Não poderia se dar ao luxo de dormir por muito tempo, pois ficaria muito estranho se não comparecesse a alguns de seus compromissos e principalmente, desejava deixar Gabrielle sem saber o quanto este treinamento estava cobrando pedágio sobre ela.
Entrou em seus aposentos deixando claro para a sentinela que não devia ser interrompida e enviou recado para Cassandra que desejava um pequeno lanche preparado nos jardins em três marcas de vela para o qual Siana deveria convidar a princesa das amazonas trácias e Janis.
Era momento de dar para Gabrielle um pouco mais de alegria e após um breve banho deixou-se cair na cama, dormindo logo em seguida. Faltando meia marca de vela para o carro de Apolo iniciar seu declínio a Conquistadora do mundo conhecido entrou em seu jardim onde uma Gabrielle ansiosa aguardava sua presença.
Janis imediatamente se colocou em alerta total, cuidando para não estar apoiada em nada nem fazer um gesto que pudesse dar a mensagem de desleixo ou desatenção. Gabrielle ergueu-se e saudou a Senhora do Mundo.

– Boa tarde majestade.
– Boa tarde princesa. Vejo que Siana e Cassandra foram eficientes como sempre. Está com fome?
– Na verdade sim. Estive cavalgando e fui visitar uma vila ao sul onde o império mantém uma de suas escolas para crianças e atuei como barda. Cheguei a duas marcas e recebi seu convite. Obrigada.
– Você não deve andar assim na cidade princesa. É perigoso, pois não sabemos o quanto daquela animosidade realmente não está oculta entre as casas ou nos becos.
– Palaemon graciosamente cedeu duas Falcões para a escolta e Ephiny não fez por menos. Parece que enviaram guardas por todo o trajeto, embora eu não tenha visto nenhuma realmente.
– É a maneira usual quando saio do palácio. Eles sabem realmente seu trabalho. Por favor, sente-se e vamos comer.
– Obrigada.

Então algo inusitado acontece. Xena deixa um pouco de lado sua formalidade quase cruel e sorri daquela maneira tão cara à Gabrielle.

– Sirva três taças de vinho Janis.
– Sim minha senhora.

Enquanto Janis servia as taças de vinho, Xena estabelece três postas de carne em uma tábua e corta de maneira que poderia ser pega com os dedos e faz o mesmo com o pão. Gabrielle apenas observava encantada e curiosa o que viria, mas conhecendo Xena sabia que rapidamente faria seu pensamento se tornar claro.

Entregando uma taça para cada uma das mulheres no jardim, Janis ficou segurando a terceira imaginando que haveria uma terceira convidada.

– Você gosta de vinho Janis?
– Nunca bebi senhora.
– Sente-se, coma e beba conosco, mas coloque um pouco de água para não ser tão forte tua primeira experiência.

Janis imaginou que Xena se referia a servir de provadora, mas este pensamento foi apagado ao ver a Conquistadora servir-se e alcançar a tabua com alimentos para Gabrielle e logo a seguir para ela. Com a outra mão a Imperatriz da Grécia entrega um pequeno saco de couro contendo oito talentos de prata e um de ouro.

– A princesa das amazonas tem sido constante em salientar teu bom trabalho e dedicação Janis. Insistentemente tem se posicionado no sentido de pedir por você. O que pensa sobre isso?
– Somente posso agradecer à princesa sua generosidade minha senhora e irei para onde a senhora determinar.
– Resolvi que se este ainda for o desejo de sua alteza, ele será atendido em conformidade. O que me diz princesa? Insistes em pedir por esta mulher?
– Se for de vosso agrado majestade, confirmo minhas intenções. Janis é muito dedicada e tem feito o máximo dentro de suas competências como se esperaria inclusive de uma amazona. Reitero minha posição de que ela merece mais do que ser uma escrava sempre insegura sobre seu destino ou sua vida. Mais de uma vez ouvi homens se referirem a ela como um brinquedo a ser ganho e ela é uma mulher íntegra, não merece ser tratada como um objeto.
– Não irei entregar-te às amazonas Janis, embora se este for teu desejo deverás solicitar à princesa que te receba na Nação. Nesta bolsa tens algum dinheiro que poderás usar para começar uma nova vida longe daqui se preferires. Mandarei buscar quem tu quiseres em Roma, na tua localidade de origem ou te proporcionarei os meios para chegares junto aos teus familiares em qualquer lugar. Se desejares permanecer em serviço desta casa, fale com Siana que te proporcionará um quarto no segundo piso e uma remuneração justa, mas caso desejes ficar como hospede ela providenciará alguém para servir-te pessoalmente e os aposentos. Considere este almoço como a comemoração de sua liberdade e decida calmamente. Siana tem ordens de providenciar que tua decisão seja acolhida e tu fiques bem.
Janis fica olhando para Gabrielle sem saber o que dizer, pois tinha a impressão de que a Senhora do Mundo estava fazendo um jogo muito cruel para com sua escrava romana. Em sua breve vida jamais ouvira falar de algo parecido e muito menos que a Conquistadora fosse capaz de tal bondade. Se fosse algum jogo sádico, estaria contentando sua senhora, mas se fosse real estaria sendo minimamente grata por ter recebido mais do que sonhara. Em um só momento recebeu a vida, a liberdade e recursos para manter-se no mundo real fora das paredes de uma propriedade onde era apenas mais um item do patrimônio.
– Obrigada majestade, muito obrigada. A ideia de ser livre é mágica para qualquer escravo e somente posso agradecer a vossa majestade por sua bondade e misericórdia. Infelizmente não há ninguém de minha família, minha senhora, pois todos foram mortos quando fui capturada. Se a princesa permitir eu gostaria de conhecer seu povo e se autorizada, dar uma destas moedas para Siana e outra para Cassandra que foram muito boas pra mim.
– Você é bem-vinda na Nação Janis e não vejo impedimento algum para que possa ficar com minhas irmãs aqui em Corinto se você quiser. Quanto a Siana e Cassandra eu concordo plenamente com você que elas são merecedoras de nosso reconhecimento, pois souberam nos guiar no serviço de sua majestade com bondade e correção. Se me permites, vou me unir a ti nesta homenagem e acrescentar igual valor.
– Quem sou eu pra dar permissões alteza, mas serei honrada se acompanhar-me neste pequeno gesto.
– Há alguém com o qual você deseja reunir Janis?
– Se não for ousadia, há uma jovem mulher que é como uma irmã pra mim e ainda está sob a propriedade do senhor Shumedes em Roma, se não tiver sido vendida ou morta. Eu entregaria todo dinheiro que me resta para que ela fosse resgatada majestade e trabalharia para a senhora até o fim de meus dias para pagar o restante das despesas se houvesse a possibilidade de sermos reunidas novamente.
– Qual seu nome?
– Uriel de Morgador majestade. Fomos criadas na propriedade do senhor Shumedes desde os nove anos.
– Ela tem as mesmas habilidades com armas que tu?
– Não majestade. Ela foi treinada para lidar com cavalos e é uma sanadora para eles em seu próprio direito.
– Verei o que conseguirão descobrir, mas até lá podes esperar como hóspede do palácio enquanto decides tua vida. Procura Siana para isso, porém se decidires entrar pra Nação a princesa indicará como deves proceder.
– Boa tarde Janis.
– Boa tarde princesa. Obrigada majestade. Obrigada alteza.

Ainda sem saber se era um jogo malicioso ou um sonho realizado Janis sai a caminhar para a saída do jardim em busca de Siana, mas ao passar o portão começa a correr desabaladamente com medo que a demora fizesse sumir as boas novas.

– Obrigada Xena.
– Meu prazer. Vai aceita-la na Nação?
– Claro. Vai procurar sua amiga?
– Claro. Imediatamente darei ordens a Elthor para que me traga notícias e a menina se for o caso. Não deve ser difícil, mas ainda assim irei testar sua fidelidade quando chegar o momento.
– Permitirás que se unam?
– Sim, mas averiguarei o quanto estará disposta a pagar para isso. Ela é muito boa com armas e pertenceu a Shumedes. Deve ser testada antes de estar tão próxima a ti e tenho certeza que a Ephiny concordará.
– Não estou gostando disso Xena.
– Será apenas um teste alteza. Se ela tiver o coração limpo viverá com sua amiga em paz no local que escolher com todo o conforto. Coloquei nas mãos dela uma pequena fortuna que muito comerciante grego não consegue em toda sua vida. Elas ficarão bem.

O restante do dia corre normalmente, com o jantar sendo restrito aos oficiais mais chegados da Conquistadora e alguns nobres vindos das terras da Britania e Egito, com mensagens de seus respectivos governantes. Foram assumindo tratativas que seriam encaminhadas pelo General Terquien e decididas pela Conquistadora em meia lua.

Era tarde da noite quando a Conquistadora encerrou as atividades oficiais do dia.

Montadas no patio interno com saída para as matas ao Leste, as amazonas da guarda real não sabiam porque estavam esperando uma marca de vela para sair, mas confiavam em sua capitã.

As armas estavam postas e cada uma levava sua equipagem de caça que consistia em suas armas e dois cobertores. Taíra levava ainda um cavalo extra, com o embornal contendo as ataduras e medicinas, cordas, cobertores, alguns alimentos, armas  e outros materiais.Ela era a encarregada de controlar a saúde e do grupo uma vez que nem Iodia nem Iliênia ou Zenit estavam presentes.

Com a lua quase em seu ponto máximo, surgem nas escadarias a capitã da guarda real, Gabrielle e a Conquistadora. O General Terquien aparece logo atrás seguido de Cora, Palaemon  e Assoyde, que ficaria responsável pela guarda de Gabrielle na ausência de Ephiny.

O capitão dos falcões faz um sinal e Cambis, totalmente equipado,  é levado até os degraus. Em seu porte amplo, o grande cavalo de guerra branco ressaltava na noite, iluminado pela lua cheia.

– Palaemon cuida para que a princesa amazona esteja segura e tenha tudo que desejar, fazendo saber que a voz dela será a minha no palácio durante minha ausência.
– Ao seu comando majestade.
-Terquien, deixo Corinto  contigo e que a princesa possa assistir os debates do tribunal se desejar, mesmo ouvindo os casos, principalmente em disputas civis. Ela está interessada em conhecer o funcionamento de nosso tribunal e em Corinto tens também o poder de juíz, estende-o a ela. Sugiro que consideres bem o que ela indicar como decisão, e se concordares e estiver dentro da legislação deverá ser feito. As questões criminais julgarei quando voltar. Para todos os efeitos, estou em contato com a Deusa e não quero ser incomodada. Qualquer emergência tu saberás me encontrar.
– Ao seu comando Conquistadora. Boa caçada!

Ephiny saúda sua princesa e monta tranquilamente em seu cavalo. Gabrielle se despede fazendo votos de boa caçada.

– Viagem segura e que Artemis guie seus olhos e o jogo seja produtivo. Àquelas que estarão fazendo seu teste final, entrego meus melhores votos de sucesso e assim com todas que serão testadas em outras etapas. Artemis às guiem!
Todas se curvam em suas selas.
– Creio que seria melhor indicar para tuas irmãs o teor de nosso acordo princesa ou elas não ficarão a vontade com minha presença.

Gabrielle se surpreende com esta abertura oferecida publicamente por Xena, mas rapidamente utiliza, antes que as amazonas conseguissem processar a fala da Conquistadora.

– Minhas irmãs! A Conquistadora manifestou o desejo de viver como uma amazona e com a benção de Artemis, estabelecemos esta caçada como o tempo certo para esta experiencia. Tudo bem com vocês Ephiny?
– Há um problema de ordem técnica alteza. Os protocolos relativos à Imperatriz teriam de ser anulados. Eu não gostaria de ser obrigada a punir uma de minhas irmãs se a senhora do império resolver que não deseja mais participar do treinamento e chamar suas prerrogativas quando algo lhe desagradar.
– Isso não será problema capitã. A Escolhida de Atena deu sua palavra final sobre o assunto ainda a pouco e realmente deseja ver como são treinadas as filhas de Artemis.
– Certamente alteza.

Ephiny se dirige para Xena que estava observando a troca de palavras entre a capitã e sua princesa.

– A Senhora do  Mundo deseja faze-lo em qual nível de treinamento?
– Quais são minhas alternativas capitã?
– Exército regular, Escoteiras, uma trial e a Guarda Real.
– Qual a mais completa?
– Cada uma possui sua própria característica e função específica, mas a amazona da Guarda Real passa por todos os treinamentos antes de tornar-se aspirante à Guarda.
– Então é aí que entrarei.
– Há uma questão a ser considerada majestade. Uma vez aceita na guarda, somente o fracasso  ou a morte pemitiriam a saída do grupo. Ademais, é um treinamento muito duro e talvez a Senhora do Mundo não esteja preparada para suportar seus revezes. A Guarda não comporta questionamentos de ordens.
– Será como nos Falcões capitã. Eu estarei bem, fique tranquila que conseguirei seguir seus padrões. Acordei com a Escolhida de Artemis em realizar esta experiencia e o farei até o final. Iniciará agora e terminará ao retornarmos neste mesmo lugar e quanto a isso não existirá empecilhos.
– Assim seja majestade. A partir deste momento vossa majestade está consagrada como uma aspirante da guarda real, afeta aos mesmos regulamentos que as demais aspirantes. Será chamada por seu nome indicado e o restante irá sendo posto durante a caçada e se a senhora concordar, tal situação passará a vigorar imediatamente.
– Eu concordo capitã. Vamos?
– É desejo da Caçadora que sua experiencia junto ao meu povo seja proveitosa e a Escolhida de Atena  encontre o que busca majestade. Tenha a certeza que cada uma de minhas irmãs fará seu melhor para que Vossa majestade tenha exito. Melhor vocês irem logo Ephiny e que Artemis esteja com vocês.
– Assim seja princesa.
– Vão e estejam de volta inteiras.
– Ao seu comando alteza. Deves deixar teu cavalo aqui Xena. Montarás o cavalo de suprimentos e te responsabilizarás pelo equipamento. Leve apenas as armas que conseguires carregar contigo e nada mais.
Xena estanca no ato sua pretensão de montar em Cambis e fazendo a mesma saudação que exige dos Falcões, monta em um salto no cavalo guiado por Taíra.

Ephiny comanda a expedição:
– Todas prontas? Vamos!

Saem a trote marcado do palácio, iniciando um galope leve na direção leste. A lua alta no céu ia indicando o caminho e a poucos estádios de distância estava tornando-se mais difícil de visualizar as feições, ficando apenas silhuetas na noite e Gabrielle eleva seu pensamento à Artemis para que seu amor consiga superar mais este obstáculo e incontinente as amazonas disparam em galope desenfreado.

– O que a senhora deseja fazer alteza?
– No momento apenas descansar general e por favor, me chame de Gabrielle. Depois de ter segurado o Império enquanto a Conquistadora defendia meu povo, tal formalidade é desnecessária entre nós.
– Claro Gabrielle. Qualquer coisa que voce deseje estará disponível e Palaemon coordenará com sua guarda o que for necessário.
– Obrigada general.
– Por favor, use meu nome indicado Gabrielle.
– Obrigada Terquien. Vamos entrar Cora, pois existem algumas coisas que gostaria de ver e vou precisar de tua ajuda.
– Imediatamente Gabrielle.

Chegando aos seus aposentos a princesa das amazonas se lança no divã com os olhos fechados enquanto uma Cora atenciosa coloca a piscina para encher com águas termais.
Assoyde entra para ver se tudo está de acordo e comunicar os procedimentos escolhidos para a temporada de afastamento de Ephiny. Ao encontrar Gabrielle de olhos fechados repousando dirige-se aos banhos e encontra uma Cora ocupada em permitir a entrada de águas termais na quantidade certa para equilibrar a temperatura ao gosto de Gabrielle.

– Como está Gabrielle, Cora?
– Aparentemente muito cansada. O jantar exigiu muito dela, pois foi requisitada além do costumeiro. Parece que há uma grande curiosidade sobre a Nação, nossos hábitos e costumes entre os nobres de Corinto. Muitos não esquecem que ela já foi uma escrava da Conquistadora e fizeram questão de lembrar isso o tempo todo. Exigiu muito da diplomacia e habilidade dela não criar um conflito
– Isso é algo que nós não deveríamos esquecer também Cora. Embora voce esteja casada com o comandante Palaemon, não podemos esquecer onde repousa nossa fidelidade e certamente não é com aquele animal que agora cavalga com nossas irmãs. Não sei como a capitã aceitou este monstro no grupo neste momento tão crucial para a trial de Karin.
– Você não deve falar assim da Imperatriz Assoyde. A princesa determinou que assim fosse e somente ela sabe realmente as causas deste arranjo.
– A princesa pode ter perdoado o que aconteceu em Esdel, mas eu não esquecerei tão cedo a humilhação que passamos, nem aqueles homens nos olhando como se fossemos gado para compra. Terem lutado na Tracia não modifica o que aconteceu.
– Não deixe que Gabrielle saiba disso Assoyde e reze para que Artemis lhe ajude a superar isso. A rainha Melosa aceitou estes homens como aliados e nós não podemos mudar isso.
– O que Gabrielle passou em Esdel não era necessário nem justo e se você aceita isso, não me peça pra fazer o mesmo. Vou manter esta perspectiva porque ela é a verdadeira. A Conquistadora é um monstro e continuará sendo. Uma hidra não deixa de ser uma hidra apenas porque canta como uma sereia.
– Não acredito nisso comandante, nem nossa princesa e recomendo que não deixe ela saber o quanto seu coração é fechado em relação à Imperatriz.
– Guardarei tua recomendação Cora, mas agora tenho coisas mais importantes pra verificar. Coloquei duas sentinelas na porta, uma no passadiço superior e uma nos jardins guardando a sacada. Temos todas as possíveis entradas cobertas. Comunique a princesa quando ela acordar e qualquer coisa mande me chamar, pois estarei nos aposentos da guarda. Boa noite Cora.
– Boa noite Assoyde.

Gabrielle ouvira tudo do divã, mas não manifestou estar desperta. Seu pensamento estava longe, nos campos de caça onde sua amada poderia estar em grandes apuros, dependendo de como Ephiny usaria seu novo poder sobre a Senhora do Mundo e esta possibilidade clara de vingança por Esdel.

O pensamento manifestado por Assoyde tinha coerencia e era adequado, pois ela não sabia dos novos arranjos e tudo que havia se passado. Talvez Karim tenha vislumbrado algo de possibilidade que acalmou seu coração com o que vira no navio, mas neste caso específico, é provável que ainda tivesse Xena como uma escrava da princesa e isso poderia modificar a maneira da jovem amazona trata-la na caçada.

Ephiny sabia apenas que tinha aceitado Xena na Nação e solicitara sua entrada na Guarda Real, mas ela confiava na promessa de Ephiny de dar uma chance limpa para a Conquistadora.

Levantando do Divã, Gabrielle se dirige à banheira sem muitos cuidados, certa que Cora havia feito o melhor possível para tudo estar confortável.

– Obrigada Cora, por favor organize algo de alimento e coma também. Percebi que no banquete você demorou em comer, estando o tempo todo em alerta.
– É meu dever estar cuidando para que tudo esteja bem para ti e Ephiny, Gabrielle. Sempre terei tempo de comer mais tarde e Palaemon tem o mesmo procedimento nos banquetes a anos, pois é dele a responsabilidade pela segurança de todos na sala, mas principalmente da Conquistadora e do general Terquien.
– Então vá e te sirva minha amiga. Tomarei meu banho e irei fazer-te companhia em breve.

Deitada nas águas tépidas por algumas contagens, Gabrielle fica um quarto de marca a absorver o calor e a tranquilidade das águas. Pensando em como ela iria resolver a questão com Assoyde. Ergue seus pensamentos àquela que guia seu povo.

“Sagrada Caçadora, por favor guia meus pensamentos e auxilia a tirar de minhas irmãs esta dor e orienta-las na direção do apoio a esta que amo. Ajuda-me Artemis para que teu povo possa brilhar ao lado do Império como povo livre e justo”

Saindo da água Gabrielle ainda lança seu pensamento para Artemis auxilia-la. Artemis  materializa-se no divã, olhando para Gabrielle com um misto de curiosidade e divertimento.

– “Já com problemas no matrimônio, escolhida?”

Gabrielle vai a seus joelhos e saúda a patrona de seu povo como é devido.

– Artemis.
– “Isso não é necessário Gabrielle, pois sei a reverencia em teu coração”.
– Minha Deusa, eu não sinto um problema entre nós, mas algumas de minhas irmãs ainda guardam ira em seu coração contra Xena, pois não sabem de Seu perdão, nem de que acolheste minha amada entre nós como igual. Suplico tua orientação, pois não é justo que minhas irmãs sigam com esta dor e não sei como auxilia-las.
– “Parece que em tua súplica já encontraste a solução Gabrielle. Já te disse antes que sempre apoiarei nas decisões que tomares seguindo seu coração.  Parece que é serem mantidas no escuro quanto a situação atual que faz tuas irmãs não entenderem completamente tua disposição em perdoar Xena e aceitar sua presença como igual. Torna conhecida toda a situação que tua irmã encontrará uma maneira de lidar melhor com ela. Confia na coragem e lealdade de tuas irmãs Gabrielle e elas não te decepcionarão”.
– Obrigada Artemis.
– “Fica bem Gabrielle e lembra que sempre estarei aqui pra você escolhida.”

Aguardando alguns instantes para acalmar seu coração, Gabrielle veste um peplos branco e vai até a mesa buscar algo de alimento.

– Cora, por favor, chame Assoyde e nos deixe a sós. Desejo falar com ela sem ser interrompida.
– Claro Gabrielle.

Assoyde entra com certa preocupação, pois não era próprio de Gabrielle ser tão formal ao mandar chamar, reivindicando privacidade. As palavras de Cora iam ecoando na mente da agora responsável pela guarda real: “Desejo falar com ela, sem ser interrompida”. Certamente não seriam boas notícias.

– Mandou me chamar Gabrielle?
– Sim comandante. Diga-me sem reservas Assoyde, qual o seu sentimento sobre a Imperatriz? Como você está lidando com o que aconteceu em Esdel, na Trácia e no Palácio? O que pensa sobre a Senhora do Mundo?
– A Imperatriz lutou bravamente na Trácia para preservar nosso povo alteza. Desejo que sua experiência com nossas irmãs seja a mais produtiva possível.
– Tens consciência que apenas a verdade pode circular entre nós, comandante? Artemis seja minha testemunha como questiono de alma limpa e mente sincera, então peço que faça o mesmo Assoyde. Em nome da Caçadora, seja completamente honesta.
– Eu não consigo esquecer Esdel e a inutilidade de tudo aquilo. A dor de Dieynisa, o esforço de Karin no lago ou a humilhação que sofreste.
– Nós estávamos erradas em Esdel e agradeço a Atena sua misericórdia.
– A Conquistadora é um animal Gabrielle. Um animal que fica feliz com a dor e o medo que causa. A situação que ela causou em Esdel levou Leah ao desespero e Solari a agir da única maneira honrada possível, mesmo sangrando em seu coração e chorando em sua alma por sua irmã. Alcançou o máximo da intolerância e quase comete um desatino, salvo apenas pela intervenção da rainha Melosa.
– Nós estávamos erradas em Esdel e foi minha doença que colocou Leah e todas vocês em perigo comandante, não a Conquistadora.
– Peço teu perdão Gabrielle, mas é um erro este monstro solto com nossas irmãs neste momento tão importante para as quatro jovens amazonas que estão entrando na irmandade das guerreiras, em seu ultimo teste.
– Como você enxerga a força das tradições e a confidência na guarda Assoyde?
– Não estou entendendo a questão Gabrielle.
– Você está no lugar e com as funções de Ephiny. Como você assumiria um segredo que nem a ela foi contado?
– Juro pela Caçadora, pela honra de minha família e por minha vida que manterei secreto qualquer coisa que seja revelada alteza.
– Não é necessário Assoyde, apenas peço sigilo absoluto até que saiba como lidar com isso publicamente.
– Assim mesmo, eu juro.
– Quero te contar uma história, a história de uma escrava que se tornou senhora daquela que detinha sua vida e passou a deter sua alma e seu coração. Vou te contar como e porque é importante que a Imperatriz vá nesta caçada.
– Não é necessário Gabrielle. Eu confio em você, apenas fico indignada com o que ela fez e agir como se fossemos aliadas.
– Artemis Caçadora, em sua sabedoria cobrou pedágio sobre a Senhora do Mundo e a Escolhida de Atena colocou-se aos pés da Casa Real, como uma escrava por muito tempo aqui em Corinto. O impensável aconteceu e nos apaixonamos Assoyde, com toda a força que os ditames de Afrodite podem inspirar. Artemis perdoou seus crimes contra a Nação, mesmo aqueles que nem sabíamos que haviam sido impetrados e ela foi aceita na Nação Amazona como filha de Artemis. A Imperatriz da Grécia é uma de tuas irmãs e está sendo testada por Ephiny para entrar na Guarda Real.
– A Comandante Ephiny sabe disso? Quero dizer de seus crimes anteriores, além de ter tornado nossa princesa uma escrava em Esdel?
– Não e nem deverá saber. Artemis perdoou e isso que conta.
– Que crimes foram estes?
– Não vem ao caso comandante. A própria Deusa em pessoa cobrou, puniu e perdoou, aceitando-a na Nação como uma de suas filhas.
– Se Ephiny souber disso vai envia-la para o mais longe possível da Casa Real. Jamais aceitaria na Guarda alguém com um passado assim Gabrielle.
– Ela pagou por ele comandante. Levou minha marca e foi minha escrava desde antes de sairmos para a Trácia. Entrou para a Nação como uma mulher livre e foi aceita. Ephiny sabe disso.
– Aquele monstro forçou você a isso Gabrielle?

Em desespero para que Assoyde entendesse a extensão do perdão da Caçadora e da sua proximidade com Xena a princesa das amazonas trácias dá sua última carta.

– Preste atenção Assoyde: somos casadas com a benção da Caçadora. Artemis em pessoa, a Deusa da sabedoria e Afrodite realizaram nossa união para a eternidade comandante. Eu e a Conquistadora somos casadas pelas leis amazonas e com a benção pessoal da própria Caçadora.

Aos poucos a realidade da situação foi caindo na mente de Assoyde e ela não pode conter o olhar de espanto, desaprovação e aceitação. Todos eles em um mesmo momento.

– Seja feita a tua vontade princesa. Procurarei rever os conceitos para com a Imperatriz e aceita-la como minha irmã e sua consorte, embora não possa garantir que terei sucesso na empreitada, afirmo que farei meu melhor para tentar ver por outros ângulos todo o acontecido e de mente limpa abraçar tua esposa.
– Obrigada Assoyde. Tenho certeza que não farás por menos e se facilita tua busca, pensa que ela salvou a Nação na Trácia e me ama. Artemis nos abençoou e isso por si faz esta união verdadeira aos olhos da Nação. Retoma tuas funções e entenda porque Xena está se submetendo ao treinamento da guarda: por amor a mim e para que possamos ficar mais próximas o tempo todo.  Ephiny não sabe que somos casadas, apenas que ela foi aceita na nação e a quero na guarda, então gostaria que continuasse assim até achar uma maneira de dar a notícia sem chocá-la.
– Será feito como queres Gabrielle e juro que tentarei repensar e reavaliar a respeito da Conquistadora.

Assoyde sai dos aposentos para efetuar seu trabalho e uma princesa mais tranquila busca os braços de Morfeu.