Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

– Século vinte e um – murmurou Carmilla. Seu corpo recostava-se na grade da varanda e ela contemplava a silhueta das colinas ao longe, desenhadas pelo contraste da luz da lua com o negror da noite – quem diria que a ciência avançaria ao ponto de criar um mundo onde vampiros não precisam ser assassinos.

– O mundo mudou drasticamente – Laura posicionou-se ao lado da vampira e descansou a cabeça em seu ombro – e mesmo com toda a ciência, foi uma magia de amor que te trouxe de volta pra mim.

Carmilla baixou os olhos com um sorriso melancólico. Tudo ainda parecia irreal. Mas a sensação do corpo de Laura encostado no seu, sem desaparecer, sem desvanecer como em suas ilusões torturadas nos abismos infernais, reafirmava cada vez mais que aquilo não era só mais um suplício elaborado de Lúcifer.

– E você realmente me trouxe de volta – Carmilla voltou-se para Laura – eu e você… não foi uma ilusão. Você realmente…

– Eu te amei. E permaneci te amando.

– Eu estava te machucando.

– Porque não havia outra forma.

– Oh, Laura… eu receio que… eu não seja quem você pensa que sou.

– Você me ama? – Laura perguntou um tom angustiado.

– Se eu te amo? Por Deus, Laura, mais que qualquer coisa nesse mundo.

– É tudo que eu preciso saber – a loira depositou um beijo sôfrego nos lábios da morena – o resto descobriremos juntas. Dia após dia.

Carmilla, trêmula, deixou-se levar pelo conforto do abraço e do beijo de Laura.

 

***

 

Gabrielle dormia pesadamente, mas Xena estava dominada por uma sensação de inquietude. Levantou-se da cama com destreza, de modo a não acordar sua parceira, pegou sua espada e saiu do quarto, caminhando pela casa com as passadas sutis como a de um fantasma.

Espiou pela fresta da porta da frente e pôde ver a silhueta das duas vampiras, abraçadas uma à outra, contemplando a noite. Nada parecia anormal, mas a sensação difusa de que havia algo errado não passava. Continuou caminhando pelos cômodos, sem acender nenhuma luz e atenta.

Teve a nítida sensação de um movimento atrás dela e virou-se com todos os sentidos em alerta máximo, mas era apenas Gabrielle, com a cara cheia de sono. A loira abriu a boca para falar, mas Xena pôs o dedo indicador nos lábios. A expressão de Gabrielle mudou para alerta e Xena fez sinal para a porta dos fundos.

Ambas caminharam sorrateiramente até lá e abriram a porta sem fazer nenhum barulho. Gabrielle pegou o cajado que costumava deixar ao lado da porta. Dessa vez, Xena viu nitidamente quando um vulto veloz se projetou na direção de Laura e Carmilla.

A guerreira correu e deu uma cambalhota no ar, segurando o vulto e derrubando-o no chão, aos pés de Carmilla e Laura que se levantaram de um salto. As três ficaram estupefatas quando o vulto pareceu se dissipar no ar diante de seus olhos.

– Que diabos foi isso? – Gabrielle perguntou, ao se aproximar da cena.

Xena não teve tempo de responder, pois viu mais uma vez uma silhueta escura tomar forma diante delas.

– É simples – uma voz gelada como a noite pareceu vir da silhueta – me entreguem Carmilla e ninguém precisa se machucar. Resistam, e levarei todos vocês para o inferno.

– Deixe-me adivinhar – Xena falou com desdém – Luceroni não está feliz que roubamos Carmilla bem debaixo das fuças fedorentas dele.

A criatura ficou em silêncio, parecendo confusa com as palavras da guerreira.

– Você não tem nada que mexer com o Inferno, Xena – o invasor retrucou – estou apenas restabelecendo a ordem das coisas. Carmilla é uma assassina cuja alma pertence ao meu mestre.

– Sabe, não é assim que fazemos as coisas por aqui – Xena continuou – ela está viva de novo, logo, ela tem uma segunda chance. Agora saia daqui antes que eu mande você pro inferno.

– Eu avisei – disse a criatura, antes de atacar novamente.

 

***

 

Na escuridão da noite, Malik se movia com a rapidez e o silêncio de uma sombra viva, sua forma ora sólida, ora desvanecendo-se em fumaça, o que tornava seus movimentos impossíveis de prever. Xena e Gabrielle, mesmo com toda a sua habilidade e experiência, estavam em desvantagem. Malik atacava de todos os ângulos, surgindo e desaparecendo, deixando cortes profundos e golpes que levavam as duas ao limite.

Gabrielle tentou acertar Malik com seu cajado, mas ele simplesmente desapareceu diante de seus olhos, reaparecendo atrás dela, o que a fez cambalear para frente com uma nova ferida no ombro. Xena, ofegante, segurava sua espada com firmeza, tentando calcular o próximo movimento do inimigo, mas até mesmo ela, uma guerreira lendária, tinha dificuldade em acompanhar a velocidade sobrenatural do caçador.

– Ele é rápido demais! – Gabrielle gritou, com a respiração ofegante, tentando se recompor.

Malik reapareceu logo à frente, rindo em um tom baixo, sua voz ecoando como um presságio de morte.

– Vocês estão cansadas. Fracas. É inútil resistir – disse ele, enquanto seus olhos brilhavam de malícia, as presas brancas reluzindo na noite, destacadas contra o rosto sombroso – a alma de Carmilla pertence a Lúcifer.

Xena, mesmo ferida e com sangue escorrendo pelos braços, firmou o olhar no oponente.

– Você fala demais – Xena respondeu, sua voz carregada de desafio, enquanto se preparava para o próximo movimento.

 

***

 

Carmilla e Laura observavam a cena, estupefatas, paralisadas pela intensidade da luta. Malik era uma névoa mortal, seus golpes rápidos e cruéis deixavam Xena e Gabrielle cada vez mais feridas. O som de aço se chocando e gritos abafados ressoavam enquanto as guerreiras lutavam com tudo que tinham.

Laura apertava os punhos, o coração batendo violentamente no peito, mas era Carmilla quem parecia mais atingida pela situação. Seus olhos derramavam desespero. Ver Xena e Gabrielle sendo dilaceradas em sua defesa era demais para suportar.

– Isso… isso tem que acabar – murmurou Carmilla, sua voz trêmula, mas com uma nota de resignação.

Laura, ao ouvir, virou-se para ela, os olhos arregalados de medo.

– O que você está dizendo?

– Ele veio por mim. Eu sou a razão disso tudo – Carmilla respondeu, com um tom amargurado – se eu me entregar, ele vai parar. Ele vai levar minha alma de volta para o inferno, e isso acaba aqui.

– Não, Carmilla! – Laura sussurrou desesperadamente, segurando-a pelos ombros, a tensão em sua voz impossível de esconder – você não pode fazer isso. Não depois de tudo que passamos para te trazer de volta. Não depois de tudo que eu fiz…

Mas Carmilla não desviou o olhar da cena brutal diante delas. Xena caiu de joelhos após um golpe particularmente forte de Malik, sangue pingando no chão, enquanto Gabrielle, ferida e ofegante, tentava se recompor. Malik, agora imponente e implacável, estava prestes a finalizar o que começara.

– Elas vão morrer, Laura… por minha causa.

 

***

 

Com os punhos cerrados, Carmilla avançou, ignorando o gesto desesperado de Laura atrás dela. O medo e a dor em seus olhos agora davam lugar a uma decisão fria e determinada.

– Malik! – ela gritou, sua voz rasgando a noite com uma vibração gélida – Pare!

O vampiro caçador, que estava prestes a desferir outro golpe mortal contra Gabrielle, parou no meio do movimento. O silêncio caiu como uma sentença. Ele girou lentamente, seu olhar predatório se fixando em Carmilla, os olhos brilhando na penumbra.

Xena, ajoelhada e ensanguentada, observava a cena com respiração pesada, mas alerta, enquanto Gabrielle lutava para se manter de pé.

– Você está pronta para aceitar o que é seu por direito? – Malik disse, a voz baixa, mas carregada de triunfo – a sua alma pertence ao Inferno, Carmilla. Sempre pertenceu.

Carmilla respirou fundo, dando mais um passo à frente. Seu corpo tremia ligeiramente, mas seus olhos estavam fixos nos de Malik.

– Se isso parar a luta… Se isso impedir mais derramamento de sangue… – ela hesitou, as palavras pesadas de amargura – então sim. Eu volto com você.

Laura correu para Carmilla, segurando-a pelo braço, seus olhos suplicantes se encontrando com os da vampira.

– Não faça isso! – ela implorou, sua voz trêmula – você não tem que voltar para aquele lugar!

– Laura… – Carmilla a interrompeu, com voz resignada – não posso deixar que elas morram por minha causa.

Malik, imóvel, observava a cena, seus lábios curvando-se num sorriso cruel.

– Sábia escolha, Carmilla – ele disse, sua forma começando a se dissipar em fumaça, como se estivesse se preparando para reclamar sua vítima – vamos.

Mas antes que ele pudesse tomar qualquer atitude, um brilho de aço cortou o ar.

– Você não vai levar ninguém – murmurou Xena, sua espada vibrando no ar enquanto se levantava com esforço.

 

***

 

Carmilla, vendo Xena avançar com a espada em mãos, exclamou:

– Xena, pare! Já fez o suficiente.

Xena parou, virando-se para encarar a vampira, os olhos ainda brilhando com a adrenalina do combate. Um sorriso cínico surgiu em seus lábios enquanto observava Carmilla e, em seguida, voltava o olhar para Laura, sua expressão carregada de sarcasmo.

– Ei, Laura – disse Xena, sem baixar a lâmina, a voz carregada de ironia – já que você agora entende tanto de vampiros, como é que se mata um?

Laura abriu a boca, mas hesitou. O olhar que Xena lançava era desafiador, como se estivesse testando até onde Laura iria para proteger Carmilla.

– Xena… – começou Laura, a voz embargada pela pressão de suas palavras.

– Não – Carmilla interrompeu, avançando entre Laura e Xena, os olhos fulminando – eu disse que já basta. Você não pode lutar por mim desta vez.

Gabrielle, ainda se apoiando no cajado, observava a cena com o coração na garganta. Malik, a poucos metros de distância, observava a troca com um sorriso zombeteiro, seus olhos brilhando com a expectativa do caos iminente.

– Ah, isso vai ser interessante – murmurou Malik, como se estivesse assistindo a um espetáculo.

Xena, ainda com o olhar cravado em Carmilla, deu um passo para trás, erguendo a espada levemente.

– Então, Carmilla, vai se sacrificar ou lutar por sua alma? – perguntou ela, num tom duro – porque eu estou aqui para garantir que você tenha uma escolha.

Nota