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⚠️: Este trecho contém cenas de abuso e violência sexual. Leitores sensíveis podem se chocar ou apresentar gatilhos.

Empregados corriam pelos corredores. Escravos carregavam bandejas. A guarda real recebia instruções e marchavam para seus postos. Capitão Octavios havia chegado em Corinto, mas não tinha se encontrado com ninguém ainda.

Xena passou o dia em seu aposento sem ver ninguém. No entanto, a tarde estava chegando ao fim e a penumbra começava a tomar conta do céu grego. A imperatriz estava agora na companhia de suas cinco duquesas e costureiras. De cima de uma baqueta e frente a um grande espelho,  uma das costureiras dava os toques finais em seu vestido de seda preto. O mesmo era longo e sem mangas. Em seu cabelo estava um coque volumoso e uma coroa de louro banhada a ouro. Delicada, porém simbólica. Fazia jus a pessoa que a usava.

– Está radiante, majestade. – A duquesa de Acaia parecia encantada.

-Você quer cortar pescoços vestida desse jeito? – Delia respondeu da poltrona em que estava sentada.

-Ninguém vai ter o pescoço cortado essa noite. – Xena olhava fixamente para o espelho.

-Será? No último baile eu contei seis.- Delia falava enquanto as outras duquesas permaneciam quietas e controlavam os desejos de olharem uma para as outras.

-Podemos começar agora se quiser. – O olhar da imperatriz caiu sob a duquesa.

-Dispenso. Tenho permissão para me retirar, majestade?- Falou a senhora por fim. 

-Com toda certeza. – Encarado o espelho novamente a imperatriz respondeu.

Delia se levantou e saiu do aposento. Todas as demais duquesas fizeram o mesmo com alívio. Xena não estava sendo a pessoa mais agradável de todas naquele dia. Não que costumava ser. Mas sua aura estava enegrecida e aquilo nunca trouxe coisas boas para quem ficava muito perto.

-Está do seu agrado, majestade? – A costureira perguntou.

-Está. Pode se retirar agora.

-Com sua licença, majestade. – A costureira se retirou e antes mesmo dela fechar a porta do aposento um sentinela pediu permissão para entrar.

Quando foi permitida, um mensageiro apareceu com um bilhete muito bem embalado. Xena o pegou e o mensageiro saiu.

Caminhando até o parapeito de seu aposento, ela desdobrou o papel e leu leu seu conteúdo, suspirou ao final. Já estava com pouca luz no céu e de sua sacada dava para ver várias carruagens iluminadas por tochas. Os nobres estavam começando a chegar ao palácio. Delia podia ser rabugenta, mas em uma coisa tinha razão. Se Xena precisasse matar essa noite ficaria difícil com aquele vestido.

Atena, me ajude.

*************************

Gabrielle estava pegando água no poço atrás da cozinha. Puxava com dificuldade o balde quando uma voz autoritária veio de trás:

– Que diabos você está fazendo aí? – Gabrielle soltou a corda, fazendo o velho balde bater no fundo do poço e encarou Delia. – Eu estou te procurando há um tempo.

-Eu… estou pegando água para limpar. – Sem entender nada a jovem respondeu.

-Limpar o que? Venha comigo rápido.

-Aconteceu algo, duquesa.– Ela secou as mãos em seu avental e caminhando em passos rápidos atrás da senhora.

-Como assim se algo aconteceu? Vai ter um baile, minha jovem. Só isso. E a dama de companhia da Imperatriz está enfiada num poço em vez de estar se arrumando. – Delia se esforçava para andar rápido.

-Hein? – Essa foi a única palavra que saiu da boca de Gabi.

– Você não está surda, está? Damas de companhia não deviam ensurdecer na véspera do baile.

-Duquesa, eu não sou dama de companhia. Eu sou uma escrava.

-Hoje em especial você é uma escrava e também dama de companhia. – As duas subiram as escadas principais e não dos servos.

-Eu pensei que as outras duquesas já tivessem esse papel.

-Hoje elas vão acompanhar seus maridos no baile. – Delia estava no terceiro andar onde havia seu aposento.

-Mas e a senhora? – Gabrielle perguntou quando parou na frente da porta de madeira do aposento da duquesa.

-Eu estarei lá, mas você realmente acha que uma velha como eu vai conseguir dar conta da imperatriz bêbada? Por favor, né. Tenha dó de mim.

Gabrielle ri por fim e foi basicamente empurrada para dentro do aposento. Quando entrou, viu uma escrava ao lado de uma tina.

-Vai vai vai. Tire esse trapo e mergulhe na água. – Delia cutucou Gabrielle com a bengala.

-Certeza que é conveniente eu tomar banho no seu aposento, duquesa? – Gabrielle desamarrou o avental com pressa.

– Absoluta, VÁ.

Gabrielle entrou na tina e a escrava começou a esfregá-la. Por um momento Gabi pensou conhecer a garota, mas com tantos empregados e escravos no palácio era provável que já tivessem se visto.

A outra escrava parecia de mal humor e esfregava sua pele como se quisesse arrancá-la da carne. Não estou tão suja assim para usar tanta força. Pensou e gemeu de desconforto enquanto se contorcia.

-Pode… não fazer isso tão forte?- Se arriscou a perguntar. A outra escrava a olhou com desgosto e aliviou a pressão. Com toda certeza estava odiando realizar tal tarefa em uma pessoa do mesmo nível da hierarquia. 

Delia, por sua vez, pegou uma esponja e esfregou o rosto de Gabrielle para tentar adiantar o serviço.

– Du…que…sa- A garota tentava falar.

-Fale menos e limpe mais.

– Eu… não tenho o que vestir. – Delia a olhou dramaticamente e voltou a usar a esponja.

–Deixa que eu me preocupo com isso.

Depois do banho Gabrielle estava sentada na penteadeira da duquesa enrolada na toalha de algodão. Seu cabelo estava sendo penteado e seu rosto hidratado com perfumes.

– Que tal uma trança, duquesa? – A serva que estava penteando o cabelo da menina perguntou. 

– Não queremos deixá-la mais menina, mas sim uma mulher.

-Que tal assim? – A serva prendeu o cabelo de Gabi numa espécie de coque volumoso deixando sua franja com apenas alguns fios soltos.

-Perfeito. – Delia sorriu. O cabelo estava feito e os olhinhos de Gabrielle brilhavam como perfeitas esmeraldas banhadas pela água do mar. Analisou toda sua aparência pelo espelho e não reconheceu a pessoa diante dele. Eu posso ser tão bonita assim?

-Gabrielle…. Gabrielle.- Delia chamou e tirou a menina do transe. – Seu vestido está aqui.

Com um pulo Gabrielle saiu da cadeira e se aproximou rápido. Era o vestido de camurça que viu na alfaiataria dias atrás. Delia pegou o vestido e colocou na frente de Gabi.

-Você não podia ter escolhido melhor. – disse a duquesa.

Gabrielle mudou seu semblante. Abaixou a cabeça e em seguida falou. – Eu não posso aceitar, duquesa. Eu não posso e não mereço usar algo assim. – Terminou a frase se sentando no pé da cama.

– Você pode, deve e vai usar este vestido, Gabrielle. – Delia o colocou na cama e se sentou.– Sua participação foi a pedido da própria imperatriz. Se te ajuda pensar que usá-lo é apenas cumprir mais uma das exigências dela, então que assim o faça.- Ambas ficaram em silêncio e então Gabrielle olhou para cima. – E além do mais, eu vi como olhou para ele.- A loira voltou a baixar os olhos. -Sei o que se passa nessa sua cabecinha judiada. Só tente não focar nisso agora.- Delia tocou o ombro da garota que continuava sentada no chão. – Vamos, querida. Traga esse traseiro pra dentro do vestido.- Gabrielle riu e ganhou um belo apertão na bochecha.

– Às vezes a senhora fala como a imperatriz. – Gabi observou.

– É ela que fala como eu, minha criança. – Ambas riram. 

  ********************

Xena estava no corredor do quinto andar. A sua volta, os  duques de Loyola, Acaia, Tessália e Delfos se encontravam. Todos acompanhados de suas esposas. Também estava sua general Mioll e por fim, subindo lentamente as escadas apareceu a duquesa de Corinto.

-Pensei que havia morrido. Já estava pedindo para que sua cova fosse aberta par… – Xena estava prestes a terminar sua piada quando uma cabeça loira em vestido de camurça vermelho apareceu logo atrás da duquesa e tirou suas palavras.

-Eu ainda vou ver seu herdeiro ser coroado, majestade. – Delia respondeu a provocação mesmo sabendo que a imperatriz tinha seus olhos em outro lugar.

– Aquela é sua escrava? – Perguntou Mioll num sussurro.

– Eu acho que é.

-Boa noite, majestade. – Gabrielle se abaixou numa reverência.

-Quem é você? – Xena se aproximou da jovem sem piscar.

-Eu… creio ser sua dama de companhia essa noite, majestade.- Sem jeito a menina respondeu.

-Se eu soubesse que você seria uma dama de companhia tão bela eu já teria chutado Delia daqui. – Xena provocou sua duquesa e estendeu a mão para Gabrielle, que ruborizou e entregou a sua de bom grado.

– Por favor, faça isso. Eu já não aguento mais nenhum de vocês. – Delia, que se aproveitava de seu status de velhice, respondeu na frente dos demais despreocupadamente. Era como se soubesse que todos a darem um passe livre para falar tudo o que pensava, uma vez que Xena provará que não a mataria por custo algum.  

-Eu adoraria que ficasse ao meu lado quando entrássemos no salão, Gabrielle. Mas o maldito protocolo diz que você terá que ser a última da fila. – Disse Xena ainda segurando a mão de Gabrielle. – Assim que eu me sentar você ficará ao lado esquerdo de Delia na mesa. E quando eu me levantar você caminhará dois passos atrás de mim do lado esquerdo. Consegue fazer isso?

-Sim, majestade. – A jovem respondeu timidamente. Xena manteve seus olhos nela, acariciou a pequena mão com seu polegar e inacreditavelmente, depositou um delicado beijo no dorso da mão. Depois, deu um sorriso quase imperceptível e soltou a jovem.

-Eu fico honrada em te acompanhar, duquesa. – Mioll estendeu o braço para Delia e a mesma aceitou.

-Obrigada, general. É uma pena que não seja um homem, caso contrário, todo o reino estaria implorando para que você desposasse a imperatriz. Não aquele careca do Octavios.

– Acho que isso é um elogio, certo? – Mioll riu assim como os demais.

Xena por sua vez estava apreensiva de novo.

Depois de trocarem mais ideias sobre o plano, os nobres e a imperatriz desceram até o salão de festas. A ordem era a seguinte: Xena ia logo a frente e tanto do seu lado esquerdo quanto direito haveria dois sentinelas caminhando em posição triangular. Logo atrás estava a general Mioll e a duquesa de Corinto. Atrás e em fila indiana estavam os duques. O que ia na frente, era o que possuía o título a mais tempo e assim por diante. E logo no fim estava Gabrielle escoltada por dois sentinelas, um do lado esquerdo e outro do lado direito. Um deles era Najara.

Todos os nobres que faziam parte do conselho da imperatriz brigavam para estarem nessa posição. Entrar ao seu lado era um dos maiores privilégios, sem contar no respeito que ganhavam. Segundo Mioll, Xena havia caído no conceito de muitos nobres por não permitir novas pessoas ao seu círculo íntimo a tempos. Não gostava de dar a chance para outros nobres se aproximarem e por pura frustração eles caíram na conversa de Octavios.

A trupe parou antes de entrar no salão. Antes de dar as ordens para ser anunciada, Xena abriu uma fresta na porta e olhou para dentro do salão. Os nobres estavam divididos em panelinhas. Provavelmente eles estavam divididos entre os que apoiavam Octavios e os que eram contra ele. Xena conseguiu localizar os três duques que saíram em campanha com seu principal alvo e provavelmente eram os que mais apoiavam o capitão. Por fim a imperatriz confirmou que quase todos os nobres relevantes estavam ali dentro, menos o capitão Octavios que possivelmente só iria aparecer assim que ela se sentasse na sua grande cadeira da mesa do banquete. Ele tinha a intenção de causar a maior cena e comoção.

Com ódio no olhar, Xena voltou para sua posição e deu o comando para os guardas a anunciarem.

Todos que estavam no salão olharam para o guarda que caminhou até a porta e bateu com a lança no chão.

“TODOS SAÚDAM SUA MAJESTADE IMPERIAL E CONQUISTADORA DO REINO CONHECIDO.”

As portas do salão se abriram e a cabeça que possuía uma coroa apareceu. Todos aplaudiram sua majestade assim que ela adentrou o recinto.

Quando Xena chegou até a mesa do banquete, parou ao lado da grande cadeira que a pertencia e ergueu uma mão. Os aplausos cessaram e ela falou:

-Espero que estejam tendo uma noite agradável, senhores e senhoras. Sejam muito bem vindos ao baile de boas vindas do nosso grande herói Octavios. – Todos do local podiam sentir a ironia na voz da imperatriz, mas mesmo assim, os simpatizantes do capitão urraram quando o nome foi citado. – Comam e bebam de minha comida, creio que daqui algumas marcas de vela nosso capitão nos dará a honra.

Mioll notou que desde a entrada do salão até aquele instante que a conquistadora se sentou à mesa, ela não tirou a mão direita de suas costas. Uma capa de pele tapava lhe cobria o dorso e senso assim, ocultava sua mão. Parecia até mesmo, ocultar uma adaga.

O duque de Tebas se aproximou de Xena e de maneira curiosa a imperatriz se levantou da cadeira. O nobre abaixou a cabeça numa reverência e estendeu a mão para a imperatriz.

-Que honra compartilhar a mesa com sua majestade essa noite. – O duque olhou para sua mão que não foi recebida e logo a puxou de volta. – Ah sinto muito majestade. Me esqueci que está machucada.

BINGO

– Minha mão machucada? – A imperatriz retirou sua mão das costas e a ergueu na altura do rosto. – Até onde sei minha mão está ótima, duque. De onde tirou essa ideia.

Os olhos dele se arregalaram e por um momento seu rosto ficou pálido.

-Eu… eh…. Eu ouvi algo parecido com isso, majestade. Creio ter me enganado.

-Com toda certeza se enganou. – Xena estendeu a mão ao duque e o aperto selados foi e ameaçador.

-Majestade, enquanto estávamos em campanha na costa Persia eu fiquei sabendo que tirou uns dias de descanso no casarão da duquesa.

-Foi isso mesmo, senhor. Eu não estava me sentindo bem, adoeci e meu curandeiro me obrigou a repousar. 

-Se me permite, majestade, nessas horas que eu penso o quão importante é um herdeiro para o reino. No meu caso eu tenho a sorte de ter Matia. Mas a senhora por outro lado… Não chega a se sentir desamparada? Se tivesse um herdeiro ele poderia se ocupar de alguns assuntos e te aliviar.

-Eu odeio frases que começam com “se me permite”. Saiba que não permito, duue, mas de que adianta se você já falou sem eu lhe autorizar. Mas já que disse o que queria, deixe-me responder. Eu não estou desamparada. Tenho um  time leal e general Mioll. Quanto a minha doença, não se preocupe, pois o reino não ficou desamparado.

-Entendo, majestade e me perdoe pela insolência. Estou apenas pensando no futuro.

– Claro que está.- Xena sorriu com cinismo e mostrando os dentes ameaçadoramente. 

Os outros dois duques que acompanharam o capitão Octavios se aproximaram.

– Majestade, que honra. – Eles beijaram a mão da imperatriz.

– Como foi a viagem de volta, senhores. 

-Fantástico, majestade. Foi muito bom retornar ao lar depois de uma batalha tão árdua.

-Imagino que tenha sido muito difícil, senhores.- Xena apertou os olhos.

-Mas por aqui as coisas não estavam tão fáceis, não é? Ficamos sabendo que houve um navio pirata que causou problemas.

– Sim, tivemos que lidar com esses contratempos. 

-Ouvimos dizer agora pouco que o maldito do capitão persa será sentenciado hoje com pena de crucificação e mutilação. – o duque de Esparta falou.

-Eu achei essa pena excelente, majestade. Malditos ladrões. – Completou o duque de Argos.

Enquanto ouvia, Xena viu que o duque de Tebas deu um pequeno chute no duque de Esparta e o homem mudou o semblante.

-Que interessante ouvir isso, senhores. Eu não me lembro de ter espalhado tal informação e muito menos dado alguma sentença.- Xena estava rindo por dentro quando notou o rosto dos malditos. A lealdade deles caiu no chão e Xena sabia que com um pouco mais de pressão eles se revelariam. Mas a imperatriz sabia também que a única pressão que faria eles abrirem a boca era o que a segunda parte do seu plano estava por fazer.

Todos do salão olharam para a porta quando o guarda bateu com a lança no chão mais uma vez.

“Capitão da primeira frota de navios e do exército grego, Octavios, pede autorização de sua majestade imperial para entrar no salão.”

Xena autorizou com uma sacudida desdenhosa com a mão e o Capitão entrou sendo carregado por aplausos e gritos de comemoração. Os nobres gritavam seu nome numa espécie de grito de guerra e o sangue da imperatriz fervia por dentro.

Octavios era um homem alto, charmoso, aparentemente muito forte e muito habilidoso na espada. Todos pareciam gostar dele de imediato. Todas essas qualidades quase roubavam o foco de sua leve calvície.

Xena caminhou até a frente da mesa. Do seu lado direito estava Delia e do esquerdo Gabrielle. O Capitão olhava fixamente para a imperatriz e quando se aproximou se abaixou em um joelho e deu um beijo tão terno na mão da mulher que quase fez os nobres do conselho vomitarem. 

-Seja bem vindo de volta, capitão.- Xena falou de forma receptiva, mas morrendo de vontade de limpar a mão no vestido.

-Que honra estar em Corinto novamente, majestade.-  Octavios se levantou e falou enquanto olhava para os lados, exibindo seu sorriso arrogante. Ele deu uma rápida vislumbrar a volta e quando viu Gabrielle sentada no canto da mesa do banquete, sua cabeça voltou a fita-la abruptamente. Xena notou aquilo e olhou para trás. O que viu a seguir a preocupou.

Gabrielle estava pálida e sua respiração desordenada. A menina estava tentando disfarçar, mas Xena já havia entendido o que aconteceu. Ela reconheceu em Octavios um de seus vários agressores.

O Capitão pegou no braço de Xena rápido, cruzou com o seu e começou a caminhar para o meio do salão de costas para a menina. A imperatriz quis estrangular o homem ali mesmo e fazê-lo sangrar. Mas seu plano precisava continuar. Ela sabia que Octavios ia o mais rápido possível atrás de Gabrielle e tentar matá-la. Se sua estratégia estivesse certa, o seu jovem escrivão Matia, que a pouco se confirmou como espião da oposição e traidor, havia informado que na reunião do dia anterior, a imperatriz afirmou que a escrava não sabia de nada. Então ele teria que agir rápido antes que ela abrisse a boca.

O capitão falava e falava e a imperatriz mal ouvia. Ela estava respondendo no automático e aquilo estava perigoso.

– Venha, capitão, vamos beber. Temos a noite toda para falar de política. Por agora eu quero comemorar-  A imperatriz pegou um cálice da bandeja de um dos servos e virou rapidamente. Octavios sorriu e fez o mesmo.

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Xena parecia bêbada, ria e conversava em voz alta. Os duques que acompanhavam Octavios estavam animados e entraram na onda. Por outro lado, o capitão bebia e bebia, mas parecia sério.

-Você está um saco hoje, Capitão. O que aconteceu. Os persas comeram sua língua? – Xena empurrou o capitão que quase caiu da cadeira. Os duques riram alto até perderem o fôlego.

Octavios estava suando e se pudesse mataria Gabrielle ali mesmo. Uma vez ou outra ele olhava para a jovem que parecia passar mal do outro lado da mesa. Foi no exato momento em que Xena o empurrou, que o capitão viu a menina deixar o salão sozinha, agarrada em seus próprios braços e curvada. Era óbvio que aquele era o momento para atacar.

– Eu preciso mijar- Octavios levantou sem se preocupar em pedir licença e saiu às pressas.

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Gabrielle saiu do salão se apoiando na parede enquanto andava. Estava tonta. Tentou beber um pouco de vinho para se acalmar, mas curiosamente o gosto da bebida e o cheiro a fez sentir ainda mais náuseas.

Aquele homem, é ele o homem da noite do acampamento. Era ele que estava na farda. Gabrielle se lembrava de poucas coisas daquele dia. Se lembrava da farda, do cheiro e dele em cima dela. Se lembrava que ele a machucou em determinado momento e um choro escapou. Logo em seguida recebeu um tapa tão forte no rosto que afogou as lágrimas. Então recordou que ele deu algo para ela beber e quando não quis mais, o homem jogou algo em seu rosto.

Gabrielle se lembrou que o tal líquido era vinho e quase de imediato seu estômago embrulhou. A menina vomitou ali mesmo no corredor.

– Você continua a mesma vadia de sempre.

Uma voz saiu das costas da garota e seus olhos arregalaram. Octavios estava atrás dela.

-Você foi minha maior decepção na cama. Tem um rosto tão lindo, mas só sabe gritar e vomitar. – Octavios se aproximou e deu um tapa no rosto da garota. Gabrielle caiu com a força. – Eu devia te espancar por ter vomitado em mim aquela noite. – O homem chutou a perna de Gabrielle e ela gemeu.  – Eu quase não te reconheci nesse vestido. Mas continua sendo uma vagabunda até em camurça. – O capitão levantou Gabrielle pelo pescoço. – Esse tecido é bom demais pra você.-  Octavios puxou tão forte a manga do vestido que o rasgou.

Gabrielle olhava para o corredor e não via ninguém. Será que ninguém vai vir me salvar? A menina pensou enquanto sua garganta era apertada. A imperatriz com certeza não viria, ela estava bêbada demais pra isso. Mioll estava de costas quando ela saiu do salão e a duquesa já havia se retirado. Ninguém ia sentir sua falta.

Octavios rasgou a gola do vestido e deixou um dos seios de Gabrielle à mostra. O homem a jogou no chão e avançou em sua direção, sua boca foi em direção ao pescoço da garota que tudo o que fazia agora era chorar.

– Lá vem você chorar de novo. – E mais um tapa deferiu. – Se ao menos você lutasse, as coisas ficariam interessantes, mas só chora como uma cadela. – E mais um tapa.

Gabrielle não lutava, nunca lutou e por isso ainda estava viva.

-Venha, vadiazinha – Octavios abriu uma porta qualquer e jogou Gabrielle lá dentro. – Eu vou te foder e depois te matar. 

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Xena estava comendo a unha. Gabrielle saiu do salão e Octavios também. Será que sua sentinela estava fazendo bem seu papel? A imperatriz designou Najara para tomar conta da menina, por mais que não tivesse gostado dos sorrisos e papos trocados entre Gabrielle e a sentinela, Xena sentiu que talvez Gabi ficasse mais à vontade.

– Quer que eu vá atrás dela? – Mioll se aproximou e perguntou.

A poucos segundos de Xena aceitar, Najara entrou no salão correndo e gritou.

– IMPERATRIZ. – A sentinela parecia apavorada.

– FIQUE AQUI.- Xena gritou para Mioll e saiu correndo na direção de Najara.

Ninguém do salão entendeu nada. Xena rasgou a parte debaixo do seu vestido e puxou a espada de um de seus soldados que estava perto da porta. A imperatriz e Najara saíram correndo do salão e desapareceram.

Os duques que estavam com Octavios se levantaram e começaram a correr na direção da porta, então Mioll gritou.

-GUARDAAAAAS. TRANQUEM AS PORTAS.

Num som quase estrondoso, os guardas que cuidavam das portas fecharam elas e barraram todas as saídas.

– NINGUÉM ENTRA E NINGUÉM SAI ATÉ A IMPERATRIZ VOLTAR. – A general subiu na mesa e desembainhou sua espada.