Epílogo 

Abro meus olhos, não em sobressalto, mas tranquila e sem pressa. Deitada de bruços, visualizo a pele macia que forra minha cama. Não mais o chão duro de uma caverna ou um catre de enfermaria, mas um local de conforto. Um feixe de luz entra por uma fresta da janela anunciando que um dia novo, de trabalho intenso, se inicia lá fora. Saboreio a sensação que o corpo nu de Eve parcialmente cobrindo o meu próprio me causa e me deleito por alguns segundos com as memórias da noite anterior.   

Vejo o pergaminho dado por Gabrielle, ainda fechado na mesa de cabeceira e estico meu braço para alcançá-lo, o movimento é o suficiente para que Eve desperte. Ela rola para o meu lado e afunda o rosto em meu pescoço. 

-Bom dia, Rainha Amazona – ela resmunga preguiçosamente se aninhando em mim. Confesso que a tentação de permanecer ali por algumas horas é enorme, mas não posso falhar com meus deveres de Rainha no primeiro dia. 

-Bom dia, minha heroína. O que acha de abrirmos o presente de Gabrielle e depois iremos tomar um café da manhã dos campeões? 

– Estou bem aqui. – Ela resmunga contra meu pescoço, rindo – Mas tudo bem, o dever nos chama. 

Nos sentamos na cama, enroladas por lençóis de linho e eu passo meus braços ao redor dela esperando. Eve pega o pergaminho de minhas mãos e o desamarra. 

 

“Não sou a primeira pessoa que você amou. 

Você não é a primeira pessoa para quem olhei. 

Ambas conhecemos a perda, como a beirada afiada de uma faca. 

Ambas parecemos ter mais cicatrizes do que pele. 

Nosso amor veio sem anúncio, no meio da noite. 

Nosso amor veio, quando havíamos desistido de pedir que o amor viesse.  

Acho que deve ser parte do seu próprio milagre. 

É assim que nos curamos. 

Eu te beijarei como o perdão. 

Você me abraçará como esperança.  

Nossos braços nos atarão, e guardaremos promessas 

entre nós como flores dentro de um livro. 

Eu escreverei sonetos para o sal do suor de sua pele. 

Eu escreverei histórias sobre a cicatriz em seu nariz. 

Eu escreverei um dicionário com todas as palavras que tentei 

usar para descrever como me sinto ao finalmente encontrar você. 

Não temerei suas cicatrizes 

Sei que às vezes é difícil você me deixar te ver em toda sua  

perfeição quebrada. 

Mas saiba, por favor… 

Seja nos dias em que você arder mais do que o próprio sol 

|Ou nas noites em que você se desfizer em meus braços 

Com seu corpo quebrado em milhares de perguntas 

Você ainda será tudo que tenho de mais belo. 

Eu te amarei quando você for um dia calmo. 

Eu te amarei quando você for um furacão.” 1

 

Para Eve e Varia. 

 

 1 – O poema acima chama-se A Mouthful of Forevers, da escritora Clementine Von Radics. Tradução livre.