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1510! 1510!

Seu coração começou a bater fortemente enquanto se dirigia a pequena porta situada a uns 30 metros de onde havia estado as últimas 5 horas. Por um lapso de tempo à idéia de sair correndo em direção contraria cruzou tentadoramente por sua cabeça. Olhou uma vez mais o número preso a seu pulso, esperando que talvez o tivesse memorizado mal, ou talvez apenas para escapar das centenas de olhos os quais era centro das atenções nesse momento, ou somente para concentrar-se em algo diferente do que suas pernas a levavam a fazer. Por algum motivo essa porta estava se convertendo em algo realmente terrível, a imagem da consulta ao dentista cruzou fugazmente seus pensamentos.

-Em que estou me metendo…Fez uma pequena pausa e inspirou ar antes de entrar no lugar.

Fez uma rápida vistoria, a sala era pequena, de cor clara, e havia um desagradável cheiro impregnado no ar, que fazia do ambiente bastante denso. Avançou a curta distância que separava a porta da pequena tarimba, adaptando a postura e o caminhar mais seguro que foi capaz de projetar seu corpo nesse momento, o qual não era nada fácil para suas pernas, que se empenhavam em tremer.

-Boa tarde. Seus verdes olhos percorreram as formas de cinco pessoas que estavam sentadas na sua frente, um tímido sorriso cruzou seu rosto enquanto era objeto de um incômodo exame visual, do qual não estava segura de como estava sendo qualificada.

Um dos entrevistadores, uma senhora de uns quarenta anos, de pele morena, cabelo castanho escuro e modos finos, com um sorriso pintado no rosto, porque de natural não tinha nada, e que parecia ser a que dirigia tudo, foi a primeira a falar.

-Diga-nos seu nome, idade, faça um pequeno resumo sobre si mesma, e o porquê de estar aqui. Ao pronunciar a palavra aqui, o fastio em sua voz foi muito notável, e foi vítima do olhar de advertência de um de seus companheiros, o qual foi camuflado debaixo que outro não muito natural sorriso.

-Bem, meu nome é Gabriela. Aiii deus…Se pretendo entrar nisso, tenho que trocar este tonto tom de voz urgentemente.

Tinha sentimentos encontrados, nunca foi difícil se comunicar com as pessoas, qualquer que fosse a situação sempre tinha uma palavra justa, e seu poder de convicção era incrível, mas a pergunta era: Quer realmente se meter nisso? A imagem da carinha de gozação de sua irmã apareceu vivamente em seus pensamentos, quase podia ouvi-la dizendo: “eu sabia, não foi capaz!” Aquilo lhe deu um impulso extra e decidiu que não sairia dali sem ter feito seu melhor esforço, depois de tudo, a possibilidade de ser escolhida era bastante remota, uma entre 5000 talvez, talvez menos que isso.

Limpou a garganta e olhou diretamente nos olhos das cinco pessoas, cuja impaciência aumentava a cada milésimo de segundo que corria o tempo. O homem de meia idade, o qual estava sentado a esquerda da senhora de quarenta, estava golpeando o chão com seu sapato de uma maneira nada agradável, e os outros dois jovens, um jovem e uma jovem, cuja idade não superava vinte e sete anos não ficavam atrás, ambos batiam seus dedos na mesa, enquanto a mulher abanava a cara com um caderno com espirais em cuja capa havia um pato Donald franzindo o cenho. A similaridade do gesto era tanta entre a caricatura e ela, que Gabriela teria rido com gosto, se isso fosse em outra situação.

O quinteto era completado por um rapaz ainda mais jovem, um condutor de tv, cujo programa era um dos mais vistos pela juventude chilena, não precisamente por sua contribuição intelectual. A olhou dos pés a cabeça de uma maneira nada profissional, Gabriela podia jurar que o jovem estava observando alguma parte íntima dela, inclusive a fez duvidar que havia baixado bem a saia depois de haver feito uma visita ao banheiro após essa larga e fastidiosa espera. Baixou dissimuladamente a vista e verificou que estava tudo em ordem, sua saia jeans azul escuro estava situada corretamente em suas cadeiras caindo por suas coxas e até um pouco mais abaixo dos joelhos, e a sua blusa vermelha cobria seu torso corretamente, só deixava ver sua cintura e o piercing que mostrava orgulhosamente em seu umbigo, que depois de suportar os gritos e reclamações de seus pais por dias, por haver feito semelhante ultraje com seu corpo – palavras textuais de seus progenitores cujo conceito de ultraje seguramente não havia chegado a seus ouvidos quando Gabriela não havia cumprido ainda um ano e já lhe haviam furado os lóbulos das orelhas sem seu consentimento – havia decidido realsar na mesma medida que fosse possível.

-Tenho dezenove anos…

-Sim, que bom. E conte-nos que está estudando?

-Nada. Sou tarotista, a isso me dedico, talvez me especialize em numerologia e…

-Oh, mas conte-nos sobre seus estudos reais, que carreira pensa em seguir?

-Reais? Para vocês, isso não é real?

-Bem…Sim, mas e seus pais? Que acham disso?

-Têm o mesmo conceito de real que vocês. Suponho.

-Está bem e conte-nos. Por que você deveria ser uma das escolhidas? Por que você decidiu vir?

Estava se sentindo realmente incômoda, e desejando com todo o coração não ser selecionada, seu desagrado estava estampado na expressão de seu rosto. Isto estava sendo pior do que havia imaginado, que loucura. Em que estava pensando quando aceitou tentar semelhante estupidez? Estava quase certa que poderia voltar tranqüilamente a sua casa nesse dia, era impossível que essa gente a selecionasse, precisamente a ela, assim que dava no mesmo.

-Para ser honesta, não me interessa estar aqui. – Começou dizendo. Se antes pensava que era uma loucura, agora penso que é uma grande loucura, e se vim, foi por uma simples aposta que fiz com minha irmã. Fiz um comentário sobre este tipo de programa, e ela me disse que de maneira nenhuma eu seria escolhida em algo assim, eu lhe disse que claro que seria, e ela me disse que não, disse-lhe que sim. Ela me desafiou, e aqui estamos, isso é tudo. Já posso ir?

-Está pré-selecionada, por favor, espere lá fora daremos os resultados dentro de uns minutos.

O queixo lhe caiu, olhou incrédula aos cinco pares de olhos, e saiu da pequena sala, ainda insegura de ter ouvido bem.

Pré-selecionada? Como pré-selecionada? Por quê?

-Bem, esta serve, é linda, e com muitas ganas de chamar a atenção de seus pais, também o fará lá dentro, e finalmente… É linda.

Foi conduzida até outra porta diferente da que havia entrado, e saiu por ela ainda duvidando do que acabava de acontecer até uns segundos atrás, ainda devia passar uma etapa mais e certamente nessa não teria nenhuma chance, e além do mais por que devia se preocupar? Ia mesmo embora dali, não seguiria com isso. Diria a sua irmã que ela tinha razão e ponto.

-Estamos ao vivo para as notícias. Deu um salto ao ouvir a voz masculina praticamente gritando em sua orelha. Levantou a vista até a câmera que apontava até ela a meio metro de seu rosto.

-Que saco?…

-Como se sente em estar entre os semifinalistas? O homem tinha um microfone na mão e apontava para sua boca, enquanto a olhava com um sorriso de orelha a orelha, como se fosse um parente seu e ela tivesse acabado de ganhar a sena.

Nesse precioso momento sabia que quaisquer possibilidades de escapar do problema em que acabava de se meter eram nulas, e teve uma tentadora visão de si mesma agarrando o pescoço do jornalista escandaloso por ter acabado de afundá-la no que ela mesma havia se metido.

Vamos, Gabby dê seu melhor sorriso para câmera, o que pode ser mais humilhante? Ficar como uma covarde diante de sua muito insuportável irmãzinha escapando-se disso, sair com cara de merda na televisão, ou depois de ter ficado entre os pré-selecionados terminem não a escolhendo. Meditou nas possibilidades com que contava. Saco… É demais para meu ego.

-Maravilhosamente bem. – respondeu, sentindo-se de tudo, menos maravilhosa. E quando o fastidio começava a refletir em seu rosto, o jornalista retirou o microfone e se dirigiu a sua seguinte vitima.

-Olha pensei que estava feliz por mim. Enfim, vamos esperar o feliz resultado, o qual será um grande “quase que você conseguiu” e voltarei para casa e suportarei os risos daquela insuportável pelos próximos cinco meses, claro, se tiver sorte. Ai não, a insuportável já me viu na tela. Virou os olhos e suspirou com resignação ao ver quem estava a chamando.- Não tenho a menor vontade de falar com você irmãzinha, tchau. Colocou o telefone de volta onde originalmente estava.

Agarrou firme sua mochila, arrumou os fones de ouvido e pressionou o play de seu discman. Disc”man”, maldição por que tudo tem que se falar no masculino? Pergunto-me se os homens seriam capazes de suportar tudo no feminino, mmm, impossível…Para sentir-se como pessoas precisam dos títulos e dessas coisas. Os acordes de uma guitarra que havia escutado mil vezes começaram a soar em seus ouvidos. E eu aonde ia? Ah sim, esperar pelo grande resultado, grande, mas não sem antes ter me vitaminizado com uma boa dose de calorias.

Deixou o recinto, e sentiu uma agradável sensação de liberdade, olhou seu relógio, eram 4:00hs da tarde em ponto, virou a cabeça para a direita, logo para a esquerda, e bingo! Vamos para lá.

-Boa tarde? – Lhe sorriu o senhor que estava dentro do pequeno quiosque, recebeu um gesto com a cabeça como resposta. Tem pinguinos? Para que ia negar, era uma gulosa de primeira, e esse biscoitinhos de chocolate estavam definitivamente liderando sua extensa lista de guloseimas favoritas. Estendeu as moedas, e recebeu em troca o pacotinho azul que continha o delicioso manjar que agora mesmo conduzia diretamente a seu estômago, e por que não admitir, a suas cadeiras.

Decidiu esticar um pouco as pernas antes de voltar ao lugar em questão, o dia estava particularmente ensolarado, e não faria mal conseguir pelo menos que corasse as bochechas, que bastavam bastantes pálidas e não queria terminar o verão estando muito branca.”Vamos furinho na camada de ozônio, faça seu trabalho”, pensou enquanto dava uma mordida no doce.

-Standing in line to see the show tonight. Cantarolava, enquanto se preparava para dar sua segunda mordida no doce, mas sua mão só chegou à metade do seu caminho e soltou sua carga por um golpe ao mesmo tempo em que sentia um puxão em seu braço. A música deixou de soar e em seu lugar o som do ambiente da rua chegou a seus ouvidos, antes de ouvir o ruído do discman caindo no chão, olhou o braço onde segundos antes carregava sua mochila.

-Hey! Minha mochila!..Maldito…Se agachou rapidamente resgatou o objeto caído e saiu correndo atrás do menino que já se havia perdido pela esquina. Saco…que tinha ali? Dinheiro? Bem, não muito, celular, um outro cd e os documentos, maldição. Se seu coração batia forte quando ia a caminho daquela porta até menos de meia hora, agora meditou na possibilidade de estar tendo um ataque, porque sentia que ele ia sair pela boca.

-Alguém, pare-o! Ele levou minha mo… Antes de terminar a palavra jazia sentada na calçada sentindo uma tremenda dor nas suas nádegas, depois de ter se chocado contra algo ou alguém…

–Você perdeu isto? – Sua vista se elevou até encontrar-se com o objeto que lhe havia sido arrebatado, pegado a uma mão que definitivamente não era do ladrão, logo se dirigiu ao rosto da figura que era dona dessa mão. Do ângulo do chão onde estava não conseguia distinguir bem sua aparência, seus olhos estavam ofuscados pelo brilho do sol, lógico que foi pelo sol, embora por um instante se questionou se as pessoas pudessem ser capazes de ofuscar ou não a visão de alguém.

Vai, vai, que loucura se pensam quando se é vítima de roubos.

-Você está bem? A voz foi se aproximando enquanto a figura se agachava de frente a ela. Um pensamento cruzou por sua mente, era a voz mais linda que havia ouvido em sua vida, segura e suave ao mesmo tempo, e inclusive havia conseguido perceber um toque sensual nela.

E desde quando me preocupo em analisar as vozes das pessoas? Espera um momento, desde quando acho sensuais as vozes femininas? Levou uma mão na cabeça tentando comprovar que não a havia golpeado sem se dar conta.

-Golpeou a cabeça?

Negou insegura, e sua própria mão aceitou a que estava sendo estendida. Num instante estava parada novamente, percebeu o contato da mão que sustentava a sua, e notou que sua própria mão estava suando frio, um mal-estar a invadiu repentinamente e sentiu um estranho sentimento de desamparo quando o contato se desfez, seus olhos baixaram para olhar sua palma e logo se elevaram para enfrentar o rosto da desconhecida que ainda permanecia de frente a ela.

Uns olhos azuis a estavam olhando atentamente, diretamente a seus verdes, começou a ver nublado, a tontura voltou a invadir e sentiu a estranha sensação de estar olhando-se a si mesma nos olhos da mulher em frente a ela. Sentiu um cosquinha na bochecha e levou uma mão até ela com a intenção de parar a sensação, mas em vez disso seus dedos se umedeceram ao contato de uma lágrima que rodava por sua pele.

-Estou bem, só um pouco assustada. – respondeu enquanto deslizava os tirantes de sua bolsa pelos seus braços e os deixava descansar em seu ombro direito. E um pouco trêmula. – conseguiu esboçar um pequeno sorriso e se sentiu estranhamente envergonhada.

-Olha tenho que ir agora mesmo estou atrasada para um assunto, mas posso chamar um táxi para que a leve para sua casa se quiser.

Nesse momento Gabriela notou que a jovem era bastante alta, muito mais alta que ela, cuja altura não devia passar de um metro e sessenta.

-Eu…Espera. – Disse ao ver que a jovem já começava a discar um número no celular. Tenho que acertar algo nesse lugar. Disse apontando com a cabeça até o recinto de onde se havia maldito momentos antes de ter deixado. Apesar de dizer a verdade…

-Bem, então suponho que temos o mesmo destino. – Ao terminar a oração já se encontravam ambas frente à entrada.

-Quer dizer que está pretendendo…?

Atenção! Agora vamos dizer os número das sete pessoas selecionadas, por favor, apresentem-se com seu número quando forem chamadas. Atenção! – A voz retumbava por um alto-falante e chegou até onde elas estavam.

-4301, 389…

Gritos de júbilos começavam a ouvir-se de diferentes setores do grande ginásio onde havia já menos jovens que antes, os quais seguiam correndo até a porta do fundo de donde vinha a voz.

-130, 2784, 100…

Logo se encontrou com um número 100 quase pegado a seus olhos, e logo com um gesto de ganhador a dona desse número.

-Oh deus meu, está? Está dentro? – saiu correndo atrás da jovem alta, que abria caminho entre a multidão. Espera! Não me disse seu nome.

-690 e por último… 1510.

Uma expressão de desilusão se ouviu em um só coro.

-Espera, por favor! – Por um momento desejou com toda sua alma estar dentro dos selecionados. Como que estar dentro dos selecionados? Estou ficando louca, não me fazem nada bem os roubos, há alguns minutos tinha decidido ir embora desse maldito lugar fosse qual fosse o resultado, e agora considerando a possibilidade de …1510? Procurou torpemente o número em seu pulso, enquanto que agora seu coração estava saindo pela boca. E o número, onde deixei o número? Ah meu deus.

Ia abrindo caminho entre a multidão de jovens decepcionados e até com lágrimas nos olhos. Isto é patético. Chegou por fim, com a respiração agitada, a mochila revirada e sem o condenado número na mão.

-Senhor, eu perdi o número, mas lhe asseguro que eu tinha o 1510. – Balbuciava enquanto tentava colocar ar em seus pulmões, e vistoriava ao redor buscando certa pessoa, de nome desconhecido. Asseguro que ninguém virá reclamar o posto e assim saberá que sou eu…

-O número é o que menos importa. Você não se lembra quando se inscreveu nos deu seu nome, endereço e telefone, se ainda conserva seu nome, não terá com que se preocupar senhorita.

-Obrigada. Que papelão! Será que pode ser mais estúpida? Este não é meu dia. Nesse instante seu olhar se encontrou com uns olhos azuis que lhe eram familiares, muito familiares…Afastou o pensamento…

Suas mãos deixaram cair uma última prenda de roupa dentro da maleta antes que esta fosse fechada com fúria. A alta e jovem morena parou com fastidio na cama, tomou sua jaqueta e procurou em um de seus bolsos.

-Merda, será possível que não tenha nem um maldito cigarro.

Pegou algum dinheiro e colocou no bolso traseiro de seu jeans, tomou suas chaves e saiu do apartamento dando uma forte batida na porta.

Fez um gesto com a cabeça ao homem que lhe estendeu o troco. Pões um cigarro na boca e procurou algo em seu bolso sem resultados. Merda.

-Obrigado. – Se afastou do lugar depois que o mesmo homem lhe acendeu o cigarro. Antes de chegar à entrada do edifício, voltou a ouvir seu nome.

-Olá. – sua voz refletiu um tom de fastidio ao saudar o jovem que estava a seu lado. –Que faz aqui? – empurrou a porta e ambos entraram.

-Como se nota que lhe fascina me ver. – um tom de desilusão se notou na voz do jovem.

-Já sabe como sou transparente. – Seguiu com a vista a frente enquanto subia os degraus da escada.

-Que pena que só seja quando tem que demonstrar sentimentos negativos como este agora. – Xênia abriu a porta de seu apartamento e ambos entraram nele.

-Sempre sou, se não tenho sentimentos positivos que mostrar, simplesmente não posso fingi-los. – Fechou a porta e fez um gesto ao jovem para que se sentasse.

-Sei que não tem paciência, e isso se está notando muito agora mesmo, assim melhor eu falar rápido, não quero que exploda e me quebre algo, já foi suficiente o que fez com meu coração.

-Sem rodeios, por favor, detesto que se faça de vítima comigo. – Sua paciência estava chegando ao limite.

-Será que não tem sentimentos? – A voz do jovem se suavizou.

-Sim, tenho, sou humana, só que não os tenho por você. Temos que falar disso outra vez? Pensei que você já havia entendido. O jovem tinha as mãos sobre o colo e seu olhar estava cravado nelas.

-Eu te amo Xênia. – O jovem parou e se aproximou da morena. –Por que não tentamos outra vez? Prometo-lhe que não vou me meter nas suas coisas, que vou lhe dar seu espaço. – sua voz soava como uma súplica.

-Sinto muito, eu não quero, já lhe disse. – Era consciente da dureza de sua própria voz.

-E se ficarmos um tempo separados para que você pense bem nas coisas? Eu poderia esperar.

-Escute, não lhe quero, não estou confusa, não tenho nada em que pensar, não tenho sentimentos por você. Será que entende? É simples, eu nunca lhe prometi nada, você foi quem fez suas ilusões sozinho. Agora preciso que você vá embora, tenho que sair e, por favor, não volte mais.

-Tem um coração seco, você é má. – O jovem dirigiu-se a porta com os olhos cheios de lágrimas e saiu dando uma forte batida.

Sentou-se aborrecida no sofá enquanto acendia outro cigarro. –Merda estragou mais ainda meu dia. Seus olhos vagaram por toda a sala até observar através da janela. O céu estava azul. Rapidamente em sua mente apareceu um rosto e sua expressão começou a suavizar-se. -Gabriela…Pobre nem se quer lhe dei um tchau. Sorriu ao recordar a expressão no rosto da jovem mais nova que caiu no chão ao se chocar com ela. Bem se quero chegar hoje, é melhor ir me movendo de uma vez. Apagou o cigarro e se dirigiu até seu quarto. E deus sabe que no fundo não quero chegar, embora talvez…

-Meu amor, você está certa de quer entrar nisto? – A mesma maldita pergunta pela enésima vez chegava a seus ouvidos da voz de seu namorado.

-Está brincando? Já não vou mais lhe responder, olha tudo tem um limite, além disso, não vou mais lhe explicar porque já não tenho mais paciência, assim me faça um favor… – subiu o volume do rádio e baixou a janela para respirar um pouco de ar puro.

-Sabe que vou sentir muitas saudades, e não estou de acordo com isso, não sei que bicho lhe picou de verdade, não é seu estilo. – O discurso que ouvia era como um grito sem graça ao seu ouvido esquerdo.

Olhou seu namorado que movia a cabeça em sinal de desaprovação e tamborilava os dedos no câmbio com o olhar a frente, enquanto esperava que o sinal trocasse a luz vermelha.

-Está bem, seja o que for. – disse Gabriela movendo a cabeça. -Isto já está decidido e não vou voltar atrás. Escuta, só serão dois meses, não é como se fosse o resto da minha vida.

-Não são os dois meses os que mais me preocupam, é esse lugar onde você estará esses dois meses, ou seja, por favor, estamos falando de tornar pública sua vida. Isso não lhe aborrece? Tem que ser muito exibicionista para se meter em uma coisa assim! Não entendo! A música havia sido desligada em um golpe pelo jovem.

-Sabe Pablo, acho que você tem toda razão, mas o que quer que lhe diga, fui uma tonta, mas já me meti nisto e vou fazer custe a quem custar. – Encolheu os ombros enquanto se olhava no espelho e arrumava seu cabelo loiro.- Apesar de tudo, não é todos os dias que me meto em um show real, pelo menos tenha o bom senso de admitir. Se não é capaz de aceitar isso, eu entendo que não quer continuar comigo, e poderíamos continuar sendo amigos…

-Espera ai? Está insinuando que deveríamos terminar? Não posso acreditar.- O tom da voz de seu namorado era de total indignação.

-Na realidade não estou insinuando, estou sendo direta. – No fundo desde que havia começado já queria corta com essa relação, de todas as formas nunca quis ter nada sério com o jovem, e havia sido ele quem tomava as coisas mais a sério.

-Se é o que você quer, chegamos até aqui, então tchau.

-Bye. Que exagerado, qualquer um diria que estamos juntos a anos, por favor, só foi um mês, se situa.

Saiu do carro com uma maleta em cada mão, levantou os olhos ao céu e pensou. Adeus privacidade…

Havia passado uma semana desde que havia sido selecionada para ser uma das sete pessoas que formariam parte do reality, e uma semana desde o incidente do roubo e de ter conhecido a essa jovem da qual não havia tido notícias todos esses dias.

Seu nome era Xênia, e tinha vinte e um anos, era tudo de informação que havia conseguido obter durante o curto tempo que pôde compartilhar com ela. Depois de que se haviam interado do resultado, havia deixado o lugar sem nem se quer lhe dar seu número de telefone. Mas agora ia tê-la ao seu redor pelos próximos dois meses. A ela e a outras mais cinco pessoas com as quais só havia cruzado quatro palavras.

A idéia de viver com gente a qual não sabia nada, não lhe incomodava tanto como o fato de que essa convivência fosse vista por milhões de pessoas, todo o assunto consistia em estar metida ali por dois meses, com as câmeras em cima todo o santo dia, e havia um resumo de uma hora que passariam na tv três vezes por semana.

Não era mau, depois de tudo. Somente daqui à uma hora não se preocupariam de detalhares insignificantes como quando assoar ou se depilar. Pensando nisto chegou à entrada da casa destinada a ser seu lar durante todo esse tempo. Seu ex-namorado e seu carro já haviam partido há algum tempo. Para Gabriela não fazia diferença, se perguntou se havia sido muito insensível pelo seu comportamento, mas era ele o problema, não estava com ele por razões corretas, o melhor era terminar.

Aqui vamos Gabby. Pensou animando-se. Deixou as malas no chão e procurou as chaves no bolso, da jaqueta, a haviam entregado no dia da seleção. Abriu a fechadura e entrou no lugar.

As paredes estavam pintadas de diferentes e alegres cores, e não havia muitos móveis, na rápida vistoria do lugar conseguiu ver uma tv de 44 polegadas de tela plana e um equipamento de DVD em frente ao sofá grande de cor amarelo. –Bem, eu gostei das cores, creio que posso viver com isso.- Ao fundo havia um pequeno bar e muitos copos e garrafas, também havia uma mesa relativamente grande e redonda com sete cadeiras ao redor. – Essa gente nos vê como alcoólatras, ou espera que armemos papelões logo depois de alguns goles. – Nesse momento lembrou do pequeno detalhe de que deveria estar rodeada de câmeras, havia esquecido por completo ao entrar ali. Começou a procurar dissimuladamente, mas nenhuma a vista, certamente estavam camufladas por ai. –Bem Gabriela comece a se acostumar, estará assim pelas próximas oito semanas.

Deu-se por vencida de procurá-las e se dirigiu por um corredor, tentando parecer o mais normal possível, não era nada simples quando estava consciente de que a estavam observando. A primeira porta da direita era a cozinha, de tamanho mediano, e com todos os artefatos necessários. Negou-se a tentação de abrir a porta do refrigerador por temor da encontrar algo que gostasse ali dentro e ser taxada de glutona no primeiro instante que chegou ali.

De frente a porta da cozinha havia outra que abria caminho para os quartos. O quarto não era muito grande, dentro do qual havia duas camas de solteiro. –Supõe-se que vamos compartilhar o quarto e ainda por cima em uma cama minúscula? Isso é um absurdo.- Sempre havia sido uma amante do bem dormir, e isso não satisfazia suas necessidades em nada. –Bem, vejamos se encontro algum quarto individual, apesar de sermos sete alguém terá que ter sorte.

Os outros quartos também era duplos e quando abriu a terceira porta esperando encontrar outras duas camas, se encontrou com três, e a única diferença era que o tamanho daquele quarto era um pouco maior que os outros anteriores. – Ai não, dormir com outras duas pessoas, nem amarrada, eu não vou a…

Deu um salto ao ouvir a porta da frente abrindo-se, e apareceu um jovem com o rosto corado.

-Deus, me assustou.- disse Gabriela com a mão no peito.

-Sorry, lhe ouvi chegar, mas estava um pouquinho ocupado aqui dentro. – Seu rosto corou mais ainda.

-Bem, me chamo Gabriela E quem é você? – Deu-lhe um beijo no rosto.

-Meu nome é José, prazer em lhe conhecer. Acho que somos os primeiros a chegar, estou muito nervoso.

-O que você tanto fazia ali dentro? Ah, sim, deixe-me adivinhar, é seu quarto? – Gabriela disse esperando que fosse assim e pudesse dormir sozinha e a vontade.

-Na realidade é o banheiro, e digamos que tive um pequeno inconveniente ali dentro, e lhe agradeceria se não entrasse ainda.

Gabriela o olhou tentando conter o riso ao ver o aflito rosto do jovem, mas a tentação não deixou.

-Ah, não ria sua malvada, são os nervos que me traem, e como ia eu saber que a água estava cortada justamente quando mais precisava dela?

-Que não tem água? Ai não, e você me diz isso só agora depois de lhe dar a mão.- Olhou o jovem com uma cara de nojo enquanto limpava freneticamente a mão na roupa. Ambos começaram a rir e Gabriela sabia que se daria bem com o jovem.

José era um jovem alto e magro, de pele muito branca, o rosto comprido e movimentos torpes. Havia trabalhado em tantos lugares por anos, fazendo de tudo, e sempre terminava sendo despedido por algum erro que custava a empresa onde estivesse empregado no momento, algum bom cliente ou alguma máquina de alto valor. Em seus vinte anos havia conseguido o trabalho que mais tempo lhe havia durado até o momento: entregador de pizzas.

Haviam terminado no sofá contando medotas, das quais 80% Gabriela estava certa que eram parte da imaginação de José, o conceito que havia feito dele era de uma pessoa sonhadora, ainda que para o resto certamente não seria mais que um tipo torpe, mentiroso e charlatão.

-Sim, na realidade este trabalho que tenho agora me deu uma agenda de números telefônicos das mais lindas jovens, é por isso que o conservo. – O jovem suspirava como recordando algo vívido em sua mente.

-E com quem você mora? Me falou de seu apartamento, mas também falou de sua mãe.

-Sim, é que não gosto de deixar minha mãezinha tanto tempo sozinha, meu pai morreu quando eu era pequeno, e meus irmãos foram embora de casa muito jovens, então regularmente passo alguns dias com ela.- Gabriela estava certa que o jovem havia vivido sempre com sua mãe.

-Espere-me aqui, vou ver se há alguma bebida no refri e volto em seguida. – Gabriela se levantou em um salto e se dirigiu a cozinha. –Mmm vejamos o que há por aqui, hey! Olha já há água. – Gritou para o jovem. Talvez queira ir solucionar o assunto do banheiro antes que nos asfixiemos todos aqui. Ra, ra.ra.

-Engraçadinha. – Viu passar o jovem pelo corredor e olhou como abria e fechava a porta.

Nesse momento a porta principal se abriu e se ouviram vozes de duas pessoas conversando. Gabriela sentiu que o coração acelerava enquanto aparecia na porta da cozinha para olhar para sala, era um jovem e uma jovem, olhou para José que estava mostrava sua cabeça da porta do banheiro, e ambos se dirigiram ao encontro com os recém chegados.

Os jovens sorriram ao vê-los, e começaram a se passar por entre o grupo de malas e bolsas que estavam jogados por ali.

-Olá? Como estão vocês? Sou Gabriela. – Deu um beijo no rosto do jovem e logo no da jovem, com um sorriso sincero no rosto. Era uma pessoa muito sociável, e gostava das pessoas. As longas conversas e o contato físico ao falar, fazia com que os rapazes geralmente confundissem essa amabilidade com outra coisa, mas ela se comportava da mesma maneira com todo mundo.

-Olá, sou Sebastián. Era um jovem de vinte e três anos de estatura mediana, um pouquinho gordo e com cara de boa gente, vestia-se de forma clássica, uma camisa azul escuro e uma calça preta na qual não havia nem uma ruga, o cabelo castanho penteado para trás e saturado de gel. Seus movimentos eram pausados e vacilantes, como se pedisse permissão a alguém antes de dar um passo e tivesse temor de estar cometendo alguma imprudência.

-Eu sou Isabel. A jovem de vinte anos era um pouco mais baixa que Sebastián, magra, extremamente magra, debaixo de seus olhos castanhos se viam um par de escuras olheiras. Vestia um jeans azul claro e uma blusa preta, seu cabelo castanho claro estava preso por um rabo-de-cavalo e se mostrava opaco e sem brilho.

-Chegaram juntos? – José os cumprimentou piscando um olho para a jovem e dando um cutucão no jovem. –Você é rápido em espertinho. – Isabel corou um pouco e evitou o olhar de Sebastián.

-Não. – Respondeu- o sorrindo timidamente.- Acabamos de nos encontramos na entrada. – se dirigiu a Gabriela. – Está há muito tempo aqui?

Nesse momento a porta voltou a abrir e os quatros olharam com certa expectativa.

Duas figuras apareceram diante de seus olhos, nenhuma das duas era a que Gabriela estava esperando chegar.

-Olá a todos. – Andrés deixou cair às malas no piso, tirou os óculos de sol, e passou os dedos pelo negro e desordenado cabelo e coçou a barda enquanto corria o olhar no lugar. Tinha vinte e cinco anos, era alto robusto e bem aparentado.- Como estão? – Se deteve finalmente nos quatros rostos que o observavam com atenção, olhando-os com um ar de superioridade. – Que interessante. – disse posando seus olhos em cada um. Aproximou-se e deu a mão aos jovens e um sonoro beijo no rosto das jovens enquanto as apertava como se as conhecessem toda a vida.

-Vão me deixar aqui parada? – Carla era um jovem de dezenove anos, magra, de estatura Medina, olhos castanhos e o cabelo pintado de vermelho, vestia uma calça de couro negro e um top também negro, seus olhos estava cobertos com sombra escura e seus lábios pintados de cor vermelha. Seus lábios tinham um sorriso que aos olhos de Gabriela dava um ar de crueldade. A primeira vista não gostou dessas duas pessoas, mas sabia que as aparências enganam, mas ela sempre tinha essa percepção extra quando se tratava das pessoas.

-Assim só falta uma pessoa eh. E quem é essa que crê que reina chegando por última?- O rapaz de cabelo negro voltou à sala onde estavam todos reunidos com uma lata de cerveja na mão. – Eu não vou esperar mais tempo para escolher meu quarto.

-Creio que todos estão de acordo em esperá-la, além disso, não creio que demore muito.

O jovem bebeu com vontade, enquanto olhava com interesse por sobre a lata seus olhos verdes. Definitivamente Andrés não era seu tipo.

-Eu estou de acordo, agora mesmo pego minhas malas e escolho meu quarto. – A ruiva avançou com desenvoltura até onde estavam suas malas.

-Escutem jovens, vamos estar aqui todos juntos, como família, como irmãos. O que custa esperar? – José os olhou esperando que ambos voltassem para a sala e se sentassem um pouco mais. Andréas e Carla se olharam fazendo um gesto de fastidio.

-Como irmãos? Se acredita que vou lhe ver como um irmão, ficará esperando por isso os próximos dois meses, e se acredita que vou ver como minhas irmãzinhas a estas…- dirigiu seu olhar até a loira.- baby, esperará outros dois meses mais, a menos claro que lhe agrade as relações incestuosas. – Sua mão golpeou o rosto pálido de José.

Definitivamente desta personagem, ela não gostava e quando ela não gostava de alguém, não havia poder humano que conseguisse que fosse amistosa ou que se mostrasse mais aberta com essa pessoa.

-Não se comportam tão sérios jovens, estamos aqui para passar bem, não para que nos comportemos como amargados? Captam? – Carla prolongava as sílabas ao falar e sua voz era sensual e chegava a ser irritante.

Neste momento a porta voltou a abrir. Gabriela olhou para porta antecipando a imagem da figura que apareceria diante de seus olhos nesse mesmo instante, e assim foi…

Colocou sua atenção na pessoa que tinha justamente na sua frente nesse momento. Carla a estava olhando de cima em baixo com um olhar que para Gabriela lhe pareceu puro e total desejo, sentiu algo estranho, como um nó formando-se em seu estômago ao qual decidiu não dar maior importância. A ruiva avançou o espaço que a separava da recém chegada, estendeu a mão e se aproximou lentamente de seu rosto onde pousou um suave e longo beijo em sua bochecha.

-Eu sou Carla. – lhe disse, ao lado de seu rosto, uma vez que já havia se separado dele, a poucos centímetros deste, sem soltar sua mão. Prazer…- voltou a explorar o corpo de Xênia com o olhar.- em lhe conhecer.

-Xênia. – disse a morena e só manteve um segundo o olhar em Carla, sem que seu rosto emitisse nenhuma expressão, logo se dirigiu ao resto das pessoas na sala, enquanto levantava uma sombracelha. Para Gabriela este gesto chamou poderosamente a atenção, recordava tê-lo visto um par de vezes, e toda a semana havia estado tentando levantar a sua própria sombracelha, sem êxito.

Em um segundo Andrés estava a seu lado, colocando sua melhor cara de conquista, agarrou suavemente sua mão e a levou a seus lábios. Gabriela percebeu uma leve expressão de repulso no rosto de Xênia, e intimamente teve vontade de rir.

-Olá linda, seja bem-vinda, eu sou Andrés, estou certo que você e eu seremos muito bons amigos.- Os olhos do jovem repetiam o olhar da ruiva, só que com menos descrição que a jovem, por assim dizer.

Xênia se dirigiu a José e o saudou com um aperto de mão e um leve sorriso que durou um segundo, logo repetiu o gesto com Sebastián e Isabel. Cada movimento seu era seguido atentamente por todos.

-Sou José, alguém já lhe disse que tem os olhos mais impactantes que já vi na vida?- O jovem se arrependeu em seguida de haver dito essa frase ao ser receptor do olhar desses olhos. Eram realmente intimidantes.

-Não de uma maneira tão graciosa. – Um leve sorriso se pintou em seu rosto para desaparecer logo. Seus olhos azuis vagavam um milésimo de segundo pela sala, e finalmente se encontraram com uns verdes que a esperavam nervosos e impacientes.

Gabriela sentiu que a sala dava voltas, a tontura que sentiu esse dia e que havia associado com o mal estar que havia passado, regressou. Deve ser minha mente que está relacionando essa lembrança com esta pessoa, por isso é que me sinto tão estranha. Impactantes era um termo que funcionava com esses olhos, mas havia mais, muito mais que isso. Seu coração começou a bater forte em seu peito, tanto que o som chegava a seus ouvidos. O olhar de Xênia baixou só por um lapso de tempo e regressou a seus olhos. Gabriela temeu que ela houvesse sido capaz de ouvir as fortes batidas que seu coração. Olhos verdes e doces se fundiram com os olhos azuis e impactantes, não só era a cor, era principalmente o olhar, esse olhar que parecia estar atravessando sua alma, e por um momento meditou na possibilidade de que sua dona fosse capaz de ler seu pensamento, de saber quem era ela, de onde vinha e para onde ia. Por um instante Gabriela foi testemunha de como esses olhos sofreram uma metamorfose, refletindo por um segundo um olhar doce, mais doce que podia recordar, mas talvez fosse somente sua imaginação, ou seus próprios olhos a estavam enganando, não estava segura, de toda maneira o olhar já havia voltado ao normal.

-É um prazer lhe ver de novo. – Quando conseguiu pôr por fim em ordem essas sete palavras, só via já as costas de Xênia afastando-se, então sentiu que o mundo deixou de estar paralisado, para encher-se de movimento outra vez.