Era uma pequena clareira, esta. Com um belo gramado, que descia até um riacho que tranquilamente murmulhava, correndo em direção à névoa distante. Um acampamento bem arrumado banhava-se na luz do sol da tarde, que também refletia nas ancas de um cavalo dourado que pastava a grama com satisfação. Ocasionalmente, o cavalo levantava a cabeça e olhava em direção ao riacho, através da grama onde duas mulheres com bastões estavam engajadas em uma batalha séria.

“Não… não…” Xena disse, pacientemente. “Você tem que manter a outra ponta alinhada com seus ombros.” Ela tocou a ponta inferior do bastão de Gabrielle com o dela. “Se você deixar que fique para trás, é fácil para mim bater na parte de cima assim…” Pá. “e te desequilibrar.”

“Ai.” A barda gritou, dando um passo para trás e flexionando a mão. “Isso doeu.” Ela respirou fundo e avançou novamente, retomando sua posição com ambas as mãos envolvendo seu bastão. “Ok.. e isso?” Uma rápida reversão, tentando penetrar as defesas de Xena ao contrapor o movimento da guerreira da esquerda para a direita. Quase. Gabrielle mastigava seu lábio em concentração. Ah.. Ela transferiu seu peso para o pé esquerdo e fingiu, mas girou para a direita, mirando no nível do joelho, e então reverteu novamente, enviando a ponta superior do bastão direto para os ombros desprotegidos de Xena.

“Melhor.” Xena arrastou as palavras, bloqueando o golpe no joelho, mas permitindo que o golpe nos ombros passasse, pegando-o em sua braçadeira blindada e desviando-o, e então movendo seu próprio bastão em um borrão, para bater contra o de Gabrielle, e enviá-lo voando.

“Isso não vale.” A barda reclamou, sacudindo as mãos que formigavam. “Você está com armadura. Que tipo de competição é essa?” Sabendo que não era uma pergunta séria. “Eu já tenho desvantagens suficientes aqui.”

“Uh huh.” Xena refletiu, dando à barda um olhar pensativo. “Então, você acha que eu tenho vantagem por causa da armadura, huh?” Um brilho travesso apareceu em seus olhos azuis. Um que Gabrielle há muito aprendeu a temer. “Ok.” disse a guerreira, apoiando o bastão em uma árvore próxima e alcançando os fechos que seguravam sua armadura. “Vamos descobrir.”

Uh oh. Gabrielle a observava cautelosamente. Não gosto desse tom. Da última vez que ouvi esse tom, acabei num banho de lama inesperado. Mas ela permaneceu em silêncio enquanto Xena removia suas braçadeiras e caneleiras, e então lhe deu um sorriso malicioso e voltou para Argo, retirando uma camisa curta de linho e uma saia envolvente de suas bolsas de sela.

“Vou além.” Comentou Xena, enquanto trocava seus couros pelos itens de tecido, e amarrava as pontas da camisa em sua caixa torácica, fazendo uma justa aproximação do que a própria Gabrielle estava vestindo. “Ok. Agora estamos iguais.” A guerreira terminou, alegremente, voltando até a barda e recuperando seu bastão. “Pronta?”

Gabrielle piscou, engoliu em seco. “Uh. Sim.” Ela reuniu seus pensamentos dispersos e levantou seu bastão na posição de prontidão. Concentre-se, Gabrielle.. E ela realmente tentou, mas algo sobre o sol e aquela camisa de linho branca, e os músculos bronzeados agora mostrando em vivo relevo conforme a guerreira se movia continuava distraindo sua atenção. “Espera um minuto.” Ela fechou os olhos e respirou fundo. Gabrielle, agora você para com isso imediatamente. Isso é uma luta. Ela tem um bastão grande. Ela é muito perigosa. Coloque sua cabeça no lugar. Certo? Ok. “Ok.” ela abriu os olhos, e imediatamente encontrou a preocupação nos de Xena. “Não.. está tudo bem. Só o sol.” ela deu um sorriso brilhante e segurou melhor seu bastão. “Sério.”

“Uh huh.” Xena respondeu, arqueando uma sobrancelha para ela. “Vamos lá.” Concluiu, e se moveu em direção à barda, iniciando um ataque complexo, os primeiros golpes dos quais Gabrielle realmente conseguiu parar, e manteve sua posição, mas então começou a recuar, conforme os movimentos de Xena se tornavam mais rápidos, e os golpes começaram a bater contra suas defesas. “Fique firme, agora.” A guerreira sorriu, adicionando fintas e algumas rotações nos ataques.

“Augh.” Gabrielle grunhiu, tentando freneticamente impedir que a arma de sua oponente a alcançasse. “Deixe-me adivinhar.” Ela ofegou, caindo de joelhos para evitar um golpe violento. “você é mais rápida sem a armadura.”

“Uh huh.” Xena confirmou, infiltrando-se nas defesas da barda e transformando o que teria sido um golpe estonteante em um toque suave. “Cuidado com o que você acha que é, ou não é, uma desvantagem, Gabrielle.” Ela girou o bastão, deixando-o roçar a lateral da cabeça de sua companheira. Viu o olhar nos olhos verdes que a enfrentavam e desacelerou seu ataque, e então parou. “Ei.. você está bem?” E apenas por pouco, quase pegou o bastão de Gabrielle que se movia com incrível velocidade em direção à sua cabeça. Capturando-o em uma mão com um estalo afiado. Sentindo a raiva surgir, enquanto torcia o bastão da mão da barda com surpreendente facilidade. Respirando fundo enquanto lutava para controlar a raiva. Eu disse para ela fazer isso, certo? Para testar meus reflexos? Pare de reagir exageradamente.

“Perto.” Ela admitiu, forçando um sorriso.

Gabrielle suspirou. “Nunca perto o suficiente.” Ela sorriu de volta. “Eu entendi a questão da desvantagem, porém.” Nossa, se entendi. “Aliás.. você está.. boa.. como uma Amazona.” Ela estendeu uma mão e tocou o tecido de linho.

“É mesmo?” Xena riu. “Imagino.” Ela balançou a cabeça. “As Amazonas sairiam correndo.” Ela olhou por cima da cabeça de Gabrielle, em direção ao riacho. “Hora de pegar o jantar, eu acho.” Entregando seu bastão para a barda, e então caminhando em direção ao riacho, ciente da imobilidade de Gabrielle atrás dela. Dos olhos em suas costas. Apagando um sorriso rápido de seu rosto enquanto se virava e fazia contato visual com a barda. “Vindo?”

Terra para Gabrielle. Alô? “Sim. Deixa eu só colocar esses aqui.” ela finalmente respondeu, sacudindo a cabeça, confusa. Ela trotou até onde Argo estava amarrado, e guardou os bastões, e então correu de volta para o riacho, onde Xena já estava com a água pela cintura, cabeça inclinada, esperando pelos peixes.

“Pronta.” A barda comentou, mantendo-se bem afastada de onde sua companheira estava posicionada. Ela observou enquanto Xena ficava muito imóvel, e então se movia em um borrão de movimento espirrante. Eu queria poder fazer isso. Deuses. Eu queria poder… pare com isso, Gabrielle. Agora mesmo. Eu estou falando sério. O que deu em você hoje? Comemos alguns cogumelos engraçados naquela última leva, ou o quê? A barda sacudiu a cabeça, divertida, e soltou um suspiro.

“Aqui vem ela.” Xena comentou, virando-se e jogando sua captura longe na margem. Um truta de rio muito grande e cintilante, de fato. “Nada mal, se eu mesma posso dizer.”

Gabrielle capturou o peixe que se debatia com habilidade. Então, ela olhou para Xena, ainda na água, contra-luz pelo sol poente. “Muito bom” ela concordou. Ciente do sorriso que ela não conseguia impedir de aparecer em seu rosto. “Eu vou cuidar disso.” Tipo, agora mesmo.

Xena saiu da água, subindo a margem com passos calmos. “Eu faço isso.” Surpreendendo a barda. “Eu lembrei, outro dia, de uma maneira de fazer peixe que minha mãe costumava usar. Quer tentar?”

“Claro.” Gabrielle respondeu, entregando o peixe. “Eu tento qualquer coisa. Uma vez.” Desviando do tapa brincalhão da outra mão de Xena. “Bem, talvez duas vezes.” Ela cedeu.

“É mesmo?” Xena perguntou, um brilho travesso em seus olhos. “Qualquer coisa?”

A garganta de Gabrielle secou. Uh oh. “Bem, você sabe o que eu quero dizer… não qualquer coisa… a maioria das coisas… na maioria das vezes… Xena, não ouse… Ah, Hades!” Desesperada, ela saiu correndo. Fique longe da água, Gabrielle. FIQUE LONGE da água. Xena correu atrás dela, suas passadas mais longas cortando o caminho da barda toda vez que ela tentava desviar do riacho. Uma risada baixa escapou dela, enquanto ela perseguia sua companheira pela grama, habilmente a conduzindo cada vez mais perto da água ondulante. Finalmente, ela a tinha exatamente onde queria. “Ayiyiyiyiyi” explodiu de sua garganta, congelando a barda no lugar por um breve instante.

Tempo suficiente para Xena mudar de direção e ir direto para ela, envolvendo seus braços em torno da mulher surpresa e nem mesmo diminuindo a velocidade. Três passos mais poderosos, e ela lançou ambas sobre a borda do riacho.

“Yaaaaa!!!!” Gabrielle gritou. “Nãooooooo…” Enquanto ambas batiam na água e mergulhavam fundo, efetivamente silenciando a barda. Gabrielle sentiu a água fechar sobre sua cabeça e segurou a respiração, resistindo ao impulso de soltá-la causado pela corrente gelada. Xena ainda a segurava, e a guerreira chutou contra o fundo do riacho, empurrando ambas de volta para a superfície.

“Uau.” Xena ofegou, ao quebrar a superfície da água e sacudir a cabeça para limpar o cabelo dos olhos, soltando Gabrielle para flutuar ao seu lado. “Isso é bom.” Ela sorriu para a barda, que estava tirando o cabelo pálido da testa e a encarando.

“Eu vou te matar.” Gabrielle rosnou, cuspindo água da boca.

“Quem vai pegar o seu jantar, então?” Xena contra-atacou, com um sorriso.

“Eu vou pegar o meu próprio.” A barda respondeu, ainda irritada.

“Uh huh” Xena replicou, estudando-a. “Parecia que você precisava se refrescar. Desculpa.” Ela acrescentou, quietamente, e viu a irritação desaparecer do rosto de sua companheira, substituída por um sorriso envergonhado.

“É. Eu precisava. Aquele sol estava me matando.” Ela admitiu, dando uma pequena espirrada em Xena. “Então você está livre da culpa.” De mais de uma maneira. Ela mergulhou a cabeça debaixo d’água e voltou, passando as mãos pelo cabelo para torcê-lo.

Xena apenas riu e virou-se, começando a nadar para a margem oposta com braçadas preguiçosas. A corrente não era avassaladora, e a água fria era agradável enquanto ela mergulhava sob um tronco semi submerso, e virava para começar a voltar pela largura do riacho. Seus olhos observaram brevemente a área ao redor. Bom. Ela refletiu. E é um lindo dia, também, mesmo começando do jeito que começou. Seus olhos caíram sobre Gabrielle, que estava de pé enfrentando o pôr do sol, passando os dedos pelo cabelo pálido para secá-lo, e Xena encontrou um sorriso formando-se em seu rosto. Ela observou por mais um momento, então, com um pequeno balanço da cabeça, mergulhou de volta na corrente e começou a nadar de volta, parando a alguns metros da barda.

“Ei.” Gabrielle grunhiu, quando Xena emergiu e virou-se de costas, cruzando as mãos sobre o estômago tentando flutuar, sem muito sucesso. “Está com problemas aí?”

“Ei para você.” A guerreira respondeu, desistindo da tentativa de flutuação. “Eu não flutuo bem.” Ela reconheceu com um encolher de ombros. “Músculo e osso são ambos mais pesados que a água.” Ela riu. “E eu tenho bastante dos dois.”

Gabrielle sorriu maliciosamente. “Eu percebi.” Ela deu a Xena um olhar travesso. “Especialmente naquela roupa.” Recebendo uma sobrancelha muito levantada de sua companheira. “Ei, é a verdade. Não me culpe.” Ela exclamou, afastando a sobrancelha e o leve espirro de Xena com ambas as mãos.

Xena deu-lhe um olhar sarcástico. “Sim, claro… Odeio te dizer isso, mas é o que VOCÊ geralmente usa, oh Rainha Amazona.” Ela lançou um punhado de água na barda agora sorridente. Será que eu quero saber onde essa conversa vai dar? Provavelmente não.

“Siiiim…” Gabrielle respondeu,prolongando a palavra. “Mas tem muito mais de você do que de mim.” Oh oh.. Acho que posso estar me metendo em problemas aqui. “E você tem um bronzeado muito melhor.”

“Ah é?” Xena respondeu, começando a rir. Ela permitiu que seu olhar deslizasse pela barda. “Não sei… Eu meio que gosto do seu bronzeado.” Sentindo um pequeno arrepio de perigo, ao notar o brilho repentino nos olhos de Gabrielle. O pequeno sorriso no canto de sua boca. Eu quero começar isso? Agora? Aqui? Não é uma boa ideia, Xena. Ela virou a cabeça e olhou através da água, de repente focando em um tronco meio escondido não muito longe. Sem dizer uma palavra, ela lançou-se em direção a ele, mergulhando sob a parte que estava acima da água quando se aproximou, e olhando atentamente para um pequeno buraco. Ahh.. Como pensei. Ela retirou algo do buraco, tendo que puxar forte com seus dedos fortes. Em seguida, ela pegou algo no topo do tronco e voltou para onde Gabrielle estava esperando, com um olhar divertido, mas curioso no rosto.

“Xena, o que diabos…” a barda exclamou enquanto se aproximava. “O que tinha de tão interessante naquele tronco bobo?”

“Isso.” Xena sorriu, lançando algo para Gabrielle, que a barda pegou por reflexo.

“Ui!” ela gritou, com os olhos arregalados. “Está vivo!” Para seu crédito, ela não jogou a criatura de volta em Xena, embora a ideia tenha passado por sua mente. “Ah!” ela continuou, olhando mais de perto. “É uma tartaruga!” Ela sorriu para Xena. “Eu gosto de tartarugas”

“Imaginei.” Xena respondeu, sorrindo para si mesma. Ela observou Gabrielle fazer carinho no pequeno animal e fazer cócegas em seus minúsculos pés. A tartaruga, após um momento de suspeita, esticou a cabeça para fora e cheirou cuidadosamente os dedos dela, então, gostando do que encontrou, estendeu a cabeça completamente e começou a explorar a palma da mão da barda. “Acho que ela gosta de mim.” Gabrielle riu, olhando para Xena, que havia se aproximado. Ela olhou de volta para a tartaruga, e então viu seu olhar capturado pelo reflexo na água à sua frente. Ela estava de pé em um redemoinho bastante calmo, e agora o pôr do sol fornecia um efeito espelhado na superfície, refletindo de volta para ela a imagem de si mesma, a tartaruga e Xena de pé ao seu ombro. A luz dela e a escuridão de Xena, lado a lado.

Então os olhos de Xena também capturaram o reflexo, e seus olhares se encontraram. E se mantiveram por um longo momento. Então Xena sorriu e estendeu a mão para o sol, na frente de Gabrielle. “Aqui, você também pode ficar com isso.” Ela disse, em um tom normal.

A barda encarou o que ela segurava, antes de estender a outra mão para pegá-lo gentilmente. “Nossa… o que é?” ela respirou, deixando o objeto capturar os raios avermelhados do sol.

“Âmbar.” Xena respondeu, casualmente. “Dizem que dá sorte.” Ela acenou em direção ao tronco. “Encontrei lá.”

Gabrielle olhou atentamente para as profundezas do fóssil por um momento, então sorriu. “Obrigada.” Ela disse, suavemente, fechando a mão ao redor do âmbar. Ela deixou a tartaruga andar pela sua mão por um pouco mais de tempo, e então gentilmente a depositou em uma rocha por perto. A tartaruga parecia desapontada, mas rastejou para a água e começou a se dirigir para a margem, com impulsos determinados de suas pequenas pernas.

Eles apenas flutuaram por mais alguns minutos em silêncio, então Xena começou a nadar em direção à margem com braçadas longas. Ela alcançou a beira e se içou para fora da água, então se virou e esperou enquanto Gabrielle a seguia. “Aqui.” Ela disse, oferecendo uma mão para a barda, que a pegou sem hesitação.

“Obrigada.” Ela murmurou, enquanto era puxada para fora do riacho. “Isso é bem mais fácil do que escalar.” Uma vez na margem, ela se sacudiu violentamente, espalhando água para todo lado. “Brr.”

“Vamos.” Xena riu. “É melhor você sair dessas roupas molhadas antes que pegue um resfriado.”

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A fogueira estalava com sons amigáveis na crescente escuridão, em um contraste harmonioso com o ritmo paciente do escamar de um peixe. Xena pausou por um instante, observando sua obra. Com mais um corte preciso, a truta robusta foi habilmente dividida ao meio, pronta para o cozimento. Ela então entrelaçou dois ramos verdes, recém retirados de um balde d’água ao lado, e usou-os para segurar o peixe, amarrando o conjunto com mais um ramo úmido.

“Mmm.” Gabrielle comentou, enquanto se apoiava casualmente no ombro da guerreira. “Aposto que vai ficar bom.” Ela olhou ao redor aprovando o acampamento. Xena tinha conseguido encontrar um lugar agradável, cercado por grandes árvores antigas e contendo uma cova de areia pronta para uma fogueira. Nada de cavar hoje – ótimo, porque elas passaram o dia ajudando alguns aldeões próximos a reconstruir suas casas saqueadas.

Depois que Xena cuidou das pessoas que as estavam saqueando, é claro. A pior parte era que os saqueadores eram garotos locais, eles próprios sem lar devido a algumas incursões casuais de um grupo de mercenários de passagem. Eram apenas crianças, realmente – acostumadas a intimidar os camponeses, agora enfrentavam uma Xena muito irritada e nada parecida com uma camponesa, em um péssimo humor. Não tinha sido bonito.

“Logo veremos.” Xena respondeu, colocando o peixe entre dois galhos com extremidades divididas de cada lado da fogueira. Então, ela olhou por cima do ombro para Gabrielle, que ainda se apoiava nela, e bateu no chão ao seu lado, coberto por uma esteira de palha para sentar. “Sente-se. Vai demorar um pouco.”

Gabrielle obedeceu, envolvendo os braços ao redor dos joelhos e apoiando o queixo em um deles. Agora ela sentia falta do calor do sol; a brisa fria vinda da água causava arrepios ao longo de seus braços, e ela se abraçou mais forte em resposta.

“Ei.” Xena voltou os olhos interrogativos para ela. Estendeu a mão e tocou o braço da barda, sentindo a pele fria. “Gabrielle.” Um rosnado baixo de advertência. A barda apenas piscou para ela. “Vem aqui.” Xena suspirou e envolveu um braço ao redor dos ombros dela, puxando-a para mais perto.

Xena, como sempre, emanava um calor reconfortante. Gabrielle, intrigada, frequentemente se pegava ponderando sobre esse fenômeno – a guerreira parecia desafiar o frio. E não que ela tivesse algum motivo para se queixar. O calor emanava do pescoço de Xena, envolvendo-a pelo lado direito, abraçando-a como um cobertor acolhedor. ‘Mmm,’ Gabrielle suspirou, um som carregado de contentamento, enquanto permitia que sua cabeça encontrasse repouso no ombro sempre acolhedor de Xena. ‘Isso está muito melhor.’ Seu olhar encontrou o da guerreira. ‘Está satisfeita agora?’

Os olhos azuis de Xena brilharam ao encontrar os dela, e um sorriso suave adornou seus lábios. ‘Sim, estou,’ ela respondeu, a voz tingida de um calor que ecoava o conforto de seu abraço. ‘Obrigada por perguntar.’

Gabrielle permitiu que um sorriso florescesse em seu rosto, capturando um momento para se entregar completamente à torrente de emoções que fluía entre elas. Era uma sensação que ela sempre reconhecera, de certa forma… mas agora… agora… era como um riacho vibrante e incessante. Ela se banhava nessa sensação. E tinha a impressão de que Xena sentia o mesmo, embora ambas mantivessem uma cautela quase tácita em admiti-lo. Mais ou menos. Porém, recentemente, a tentativa de manter distância um da outra revelou-se uma batalha perdida… elas sequer buscavam mais desculpas para os toques que se tornavam cada vez mais frequentes. Como neste exato momento. Não era como se Xena não pudesse simplesmente lhe oferecer um cobertor, não é? Gabrielle sorriu consigo mesma, saboreando a doçura desse reconhecimento.

“A qualquer momento.” Ela sussurrou, fechando os olhos. É estranho… é como se ambas meio que soubessem o que está acontecendo, mas nenhuma de nós quer dizer nada sobre isso. Estou assustada… a amizade dela significa mais para mim do que… do que… do que qualquer coisa. Não quero estragar isso. Não acho que ela queira também, mas… eu posso sentir o que está começando a acontecer dentro de mim. Não sei se posso parar isso. Eu… não sei se quero parar isso.

Xena soltou um braço, estendendo-o preguiçosamente em direção ao fogo para virar o peixe. Logo depois, ela recolocou o braço na posição anterior e permitiu que sua cabeça se apoiasse contra a de Gabrielle, rendendo-se àquela onda de calor eufórico que agora a invadia sem aviso prévio… “Acho que precisamos ter uma conversa em breve, minha amiga,” pensou ela, enquanto um sorriso oculto florescia suavemente em seu rosto. “Maldito seja, Jessan. Por estar certo. Eu realmente não queria que você estivesse, sabe. Por mim, tudo bem, mas… não quero que ela seja forçada a isso. Não é justo. Droga, não é justo com ela. Por que eu? Por que ela? Ela deveria estar segura em Atenas, talvez. Com alguém capaz de oferecer-lhe um lar seguro, cheio de amor… não com uma recompensa por sua cabeça e confrontos sangrentos quase todos os dias. Não é a vida que quero para ela. E, no entanto… a única forma de impedir o que está acontecendo seria eu mesma ser decapitada. Deuses, que confusão.

“Dinar pelos seus pensamentos,” Gabrielle murmurou, permitindo que seus dedos deslizassem pelo antebraço de Xena, apreciando a textura sutil dos pelos sob seu toque. Seu percurso foi brevemente interrompido por uma cicatriz, não, duas — linhas retas finas que atravessavam a pele. Prováveis marcas de lâminas, ponderou ela, perdida em reflexão, aguardando a resposta de Xena com uma curiosidade tingida de preocupação.

“Ah, nada demais,” Xena respondeu, sua voz tingida de uma hesitação quase imperceptível. Ainda não era o momento. Logo, talvez, mas ainda não. “Apenas pensando.” Com um movimento fluido, ela esticou a mão, retirando o peixe do fogo. Com cuidado, desembrulhou-o da grelha de galhos agora chamuscada, dividindo a carne suculenta igualmente entre os dois pratos que preparara. Estendendo um deles a Gabrielle, ofereceu com um gesto simples, mas cheio de carinho: “Aqui está.”

“Obrigada,” Gabrielle agradeceu, aguardando enquanto Xena se reacomodava contra um tronco próximo, para então juntar-se a ela. “Ei… isso está ótimo.” Após experimentar um pedaço, seu rosto se iluminou com um sorriso, e ela lançou um olhar cúmplice para Xena. “Cumprimentos à sua mãe.”

Xena reagiu com um leve balançar de cabeça, estendendo seu braço sobre o tronco que servia de apoio para ambas. Enquanto Gabrielle se recostava, dedicando-se com entusiasmo à sua refeição, limando o prato e, em seguida, lançando investidas brincalhonas na porção que restava no prato de Xena, arrancando da guerreira olhares divertidos e surpresos. “Eu poderia pegar outro peixe,” Xena finalmente cedeu, entregando-se à risada e ao jogo com um sorriso resignado. “Aqui, tome… lembre-me de trazer meia dúzia na próxima vez.”

“Contar histórias é um trabalho árduo,” Gabrielle repreendeu, lançando um olhar brincalhão na direção de Xena.

“Uh huh,” Xena murmurou, um brilho divertido passando por seus olhos. “Vou ter que lembrar dessa frase.”

Gabrielle soltou um suspiro de satisfação, um calor agradável se espalhando por ela. “Ei,” ela chamou suavemente, captando a atenção de Xena, cujos olhos, embora fixados no fogo, pareciam perder-se em pensamentos distantes. A guerreira pareceu voltar a si com um leve sobressalto, virando-se para encarar Gabrielle.

“Hmm? Desculpe,” Xena sorriu, uma risada suave e breve escapando entre seus lábios. “Me perdi nos meus pensamentos por um momento. O que você disse?”

A barda a observou com atenção. “Uh huh. E para onde exatamente você viajou?” provocou ela, deixando de lado sua pergunta inicial. “Já é a segunda vez só esta noite.” Girando levemente, ela examinou Xena mais de perto. “O que está se passando com você?”

“Sim… você tem razão,” Xena admitiu com uma risada leve, uma sombra de embaraço tingindo suas palavras. “Eu realmente não sei.” Ela deu de ombros, uma expressão meio culpada, meio divertida dançando em seu rosto. “Suponho que com toda a correria de hoje, minha mente está… meio que se desligando por momentos.” Sim, onde eu estava com a cabeça? Que tipo de distração é essa? Deuses. Com um esforço consciente, ela se reajustou, focando inteiramente em Gabrielle e suas palavras.

“O… K…” Gabrielle prolongou a expressão, lançando um olhar significativo para Xena. “Eu não diria que derrotar uma gangue de arruaceiros e reconstruir uma vila seria tão exaustivo para você, mas…” Um sorriso brincalhão surgiu em seu rosto quando ela notou os olhos azuis de Xena se fixando intensamente nela. “Ah… isso sim é melhor.” Agora, o dilema era dela, pois Gabrielle percebeu o quão desafiador estava sendo manter o foco ultimamente com Xena tão perto. As palavras que ela pretendia dizer se dissiparam, e ela acabou soltando uma risada suave, recostando-se e apreciando o calor do braço de Xena em sua volta. Parece que estou gostando bastante disso. Talvez mais do que deveria. Continuo me dizendo para me afastar, para dar a ela espaço… mas não parece estar funcionando.

“E para onde você foi?” Xena rebateu a provocação, após um breve silêncio. “Olha só para nós. Isso é ridículo. Parecemos um par de crianças travessas.”

“Bem, eu não tenho certeza,” Gabrielle respondeu, ajustando sua posição para encontrar os olhos de Xena. “Mas tenho a impressão de que estamos caminhando na mesma direção.”

Xena soltou uma risada suave. “Você provavelmente está certa,” ela concordou, um lampejo de cumplicidade passando por seu olhar. “Deve ser um destino bem acolhedor,” comentou a guerreira, enquanto se esticava para atiçar o fogo com um galho que tinha à mão. “Então… estou curiosa sobre o que as Amazonas querem, convocando sua Rainha?”

Gabrielle acolheu a mudança de tópico com um sorriso. A comunicação entre elas tinha melhorado significativamente… desde… bem, desde que certas barreiras começaram a se desfazer. No entanto, ambas sabiam que ainda havia temas delicados e não explorados pairando entre elas. Gabrielle intuía que levaria tempo até que conseguissem abordar tudo – e havia assuntos que, por uma escolha tácita, talvez jamais viessem à tona. “Realmente não sei. A mensagem era bastante enigmática,” ela disse, seu sorriso se ampliando. “Aposto que foi Ephiny quem a escreveu.” Gabrielle visualizou a diligente Amazona loira redigindo a nota enigmática e não pôde conter uma risada.

Xena emitiu um som entre um riso e um bufar. “É possível. Vamos descobrir em breve, imagino.” Seu olhar desviou para Gabrielle, e um sorriso espontâneo iluminou seu rosto. Sem aviso, ela deslizou o braço livre por baixo dos joelhos de Gabrielle e levantou-se, rindo enquanto a barda soltava um guincho surpreso, agarrando-se ao braço de Xena em um misto de choque e divertimento. “O que… o…”

“Ei!” Gabrielle exclamou, sua surpresa rapidamente se transformando em riso enquanto Xena a segurava no alto, olhando para ela com uma expressão de contentamento. “Você vai me fazer desenvolver medo de altura aqui em cima!” Ela brincou, dando um leve tapa no ombro de Xena. “Ai, chega de se exibir!”

Xena soltou um som abafado, quase um bufar. “Você nem é tão pesada,” ela respondeu, reforçando sua afirmação ao jogar Gabrielle suavemente para cima antes de segurá-la com firmeza novamente.

“Ui!! Xena, chega!” Gabrielle protestou, rindo apesar do susto. “Eu peso o suficiente, obrigada. Agora, me coloque no chão, por favor!”

“Está bem, está bem.” Xena concordou, um sorriso brincalhão em seus lábios. Ela caminhou até onde estavam espalhados seus sacos de dormir e, com cuidado, ajoelhou-se para depositar Gabrielle no dela. “Veja, você realmente não é pesada.” Ela insistiu, dando um leve cutucão em Gabrielle. “Sério, não sei como você faz, considerando tudo o que come.”

A barda suspirou, meio que brincando. “Pois é. Levando em conta a quantidade de caminhada, luta, construção de vilarejos e o eterno jogo de te acompanhar, é um milagre eu não comer o dobro.” Ela lançou um olhar repleto de ironia para Xena. “E falando nisso, quem sou eu pra falar, né? Você consome o dobro do que eu e ainda fica a questão de para onde tudo isso vai.” Com um sorriso astuto, deu um soco brincalhão no estômago da companheira, observando com diversão seu punho ricochetear na musculatura dela como se fosse de borracha. “Ai.”

Com um riso abafado e um tanto sarcástico, Xena se acomodou em seu saco de dormir, apoiando-se em um cotovelo e mirando a barda. “Isso tudo exige bastante manutenção,” suspirou ela. “Acho que a maior parte é gasta em reparos,” comentou, com um toque de ironia na voz.

“Sou meio que exigente com meu corpo,” admitiu, lançando um olhar significativo para a barda. “Você faz ideia do quanto de energia se gasta para dar uma lição em uma dúzia de arruaceiros?” Sua voz carregou um peso maior do que pretendia, suavizado por um sorriso que chegou um pouco tarde.

“Entendo,” Gabrielle disse, devolvendo o sorriso. “Eu sei… não devia pegar no seu pé por isso.” Seus olhos se encheram de ternura. “Ainda mais considerando que todo esse esforço que você faz, no fim das contas, geralmente é para salvar a minha pele.”

Xena a observou atentamente, estendendo a mão para afastar suavemente uma mecha de cabelo da testa da barda, deixando depois seus dedos deslizarem pelo contorno do rosto dela. “E todas as vezes que isso acontece, faz valer cada momento do esforço.” Ela falou com doçura. “É um preço que pago com alegria.” Seu sorriso se tornou travesso. “E, convenhamos, não é nada mal salvar esse pescoço.”

Gabrielle se perdeu naquele olhar carregado de bondade. Ficava aliviada por Xena não ser de muitas palavras. Porque com poucas frases, ela conseguia tocar cada fibra do meu ser. Se ela fosse de falar demais, eu não aguentaria. Com um movimento suave, ela avançou, entrelaçando seus dedos nos de Xena. “Vou ter que me lembrar disso da próxima vez que você estiver quase me esmagando durante o treinamento,” disse ela, os olhos brilhando em desafio. “Certo?”

“Certo.” Xena concordou com um aceno. “Pode contar com isso.” Ela ofereceu um sorriso afetuoso à sua companheira antes de se erguer. “Vou fazer uma ronda pelo acampamento. Já volto.” Com agilidade, desvencilhou-se da luz do fogo, caminhando em direção ao local onde Gabrielle sabia que Argo estava presa.

A barda seguiu com o olhar até Xena se fundir com a penumbra da noite, os sons de seus passos se tornando cada vez mais sutis, absorvidos pela distância e pelo andar silencioso da guerreira. Então, deitou-se e acomodou-se confortavelmente no saco de dormir, cruzando as mãos atrás da cabeça enquanto seus olhos se perdiam na imensidão das estrelas.

“Olá, garota,” Xena sussurrou, soltando um suspiro divertido enquanto acariciava o focinho macio de Argo. Um sorriso involuntário brotou em seu rosto. “Parece que estou mesmo em apuros, hein?” Ela se aproximou, sussurrando confidências no ouvido atento da égua. “Acho que estou perdendo o juízo.” Argo reagiu com um bufar, beliscando levemente sua camisa. “É, eu sei. Era questão de tempo, né? Só não imaginei que seria… dessa forma.” Sua risada ecoou, franca e solta. “Pois é, amiga… dizem que quanto maior, mais dura a queda.” Ambos, humano e cavalo, compartilharam de um momento cúmplice com um bufar. “Realmente, eu sou grandiosa. E parece que a queda foi das grandes.” Xena continuou acariciando as orelhas peludas de Argo, buscando conforto naquele gesto. “Estou feliz que você e ela se deem bem.” Com mais um suspiro e um balançar de cabeça, concluiu, “Você realmente é uma ótima ouvinte, Argo.”

Xena concluiu o momento de despedida noturna com Argo, afagando carinhosamente o pescoço sensível da égua e fazendo cócegas atrás de suas orelhas delicadas. Argo retribuiu o gesto, esfregando seu focinho no ombro de Xena, provocando risadas na guerreira. De repente, uma rajada de vento passou, carregando consigo um som sutil que captou a atenção de Xena. Com seus sentidos aguçados, ela avançou silenciosamente em direção às árvores, imergindo-se na quase quietude da floresta ao redor. Ela filtrava meticulosamente os sons, distinguindo os ruídos naturais dos que indicavam uma presença estranha.

Deslizando entre as árvores, Xena sentiu as folhas úmidas e suaves tocando sua pele, enquanto se aproximava silenciosamente do que agora reconhecia como a presença de outra pessoa. Esta se movia com cautela em direção ao seu acampamento. Em pouco tempo, ela conseguiu posicionar-se atrás do intruso, e sob as manchas dispersas de luz lunar, captou um vislumbre da figura, permitindo-se relaxar em um sorriso sardônico.

Era uma silhueta esguia, movendo-se com uma quietude habilidosa, deslizando de sombra em sombra com a facilidade de quem tem longa prática. A luz da lua iluminava seus cabelos claros, pele pálida e vestes de tons terrosos. A figura era ao mesmo tempo graciosa e letal, fundindo beleza com perigo em cada movimento.

Rindo silenciosamente, Xena permaneceu atrás do intruso, aproximando-se cada vez mais enquanto a figura sombria avançava em direção ao acampamento. O intruso finalmente parou, escondido na borda das árvores que circundavam a clareira, espiando cautelosamente a área iluminada pela fogueira. Xena, com movimentos furtivos e precisos, avançou até ficar a apenas alguns centímetros de distância e, então, escolheu esse momento para se revelar.

“Eu diria que as Amazonas estão relaxando,” sussurrou ela, com uma voz baixa e arrepiante, diretamente no ouvido do intruso.

“Erggh,” Ephiny se lançou para frente, caindo de mãos e joelhos, visivelmente assustada. Rapidamente, ela rolou para trás, escondendo-se entre as samambaias e fixou o olhar em Xena, que se divertia com a cena, soltando risadinhas abafadas. “Xena,” ela murmurou, passando a mão pelos cachos loiros e lançando um olhar reprovador para a mulher mais alta. “Você me assustou pra valer.”

Com um sorriso maroto, Xena estendeu a mão para ajudá-la. “Não consegui me segurar. Você também, se esgueirando pelo escuro até o meu acampamento. O que mais você esperava?”

Resignada, Ephiny soltou um suspiro, mas acabou cedendo ao riso e aceitou a mão estendida. “Tá bom, tá bom,” ela concedeu, levantando-se com a ajuda de Xena. “Você tem razão. Devia ter imaginado.” Com um movimento ágil, ela sacudiu a terra de seus couros.

“Venha,” Xena indicou em direção à fogueira. “Estávamos justamente tentando decifrar o significado daquela mensagem. Não imaginávamos que você viria pessoalmente nos esclarecer.”

Com um suspiro resignado, Ephiny começou a caminhar em direção ao acampamento. “Estamos enfrentando problemas sérios, Xena. Problemas que eu não posso resolver sozinha. A situação está exigindo a presença de nossa Rainha.”

“Mmm,” Xena murmurou, sinalizando seu interesse. “Que tipo de problemas?”

“Divisões internas,” Ephiny explicou, lançando um olhar significativo para Xena. “Você sabe como é a nossa realidade.” Com um gesto de impaciência, chutou uma pedra que estava em seu caminho. “Há o meu grupo, que defende a paz e a manutenção de boas relações com os povos vizinhos. Temos também os neutros, que, no fundo, não se importam muito com a situação política, contanto que não falte comida.” Ela deu um olhar sardônico para Xena, que respondeu com outro semelhante. “E, por fim, há os belicistas. Eles querem expandir nosso território a qualquer custo, acreditando que, sem uma postura ofensiva clara, nossos vizinhos pensarão que enfraquecemos e nos verão como alvos fáceis.”

Xena emitiu um som que indicava sua compreensão. “Então, qual é o papel de Gabrielle nisso tudo?”

Ephiny lançou um olhar para o acampamento que se avizinhava. “Acredito que… se não começarmos a construir confiança e compreensão com os nossos inimigos, eventualmente, nos faltarão guerreiras e as Amazonas deixarão de existir.” Ela olhou para Xena, quase que pedindo desculpas. “Sei que você pode não concordar, mas…”

“Na verdade, eu concordo,” Xena interrompeu, com serenidade.

Ephiny hesitou, surpresa, e então sacudiu a cabeça levemente. “De qualquer maneira, Gabrielle não é apenas a verdadeira Rainha, mas também possui um dom único para reconciliar as pessoas. Para promover a paz. Eu sou uma guerreira, Xena,” disse a mulher, com um sorriso melancólico. “Você sabe como é. E ainda por cima, tenho um filho centauro. Nossos vizinhos desconfiam de mim pelo primeiro motivo, e as próprias Amazonas, pelo segundo.”

“Gabrielle realmente tem esse dom,” reconheceu Xena. “E ela é uma guerreira, Ephiny. Só que não do jeito que você imagina.” Um sorriso discreto iluminou o rosto da mulher de cabelos escuros, enquanto ela refletia em silêncio. “Você pode ter razão. Gabrielle poderia ser a chave para unir as três facções e introduzir um novo modo de vida para as Amazonas, fundamentado na paz.”

Ephiny assentiu, sem perceber a expressão momentaneamente sombria que atravessou o rosto de Xena. “É o que eu espero.”

“Mas… essa não é uma jornada na qual eu possa auxiliá-la,” Xena prosseguiu. “Se Gabrielle aceitar o rito de casta, ela precisará enfrentar isso sozinha… Se eu estiver por perto, todos vão simplesmente concordar com ela, movidos pelo medo que têm de mim.”

Ephiny refletiu em silêncio, absorvendo as palavras de Xena. “Sabe, nunca tinha visto por esse ângulo.” Ela elevou o olhar para a guerreira. “Mas você tem razão.” Com uma risada suave, acrescentou, “É verdade, você intimida.” O silêncio as envolveu por alguns passos a mais. “Ela não vai ficar feliz com isso,” a Amazona afirmou, clara. “Acho que ela gosta de ter você por perto.” O canto da boca de Ephiny se curvou num sorriso. Não que eu a culpe.

“Eu também não estou contente,” respondeu Xena, com uma ponta de secura na voz. “Mas é uma decisão dela.” Elas chegaram à orla da luz projetada pela fogueira. “Gabrielle! Olha só quem eu encontrei rondando as bordas do acampamento.” Com um leve empurrão, Xena conduziu Ephiny para dentro do círculo iluminado.

Gabrielle levantou-se rapidamente, acolhendo Ephiny com um abraço caloroso. “Ephiny!” exclamou, surpresa e alegre. “O que te traz até aqui? Não estávamos indo ao seu encontro rápido o suficiente?” Ela conduziu a Amazona até um lugar junto à fogueira, entregando-lhe uma xícara de chá quente. “Aqui.” Seu olhar então se voltou para Xena, que se acomodara ao chão, um observador silencioso com o queixo apoiado sobre os punhos. Gabrielle sentiu uma onda de frio ao captar uma sombra de inquietude nos olhos de Xena. “O que houve?”

Ephiny compartilhou com elas a complexidade da situação. Descreveu como grupos descontentes de Amazonas, alguns ainda leais à falecida Velasca, outros simplesmente ávidos por conflito ou movidos pela ambição, estavam ameaçando fragmentar a nação Amazona. A falta de uma líder unificadora, capaz de direcioná-las para um caminho pacífico, já havia levado a escaramuças com os Centauros. Ephiny era respeitada como líder, mas sua relação com um centauro e as alianças formadas durante o tumulto causado por Velasca faziam com que muitas a vissem como uma traidora.

“Como se lembrar a todos que a pessoa com quem me aliei, no meio da confusão com Velasca, fosse a nossa Rainha legítima por direito de casta fizesse alguma diferença, né?” Ephiny suspirou, uma expressão de desgosto atravessando seu rosto. “É tudo tão frustrante e absurdo, mas…” Seu olhar pousou em Gabrielle, cansado e desesperançado. “Eu simplesmente não consigo manter tudo unido.” Levantando-se, começou a andar de um lado para o outro, esfregando os braços numa tentativa de aquecer-se. “Pelo que eles estão preocupados, você precisa assumir a liderança. Afinal, você ‘destruiu um deus’.”

“Eu NÃO fiz isso,” Gabrielle replicou prontamente, levantando-se para encarar Ephiny, claramente exasperada. “Eu estaria morta, e eles ainda seriam deuses – vivos e furiosos – se não fosse por Xena.” Seu olhar se voltou para a guerreira, que permanecia em silêncio, observando a interação.

“Eu sei,” Ephiny respondeu, sua expressão carregada de exaustão. “Mas é o que eles acreditam.”

“Então, o que eu deveria fazer?” Gabrielle exasperou, gesticulando dramaticamente. “Não sou uma guerreira, Ephiny, caso isso tenha passado despercebido por você.” Ela caminhou agitada ao redor da fogueira, cada movimento refletindo sua frustração. “Ephiny, você é uma Amazona. Se nem você consegue convencê-las…”

Foi então que Xena interveio, falando pela primeira vez, e o fez com uma voz suave e ponderada. “O que é necessário agora é alguém capaz de dialogar e mediar situações, Gabrielle. Alguém que saiba unir as pessoas em torno de um propósito comum.” Ela fez uma pausa antes de prosseguir. “Este não é um momento para a força bruta. É um momento para a diplomacia, um momento para ensinamentos. O seu momento.”

Gabrielle manteve o olhar fixo em Xena, o silêncio entre elas carregado de significados não expressos, até que finalmente se aproximou, agachando-se para ficar à mesma altura da guerreira. O olhar que trocaram foi tão intenso que Ephiny se sentiu como se estivesse invadindo um momento profundamente pessoal, forçando-a a desviar o olhar.

“Nos dê um momento, Ephiny,” disse Gabrielle, sua voz firme cortando a atmosfera do acampamento.

“Claro, sem problemas,” Ephiny respondeu prontamente, retirando-se para além da luz da fogueira, onde Argo a esperava, mastigando tranquilamente.

Enquanto acariciava o cavalo, Ephiny refletia sobre a complexidade da relação entre Xena e Gabrielle. A dinâmica entre elas sempre fora um enigma para ela. Inicialmente, podia parecer que Xena apenas tolerava a presença de Gabrielle por razões que Ephiny não conseguia compreender. Com o tempo, entretanto, tornou-se evidente que havia uma profundidade na amizade delas que desafiava a compreensão superficial. A morte de Xena e o subsequente comportamento de Gabrielle haviam revelado facetas de sua personalidade que Ephiny nunca suspeitara existirem. E agora, com o retorno milagroso de Xena à vida, a complexidade de sua relação parecia ainda mais profunda.

“O que você acha, Argo? Elas gostam uma da outra? Ephiny murmurou, meio para si, meio para o cavalo, ainda tentando desvendar o mistério da ligação entre as duas. A resposta, embora não verbal, parecia clara na maneira como se apoiavam mutuamente, enfrentando juntas os desafios que surgiam em seu caminho.

Argo, com um jeito travesso típico de sua espécie, respondeu a Ephiny com um bufo e um ligeiro borrifo de grama, lançando um olhar que parecia misturar diversão e cumplicidade.

“Bom, se você concorda…” Ephiny riu suavemente, aceitando o gesto do cavalo como uma forma de apoio. Olhando de volta para a fogueira por cima do dorso de Argo, ela notou Gabrielle sentada ao lado de Xena, os ombros pendendo numa clara expressão de abatimento. “Ah, Xena. Sempre pode-se contar com ela para alguma coisa,” comentou, captando o segundo bufo de Argo como um sinal de concordância. “Sabe, Argo, eu até preferiria que Xena assumisse o rito de casta,” confessou baixinho, como se compartilhasse um segredo. “Ela pode estar certa sobre ser a hora de uma diplomata, mas deuses… tudo seria tão mais simples se ela pudesse apenas resolver isso à moda antiga.” Argo, com um empurrão brincalhão, quase a fez perder o equilíbrio. “Tá, tá…” Ela lançou mais um olhar para a fogueira, onde Xena agora confortava Gabrielle com uma mão em seu ombro, falando de forma tão suave que parecia acalmar a barda. Gabrielle suspirou profundamente e assentiu, momento no qual Xena retirou a mão de seu ombro e, com delicadeza, secou as lágrimas da face da amiga. Observando a cena, Ephiny levantou uma sobrancelha, percebendo que talvez fosse o momento apropriado para retornar. “Acho que já posso voltar,” ela murmurou para Argo, contornando a égua para regressar ao círculo de luz da fogueira.

“O que você quer dizer com isso?” Gabrielle pressionou, sua voz equilibrada, mas carregada de tensão. “Soa como se você estivesse me deixando enfrentar isso sozinha.” Seu coração pulsava tão forte que Gabrielle tinha a impressão de que Xena podia ouvi-lo batendo, quase visível sob a pele de seu pescoço, um testemunho silencioso da sua ansiedade.

Xena respirou fundo várias vezes, tentou iniciar sua resposta duas vezes, mas hesitou, mordendo o lábio em indecisão. “Gabrielle,” ela começou, finalmente. “Se, e só se, você decidir seguir em frente com isso,” ela desviou o olhar para suas próprias mãos, virando-as e examinando seus longos dedos. “Você não pode levar com você um… símbolo tão… carregado… de violência, ódio e raiva… como eu.” Levantando o olhar, ela encontrou os olhos de Gabrielle diretamente. “Não se você quiser levar a paz até eles.” Um sorriso forçado surgiu em seus lábios. “Eu dificilmente sou um emblema de intenções pacíficas.”

A verdade dessa afirmação atingiu Gabrielle profundamente. Oh, deuses… ela está certa. Como eu posso ser um símbolo de paz e gentileza diante deles, se carrego uma lembrança tão poderosa da guerra? A questão real é: eu estou pronta para isso? Aceitei o rito de casta, mas… será que tenho mesmo uma escolha? Meu coração sabe o que quer fazer… Sentando-se lentamente ao lado de Xena, ela apoiou a cabeça nas mãos. “Eu… sei… tenho um compromisso com elas, Xena. Mas se estão tão fixadas na violência, que chance eu realmente tenho de mudar isso?”

Xena encarou Gabrielle com um sorriso que alcançou seus olhos. “Você, de todas as pessoas, me faz essa pergunta? Para MIM?” Ela deixou escapar uma risada suave. “Gabrielle, você nem imagina o impacto que tem nas pessoas, não é?”

“Suponho que não,” Gabrielle murmurou, quase para si mesma.

“Se há alguém capaz de mudar a situação, esse alguém é você,” Xena assegurou-a. “Embora isso… bem,” ela hesitou, seus olhos desviando para o saco de dormir enquanto seus dedos brincavam levemente com o tecido. “Eu não quero… fazer você pensar que… Ah, Hades. Você entende o que estou tentando dizer.”

Gabrielle assentiu, um entendimento silencioso entre elas. Esse reconhecimento aqueceu um pouco o frio que parecia envolvê-la por dentro.

“Você vai ficar bem?” Xena questionou, baixinho, notando a aproximação de Ephiny. “Ephiny está voltando.” Ela colocou de lado a própria dor, focando na angústia visível de Gabrielle. “Escute.” Ela pressionou. “Não precisa ser para sempre, Gabrielle… apenas até conseguir colocá-las no caminho certo.” Ela fez uma pausa, ponderando. “A menos que você queira que seja permanente. Afinal, você é a Rainha delas.”

“Eu sei,” Gabrielle admitiu, soltando um suspiro pesado. Houve um breve silêncio. “E você? O que vai fazer? Vai continuar indo para Atenas?” A tentativa de Gabrielle em soar casual e desapegada mal disfarçava a tensão subjacente na sua pergunta.

Xena contemplou suas mãos, movendo-as suavemente e friccionando os dedos entre si. “Não,” ela disse, após uma pausa reflexiva, respirando fundo antes de fixar seu olhar em Gabrielle novamente. “Não, acho que… vou apenas… voltar para casa por um tempo. Visitar minha mãe, sabe.” Ela deu de ombros levemente. “Depois… não sei. Vou ver o que acontece.”

Gabrielle concordou, demonstrando compreensão e aceitação. “Isso parece ser exatamente o que você precisa,” ela comentou. “Você merece um descanso. Os últimos anos foram intensos, não foram?” Uma risada leve escapou dela. “Eu até imaginei que você pudesse querer aproveitar a chance para se livrar de uma barda um tanto quanto irritante…” O sorriso breve dela se desvaneceu assim que seus olhos se encontraram com o olhar profundo de Xena.

“Gabrielle, você sabe que não é assim.” A voz de Xena carregava uma severidade que dissipava qualquer dúvida sobre os sentimentos por trás de suas palavras. “Você me conhece melhor do que isso,” ela suavizou o tom. “Melhor do que qualquer pessoa, viva ou… morta, por assim dizer. Depois de tudo o que vivemos, é isso que você realmente pensa?”

Será? Um resquício de insegurança ainda me atormenta? Acreditava ter superado esses sentimentos. Parece que me enganei. A dor que Gabrielle sentiu naquele momento não era justa; ela não merecia se sentir assim, especialmente não por causa dos problemas internos das Amazonas. “Não,” Gabrielle respondeu com convicção, balançando a cabeça. “Não, de fato não é o que eu acredito. Não é o que sinto no coração. De forma alguma.” Levantando os olhos, ela encontrou um vislumbre de alívio no olhar de Xena. “Me desculpe. Tudo isso tem sido demais para mim.” Fechou os olhos, balançando a cabeça sutilmente. “Não sei se sou capaz de fazer isso, Xena…”

“Você definitivamente pode fazer isso. Minha fé em você é inabalável — você tem o poder de persuadir as pessoas como ninguém.” Xena afirmou, oferecendo um toque reconfortante no pulso de Gabrielle.

“Não,” Gabrielle suspirou profundamente, indicando que o problema ia além. “Não é isso… eu só… deuses.” Ela balançou a cabeça, frustrada, enquanto seus olhos se encontravam com os de Ephiny, que se aproximava. “Eu simplesmente não sei mais. Algo dentro de mim está… confuso.”

Xena concordou, mantendo a calma. “Está bem… Está bem… Mas acredito que você deve tentar. Afinal, estarei apenas em casa, não muito distante.” A ideia de ‘casa’ carregava um misto de sentimentos. Ah, isso vai ser interessante. Quase preferiria enfrentar as Amazonas.

A intensidade do olhar de Gabrielle, seus olhos verdes turvos encontrando os azuis claros e penetrantes de Xena, carregava uma pergunta silenciosa, mas profundamente significativa. “Se eu chamar por você, você virá? Sem hesitação?”

Xena ofereceu um sorriso tranquilizador, sua resposta carregada de uma promessa inabalável. “Mesmo que tivesse que atravessar as legiões do Hades, eu estaria ao seu lado. Nada me deteria.”

Gabrielle permitiu-se um sorriso tímido, encontrando um pouco de humor na garantia de Xena. “Imagino que sim.” Um riso suave escapou dela. A ideia de Xena enfrentando tais adversidades era tanto reconfortante quanto ligeiramente cômica; ela certamente faria qualquer obstáculo parecer trivial. Com um suspiro, Gabrielle recobrou sua compostura justo quando Ephiny se juntou a elas, lançando um olhar sério para a Amazona.

“Está decidido, então, Ephiny. Eu vou com você,” Gabrielle anunciou, erguendo-se e sacudindo sua saia numa tentativa de afastar a insegurança. “Vou dar o meu melhor. Mas não posso garantir que farei um trabalho melhor do que você.”

Ephiny, com um rápido olhar de gratidão em direção a Xena, acenou com a cabeça. “Não tenho dúvidas de que você terá sucesso, Gabrielle,” ela afirmou, envolvendo a barda em um abraço de apoio. “Eu confio em sua capacidade.”

“Sim,” respondeu Gabrielle, um tanto incerta. “Vamos ver o que acontece.” Com os braços cruzados, ela contemplou o chão, perdida em pensamentos sobre o desafio que tinha pela frente.

Ephiny observou Gabrielle com um toque de preocupação em seu olhar. “Bem, você mencionou que gostaria de aprender mais sobre nós em algum momento,” ela sugeriu, medindo suas palavras com cuidado. “Esta pode ser uma boa chance para isso.” Percebendo a falta de resposta da barda, Ephiny deu de ombros, tentando manter a conversa leve. “De qualquer forma, poderíamos viajar juntas por alguns dias.”

“Mmm,” murmurou Xena, ponderando a sugestão. “Provavelmente não seria a melhor ideia, Ephiny. Melhor você não dar a impressão de estar buscando ajuda desesperadamente.”

“É por isso que eu valorizo sua opinião, Xena.” Ephiny riu, refletindo sobre o conselho. “Você sempre consegue enxergar a situação por todos os ângulos. E você tem razão… eu preciso manter minha posição de liderança, quer eu goste ou não.”

Gabrielle sorriu, uma expressão de astúcia cruzando seu rosto. “Parece sensato. Melhor você partir pela manhã, assim terá tempo para se organizar antes da minha chegada.”

Ephiny, percebendo uma nuance na interação que lhe escapava, inclinou a cabeça, pensativa. “Entendido, é uma boa estratégia,” ela concordou lentamente, ainda processando a dinâmica sutil entre as duas. “Vou preparar minhas coisas,” anunciou, antes de se afastar para a escuridão além da fogueira.

Gabrielle, apesar do turbilhão de emoções, manteve o sorriso. “Foi uma jogada inteligente.”

Xena, contemplativa, apoiou-se nas mãos enquanto observava Gabrielle. “É, veja bem…” começou ela, com um sorriso tímido. “Nossa interação mudou desde a última vez que Ephiny esteve conosco,” ela explicou, um traço de hesitação em sua voz. “Você vai precisar esclarecer algumas coisas para evitar confusões,” sugeriu, a sinceridade refletida em seu olhar. “Acostumei-me com a nossa maneira de ser, tanto que não sei se conseguiria me conter para não ir além do que costumávamos,” ela admitiu, refletindo sobre a evolução de sua relação com Gabrielle.

“Como assim?” Gabrielle indagou, acomodando-se ao lado de Xena, apoiando um cotovelo no joelho da guerreira enquanto a outra mão desenhava linhas imaginárias sobre os músculos definidos que a pele bronzeada mal conseguia esconder. Xena, com uma sobrancelha arqueada em diversão, alternou o olhar entre a mão da barda e os olhos dela. “Ah.” Gabrielle corou, endireitando-se rapidamente e colocando as mãos sobre o próprio colo. “Entendi o que você quis dizer.” Ela soltou uma risada nervosa. “Eu não… eu realmente não tinha me dado conta do que estava fazendo.”

“Meu ponto.” Xena respondeu, afeição divertida em sua voz. “Hades, Gabrielle.. você sabe que eu não me importo com o que as pessoas pensam”. E eu certamente não vou começar a explicar Jessan e seu assunto favorito sobre laços de vida para as Amazonas. Ou para Gabrielle. Ainda. “Então.. quero dizer..” Ela respirou fundo. Onde diabos estou indo com essa conversa? “Bem, você pode contar a ela o que quiser contar.”

“Vou fazer isso,” Gabrielle afirmou, perdida em pensamentos. “Mas não agora. Primeiro, preciso resolver algumas coisas.”

“Entendi,” Xena respondeu, com um aceno. “Ainda bem que eu costumo acordar antes do amanhecer.” Um sorriso malicioso se formou em seus lábios. “Porque o jeito como você se aconchega durante o sono faria qualquer um esquecer da discrição.”

Recebendo o olhar indignado de Gabrielle, Xena logo foi recompensada com uma explosão de risadas da barda. “Eu não consigo me controlar,” Gabrielle suspirou, entre risos. “Então, por favor, pare de me provocar.”

Xena suspirou e reclinou-se novamente em seu saco de dormir, posicionando as mãos sobre o estômago e cruzando as pernas de forma relaxada. “Tudo bem, já parei,” ela declarou, permitindo que seus olhos se fechassem, sintonizando-se com os sons da noite e os passos que se aproximavam. “Aí vem Ephiny,” ela sussurrou, antecipando a chegada da Amazona com um tom mais suave.

Ephiny adentrou o perímetro iluminado pela fogueira e depositou seu equipamento no chão, do lado oposto ao fogo. Observou que Xena já parecia estar se entregando ao descanso, enquanto Gabrielle permanecia acordada, suas mãos entrelaçadas ao redor de um joelho, olhos atentos a ela.

Com uma pausa cautelosa, Ephiny se aproximou e se ajoelhou ao lado de Gabrielle, baixando a voz ao falar. “Olha, eu realmente sinto muito, Gabrielle,” ela começou, buscando nos olhos verdes da barda alguma compreensão. “Sinto por não conseguir lidar com isso sozinha.”

“Está tudo bem, Ephiny,” Gabrielle assegurou, tocando gentilmente o braço da Amazona. “Vamos encontrar uma solução juntas.” Um sorriso encorajador surgiu em seu rosto. “Agora descanse.”

O olhar de Ephiny se desviou para Xena, que já havia sucumbido ao sono. “Solon vai ficar decepcionado por não ver a tia favorita dele,” ela mencionou, com um meio sorriso. Então, ao se virar, capturou um vislumbre do desespero silencioso nos olhos de Gabrielle, um contraste marcante com sua habitual vivacidade.

“Vou sentir mais falta do que ele,” Gabrielle admitiu com sinceridade. “Vai ser realmente difícil para mim, Ephiny. Não estou certa… mas vou dar o meu melhor. É tudo que posso prometer.”

Ephiny assentiu, compreendendo a profundidade daquelas palavras. “Eu sei… é sempre tão reconfortante tê-la por perto. Xena tem uma maneira de fazer o impossível parecer cotidiano,” ela concordou, permitindo-se rir levemente.

“Sim,” Gabrielle concordou, seu olhar desviando-se por cima do ombro de Ephiny, fixando-se em um ponto distante, reflexiva. “Bem, é melhor irmos descansar,” ela sugeriu, dando um leve tapinha no ombro de Ephiny. “Pode ir.”

Ephiny concordou com um aceno, erguendo-se para preparar seu lugar de descanso. Com a habilidade característica de uma Amazona, arrumou seu saco de dormir de forma rápida e eficiente, e logo se acomodou, com seu olhar voltado para a floresta que os cercava, mergulhando no silêncio da noite.

Após um momento de contemplação, observando as últimas chamas da fogueira se transformarem em brasas incandescentes, Gabrielle quebrou o silêncio. “Xena,” chamou ela, suavemente.

“Sim,” respondeu Xena, sua voz emanando da escuridão que agora envolvia o acampamento.

“A vida sempre tem que ser tão complicada?” Gabrielle suspirou, mergulhada em reflexões.

“Sim,” respondeu Xena, esticando um braço e agarrando Gabrielle com firmeza, puxando-a para perto. “Vem aqui.”

Gabrielle se deixou ser puxada sem resistir e se acomodou em seu lugar de costume, encaixada no ombro da guerreira, com um braço envolvendo Xena. “Acho que estou com medo de perder… coisas,” ela confessou, um tanto atabalhoadamente. “Perder em algumas aventuras, sabe.”

Houve uma pausa, e elas se olharam, olhos encontrando olhos em uma proximidade íntima.

“Gabrielle,” Xena disse depois de um momento, sua voz suave, “isso deveria ser a menor das suas preocupações.” E, pela primeira vez, parecia que ela havia escolhido exatamente as palavras certas, pois Gabrielle relaxou completamente em seus braços. Uau, Xena, você está ficando boa nisso. E então, veio o silêncio, a quietude, e o sono as envolveu.

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Ephiny acordou logo cedo, com os primeiros raios de sol filtrando através das árvores, e piscou sob a luz suave, observando o acampamento. Notou Xena, já de pé, cuidando da fogueira e preparando algo em um pequeno pote. “Bom dia,” disse a guerreira, sem desviar o olhar do fogo. “Uh huh,” Ephiny respondeu com um bocejo, ainda se espreguiçando. “Onde está Gabrielle?”

“Lavando-se,” Xena informou, levantando-se para oferecer a Ephiny uma pequena xícara. “Chá?”

“Obrigada,” a Amazona agradeceu, aceitando a xícara. “Acho que vou me lavar também, antes de partirmos.” Xena apenas assentiu, voltando a atenção ao acampamento.

Ephiny, pensativa, considerou o quão Xena permanecia a mesma, sempre pronta e eficiente. Algo que ela admirava. Após arrumar seu espaço, dirigiu-se à fonte de água, cruzando com Gabrielle no caminho. A transformação da jovem em uma mulher encantadora não passava despercebida por Ephiny, trazendo-lhe pensamentos sobre as possíveis complicações dessa mudança.

“Bom dia,” Ephiny cumprimentou Gabrielle, que parou para conversar.

“Você dormiu bem?” Gabrielle perguntou, com cuidado, enxugando a água dos braços.

“Sim, dormimos em condições piores,” Ephiny respondeu, tentando desviar do assunto dos pesadelos de Gabrielle que haviam discutido anteriormente.

Gabrielle riu levemente. “Encontrei uma solução para aqueles. Estou bem agora,” ela assegurou, agradecendo a preocupação de Ephiny. “Xena encontrou uma maneira de curá-los,” revelou, sem entrar em detalhes, mas deixando claro que a presença de Xena era um conforto para ela.

“Interessante,” Ephiny comentou, imaginando a dinâmica entre as duas. “Bem, eu tenho que ir,” disse, continuando seu caminho após uma pausa reflexiva.

Sozinha, Ephiny ponderou sobre a relação entre Gabrielle e Xena, concluindo que qualquer preocupação com possíveis romances na vila seria infundada diante da presença intimidadora de Xena. “Isso vai ser interessante,” ela murmurou, divertindo-se com as implicações, antes de se dedicar à sua própria higiene matinal.

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As vias de Xena, Gabrielle e Ephiny logo se dividiram, com a guerreira e a barda seguindo uma rota ligeiramente ao norte, enquanto Ephiny escolhia o caminho mais reto de volta ao território Amazona. Antes de se separarem, Ephiny entregou a Gabrielle um conjunto de vestes e adornos típicos das Amazonas, além de compartilhar informações cruciais sobre a situação atual na região e orientá-la sobre os diversos grupos dentro da sociedade Amazona com os quais Gabrielle possivelmente se encontraria. “Vou tentar encontrá-la assim que você chegar,” prometeu Ephiny. “Ou então alguém do nosso povo irá – você sabe identificá-los. Mas fique atenta a Arella; ela pode ser problemática.”

“Arella,” Gabrielle ecoou, memorizando o nome com uma nota de cautela.

“Ela é aquela bem… marcante, meio exibicionista, com cabelos vermelhos vivos. E tem uma atitude que não passa despercebida,” Ephiny descreveu com um leve encolher de ombros. “Acredita ser a melhor espadachim que apareceu nas últimas três décadas. E é ela quem tem causado maior parte dos problemas.” Ephiny soltou um suspiro, reconhecendo a complexidade da situação. “Ela sabe ser extremamente agradável quando quer, pelo menos comigo. Mas não se deixe enganar.” A Amazona pausou, seu tom se tornando mais sério. “Tenha cuidado, Gabrielle. Ela é perigosa, não apenas para nós, mas para você também. Vai tentar instigar conflitos.”

Xena, apoiada na alta cernelha de Argo, ouvia atentamente a conversa. Ao ouvir o nome Arella, fixou um olhar significativo em Ephiny. “É bom que ela tenha cuidado com quem tenta provocar,” disse ela, com uma ameaça sutil em sua voz. O olhar trocado entre as duas era carregado de significado, uma clara advertência da guerreira.

Ephiny compreendeu o aviso, respondendo com um aceno quase imperceptível, reconhecendo a gravidade da situação. A defensora da Rainha Amazona não era alguém a ser subestimada. Ephiny refletiu sobre as habilidades de Arella, consciente de que, apesar de seu talento, ela não se comparava a Xena. “Pois bem, estou partindo. Desejo a vocês uma boa viagem.”

Ao chegarem à fronteira do território Amazona no final do dia seguinte, Xena e Gabrielle consideraram suas opções. Parando à beira da estrada, Xena avaliou a luz do entardecer. “Podemos prosseguir esta noite e chegar lá, ou acampar e você seguir pela manhã,” ela ponderou, deixando a decisão nas mãos de Gabrielle. “Você decide.”

Gabrielle ficou na sombra de Argo, abraçando-se fortemente. “Sem terceira opção, huh?” Imediatamente se arrependendo de ter dito isso. “Desculpe. Eu não quis dizer isso.”

Xena olhou para ela com compaixão. “Sim, você quis.” Ela suspirou pesadamente. “Olha… se você realmente não quer fazer isso…”

“Eu tenho que fazer.” A barda sussurrou.

“Eu posso entrar lá e simplesmente bater em todo mundo e dizer que vou transformá-los em leiteiras se eles não pararem com toda essa bobagem,” a guerreira terminou, com um sorriso irônico. “Você sabe que eu posso.” Ela levantou o queixo de Gabrielle para olhar nos olhos dela. “Você sabe que eu farei.”

Gabrielle sorriu, um sorriso real. “Eu sei. E você não tem ideia do quão poderoso e maravilhoso é esse pensamento. Mas se eu vou fazer isso, acho que tenho que fazer do meu jeito.”

Xena assentiu. “Vamos acampar, então. A manhã é melhor para começar as coisas de qualquer maneira.” Ela fez uma pausa. “E, Gabrielle?”

“Hmm?” A barda respondeu, olhando para cima.

“Eles são guerreiros. Com ou sem habilidade com seu bastão, você não é, e eles usam armas cortantes em um desafio. Se isso começar, desta vez, lembre-se de quem é sua campeã, ok?..” Xena lembrou.

“Como eu poderia esquecer isso?” Gabrielle riu, dando um soco leve no ombro dela. “Isso realmente é o menor dos meus problemas.” Ela sorriu para Xena. “Sou a Rainha Amazona com a melhor campeã da história das Amazonas.”

Xena assentiu para ela, agora séria. “Faça com que eles lembrem exatamente quem ela é,” ela adicionou suavemente, um brilho perigoso em seus olhos azuis pálidos. “Qualquer um lá que colocar um dedo em você, e acredite em mim… acredite, Gabrielle, eu vou passar por aquela vila como…”

A barda colocou as duas mãos no peito de Xena, inclinando-se para frente e olhando-a diretamente nos olhos. “Ok..Ok.. Eu entendi.” Ela sorriu. “Vou garantir que eles entendam. De verdade.”

“Ok.” Xena se acalmou, levantando as mochilas das costas largas de Argo e indo em direção à linha das árvores. “Eu vejo um lugar que podemos usar para acampar.”

Na verdade, uma caverna. Seca, para variar, e vazia, um bônus adicional. Gabrielle assentiu em aprovação. Ela coletou madeira seca para a pequena fogueira e montou o resto do acampamento enquanto Xena estava caçando o jantar. Coelho, ela supôs. E ficou totalmente surpresa quando Xena voltou com um pequeno veado pendurado nos ombros.

“Nossa.” A barda exclamou, um pouco surpresa. “Isso simplesmente pulou na sua frente, ou algo assim?”

“Não.” Xena respondeu, colocando o veado no chão e pegando sua faca mais afiada. “Eu estava procurando por ele.” Ela deu à barda um olhar malicioso. “Lembro como é a comida lá nas Amazonas… Queria ter certeza de que você pelo menos entraria lá com uma refeição decente.”

Gabrielle riu. “Xena!”

A guerreira apenas riu e fez uma incisão rápida na barriga do veado, esquartejando-o rapidamente e com habilidade. “Me diga que você não gostaria de um bife de veado.” Ela olhou por cima do ombro para Gabrielle, que sorriu. “Uh huh. Sabia.” Ela voltou ao seu trabalho, ciente dos olhos sobre ela. “Isso não vai demorar muito.” Ela comentou.

E não demorou. Xena conhecia seu ofício quando se tratava de esquartejar, como ela costumava dizer, embora com um sorriso sarcástico. Ela preparou dois grandes bifes, com um floreio direcionado à barda. “Ok – você pode colocar o que quiser neles.” Um sorriso de Gabrielle, que reivindicou os bifes possessivamente e começou a polvilhá-los com ervas retiradas de sua bolsa.

Xena preparou cuidadosamente uma pequena fogueira perto da entrada da área onde decidiram acampar, cobrindo-a com uma tenda de folhas verdes largas para defumar o restante da carne de veado. Enquanto trabalhava, lançava olhares para Gabrielle, notando a concentração da barda em suas tarefas. Um sorriso afetuoso e divertido iluminou o rosto de Xena ao observá-la, antes de se aproximar e sentar-se silenciosamente ao lado dela. Juntas, assistiam à dança das chamas, que lançavam reflexos dourados sobre o rosto de Gabrielle.

Xena sentiu uma emoção intensa, como se um punho invisível apertasse seu coração, ao pensar na iminente separação. A sensação era dolorosamente familiar, remetendo-a à última vez que haviam se afastado. Contudo, havia uma diferença sutil, um brilho mínimo de consolo naquela ocasião, pois Xena reconhecia que Gabrielle compartilhava de sua angústia, talvez até mesmo na mesma medida. Esse reconhecimento, embora não diminuísse a dor da despedida, oferecia um tipo estranho de consolo, sabendo que não estavam sozinhas em seus sentimentos.

“Ugh.” Gabrielle exclamou, algumas horas depois. “Estou totalmente cheia.” Ela olhou para Xena, que estava sentada ombro a ombro com ela. “Você?”

“Uh huh.” A guerreira concordou. “O que quer que você tenha colocado naqueles bifes estava perfeito.”

Elas observaram o fogo por um tempo, digerindo em silêncio, apenas desfrutando do crepitar pacífico do fogo e da brisa fresca e suave entrando pela boca da caverna. Depois de um tempo, porém, Gabrielle soltou um suspiro longamente contido e olhou melancolicamente para as chamas. Você pensaria que eu daria as boas-vindas à oportunidade de comandar as Amazonas, certo? Aqui estou eu, sempre reclamando que Xena nunca me deixa fazer nada, e tenho essa grande oportunidade de me libertar e experimentar estar totalmente no comando. Ótimo! Então… por que me sinto tão mal? Ela apoiou a cabeça nos joelhos e esfregou as têmporas de repente doloridas, evitando o olhar preocupado de Xena.

O que eu vou fazer? Não posso deixá-la assim… Hades.. Xena fechou os olhos, balançando a cabeça, seu desejo quase avassalador de proteger Gabrielle de qualquer dano em guerra com seu conhecimento de que a barda era uma mulher adulta, com o direito de fazer suas próprias decisões. Talvez eu devesse simplesmente ir lá e bater em alguns deles. Isso me faria sentir melhor, de qualquer forma. Droga, eles e suas brigas e facções constantes… eu juro, prefiro liderar um exército de 500 homens do que um de 5000 Amazonas.

Gabrielle percebeu a tensão marcante no rosto de Xena e a intensidade de sua expressão. Intrigada e levemente preocupada com o que poderia estar causando tal reação, ela não pôde deixar de sentir compaixão pelo alvo desconhecido da ira de Xena. “Ei,” ela disse suavemente, estendendo a mão para tocar a mandíbula rígida da guerreira. “Você parece estar pronta para entrar em batalha.”

 “Você não está errada,” Xena respondeu com um grunhido, lutando para manter seu temperamento sob controle. “Contra uma legião de Amazonas, se necessário.” Seus olhos varreram a caverna, memorizando cada detalhe do local para referência futura.

 “Xena,” Gabrielle a repreendeu, com uma severidade suave em sua voz. “A culpa não é delas.”

 “É, sim,” a guerreira insistiu, a frustração evidente em sua voz. “Todas querendo brigar por nada.”

 Gabrielle procurou acalmar os ânimos. “Olha,” ela começou, buscando as palavras certas com cuidado. “Eu vou ficar bem. Sinto muito por parecer um pouco abatida. É só que…” Ela deu de ombros, um gesto que revelava mais vulnerabilidade do que pretendia. “Vou sentir sua falta. Sentir falta de tudo isso,” ela admitiu, sua voz trêmula. “Muito.” Ela fez uma pausa, ponderando suas próximas palavras. “Mais do que consigo expressar.”

Xena olhou para Gabrielle com uma expressão pensativa. “Sim,” ela concordou. “Eu também vou sentir.” Um sorriso irônico surgiu em seus lábios. “E, sinceramente, não faço ideia do que vou acabar fazendo em Amphipolis para me ocupar.” Gabrielle soltou uma risada cansada, entretendo-se com o pensamento. “Claro, ria. Mas quando começarem a surgir histórias malucas de uma ex-guerreira virando Amphipolis de cabeça para baixo, saiba que sou eu.”

 “Xena!” Gabrielle não conseguiu conter o riso diante da imagem.

 “Sim, e não duvide se eu terminar construindo alguma coisa absurda como uma fortaleza de amoras,” Xena prosseguiu, mantendo um tom de seriedade que apenas aumentava o absurdo da situação. “Guerreiros entediados são criaturas extremamente perigosas, Gabrielle.”

Gabrielle continuou rindo, até que as lágrimas caíram. “Ah…” ela suspirou, finalmente. “isso foi bom.” Seus olhos encontraram os de Xena. “Obrigada. Eu precisava disso.”

“Mmm.” Xena concordou. “E falando nisso, cuide-se com essas Amazonas.” Ela observou Gabrielle. “Posso imaginar que mais de uma delas vai querer emboscar você e arrastá-la para a cabana delas para poderem ganhar alguma influência.”

As sobrancelhas de Gabrielle se contraíram. “Você não acha realmente…”

Xena levantou uma sobrancelha muito expressiva para ela.

“Mesmo?” Gabrielle questionou, surpresa tingindo sua voz. “Mas por quê? Quero dizer… nunca imaginei que eu atraísse a atenção delas.” Ela corou levemente. “Sempre pensei que elas preferissem o tipo mais guerreiro. Você, por exemplo…”

 Xena deu um riso abafado. “Elas apreciam a diversidade. E sabem muito bem que não têm chance comigo.” Com um olhar cúmplice, piscou para Gabrielle. “Na verdade, trata-se de influência. Você a possui, e elas a desejam. É assim que a dinâmica funciona,” explicou ela, com um brilho astuto no olhar. “Ouça, Gabrielle, não se preocupe. Se alguém te perturbar, basta dizer que terá que se entender comigo. E acredite, eu não estarei nada amável.”

“Xena, eu sou capaz de lutar minhas próprias batalhas,” Gabrielle afirmou, sua voz carregando uma leve exasperação. “Não sou mais uma criança.”

 Xena deixou escapar um suspiro, reconhecendo a independência de Gabrielle. “Eu sei,” ela disse. “Mas você vai enfrentar muitos desafios lá, Gabrielle. Olha, passei uma vida construindo uma reputação temível. Por uma vez, deixe isso trabalhar a seu favor, está bem?” Ela ofereceu um sorriso irônico. “Não vai te fazer mal.”

Gabrielle ponderou sobre a lógica de Xena. Realmente, a última coisa que desejava era enfrentar mais problemas além dos que já esperava. “Certo… OK,” ela cedeu, aceitando o raciocínio. “Você tem razão.” Um sorriso leve surgiu em seus lábios. “Prometo tentar não estragar ainda mais sua reputação.”

Xena soltou uma risada curta. . “Acredite em mim, oh barda minha, qualquer coisa que você fizesse à minha reputação só seria uma melhoria.” Ela se levantou e limpou os restos do jantar.

Xena dirigiu-se a Argo, que a recebeu com um olhar tranquilo. Com gestos suaves, ela acariciou o focinho da égua, dedicando atenção à pele sensível próxima ao nariz e afastando com cuidado a crina de seus olhos. “Parece que seremos apenas nós duas por um tempo, garota,” ela disse, falando mais para si mesma do que para o cavalo. Argo respondeu com um olhar sereno, quase como se entendesse. Xena continuou a acariciar o pescoço forte de Argo, organizando a crina para que caísse graciosamente de um lado. “Já passamos por isso antes, não é?” A égua relinchou suavemente em resposta. “Pois é.” Argo cutucou carinhosamente o ombro de Xena, que retribuiu com carinho, acariciando-a sob o queixo e apoiando seu rosto contra a bochecha da égua. “Isso será bom para ela… ter a chance de experimentar uma vida diferente,” Xena refletiu, sentindo um aperto na garganta. “E isso é bom. Preciso que ela entenda.” Argo bufou, como se duvidasse das palavras de Xena. A guerreira suspirou, enfrentando sua própria incerteza. “Sim, estou tentando me convencer,” ela admitiu em um sussurro, confiando apenas ao cavalo seus pensamentos mais íntimos. Argo virou uma orelha em sua direção, oferecendo um consolo silencioso. Xena permaneceu ali, encontrando algum alívio na presença do animal, até que a pressão em seu peito diminuísse. Finalmente, ela limpou os olhos e voltou para a entrada da caverna.

Gabrielle levantou o olhar à sua chegada, oferecendo-lhe um sorriso. “Já estava quase organizando uma equipe de busca por você,” ela brincou, ajeitando-se em seu saco de dormir e colocando seu bastão ao lado. Era um gesto que tinha aprendido com Xena, embora sua arma fosse significativamente menos letal do que a espada que a guerreira costumava manter sempre por perto.

“Verificando Argo.” Xena explicou, mexendo no fogo. “Certificando-me de que ela tinha grama suficiente lá fora.” Ok..vamos acabar com isso. . “Gabrielle.”

“Hmm?” a barda respondeu, olhando para a forma imóvel de Xena. “O quê?”

Xena se levantou e caminhou até onde Gabrielle estava sentada. Ela se agachou, depois se sentou de pernas cruzadas na frente de sua companheira, apoiando os antebraços nos joelhos e inclinando-se para frente em direção a Gabrielle. “Escute.” Gabrielle esperou, seu rosto muito quieto. “Um… as Amazonas… elas não são pessoas ruins.” Uma pausa. “E você é a rainha delas.” Xena sorriu para ela. “Você vai ser uma muito boa, eu acho.. De qualquer forma. Se você descobrir que você.. gosta.. de fazer parte da sociedade delas..” Os olhos verdes se fixaram nos dela. “Não sinta que você tem a obrigação de partir.” De uma só vez. “Se você não quiser.”

Gabrielle estudou o rosto sério e composto à sua frente, encontrando os pequenos indicadores emocionais que ela aprendeu a ler ao longo do tempo. “Eu não sou uma Amazona.” ela respondeu, simplesmente.

“Eu sei disso.” Xena respondeu. “Mas… é uma vida estável, regular. Não…. isso.” ela deu de ombros, levemente. “você.. talvez seria melhor.” Ela baixou o olhar, depois o levantou novamente. “para você.”

“E para você?” A resposta quieta da barda.

Xena deu um pequeno encolher de ombros depreciativo. “E para mim?” ela respondeu. “Não estamos falando de mim. Estamos falando de você.”

“Então. Você está… sugerindo que seria uma boa ideia eu ficar com elas?” Gabrielle questionou cuidadosamente. Lendo a quietude controlada no rosto de Xena. A tensão aninhada em seus ombros. O ponto de pulsação acelerado no vão de seu pescoço, que dizia a Gabrielle muito mais do que qualquer palavra que sua companheira pudesse inventar.

“Estou sugerindo que você tem uma escolha.” Xena respondeu, firmemente.. “Você sabe que não me deve nada, Gabrielle, mas você aceitou a responsabilidade por essas pessoas quando aceitou o rito de casta. Elas podem ser sua família, agora. Se é isso que você quer.”

Um aceno lento de Gabrielle. “As Amazonas são um povo fascinante, Xena.”: ela olhou para baixo e sorriu um pouco. ” e eu sinto uma responsabilidade por elas.” Um suspiro profundo. “e eu estava pensando em como seria a vida, fazer parte dessa sociedade.” Ela olhou para cima e encontrou o olhar paciente e blindado de Xena. “Mas.. com todas as suas tradições, e o que elas são… há algo que eu tenho que ter, que elas não podem me dar. É… algo sem o qual eu não posso viver.” Ela fez uma pausa, deixando um pequeno sorriso escapar. “Não mais.”

Xena a encarou. “O que é isso?” ela perguntou, cautelosamente curiosa.

A barda riu suavemente. “Você.” Ela estendeu a mão e tocou o joelho da guerreira silenciosa. “Você é minha família.” Estudando o rosto à sua frente, delineado à luz cintilante do fogo.

Finalmente, Xena sorriu e balançou a cabeça. “Bom saber que sou de alguém” Ela levantou uma sobrancelha irônica. Mas então encontrou os olhos de Gabrielle com uma franqueza aberta que quase fez o coração da barda parar. E estendeu uma mão para acariciar suavemente o lado do rosto de Gabrielle. Olhos nunca deixando os dela. “Sim.” Ela finalmente respondeu. “Eu sou.”

Elas sorriram uma para a outra.

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A manhã foi um caso sombrio. Xena realizava sua rotina habitual, saindo antes do amanhecer para encontrar alguns ingredientes para o café da manhã, preparando o chá, cuidando e ajustando a fogueira, em silêncio, embora isso não fosse incomum. Gabrielle percebeu que seus olhos seguiam sua companheira pelo acampamento, observando enquanto a guerreira se movia silenciosamente de tarefa em tarefa, enquanto ela mesma arrumava seu kit pessoal. Não era a primeira vez. Sua mente a cutucou. Eu já fiz isso antes. E toda vez, ela… me deixa ir. Diz para eu seguir meu coração. Se afastando, para que eu não me sinta… obrigada, e eu sei… ela nunca me pediria para ficar. Nunca. Não se ela pensasse que eu não queria. Gabrielle suspirou e olhou para sua bolsa. Sua mão pausou sobre uma seleção de camisas, e um sorriso irônico cobriu seus lábios enquanto ela escolhia uma e a enfiava na bolsa. O cordeiro. Bugigangas obtidas em vilarejos por metade da Grécia. Uma pequena concha que ela pegou logo depois de Ares ter devolvido o corpo de Xena, lá na praia. Seus pergaminhos. Ela suspirou novamente e os guardou, em seguida adicionou suas roupas de viagem.

“Bela roupa”, Xena comentou calmamente, aparecendo ao lado dela e pousando uma mão no ombro da barda. “Está pronta?” Ela olhou para a mochila e passou os dedos por uma borda. “O acampamento está desmontado.”

“Sim”, Gabrielle murmurou suavemente. “Ok. Estou pronta.” Não, não estou. Ela colocou a mochila no ombro e segurou seu cajado. E tentou ignorar a dor em seu peito. “Vamos lá.”

Xena a acompanhou até a bifurcação na estrada, depois parou. Gabrielle olhou para seu rosto e viu os músculos da mandíbula se tensionarem. Ambas olharam pela estrada em direção ao território das Amazonas. “Bem, acho que é hora”, disse a guerreira, devagar. Ela pousou uma palma hesitante na bochecha da barda. “Gabrielle…”

Foi demais. Gabrielle encostou seu cajado em Argo, largou a mochila e envolveu sua companheira com os braços, espremendo com toda a força que conseguia reunir. Sentiu Xena retribuir o abraço, com pressão suficiente para forçar o ar de seus pulmões. Nenhuma realmente queria se soltar, mas elas o fizeram – e ficaram por um momento, com os braços frouxamente ligados uma à outra.

“Tenha cuidado”, Xena avisou.

Gabrielle assentiu, baixando a cabeça. “Terei.”

“Promete?” Xena perguntou, encontrando seu olhar surpreso intensamente.

A barda piscou e então assentiu. “Eu prometo.”

“Ok”, veio a resposta. Xena estudou seu rosto por um pouco mais de tempo. “Vou sentir sua falta”, ela acrescentou, muito quietamente. “Mais do que você pode imaginar.”

Gabrielle sentiu sua garganta fechar para qualquer resposta possível e apenas enterrou a cabeça contra o peito de Xena. Onde ela podia ouvir a borda irregular de sua respiração. E sentir o batimento de seu coração. Finalmente, ela levantou a cabeça, trocou um último olhar e se virou em direção à estrada da floresta. Sem olhar para trás até estar na borda das árvores, e então para ver a paciente Argo, sua cavaleira apoiada nela. Observando. Era uma imagem que ela arquivou firmemente na frente de sua mente.