Fanfics sobre Xena a Princesa Guerreira

    PARTE  9

             Vivien chegou em casa  e encontrou Mooke sentada numa cadeira na cozinha, tomando chá. Ela a fitou com curiosidade, dizendo:

             -Pensei que ia dormir na casa de miss Deidre, Vicent.Seu prato tá na estufa, quer comer?

             Vivien sorriu, incapaz de esconder a sua alegria pelo dia maravilhoso que tivera.

             -Não, Mooke, eu já comi. Vou dormir, estou cansada – disse, dirigindo-se para a escadaria que a levaria ao segundo pavimento.

             -Miss Vivien! – Chamou Mooke.

             Vivien voltou-se. Mooke a fitava com olhar grave.

             -Já disse que não quero que me chame de Vivien mais, Mooke.

             -Você pensa que é Vicent agora, Vivien. Mas cuidado, isso pode acabar mal.Tenha cuidado, Vivien.

             -Eu terei, Mooke – Disse Vivien, percebendo que Mooke estava preocupada com sua segurança.

             -Você ama miss Deidre, Vivien?

             Vivien encarou a criada com o coração batendo forte de emoção.

             -Sim, Mooke, eu amo Deidre.

             -Então, não vai cumprir o que prometeu ao seu irmão? Não vai mais casar com miss Audrey?

             Os olhos de Vivien se encheram de angústia. Ela baixou a cabeça.

             -Não quero por enquanto pensar nisso, Mooke. A guerra ainda está aí e nem sei se vou encontrar Audrey Lancaster viva. Vou decidir quando a guerra acabar e eu voltar para Charleston.

             -Miss Vivien, tem que contar a verdade a miss Deidre. Ela merece saber o que prometeu ao seu irmão.

             Vivien a fitou com revolta nos olhos.

             -Não, não vou falar nada! Eu tenho direito de ser feliz! Quem me garante que Audrey esteja viva, ou que não  tenha se casado com outro homem? Não vou sacrificar minha felicidade a troco de algo improvável! Quando a guerra acabar, decidirei minha vida!

             -Miss Vivien, isso não é certo. Está fazendo Miss Deidre gostar de você, e depois? E se tiver que casar com Miss Audrey? Miss Deidre vai sofrer!

             Vivien encarou Mooke com revolta e desafio.

             -Por que tenho sempre que renunciar à minha felicidade? Não! Eu amo Deidre, e quero ser feliz com ela! O futuro, só Deus sabe! Quero viver o aqui e agora! Por que devo renunciar à minha felicidade pelo erro de meu irmão?

             Mooke a encarou nos olhos.

             -Por que você é uma Talbot. E um Talbot sempre cumpriu suas promessas, porque tem honra. Você vai sujar o nome de sua família, faltando à um juramento ao seu irmão no leito de morte?

             Vivien baixou a cabeça, derrotada por essas palavras.

             -Não, Mooke – Disse, em um sussurro – Eu vou cumprir o que prometi. Mas farei isso quando a guerra acabar. Eu tenho direito de ter um pouco de felicidade.

             -Cuidado, Miss Vivien. Talvez pague um preço alto por esconder de Miss Deidre sua promessa.

             Vivien a encarou desafiante.

             -Que preço?

             -O ódio de Miss Deidre – Sussurrou Mooke, voltando-se e se afastando, deixando Vivien imóvel.

    ))))))((((((

             De braços dados, Vivien e Deidre entraram no vasto salão da festa beneficente, depois de entregarem os convites na porta à um casal que controlava a entrada. Vivien havia apanhado Deidre pontualmente à hora marcada, em seu terno negro e camisa de seda branca, com gravata de veludo negro  e chapéu de feltro de abas curtas, também negro, como pedia a ocasião. Deidre estava linda em um vestido de organza verde-água, com uma estola de arminho a   protegendo do frio e os brincos que Vivien lhe dera na véspera, visíveis pelo penteado que prendia seus cabelos  em um coque.

             Logo que entraram no salão onde se concentravam os convidados, elas deram de cara com o juiz Bertran  e seu filho Abrahan, que olharam para Vivien com evidente surpresa e desagrado.

             Vivien encarou os homens com tranqüilidade, entregando o chapéu à uma criada, que o guardou numa estante e lhe entregou um ticket.

             Abrahan avançou e parou diante de Deidre, segurando-a pelo braço.

             -Deidre, eu a estava esperando – Disse ele,em tom brusco – Não esperava que viesse acompanhada. Pensei que ia ser meu par essa noite.

             Deidre o encarou com frieza, puxando seu braço da mão do homem.

             -Primeiramente, não o autorizei a tratar-me com intimidade, mister Abrahan. Deve tratar-me por senhora Mackena. E em segundo, não me lembro de ter combinado nada com o senhor sobre coisa nenhuma.

             Bertran tornou a segurar no braço de Deidre, ficando vermelho de raiva.

             -Senhora Mackena, eu me recuso a aceitar que trocou minha companhia pela de um estranho, um sulista inimigo de nosso governo.

             Até aquele momento, Vivien não havia interferido, esperando que as palavras de Deidre colocassem o importuno em seu lugar. Mas desde que percebeu que ele não iria deixar Deidre em paz, ela resolveu interferir.

             -A senhora Mackena já disse o que acha sobre sua atitude descabida, cobrando um direito que não tem – Disse Vivien em tom baixo, mas cortante,  apertando o braço do homem com uma força que Abrahan nunca pensou naquele homem esguio e de traços quase femininos.  Ele tinha uma força que seus dedos pareciam tenazes de aço – Portanto, sugiro que solte o braço da lady por bem, ou  vai fazer isso lamentando muito.

             Abrahan empalideceu e soltou o braço de Deidre rapidamente, mordendo os lábios para não gemer de dor. Ele olhou para Vivien com ódio, mas afastou-se sem retrucar.

             Vivien avançou com Deidre de braço dado. Os olhares das mulheres fitavam o belo rapaz de bastos cabelos negros e eletrizantes olhos azuis e morriam de inveja de Deidre. Os homens olhavam para o “almofadinha” imberbe, de traços delicados, e torciam o nariz, se perguntando o que uma mulher atraente como Deidre Mackena, que recusara a corte de tantos homens, havia visto naquele fedelho que nem tinha barba. Vá entender as mulheres!

              A mãe de Deidre veio ao encontro delas, olhando para Vivien com um sorriso aprovador.

             -Como vai, senhor Talbot? – Perguntou, estendendo a mão, que Vivien pegou e se inclinou, beijando-a polidamente.

             -Muito bem, madame. E como vai o sr. Buster?

             -Oh, ele está conversando na mesa principal. Fomos convidados para a mesa do prefeito Morris – Disse ela, com orgulho – Não quer ir cumprimentá-lo?

             -Não, mamãe – Disse Deidre, precipitadamente – Vamos primeiro procurar nossa mesa.Até logo, depois falamos com vocês.

             E dizendo isso, puxou Vivien pela mão, se afastando da mãe. Acharam a mesa com facilidade, era a número 21 e ficava perto da pista de dança. Vivien puxou a cadeira para Deidre e se sentou, olhando-a com um sorriso divertido.

             -Você não acha que foi um pouco  ansiosa demais em sair da presença de sua mãe? Ela pareceu aturdida com sua saída precipitada.

             Deidre respirou fundo, tirando as luvas e as colocando sobre a mesa.

             -Vicent, estou farta de ficar ao lado de meus pais em festas de fim de ano ouvindo eles conversarem com pessoas esnobes, e ser assediada pelos amigos de meu pai, que me acham um bom investimento para casar, porque herdei uma considerável fortuna de meu marido. Esse ano eu quero apenas estar ao seu lado, fitando esses olhos magnetizantes e essa boca linda que amo.

             Vivien corou, embaraçada com o elogio. Deidre percebeu e sorriu, dizendo:

             -Ficou encabulado? Não fique, porque deve é se sentir orgulhoso de ser esse ser tão atraente.

             Felizmente um garçon chegou, livrando Vivien de seu embaraço. Ela pediu uma garrafa de champanhe  e olhou em volta. O salão estava enchendo, e uma banda postada em um palco começou a tocar músicas alegres para animar a festa.

             O champanhe chegou e elas foram servidas pelo garçon. Vivien ergueu a taça, fitando Deidre com olhar apaixonado.

             -Ao nosso amor, Deidre. Que tenhamos muitos anos para comemorar as festas de fim de ano.

             Deidre ergueu sua taça também, fitando Vivien com igual paixão .

             -Ao nosso amor. Que seja forte o bastante para não ser destruído por ninguém.Uma rocha contra a qual a inveja e a cobiça  se abaterão como ondas, mas que resistirá como uma fortaleza numa tempestade.

             Vivien sorriu encantada, tocando a taça de Deidre com a sua. Beberam se fitando com a paixão brilhando nos olhos.

             O prefeito fez um pequeno discurso e abriu o baile dançando com sua mulher. Logo os casais seguiram o exemplo e a pista se encheu de gente dançando ao som da banda. A valsa, que era uma novidade na América, foi tocada e os pares  passaram a valsar pelo salão.

             -Sabe dançar essa nova dança, Vicent? – Perguntou Deidre, excitada.

             Vivien a fitou franzindo o cenho.

             -Não. Nunca estive em um baile, Deidre.

             -Eu sei dançar valsa. Tenho uma amiga que morou vários anos na Alemanha e lá a valsa tomou conta dos salões. Ela aprendeu e me ensinou.

             Vivien a fitou sorrindo divertida e falou baixinho  debruçando-se para ela:

             -Oh, dançou com uma amiga, Deidre? Espero que ela não seja como eu.

             Deidre enrubesceu e deu um leve tapa na mão de Vivien.

             -Maldoso! Lilian é uma amiga de infância! Ela é muito bem casada com um industrial.Mas ouça, gostaria de dançar essa música?

             -Eu não sei dançar, Deidre. Mas prometo que vou aprender para na próxima festa dançar com você.

             -Oh, não é tão difícil assim! Veja os casais. O segredo é não pisar nos pés da dama. E girar pelo salão.

             -Hum. Prefiro praticar antes.

             -Vamos ao terraço e eu ensino a você. Depois, quando pegar o jeito, entramos para dançar no salão.

             Deidre ergueu-se e pegou a mão de Vivien, fitando-a com amor nos belos olhos.

             -Vamos, meu amor. Quero tanto dançar com você!

             Vivien sorriu, erguendo-se.

             -Bem, não posso resistir à um pedido seu, minha querida. Vamos.

             E elas foram para o terraço praticar. Estava frio e não havia ninguém lá. Deidre se mostrou uma professora paciente e incentivadora, Vivien uma aluna entusiasmada e com talento para dançar. Depois de pouco tempo, Elas já valsavam pelo terraço razoavelmente e resolveram tentar no salão. E quando nova valsa começou, elas saíram valsando, chamando a atenção pelo belo par que faziam.

             A noite estava transcorrendo maravilhosamente. Dançaram, se serviram no suntuoso bufê com iguarias finas, beberam champanhe e então, faltando  meia hora para a comemoração do Ano Novo, a mãe de Deidre veio buscá-la.

             A mulher parecia constrangida e falou para a filha:

             -Deidre, preciso falar com você em particular.

             Deidre fitou a mãe com o cenho franzido.

             -Pode falar diante de Vicent, mãe. Não temos segredos entre nós.

             -Oh! Mas eu insisto! É algo particular de nossa família!

             Deidre fitou Vivien com um olhar de desculpa e aborrecimento.

             -Dê-me uns momentos, Vicent.

             -Claro, Deidre, estejam à vontade – Respondeu Vivien, polidamente.

             Deidre se ergueu e se afastou uns passos da mesa, voltando-se para a mãe com o cenho franzido.

             -O que está havendo? O que quer dizer-me que Vicent não pode ouvir?

             -Bem, é que seu pai quer que venha para nossa mesa para a comemoração do ano novo. Mas sem Vicent Talbot.

             Deidre olhou para a mãe como se ela tivesse enlouquecido.

             -O quê?! Meu pai deseja que eu atenda esse pedido absurdo?! Eu vim com Vicent, ficarei com ele até a festa acabar, e irei embora com ele!

             -Deidre, é uma ordem! Ele acha que você fez uma desfeita ao filho do juiz, que esperava passar o final de ano em sua companhia! O rapaz se queixou com seu pai e ele está furioso com você! O juiz está ajudando seu pai em um processo que está em ação na justiça e…

             -Nem mais uma palavra, mãe! – Disse Deidre, ficando vermelha de raiva – Mais uma vez meu pai quer usar-me para seu benefício com os amigos! Ele conseguiu forçar-me a casar com Jefferson, mas eu era uma garotinha boba, e agora sou uma mulher feita e independente! Eu agora posso escolher o que é melhor para mim, e o melhor para mim agora é ficar ao lado de Vicent! Diga ao meu pai que não vou fazer o que quer!

             E sem mais, voltou-se bruscamente e voltou para a mesa.

             Vivien havia presenciado a cena entre Deidre e a mãe, e  mesmo sem ouvir o que falavam, percebeu que a mãe de Deidre falara algo que havia aborrecido a filha extremamente. Viu o rosto vermelho de ira da moça quando ela se sentou  e resolveu não comentar nada. Se Deidre achasse que devia saber o que havia discutido com a mãe, ela falaria.

             Deidre pegou a taça de champanhe e a esvaziou em dois goles. Fitou Vivien nos olhos, respirando fundo.

             -Meu pai teve o atrevimento de mandar minha mãe vir buscar-me para se juntar à mesa deles, mas sem você! Tudo porque o filho do juiz se queixou que esperava passar comigo a passagem do ano!

             -Oh…se quiser, pode ir, Deidre… não quero ser o motivo de você briar com seu pai – Disse, decepcionada com o pai de Deidre por aquela atitude grosseira.

             Os olhos de Deidre emitiram faiscas.

             -Nem pense nisso, Vicent ! Meu pai está sendo arrogante, grosseiro e interesseiro! Ele não quer descontentar o filho do juiz porque precisa das boas graças do pai do rapaz para um processo que está correndo na justiça! Mas eu não tenho nada com isso! Ele que aprenda que não sou mercadoria para negociar! Vou ficar com você até irmos embora!

             -Bem…com certeza você é uma mulher que sabe o que quer – Sorriu Vivien, pegando a mão de Deidre e a beijando nos dedos, carinhosamente.

             Os olhos de Deidre mudaram de irados para uma expressão cheia de amor, fitando-a .

             -Eu o amo, Vicent… e jamais faria isso com você – Disse, suavemente.

             -Deidre…eu a amo também. Confesso que ficaria arrasado se me deixasse aqui sozinho.

             Deidre sorriu.Inclinou-se e falou no ouvido de Vivien, fazendo-a se arrepiar com a respiração quente no seu ouvido:

             -Nem pensar, Vicent Talbot! Não seria tão tonta em deixar um homem lindo como você aqui sozinho, rodeado de mulheres que o devoram com os olhos! – Disse ela, agora em tom de brincadeira – Você é meu, todo meu! Não é verdade?

             Vivien sorriu, voltando o rosto e fitando-a nos olhos.

             -Ainda tem dúvidas, querida?– Disse baixinho – Escute, que tal irmos lá para o terraço aguardar a passagem do ano? Aqui tem gente demais. E eu queria brindar à sós com você, sem ninguém por perto.

             -Oh, eu, você e duas taças de champanhe…perfeito, meu amor…já convenceu-me.

             Vivien pegou seu relógio Elgin de ouro, herança do seu pai, do bolso do paletó. Faltavam apenas dez minutos para meia-noite. Guardou o relógio e pegou a garrafa de champanhe no balde de prata e as duas taças na mesa, erguendo-se sorridente.

             -Então, vamos agora!

             Deidre enfiou o braço no de Vivien e saíram para o terraço. Ali estava quase deserto, por causa do frio, com uns três casais namorando. Vivien escolheu uma parte afastada deles, colocou a garrafa e as taças no parapeito da sacada e voltou-se para Deidre, que cruzou os braços no peito, com frio.

             -Brrrrrrrr…que frio! Lá dentro estava tão quentinho… – Ela comentou, estremecendo.

             Vivien a rodeou com os braços, beijando os cabelos louros e inalando o delicioso cheiro deles.

             -Fique assim, bem pertinho de mim, e não sentirá frio – Sussurrou.

             Deidre apertou-se contra ela, pousando a cabeça em seu peito, abraçando sua cintura.

             -Hummmmmmm… que delícia…aqui em seus braços, não tenho do que me queixar…

             -Espere… tenho que encher as taças…faltam menos de cinco minutos – Disse Vivien, soltando-a.

             -Oh, isso é importante, nosso brinde de ano novo! – Riu Deidre, feliz.

             Vivien encheu as taças e entregou uma a Deidre. Passou o braço pelos ombros dela, trazendo-a para perto do seu corpo e olhou para o céu. Estava límpido, com estrelas e uma bela lua cheia iluminando a paisagem nevada.

             -Nosso primeiro final de ano juntas! – Sussurrou Deidre, voltando o rosto e beijando o rosto de Vivien.

             O côro da contagem regressiva começou. As pessoas gritando os segundos, a plenos pulmões. Vivien e Deidre se fitaram, uma de frente para a outra.

             -Dez! Nove! Oito! Sete! Seis! Cinco! Quatro! Três! Dois! Um! FELIZ ANO NOVO!

             Enquanto seus lábios se juntavam em um beijo apaixonado, a banda começou a tocar Happy New Year e se ouviam gritos de alegria. Deidre se apertou contra Vivien, aprofundando o beijo. Estavam felizes, entregues à emoção do momento, quando uma voz cheia de ódio as tirou daquele enlevo:

             -Veja, senhor Buster! Veja isso! Sua filha está aí beijando esse homem que mal conhece! A mulher a quem eu queria por esposa, beijando um sulista, que é contra nosso governo!

             Vivien e Deidre se separaram e fitaram Abrahan, o pai dele, o pai de Deidre e sua mulher, todos fitando-as com olhar reprovador.

             Deidre olhou desafiadoramente para o filho do juiz e falou com voz fria como gelo, erguendo o queixo:

             -Abrahan Stockwell, você é um homem ridículo, sem noção dos seus limites! Não lhe devo nenhuma satisfação de meus atos, e nem reconheço nenhum direito seu sobre mim! E o sr. Talbot  é um homem mil vezes mais digno que você, um sulista que vale por muitos nortistas!

             Abrahan olhou para Vivien com ódio, ignorando as palavras de Deidre.

             -Sulista traidor! A senhora Deidre está cega, mas nós sabemos que você não passa de um escroque, atrás do dinheiro dela!

             Vivien já ouvira demais sem reagir. O esforço que fazia para não enfiar a mão naquela cara arrogante foi vencido pela cólera aos insultos. Ela avançou e deu um soco certeiro no nariz do homem, que foi projetado para trás e caiu no chão. Ele levou a mão ao nariz sangrando e começou a gemer.

             O juiz correu em ajuda do filho e o amparou com o braço, fitando Vivien com ódio.

             -Você vai pagar caro esse ato, seu sulista sujo!

             -Você passou dos limites, rapaz! – Gritou o pai de Deidre.

             -Passei dos limites? – Repetiu Vivien, olhando para o pai de Deidre com frieza – Quem passou dos limites foi esse idiota, que não aceitou o fato de Deidre não o querer, e sim a mim! Ele insultou-me e teve o troco que mereceu!

             -Eu vou processá-lo por essa agressão! Irá para a cadeia! – Gritou o juiz.

             -Faça isso! Pensa que sou um idiota, que vou encolher-me de medo porque é um juiz? Sou um Talbot! Meu pai, Charles Talbot, era amigo do  governador de New York! Se você tem influência política com o prefeito, eu tenho com o governador! – Disse Vivien, com voz cortante, encarando os homens.

             -E se processar o senhor Talbot, eu vou depor como testemunha de defesa dele, dizendo como ele foi provocado com insultos pelo seu filho idiota, que não sabe levar um não de uma mulher! Ele será ridicularizado por todos! – Completou Deidre, fitando pai e filho com desprezo.

             O juiz empalideceu, sabendo agora que não estava lidando com um homem que temia sua função e se encolheria de medo. O maldito sulista era de família importante! Já ouvira seus amigos falarem muito sobre  Charles Talbot, um sulista riquíssimo e amigo do governador, mas jamais pensara que Vicent Talbot era filho de Charles Talbot, uma falha imperdoável de sua mente. O melhor era esquecer o incidente e mandar seu filho desistir da filha do seu amigo Buster, por mais rica que ela era.

             Ele ajudou o filho a se erguer e deu um lenço a ele, que o apertou contra o nariz que sangrava. Olhou para o pai de Deidre e falou em tom brusco:

             -Quero saber de que lado vai ficar, Buster. Se vai aceitar esse sulista como namorado de sua filha, não seremos mais amigos.

             O pai de Deidre, depois de ligeira hesitação, falou para o juiz:

             -Stockwell, sou seu amigo há mais de vinte anos! É claro que estou do seu lado!

             Principalmente, por causa de dever favores ao juiz, pensou Deidre com ironia.

             O pai de Deidre voltou-se para a filha e falou secamente:

             -Deidre, proibo-a de continuar a se relacionar com esse homem. Se não me atender, esqueça que tem um pai e uma mãe.

             Deidre o encarou com decepção.

             -Pai, nunca pensei que iria jogar com a felicidade de sua filha por causa de uma amizade interesseira. Mas se prefere levar em conta os sentimentos de seu amigo que os meus, eu devo dizer que não mais me submeterei às suas chantagens emocionais. Eu amo Vicent Talbot e se devido à isso eu tenho que escolher entre você e ele, eu fico com Vicent.

             -Você escolheu. – Disse o pai de Deidre, com voz fria – E agora arque com as consequências. Esqueça que tem um pai e uma mãe, pois nós não temos mais uma filha.

             Deidre fitou a mãe, que baixou os olhos.

             -Mamãe, concorda com a decisão de meu pai? Não vai mais querer falar comigo?

             A mulher a fitou pálida, e disse com voz baixa:

             -Tenho que concordar com as decisões de meu marido.

             -Oh! Esqueci que você é dominada por ele e sempre será! – Disse Deidre, com desgosto – Nunca questionou as posições e atos dele! Lamento muito, minha mãe. Talvez um dia acorde. E perceba como vive. Espero que não seja tarde demais.

             Deidre voltou-se para Vivien e pegou sua mão, fitando-a com rosto pálido.Os olhos estavam cheios de lágrimas.

             -Vamos embora, Vicent. Não temos nada mais a fazer nessa festa.

             -Deidre… tem certeza dessa decisão? São seus pais… e eu…

             -Você é quem eu amo – Cortou ela – Vamos, Vicent.

             Vivien a seguiu sob os olhares de raiva, desprezo e reprovação das quatro pessoas.

             Na carruagem, Deidre pousou a cabeça no ombro de Vivien e chorou. Vivien a abraçou e beijou os cabelos carinhosamente, preocupada. Estava radiante que Deidre a havia escolhido ao invés da família, mas assustada com a responsabilidade que esse ato lhe trazia. Deidre renunciara à família por causa dela. E ela havia prometido à Vicent casar com Audrey, quando voltasse à Charleston. Meu Deus, em que  malha do destino estava se embaraçando!

             Mas tinha certeza de uma coisa: amava Deidre. E queria passar o resto de sua vida com ela. E Deidre acabara de lhe dar uma prova do seu amor que jamais pensara receber.

             Com o coração cheio de amor, sussurrou no ouvido dela:

             -Não chore, minha querida… eu a amo… e vou procurar fazer tudo que puder para você não sofrer pela escolha que acabou de fazer…

             Ela ergueu os belos olhos cheios de lágrimas.

             -O que preciso é apenas que me ame, Vivien… só preciso de seu amor para ser feliz e enfrentar tudo e todos que quiserem nos separar!

             -Eu sempre a amarei, Deidre… sempre.

             E elas se abraçaram como dois náufragos numa tempestade, cada uma buscando o conforto e segurança nos outros braços.

    )))))(((((

    0 Comentário

    Digite seus detalhes ou entre com:
    Aviso! Seu comentário ficará invisível para outros convidados e assinantes (exceto para respostas), inclusive para você, após um período de tolerância. Mas se você enviar um endereço de e-mail e ativar o ícone de sino, receberá respostas até que as cancele.
    Nota