pegou Ares, colocando-o em sua bolsa de transporte. “Você está quase grande o suficiente para correr e acompanhar, né, garoto?” Ela comentou com o lobo.

“Ruu!” Ele protestou e começou a morder o polegar dela. Ela olhou por cima do alto de Argo, mantendo um olho no pequeno grupo de pessoas ao redor de Gabrielle. Sua família – com quem Xena já havia se despedido de forma um tanto cordial.

“Cuide-se, tudo bem, Bree?” Lila segurou suas mãos e a olhou preocupada. “Me promete?”

Um sorriso tranquilo da barda. “Eu prometo.” Ela abraçou Lila e depois sua mãe. “Se cuide, mãe.” Com um pesar silencioso, sabendo quanto tempo poderia passar antes de cruzar de volta para Potadeia.

“Esteja bem, filha.” Hécuba respondeu, suspirando. “Mantenha-se segura.”

Gabrielle assentiu e se virou para se juntar a Xena. E se encontrou cara a cara com seu pai. Sua cabeça se ergueu, e ela o encarou, esperando. Vendo, por sobre o ombro dele, um par afiado de olhos azuis observando atentamente. Sentiu a segurança se espalhar ao redor dela como uma chuva de verão suave. Ele não pode me machucar. Não mais. “Pai.” Ela disse, com um tom frio.

“Gabrielle.” Ele respondeu, estudando seu rosto. Viu a si mesmo na estrutura forte de seus ossos. “Esteja bem.” Uma pausa. “Venha, vou te levar até sua amiga.” Nenhuma cor na palavra. Nenhuma indicação de como ele se sentia sobre isso.

Ela assentiu, e começaram a caminhar.

“Às vezes as coisas são ditas… às pressas… que você vive para se arrepender.” Heródoto comentou, colocando as mãos atrás das costas e olhando para todos os lugares menos para Gabrielle. Ou nos olhos de Xena, que agora estavam cada vez mais próximos.

“Às vezes.” Gabrielle permitiu, observando seu rosto.

“Eu posso ter feito isso.” Seu pai disse, respirando fundo. “Você…”

Gabrielle parou e o encarou. “Eu nunca ouvi.”

Heródoto assentiu. “Tudo bem, então.”

Eles pararam em frente a Argo, e Heródoto se viu olhando por cima do cavalo direto para o olhar nivelado de Xena. Ele piscou. Ela não. “Eu não gosto de você.” Ele disse, francamente.

A sobrancelha de Xena se ergueu. “Eu também não gosto muito de você, Heródoto.”

Devagar, ele assentiu. Então deu a volta em Argo e ficou de frente para ela, deixando seus olhos percorrerem seu corpo. E estendeu um antebraço, que foi segurado pela guerreira surpresa. “Desde que tenhamos isso entendido.” Ele soltou o braço dela e recuou, dando a Gabrielle um último olhar, antes de se virar e voltar para a festa de casamento. Sem olhar para trás nem uma vez.

Eles se olharam com cautelosa perplexidade. “O que foi isso tudo?” Gabrielle se perguntou.

Xena deu de ombros. “Não quero saber.” Ela saltou para o dorso de Argo e esperou, enquanto Gabrielle dava abraços apertados em Cyrene e Toris.

“Obrigada por virem.” Ela sussurrou no ouvido de Cyrene. “Significou muito.”

Cyrene deu tapinhas em suas costas. “Não perderia por nada.”

A barda assentiu e voltou para o lado de Argo, olhando para cima.

Xena sorriu e estendeu o braço, puxando Gabrielle para cima atrás dela.

Eles acenaram, e Xena deu um impulso em Argo para um trote acelerado, enquanto observavam a vila se transformar em campos e depois em terras ásperas.

“Então. Já considerou seguir uma carreira como diplomata?” Gabrielle perguntou, casualmente.

“O quê?” Xena virou-se meio na sela e a encarou. “Ah.. sim.. sou uma diplomata, com certeza. Ei, Sr. Conselheiro, cancele sua guerra ou eu quebrarei seu braço. Uh huh…”

“Não, sério.. acho que você seria ótima nisso. Você poderia andar por aí com um grande grupo de assessores e enviar notas diplomáticas por todo o campo.”

“Gabrielle!”

“Não, né?”

“Não.”

A barda suspirou. “E quanto a consultora de moda. Aquela foi uma grande roupa que você estava..”

“Gabrielle…” Desta vez um rosnado baixo e inquietante. “Gosto do que faço.”

Gabrielle sorriu. “Ótimo.” Ela se inclinou para frente e roçou as costas de Xena com os lábios. “Eu também gosto do que você faz.”

O riso delas as seguiu enquanto Xena incitava Argo a galopar desenfreadamente e espalhava um bando indignado de patos no campo diante delas.