No passadiço superior interno Daiki aguardava a Senhora do Mundo que surgiu na porta de acesso em todo seu esplendor banhada pela luz da lua cheia. Artemis parecia estar indicando o caminho que seria trilhado.

– Você veio rápido Jun’Ichi.
– Assim que pude dispensar o oficialato e abandonar meu estúdio Yuu.  Tenho dois falcões guardando o pé da escada de acesso a este lugar. Teremos toda privacidade que você julgar necessária.
– Aproxime-se.

Xena aproximou-se de sua treinadora sem saber exatamente o que esperar, pois não a via desde que foram apresentadas, quando iniciou seu treinamento para a guarda real.

– Como eu disse quando nos conhecemos, você leva muita roupa para uma amazona, mas desta vez isso não será considerado uma falha. Entendo que devido a sua posição no Império, devemos manter seu treinamento o mais discreto possível então olhe para o centro deste espaço e me diga o que você vê no chão Jun’Ichi.
– As pedras do passadiço e uma corda estendida de leste a oeste, a um pé do solo, bem no centro, sustentada em duas pedras.
– Escolhi o centro do passadiço para que você não seja vista por ninguém que esteja observando do solo ou de alguma construção mais longínqua. Você deve caminhar de uma extremidade a outra sobre a corda, fazendo o possível para não tocar o solo. Cada vez que você chegar ao final da corda deverá dizer seu nome de treino. Comece.
Para Xena aquilo seria uma brincadeira de criança, pois exigiria apenas seu senso de equilíbrio e força muscular, ou seja, uma enorme perda de tempo. Mas se agrada às amazonas pensarem que estavam adestrando a Senhora do Mundo como se fosse um animal, que assim seja.

Após uma marca Daiki chama Xena novamente.

– Por favor, venha aqui Jun’Ichi.
– Ao seu comando Yuu.
– Não há necessidade desta resposta Jun’Ichi, apenas cumpra o solicitado em silêncio e o mais rapidamente possível. Aliás, fale somente quando o que tiver que dizer seja extremamente importante ou estiver respondendo uma pergunta. Você compreendeu?
– Sim Yuu.

Tirando uma venda do bolso de seu colete, Daiki faz com que a Senhora do Mundo não consiga mais usar sua visão, sendo apenas instada a ocupar novamente seu lugar sobre a corda.

– Agora faça o mesmo exercício, porém sem ver seu trajeto.

Xena utilizou seu incrível senso de direção e caminhou em direção a corda, encontrando-a rapidamente, então recomeçou sua atividade. Não era mais tão simples, mas ela sabia que não podia fracassar. Não tinha noção de quantas esferas a retiraria definitivamente de sua oportunidade, mas não daria chances.
Mais duas marcas se passaram e seus movimentos eram lentos, porém não caíra da corda nenhuma vez.

– Tire a venda dos olhos e venha aqui Jun’Ichi. Como você está se sentindo?
– Eu estou bem Yuu, Obrigada.
– Agora me diga quantas vezes tu disseste teu nome e quantos passos deste?

Xena ficou petrificada. Estava tão concentrada em não cair que não contara. Sabia que tinha dito seu nome de treino toda vez que chegara às pedras, mas não lhe ocorreu contar.

– Eu não sei Yuu.
– Bom. Suba na pedra mais a leste ao lado da corda, no centro do passadiço, e em pé, com o corpo de frente para os raios que virão, fique observando o surgir do carro de Apolo. Falarei com você depois. Comece.

Após duas marcas a alvorada apenas dava prenúncio de chegada e a treinadora amazona surge por trás de Xena.

– Pegue sua espada Jun’Ichi, estendendo os braços na frente do corpo com as mãos espalmadas, apresenta-a para que tome os raios de luz em toda sua extensão. Nenhum dedo deverá segurar por cima da espada. Comece.

Xena toma sua espada nas mãos e faz conforme fora determinado. Sabia de antemão que sentiria os efeitos de tal procedimento em breve.
Daiki se afastou e buscou abrigo nas pedras do anteparo, deixando a Senhora do Mundo só com seus próprios pensamentos a sentir o vento que principiava a ser mais violento e a resposta de sua musculatura à esta posição.
Quando o carro de Apolo surgiu, Xena estava esgotada, começando a ter cãibras nos braços.
Sua treinadora aproximou-se pela frente após uma marca de vela com a luz do sol.

– Você deve se recolher aos seus aposentos e descansar Jun’Ichi. Deseja perguntar algo?
– Sim Yuu. Eu falhei, não contei o que deveria ter contado. Eu sinto muito por ter falhado e por isso significar mais uma esfera.
– Sim, mas você aprendeu que se deve prestar atenção no todo e não somente em algumas partes. Não haverá esferas. Descanse Jun’Ichi. Dispensada.

E a Imperatriz da terra desceu para seus aposentos, sem ao menos perceber o sorriso no olhar daquela que lhe ensinara durante toda madrugada.

Nota