Voltando às salas de honra Vidioni e Aurea transmitem às mulheres de Atenas a voz da Caçadora. Aurea se surpreendeu com a força daquela jovem que tinha ido ao templo e falava no palácio, pois era sabedora que somente a Conquistadora falaria com tal autoridade no império e na casa da deusa, como escolhida de Atena.

Olhando brevemente para cima, vislumbrou de forma rápida uma mulher de cabelos avermelhados e olhos verdes ao lado daquela que falara com a Grande Sacerdotisa no inicio da manhã trazida por duas Falcões do Império.

Aurea começou a explanação sendo seguida por Vidioni.

– Ylevana de Atenas, eis a palavra da Filha de Leto: devem narrar quatro contos e se tal for o mérito, que a Caçadora se compraza, te tornarás hóspede desta casa e tu e tuas irmãs irão ao palácio na segunda noite a contar de agora quando poderás solicitar uma audiência com a Imperatriz.
– Ouviremos suas vozes atentamente mulheres de Atenas e então será decidido. Se não houver mérito aos olhos da Sagrada de Delos, vocês serão convidadas a não mais buscar sua intervenção nem buscar o caminho da Real Academia de Bardos de Atenas.
– Assim seja feito. O que gostariam de ouvir?
– De vocês será a escolha e nossa a decisão. Nosso julgamento começará agora, mas comecem quando estiverem prontas.

Sentando-se nos divãs e sendo servidas de frutas e vinhos, ambas as Sacerdotisas se preparam para uma atenta audiência e as demais noviças acomodam-se no chão a seus pés, sendo que em nenhum coração flutuava a inveja pela posição que Aurea havia alcançado.

Ylevana olha para suas irmãs e orando para Artemis lhe entregar o dom da palavra, dá inicio à apresentação de suas vidas. Tinham certeza que somente com o apoio do templo de Artemis em Corinto  teriam ao menos uma chance de serem recebidas pela imperatriz em condições de defenderem seu caso.

-“Canto o amor entre dois irmãos e a formação de um povo corajoso e suas terras. Muitas luas após seu nascimento Apolo e Artemis estavam a competir com seus arcos sobre qual teria mais alcance e equilíbrio. O arco de ouro que Apolo recebera de seu pai ou o de prata que Artemis também ganhara do Tonante.
Alvos fixos, móveis ou longínquos não escapavam do olhar e pontaria dos gêmeos de Delos. Apolo  instigou a virgem caçadora a uma competição de tiro simultâneo onde ambos, de seus astros, lançariam setas ao mesmo tempo. Artemis determinou que para a competição ser justa não haveria visitas para Endimión, mas lançariam flechas no mar, com a permissão de Poseidon, o sacudidor da terra. Juntos acordaram que conseguiria o feito aquele que criasse o ambiente mais útil aos homens que nele fossem estabelecer-se e a própria Atena faria o julgamento da disputa. Aquele que tudo vê armou seu arco e a seta disparou que foi sumindo no mar. No local surgiu uma ilha de terra vermelha como seu carro ao ser guardado, árvores frondosas, animais exóticos e algumas montanhas. Artemis lança sua seta que após tocar levemente o solo da ilha, submerge bem próximo a ela. Nos locais onde a flecha da Caçadora tocou o solo foram sendo criados rios, córregos, lagos e cachoeiras com vegetação rasteira, muitas plantas medicinais. Circundando a ilha criou alguns viveiros para peixes com corais em algumas enseadas, mantendo ligações entre si e algas permeavam alguns espaços, com a navegação de fácil trânsito em cabotagem e também enseadas que tinham praias de areias brancas. Mangues povoados por pequenos animais propícios para alimentação dos homens que se fizessem ao mar para buscá-los. Assim surgiu a ilha de Ítaca, terra de Odisseu que lutou em Tróia, filho de Laerte. Foi formada a ilha abençoada por Atena nos instantes em que Hélios e a lua estavam alinhados e a terra escureceu ainda no meio do dia levando medo ao coração dos homens. Nike a deusa da vitória sorriu para Artemis, deusa da lua e do parto; protetora das mulheres; das crianças e das amazonas, suas filhas bem amadas.”