No passado, Xena havia destruído os deuses para proteger sua filha e se quer pensou duas vezes antes de mirar seu chakran na garganta deles. Um por um, os deuses foram ceifados e o curso da humanidade alterado sem a influência deles. No entanto, o que a princesa guerreira nunca premeditou, foi o desequilíbrio que a ausência dos imortais traria.

Tudo aquilo que estava sob a responsabilidade dos deuses, agora estava abandonado às moscas, mas que mal havia, não é? Ninguém precisava deles e as coisas se ajeitariam com o tempo, exceto que, almas furiosas e perturbadas no Tártaro deram conta de que Hades já não estava ali para prende-los e espíritos começaram a escapar e assombrar a terra.

Porém, nem todas as almas queriam escapar do submundo e assolar os vivos com seu corpo espectral. Não, alguns eram mais espertos e ambiciosos e viram nessa oportunidade, a chance de voltar a vida e condenar aqueles que um dia foram seus inimigos.

Com Hades fora do caminho, o submundo ficou desestabilizado e a segurança mais fraca e o homem que um dia se denominou Júlio Cesar, sorriu maliciosamente enquanto cruzava os portões do Hades. Ele sabia perfeitamente onde ir e o que fazer.

Sem se preocupar com mais nada a sua volta, Cesar foi em direção a seu alvo que era ninguém menos que as Moiras. As três irmãs do destino não tiveram tempo para nada e só notaram seu ilustre convidado, quando este, as amarrou com uma corrente grossa e riu de suas fraquezas.

-Isso é um absurdo, um ultraje, um desrespeito. – Disse a mais velha, mas Cesar riu mais alto.

-Não tem o direito de fazer isso conosco. – A mais nova delas bravejou.

-Eu posso e sempre pude fazer o que quis. – Cesar cuspiu sua arrogância enquanto caminhava pelo reino das Moiras e observava com atenção o grande tear que continha o destino de todos humanos.

-Da última vez que pensou isso, acabou dando um ponto final em seu destino. – A irmã que representava o passado falou.

-Olhe para mim. Meu destino não chegou ao fim. Está só no começo. – Cesar foi até a linha que constava sua vida toda e a puxou do tear. Ele vasculhou ali por um tempo até que encontrou o momento crucial que determinou o seu fim trágico. –Ah Xena. Eu vou corrigir isso.

-Disse ele ao se ver ordenando um soldado a quebrar as pernas de Xena numa cruz. Ele retornou mais um pouco no passado tecido ali e observou o momento sensual em que a mulher responsável pela sua morte, se ofereceu em ajuda-lo a conquistar o mundo. –Ah sim. Bem melhor. – Exclamou ele.

-O que vai fazer? – Uma das Moiras falou.

-Irônico, não é? – Começou ele. – Como só uma escolha pode mudar toda a direção do nosso destino. – Cesar se virou para as Moiras acorrentadas. –Se eu não tivesse traído Xena, estaria hoje reinando em Roma. Mas tudo mudou, pois meu bom amigo Brutus me apunhalou pelas costas, enquanto Xena conseguiu escapar e passear ao entardecer com sua namoradinha. –Ele segurou o fio com sua vida e expressou raiva. –Foi um final injusto para Júlio Cesar.

-Não pode mudar seu destino…- Começou a mais velha delas.

-… uma vez que já foi traçado. – A mais nova concluiu.

-Nos liberte agora e aceite seu destino. – A do meio tomou a fala.

-Me deixem contar sobre MEU destino. –Ele cobriu a voz delas com a própria. –É misterioso, romântico e cheio de glória. – Ele com todo seu deboche, olhou para a tesoura da Moira mais perto e a tomou. Com um único corte, ele deixou um pedaço do fio cair e segurou em suas mãos o que teria feito toda a diferença entre sua vida e morte.

-Se mexer com o tear alterará a composição da vida. – Uma das Moiras implorou.

-Mudará não só o seu destino…

-… mas também de todos os demais.

-Eu estou contando com isso. – Com o olhar frio, Cesar as respondeu.

O que aconteceu em seguida, foi algo que nem as milenares Moiras haviam visto. A linha modificada por Cesar, foi introduzida no tear e ela correu pelos buracos deixado em sua história.

Diante de seus olhos, Cesar foi capaz de ver a grande diferença que tudo passou a ter e como se nunca tivesse ido até as três irmãs, se encontrou no momento exato em que seu navio, ia de encontro com o de Xena, porém, desta vez ele não a atacaria, mas pegaria sua mão e com um beijo lascivo, a conduziria ao trono de Roma.

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Depois de dez verões a contar do momento em que Cesar foi buscar Xena em seu navio, o grande imperador se viu sentado em uma cadeira confortável, de frente ao pátio de seu palácio romano. Ele estava cercado por soldados muito bem armados e uma coroa de louro feita de ouro estava bem presa em sua cabeça.

O grande Cesar conduzia algumas audiências públicas dali e o doce sabor que aqueles momentos de glória o dava, era capaz de fazê-lo esquecer que havia alterado o passado.

-Esse grão deve ser localizado. As pessoas precisam comer. – Um homem de cabelos brancos e calvo dizia ao imperador.

-Cesar? – Brutus se aproximou de Cesar e chamou.

-Com sua licença. – Disse o imperador cordialmente e se afastou do velho enquanto acompanhava Brutus. –O que traz de novo, Brutus? – Disse ele.

-Os emissários de Chin chegaram. – O romano respondeu.

-Ah, excelente. – O imperador exclamou com prazer. –Os pacifistas de Lao Ma.

-Está visita é muito importante para nós. – Lembrou Brutus.

-Certamente. – Cesar colocou sua mão cheia de anéis no ombro do homem. – E como sempre, Brutus, agradeço enormemente seu conselho… – E com um abraço em seu melhor conselheiro, Cesar riu e por suas costas desdenhou do homem que em outra linha temporal, havia o traído. – … meu bom amigo. – E Brutus não pode ver sua expressão de nojo. –Agora, façam entrar. – Cesar comandou e ambos iriam adentrar o palácio, quando um soldado anunciou que o portão fosse aberto.

Com um olhar curioso, Cesar e Brutus encararam o portão que começou a se escancarar e viram dali uma figura de armadura negra e um elmo de general fortificado. Cesar sorriu com prazer no canto do lábio ao notar a figura, mas os soldados não estavam esperando pela imagem diabólica que se atirou para dentro do pátio.

-TOMEM SUAS POSIÇÕES. – Um deles gritou e todos sacaram suas espadas e começaram a correr em formação.

Um grito de guerra preencheu o local e a figura bem armada atiçou seu cavalo marrom em direção a Cesar. Enquanto se aproximava, os soldados partiam para cima dela, mas não tinham chance alguma. Com chutes e golpes habilidosos, a guerreira não precisou nem desembainhar sua espada para derruba-los no chão.

Foi quando a figura tirou o arco preso em seu ombro, preparou duas flechas nele e diante do olhar de pavor de Brutus, atirou ambas as flechas nele. Brutus grudou na porta de madeira e as flechas passaram raspando sua cabeça, enquanto isso Cesar assistia tudo tranquilamente e desdenhando interiormente das Moiras.

Com um épico grito de guerra, a guerreira saltou de seu cavalo em uma cambalhota habilidosa e pousa ameaçadoramente na frente de Cesar. O movimento tão original e famoso fez com que os soldados bufassem de raiva e até mesmo Brutus guardou sua espada no cinto mais uma vez.

Em uma risada cheia de energia e maldosa pela brincadeira, a voz da imperatriz saiu por debaixo do elmo e enfim revelou seu rosto feminino.

-Meu imperador. – Diz ela como se aquele título fosse um troféu para se orgulhar.

-Minha imperatriz. – Responde ele no mesmo tom e deixa claro que ambos estavam cientes do poder daquela união.

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Depois que Cesar e Xena se uniram, o mundo redescobriu o significado da palavra “poder”. Ambos se ergueram na glória e lutaram contra inimigos de um jeito inovador e verões mais tarde, muitos começaram a duvidar que alguém poderia derrotar duas mentes brilhantes que se uniram pelo mesmo propósito.

A cada dia, Cesar ficava mais satisfeito com a sua decisão de mudar o passado e saboreava da deliciosa mudança que tinha ocorrido. Degrau por degrau, ele se tornou o homem mais respeitado de Roma e a coroa em sua cabeça foi o objeto mais belo que pode ver.

Como legitimo cidadão romano, Júlio Cesar foi nomeado imperador para reger os direitos do povo e sancionar leis. Xena por outro lado, era uma cidadã grega e não podia deter os mesmos poderes que Cesar, mas ela se tornou respeitada por suas estratégias de batalhas impecáveis e sua maestria em reger os soldados na luta. Ela era a força de Roma e Cesar, o coração.

Aquela união foi retratada em muitas histórias e as pessoas diziam que ambos os imperadores foram escolhidos pelos deuses para se unirem e governar o mundo. Nas inúmeras peças que bardos escreviam sobre eles, era possível ver que paixão era o principal tema e não existia um único ser humano que não desejasse um amor como de Xena e Cesar.

Quem os observava de fora, descrevia ambos como os seres mais perto dos deuses e quem os via diariamente, dizia haver uma única coisa que poderia destruí-los e era nada mais do que eles mesmos.

Depois de dez verões de união, Xena e Cesar continuavam vivendo bem, pois seu relacionamento era cada dia renovado pela força que havia os unido. Aquela força era o desejo de conquistar as nações e agora que Roma estava diante de seus pés, assim como diversos outros países, a ambição de ambos era a Grécia.

O plano inicial dos imperadores, era dominar toda a Grécia, uni-la com Roma e tornar uma única grande nação. Assim, um romano e uma grega, teriam total poder sobre os súditos.

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-Esta noite planejei um espetáculo para minha imperatriz. – Disse César todo orgulhoso enquanto entrava com Xena de braços dados no salão dos tronos. A volta havia inúmeros pilares romanos de pedra e a cor dominante no interior era um vermelho puxado para um laranja.

-Um novo lutador de Trácia? – Xena que continuava obcecada por lutas e força física tentou adivinhar.

-Não, uma nova obra de Atenas. – Disse ele ao solta-la e parar em sua frente. Ele queria captar a surpresa nos olhos de sua esposa, que assim como ele, era um ser humano difícil de agradar. – Pensei que gostaria de matar um pouco da saudade de sua própria cultura.

-Uau, quem diria que os verões o tornaria tão sensitivo as minhas fraquezas. – Disse ela admitindo de certa forma sentia saudades de casa.

-Imperador. – Brutus chegou até os imperadores e trouxe consigo os emissários de Lao Ma.

-Honoráveis emissários. – Saudou Cesar e Xena sorriu para eles, afinal, tudo o que lembrava Lao Ma, era algo bom.

Sabendo do carinho de sua imperatriz pela esposa do imperador Chinês, Cesar os tratou muito bem.

-O senado está se reunindo para votar em um novo armamento para meus homens. – Disse Xena enquanto detinha 100% da atenção de César. –Estou indo para lá.

-Tudo bem! – Aceitou o imperador e Xena se retirou para que Cesar fizesse seu trabalho com os emissários.

-Brutus, acompanhe ela. – Falou Cesar e seu bom amigo se retirou.

Xena e César já haviam discutido bastante sobre a nova aliança com Chin e ela julgou já estar resolvido quando se retirou, o que não a permitiu pensar em momento algum que ele não daria nenhuma chance aos chineses e os entregaria a morte logo em seguida pelas mãos da Alta sacerdotisa de Roma, Alti.

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-Imperatriz! – Chamou Brutus enquanto dava alguns trotinhos na direção de Xena.

-Cesar acha que é necessário você me acompanhar novamente, Brutus? – Falou a imperatriz com seu típico tom gélido. –Acho que ele não confia nas minhas habilidades.

-Acho que ele só quer que tenha companhia, Imperatriz.- O conselheiro respondeu compreensivamente.

-Eu não preciso, Brutus. Diferente das outras pessoas, eu sou minha melhor companhia. – Falou ela ao se virar de frente para Brutus e pôr a mão no peitoral da armadura dele. –Pode ir cuidar de seus assuntos. Sei que tem algo melhor para fazer do que bancar meu amigo. – E com essa última declaração, Xena seguiu para o Senado sozinha.

Naquela frase, apenas uma coisa era verdade, Brutus e Xena não eram amigos. Xena e o conselheiro de seu marido não eram de muitas palavras e ela achava uma perda de tempo os conselhos dele.

Muitas vezes, Brutus buscava formas mais brandas para os conflitos e Cesar apesar de optar quase sempre pelos métodos mais agressivos de Xena, continuava perdendo seu tempo com essa baboseira de conselho.

Enquanto Xena caminhava pelos corredores cheios de pilares e tapeçarias pomposas do seu palácio em Roma, ela refletia sobre o que havia acabado de dizer. “Diferente da maioria das pessoas, eu sou minha melhor companhia”. Ela vinha mentindo para si mesma que não se sentia sozinha, mas ultimamente, a carência das noites a fez perceber que ela sentia falta de algo a mais em sua vida. Por verões ela lutou e conquistou não só nações, mas também respeito e agora que tinha todo o poder em suas mãos, não conseguia se sentir completa.

A imperatriz ouviu um filosofo dizer uma vez, que o coração do ser humano é como um abismo sem fim. Quanto mais coisas se atira para dentro dele, mais longe estará de preenche-lo. Na época, aquelas palavras eram vazias e sem sentido, mas agora, ela podia ver muito mais além.

Depois de um longo suspiro, Xena resolveu afastar aqueles pensamentos, até mesmo porque se sentia culpada por aquilo. Ela era feliz com Cesar até então e ele se esforçava o máximo que podia para deixa-la feliz, então teria que buscar nele, a cura para sua solidão.

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Xena saiu para fora do palácio e dois de seus guarda-costas a seguiu. Ela já estava tão habituada com a presença deles, que quase ficavam invisíveis.

A morena montou em seu cavalo que aguardava do lado de fora e seguiu para o senado. Ela tinha muito interesse no apoio dos políticos naquela tarde, pois havia encontrado algo extremamente poderoso que daria vantagem para Roma nos ataques marítimos, no entanto, aquilo requeria dinheiro tirado dos cofres públicos e estava ali a maior dificuldade.

Conforme a montaria da imperatriz passava nas ruas, os cidadãos romanos saiam de imediato da frente e muitos deles olhavam feio para ela. Romanos eram muito preconceituosos e apesar de apoiarem o governo de ambos os imperadores, consideravam Xena uma bárbara vinda da Grécia e se alimentava com o sangue dos inimigos.

Na maior parte do tempo, Xena não se incomodava com aquelas ofensas porque sempre que Roma estava na mira de algum perigo, era ela a quem todos imploravam por ajuda. Mas, mais uma vez, Xena se pegou pensando em como gostaria de pelo menos uma vez na vida, não se preocupar com o que os outros pensam e ser reconhecida por muito mais do que suas habilidades de matar.

Enquanto dava mais um suspiro frustrado, ela parou seu cavalo e o deixou nos cuidados de um soldado. Tudo o que se dizia respeito aos imperadores, era muito protegido, pois qualquer deslize, os deixariam vulneráveis a algum atentado.

Xena foi em direção ao fórum romano que era o prédio mais monumental da cidade e assim que foi avistada, políticos, filósofos e mestres se curvaram diante dela. Com a chegada de Xena em Roma, algumas coisas mudaram e uma delas foi a presença de mulheres nas reuniões que diziam respeito ao estado de direito, por isso, Xena recebia o apoio de muitas mulheres que compunham a banca feminina do senado.

-Imperatriz. – Uma mulher de cabelos enrolados e castanhos claros se curvou para Xena. Ela tinha aparentemente 38 verões e suas vestes deixavam clara sua posição de poder naquele meio.

-Aspásia. – Xena cumprimentou ela. – Além do seu voto, com quantos mais da bancada feminina posso contar? – Sem esconder seu interesse, Xena perguntou.

-Com todos eles, imperatriz. – Aspásia disse com confiança.

-Ótimo, já são 8.- A guerreira sorriu. –O que está acontecendo lá dentro? – Xena perguntou, pois sabia que já havia começado a sessão.

-Estão apresentando o projeto para ser votado. – Aspásia informou.

-Maravilha, vamos para lá então. – E em passos largos, Xena subiu as escadas rapidamente e abriu as portas devagar. Ela não queria ser rude naquele momento, mas também queria ser notada.

-É uma arma que pode trazer grandes prejuízos não só para os cofres, mas também para nós mesmos. Se isso cair nas mãos de nossos inimigos, terá saído pela culatra. – Dizia um dos políticos em tom alto e em pé. Um grupo pequeno concordou com ele, mas uma das senhoras da bancada tomou a palavra.

-Roma precisa inovar. As ameaças que assolam nosso país já tiveram tempo o suficiente para estudar nossas estratégias e creio que essa nova arma pegará todos de surpresa. – A senhora disse alto e as demais concordaram.

-Até agora estamos discutindo sobre algo que se quer fazemos ideia do que é.- Outro homem se levantou e causou uma comoção.

-SE ME PERMITE. – Xena disse alto e todos notaram ela finalmente. –Eu posso apresentar essa arma a vocês. – Todos continuaram em silêncio e ela começou. –Sei que vocês serão compreensivos se eu não der detalhes, afinal, é um segredo de estado e não é que eu não confie em vocês, mas todo cuidado é pouco. – Com seu tom persuasivo e seu olhar gelado, Xena começou a caminhar por entre os políticos e eles a olhavam com atenção. –É uma arma que requer o conhecimento de alguns engenheiros, os quais os nomes não foram revelados por motivos óbvios. Eles realizaram estudos e proporcionaram para Roma uma arma capaz de ser levada aos navios e causar um dado extraordinário nos inimigos, porém, os senhores já sabem que é caro e requer alguns sacrifícios… –Ela dizia empenhada.

-É isso que gostaríamos de entender, imperatriz. Porque os custos não podem ser diminuídos? -Um homem que parecia presidir a sessão perguntou e alguns murmúrios de concordância puderam ser ouvidos.

-Porque a engenharia dessa arma é complexa e se não for bem instalada, em vez de destruir os navios inimigos, serão os nossos que tomarão prejuízo. – Disse Xena com muita convicção e o silêncio retornou. –Existem coisas que não podem ser economizadas, pois é como diz o ditado “o barato sai caro” e meus senhores, eu não estou interessada de perder sangue romano numa batalha. – Agora o famoso olhar de guerra de Xena estava estampado. – Eu quero esmagar Leônidas com nossos navios, poupar a vida dos civis e somente afetar a força bélica dos gregos e eu garanto que essa nova arma não colocara em risco o pescoço de nenhum romano num raio de 3 metros. –

-Essa arma tem um nome, imperatriz? – Uma das senhoras da bancada perguntou e Xena achou prudente manter os oito votos que já tinha garantido.

-Meus engenheiros gostam de chama-la de “O sopro da quimera”. – E depois dessa declaração, mais cochichos de ansiedade pode ser ouvidos.

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Xena saiu do senado vitoriosa depois de seu discurso. Os políticos acharam melhor confiar em sua habilidade de guerra e as senhoras da bancada feminina cercaram sua imperatriz para dar os parabéns e em troca dos votos, Xena prometeu a elas a honra de presenciarem antes de mais ninguém o poder da arma. Com essa cordialidade final, Xena saiu do fórum rapidamente e montou em seu cavalo.

O sol iria se pôr em breve e uma cor alaranjada começava a embelezar as montanhas de Roma. Uma brisa fresca tocou o rosto vitorioso de Xena e motivada pela paz de ter ganho seu patrocínio, ela sentiu uma serena felicidade. Uma felicidade que sem razão nenhuma a fez lembrar de suas reflexões de mais cedo e suspirou ao perceber que ainda sentia aquela insatisfação.

Como se não tivesse tido motivos para ficar feliz a minutos atrás, a imperatriz encarou o caminho que teria de fazer até o palácio e sentiu-se desanimada. Em seguida, ela jogou a cabeça para trás e encarou o céu alaranjado mais uma vez.

-Está tudo bem, imperatriz? – Um dos soldados de sua escolta perguntou.

-Tudo ótimo. – Falou ela querendo consolar mais a si mesma do que o soldado. Em seguida, Xena observou algumas carroças e pessoas se aglomerando em direção ao teatro da cidade e se lembrou que Cesar havia trazido uma peça de Atenas para distrai-la aquela noite.

Sentindo-se curiosa e com uma certa ansiedade, a imperatriz imaginou que além do artista principal, outros ali também deveriam ser gregos. Uma nostalgia encheu o peito de Xena e ela não conseguiu afastar as lembranças das ilhas Gregas e de como o pôr do sol em seu país era muito mais bonito do que o de Roma.

Sem dizer nada, a morena ordenou seu cavalo a andar lentamente na direção do teatro e os soldados não tiveram opção a não ser segui-la. Com o semblante curioso e mais sereno que o normal, Xena continuou indo até o aglomerado de pessoas e seu coração disparou de alegria quando escutou uma frase em grego. Ela não demonstrou por fora, mas seu coração se encheu de prazer ao ver algumas pessoas sorrindo e mostrando toda simpatia da Grécia naquela rua estreita.

Como ela não havia avançado com velocidade para cima dos cidadãos, nenhum deles percebeu que a figura no cavalo era a imperatriz e o fluxo da rua seguiu normalmente até o final onde havia o teatro.

Logo a frente, Xena viu inúmeros trabalhadores organizando os cenários que seriam usados no teatro aquela noite, viu os atores sendo organizados em um outro canto e o saboroso som da língua grega inundou os ouvidos da imperatriz. Ela sorriu espontaneamente e nem se deu conta que seus soldados viram aquela demonstração de sentimento. Os homens se entre olharam com estranheza, mas Xena continuou absorvida pela divertida cena naquele teatro.

Entre gargalhadas e ordem dos organizadores da peça, Xena escutou uma piada e riu junto com seus conterrâneos. Fazia tanto tempo que não se sentia em casa, que parecia estar numa praça no meio de Ática, na Grécia. A morena então se observou sorrindo e logo escondeu toda aquela alegria.

Xena havia ficado tanto tempo numa posição de poder e querendo infligir medo nas pessoas, que se esqueceu do motivo de nunca ter desejado uma vida simples como aquelas pessoas. Ela sentiu novamente aquela solidão em seu peito e não conseguiu identificar a razão daquele buraco estar ali recentemente.

Enquanto observava o lugar e ouvia suas aflições, Xena observou mais a frente uma jovem loira e sorridente. Aquela jovem chamou muita a tenção da imperatriz, que franziu o cenho e não desviou seu olhar. A loira estava conversando com um jovem casal que aparentemente eram os atores. Eles pareciam ouvir atentamente aquela mulher e em seguida começaram a praticar sua atuação, enquanto os olhos da loira avaliavam sua performance.

A imperatriz não entendia o porquê seus olhos não podiam simplesmente mudar de direção, até mesmo porque ela não conseguia ver nitidamente aquela mulher, mas era inevitável. Xena sempre teve o poder de identificar pessoas realmente valiosas e interessantes em multidões e aparentemente aquilo estava acontecendo naquele exato momento, porém, havia um mistério.

A mulher que Xena não podia desviar os olhos, ergueu a cabeça de longe e por puro instintivo, olhou diretamente para seu observador. Como se estivessem sob o mesmo efeito magnéticos, não conseguiram desviar o olhar.

Por mais que não pudessem sequer ver o rosto uma da outra nitidamente e nem os olhos, ambas pareciam grudadas e extremamente interessadas, até que Xena sentiu um desconforto muito grande em seu peito e virou seu cavalo abruptamente.

Sem se importar com quem estava atrás, Xena atravessou as ruas como o vento em seu cavalo e foi se esconder daquele sentimento estranho atrás de suas muralhas.

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Ainda atordoada com aquilo, Xena foi direto para seu aposento no terceiro piso do palácio e respirou fundo. Ela estava sentimental demais aquele dia e talvez aquela nostalgia toda fosse a razão por não poder tirar os olhos daquela moça simpática.

-33 Pontos contra 7! A voz de Cesar invadiu seu aposento e ela olhou para trás. –Você conseguiu a atenção deles mesmo. – O imperador já estava sabendo do feito de sua esposa no senado mais cedo.

-Eu teria conseguido 40 se não fosse Pilatos e sua oposição. – A imperatriz disfarçou sua aflição e respondeu com raiva do pequeno grupo que insistia em se opor ao seu governo.

-Eu também concordo que devemos tomar medidas protetivas contra ele e seu grupinho. – Cesar disse ameaçadoramente ao receber a informação que Pilatos continuava movimentando gente contra ele e Xena.

-Eu acho que você duvidou que eu conseguiria. – Com uma pitada de humor para disfarçar sua angustia, Xena brincou.

-De fato duvidei. Você sabe que eles são difíceis de liberar verba e o seu pedido foi muito ousado. – Cesar colocou as mãos na cintura de Xena e assim como outras vezes, a morena ficou verdadeiramente desconfortável com aquilo. Era como se as mãos de César não devessem estar em seu corpo.

-Fico feliz que tenham liberado, pois eu iria usar nosso tesouro para pagar os engenheiros. – Xena tirou as mãos de César de sua cintura e foi em direção a câmara de banho.

-E não ia me consultar sobre isso? – César pareceu desconfortável com a revelação de sua imperatriz e a seguiu até a câmara seguinte.

-E eu preciso? Pensei que você fosse o primeiro a aprovar a construção da nova arma. – Xena olhou torto para ele, pois aquela não era a primeira vez em semanas que ele mostrava desejo por controle absoluto naquela relação e governo.

-E eu realmente sou, mas acho que poderia ter me contado sua alternativa. – César chegou mais perto dela e Xena não entendeu o porquê sentiu um desejo voraz de afastá-lo dali e ficar sozinha.

-Eu ia depois. – Xena nunca perdia uma discussão, mas algo estranho estava acontecendo e ela só queria ficar sozinha. –Acho que agora preciso me arrumar, afinal, temos uma peça Ateniense para assistir, não é? – A morena se aproximou de seu marido e depositou um beijo falso em sua bochecha.

-Sim. Bem lembrado. – Ainda desconfiado e Infeliz por não ter todas as respostas de Xena, Cesar concordou e a puxou para mais perto. –Vou deixa-la se arrumar então. – E com um beijo nos lábios dela, Cesar se afastou e Xena deu graças aos deuses.

Nota