Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

Gabrielle ficou quieta por um momento, as palavras de Laura ecoando em sua mente, mas o significado da situação parecia claro aos seus olhos. Ela sentia em si mesma o trágico e o belo naquela história de almas gêmeas separadas pela morte, e a dor no rosto de Laura era impossível de ignorar. Gabrielle mordeu o lábio, olhando para Xena, e deu um leve passo à frente, demonstrando o que estava em seu coração.

– Xena, talvez possamos ajudá-las – murmurou ela, a voz suave, mas sincera – se estivéssemos no lugar delas, se fosse você e eu…

Xena desviou o olhar de Gabrielle por um segundo, ponderando as implicações.

– Elas são vampiras, Gabrielle – disse Xena – seres que precisam se alimentar de humanos para sobreviver. Se ajudarmos a trazer Carmilla de volta, estaremos trazendo outro predador para este mundo.

Laura, ouvindo as palavras de Xena, soltou uma risada amarga, baixa e sem alegria.

– Predadoras… – murmurou ela, sombriamente. – Sim, é verdade. Mas isso era no passado, Xena. As coisas mudaram – Laura ergueu o olhar, os olhos mais frios e calculistas, mas ainda assim cheios de verdade. – Vivemos em tempos modernos, com tecnologia e ciência. Não precisamos mais caçar humanos para sobreviver. O mundo mudou. Nós podemos ter acesso ao sangue sem matar ninguém.

Gabrielle franziu a testa, intrigada.

– Como assim? – ela perguntou.

– Bancos de sangue – explicou ela, com um toque de amargura na voz – no mundo de hoje, é possível obter sangue de fontes legais, sem precisar matar ou caçar. Já não somos monstros que se escondem nas sombras, caçando inocentes. Podemos viver nas margens, sobrevivendo sem tirar vidas – ela olhou diretamente para Xena, seus olhos cravados nos da guerreira – eu não sou mais a vítima que fui um dia, e Carmilla… Carmilla também não precisará mais ser o monstro que foi. Eu renasci para estar ao lado dela, não para viver como um pesadelo.

Xena estreitou os olhos, ainda cética. Gabrielle, por sua vez, sentiu uma pontada de esperança.

– Elas não precisam ser como antes – disse Gabrielle, olhando para Xena com intensidade – se há uma chance de que elas possam viver sem ferir ninguém…

Xena manteve seu olhar fixo em Laura, ainda cautelosa. Se aceitassem ajudar, estariam assumindo um risco imenso, mas ao mesmo tempo, seria uma chance de reparar uma antiga tragédia.

– E se estiver errada? – perguntou Xena, mais para si mesma do que para Laura.

Laura deu de ombros levemente, um meio sorriso sombrio nos lábios.

– E se estiver certa?

Xena, ainda cética, inclinou-se ligeiramente para frente, com os olhos azuis brilhando à luz da lua cheia. Havia algo que Laura não parecia ter considerado, algo crucial.

– Como você sabe que Carmilla sequer quer voltar? – perguntou Xena – você está disposta a arriscar tudo, mas e se ela não quiser? E se, depois de tudo isso, o que você espera dela não for o que ela quer?

Laura abraçou novamente o livro mágico, o peito subindo e descendo lentamente enquanto absorvia as palavras de Xena. Por um momento, ela hesitou, seus olhos carregados de incerteza. Finalmente, ela ergueu o olhar para Xena.

– Eu não sei – admitiu Laura – eu não tenho nenhuma certeza. Só posso ter esperança de que o amor que ela declarou por mim, o amor que ela jurou, seja real – ela fez uma pausa, os olhos se enchendo de emoção – sei que as coisas mudaram, sei que muito tempo passou, mas o que sinto por Carmilla nunca mudou. Eu enfrentei a morte e voltei para encontrá-la novamente, para ser digna dela. E se existe uma chance, por menor que seja, de que ela ainda sinta o mesmo, eu preciso tentar.

Gabrielle olhou para Laura, sentindo a profundidade daquele desejo, o eco de uma dor que ela mesma conhecia muito bem. A conexão de almas gêmeas, a dor da separação, era algo que Gabrielle entendia com o coração. Ela trocou um olhar rápido com Xena, seus olhos implorando por compreensão.

Xena permaneceu em silêncio por um longo momento, sua expressão indecifrável. Havia muito em jogo, muito mais do que simplesmente abrir as portas entre os mundos. Estavam lidando com forças sobrenaturais poderosas e emoções humanas ainda mais perigosas. O amor, às vezes, podia ser uma arma de dois gumes.

Xena apertou o punho ao redor da espada, mantendo os olhos fixos em Laura. Ela sentia que havia mais em jogo do que Laura estava deixando transparecer. A guerreira deu um passo à frente, seu olhar ainda cínico.

– Laura, como exatamente a energia das almas gêmeas vai trazer Carmilla de volta? – a pergunta foi direta, a voz de Xena era seca, como se estivesse pronta para cortar qualquer ilusão com a verdade.

– Este livro – começou ela, com a voz mais firme -, fala sobre a ligação entre almas gêmeas e o poder que elas podem gerar. Almas que são conectadas profundamente, não apenas pelo amor, mas por ciclos de vida e morte, podem romper as barreiras que separam os mundos. Quando essas almas se encontram em um momento de magia – ela olhou para a lua cheia acima de suas cabeças – elas criam uma energia única, capaz de reverter as forças que normalmente governam o ciclo de vida e morte.

Laura passou a mão pelo livro, abrindo-o em uma página marcada com símbolos antigos.

– A energia de vocês duas, Xena e Gabrielle, como almas gêmeas, combinada com a minha e a de Carmilla, pode abrir o portal necessário para trazê-la de volta. Nós precisamos de um vínculo de amor verdadeiro e inabalável para alimentar essa magia. Almas gêmeas são a chave, porque esse tipo de amor transcende as leis naturais. É mais forte do que a própria morte. É um fim em si mesmo.

Ela parou por um momento, os olhos ainda fixos em Xena.

– O ritual requer que vocês duas estejam aqui, neste lugar e neste momento. É a convergência entre nosso amor e o de vocês que pode gerar poder suficiente para romper as correntes que mantêm Carmilla presa no outro plano.

Xena estreitou os olhos, o rosto endurecendo.

– Então, basicamente, você está dizendo que o amor que Gabrielle e eu compartilhamos vai alimentar esse ritual? – perguntou ela, com um toque de desconfiança – e você quer que confiemos que essa energia vai apenas trazer Carmilla de volta, sem consequências imprevistas?

Laura balançou a cabeça, o olhar sombrio.

– Não há garantias – admitiu ela – mas o amor verdadeiro sempre carrega riscos, Xena. Eu tomei esse risco quando me tornei o que sou. Tudo o que me resta agora é essa esperança de que Carmilla ainda me ame o suficiente para voltar.

Gabrielle, sentindo a tensão crescer ao seu redor, decidiu interromper o silêncio que se instalara entre elas. O tom suplicante de Laura e as incertezas de Xena a deixaram inquieta. Ela olhou para Laura, seu olhar determinado.

– O que exatamente nós temos que fazer? – perguntou Gabrielle – se estamos realmente considerando isso, precisamos saber todos os detalhes.

A determinação no olhar de Laura se intensificou. Ela se aproximou, folheando o livro novamente, o papel antigo rangendo enquanto ela buscava a passagem certa.

– O ritual – começou ela – requer algumas coisas específicas. Primeiro, precisamos estar no lugar exato onde Carmilla morreu. A energia desse local ainda carrega a dor e o amor que existiram, e isso é vital para a conexão. As ruínas do castelo da família Karnstein são o ponto focal.

Gabrielle assentiu, sentindo seu coração acelerar ao pensar no que viria a seguir. Laura continuou

– Em segundo lugar, precisamos de um círculo de proteção feito com a energia de nossas almas gêmeas – continuou Laura, os olhos ardendo com a paixão da crença que carregava. – isso significa que nós precisamos estar juntas, em círculo. O círculo servirá para amplificar a energia e proteger-nos de qualquer força que possa tentar interferir.

Xena inclinou a cabeça, ouvindo atentamente.

– Precisamos sacrificar alguma coisa nesse ritual? O que vai ser, sangue, uma mão, um braço, um coração de boi? – perguntou ela, a desconfiança ainda presente na sua voz.

Laura olhou para a bolsa de veludo que segurava com firmeza e sorriu.

– Nada tão dramático. Cada uma de nós deve oferecer algo que simbolize nosso amor e conexão. Eu tenho as cinzas de Carmilla – disse ela, sua expressão séria – para vocês, pode ser algo que represente a profundidade de seu vínculo.

Gabrielle refletiu sobre as palavras de Laura, imaginando o que poderia trazer que simbolizasse seu amor por Xena.

– E quando faremos isso? – perguntou Gabrielle, a ansiedade crescendo.

– Agora mesmo, durante a lua cheia – respondeu Laura, o olhar firme – o tempo é essencial. A magia da lua cheia amplifica a força do ritual e nos permite abrir o portal necessário. Precisamos agir rapidamente, antes que essa oportunidade se dissipe.

Xena e Gabrielle trocaram olhares, ambas desejando ter mais tempo para tomar uma decisão mais ponderada.

– Então vamos fazer isso – disse Gabrielle, a voz resoluta – se há uma chance de ajudar Laura e trazer Carmilla de volta, não podemos hesitar – olhou para Xena e a morena assentiu de forma relutante.

– O que vocês tem como símbolo do seu amor? – perguntou Laura.

Gabrielle parou para refletir. O chakram, a arma que apenas elas duas podiam usar, parecia ser a escolha perfeita. Era uma extensão de si mesmas, um laço forjado em batalhas e triunfos, a representação da união entre luz e trevas.

– O chakram – sussurrou Gabrielle, segurando a arma com carinho – é perfeito.

– Espera aí – Xena interviu – esse ritual vai destruir o chakram?

Gabrielle a olhou com um olhar repreensivo, mas Laura declarou:

– O objeto não será destruído, apenas seu poder simbólico será utilizado. Eu garanto.

– Sei que é uma arma especial, Xena – Gabrielle falou – mas é só uma arma, e precisamos ajudá-la.

Xena, a contragosto, assentiu. Fez um sinal a Laura para que ela começasse.

Laura foi até o túmulo de Carmilla, que não ficava junto aos outros, seguida pelas duas mulheres. Colocou a urna com as cinzas sobre o túmulo. Olhou para Gabrielle, estendeu a mão, e esta lhe entregou o chakram. A jovem cuidadosamente depositou a arma junto com o outro elemento daquela magia estranha, seu coração batendo forte.

Com Laura as guiando, as três entrelaçaram as mãos, formando um círculo ao redor do túmulo, criando um laço de amor e intenção. Laura olhou de uma à outra, uma expressão decidida em seu rosto.

– Agora, por favor, fechem os olhos e concentrem-se no amor que sentem – disse Laura.

Gabrielle se deixou levar, sua mente se preenchendo com as memórias calorosas de Xena: as risadas compartilhadas, os momentos de coragem, os momentos de dor. O amor que existia entre elas era inquebrável, e era isso que ela queria invocar. Ela sentiu a energia pulsar entre suas mãos entrelaçadas, e o mundo ao seu redor começou a desvanecer.

Xena, por outro lado, estava lutando contra sua própria desconfiança. Embora soubesse que queria ajudar Laura, um fio de ceticismo ainda a prendia à realidade. Ela estava receosa das consequências de mexer com forças desconhecidas. Mesmo assim, ao sentir a mão de Gabrielle na sua, uma onda de calor e confiança a envolveu. Ela respirou fundo, permitindo que as lembranças de seu amor a guiassem, mesmo que hesitante.

Laura começou a sussurrar palavras incompreensíveis, em uma língua antiga que reverberava no ar como um canto ancestral. Cada sílaba parecia vibrar com a energia que emanava do círculo, aumentando a conexão entre elas. A luz da lua cheia parecia brilhar ainda mais intensamente, como se estivesse respondendo ao chamado de Laura.

Conforme os murmúrios de Laura aumentavam em intensidade, barulhos estranhos começaram a surgir da tumba. Um eco distante, como se algo estivesse se movendo sob a terra, retumbava em resposta às palavras da vampira. As folhas nas árvores ao redor começaram a agitar-se fortemente, com a passagem de um vento intenso e gelado.

Gabrielle abriu os olhos, seu coração acelerado.

– Xena… – murmurou, a ansiedade agora visível em sua voz – o que está acontecendo?

Xena, mantendo os olhos fixos no túmulo, respondeu com um sussurro.

– Não sei, mas algo está se movendo.

Nota