Na manhã seguinte, perto da descida do carro de Apolo, a cada batimento cardíaco a Senhora do Mundo estava entendendo mais a lógica do mundo da guarda real amazona. Squiona determinara que ela encontrasse Lara e Deian que foram cobrir o  posto mais ao sul das matas a  procura de uma pedra verde e não haviam retornado.

Naquele lado das matas havia um terreno com algumas formações subterrâneas e Xena temia que as jovens tivessem caído em algum poço. Particularmente indo quase a sudeste na mata o terreno era coberto por arvores antigas que testemunharam sua grande estratégia para conquistar Corinto. A tradição rezava que a amazona ao completar seu primeiro ciclo e ter decidido seu destino deveria oferecer à Casa Real um presente alusivo ao entrar na etapa adulta.

As jovens amazonas eram hábeis em ocultar seus rastros, mas ela não fora a escolhida de Ares sem ser capaz de encontrar sua presa

Um galho manchado de sangue indicava a direção e velocidade das filhas de Artemis e pelo frescor do sangue sabia estar no rumo certo sendo evidente que não faziam cinco marcas que estiveram ali. Ela sabia que próximo às termas e ao lago a sudoeste da nascente do rio do Vale da Paz havia uma jazida mais profunda de pedras, mas esperava que elas não estivessem ali, pois havia mandado instalar armadilhas para impedir a exploração dos túneis naturais e ampliados que descobriu e usou como forma de chegar às reservas de água da cidade.

Acalmando sua corrida Xena concentrou sua audição para identificar a direção dos sons misturados que chegavam confusos. Uma voz humana, gemidos e um rosnado cada vez mais longo.

Reconhecendo a voz de Lara, saindo em disparada a Conquistadora consegue subir o leve aclive e do alto divisa três vultos posicionados como num jogo de xadrez. Lara ofegante apontava sua espada para um imenso cão negro enquanto segurava seu braço que parecia ferido. Os olhos vermelhos do cão indicavam que as amazonas estavam convidadas para o jantar, sendo inseridas como prato principal da refeição. O grande cão estava cada vez mais próximo e salivando por antecipação. A postura indicava boa base, mas a menina não era páreo para o inimigo a sua frente. Um lobo faminto.

O lobo estava cada vez mais agressivo e Xena emitiu um assovio longo seguido de três curtos e outro longo. O lobo voltou sua atenção para este chamado e Xena saltou caindo virada para ele, na frente de Lara. Colocou o joelho direito no solo e estendeu a mão direita para a fera. Não era um lobo, mas uma loba e foi dando mostras de acalmar seus rosnados e achegando-se como um filhotinho fazendo demonstrações de alegria.

– Senti sua falta também Rakishin. Lara guarda tua faca e erguendo-te em toda tua altura busca atender Deian. Rakshin não fará mal a vocês.

Olhando nos olhos do animal Xena abre o sorriso e após um comando a loba imediatamente deita-se colocando o focinho entre as patas, aguardando algo. Xena vai até Deian verificar seu estado, aproveitando para avaliar o braço de Lara.

– O que aconteceu?
– Entramos na segunda caverna onde vislumbramos um indicativo das pedras verdes, aquelas pedras brilhantes incrustadas nas avermelhadas e conseguimos pega-las quando este animal nos atacou. Talvez o cheiro de sangue tenha atraído sua atenção, pois eu raspei em uns espinhos algumas marcas atrás.

Preparando uma infusão de musgo vermelho com folhas de hitínia e água Xena alcança para Lara.

– Quando Deian acordar força ela que beba lentamente e permaneça com a cabeça erguida, sentada de preferência. Percebendo a maneira que Lara olhava para a loba Xena resolve dar uma explicação.
– Rakshin, vem cá!

A conquistadora agrada o animal falando algumas palavras na língua dos homens das estepes enquanto ia percebendo como ela está magra e possivelmente faminta.

– Rakshin foi encontrada ainda filhote em uma de minhas caçadas e este lado dos bosques é reservado. Em qual caverna vocês tentaram entrar Lara?
– Na segunda à esquerda da hitínia alta.
– Rakshin veio de lá?
– Sim. Perseguiu-nos como se fossemos sua próxima refeição.
– O que você tem ali Rakshin?

Falando com o animal Xena emitiu dois comandos e imediatamente a loba se ergueu com as orelhas em pé.

– Vou a caverna ver o que acontece lá que a deixou tão zangada com vocês.
– Certo Xena.

Emitindo mais algumas palavras para a loba Xena começou a andar na direção da caverna. No fundo da caverna alguns pequenos olhos contemplaram seis pés de Conquistadora parada à sua frente. Rakshin apenas protegera aqueles que lhe eram caros como qualquer guerreiro faria. Xena voltou para junto de Deian e Lara, estabelecendo uma linha de ação mais clara quanto ao que fariam a seguir.

– Como você está Deian?
– Agora estou melhor, obrigada Xena. Lara me falou que você conhece a fera que nos atacou.
– Rakshin é minha amiga desde que era filhote e ela não atacou sem motivo, pois seis pequenos lobinhos na caverna indicam que ela apenas defendeu a família.
– Bom, sendo assim eu não vou fazer grave juízo de sua amiga. Como você veio parar aqui?
– Recebi ordens de encontrá-las. Conseguiram o que buscavam?
Deian abre a mão esquerda e duas enormes esmeraldas faziam par, lembrando os olhos luminosos de Gabrielle.
– Você consegue levantar?
– Creio que sim.
– Melhor aguardar até ter certeza.

Repentinamente Xena se dá conta de que estava falando com as jovens como iguais e reformula suas próximas palavras e o tom usado.

– Se vocês permitirem sairei para trazer algo para Rakshin comer. Pelo estado dela, não tem se alimentado muito, mas levarei ela de volta pra caverna para ficarem seguras.
– Tudo certo Xena, você tem nossa permissão pra isso e o que mais for necessário para sua amiga.
– Obrigada e, por favor, não saiam daqui. As cavernas são cheias de armadilhas e alguma parte da mata também.
– Vimos algumas quando chegamos, mas conseguimos evitá-las.
– Havia várias daquelas pedras com brilho e fomos seguindo sua trilha para a caverna das esmeraldas e conhecermos sua amiga de quatro patas Xena.

Xena saiu e facilmente voltou com quatro coelhos proporcionando para Rakshin uma boa refeição.

– Vou cuidar de vir vê-la mais vezes menina.

Deian apoiou-se em Lara e buscou seu punhal que ficara encravado na Hitinia e as três amazonas chegaram tarde da noite ao acampamento. Era quase amanhecer quando Deiam apresentou as esmeraldas para Ephiny que comandou Taíra a atender os ferimentos enquanto solicitava relatório.

– Xena encontrou-as e reconheceu sua posição ou ficou agindo como a Conquistadora Lara?
– Xena portou-se dignamente como qualquer de nossas irmãs faria comandante.
– Vão descansar e quando o carro de Apolo surgir nós iremos buscar este animal que feriu nossa irmã. Será um interessante troféu.

Xena não diz nada e apenas cerra os dentes, assumindo a posição dura e máscara impenetrável da Conquistadora, seu olhar brevemente cruza com o de Lara e Deian e ela eleva uma prece à caçadora.

“Seja o que tiver de ser Artemis, mas se for possível poupe esta força da natureza que em nada engrandeceria este teste ou minha comandante. Farei como ordenado, todavia se for de seu agrado, poupa Rakshin e seus filhotes.”

Era o máximo que Xena ousaria por um animal que não via a anos. Nenhuma resposta foi manifestada e a Senhora do Mundo que dizimou cidades inteiras, sentiu por um animal selvagem.

Como as cinco amazonas estavam sendo testadas na expedição, Ephiny decidiu que iriam dormir em fogueira própria, formando um grupo interessante, a Conquistadora e uma jovem trial.

Karin e Deiynisa cuidaram deste item doméstico e tudo deveria estar perfeito para o retorno de suas irmãs.

– O pano para vocês secarem o corpo está sobre seus cobertores e o seu sobre a pedra Xena.
– Obrigada Dieynisa.
– Karin fez um ensopado de coelho e nós estávamos esperando para comermos juntas.

Xena apenas pegou sua toalha e dirigiu-se ao rio, entendendo que havia sido comandada a banhar-se. Lara não estava conseguindo levar Deian até o rio e nem Dieynisa ou Karin se aperceberam da dificuldade, então a Conquistadora tomou Deian nos braços e conduziu-a até as águas, lavando a jovem amazona, depositando-a depois junto a fogueira.

– Xena.
– Sim Deian?
– Obrigada.
– Sem problemas.
– O que você vai fazer?
– Sobre o que Lara?
– Sobre Rakshin?
– Farei exatamente o que a capitã ordenar Lara, ela representa a princesa e sua palavra não deve ser contestada. Mesmo que assim não fosse, ordens são ordens.
– Esta ordem está errada. Nós que invadimos sua casa.
– Ainda que pense assim, deve ser obedecida. Tudo que podemos fazer é rezar para que a caçadora modifique a mente da capitã e obedecer exatamente o que for ordenado.

As duas jovens fazem exatamente isso, sendo três amazonas rezando ao mesmo tempo para a deusa da lua e seus pensamentos preenchiam a noite. Era um canto de amizade e talvez Artemis ouvisse.
Artemis sentiu o pensamento das três mulheres e estava enxergando nas águas esta união interessante de emoções quando Atena  surgiu a seu lado.

– O que pretende fazer irmã?
– Sobre?
– Sobre a loba.
– Vou permitir que viva, entretanto sua Escolhida enfrentará Ephiny.
– São mulheres de fibra. O que mais precisas testar?
– Realmente? Mais nada, mas me agrada demonstrar às minhas amazonas que a Conquistadora mudou e se tornou uma delas.