Xena e as jovens amazonas chegaram algumas batidas antes do prazo determinado. Cansada Xena arfava buscando cada vez mais bocados de ar pois o esforço de quase sete marcas de vela transportando um cervo de considerável tamanho tinha exigido muito dela. Ainda com sua carga no alto da colina, ela desceu com Karin, Dieynisa, Deian e Lara ao encontro da capitã amazona. Ephiny as recebe sem ao menos interromper a arrumação de suas flechas e reconhecendo sua presença emite novas ordens.

– Karin! Vocês  devem descansar até o jantar estar quase pronto. Voce não Xena. Deixe sua carga junto à fogueira, vá ao rio e providencie alguns peixes para o jantar. Provavelmente o cervo somente estará pronto para o almoço de amanhã.

Xena parou com o veado ainda apoiado nas costas e olhou para Ephiny. O acampamento inteiro parou e ficou na expectatifva de como a Senhora de Tudo que Vê iria se comportar frente a esta imposição e ordem direta. Ela voltou-se para a fogueira onde seria preparado o cervo e já havia um fosso aguardando o resultado da caçada. Utilizando um sinal imperceptivel para as cinco caçadoras Ephiny indica a três amazonas que deveriam ajudar.

– Eu devo fazer este transporte sozinha, obrigada.
– Já o fez Xena. Nós agimos como um grupo e vamos auxilia-la. Apenas pegue na outra ponta.

Xena aceitou o auxilio entendendo que se tal estava sendo oferecido era por que Ephiny havia autorizado. As amazonas responsáveis pela organização já tinham na fossa troncos em brasa e toda a estrutura para assados. Juntamente com suas tres ajudantes, ela largou com cuidado sua presa que imediatamente passou a ser preparada.

Sozinha, foi caminhando em direção ao rio, até ouvir a voz de Ephiny chamando-a para uma maior velocidade:
– Agora Xena! É para o jantar e não desjejum!

Xena dispara em uma corrida desenfreada, detendo-se somente quando chegou na beira do rio. Ali estavam esperando alguns ferros torcidos presos em linhas e uma rede pequena. Desprezando os equipamentos Xena entra na água e começa a pescar na maneira que fazia quando era jovem, usando as mãos como isca. Calculando dois peixes para cada amazona Xena se esforça para entrega-los todos na fogueira antes que a lua esteja em seu meio caminho para a subida. Sua presença mais tranquila com o cordame de peixes junto à fogueira é reconhecida e deixando os animais no gramado baixo,  correndo vai se colocar a disposição da comandante totalmente molhada até a cintura.

– Ao seu comando capitã.
– Certo. Busque uma árvore e descanse Xena.
– Ao seu comando, capitã.

Xena estava cansada e com fome. A sede estava pregando peças na Conquistadora, mas ela não iria se entregar. Não ainda. Não tão cedo.

Estes testes de Ephiny apenas serviam para que ela revivesse alguns momentos de sua jornada, o início do Império. Um tanto leve, Xena começa a recordar.

“Um dia de verão, logo após vencer Corteze, Xena e seu grupo começavam a formar um cinturão em torno de Amphipolis. Seu exército já estáva de consideravel tamanho e era quase sete vezes maior que o de Corteze. Estavam a algum tempo cavalgando no vale, fazendo acampamento próximo ao rio Silion e ela estava satisfeita que seus padrões de recrutamento foram mantidos e os responsáveis pelo princípio de incêndio em Cirra foram devidamente punidos. Os que fizeram tentativas de estuprar foram emasculados pessoalmente por ela antes que as cruzes fizessem parte da paisagem. O verão que sucedeu Cirra trouxe alguma dificuldade para encontrar caça e os peixes fizeram uma importante contribuição ao cardápio tendo sido feita uma tradicional pasta com trigo, mas não era suficiente. A população do último povoado dividiu com eles algo que tinham, mas Darphus tentou fazer um levante e insubordinação entre seus homens, querendo uma votação para decidir quem levaria o exército. Defendia entre outras coisas que os homens deviam ter o direito de usufruir das mulheres e não apenas do trigo e outros víveres. “Afinal não só de pão vive o homem”, havia sido uma de suas frases mais repetidas. Enquanto ela tinha ido com um grupo de batedores para o sul em uma de suas excursões para  sondar o terreno, Darphus e seus seguidores seguiram para o norte e em seu nome começaram a destruir um povoado. Ela chegou com o grosso do exército e seu grupo de confiança que daria origem aos Falcões. Colocando homens em posição estratégica arrebanhou mulheres e crianças em um prédio para protege-los. Mandou executar um jantar regado a vinho, garantindo que Darphus e seus principais oficiais estivessem em sua mesa. Rindo e contando o resultado de sua excursão fez o vinho circular cada vez mais rápido e em maiores quantidades.
– Senhores! Que todos saibam que as regras neste exército irão mudar. O meu tenente Darphus tem deixado sua discordancia com a forma que eu uso decidir as questões ou o objetivo maior de nosso exército. Hoje a noite irei recompensar cada um conforme seu merecimento e nós somos guerreiros, devendo ter a devida recompensa. Amanhã distribuirei a cada um o premio que lhe compete por seu esforço. Na manhã seguinte Xena acordou como sempre fizera e reunindo os homens nas colinas desafiou Darphus para um combate pela liderança do exército.
– Pelas minhas costas Darphus tramava expulsar-me de meu exército, de meu comando. Vocês devem decidir agora se são um bando de malfeitores como Corteze e Krikus ou homens de honra! Vocês são guerreiros ou vermes!
Os homens se olham e Xena está preparada. Aqueles que apoiaram Darphus tentam sacar suas espadas, sendo contidos por soldados em toda parte. Xena continua sua explanação:
– Ouvi que um complô contra sua comandante estava sendo organizado. É insubordinação. Organizar tal complô é traição e não são permitidos no exército. Meu exército. Nosso exército. Darphus sua única chance de sair desta com vida é me vencer num combate. Reuna seis de seus oficiais traidores e venha!
Darphus sabia que era sua única chance e os sete homens cercaram sua comandante e fizeram a melhor investida que conseguiram, mas não eram páreo para Xena que simplesmente ia fazendo corte sobre corte nos homens a sua frente. Era tal sua perícia que nenhum órgão vital foi afetado, mas os homens não conseguiam mais segurar a espada ou manter-se em pé com um equilíbrio mínimo adequado para um duelo. Darphus estava sem conseguir mover os dedos e segurar a espada, pois em um jogo de empunhadura  Xena esmagou os dedos daquele que havia sido seu braço direito. Em pouco tempo todos estavam desarmados e no chão. Ela então voltou-se para seus homens.
– É isso que voces querem à lidera-los?
Aos poucos um clamor foi subindo pelas colinas e se perdendo nas rochas, matas e campos como um hino de louvor à maquina de guerra que era garantia de vitória.
– Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena! Xena!”

Em meia marca de vela o jantar estava pronto e os peixes foram distribuídos, ficando Xena sem nenhum peixe.

– Parece que uma aspirante não sabe contar.

Xena não fez um movimento, moveu um músculo ou disse uma palavra. Se Ephiny imaginava que ela iria protestar estava totalmente enganada. Fechou os olhos e procurou meditar como Lao Ma ensinara uma vez e quando abriu os olhos ela tinha quatro partes de peixe na folha a sua frente. Deian estava oferecendo uma folha com partes de peixes.

– Nós caçamos como um grupo Xena e iremos nos alimentar como um grupo. Não sabemos o que aconteceu com seu jantar, mas uma companheira de caçada não irá passar fome em nosso grupo.
– Obrigada Karin, mas não quero que vocês  tenham problemas.
– Sem problemas. Isso é nosso e faremos o que for de nosso agrado. O que não é proibido, está permitido. Coma.

Sem esperar mais Xena começou a comer, intrigada com o fato de Ephiny não considerar desrespeito a sua ordem. Ela consideraria e não deixaria passar assim.