O tribunal estava em polvorosa. Não havia uma alma na sala que não desejasse justiça. Sentiam-se ultrajados pelas ações daqueles homens que avançaram sobre as famílias e desta vez não apenas campesinas, mas também das famílias de posses das cidades guarnecidas e isso era intolerável.
Gabrielle havia mencionado à Xena que enquanto os atacados eram os pobres a elite não havia se manifestado, mas quando doeu em sua própria carne o crime passou a ser considerado hediondo. Hipócritas. Obviamente a punição deveria ser exemplar e Thoez já havia iniciado em Mikonos, mas ali no tribunal todos iriam testemunhar a justiça e ainda precisava ultimar a apuração se havia mais envolvidos. Ainda não ficara clara a intenção de buscarem imputar às amazonas tal ação e isso deveria ficar esclarecido neste julgamento.
Xena se preparou para entrar ajeitando o manto que indicava estar agindo não apenas como governante ou autoridade máxima na justiça do Império, mas principalmente como Escolhida de Atena, Deusa da Sabedoria e da Justiça.
Kahina abriu as portas e Eliano anuncia ao tribunal a presença da Imperatriz.
– Sua majestade Xena, a Conquistadora, Senhora do Mundo, Imperatriz da Grécia e Escolhida de Atena!
Xena entra ao recinto do tribunal advertindo no semblante da audiência. Era um experimento raro verificar expectativa e algo de orgulho substituindo o medo e quase tristeza que tem feito parte da paisagem nos últimos verões.
Sentando em seu trono Xena tranquilamente comanda ao oficial responsável pelos trabalhos da tarde.

– Traga-os Ovidio.

Tarsus e seus homens são conduzidos até o tablado e as acusações são lidas uma a uma. Eles não eram nem sombra do que já foram. As torturas a que foram submetidos mais a vida nas masmorras profundas do palácio, com alimentos escassos, água racionada e muito pouco de abrigo oferecidos, faziam daqueles homens quase esqueletos respirantes.

– Vocês ouviram as acusações contra vocês. Todas elas corroboradas com provas e testemunhos, então direi apenas uma vez o que desejo e vocês farão exatamente isso ou suportarão as consequências. Desejo saber qual a verdadeira razão de tentarem jogar o povo do Peloponeso contra as amazonas. Respondam a isso e serei misericordiosa, ocultem a verdade de mim e providenciarei que recebam ainda muitas luas de hospedagem nos calabouços desejando terem morrido no primeiro ataque. É sua chance Tarsus.
– Fomos chamados a criar tal confusão para que os povos do Peloponeso e principalmente Ghitio e Esparta não acorressem em socorro das prostitutas quando fosse acontecer o ataque em massa.
– O que foi prometido a vocês?
– Todas as escravas que conseguíssemos obter, as terras entre o mar e as montanhas a leste do rio Olietier e um bom tempo com as aldeãs que encontrássemos no caminho.
– Qual seu interesse nestas terras?
– Dizem que as montanhas a noroeste possuem jazidas de ouro e mais ao norte prata quase ao nível do solo.
– Quem disse?
– Um homem, um mensageiro, disse ser sacerdote de Ares. Ele vestia de negro em couro. Possuía cabelos encaracolados e uma barba que fechava o cavanhaque unindo com o bigode. Possuía espada de metal mais brilhante que já vi.
– Por que atacaram a casa de Tiontes?
– Foi indicado o local exato e a menina que devíamos pegar. Teríamos de nos certificar que as mulheres fossem vistas e o mito sobre a tatuagem se espalhasse para garantir que haveria ódio contra as vagabundas.
– Quem tocou nestas meninas? Qual de vocês?
– Elas permaneceram intocadas e apenas as fizemos trabalhar muito para merecer a comida. O homem foi muito claro quanto ao fato delas não serem tocadas, dando indicação e permissão para podermos agir como quiséssemos com qualquer outra. Disse que eram do interesse exclusivo entre o Deus da Guerra e Atena e não deveríamos interferir.
– Que seja! Todo homem comum de Tarsus de Cirus nesta sala, acusados e comprovadamente participante do grupo da ilha de Mikonos deverá ser executado amanhã pela manhã à moda romana, com uma espada transpassando o coração, descendo do pescoço, rente à clavícula. Tarsus e seus oficiais deverão ser crucificados, após dois dias esfolados vivos e eviscerados. Que fique claro que não é aceito este comportamento contra súditas deste império, mesmo que atendendo indicações de um pretenso sacerdote. Nem fomentar inimizades, rancores e revoltas.  Esta é a sentença pelos seus crimes e agradeçam a Atena a misericórdia de uma morte rápida.  Encerramos por hoje Ovídio.